31 maio 2022

ABC DA CULINÁRIA BAIANA (01)

A culinária da Bahia é fruto de uma rica herança cultural deixada por negros, indígenas e colonizadores europeus que, com seus costumes, agregaram ainda mais sabor aos pratos baianos.

 


ABARÁ 

 

Lave bem o feijão: coloque-o em uma vasilha grande com água, remexa e tire com uma peneira as cascas que se soltarem. Escorra o feijão e repita até a água sair limpa. Em seguida bata o feijão no moinho, para transformar em purê, e depois bata com uma colher de pau, para ficar leve e volumosa. Acrescente o camarão moído, a cebola, o fundo misto e o gengibre. Misture, adicione azeite de dendê e envolva tudo para obter uma massa homogênea e amarela. Passe as folhas de banana no fogo, para que fiquem mais flexíveis. Depois enrole porções da massa anterior nas folhas, como se fosse uma pamonha, e coloque a cozinhe no vapor ou em banho-maria, por 40 minutos. Sirva quente ou frio, puro ou acompanhado de molho de pimenta baiano, camarão seco, caruru, vatapá, caruru e salada simples.

 

ABERÉM

 

Prepara-se o milho como se fora para o acassá e deite se fazem umas bolas semelhantes às de bilhar, que são envolvidas em folhas secas de bananeira, aproveitando-se a fibra que se retira do tronco para atar o aberém. É servido com caruru e também com mel de abelhas. Dissolvido na água com açúcar, é excelente refrigerante. Havia ainda o aberém preparado com açúcar, cujas bolas, do tamanho de um limão eram ingeridas sem outro qualquer elemento adocicado.

 

ACAÇÁ BRANCO

 

Consiste em um pudim de milho branco cozido e embrulhado ainda quente nas folhas de bananeira, cortadas em formato retangular. Tradicionalmente, segundo Manuel Querino, a receita não leva sal, açúcar, nem azeite de dendê e é servida como acompanhamento para as comidas salgadas. Coloca-se o milho branco debulhado de molho em um recipiente com água, durante três dias, trocando sempre a água. O milho, já amolecido, é batido no liquidificador e em seguida, cozinhado em fogo brando. É importante que seja mexido sempre com uma colher de pau. Quando ele começar a soltar dos lados da panela, está no ponto. Então o grosso mingau é retirado ainda quente com uma colher de pau e colocado na folha de bananeira previamente aquecida no fogo. Outra dica para saber se já chegou no ponto de cremosidade desejado é colocar um pouco da massa cozida dentro de um copo com água, se a massa subir, está no ponto, caso desça, ainda não está.

 

 


ACARAJÉ

 

Uma das comidas de rua mais populares na capital baiana. Ele é composto por feijão fradinho amassado e temperado com cebola e sal. Em seguida, é mergulhado em azeite de dendê quente para fritar. Depois de frito, o acarajé é recheado. As opções de recheio são o vatapá, que é feito de leite de coco, castanha de caju, amendoim e camarão; o caruru, que é um cozido de quiabos; o vinagrete; o camarão seco; e, é claro, a pimenta. O nome “acarajé” vem do iorubá: é a junção de “akará”, que significa “bola de fogo”, e “jé”, que significa “comer”. Na tradição religiosa do candomblé, ele é ofertado à orixá Iansã, e há histórias tradicionais que relacionam o acarajé a Xangô e Iansã. O Ofício das Baianas de Acarajé é, hoje, reconhecido como Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Todo o processo ritualístico está envolvido no Ofício, desde as tradicionais vestes brancas ao preparo do alimento.

30 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (35) Cinema ajudou nas obras sociais de Irmã Dulce

 


Nos anos 1940, a televisão não existia. O sucesso eram as rádios-novelas. As séries cinematográficas exibidas semanalmente - num embrião do que hoje seria um canal fechado ou Netflix - em películas preto e branco ganhavam o mundo. O baixo custo de operação era outro atrativo para a disseminação da sétima arte. Bastava um bilheteiro e um operador de projeção. Diante desse cenário, a mente fértil de Irmã Dulce viu no cinema a chance de fazer dinheiro para tocar seus projetos sociais. Junto com o frei Hildebrando Kruthaup (1902- 1986), teve a ideia de criar cinemas no Círculo Operário da Bahia (COB). No total, criaram três: Cine-Roma, Cine Plataforma e Cine São Caetano entre os anos de 1948 e 1949 - todos erguidos com doações e feitos pela construtora Odebrecht. Nos anos 1950, o frei fundou o Pax Roma conhecido como ‘Gigante da Baixa dos Sapateiros’ para exibir filmes religiosos, que foi gerenciado pelo COB. Foram os primeiros cinemas em bairros periféricos de Salvador. Na época, o Cine-Teatro Jandaia (fundado em 1911) e o Tupy, na Baixa dos Sapateiros, eram os que faziam sucesso com a classe média soteropolitana. O maior dos três cinemas, o Cine-Roma tinha capacidade para 1.850 espectadores - bem maior do que a média de 400 lugares das salas de cinema atuais.

