29 novembro 2019

Há 50 anos Lage iniciava charges e tiras na Tribuna da Bahia


Há 50 anos, em 1969 o cartunista Lage começava a desenvolver charge e tiras de humor o jornal recém fundado, Tribuna da Bahia. De traço simples, Helio Roberto Lage conseguiu captar todo o momento histórico político vivenciado nacionalmente. Cartunzão, L´amou tuju L´amu, Tudo Bem, Brega Brasil, Ânsia de Amar mostra um humor sem retoques – autêntico e mordaz. O humor caligráfico de Lage tem uma marca pessoal muito forte e traz, por inteiro, a perplexidade nossa de cada dia. Hoje, 29 de novembro, 13 anos de sua morte.



Lage pertence a história dos nossos quadrinhos/cartuns. É um quadrinho cartunístico que se cristaliza através de questões sociais e culturais. Conferindo ainda seus efeitos ideológicos e sua marcante criatividade. Enquanto muitos desenhistas se distanciavam dessa nossa realidade em seus trabalhos, Lage procurava se aprofundar mais em nossas questões políticas e culturais.



Se o humor de comportamento conquistou leitores nos anos 50, foi forçado pelo clima político estabelecido pela Revolução a dar lugar ao humor político, engajado. Os cartunistas se armaram contra o ataque, mas os meandros do comportamento humano, o sexo, o casamento, a cultura, enfim tudo aquilo que faz os costumes do cidadão brasileiro foi posto de lado pelos desenhistas de humor. Mas Lage, como grande crítico do cotidiano dissecou as leis e pacotes vindos de Brasília, além de mostrar a política local em suas charges diárias. Nas suas tiras ele mostrou o relacionamento humano, seus conflitos e insegurança, o dia-a-dia do baiano.



Em 1969 começou a desenvolver charge e tiras de humor no jornal recém fundado, Tribuna da Bahia. Na série Estorinha do Lage começou a publicar um herói espacial, sátira ao super-herói. Ainda na serie ele criou o papagaio Put. Nos anos 70 começou a desenhar uma página inteira de humor no jornal O Dia, de Piauí. Durou um ano. Em seguida começou a ilustrar a coluna esportiva de Carlos Eduardo Novaes mo Jornal do Brasil. Depois veio a serie Cartunzão, muito irreverente. Para o suplemento A Coisa criou L´amu tuju L´amu abordando os costumes e comportamentos populares. Nos anos 80 começou outra serie de tiras diárias, Tudo Bem onde a mulher, Kátia Regina por exemplo, era a personagem principal, mesmo com a presença constante de Arlindo Orlando. Em 1989 foi ao ar na Radio Educadora FM o especial Lage, Cartunista Baiano onde as tiras diárias Tudo Bem foram transportadas para a linguagem radiofônica.



De 1976 a 1980 foi editor de arte da revista Viverbahia quando começou a fazer quadrinhos coloridos. Em 1981 passou a ser editor de arte da revista Axé Bahia e publica os quadrinhos da sensual Dora Mulata. Em 1994 no Jornal da Pituba cria o quadrinho Pituboião, satirizando o dia a dia da comunidade. Mais tarde faz diversas ilustrações e cartuns para o jornal O Bocão, da Boca do Rio, bairro de Salvador.



Em 1990 lança a revista de humor e quadrinhos Pau de Sebo, deboche puro. Uma das primeiras publicações de humor e quadrinhos que surgiu em Salvador na década de 70, começou em formato de jornal, como suplemento da Tribuna da Bahia, A Coisa que durou de 1975 a 1976. Ainda em 76 a equipe se mobilizou e lançou o tablóide Coisa Nostra, cujas 20 paginas incluíam reportagens, colunas de cinema, música e cartuns.



O editorial do número um alertava que o “importante é que o riso não fique na boca. Ele tem que dar uma chegadinha na consciência”. Coisa Nostra só teve quatro números. De 1985 a 88 Lage produz vídeo charge (ou charge eletrônica) na TV educativa de Salvador. Foi o primeiro a trabalhar nessa área na Bahia. Participa de diversos salões de humor, sendo premiado no da Mackenzie, SP em 1971 e 1973. Participa ainda nos salões do Rio, Bahia, Piracicaba, Curitiba, entre outros. Em 1984 é premiado no Salão de Humor em Stutgart, Alemanha. Ele faleceu no dia 29 de novembro de 2006.

28 novembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (04)


ANOS 30



A década consagra o samba e a seresta interpretados por cantores de voz possante como Orlando Silva e Nélson Gonçalves. Cartola era uma espécie de legenda dos morros cariocas. Seus sambas eram gravados por Francisco Alves, Carmem Miranda e outros grandes da época. Poeta de frases simples e econômicas, Cartola cantou em versos as desilusões do coração, as mulheres inatingíveis, os amores impossíveis. O rádio atinge todos os lares brasileiros. Araci de Almeida, que é chamada “Dama da Central” por viajar de trem (tinha medo de avião), e Dalva de Oliveira eram as estrelas. O carnaval foi um dos temas do primeiro filme nacional sonoro do cinema brasileiro: Coisas Nossas, realizado por Paulo Benedetti em 1930, com o Bando dos Tangarás. Essa foi a época de ouro da música de Carnaval. Compositores como Lamartine Babo, Noel Rosa e Ari Barroso criaram músicas eternas. Dorival Caymmi, Pixinguinha e Assis Valente são os destaques na música.




