Ele reafirmou, pelo seu traço e sua verve, o seu primado de caricaturista magistral. Não lisonjeou nem adulou seus modelos. Foi comedido, mas não lhes perdoou o lado cômico ou mesmo levemente ridículo. Um dia, porém, o rapaz feio de óculos, que era uma caricatura viva, resolveu trocar o lápis pelo pincel, o cartão pela tela e fazer-se pintor.
Especialista em portrait-charge (caricatura individualizada de personagens célebres), foi nesse gênero que obteve os primeiros triunfos de sua carreira. Viveu vários anos entregue à caricatura e através dela se mostrou um dos desenhistas mais interessantes do Brasil. Simpatizante dos esportes, foi um dos fundadores da Associação Bahiana de Cronistas Desportivos. O Clube Bahiano de Tênis também o conta entre os seus idealizadores. Criou um semanário intitulado O Atleta. Fundou também a revista de cinema Tom Mix em 1919. Nas edições da revista A Luva de 1926, Paraguassu apresentava em uma página inteira “Os Nossos Foti-Bolescos”, caricaturas dos jogadores do Ypiranga, Vitória, Bahiano de Tênis, Associação Atlética da Bahia, entre outros.
Com atuação em quase todas as áreas, Sinézio Alves foi pintor, escultor, caricaturista e cenógrafo. Gritar contra as injustiças, as trapaças e as falcatruas foi sua bandeira. Sofrendo os rigores da censura do Estado Novo, aprendera a adotar subterfúgios para driblá-la. Como caricaturista, incomodou interventores, governadores, prefeitos, os figurões da política e da sociedade. Mas também reverenciou, com sutil ironia, poetas, pintores, cordelistas e romancistas. A irreverência de seu traço percorreu os jornais baianos A Tarde, Diário da Bahia, Diário de Notícias, O Imparcial, A Crítica e a Fôia dos Rocêro. Seu nome também está ligado ao carnaval, tendo sido o criador do Galo Vermelho, além de vencer diversos concursos de decoração carnavalescas de vários clubes.
Fundadora e diretora do Núcleo de Pesquisa da Literatura de Cordel da Fundação Cultural da Bahia, Edilene Matos analisando a obra de Sinézio Alves na literatura de Cordel declarou: “Em se tratando do processo de ilustração de folhetos, na Bahia, a presença do desenhista e caricaturista Sinézio Alves é marcante, desde os tempos idos da Tipografia Moderna, de Delor Gramacho, na década de 1940, quando conheceu os poetas populares Galdino Silva, Cuíca de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante, Permínio Valter Lírio, Heráclito Amorim, Augusto Ferraluso e passou a ser o desenhista das capas dos seus folhetos. Raros são os livrinhos de cordel que não trazem a sua assinatura, mesmo depois do advento da xilogravura em nosso estado. É bem possível que a grande atuação desse artista tenha retardado a penetração dos tacos de xilo nas capas dos nossos folhetos”. E concluiu: “Pode-se afirmar quer Sinézio Alves é, sem dúvida alguma, um referencial significativo na trajetória do desenho e caricatura populares no estado da Bahia”.
Ensaísta e poeta, Fernando Diniz foi um caricaturista de tipos. Suas caricaturas estão inteiramente ligadas ao universo cultural baiano, notadamente o literário, mas por vezes fixando vultos da política e do jornalismo, das artes e do magistério, em charges e portraits-charges características, não raro também incursionando nas esferas nacional e internacional, ou ainda captando cenas e flagrantes da vida cotidiana, quase todos acompanhados dos respectivos textos rimados (ou epigramas). Em seu trabalho destaca-se a crítica corretiva, ainda que corrosiva, da sociedade ou do indivíduo, coexistindo o traço e o verso chistosos, que se completam.
O interesse pelos livros começou nos “bancos secundários, no velho Ginásio da Bahia, pela década de 30, com o tímido rabiscar de perfis facetos de mestre e condiscípulos”. E foi justamente um professor de matemática a primeira “vítima” de Fernando Diniz. Publicou caricaturas nas revistas América, Única, Festa, nos jornais O Tacape, A Tarde, além de participar em diversas exposições na Bahia e em outros países.
Referências:
CRUZ, Gutemberg. O traço dos mestres. Salvador: Gráfica e Editora Arembepe, 1993.
CRUZ, Gutemberg. Feras do Humor Baiano. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1997
MATTAR, Denise (curadora). Traço, Humor e Cia. São Paulo: Fundação Armando Alvares Penteado, Museu de Arte Brasileira, 2003.
SALIBA, Elias Thomé. Raízes do Riso. A representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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4 comentários:
Olá,
Sou estudante de história da UEFS e pretendo fazer meu trabalho de conclusão de curso utilizando quadrinhos como fonte, especificamente a revista Chiclete com Banana de Angeli. Queria conhecer seu trabalho. Como faço para conseguir sseus livros sem precisar ir p Salvador?
Ana,
meus livros estão sendo vendidos nas livrarias indicadas com telewfone e tudo no blog, diariamente:
TV Cultura e Arte,
LDM
Galeria do Livro, etc
É COM GRANDE ALEGRIA QUE LEMOS NO SEU TEXTO REFERENCIA AO NOSSO CONTERRANEO SINEZIO ALVES QUE DEIXOU EM CALDAS DE CIPÓ SOBRETUDO LIÇOES DE AMOR À SUA TERRA...
Raniery Caetano - Poeta
Parabéns pelo registro, que muito contribue para que a memória baiana e cipoense não se apague.
Gostaria de ver registros das xilogravuras de Sinésio Alves.
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