 

29 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (34) Didá é a primeira banda feminina de samba-reggae

 

 


Da mistura do samba de raiz com a batida africana nasceu o samba-reggae. Da união do samba-reggae com a mulher surgiu a Didá. Fundada em 1993 pelo mestre Neguinho do Samba (1945-2009) – que também foi o criador desse ritmo que marcou a Bahia no mapa do mundo -, a banda foi a primeira de percussão formada apenas por mulheres, negras e humildes, dando a elas os instrumentos necessários para sua reafirmação na sociedade. Conhecidas como “Rainhas que tocam tambor”, as integrantes que formam a primeira banda só de mulheres a tocar samba-reggae no mundo, a Didá, completaram em 2019, 25 anos de história e contagiam com a mistura do samba de raiz e batida africana. Um grupo de mulheres que tocavam tambores na sede do Instituto Didá decidiu se apresentar em frente ao Mercado Modelo, em 1994. Foi assim, sem grandes pretensões, que começou a história do bloco Didá. O samba-reggae das mulheres fez tanto sucesso que elas foram convidadas, no mesmo ano, para abrir o Carnaval de Salvador. Percebendo o potencial do grupo, o instituto Didá criou um bloco afro de mulheres, desfilando até hoje pelas ruas da capital baiana.

 

28 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (33) Culinária de Terreiro

 


Na zona rural da cidade de Camaçari, nasceu o projeto Culinária de Terreiro, que segundo a idealizadora e cozinheira Solange Borges, visa valorizar, regatar e compartilhar os saberes e sabores da gastronomia afro-brasileira ancestral. O Culinária de Terreiro, espaço criado em 2017, onde os clientes cozinham com ela, ao lado de um terreiro de Candomblé - liderado pela filha de Solange. As comidas, todas, resgatam a ancestralidade e histórias que Solange quer compartilhar. A ideia de cozinhar profissionalmente surgiu dessa pretensão. Na frente da casa de Solange, na Agrovila Pinhão Manso, em Camaçari, cresce uma acácia amarela. As casas, como a dela, são fundeadas por roças de dendê - que, transformado em óleo, vai nos preparos feitos por ela - urucum, mandioca e outros frutos e legumes, a depender da estação. A terra sempre foi um sonho, que agora ela vive. Quando a filha montou um terreiro no Pinhão Manso, Solange foi junto e começou a arquitetar o que seria o Culinária de Terreiro, que recebe de chefes de cozinha a famílias para imersões gastronômicas. As comidas preparadas não são sagradas, pois não são feitas em ambientes religioso, com técnicas específicas. A ideia não é essa e sim preservar hábitos e culturas alimentares ancestrais marcadas por matrizes africanas. Para ter informações sobre visitas ao espaço, entre em contato pelo número 71) 99935-1339 ou via Instagram (@culinariadeterreiro).

27 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (32) Museu Zofir Brasil

 


O acervo das obras do artista plástico Zofir Oliveira Brasil, encontra-se em instalações provisórias à Praça Largo do Rosário, no centro histórico, em Rio de Contas, ao lado da prefeitura municipal, cidade da Chapada Diamantina – BA. O artista utilizava sucatas para a confecção de suas obras. Materiais muitas vezes tidos como imprestáveis por muitas pessoas. Pedras, madeiras, raízes, pedaços de plástico, de metal, isopor, cédulas, moedas em desuso, foram transformados, ganharam vida nova, nasceram de novo nas peças criadas pelo artista. Além de materiais citados, peças em papel machê, são vistas neste mesmo acervo. A literatura de Cordel também faz parte da vida desse artista. Amante da natureza, natureza essa fonte que lhe serviu de inspiração e foi por ele defendida.  O acervo, quase sempre grandes instalações, objetos feitos de dezenas de outros objetos descartáveis. As peças, lúdicas e interativas, são feitas para dialogar com o espectador. Feitas, também, para diverti-lo. A Mula-sem-Cabeça tem rosto, sim, mas corpo e pescoço são uma coisa só. Frutos que Pecaram reúne notas bancárias de diversos governos brasileiros, de J.K. ao final do ciclo militar. Quadro das Chaves é uma colagem com chaves envelhecidas que não abrem mais porta alguma; são dezenas e dezenas delas, verdadeiro labirinto borgiano. Cuidado com sua Língua é uma língua enorme que adverte: se não tomar cuidado, fica desse tamanho. Negro, nascido em uma família carente de Ituaçu, Bahia, em 1926, Zofir Oliveira criou uma obra de um humor cáustico com as sobras dos objetos que encontrava.