Artistas e pensadores começam a revisar a formação do povo brasileiro. O negro deixa de ser o simples “criado doméstico” de obras anteriores e assume proporções heróicas nos quadros de Portinari. Na literatura brasileira, os romancistas eram os que vinham do Norte/Nordeste, como Graciliano Ramos (Vidas Secas), José Lins do Rego (Menino do Engenho) e Jorge Amado (Jubiabá). Os poetas eram Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Mário Quintana. Patrícia Galvão (Pagu) também se destaca.



Uma das séries mais populares criadas pelo cearense Luiz Sá (1907-1979) em 1931 para a revista O Tico Tico, da Editora O Malho, inicialmente com a colaboração de I. Galvão de Queiroz Neto. Quadrinho de uma página contando as traquinagens de três garotos no Rio de Janeiro: Reco Reco (de cabelos espetado), Bolão (o gordinho da turma) e Azeitona (menino negro). Criados pelo quadrinhista e ilustrador Luiz Sá, Reco-Reco, Bolão e Azeitona eram três garotos trapalhões que apareciam na edição de 08 de abril de 1931 da revista O Tico-Tico (edição 1331). Os três apareceram nesta publicação até seu fechamento (1931-1960), além de terem sido as figuras centrais de dois livros ilustrados, publicados também pela S.A. O Malho. No livro Gramática? Já era, do professor Antônio Mendes de Almeida (diretor da Faculdade Cândido Mendes do Rio, editada pela EBAL no começo da década de 1970), Reco Reco, Bolão e Azeitona ensinava às crianças algumas regras gramaticais através de quadrinhos. Luiz Sá contou com a colaboração de I.Galvão de Queiroz Neto que concebeu as histórias. Com estilo diferente dos artistas da época: os personagens são redondos e têm olhos grandes com pupilas recortadas. O garoto gordinho Bolão, que pensa ter aptidão artística, é vítima constante das brincadeiras de seus amigos, principalmente do menino negro, Azeitona. J Reco Reco tenta em vão domar a rebeldia de seus cabelos espertados. Como bem notou Franco de Rosa, o que ninguém nunca soube esclarecer é por que Azeitona usava lacinho de fita no cabelo. Alguns sugerem que era excentricidade, outros que Azeitona pagava alguma promessa, mas Luiz Sá, o criador, nunca revelou a razão. Bolão ficou tão popular que, em 1961, virou uma série de figurinhas do chiclete Ping-Pong. Luiz Sá também criou outras figuras como Louro, um papagaio, o cachorro Totó, o rato catita e Pinga Fogo no Tico Tico. Já o Detetive Desastrado e Maria Fumaça (uma empregada negra que pouco entendia as ordens da patroa) foram publicadas na revista Cirandinha. Luiz Sá mostrou, através do relacionamento entre três garotos comuns do ambiente urbano – a capacidade de iniciativa e de participação da criança.




De 1937 até 1940 o personagem de Oswaldo Storni (1909-1972), Pernambuco, o Marujo, marcou um recorde de duração de HQ de aventura em revista seriada no Brasil (O Tico Tico). Ele é o primeiro militar dos quadrinhos brasileiros, uma conseqüência da propaganda nacionalista do Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas. O lutador de boxe, criação do cartunista Belmonte, fez sua primeira aparição nas páginas da revista infantil O Tico Tico em 1937, ilustrada pelo carioca Oswaldo Storni, filho de Alfredo Storni (criador de Zé Macaco e Faustina para O Tico Tico) foi publicado, com desenhos de Oswaldo Storni. O personagem viveu suas aventuras n´O Tico-Tico entre 24 de novembro de 1937 e 23 de março de 1940. Aventureiro, integrante da Marinha do Brasil e boxeador amador, Pernambuco enfrentou a invasão americana de quadrinhos e tentou salvar O Tico Tico. A história começa em Nova York, quando Pernambuco, um marujo marcante, distrai-se passeando com a jovem Eugênia pela cidade e perde o navio. Lutador de boxe amador, ele aceita o desafio de um profissional de feira para ganhar alguns dólares. Vencedor, descobre que durante a luta a namorada fora raptada por traficantes de mulheres. Tentando salvar a amada, Pernambuco se envolve em muitas peripécias até que reencontra Eugênia, que fora salva pela polícia. Decide então profissionalizar-se como boxeador, tornando-se campeão. Rico, compra um veleiro e se casa com a moça. O matrimônio é um recurso para ajustar a HQ aos princípios morais da revista, e um enfoque moderno da narrativa numa época em que todos os heróis de quadrinhos americanos eram celibatários. O casal veleja pelo mundo e chega à China, mergulhada numa guerra da qual participa obrigados. Mais tarde a dupla regressa ao Brasil e Pernambuco se reengaja na Marinha de Guerra, servindo em um destróier que patrulha as águas territoriais brasileiras. Pernambuco, o Marujo marcou um recorde de duração de HQ de aventura em revista seriado no Brasil, sendo impressa de 24 de novembro de 1937 a 23 de março de 1940. Ele é o primeiro militar dos quadrinhos brasileiros, uma conseqüência da propaganda nacionalista do Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas.






