31 julho 2012

Jorge Papapá e a música barroca


Ele foi um dos fundadores do Movimento Mutirão (série de shows no Solar do Unhão, Teatro Santo Antonio e Restaurante Universitário). Também foi um ds organizadores do Projeto Seis e Meia, promovido pela Associação dos Músicos. Fez/faz vários espetáculos na Bahia e trabalhou muito com teatro. Seu som tem influência da música barroca, medieval, renascentista.

Sou o laço do teu nó/mel de tua carne/sou o teu grito/teu louco samurai/um cantor de fama/um mendigo caçador de caracóis/um vampiro que ama/listra de macramé/presidente do teu Uruguai/vida do teu bordel/sou o filho do dono do céu/sou um beato, não sou ninguém/sou a pedra no trilho do trem/Bruxo cheio de amor/sou um arquiteto do terror” (Arquiteto do Terror)

Jorge Papapá é de Oxossi, divindade da caça que vive nas florestas. Oxossi é o rei de Keto, filho de Oxalá e Yemanjá, ou, nos mitos, filho de Apaoka (jaqueira). É o Orixá da caça, vive na floresta, onde moram os espíritos e está relacionado com as árvores e os antepassados.

Te faço poemas/se é tudo o que queres/é só o que queres/ser feita poema/Se teima em ser tema/ser o centro da cena/por que não querer ser/de quem te faz lema ?/Se te vejo versos/te quero pra mim/não te tenho perto/se não sendo assim/É sério te peço/que cesse o motim/pra sermos enfim/um livro completo” (Livro Completo)

A música para ele é uma forma de oração. Nos anos 80 seu trabalho era considerado intimista e difícil, com influência do cantochão e da música renascentista. Seu primeiro disco “Arquiteto de Terror” teve a participação de Carlinhos Brown, Silvinha Torres, Cesário Leone, Zé de Henrique e Luiz Valdas. A partir dos anos 90 suas músicas passaram a ser gravadas por diversos artistas da música baiana.


Meu bem não chore/O nosso amor não acabou/Só porque alguém olhou pra mim/E me dedicou tudo de bom/Só porque alguém me desejou/E parece que eu correspondi/Só porque alguém me quis feliz/Só porque alguém me conquistou//O amor não é seu/Não é meu nem de ninguém/O amor só quer amor/Não importa de onde vem/Não é mal nem é bem/O amor ninguém mandou/O amor não é meu/Não é seu nem de ninguém//Não tem cheiro, não tem cor/Nem é servo de ninguém/É por isso que na dor/Também pode haver amor//O amor não é seu/Não é meu nem de ninguém/O amor não é seu/Não é meu nem de ninguém” (Amor de Ninguém)

Jorge Papapá já foi gravado por artistas como : Ivete Sangalo, Araketu, Banda Eva, Timbalada, Ricardo Chaves, Chiclete com Banana, Asa de Águia, Daniela Mercury, Marcia Freire, Zé Paulo, Sine Calmon e mais vários artistas e bandas do cenário local e nacional.

Vera será que você não vira/Quem dera se fosse a Vera/Você no verão chegar//Era, eu já te esperava eras/Outonos e primaveras/Verão quem viver verá//Folhas secas se calam no chão/Lágrimas nos olhas da anunciação/Pés descalços/Falta água no ribeirão/Faca cega fé no coração//E a flor do nosso amor/Brotou você e eu/E tudo que restou/Ficou você e eu/E toda aquela dor/Se foi, secou, se foi/Só ficou você e eu” (Vera, de Jorge Papapá e Sérgio Passos).

Conheça um pouco mais sobre o trabalho deste artista:

Profile de Jorge Papapá no Orkut:

Comunidade Jorge Papapá:

Comunidade Jorge Papapá e Sérgio Passos:




Profano é sagrado,/distante é ao lado/e o raso é profundo”. (Pos fundo)


Eu's Porões

Carrego muitos segredos
desde a ponta dos dedos
à mais funda emoção
Nem o meu insuspeito coração
conhece bem os meus temores
nem o motivo das minhas dores
são verdadeiras paixões
Acontece que os vulcões
que trago no corpo aflíto
são os olhos são os gritos
de um prisioneiro milenar
Desde muito pequenino
até quando fiquei moço
agora já velho ainda ouço
esse imenso borbulhar
São pegadas do destino
que passeiam no meu peito
e os meus olhos não tem jeito
de como fotografar
Fato é que eu só sei andar
da boca do poço pra fora
mas aos meus porões por hora
eu não sei como chegar



Cupido Veloz

Não há quem seja tão forte
tão medonho, tao feroz
tão poderoso e temido
tão sabido, tão atróz
Capaz de ser chefe da tribo
a quem todos dão ouvido
quando dele ouve a voz
Mesmo aquele pervertido
o mais cruel dos bandidos
não saberá se ferido
se livrar quando o cupido
lançar sua flexa VELOZ.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

30 julho 2012

Quinze anos sem o cineasta Siri

Há 15 anos, no dia 30 de julho de 1997, o cineasta Agnaldo Siri Azevedo encerra sua participação no filme da vida. O texto a seguir é do meu livro Gente da Bahia, volume dois: Documentarista. Agnaldo Antonio Azevedo, ou simplesmente Siri, como gostava de ser chamado, nasceu em Salvador, no bairro do Tororó, em 1931. O apelido de Siri ganhou devido a uma enorme semelhança com um então famoso jogador do Vitória. Bom de bola, o jovem Agnaldo Azevedo não hesitou em adotar definitivamente o apelido. No início dos anos 60 ele ganhava a vida como representante farmacêutico, vendendo remédios. Seus primeiros passos no cinema estão muito ligados a sua primeira experiência numa moviola, na montagem do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. Seu amigo Glauber Rocha o intimou a participar do projeto de Deus e o Diabo, porque via nele o tino comercial necessário para assumir a produção do filme. Encerrada a fase de gravação, viajou com Glauber Rocha para o Rio de Janeiro, onde viu, pela primeira vez, uma moviola em ação. Ali, frente ao processo de montagem, assistindo como nascia “outro filme”, sem intervenção de câmeras e lentes, Siri descobriu que já estava apaixonado pelo cinema. Não demorou para que a Bahia perdesse um competente representante farmacêutico.