26 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (31) Museu Casa de Maria Bonita

 


A casa onde nasceu Maria Gomes de Oliveira, a cangaceira Maria Bonita, a rainha do cangaço, está situada no Povoado Malhada da Caiçara, zona rural do município, há 38 km do centro de Paulo Afonso/BA, guardando a mesma linha arquitetônica (casa de reboco). Lá funciona o Museu Casa de Maria Bonita, aberto à visitação pública. O atrativo faz parte do Roteiro Cânion e Cangaço. Informe-se nas Agências de Turismo de Paulo Afonso. Tendo vivido apenas 27 anos (17/01/1910 a 28/07/1938), Maria Bonita foi a primeira mulher brasileira a participar do cangaço. Visitar a casa de Maria Bonita, na zona rural de Paulo Afonso é, portanto, uma experiência que permite um contato mais estreito com esta importante personagem da história e da cultura nacional. A casa, de pau-a-pique, está totalmente preservada, tanto dentro quanto fora, e se tornou atração turística. Dentro, existem objetos, quadros, fotos e documentos que mantêm viva a memória de Maria Bonita. Do lado de fora, um belo umbuzeiro, muitos cactos e uma cerca de galhos secos compõem um paisagismo inspirador. Uma placa na entrada da casa informa sobre a importância do lugar.

25 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (30) Vale do Capão

 


Localizado dentro da área do Parque Nacional da Chapada Diamantina, no coração da Bahia e distante a 470 km de Salvador está o Vale do Capão, um verdadeiro paraíso ecológico. A 1.000 m de altitude, entre as Serras do Candombá, da Larguinha e o Morro Branco, o Vale do Capão ocupa uma área privilegiada na Chapada, sendo um local de grandes atrativos turísticos. Antigamente, em quase a sua totalidade, ocupado por fazendas de café, o Vale viu suas terras serem tomadas por garimpeiros em busca de diamante. Durante as décadas de 70 e 80, o lugar se tornou ponto de encontro de pessoas alternativas advindas de todos os cantos do Brasil e do mundo, todos a procura de tranqüilidade, energia e maior contato com a natureza.

 

E se o assunto é natureza, o Vale do Capão é sem dúvida o lugar ideal. O Vale é um magnífico reduto ecológico que abriga centenas de espécies de pássaros plantas e diversos outros animais e que encanta a todos por seu relevo singular. Cercado por serras e morros que tornam a paisagem exuberante, a geografia do lugar também propicia a formação de belas cachoeiras de formatos e tamanhos diversos. Os rios, de cor acobreada, deslizam por entre as rochas e descem os morros formando poços dos mais variados tamanhos e profundidades, perfeitos para o banho. Já as flores, colorem os caminhos e fazem do lugar a perfeita junção de paz e harmonia.

 

Caeté-Açu, também conhecida como Capão, é uma vila que surgiu com a descoberta das jazidas de diamante na região e se definiu como fornecedora de alimentos para os garimpeiros e grandes centros. O artesanato simples, porém encantador se tornou uma das fontes de renda da população local. Franceses, portugueses e brasileiros de todos os cantos do país ajudaram a compor a cultura local. Entretanto, a mesma se mantém bem nordestina, com festas tradicionais como São João e Cosme e Damião. A partir dos anos 80, algumas pessoas resolveram fundar comunidades alternativas que têm como princípio o convívio em grupo e se baseiam no Naturismo e no Espiritualismo. Cada qual com as suas particularidades e objetivos, estas comunidades foram se firmando e se tornaram grandes parceiros da população local.

 

24 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (29) Puxada do Mastro

 


A Festa da Puxada do Mastro de São Sebastião em Olivença (Ilhéus) é muito antiga, acontece desde o período colonial. Naquele período havia festas para N. S. da Escada, S. André, S. Miguel e Santa’Ana, cujas despesas eram das custas dos índios. Não se fazia festa para São Sebastião. O rito que originou a festa é, na verdade, a sacralização dos gestos que envolviam o trabalho cotidiano de boa parte dos índios de Olivença na segunda metade do século XVIII e início do XIX: o trabalho de cortar, amarrar e puxar as toras de madeira que se extraiam daquelas matas para serem usadas na construção naval. A saída dos jesuítas liberou a mão-de-obra indígena para ser explorada pelos fabricantes de madeira. Até mesmo diretores e vigários destinados a organizar a vida dos índios de Olivença se envolveram nesta lucrativa atividade.