27 novembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (03)


ANOS 20



Durante 20 anos (1930/1940) Juca Pato tornou-se um dos personagens mais populares no dia a dia dos paulistanos: mordaz, gentil e defensor dos fracos. Durou vinte e dois anos (1925 até 1947). A criação de Belmonte (1896-1947) foi a personificação do povo paulistana. O personagem - a personificação do povo paulistano, segundo alguns - era um homem de preto, minúsculo e macrocéfalo, que pagava sempre opatopelos desmandos dos políticos e pela insensatez dos burocratas. De óculos e, quase sempre, com o dedo para o ar, Juca Pato protestava contra a carestia de vida, os buracos das ruas ou o aumento de impostos. Juca Pato foi um sucesso porque criticava os poderosos e defendia a coletividade. Seu nome ficou tão popular que foi usado para as mais diversas finalidades e produtos. Existiam bares, caramelo, água sanitária, graxa de sapato, tudo com o nome de Juca Pato. Baixinho, careca, comóculos de aro, sempre de fraque e polaines, o personagem surgiu nas páginas do Folha da Noite e foi publicado até a morte de Belmonte, em 19 de abril de 1947. Foi um personagem marcante na vida da cidade paulista.




Nessa época da história de São Paulo, boa parte das designações da cidade levava o nome de Juca Pato. Ate então, nenhum personagem fora tão marcante ao gritar contra os preços altos, o arrocho salarial, os desmandos da administração, e ao denunciar a corrupção. Juca Pato fazia tremer os políticos, que de variadas formas tentaram usar sua imagem em causa própria, batendo de frente, porém, contra a franca independência ideológica de quem o criara. Durante o governo de Getúlio Vargas, principalmente depois da decretação do Estado Novo, Juca Pato teve muitas de suas charges censuradas.




O personagem Juca Pato deixou de ser apenas desenho e se tornou, em 1962, o nome de um troféu que distingue o Intelectual do Ano. A figura de Juca Pato é inseparável de São Paulo. O caricaturista declarava sempre seu apego à cidade. Recusou, em nome de sua paulistanidade, até mesmo um convite em 1926 para trabalhar nos estúdios norte americanos da Metro, onde faria desenhos animados. Se, nas décadas de 1930 e 1940, se perguntasse a qualquer paulistano qual era a figura mais popular na cidade, ele com boa dose de certeza diria que era o Juca Pato. A popularidade podia ser comprovada nas ruas: havia bar, restaurante, marca de cigarro, graxa de sapato, vinho, água sanitária, pacote de café, aperitivo de bar e até letra de samba com o nome Juca Pato. Ele representava o cidadão comum, trabalhador, honesto, pagador de impostos, perplexo, irritado e por vezes apoplético com os desmandos do custo de vida, da burocracia, da corrupção política e da exploração do povo. Era a voz dos inconformados, do “Zé Povinho que sempre paga o pato” e que reivindica mudanças sociais.



Se São Paulo tinha Juca Pato, no Rio tinha a Melindrosa, o Almofadinha, Lamparina e muitos outros, criação de J. Carlos. Nos seus trabalhos desfilam todos os personagens do Rio de Janeiro – o que vale dizer, as figuras que por muitos anos moldaram a imagem do país.




J.Carlos (1884-1950) botou com a Melindrosa, a mulher carioca como a deusa das ruas e da moda, cheia de brejeirice, os olhos às vezes feitos como se fossem duas bolinhas pretas. A personagem nasceu na revista Para Todos, no começo dos anos 1920, logo ganhando poemas, canções e o apadrinhamento do escritor Álvaro Moreyra. Com J.Carlos, a Melindrosa saltitou na Rua do Ouvidor, mesmo que saísse só do nanquim do artista. Zuenir Ventura no texto do livro O Rio de J.Carlos lembra que foi J.Carlos que, depois de exibir as pernas e os seios da carioca nos salões, retirou-lhe a roupa na praia, antes mesmo que ela o fizesse. Ou seja, o biquíni apareceu nos desenhos antes de ser habito nas praias. Ele foi o inventor do maiô sumário. A Melindrosa era uma carioca “pra frente”, o vestido curto, as pernas firmes grossas sempre à mostra, os longos cílios, a sombra nos olhos, a boca cuidadosamente pintada na sugestão de um beijo. Lutando por seus direitos (fumar em público era um deles), fingindo-se de frágil e submissa, acabava conquistando sua liberdade e dominando o homem, que no traço de J.Carlos era um almofadinha feioso, desengonçado, quase ridículo.