Siri participou, como diretor de produção ou assistente de direção, de alguns dos mais importantes longas metragens do cinema brasileiro. Com Glauber Rocha, trabalhou em Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, clássicos do Cinema Novo. Também deixou sua marca em Tenda dos Milagres (assistente de direção), de Nélson Pereira dos Santos. Terminada a chamada fase de Glauber, Siri passou a dirigir seus próprios filmes, sempre no estilo documentário, com os quais foi premiado nos mais importantes festivais de cinema do País e até do exterior. Os amigos revelaram que as inspirações de Siri vinham de acontecimentos reais ou estalos repentinos. Anos atrás, lendo no jornal a notícia de que a Barragem de Itaparica iria inundar várias cidades, inclusive Rodelas, situada às margens do Rio São Francisco, Siri sentiu-se imediatamente motivado a transformar o feito em cinema. A idéia deu vida às imagens de Adeus Rodelas, com flagrantes da água invadindo a cidade e de lágrimas de seus moradores, que renderam ao cineasta alguns prêmios internacionais. Outro exemplo de suas sacadas foi a chegada de várias filarmônicas do interior à capital baiana, no início da década de 70. De espectador encantado para idealizador de mais um filme, foi um passo. Siri decidiu visitar cada uma das cidades representadas pelas orquestras, para ver de perto o dia-a-dia dos seus músicos. Em 1973, nasceu a fita As Filarmônicas, que no ano seguinte rendeu mais um prêmio.

Artista da luz, da imagem em movimento, Siri gostava de dar títulos compridos às suas obras. Os títulos de seus filmes revelam o olhar de quem fazia cinema com uma visão poetizante. Dança Negra; Creio em Ti, Meu São Jorge dos Ilhéus; A Zabiapunga de Cairu. Festança de Outrora; A Noite da Dança do Xirê e da Seresta; Memória de Deus e do Diabo em Monte Santo e Cocorobó; Por que Só Tatauí?; A Chuva que Vem do Chão; Não Houve Tempo Sequer para as Lágrimas. Além dos títulos, os temas de sua predileção foram ligados à lírica da cultura popular, aos artistas plásticos e aos poetas Boca do Inferno; A Volta do Boca do Inferno; As Phylarmônicas; Memória do Carnaval de 1978 - Uma Decoração do Artista Juarez Paraíso; A Noite do Folclore; Calasans Neto, o Mestre da Vida e das Artes, muitos filmes e vidas, e um imenso roteiro de participação como produtor, montador, roteirista ao lado dos melhores de nossa arte cinematográfica.

O mais premiado cineasta da Bahia guarda na sua filmografia cerca de 25 documentários e meia dúzia de vídeos. Seu último filme, Capeta Carybé, mostra a integração entre o artista plástico baiano Carybé e a cidade do Salvador. Com ele, Siri já havia conquistado dois prêmios no Festival de Brasília, prêmio do público no Festival de Curitiba e o de melhor documentário no Festival do Ceará. Concorreu também, entre os favoritos no Rio Cine Festival e foi selecionado para a mostra oficial do Festival de Gramado. O cineasta que saiu por aí filmando a gente e as coisas da Bahia, de Xique-Xique a Cocorobó, do Carnaval às filarmônicas, de Carybé a Calasans Neto, foi um forte referencial para todos os cineastas da Bahia. Siri - segundo contam os que trabalharam com ele - tinha a peculiaridade de “filmar montando”. Desperdiçava muito pouca película, gravando apenas a sequência de imagens que já tinha na cabeça.

Documentarista convicto, dono de uma técnica que fez escola e influenciou as últimas gerações do cinema baiano, Siri pela primeira vez se aventuraria no mundo da criação ficcional e logo com um projeto dos mais ousados, até para quem já milita no ramo. O Homem de Vidro, baseada na obra do contista baiano Altamirando Camacã. Não deu tempo. Em parceria com Chico Drummond, ele tinha um projeto de fazer vários outros trabalhos inspirados em pintores baianos. Já havia, inclusive, pautado Sante Scaldaferri, Floriano Teixeira e Tatti Moreno. No dia 30 de julho de 1997, no Hospital Jorge Valente, após entrar em coma, acometido de convulsões provocadas por um tumor no cérebro, o cineasta Agnaldo Siri Azevedo encerra sua participação no filme da vida. Acostumado a muitas vitórias e prêmios, deixou todos meio atordoados com a notícia. Mas, no imaginário de amigos, aparentes e admiradores da sua obra, não fica o sofrimento dos seus últimos dias. Fica o espírito jovem e o vigor incessável (mesmo com orçamentos curtos, falta de reconhecimento e tantos outros obstáculos que nunca fizeram desistir da sua paixão, do seu ofício), que fizeram dele o mais prolífico cineasta baiano, documentarista admirado em todo o Brasil. Fica na memória a obra de um cineasta inspirado, pouco conhecido das massas e que, na opinião praticamente unânime de seus companheiros de estrada, sempre soube valorizar a beleza e a poesia das imagens.
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27 julho 2012

Um silêncio que grita: Bergman


Os filmes de Ingmar Bergman são embebidos em imagens poderosas, violentas, de homens e mulheres lutando para encontrar um sentido em um mundo de confusão e anarquia. Infância, amor e morte sempre foram questões tratadas em sua obra, ora metafísicas ora existenciais. Ao longo dos 60 filmes que realizou, entre produções para cinema e TV (sem falar do teatro), Bergman produziu filmes que vão desde a juventude (Monika e o Desejo, 1952), a morte (O Sétimo Selo, 1957) ou mesmo a política (O Ovo da Serpente, 1979).

Seus enquadramentos trabalhados, os ângulos insólitos, as tomadas de nuvens, lagos e bosques não são jogos gratuitos da câmera. Ele integra à psicologia de seus personagens no instante preciso em que quer exprimir um sentimento preciso. Cineasta do instante, da solidão, das tensões amorosas e da incomunicabilidade, seus filmes são intimistas, profundos e autorais.

Os vigorosos filmes do cineasta sueco das décadas de 50 e 60, incluindo “O Sétimo Selo”, “Persona” e “Vergonha” eram envolvidos em temas teológicos, na luta de seres humanos em chegar a um acordo com a morte em um mundo atormentado em que a religião parecia alternadamente remota, poderosa e instável.

“Gritos e Sussurros” pareceu marcar uma passagem para Bergman, uma transição dolorosa e difícil para uma aceitação de que Deus desaparecera. “Cenas de um Casamento” marcou uma vívida mudança em sua mente, a alma humana. “Fanny e Alexandre” faz um acerto de contas com a Suécia e a tumultuada infância do diretor, criado segundo as rígidas regras de seu pai, um pastor protestante.

O que Bergman, apaixonado pelo teatro, fez foi traduzir em imagens suas inquietações acerca da vida e da morte, de Deus, do tempo e do desejo, da solidão, dos traumas de infância e da inconstância do amor materno.

Ele começou expressionista, descobriu a metalinguagem nos anos 1960 e nos 70 transferiu-se para a televisão. Quem não lembra do cavaleiro que joga xadrez com a morte em “O Sétimo Selo”, o incesto que se faz presente em “Através de um Espelho”, o professor que atravessa planos da realidade e da imaginação para se purgar de uma vida sem amor em “Morangos Silvestre”. Tormentos do sexo e o silencio de Deus são temas recorrentes em seus filmes.