 

Nos locais onde a exploração da madeira era organizada pelo próprio estado, como nas feitorias de Cairu, as toras eram arrastadas da mata para os portos de embarque pela força dos bois e este processo era chamado de “arrasto dos paus”. Onde a exploração era particular, como em Olivença, normalmente o transporte se fazia por braços indígenas e era denominado de “puxada”. Por que, então, “puxada do mastro” e não puxada do pau? Porque as madeiras que se extraíam das matas ao redor de Olivença, a exemplo do jequitibá, do jacarandá e do potumuju, eram empregadas na confecção de peças para a mastreação de embarcações. A propósito, um dos primeiros testemunhos conhecido sobre a Festa data de 1818 e foi emitido pelos cientistas holandeses Spix e Von Martius. Mais acostumados com a sobriedade dos ritos religiosos calvinistas, os estrangeiros se impressionaram com o batuque e o frenesi que envolviam a festa de Olivença, vista por eles como uma fronteira fluida entre o sagrado e o profano. A Puxada do Mastro de São Sebastião tem grande importância histórica e encanta quem visita principalmente o balneário de Olivença no período do evento. A tradição da puxada do mastro atrai milhares de curiosos, a exemplo de turistas e nativos, estimulando trabalhos acadêmicos e livros sobre o evento que acontece há três séculos.

 

23 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (28) Ó Pai, Ó

 


Expressão baiana que significa "olhe para isso, olhe". Dá título a um espetáculo teatral encenado pelo Bando de Teatro Olodum em 1991 com direção de Márcio Meirelles, e em 2007 é adaptado para o cinema sob a direção de Monique Gardenberg. A narrativa mostra o primeiro dia de Carnaval onde os moradores de um animado cortiço do Centro Histórico se revoltam quando a dona do prédio fecha o registro de água para acabar com a festa de todos. Já está previsto uma mini-série da rede Globo. Fiel à essência da peça, o filme preserva o mesmo recorte tragicômico. O acentuado tom de humor é uma opção da linguagem cinematográfica. Tanto o texto dramatúrgico quanto o conteúdo cinematográfico são formados por pequenas histórias cotidianas dentro de uma mesma narrativa, todas interligadas pela relação dos moradores de um cortiço (e outros apresentados nas ruas) com o Carnaval da Bahia.

22 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (27) Maria

 


Muita gente importante conheceu e apreciou as delícias dos pratos de Maria de São Pedro dos Santos. De Jorge Amado ao chileno Pablo Neruda; do cineasta norte-americano Orson Welles aos franceses Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Dos famosos aos desconhecidos, muita gente degustou a comida simples e, ao mesmo tempo requintada da cozinheira. “Maria de São Pedro era uma rainha da Bahia, feita de porte, bondade e arte. Mestra da maior das artes, da culinária, preservou e engrandeceu a tradição da inexcedível comida baiana, sua cor, seu perfume, seu sabor divinos”, escreveu Jorge Amado numa crônica. “Tem dendê, no jeitinho dela/na cor de canela, tem dendê/ Na Maria de São Pedro, tem segredo, tem dendê” diz a letra da música em homenagem a Maria gravada por Alcione em 1973. As delícias da cozinheira tiveram fama nacional e internacional. Nascida em Santo Amaro da Purificação no dia 29 de junho de 1901 (dia de São Pedro), descendente direta de escravos, veio para Salvador para buscar uma vida melhor. Ao abrir uma pequena barraca de comida na Feira da Sete (em frente ao sétimo armazém das docas) a história empreendedora e saborosa de Maria de São Pedro tomou um rumo diferente. É de lá a fama do tempero das moquecas, bobós e vatapás cruzou a cidade. Mais tarde a sede do restaurante passou para o Mercado Popular, na Ladeira da Água Brusca. Foi lá que o tempero da Maria caiu nas graças dos intelectuais e artistas da época. Depois muda para o Mercado Modelo, próximo ao Elevador Lacerda. No dia 28 de maio de 1958 ela faleceu, mas seu nome ainda é referência na culinária do Estado.

 

21 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (26) Julgado e condenado um santo

 


O município de Água Fria, a 148 km de Salvador, entre o Recôncavo e o Sertão, é o único lugar no mundo (pelo menos que se tem notícia) a ter julgado e condenado um santo. Isso mesmo, um santo, e dos mais venerados! Este fato para lá de inusitado ocorreu em meados do século XVIII. Famosa por sua justiça impiedosa, a cidade tinha senado, fórum civil e criminal, pelourinho e forca na praça central, e aplicava com rigor o Código Criminal do Império, cujo artigo 28 rezava que o proprietário era responsável pelos delitos praticados por seus escravos caso estes não fossem apresentados.