Outra criação de J. Carlos foi o afeminado Almofadinha: era o parceiro colorido das Melindrosas. No trabalho de J. Carlos desfilam todos os personagens do Rio – o que vale dizer, as figuras que por muitos anos moldaram a imagem do país. Ele tanto podia retratar personagens políticos como captava as tendências da moda e ainda encontrava uma maneira de criar personagens de histórias infantis. Além do desenho marcante, que não envelheceu ao longo de mais de 100 anos, é impressionante a sua aguda percepção dos perfis psicológicos e da mudança dos costumes. Em todas as suas imagens J.Carlos ainda acrescenta um tom de ironia. A esse autodidata coube o registro de um Rio de Janeiro que somente sobreviveu no seu traço.




Personagem cômico-infantil, Lamparina é a última criação importante do gênero de J. Carlos para O Tico-Tico. Ela surgiu anônima e como mera figurante, na série “O grande vôo do Bahu”. Lamparina, que muitos pensam ser um garoto, é na verdade uma menina impúbere de cerca de 10 anos que, vinda de uma ilha distante, integra-se oficialmente ao elenco de O Tico-Tico em 25 de abril de 1928. Ela tem cabelo curto encarapinhado, o corpinho magro e desengonçado e temperamento irriquieto. O maior pecado de Lamparina é a gula que a transforma numa ladra compulsiva de mamões, pêssegos, carambolas, guabirobas e principalmente bananas dos pomares vizinhos. Cheia de defeitos, indisciplinada a ponto de liderar uma fuga em massa de crianças de um orfanato de freiras, ela é companheira fiel, cúmplice e muitas vezes o cérebro por trás das peças que Jujuba prega aos demais. Entretanto ela é sentimental, manhosa, debulhando-se em lágrimas com facilidade. Tal personalidade, ora deprimida, ora eufórica, vitima das brincadeiras dos outros ou das que própria inventa, conquistou grande numero de admiradores. J. Calos desenhou as aventuras de Lamparina de 1924 a 1941, quando deixou de vez as histórias em quadrinhos, com essa queixa: “Há mais de 20 anos faço HQs, mas hoje, um esforço tamanho, para quê? A remuneração é insignificante e quem pode concorrer com esses originais estereotipados estrangeiros?”.


26 novembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (02)


Em 1900 o Brasil ainda era um país predominantemente agrícola. A economia girava em torno dos oito produtos de exportação: café, açúcar, erva-mate, cacau, fumo, algodão, borracha e couro. O estilo art nouveau invadiu o Brasil. Ele estava nos postes de iluminação elétrica que substituem os velhos lampiões de gás, no vaso de flores, nos móveis de quarto, nos espelhos das confeitarias, nas portas e portões, nas fachadas e interiores, e até na silhueta esguia da nova mulher. A novidade permeou o cotidiano de cariocas e paulistas. É o automóvel, o bonde elétrico, a fotografia, o cinematógrafo, os discos e as vitrolas. O campo da música popular ouvida no Brasil era regido por uma extrema variedade de estilos e ritmos: maxixe, modas, marchas, cateretês e desafios sertanejos. Nenhum desses estilos musicais, apesar de suas modas passageiras, parecia ter fôlego suficiente para conquistar a hegemonia no gosto popular da época. Nenhum deles era considerado o ritmo nacional por excelência.





ANOS 10



Até 1910, haviam entrado no Brasil portugueses, italianos, espanhóis, alemães, japoneses, perfazendo mais de 2.400 habitantes (105 da população do país, que girava em torno de 24 milhões). A maioria desses imigrantes iria formar o operariado brasileiro. As fábricas urbanizavam o Brasil. As indústrias vão transformando as cidades em metrópoles. Na base das grandes fortunas está o trabalho de milhares de operários que vivem um cotidiano de privações, esquecidos pela legislação trabalhista. As migrações externas e internas determinam o excesso de mão-de-obra. E a crescente mecanização da grande indústria, desempregando operários, deprime o salário e agrava a já precária situação do trabalhador.




O cinema brasileiro atravessou uma verdadeira febre de produção a partir de 1908. Os atores do cinema nacional eram, em sua maioria, recrutados no teatro ou no circo. Homem que se prezasse no Brasil era bem-falante. A oratória compunha a personalidade masculina do mesmo modo que o fraque, o chapéu-coco, o cravo na lapela e o soberbo bigode – tudo isso acompanhado, naturalmente, de um título de doutor. Escravas das convenções, a mulher tinha um horizonte reduzido. Sua atuação social se resumia às demonstrações de fé nas missas dominicais, de caridade, nas reuniões beneficentes, e de boa anfitriã, nos salões onde expunha seus dotes musicais. Sem direito a voto ou participação política, sobrava à mulher o papel de mãe e educadora, sua principal tarefa na sociedade patriarcal.