No dia 30 de julho de 2007 o escritor, dramaturgo e produtor sueco Ingmar Bergman morreu calma e docemente, aos 89 anos. O travelling recua ao nascer do sol, a cidade desperta. A câmera busca um rosto em close, e vai silenciosamente se aproximando para os olhos tomados de angústia. E um grito de silêncio se espalha no ar.

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Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos

Neste fim de semana (dias 28 e 29 de julho) haverá o Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos no Centro de Convenções, Teatro da UFPE, 28 e 29 de Julho de 2012, Recife, PE. Organização: Prof. MsC. Amaro Xavier Braga Jr (UFAL)

Mesas Redondas: Temas - A Construção do Humor Sob a Ótica da Pragmática; Quadrinhos e Cultura: o social, o cultural e sua relação com as histórias em quadrinhos; Quadrinhos Poéticos (Fantásticos) Filosóficos; Gênero, Sexualidade e Quadrinhos; Quadrinhos Autobiográficos; Jornalismo e Quadrinhos; A Academia e os Estudos sobre Quadrinhos e Fanzines;Quadrinhos, Leitura e Experiência Estética: Narrativas Gráficas, Paixões e a Vida Comum nos Quadrinhos Japoneses (três percursos de formação e pesquisa no GRAFO/NAVI)

Palestrantes e Conferencistas convidados:
Elydio dos Santos Neto: É Pós-Doutor pela Universidade Estadual Paulista, doutor em Educação (Supervisão e Currículo) e mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP, licenciado em Filosofia e em Pedagogia (Administração Escolar) pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena. Prof. Adjunto do Centro de Educação, Departamento de Habilitações Pedagógicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Lailson de Holanda Cavalcanti: Formado em Comunicação, chargista, Cartunista, Quadrinista, Autor renomado com diversos livros publicados. Membro fundador da ACB- Associação dos Cartunistas do Brasil, da qual é o representante regional Nordeste, e um dos fundadores e primeiro presidente da ACAPE - Associação dos Cartunistas de Pernambuco, organização não governamental que dedica-se ao desenvolvimento do Humor Gráfico e dos Quadrinhos como forma de arte, expressão e educação. Criador e Curador do FIHPE, Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco.

Henrique Paiva de Magalhães: Graduado em Comunicação Social pela UFPB, Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e Doutor em Sociologia - Université Paris VII - Universite Denis Diderot. Professor Associado da UFPB. É editor da Marca de Fantasia, especializada em Quadrinhos.

Mais detalhes sobre o assunto:
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26 julho 2012

Marcel Duchamp, um provocador


O pintor, escultor e poeta francês Marcel Duchamp (1887/1968) nasceu há 125 anos (dia 28 de julho de 1887) e foi um dos precursores da arte conceitual e introduziu a ideia de ready made como objeto de arte. Quando tirava uma peça de seu ambiente natural - como fez com uma roda de bicicleta e um banquinho de madeira ou até com uma louça de sanitário masculino - e dava aos objetos a envergadura de um objeto de arte, o que desejava era instigar o pensamento, provocar um raciocínio, destruir a quietude das coisas aceitas e estabelecidas. Ele contribuiu para o infindável debate entre o que é e o que não é arte. Quando pintou bigodes na Monalisa, de da Vince, colocava nitidamente o seu desprezo pela arte clássica. Colocar a Monalisa e um urinol no mesmo patamar é uma provocação. Duchamp foi um provocador.

Começou sua carreira como artista criando pinturas de inspiração impressionista, expressionista e cubista. Dessa fase, destaca-se o quadro Nu descendo a escada, que apresenta uma sobreposição de figuras de aspecto vagamente humano numa linha descendente, da esquerda para a direita, sugerindo a ideia de um movimento contínuo. Esse quadro, na época, foi mal recebido pelos partidários do Cubismo, que o julgaram profundamente irônico para com a proposta artística por eles pretendida.

Como escultor ele atingiu grande fama. Deixou a Europa e foi para Nova York. Em 1917 (há 90 anos) ele lançou a revista Blind Man (Homem Cego). O objetivo era criar polêmica sobre o urinol que mandou para a exposição de vanguarda em Nova York, e que foi recusado pelo júri, também de vanguarda. O urinol comum, branco e esmaltado que foi enviado ao júri foi um gesto iconoclasta de Duchamp. Há quem veja nas formas do urinol uma semelhança com as formas femininas, de modo que se pode ensaiar uma explicação psicanalítica, quando se tem em mente o membro masculino lançando urina sobre a forma feminina.

Levar uma peça de banheiro para uma exposição de arte atrai adversários. Um mictório não é uma peça bonita por si só, embora isso possa ser discutido. Por outro lado, a arte não significa apenas a apreciação do bonito e mesmo o conceito de bonito é algo muito subjetivo. Com o seu posicionamento, Duchamp não buscava o belo e nem a aprovação do público. Ele procurava o âmago das emoções humanas, as reações instintivas. “Transformar todas as pequenas manifestações externas de energia, em excesso ou desperdiçadas, como por exemplo, o crescimento dos cabelos ou das unhas, a queda da urina ou das fezes, os movimentos impulsivos do medo, do assombro, do riso, a queda da lágrima, os gestos da mãos, o olhar frio, o ronco ao se dormir, a ejaculação, o vômito, o desmaio, etc", disse na época. Compreende-se através dessas preocupações, um pouco sobre a maneira como Marcel Duchamp olhava o mundo.

O que o artista propunha era uma arte conceitual, na qual a ideia era mais importante que a execução da obra pelas mãos do artista. Daí a sua série ready-made (o transporte de um elemento da vida cotidiana, a priori não reconhecido como artístico, para o campo das artes), objetos industriais que ele expunha como obra de arte. Com isto ele deixava de ver toda a arte do passado e cegava o artista moderno deixando-o com um só olho na direção de um pretenso futuro. Ele pretendia despertar uma nova maneira de ver o mundo e as coisas.

Os ready made passaram, então, a ser o elemento de destaque da produção de Duchamp. Mais tarde ele dedicou-se ao estudo da "quarta dimensão", o que, de alguma forma, orientou a sua criatividade artística para problemas óticos. Os Rotoreliefs, discos coloridos que, quando girados com extrema rapidez, produziam efeitos óticos, é mais uma de suas tentativas de se aproximar das pesquisas que fazia. O estudo do olhar sobre a arte interessou muito a Duchamp, que se opunha àquilo que ele próprio dizia ser a "arte retiniana", ou seja, uma arte que agrada à vista. Pode-se, de certo modo, compreender toda a arte de Duchamp como um esforço para se afastar da "arte retiniana" e passar para uma arte mais "cerebral", em que se ressaltam os aspectos mais intelectuais do labor artístico. Dessa forma, os ready made, inclusive, são uma tentativa de escapar da "arte retiniana", uma vez que confrontam o público, oferecendo-lhes algo que ele próprio já viu algures, forçando-o a pensar e refletir sobre a questão da arte enquanto linguagem.