 

Santo Antônio era querido por toda a região, tanto que uma rica proprietária, de nome Isabel Maria Guedes, que guardava com extremo zelo na casa-sede de sua fazenda, uma imagem, tida por ela como milagrosa, resolveu deixar todos os seus bens para o santo casamenteiro, já que não tinha herdeiros. Em uma noite de louvor ao santo, um escravo da fazenda matou um homem branco, no adro da igreja e fugiu em seguida. Fiel ao que dispunha a lei, o juiz do município determinou a prisão do seu dono. Informado de que o assassino pertencia a Santo Antônio, ele não se fez de rogado. Mandou seus oficiais buscarem a imagem, que ficou presa e “incomunicável” por 30 dias até o julgamento, que transcorreu com pelo menos três audiências, júri, testemunhas e advogados de defesa e acusação.

 

Por interferência da Igreja, que protestava contra a heresia, Santo Antônio, apesar de condenado, escapou da forca, pena indicada para o crime. Mas perdeu todos os bens, que foram leiloados em praça pública. Depois da sentença, a imagem sumiu misteriosamente e nunca mais foi vista. Água Fria ganhou fama de cidade maldita. Virou motivo de praga. Antes disso, o lugarejo, que era muito próspero, se viu transformado em distrito do município de Irará, e somente em 1962 conseguiu sua emancipação e começou a se restabelecer. Ainda hoje, depois de 200 anos, o assunto é tabu entre os moradores, que preferem desconversar sobre o assunto, envergonhados e temerosos da “força da maldição de Santo Antônio”.

 

20 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (25) Emília Biancardi

 

Colecionar peças e objetos é uma prática tão antiga quanto a própria técnica de confeccioná-los. A pesquisadora de folclore, Emília Biancardi se dedica a juntar instrumentos musicais primitivos do mundo inteiro. Essa paixão vem desde os 19 anos de idade e pode ser avaliado nos enormes sacrifícios feito pela pesquisadora para a compra de suas peças, como, durante suas viagens, deixou muitas vezes de alimentar-se corretamente, a fim de poupar dinheiro. Ela não se arrepende, porém. Hoje já são mais de 2.000 instrumentos. Há instrumentos do mundo todo. De Katmandu, no Tibet, a vilarejos do interior da França. É um acervo interminável.

 


Criadora do primeiro grupo para-folclórico da Bahia, na Escola Normal, em 1962, Emilia começou a viajar pelo interior em busca das feiras livres, onde pudesse encontrar preciosos instrumentos primitivos. Mais tarde, já coordenando o grupo folclórico Viva Bahia, pôde viajar ao exterior, quando adquiriu instrumentos em países da Europa, da África e do Oriente. Mesmo dos países que não teve oportunidade de visitar, Emilia possui algumas peças presenteadas por vários amigos diplomatas que se encarregavam sempre de lhe trazer um exemplar novo para a coleção. No acervo de Emília, contudo, há espaço também para os instrumentos primitivos brasileiros. Da tribo dos Kamaiurás, no Xingu, ele trouxe, por exemplo – a flauta jacuí – considerada sagrada na tribo e exclusivamente dos homens. Outra flauta, a uruá, é usada às vésperas do quarup para limpar as casas dos índios contra os maus espíritos. Outras preciosidades da coleção de Emília são algumas réplicas de instrumentos pré-colombianos, trazidos do México, e o instrumento africano monocórdico que se chamava rucumbo e hoje é conhecido como berimbau.

 

Desde o início dos anos 60, a professora e musicóloga Emília Biancardi realiza pesquisa sobre cantos e danças do folclore baiano. Publicou seis livros sobre o tema, abordando diversos aspectos do folguedo, incluindo partitura musical, fotografias antigas de dançarinos e mestres e coreografias. “Lindro Amô” foi lançado em 1968 e narra a trajetória do folguedo típico de Santo Amaro da Purificação e de outras cidades do Recôncavo baiano que tem por finalidade tirar esmolas ou “missa perdida”, em louvor aos santos mais populares da região. Em 1969 ela lançou “Cantorias da Bahia” só dedicada a música folclórica da Bahia.