O baiano Ruy Barbosa era o mestre da oratória e defensor das grandes causas. Candidatou-se à Presidência da República, mas perdeu e declarou: “Fora da lei não há justiça”. Os jornais começavam a modernizar-se. Acompanhando a maré do progresso no Brasil, as pequenas oficinas de tipografia compravam máquinas e iam se tornando grandes empresas. Acompanhando as inovações técnicas das oficinas de impressão, foram aparecendo inúmeras revistas com fotografias, páginas coloridas, ilustrações e caricaturas. Caricaturistas de talento como Raul Pederneiras, K-Lixto e J.Carlos tornaram-se a principal atração de revistas humorísticas como Fon-Fon!, Careta, O Malho, entre outras. O Tico-Tico ganhou, imediatamente, a preferência do público infantil.




A primeira revista exclusivamente de quadrinhos, O Tico Tico, um grande sucesso entre crianças e adolescentes de seu tempo. Foram 2097 edições e quase 57 anos de existência, encerrou uma saga ainda não igualada pelas revistas infantis nacionais (1905-1962). Marco de nossas publicações infantis, a infância de muitos brasileiros, passando a fazer parte do imaginário coletivo da cultura nacional. Criada com o objetivo de entreter e educar o leitor infantil pertencente à parcela média da população, a revista O Tico Tico veiculava uma visão ingênua da infância. Os tipos que aparecem em cenários da natureza com árvores e mato, onde animais, como vacas e cavalos, aparecem soltos e livres. Personagens matutos, visto que normalmente usam botas, chapéu de palha, macacão e camisas listradas.




Criado por Alfredo Storni (1881-1966) especialmente para a revista infantil O Tico Tico em 1908, Zé Macaco é o personagem que mais durou na história dos quadrinhos brasileiros. Foram quase 50 anos aparecendo na mesma revista, sem parar. O detalhe é que Zé Macaco envelhecia de acordo com o passar do tempo, e se tornou velho e barrigudo. A dupla que reúne o malandro Zé Macaco e a cabrocha Faustina, casal típico brasileiro tornou-se tão popular que se transformou até em motivo publicitário de casas de roupas e sapatos. Esses personagens foram tão importantes quanto o Pafuncio e Marocas (Bringing Up Father), de McManus. Trata-se de uma crítica à classe média urbana ascendente e deslumbrada. Inicialmente, a mulher não tinha nome e era identificada como Madame Zé Macaco. Um concurso entre os leitores definiu seu nome. O par tinha um filho Baratinha, que apareceu apenas por um breve período nas histórias que focavam nas tentativas frustradas da dupla de aparentar ter educação e inteligência e de estar na moda.



O casal carioca era marcado pela feiúra e idiotice, mas se esforçava para aparentar boa educação, inteligência e estar na moda. Desde sua primeira aparição até 1957 a dupla foi publicado com a característica de irem envelhecendo e Zé Macaco tornou-se careca e barrigudo. Nessa história, o autor elabora a fórmula básica das histórias em quadrinhos familiares, tem-se a mulher feia e atrapalhada, o marido querendo dar uma de esperto, e seus amigos. Um casal feio, mas divertido. Mais tarde, essa estranha família cresceu com Serrote, o filho, e Baratinha, o cachorro. Utilizando traços caricaturescos, a série marcou toda uma época, divulgando as características brasileiras da primeira metade do século 20. Storni explorou o cotidiano de uma família carioca encantada pelos modismos europeus e ao mesmo tempo desajustado em suas tentativas de ascensão social. Seu traço marcou a revista por muitos anos.

25 novembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (01)


Foi pelas mãos e pelo talento do ítalo--brasileiro Angelo Agostini (1843/1910) que as primeiras experiências com narrativas gráficas seqüenciais foram conduzidas no país, na segunda metade do século XIX. Com sua visão crítica e arguta, esse artista retratou em suas charges, caricaturas e histórias em quadrinhos a sociedade brasileira da época. Defensor da abolição da escravatura e do fim da monarquia, ele denunciou a corrupção das elites e a situação do povo. Após publicar charges, caricaturas e narrativas sequenciais curtas nas publicações Diabo Coxo e Cabrião, lançou na revista Vida Fluminense, em 30 de janeiro de 1869, a história seriada  As aventuras de Nhô Quim ou As impressões de uma viagem à Corte. O protagonista inicia sua jornada deixando a fazenda onde vivia, em Minas Gerais, e parte para o Rio de Janeiro, então capital do país. As diferenças entre a vida no campo e no meio urbano são o elemento motriz das peripécias do personagem. Sua inadequação quanto aos costumes resulta em equívocos e mal-entendidos. No frio ambiente da cidade, perde-se, entra em conflito com seus habitantes e desespera-se.