Vale a pena ressaltar que a obra de Duchamp deixou um legado importante para as experimentações artísticas subsequentes, tais como o Dadaísmo, o Surrealismo, o Expressionismo Abstrato, a Arte Conceitual, entre outros. No século da hiper visualidade é necessário rever a arte. O desafio é ver com novos olhos.

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25 julho 2012

Vida e obra do baiano Manuel Querino


Um homem polivalente na Bahia oitocentista. Manoel Querino atuou em várias frentes. Escritor, jornalista, historiador, político, desenhista, músico, pintor, professor, fundador do Liceu de Artes e Ofícios e docente do Colégio dos Órfãos de São Joaquim, ele foi sócio-fundador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, aluno fundador da Academia de Belas Artes da Bahia (hoje Escola de Belas Artes da UFBA), antropólogo autodidata. Ele é apontado como um dos mais importantes pesquisadores da história da Bahia. Foi precursor dos estudos da contribuição africana para a formação da sociedade brasileira. Fez tudo isso mesmo tendo nascido filho de escravos numa Bahia escravagista e arraigada de preconceitos raciais.

Manuel Raimundo Querino nasceu no dia 28 de julho de 1851, em Santo Amaro da Purificação, Bahia. A sua infância foi atribulada, como de resto toda a sua vida. A epidemia de cólera de 1855, em Santo Amaro, matou-lhe os pais. Foi confiado então aos cuidados de um tutor, o professor Manoel Correia Garcia, que o iniciou nas primeiras letras. Tendo apenas o curso primário, Manuel Querino, aos 17 anos (1868), foi convocado como recruta no Exército, viajando pelos sertões de Pernambuco e Piauí, e aí se unindo a um contingente que se destinava ao Paraguai, não foi mandado para a frente de batalha por motivos de saúde. Foi para o Rio de Janeiro no mesmo ano, servindo no serviço burocrático no escritório do quartel. Em 1870, foi promovido a cabo de esquadra, e logo depois deu baixa no serviço militar.

Ao voltar para a Bahia, começou a trabalhar nas fainas modestas de pintor e decorador. Sobrava-lhe tempo, porém, para estudar francês e português, no Colégio 25 de Março e no Liceu de Artes e Ofícios, de que foi um dos fundadores. Em virtude de sua grande habilidade para o desenho, matriculou-se na Escola de Belas Artes, onde se distinguiu entre os alunos. Obteve o diploma de desenhista em 1882. Seguiu depois o curso de arquiteto, com aprovações distintas. Obteve várias medalhas em concursos e exposições promovidos pela Escola de Belas Artes e pelo Liceu de Artes e Ofícios.

DESENHO - Foi lente de desenho geométrico no Liceu de Artes e Ofícios e no Colégio dos órfãos de S. Joaquim. Em 1903, publicou Elementos de Desenho Geométrico, e logo depois Desenho Linear das Classes Elementares. Interessou-se pela política. Foi republicano, liberal, abolicionista. Com outros do grupo da Sociedade Libertadora Sete de Setembro, assinou o manifesto republicano de 1870. Fundou os periódicos "A Província" e "O Trabalho", onde defendeu os seus ideais republicanos e abolicionistas. Manuel Querino foi um dos mais ativos trabalhadores do grupo. Escreveu para a "Gazeta da Tarde" uma série de artigos sobre a extinção do elemento servil.

Tornou-se um verdadeiro líder das classes populares, em campanhas memoráveis pelas causas trabalhistas e operárias que o conduziram ao Conselho Municipal (hoje Câmara Municipal), como o primeiro conselheiro negro da história daquela Casa Legislativa. E assim foi toda a sua vida. No seu modesto cargo de 3°. Oficial da Secretaria da Agricultura, sofreu os mais incríveis vexames. Foi consecutivamente preterido em todas as ocasiões em que lhe era de justiça a promoção. Esqueciam-no os poderosos do momento. Secretários e chefes de serviço desinteressavam-se da sua sorte.
HISTÓRICO - Em paralelo ao exercício de suas atividades profissionais dedicou muito de seu tempo e energia a estudos históricos, em particular à pesquisa e ao registro das contribuições dos Africanos ao crescimento do Brasil. Ao concentrar sua atenção para os estudos de História, buscava reabilitar a participação da mão negra na construção da experiência civilizatória no Brasil, tendo em vista que até então nenhum estudioso de qualquer origem étnica havia feito estudos sob essa perspectiva. Manuel Raimundo Querino, faleceu em Salvador no dia 14 de Fevereiro de 1923, tendo dado uma inestimável contribuição aos diversos ramos da atividade a que se dedicou. Depois da sua morte, foi publicada a sua A arte culinária na Bahia.

Sem sombra de dúvida, foi no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia que Manuel Raimundo Querino mais exercitou o seu potencial enquanto pesquisador e historiador da cultura e da sociedade baiana. Ao publicar seus artigos na Revista do IGHB, pôde expor aos seus pares de agremiação e aos demais apreciadores do quanto se veiculava naquele respeitado periódico os resultados de sua laboriosa e profícua produção intelectual. Ao reeditar tais artigos, a Casa da Bahia reafirma a sua missão de promover a pesquisa das atividades da vida da gente baiana em suas mais diversas áreas, buscando resgatar o passado para o orgulho do presente e a esperança no porvir.
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24 julho 2012

Quem disse que gosto não se discute? (2)


Assim o autor (Pierre Bourdieu que morreu há 10 anos) se dedicou a relacionar os gostos de cada classe com seu capital escolar (determinado pelos diplomas) e com sua origem. Para ele, quanto mais anos de estudo, mais uma pessoa se distancia do gosto popular, para adquirir um gosto legítimo em relação à música. Não só ela passa a apreciar mais compositores menos populares como também o conhecimento do nome de compositores aumenta substancialmente. O gosto musical, ainda mais que outros, sofre uma variação a depender da diferença de anos de estudo, visto que este é um dos campos do conhecimento considerado mais legítimo. As áreas também são hierarquizadas. Por exemplo, o conhecimento de música clássica e de pintura é um conhecimento legítimo, o conhecimento sobre jazz e histórias em quadrinhos, em vias de legitimação.

Diplomas escolares asseguram a nobreza cultural, valorizando o capital cultural de uma classe mais alta e estigmatizando aquele de uma classe mais baixa. Assim, a escola influencia não só nos gostos ligados ao mundo escolar, mas em toda a vida cultural de uma pessoa. E não só influencia como também garante competências culturais muito maiores do que as ensinadas na escola.