19 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (24) Cipriano Barata

 


O mais autêntico representante do pensamento liberal brasileiro dos fins do século XVIII e primeiras décadas do século XIX. Em 1798 ele foi um dos fundadores da Loja Cavaleiros da Luz, na Bahia, e manteve-se fiel à Maçonaria, sendo, algumas vezes, por ela socorrido financeiramente. Foi preso por se envolver nos movimentos de liberdade. Após prisão que durou mais de um ano, em 1799 foi libertado e dedicou à sua clínica e aos trabalhos agrícolas, como lavrador. Envolveu-se na Revolução Pernambucana. Após a derrota da revolução, foram remetidos, presos, para a Bahia, 104 insurgentes, que acabaram se salvando da morte em virtude do decreto de 1812, de D. João. Salvos do fuzilamento, permaneceram presos, mas, já ai, mantendo contactos abertos com os liberais baianos, Cipriano deles se aproximou e foi, logo, considerado “amigo dos presos”. Presidiu comitês para arrecadação de meios para o sustento dos presos. O real prestígio popular de Cipriano seria comprovado em 1821. Ele se pós à frente de um movimento popular visando prestar apoio à revolução portuguesa. Em 1821 realizaram-se as eleições para a escolha dos deputados brasileiros às Cortes Portuguesas. Cipriano foi o grande vencedor.  Desde a posse, procurou demonstrar ali estar para defender, incondicionalmente, os interesses de sua terra. Deixou patenteado não se considerar português e, sim, brasileiro. Enfrentou o clima de coação. Sua coragem e até mesmo audácia na defesa das coisas do Brasil o tornaram, desde logo, conhecido e odiado por todos. Não era só a coragem no debate que marcava sua qualidade de brasileiro. Também sua indumentária constituía-se numa afirmação de brasilidade e se tornava uma verdadeira provocação aos portugueses, pois calçado e vestido desde os pés até a cabeça com fazendas manufaturadas na Bahia. Para se ter uma idéia do prestígio que gozava junto às massas, basta atentar-se no relato do próprio Ministro da Guerra, na sessão do dia 20 de maio de 1833 da Câmara dos Deputados, segundo o qual, na Bahia, as pessoas que não queriam ser molestadas, colocavam nas portas de suas casas o letreiro Barata. Esse prestígio era facilmente constatável em todo o território nacional.

 

 

18 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (23) Baía de Todos os Santos

 


A maior e mais bela da costa brasileira, a Baía de Todos os Santos, encanta a todos que a visitam pelo grande número de ilhas tropicais, com praias e vegetação paradisíacas. Em seus 1.052 km2, abriga 56 ilhas, recebe as águas doces de inúmeros rios e riachos, sendo os principais o Paraguaçu e o Subaé, além de ter debruçada em seu entorno a primeira capital do Brasil e a maior do Nordeste, Salvador da Bahia, é cercada de 16 municípios. Maior baía navegável do Brasil e um dos mais favoráveis locais para o lazer náutico das Américas é, hoje, alvo de grandes investimentos que visam o incremento do turismo e dos esportes náuticos, por reunir excelentes condições e inúmeros roteiros e cenários naturais. A Baía de Todos os Santos é a segunda maior do mundo mas com condições de navegabilidade o ano inteiro e temperatura média da água, anual de 25º, além de excelente visibilidade. Enquanto que a maior baía do mundo está na Rússia, mas com água gelada na metade do ano.

17 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (22) Convento de Santa Clara do Desterro

 


O Convento de Santa Clara do Desterro foi o primeiro convento feminino do Brasil, fundado em 1677, por um grupo de religiosas Clarissas, vindas do Convento de Santa Clara, em Évora, Portugal. As fundadoras do Desterro são as Madres Margarida da Coluna, Jerônima do Presepe, Luíza de S. José e Maria de S. Raimundo. O Convento foi criado a pedido dos Oficiais da Câmara da Cidade de Salvador, da nobreza e do povo ao Rei de Portugal e Algarve, D. Afonso VI. O intuito do local era abrigar as filhas dos vassalos quando eles estivessem fora, em viagens.

 

Hoje, o espaço é gerido pela Congregação das Irmãs Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus. O complexo abriga a igreja, uma escola de ensino fundamental – o Colégio Franciscano Santa Clara – e um projeto social. Também é muito procurado para celebrações de casamentos. Sua capacidade é de cerca de 200 pessoas.

 

A Serva de Deus Madre Vitória da Encarnação viveu neste convento e hoje o local é espaço para o cultivo da devoção à candidata aos altares. Há um projeto de alguns devotos, da arquidiocese e de Dom Murilo, então Arcebispo de Salvador, de levarem o nome dela à canonização. Em 2016, Madre Vitória ganhou o título de Serva de Deus, denominação dada pela Santa Sé.