Considerada a primeira história em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo, a trajetória do matuto rico Nhô Quim, desde sua partida da fazenda dos pais, no interior, até o rebuliço que causa na cidade por não estar familiarizado com as convenções da vida urbana foi um grande sucesso. O personagem perde o trem na estação, provoca acidente com carroças nas ruas do Rio de Janeiro, espanta-se com a luz elétrica e o sorvete e é vítima de espertalhões que almejam tirar-lhe dinheiro. Ao retratar comicamente a ingenuidade e a inabilidade do protagonista, o autor registra o modo de vida carioca na segunda metade do século XIX, as transformações que estavam em curso, a moda e as convenções sociais. Agostini fez nove páginas duplas e depois deixou a revista. Publicada na revista Vida Fluminense, essas histórias não apresentavam os famosos balões de diálogos e o texto narrativo era bastante simples e convencional. Porém, Agostini tinha um traço elegante

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Já na história As aventuras de Zé Caipora, também serializada nas páginas de jornais a partir de 1883, o enredo é invertido: o atrapalhado protagonista sofre uma desilusão amorosa, adoece e acaba viajando para o interior do país, onde vai precisar enfrentar perigos (animais selvagens e índios hostis). Fora do ambiente urbano, o personagem deixa de aprontar confusões e toma atitudes heroicas. No meio do mato, revela-se impetuoso e astuto ao lado da primeira heroína, a índia Inaiá, que viviam inúmeras aventuras na Revista Illustrada, a partir de 27 de janeiro de 1876 a 1891. Num Brasil em profunda transformação política, econômica e social, repleto de lutas pela abolição dos escravos e pela proclamação da República, Ângelo Agostini produziu uma arte que se recusava a ficar parada, estática. Avançando no tempo e no espaço, o artista criou uma narrativa sequencial com cortes gráficos que futuramente apareceriam nas histórias em quadrinhos. O pai de Nhô Quim e de Zé Caipora nos deixou como legado aventuras e caricaturas que revelam um tempo histórico significativo, de um país que se tornará Nação, porém, com fortes desejos de ser uma República. Angelo Agostini foi, sem sombra de dúvida, o principio dos nossos quadrinhos. E também um artista que por meio das histórias em quadrinhos, muito antes delas existirem como as conhecemos; revelou um país repleto de divisões sociais, econômicas e políticas, que começava a caminhar pelas próprias pernas, apesar delas serem, ainda, bastante frágeis. Agostini esteve à frente de sua época, criou um estilo, influenciou e tornou a caricatura, a sátira política e os quadrinhos parte de nossa nascente imprensa.




Bem antes de Nhô Quim e de Zé Caipora o caricaturista alemão Henrique Fleiuss (Heinrich Fleiuss) que assinava H. F. ou H. Fleiuss (1823 – 1882) lançou em 1860 na Semana Ilustrada (1860-1876) dois tipos característicos a lhe servir de comparsa e contraponto em suas tiradas gráficas: Dr. Semana e o Moleque. O Dr. Semana era um tipo atarracado, com cabeça grande e sempre comentando os assuntos correntes, é o carro-chefe de sua produção. Já o Moleque é o primeiro personagem negro a aparecer regularmente no desenho humorístico na imprensa brasileira. Fleiuss teve papel precursor ao colocar, em suas charges, personagens negros em destaque, apresentando em seu semanário caricaturas de cunho abolicionista em defesa do Vente Livre. O artista também criaria outra representação do país, o personagem Sr. Brasil, retratado na figura do índio e surgido em seu periódico na edição de 03 de fevereiro de 1861, sempre em postura crítica aos problemas nacionais. Mais tarde, Fleuiss ainda incorporou à dupla um terceiro personagem, dona Neguinha, esposa do Moleque. Ao que tudo indica, o Dr. Semana era uma adaptação do Dr. Sintaxe, tipo crítico criado pelo caricaturista inglês Thomas Rowlandson, em 1798. Tanto Dr. Semana quanto Moleque se transformaram em símbolo da crítica dos costumes, das fraquezas e dos cacoetes políticos da época. Considerado um pioneiro da imprensa ilustrada humorística no Brasil1, Fleiuss manteve por 16 anos um hebdomandário bem diferente dos que à época alcançava maior destaque social. Seu formato era pequeno, com oito páginas, quatro de texto e quatro com ilustrações. Publicava poesias, crônicas, contos.