Há alguns postos – segundo Bourdieu – ligados à origem social do que ao capital escolar, como no caso de mobília e vestuário, muito mais relacionados a percepções vindas desde a infância do que a aprendizagem nos livros escolares. A escola tende a referendar o capital herdado pela classe alta. Portanto, parte do capital de pessoas da classe média ou de frações mais baixas da classe alta nunca vem a ser aprovado pela cultura legítima. Nesse contexto, muitos buscam domínios diferentes de investimento cultural, domínios menos legítimos, como o jazz.

POSIÇÕES

As disputas por posições hierarquizam, igualmente, as oportunidades estatutárias das classes em matéria de valores e concepções políticas. Isso leva a crer que mesmo a fração da classe popular com maior capital cultural está submissa às normas e valores dominantes. Os agentes menos competentes (pela perspectiva da cultura legítima) estão à mercê dos efeitos da imposição do campo de produção ideológico influente, acarretando tomadas de posições ligadas às representações “legítimas” do mundo social. Falta-lhes capital escolar, diria Bourdieu, mas que é compensado no blefe inconsciente de uma linguagem que disfarça, sobretudo, posições políticas “desencontradas”, “ingênuas” ou “ignorantes”.

Ao diploma escolar é reservado um elevado poder simbólico transformando a escola em uma das instâncias sina qua non da manutenção da ordem social. A obtenção do diploma fixa as disposições dominantes. Desapossa e separa os menos competentes em favor dos mais competentes; os menos instruídos em favor dos mais instruídos.

A Distinção foi o livro que mais irritou alguns dos intelectuais porque se pensava que, indiretamente, este livro destruiria a aura (para falar como Walter Benjamin) da criação intelectual, da produção estética, remetendo-a a prática de consumo que se vinculavam as condições econômicas, posições sociais, vontade, distinção etc.

O consumo cultural e o deleite estético são acionados como forma de distinção, ou seja, a familiaridade com bens simbólicos traz, consigo, associações como “competência”, “educação”, “nobreza de espírito” e “desinteresse material”. Essa divisão da sociedade entre “bárbaros” e “civilizados” acaba tendo consequências políticas: justifica o monopólio dos instrumentos der apropriação dos bens culturais por parte desses últimos.

A estrutura social é vista como um sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/u econômicos (salário, renda) como pelas relações simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos.

As instituições familiar e escolar seriam as responsáveis pelas novas competências culturais ou gostos culturais. Assim, a distinção entre esses dois tipos de aprendizado, o familiar e o escolar, refere-se a duas maneiras de adquirir bens da cultura e com eles se habituar. Essas duas formas de aprendizado seria uma dimensão do habitus de cada um.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

23 julho 2012

Quem disse que gosto não se discute? (1)


Há 33 anos chegava ao público A Distinção (1979), o best seller de um dos mais combatentes sociólogos francês, Pierre Bourdieu (1930-2002). A obra estabelece que as práticas culturais juntamente com as preferências em assuntos como educação, arte, mídia, música, esporte, posições políticas, entre outros, estão ligadas ao nível de instrução, submetidas ao volume global de capital acumulado, aferidas pelos diplomas escolares ou pelo número de anos de estudo e, secundariamente, à herança familiar. Trata-se de desmistificar afirmações da ardem do senso comum quando se assevera que o gosto sobre determinada matéria não se discute. O gosto classifica e distingue, aproxima e afasta aqueles que experimentam os bens culturais.

Bourdieu mostra a maneira que as preferências culturais dos agentes são estruturadas – através de transmissão do capital cultural incalculado na escola e aquele herdado pela família, efetuado de maneira precoce ou através do aprendizado tardio. As práticas culturais incentivadas por essas duas instâncias distinguem aquilo que será reconhecido como gosto legítimo burguês, de classe média ou popular.

O gosto ou as preferências manifestadas através das práticas de consumo é, então, o produto dos condicionamentos associados a uma classe ou fração de classe. O gosto, dirá Bourdieu, é a aversão, é a intolerância às preferências dos outros. È percebida desta forma que a reprodução moral, ou seja, a transmissão dos valores, virtudes e competências, maneira de ver o mundo simbólico, serve de fundamento à filiação legítima de habitus distintos e desiguais, fortalecendo e intensificando a hierarquia do culturalmente aceito ou execrável, do autêntico ou do inautêntico.

A distinção desnuda e explica, ao mesmo tempo, os estudos sobre linguagens, grupos sociais, política, educação, arte ou comunicação, pois oferece uma análise do mundo social de maneira coerente e instigante. A distinção é a obra mais conhecida e mais prestigiada de Pierre Bordieu, e traz em boa parte de sua exposição as preocupações decorrentes de anos de estudos sobre a elaboração de uma teoria geral das classes sociais. Ele fez de sua vida acadêmica e intelectual uma arma política e de sua sociologia uma sociologia engajada, profundamente comprometida com a denúncia dos mecanismos de dominação em uma sociedade injusta.

HABITUS

Bourdieu identifica como habitus “pequeno burguês ascendente” a prática do relaxamento e a preocupação com uma alimentação light, que contrasta com o gosto popular pela agitação e comidas mais consistentes. A prática social não resulta, assim, necessariamente de uma escolha, mas de gostos (e de desgostos) profundamente enraizados no corpo. A essa lógica prática está associado um conhecimento prático, intuitivo, um “senso prático”.

Este saber prático incorporado vem alimentar um velho debate filosófico e sociológico sobre a relação entre a reflexão e a ação. A teoria da ação proposta por Bourdieu parte de uma crítica às leituras intelectualistas da ação, isto é, às visões que tendem a reduzí-la ao ponto de vista reflexivo daquele que observa, em detrimento do ponto de vista prático daquele que age.

O trabalho desse sociólogo incomodou muita gente porque ele interpretou os fenômenos sociais de maneira crítica. Na questão da formação do gosto cultural de cada um de nós, ele interpretou o jogo de poder das distinções econômicas e culturais de uma sociedade hierarquizada. Para ele o gosto cultural é produto e fruto de um processo educativo, ambientado na família e na escola e não fruto de uma sensibilidade inata dos agentes sociais.

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20 julho 2012

Espírito de nosso tempo


O tempo está na base dos problemas sociais. Quem não acreditar nisso basta ler o livro do economista Eduardo Giannetti (O Valor do Amanhã). Para Giannetti, a guerra contra o tempo faz o ser humano estabelecer suas prioridades e buscar sempre o prazer imediato, ignorando qualquer noção racional de planejamento ou aposta positiva na realização de seus sonhos no futuro. A questão da violência urbana (“quem tem fome tem pressa”) e política (a necessidade de enriquecimento rápido resultando na corrupção) estão relacionadas com o tempo.