 

16 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (21) Abrolhos

 


O Parque Nacional Marinho de Abrolhos é o maior centro de preservação da biodiversidade marinha do Atlântico Sul. Tem mais de 88 mil hectares e é tomado por recifes de corais e manguezais. O nascimento do Parque em 1983 representou um marco para a conservação marinha no país. Além de resguardar porção significativa do maior banco de corais e da maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, o Parque protege algumas das principais áreas-berçário das baleias-jubarte, que migram para o banco para ter seus filhotes. É também a única região do planeta onde é possível encontrar o coral Mussismilia braziliensis, conhecido por coral-cérebro por seu aspecto peculiar. Distante, cerca de 70 km da costa nas proximidades das cidades de Alcobaça, Caravelas e Prado, o Arquipélago de Abrolhos é formado por cinco ilhas: Santa Bárbara, Guarita, Sueste, Siriba e Redonda. Todas são de origens vulcânicas. Para que o lugar fosse preservado, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos foi criado, proibindo qualquer tipo de pesca e caça na região. Hoje o parque é fiscalizado pelo Ibama. “Abre os olhos”, disse Américo Vespúcio ao navegar pelo arquipélago de Abrolhos. A frase citada se referia aos imensos recifes e corais que se encontram em seus mares. Diz a lenda que foi essa frase que deu origem ao nome do arquipélago.

15 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (20) Arembepe

 


Arembepe é uma vila hippie que fica a 42 quilômetros de Salvador. Este paraíso de gente de vida simples e natural é tão famoso que acabou ganhando “vida própria” e muitos desconhecem o fato dele pertencer ao município de Camaçari. O vilarejo tem no seu passado um forte motivo para visitação dos turistas. Na década de 60, o local foi reduto hippie freqüentado por artistas como Janis Joplin, Mick Jagger, Caetano Veloso e Gilberto Gil e, ainda hoje, encontram-se na comunidade alguns hippies remanescentes da década de “paz e amor”. A paisagem do alto das dunas, de onde se pode avistar os barcos de pescadores, e a aldeia hippie, onde a comunidade alternativa ainda vive em cabanas rústicas, construídas de madeira e palha, sem energia elétrica e nenhum conforto, dá a impressão de ter preservado ao longo dos anos a atmosfera de tranqüilidade e simplicidade que reinava na década de 70. A aldeia fica a uns 600 metros do centro comercial da vila de Arembepe e os membros sobrevivem da pesca e do artesanato.

 

Arembepe é rústica, e encanta o visitante justamente por esta qualidade. Além disso, o povo, sempre hospitaleiro, de sorriso fácil e conversa mansa, agradável, dão ao lugar, um toque de poesia, somadas às mais maravilhosas praias do litoral da Bahia. Os hippies são parte integral da vila, que tanto podem ser artesãos como poetas, mas que possuem algo em comum: não ligam para conforto. Viver em Arembepe é se acostumar com o aroma do peixe frito, da água de coco fresca, do mar cristalino, sempre convidando para um delicioso mergulho. À tarde, o sol brinda a todos com cor e magia, ao som de músicas embaladas por violões.

14 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (19) Avante camaradas!

 


Um fato inusitado, ou melhor, irônico ocorrido na Bahia foi durante os anos 20, na cidade de Angical, a 600 km da capital, que acabou fazendo parte da história do Brasil. Para festejar a chegada da Coluna Prestes, a comunidade se mobilizou pra criar um hino em homenagem ao grupo revolucionário. Mas, não foi a Coluna que acabou passando pela cidade, e sim as tropas do exército, que ouvindo o hino “Avante camaradas!”, criado pelo maestro Antonio do Espírito Santo, sendo tocado no coreto da praça, resolveu adotá-lo, tornando parte da coleção dos hinos militares brasileiros. E assim, um hino criado para saudar a histórica Coluna Prestes, comandada pelo líder comunista Carlos Prestes, acabou jocosamente virando tema do Exército.

 

Este assunto ainda na memória entre os moradores de Angical, foi retratado no curta-metragem de 15 minutos, “Avante camaradas”, da cineasta francesa Micheline Bondi, que morou dez anos no Brasil. O curta produzido em 1986 só foi exibido em Angical em março de 2006. Em seguida a Filarmônica Lira Angicalense tocou com a Banda Militar em Brasília num encontro histórico. Foi exibido também o vídeo “Memórias de Angical”, do cineasta Póla Ribeiro que ouviu alguns relatos dos angicalenses sobre o hino.