Gustavo Barroso criou o primeiro super-herói do mundo, Oscar, um príncipe que adquire super-poderes através de um anel, inclusive voo, e todas essas características foram usadas nos quadrinhos de super-heróis norte-americanos que foram em sua maioria escritos e desenhados por judeus. De fins de 1908 a princípio de 1909, a primeira página de O Tico-Tico foi tomada pela história O Anel Mágico, criado pelo cearense Gustavo Barroso (1888-1959), advogado, professor, museólogo, político, contista, folclorista, cronista, ensaísta e romancista brasileiro. Na historia conta o narrador existir num tempo distante um reino dominado pela mais absoluta paz. Ali, as pessoas entravam e saiam com a maior liberdade, bastando atravessar uma pesada ponte levadiça que há anos não se via sair do chão. O seu soberano era o bondoso e justo rei Canuto XXX, pai do casal: Borboleta e Oscar. Entretanto, no entorno do reino, havia outro, tenebroso e horrendo, regido por Higino, um gigante feroz que, sabiam, possuía um anel mágico que lhe conferia grande poder. Um dia, o gigante deu pelo encanto da princesa Borboleta e decidiu tomá-la como esposa, ansiando também pela riqueza do rei Canuto que, certamente, rejeitou a proposta do vilão. Higino, furioso, convocou toda uma legião de espíritos do mal que, em covarde investida, avançou sobre as muralhas despreparadas do castelo e matou um a um de seus habitantes, com exceção de Borboleta, agora prisioneira na torre, e de Oscar, o nosso herói, que mesmo ferido consegue escapar na densa floresta onde encontra a fada Mariposa. Ela, então, revela ao cavaleiro que a única forma de ele libertar a irmã é conseguir se apoderar do anel mágico de Higino, oculto na torre do cume da montanha Zohnomin, guardada pelo terrível dragão Pyrogrulos. É curioso perceber que aquele jovem e talentoso jornalista criou e quadrinizou – ilustração, roteiro e história –, há mais de 100 anos, uma narrativa de fantasia que hoje impulsionaria best-sellers e a bilheteria de cinemas...


22 novembro 2019

Eduardo Risso comemora 60 anos


Ele é um argentino de traço e palavras afiadas. Eduardo Antonio Risso nasceu no dia 23 de novembro de 1959 (está comemorando 60 anos), na cidade de Leones, província de Córdoba, na Argentina. Iniciou sua carreira de desenhista como ilustrador do jornal La Nación, em 1981. A seguir, publicou diversos trabalhos avulsos nas revistas Eroticon e Satiricon, da Editorial Columba.




Este ano ele estará entre nós participando da CCXP 2019, que acontecerá entre 5 e 8 de dezembro no São Paulo Expo. Conhecido por seu estilo marcado pelo uso de contraste, Risso assina a arte de 100 Balas, quadrinho escrito por Brian Azzarello que venceu quatro prêmios Eisner, o Oscar dos quadrinhos. Eduardo Risso é responsável também pelos desenhos de Noite de Trevas: Uma história real do Batman, HQ autobiográfica que narra a jornada de Paul Dini, criador da série animada do Homem-Morcego, de sua infância até um violento assalto cujas consequências afetaram diretamente seu trabalho como roteirista. A HQ mais recente de Risso é Moonshine, história que mistura uma trama policial nos anos 50 com lobisomens.




Em 1987, junto com o roteirista Ricardo Barreiro, iniciou a série Parque Chas, na revista Fierro. No ano seguinte, ainda em dupla com Barreiro, publicou Cain e Los Mistérios de la Luna Roja. Também em 1988, publicou Borderline, com roteiros de Carlos Trillo, iniciando uma duradoura parceria em vários trabalhos para editoras da Europa. Fulù, de 1989, foi a primeira. Depois, vieram outras como Simon, um Aventureiro Americano, de 1994, e Chicano, de 1997. Por essa época, começaram suas publicações nos Estados Unidos.




Para a Dark Horse, fez a minissérie Alien: Wraith e adaptou o filme Alien: Ressurrection. O ano de 1998 marca o início de sua parceria mais famosa: a com o roteirista Brian Azzarello. A primeira foi a minissérie Jonny Double.



Em 1999, é lançada a série 100 Balas, pela Vertigo, selo adulto da DC Comics. Concomitantemente, Risso continuou produzindo histórias com Carlos Trillo como Eu sou um Vampiro. Embora tenha desenhado alguns trabalhos avulsos para a Marvel e para a revista Heavy Metal, é para a DC que Risso tem produzido seus trabalhos mais conhecidos, inclusive a graphic novel Batman: Broken City. Mesmo assim, é 100 Balas, sem dúvida, sua obra consagradora. Com esse título, ele conquistou o prêmio Eisner em 2001, na categoria Melhor História Seriada; em 2002, como Melhor Artista e Melhor Série Continuada; e em 2004, nessa última categoria. Em 2002, recebeu dois prêmios Harvey como Melhor Artista e Melhor Série Continuada, além do prêmio Yellow Kid. Seu trabalho mais recente para a Vertigo é a minissérie Spaceman.




Na qualidade de profissional reconhecido internacionalmente, Risso também é um grande incentivador da produção de quadrinhos na Argentina, e desde 2010 atua como presidente do Comitê Organizador da Crack Bang Boom – Convención Internacional de Historietas, na cidade de Rosário, na Argentina, com exposições, palestras e oficinas com artistas argentinos e convidados internacionais.