O livro de Giannetti destrincha o porquê de o homem aceitar o pagamento de juros – “usufruir agora, pagar depois” e como “antecipar custa, retardar rende”, pagamos pela diminuição da espera. O que são os juros o não ser o valor que temos de pagar por não querermos esperar? Qual noção do tempo queremos ter: a da criança que não sabe esperar, a do jovem que nunca vê o futuro como previsão mas como sonho, ou a da velhice quando enxerga-se o passado como um tempo que nem demorou muito nem está tão distante e até que foi rápido e valeu a pena. Para o economista, toda a economia se reduz a “economizar tempo” e para pagarmos menos juros é melhor aprendermos a dominar o tempo.

Outro exemplo sobre a reflexão sobre o tempo é o recente filme “Flores Partidas” do cineasta Jim Jarmusch. Na fita o ator Bill Murray vive um velho rico e solitário que promove um acerto de contas com seu passado de conquistador, ao partir em busca de um filho desconhecido. Nessa busca ele reencontra três antigos amores e como lição o cineasta alerta que é melhor guardarmos os bons momentos na lembrança do que insistir em revivê-los.

Mesmo como os avanços científicos que aumentam a expectativa de vida, o homem tem cada vez mais pressa: a vida é curta, tempo é dinheiro, o tempo é o senhor da razão, dê tempo ao tempo, o tempo é o melhor remédio, tudo tem seu tempo, só o tempo vai dizer são alguns exemplos. A ideologia pós-modernista impõe a vida no tempo real, no aqui e no agora. Como afirmou o sociólogo francês Gilles Lipovetsky, o prazer individual e imediato é o único bem possível. A sociedade americana de hoje com a sua libido consumista é um exemplo dos dias atuais. O consumidor tem pressa seja no atendimento, na troca, na garantia de satisfação do desejo manifestado na compra. E os shoppings são os lugares onde todos os desejos podem ser atendidos, inclusive, a fome de fast-food.

Gilles Lipovetsky, teórico do novo individualismo e intérprete da era moderna, em seu livro Os Tempos Hipermodernos, mantém sua linha de provocação e debruça-se novamente sobre o homem contemporâneo para atestar nossa transição da fase pós-moderna para a hipermodernidade. Escrito com a colaboração de Sébastien Charles, explica como a globalização fortaleceu o individualismo, o mercado e o avanço técnico-científico. A obra de Lipovetsky é profundamente marcada pela interpretação da modernidade. Em L´Ere du vide (1983), ele define o que chamou de "paradigma individualista" – um homem preocupado em se diferenciar na multidão, realizar seus desejos imediatamente, viver já, aqui e agora, sem se deixar seduzir por ideologias políticas ou ídolos. De lá par cá, o autor não parou de explorar as múltiplas facetas do homem contemporâneo: a ditadura da moda, a metamorfose da ética, a nova economia dos sexos, mas sobretudo a explosão do consumo de luxo para atender a um indivíduo hedonista que surgiu com as frustrações dos tempos modernos. Lipovetsky foi um dos principais responsáveis pela popularização do conceito de pós-modernidade e, hoje, é um dos defensores da democracia liberal.

Neste livro, Lipovetsky dá continuidade a este seu itinerário intelectual tão bem delineado por suas obras anteriores. No Brasil, foram editados O império do efêmero (Companhia das Letras, 1989), A terceira mulher (Companhia das Letras, 2000) e Metamorfoses da cultura liberal (Editora Sulina, 2004). Ele argumenta que, desde os anos 50, o mundo vive uma intensificação jamais vista do tripé que sempre caracterizou a modernidade: o mercado, o indivíduo e a escalada técnico-científica. A partir dos anos 80, com o avanço brutal da globalização e das novas tecnologias de comunicação, esse fenômeno – que ele batizou de hipermodernidade – adquire uma velocidade espantosa, passando a interferir diretamente sobre comportamentos e modos de vida.

Mais do que um lance de retórica, o termo hipermodernidade define a situação paradoxal da sociedade contemporânea, dividida de modo quase esquizofrênico entre a cultura do excesso e o elogio da moderação. De um lado, diz Lipovetsky, "é preciso ser mais moderno que o moderno, mais jovem que o jovem, estar mais na moda do que a própria moda"; de outro, valorizam-se "a saúde, a prevenção, o equilíbrio, o retorno da moral ou das religiões orientais".
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19 julho 2012

Reforma moral já!

O Brasil saiu de uma ditadura violenta, viveu o impeachment do primeiro presidente eleito por voto direto, estabilizou a economia, mudou a moeda, foi governado por um migrante nordestino que encantou o mundo e agora luta contra a corrupção. Para que as instituições possam funcionar livremente, a lei ser cumprida e as pessoas exerçam a cidadania no Brasil é necessário que no Congresso os políticos analisem e estendam a Ficha Limpa ao Legislativo, Executivo e Judiciário.

O fim do voto secreto nas deliberações do Congresso que incidam sobre o comportamento ético dos parlamentares; a exigência de “ficha limpa” não indicação para cargos de confiança; a adoção de total transparência (via Internet) nas contas dos governos e na divulgação dos financiamentos de campanhas eleitorais. Essas são algumas medidas para coibir a corrupção.

As mobilizações populares em todo o país refletem o grau de rejeição que o atual estado dos costumes políticos desperta na imensa maioria dos cidadãos. Os protestos tomaram as ruas de Roma a Tóquio, de Madri a Estocolmo e parecem predominar um clima global favorável ao ativismo. Só há mudança com pressão. Personagens políticos só se mostram dispostos a mudar seu comportamento quanto pressionados à exaustão.

Vencemos o preconceito de eleger a primeira mulher presidente do Brasil. Agora, a população elegeu a reforma política para aumentar as possibilidades de crescimento do país. Modelos eleitorais que podem ser adotados, voto em lista e o distrital, financiamento público de campanhas, fidelidade partidária. É preciso novas ideias capazes de aprimorar nosso sistema político do centro da realidade do século em que vivemos. É necessário que o processo eleitoral rejeite a imoralidade e a falta de ética. Nós precisamos promover essa reforma da moralidade.

Em seu artigo (A soma de todos os nossos malfeitos. O Estado de S.Paulo, 26/11/2011) o professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP, Marco Aurélio Nogueira escreveu que “Corruptos e corruptores são malvistos. A petulância, a desfaçatez e a arrogância deles agridem a ética do cidadão comum, embora possam, ser assimiladas pela ética dos políticos. Irritam e intimidam as pessoas que procuram seguir com a vida tanto quanto possível longe de atritos com a legalidade. Quando a corrupção surge na esfera governamental e na política, o efeito é ainda pior, pois as pessoas tendem a perder a confiança que algum dia depositaram em seus representantes, transferindo isso para todo o sistema representativo. Não é por acaso que a presidente Dilma cresce em prestígio quando afasta ministros suspeitos de atos ilícitos ou indignos”.