12 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (18) Pau de Colher

 


Pau-de-Colher é um pequeno e pobre povoado localizado a 130 km da cidade de Casa Nova. Assim como centenas de outras localidades idênticas, ele passaria anônimo pela história, se não fosse um episódio doloroso até hoje pouco conhecido. A localidade foi palco de um verdadeiro massacre, sendo inclusive chamada de “Pequena Canudos”, pois se não teve as proporções cruéis da Guerra de Canudos, foi igualmente impiedosa: cerca de 400 pessoas foram dizimadas. A história de Pau-de-Colher começa por volta de 1934, quando surge na região o beato Severino Tavares, o qual se dizia emissário de Padre Cícero. Quando o grupo que o acompanhava cresceu, chegando a cerca de mil pessoas, o conselheiro saiu de cena e mandou um emissário em seu lugar, na verdade, dois: José Senhorinho e Quinzeiro, que modificaram as ações do grupo religioso.

 

De um ajuntamento pacífico, as pessoas passaram ao fanatismo extremo, levado as últimas conseqüências. Sertanejos se tornaram assassinos de seus pais, mães, irmãos e quem mais se opusessem contra eles. Fanatismo de um lado, radicalização do outro. Forças policiais da Bahia, Piauí e Pernambuco juntaram-se para controlar a situação rapidamente e evitar que um novo Canudos ganhasse vida e abalasse a “paz nacional”. O fim de Pau-de-Colher foi fulminante e sem nenhuma chance de defesa. . (Texto do livro Breviário da Bahia, de Gutemberg Cruz lançado em 2014 pela Assembleia Legislativa da Bahia)

11 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (17) Nudismo

 


A praia de nudismo de Massarandupió recebe cada vez mais freqüentadores. O número de pessoas que se dispõem a estar como se veio ao mundo cresce a cada dia. Os freqüentadores querem desfrutar dos princípios básicos da prática do nudismo, o contato irrestrito com a natureza e o respeito ao meio ambiente. Mas para adentrar o universo naturista da localidade de Massarandupió, a 88 km de Salvador, é preciso ir além do despojar-se das peças de roupa. Na Praia das Dunas, uma das mais escondidas da Costa dos Coqueiros, no Litoral Norte baiano, é necessário acostumar-se aos princípios de conduta local. Os visitantes da praia precisam obedecer a um rigoroso código de ética e de comportamento: os homens precisam estar acompanhados por alguém do sexo oposto para desfrutar da nudez. Apenas mulheres podem entrar sozinhas.

 

A história da Praia das Dunas teve início em 1998, quando a prefeitura do município de Entre Rios, do qual pertence Massarandupió, regulamentou a Associação Baiana de Naturismo (Abanat). O idealizador da Praia das Dunas, Miguel Gama informa que o local virou pólo turístico atraindo investimentos para a região. Em tempos coloniais, os índios da tribo Massarandupió já exibiam suas “vergonhas” nas areias da praia. Os naturalistas da atualidade apenas reproduzem os hábitos dos antigos moradores da região. (Texto do livro Breviário da Bahia, de Gutemberg Cruz lançado em 2014 pela Assembleia Legislativa da Bahia)

 

10 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (16) No topo das árvores

 


A maior ponte suspensa numa floresta tropical da América fica no Ecoparque do Una, uma Reserva Particular do Patrimônio Nacional, distante 45 quilômetros ao sul de Ilhéus. Dividida em quatro etapas, num total de 100 metros de percurso, ela foi erguida a 25 metros de altura, amarrada junto aos troncos de árvores centenárias como a copaíba e o jatobá. Tudo para que o ecuturista possa apreciar a natureza de um ângulo um tanto inusitado: das alturas, acima da copa das árvores.

 

A ponte foi erguida com uma tecnologia canadense que não agride as árvores. Todas as amarras foram feitas com encaixes, sem parafusos nem pregos, e ajustadas aos troncos de forma a não interferir no crescimento das mesmas. Caminhar pela passarela da ponte é fácil e seguro, inclusive para crianças. Para chegar até elas é preciso completar uma trilha bastante tranqüila de dois quilômetros. O passeio é feito diariamente em vários horários, basta agendar com um dia de antecedência.

 

Segundo dados do Centro de Estudos e Pesquisas para Lavoura Agrícola Cacaueira (Ceplac), esta região da Bahia é considerada o ecossistema mais rico em diversidade vegetal do planeta, tendo sido catalogadas mais de 450 espécies de vegetais em um único hectare. Além de passear na ponte, a esperança de quem faz a trilha é encontrar o raro e ameaçado de extinção mico-leão de cara dourada, animal símbolo da Mata Atlântica do sul da Bahia. Os que não tiverem esta sorte, podem se contentar com um banho nas águas do Rio Maruim. (Texto do livro Breviário da Bahia, de Gutemberg Cruz lançado em 2014 pela Assembleia Legislativa da Bahia)