21 novembro 2019

Diferentes estilos dos quadrinhos brasileiros (03)


Em 1970, o desenhista gaúcho Edgar Vasques se propôs a criar um personagem que tivesse a cara do Brasil: miserável, esfomeado, marginalizado, pobre e desempregado, que vivia dentro de uma lata de lixo. A primeira aparição de Rango foi na revista Grilus, a revista do Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde Vasques então estudava. A partir de 1973, Rango ocupou as páginas de vários periódicos brasileiros, como Pasquim e Folha da Manhã. Fazendo parte do boom de humor da década de 70, simbolizou a resistência à ditadura militar. Nos anos 80, Edgar Vasques tornou-se conhecido nacionalmente pelos quadrinhos do Analista de Bagé, de autoria de Luís Fernando Verissimo, publicados na revista Playboy. A inovação, neste caso, ficava por conta da qualidade dos traços de aquarela, técnica inédita utilizada em quadrinhos.




O cartunista Henfil (1944-1988) teve uma atuação marcante nos movimentos políticos e sociais do país, lutando contra a ditadura, pela democratização do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já. Com humor mordaz e desenho caligráfico, Henfil destaca-se como um dos militantes mais ativos na resistência ao regime militar. De suas mãos saem personagens antológicos como os fradinhos Baixim e Cumprido, a ave Graúna, o bode Orellana, Capitão Zeferino e Ubaldo, o paranoico, que provocam mudanças na história dos quadrinhos brasileiros não tanto pela inovação formal - apesar de ser marcante o seu traço nervoso e espontâneo -, mas pelo uso dessa linguagem gráfica específica como o melhor suporte para crítica e comprometimento social. A lista de criações de Henfil consta a feminista Zilda-Lib, a onça Glorinha, anarquista, líder do comando de Libertação do Quadrinho Nacional. Henfil foi um homem de denúncias. Foi ele quem calibrou a expressão Diretas Já e sofreu depois por ser contra o Colégio Eleitoral e, consequentemente, contra o governo de Tancredo Neves e seu vice, eleitos indiretamente. Um guerrilheiro do cartum, assim Henfil foi definido pelo cartunista Miguel Paiva. Adotou o lápis como arma para denunciar e questionar tradições e comportamentos sociais. Tocava em pontos-chave, desenvolvendo um inconformismo contagiante.




Ele é importante por representar a resistência dos quadrinhos de autor, adulto, fugindo das soluções bem-sucedidas do humor e da pornografia. O paulistano Lourenço Mutarelli marcou seu início nos anos 80, sobrevivendo a um incipiente mercado independente e mantendo em sua obra a mesma dignidade até hoje. Na sua premiada obra “Transubstanciação” (1991), o poeta Thiago sofre um angustiante estado de alteração mental. O Grito é uma de suas obras mais conhecidas. O surrealismo escabroso de seus traços fica por conta de uma personalidade depressiva, agravada por uma Síndrome de Pânico que enfrentou em 1990 com pesadas doses de psicotrópicos. O território das histórias de Lourenço está numa região oculta do cérebro – o inconsciente. O Cheiro do Ralo trata de um universo bizarro e de um personagem que compra e vende objetos usados. No álbum A Confluência da Forquilha ele mostra um artista que não consegue unir palavra e imagem, minando a cada raciocínio sua habilidade de perceber o mundo. Cínico e de humor negro cortante, o álbum traz o incômodo dos malditos, dos que estão sempre à margem, subterrâneo, espreitando a vida na superfície. Denso, cruel, infernal. Seus personagens são claustrofóbicos. Seqüelas saiu em 1998. A partir de 1999 surge a trilogia do detetive Diomedes – A Soma de Tudo. Esse universo sombrio, doentio, mais psicológico que está fazendo com que a obra de Mutarelli seja ampliada em outras linguagens. Vale a pena conhecer o trabalho do artista. Mas se prepare para entrar no mundo das sombras, do interior das pessoas.




Cartunista, desenhista, jornalista, cronista, chargista, pintor e dramaturgo brasileiro, Ziraldo lançou em 1960 a primeira revista brasileira de quadrinhos e colorida, de um só autor, intitulada Pererê. Em 1963, Ziraldo ingressou no Jornal do Brasil. Nessa época, em plena ditadura militar, lançou os personagens “Supermãe”, “Mineirinho” e “Jeremias, o Bom”, homem atencioso, elegante, vestido com terno e gravata e que estava sempre disposto a ajudar os outros. O personagem marcou as charges fazendo críticas os costumes e o comportamento da época. Foi um dos fundadores da revista humorística O Pasquim. 


Em 1969 lançou seu primeiro livro infantil Flicts, que relata a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo. Em 1980 lançou o livro O Menino Maluquinho um dos maiores fenômenos editoriais no Brasil. Ele é um ícone dos cartunistas brasileiros, uma referência para quase todos os cartunistas. O segredo do seu traço está em exibir expressividade e força de maneira muito econômica.