“(…) Se quisermos descobrir como e por que a corrupção ressurge sem cessar, teremos de cortar mais fundo, ir além da caça aos culpados. A corrupção anda de braços dados com a desmoralização da política, dos políticos e de seus partidos. Nunca como hoje a classe política foi tão ruim, nunca os partidos foram tão frouxos e desorientados, nunca a política foi tão improdutiva. Na melhor das hipóteses, as pessoas esperam resultados dos governo em sentido estrito, do Poder Executivo, que costuma emergir cercado de pompa, inflado de expectativas e disfarçado de 'vitimas' de subordinados incompetentes e interesses poderosos. Um círculo assim, se fecha: a má qualidade da política fornece oxigênio para a corrupção e dificulta o combate a ela”, escreveu Nogueira.

Vale lembrar a versão de Chico Buarque: “Sonhar, mais um sonho impossível/Lutar, quando é fácil ceder/Vencer, o inimigo invencível/Negar, quando a regra é vender.../E assim, seja lá como for/Vai ter as infinita aflição/E o mundo vai ver uma flor/Brotar do impossível chão”.


Quando a democracia não faz diferença
Quando as autoridades protegem apenas os poderosos
Quando os criminosos ficam impunes
Quando a desigualdade se torna a regra
Quando a Justiça não está presente
É tempo de sair às ruas
É tempo de protesto
É tempo de botar a boca no trombone
É tempo de brigar pelos seus direitos
É tempo de manifestação por mudanças!

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18 julho 2012

Negritude baiana em Jubiabá


É ele o estivador/Seu suingue é um suor/Ô, ô//Toda nega faz amor com ele, ô, ô/Toda branca tem maior tensão, ô, ô/Arêre tem confusão na pele/Tem Jubiabá seu protetor//Toda nega faz amor com ele, ô, ô/Toda branca tem maior tensão,ô, ô/Arêre de confusão na pele/Tem Jubiabá seu protetor//Jubiabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá/Bauduíno guerreira/Jubuabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá/É de canto e de samba//Jubuabá, baba, baba, babalaô//Jubiabá/É comum no coração//Jubuabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá/Luta pela divisão//Baba, baba, baba, baba, baba, ba, ba, ba/Jubuabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá//Na boca do mangue é rei/Despediu-se um grande amor//Uma bala cega sem destino, ô,ô/Foi no peito do trabalho,ô,ô/Este era o sonho do menino/Bauduíno sempre vencedor/Retrata o cotidiano das classes populares na cidade de Salvador, na Bahia, sob a ótica de Antônio Balduíno” (Jubiabá, de Gerônimo)

Quarto livro publicado por Jorge Amado, Jubiabá (1935) narra a história de um dos primeiros heróis negros da literatura brasileira. Foi com a leitura dessa obra que trouxe para a Bahia o jornalista, desenhista e pintor Carybé e também o fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger. E é com o título de “Carybé, Verger & Jorge – Obás da Bahia” que o jornalista José de Jesus Barreto vai lançar ainda este ano o livro sobre o tema pela Solisluna Editora.

Jubiabá conta a história do negro Antônio Balduíno, descendente de escravos e nascido e criado no morro do capa-negro, um dos refúgios na periferia de Salvador onde os negros se abrigaram após a abolição da escravatura e a posterior falta de apoio político. Ali, convive com os homens mais respeitados do lugar, como o violeiro Zé Camarão e o pai-de-santo Jubiabá. Ainda criança, Baldo deseja que sua história seja cantada num ABC, composição popular em louvor de heróis e santos.

Negro Balduíno, belo negro baldo/Filho malcriado de uma velha tia/Via com seus olhos de menino esperto/Luzes onde luzes não havia//Cresce, vira um forte, evita a morte breve/Leve, gira o pé na capoeira, luta/Bruta como a pedra, sua vida inteira/Cheira a manga-espada e maresia//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia//Trava com o destino uma batalha cega/Pega da navalha e retalha a barriga/Fofa, tão inchada e cheia de lombriga/Da monstra miséria da Bahia//Leva uma trombada do amor cigano/Entra pelo cano do esgoto e pula/Chula na quadrilha da festa junina/Todo santo de vida vadia//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia//Alva como algodão e tão macia/Como algo bom pra lhe estancar o sangue/Como álcool pra desinfetar-lhe o corte/Como cura para a hemorragia//Moça Lindinalva, morta, vira fardo/Carga para os ombros, suor para o rosto/Luta no labor, novo sabor, labuta/Feito a mão e não mais por magia//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia//Negro Balduíno, belo negro baldo/Saldo de uma conta da história crua/Rua, pé descalço, liberdade nua/Um rei para o reino da alegria//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia” (Jubiabá, Gilberto Gil).

O mundo ao qual Balduíno pertence é recheado de histórias de seu povo, tanto dos seus ascendentes quanto dos homens que viveram ali: saveireiros, jagunços, sertanejos, operários, que se dão ao seu conhecimento pelas vozes narrativas dessas pessoas mais velhas: pai Jubiabá, Zé Camarão, Mestre Manuel, tia Luísa.

Ao longo do romance, acompanhamos as diferentes fases de sua vida: menino pobre que vivia nas ruas cometendo pequenos delitos, agregado na casa de um comendador, malandro, boxeador, trabalhador nas plantações de fumo, artista de circo e estivador.


O homem tem dois olhares/Um enxerga, e o outro que vê/Um enxerga, e o outro que vê/Tem o olho da maldade/E o olho da piedade/Tem que ter/Olho bem grande/Pra poder sobreviver/Jubiabá, Ô Jubiabá/Faz o feitiço bem feito/Pra minha nega voltar/No morro do Capa Negro/Quero lhe cambonear//Se secar o olho da maldade/O homem vai sofrer/Sem entender, a ruindade do mundo/Que o seu lado bom vai ver/E sem seu olho da piedade/Vai fazer gente sofrer, magoar, ferir/Sem refletir, e bem mais cedo/Vai desencarnar, subir/É a lei de Jubiabá/Ô Jubiabá/Faz o feitiço bem feito/Pra minha nega voltar/No morro do Capa-Negro/Quero lhe cambonear//Quero meus olhos abertos/Quero bem longe enxergar/Vendo o errado e o certo/Posso diferenciar/No morro do Capa-Negro/Quero lhe cambonear/Jubiabá, Ô Jubiabá/Faz o feitiço bem feito/Pra minha nega voltar” (Jubiabá, Martinho da Vila)


O personagem que dá nome ao romance é o mentor do negrinho Balduíno. Jubiabá era conhecido pelo povo do morro do Capa Negro como feiticeiro. O pai-de-santo era respeitado no morro porque curava doenças, fazia rezas, afastava demônios, dizia conceitos, rezava em nagô. A presença do pai Jubiabá na vida de Antônio Balduíno foi de extrema importância para sua formação, já que o menino era órfão, vivia com a tia Luísa, e o teve como guia espiritual por toda a vida.

A intenção central da obra, além da visão romanesca da vida popular, é sugerir o lento amadurecimento do protagonista, rumo à consciência política. É um romance característico do "realismo socialista", com alguns ingredientes sensuais e apimentados do cenário baiano.

Jorge Amado mostra as contradições entre o mundo do trabalho, o conflito racial, a ideologia, a luta e, de outro lado, a cultura popular, o universo das festas, o sincretismo religioso, a miscigenação e a sensualidade vão marcar toda a sua produção. Qualificado de magnífico por Albert Camus, Jubiabá foi adaptado para o cinema (por Nelson Pereira dos Santos), o teatro, o rádio, quadrinhos e a televisão.
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17 julho 2012

Marilda Santana comemora 35 anos de carreira com o CD Qual é, baiana?


A cantora baiana Marilda Santana lançou seu segundo disco da carreira solo. Intitulado de "Qual é, baiana?", o disco faz uma leitura do imaginário da mulher baiana, fruto de uma pesquisa de mestrado da artista. No repertório tem Dorival Caymmi, Ivan Lins e Caetano Veloso. O maestro baiano Letieres Leite assina o arranjo de sete músicas do disco. Outras três ficam por conta da supervisão de Luiz Asa Branca.

Essa menina é só de brincadeira/Só dá bandeira, só dá bandeira/Seja na Amaralina ou na Ribeira/Ela só dá bandeira,/Ela só dá bandeira...”

São ao todo 10 canções onde Marilda de delicia com a música e encanta a todos. "Esse CD é um desejo antigo de registrar uma pesquisa que desenvolvi desde que que fiz o mestrado em Artes Cênicas e mergulhei no museu de imagem e do som do Rio de Janeiro. Percebi um discurso recorrente nos compositores que tratavam desde ícone, todos naturalizados: sensualidade, etnicidade, culinária, religiosidade e localidade", explica a artista.

Precisa fazer pra baiana um vestido de prata.../Precisa fazer pra baiana um vestido de prata.../Pra todo dia no espelho quando ela se olhar,/Seja a cara dela.../Seja a cara dela...”

Comemorando 35 anos de carreira, Marilda Santana pode ser contactada através do e-mail: contato@marildasantana.com.br. O CD você encontra na Pérola Negra Cd's Raros do Shopping Colonial dos Barris em Salvador. Entre as canções estão Qual é, Baiana? (Caetano Veloso/Moacyr Albuquerque), Falsa Baiana (Geraldo Pereira), Subida da Gamboa (Beto Pitombo), Baiana do Tabuleiro (Andre Filho), Roda Baiana (Ivan Lins e Vitor Martins), Pregão da Baiana (Denis Brean), Vestido de Prata (Jorge Alfredo), Lá vem a Baiana (Dorival Caymmi), Grove da Baiana (Jorge Zarath / Paulo Vascon / Tenison Del Rey) e Toda Menina Baiana (Gilberto Gil).

Toda menina baiana tem/Um santo que Deus dá/Toda menina baiana tem/Encantos que Deus dá/Toda menina baiana tem/Um jeito que Deus dá/Toda menina baiana tem/Defeitos também que Deus dá....”
DONAS DO CANTO - No estudo que fez sobre “As Donas do Canto – o sucesso das estrelas - intérpretes no Carnaval de Salvador” (publicado pela Edufba em 2009) Marilda Santana pesquisou a figura da baiana no século XIX, por artista não baianas (Araci Côrtes), e mesmo não brasileiras (grega Ana Manarezzi, espanhola Pepa Ruiz e da portuguesa Carmem Miranda) nos palcos dos teatros de revista da então Capital Federal. “Ao longo deste século e meio, estes artistas e seus produtores nos aportam uma representação de sociedade baiana centrada em ícones de etnicidade, sensualidade e ancestralidade. Com efeito, a constituição de um perfil da nacionalidade brasileira na mídia e de um perfil da localidade (ou regionalidade) baiana toma como referência um dos elementos que ocupa o cento da cena, a figura da baiana” (p.24).

“Como se costuma rememorar na narrativa fundamente da identidade brasileira, a Bahia carrega no seu ventre o nascimento do Brasil. E é muito significativo que isto se constitua numa cidade feminina não só pelo gênero – a Bahia - , como também pela predisposição para o inaugural; o dar à luz, enfim” (p.111).

“A representação da figura da baiana também está presente na obra de compositores brasileiros de diversas gerações, tendo em Caymmi um representante destacado” (p.143). Assim a representação da figura da baiana passa pelos compositores Geraldo Pereira, Ataulfo Alves, Ary Barroso entre outros. “Neste sentido, a construção da identidade da baiana/mulata no imaginário brasileiro/baiano e global passa pelo vetor da ideia de abundância, pela cor, pela malícia do olhar, pelo suingue no corpo e na naturalização em saber dançar samba...” (p.147).

A figura da baiana não é foco único do estudo de Marilda Santana, mas ela concluiu que “reunimos elementos suficientes para afirmar que a construção da figura da baiana/mulata nos palcos e no cancioneiro popular aponta a sensualidade, que abrange o duplo sentido e as danças impressas nos corpos sensuais e olhares; para a etnicidade, impressa nas matizes que vão da preta, morena, mulata, cabocla, cafuza, dentre outros; e para a culinária, indissociável da sensualidade e do duplo sentido das letras; para a indumentária, carregada de significados religiosos que vão se diluindo à medida que vão se re - inventando; e para a performance. Temos como ambientes propícios para esta construção, além do Carnaval, o cinema, os palcos e as atrizes e intérpretes do cancioneiro popular” (p.151/152).

Para Milton Moura, a baianidade pode ser percebida/estudada como um texto, o que pode ser compreendido no gerúndio (na acepção de tecimento) no particípio (na concepção de tecido) e no infinito (como numa tessitura). Sumarizando a baianidade como arranjo historicamente construído de referências identitárias, diz o autor: “Parece um arranjo tecido de familiaridade, religiosidade, sensualidade, reunindo os elementos mais díspares num sistema que se baseia justamente na adjacência do desigual, dita de forma aparentemente não problemática” (MOURA, Milton. Carnaval e baianidade: arestas e curvas na coreografia de identidades do Carnaval de Salvador, 2001. Tese de Doutorado em Comunicação e Culturas Contemporâneas- Faculdade de Comunicação UFBA)

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