30 janeiro 2009

O número 1 dos quadrinhos (2)

Revolucionária no uso de elementos narrativos da linguagem dos quadrinhos que só viriam a ser “descobertos” no século seguinte e por adotar um estilo realista de desenho indo de encontro à estética cartunesca vigente no período, a saga de Zé Caipora começa com uma deliciosa comédia de erros e depois se transforma numa grande aventura, emocionante e realista onde o personagem aos poucos se revela um herói épico. Agostini experimenta ousadas diagramações de página, enquadramentos cinematográficos, grandes cenas panorâmicas, coloca os personagens em situação dramática e cria a primeira heroína universal dos quadrinhos: a índia Inaiá. Toda essa revolução pode ser apreciada no álbum As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora: os primeiros quadrinhos brasileiros, um belíssimo trabalho organizado pelo professor Athos Eichler Cardoso e publicado pelo Senado Federal em 2002.

ZÉ CAIPORA
A segunda personagem fixa, Zé Caipora, praticamente mantém a mesma temática de Nhô Quim. Personagem que precede o Jeca, Pedro Malazartes, Macunaíma e outros famosos da galeria de ladinos brasileiros. Seu tipo físico é do caboclo de pés descalços, barriga proeminente e notável às situações mais escabrosas. As Aventuras de Zé Caipora ganharam as páginas da Revista Ilustrada em 1883. Interrompidas várias vezes, 35 capítulos foram republicados na revista Don Quixote, outros tantos inéditos sairiam em O Malho, até 15 de dezembro de 1906, quando as peripécias de Zé Caipora desapareceram para sempre.
Com esta criação, o nome de Agostini garantiu definitivamente um lugar de honra na história dos quadrinhos modernos. Segundo Eichler Cardoso, o sucesso do personagem deve-se a dois fatores principais: “o traço realista e a temática de aventuras, que deram dimensão e conteúdo psicológico à narrativa”. Caipora era uma palavra comum na segunda metade do século XIX, associada a pessoas fracassadas ou com pouca sorte.
Aventureiro, cômico e romântico, Caipora tornou-se popular rapidamente. Suas peripécias pelo interior do País e pelas florestas alimentavam a imaginação dos leitores. O traço fino e realista de Agostini dava vida a boiadeiros, onças, sucuris, macacos e índios. Além de inaugurar um estilo que inspirou quadrinhos das décadas seguintes, Ângelo Agostini criou cenas em dois planos, referência do teatro medieval, e também abriu caminho para a sensualidade, criado a primeira heroína dos quadrinhos: a índia Inaiá, protetora e guia de Zé Caipora, que, com os seios à mostra, representa o mito das amazonas.
Todo esse talento de Agostini, que José do Patrocínio considerava “o mais brasileiros dos brasileiros”, ficou relativamente esquecido a partir de 1910. Com o resgate e a publicação das histórias de Nhô Quim e Zé Caipora, a nova geração pode revê o pioneirismo do ilustrador Angelo Agostini. É bom lembrar que a nossa primeira história em quadrinhos de longa duração foi homenageado em elo dos Correios. A data inicial de sua publicação, 30 de janeiro, é hoje comemorada como o Dia do Quadrinho Nacional, e Angelo Agostini passou a ser, a partir de 1984, o nome do troféu que representa o mais importante prêmio concebido pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo.
“O mito do Menino Amarelo como primeiro personagem da história em quadrinhos, atravessado na garganta de muitos estudiosos, principalmente belgas e franceses, ficará abalado. Zé Caipora será a lenha na fogueira da contestação que ameaça extinguir-se por falta de combustível. Poderá o Menino Amarelo ser considerado o primeiro personagem e a primeira história em quadrinhos so porque tem balão e moldura?
Zé Caipora mostra tudo o que as modernas histórias em quadrinhos têm, antecipando-e em quase meio século às obras-primas de Hal Foster, com Tarzan e Príncipe Valente; Alex Raymond, com Flash Gordon e Jim das Selvas; e Roy Crane, com o Capitão César. Só não possui o balão, que os dois primeiros, também, não usaram”, conclui Athos Eichler Cardoso.
Agostini inovou o que existia em história em quadrinhos, substituindo a caricatura pelos desenhos realistas e o humorismo pela aventura de ação. Foi o primeiro a explorar o suspense,m deixando o leitor na expectativa ate o capítulo seguinte. A obra de Athos é uma justa homenagem ao primeiro herói dos quadrinhos de aventuras. Assim, o Brasil, até nos quadrinhos tem um passado que faz parte de sua identidade. Vale conferir.

29 janeiro 2009

O número 1 dos quadrinhos (1)

Há 140 anos, na revista Vida Fluminense, surgia a primeira história em quadrinhos no Brasil. Nhô Quim. Angelo Agostini (1843/1910) foi o mais importante artista gráfico do Segundo Reinado. Colaborou tanto com desenhos quanto com textos com as publicações O Mosquito, Vida Fluminense, Revista Ilustrada, Don Quixote, O Tico Tico, O Malho, Gazeta de Notícias, entre outros. Publicou, a 30 de Janeiro de 1869, Nhô-Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte, considerada a primeira história em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo. Mais tarde publica outro personagem, Zé Caipora. Seu nome serviu de inspiração ao Prêmio Angelo Agostini, concedido anualmente pela Associação de Quadrinistas e Caricaturistas de São Paulo aos melhores do ramo e para a criação do Dia do Quadrinho Nacional. Agostini esteve à frente de sua época, criou um estilo, influenciou e tornou a caricatura, a sátira política e os quadrinhos parte de nossa nascente imprensa. Por esses feitos, o dia 30 de janeiro ficou instituído como o Dia do Quadrinho Nacional. Este artigo, de minha autoria, foi publicado no jornal A Tarde (21/07/2002)

Muito antes de a imprensa popular norte-americana tratar as histórias em quadrinhos como uma investigação estrangeira, o ilustrador ítalo-brasileiro Angelo Agostini fazia sucesso com histórias ilustradas em revistas do Brasil. Ele era republicano e abolicionista ferrenho, crítico contumaz dos militares, tendo criado espaço na imprensa nacional para a caricatura e a sátira política. Graças ao seu traço de excelente qualidade e uma percepção sutil da realidade brasileira, charges e caricaturas tornaram-se uma parte integrante da imprensa nacional.
A contribuição de Agostini para o desenvolvimento da história em quadrinhos no Brasil é inestimável, mas só agora ele ganha um trabalho primoroso, que, finalmente, ilumina a grandeza de sua obra. Trata-se do precioso álbum As Aventuras de Nhô-Quim e Zé Caipora – Os Primeiros Quadrinhos Brasileiros (1869-1883), pesquisa de Athos Eichler Cardoso, lançado pela Editora do Senado Federal. As imagens dessa edição sobre o trabalho de Agostini foram digitalizadas diretamente dos originais das coleções das revistas daquele período. A publicação traz um glossário com termos de época usados nas aventuras narradas por Agostini.
O fato é que vários países reivindicam o título de inventor das histórias em quadrinhos. Entre os precursores da “literatura em estampas” estão o inglês Thomas Rowlandson, criador do Dr. Sintaxe (1798); o suíço Rudolph Topfer, com Monsieur Vieux-Bois (1827); o alemão Wilhelm Busch, com os travessos Max e Moritz (1848), entre nós rebatizado de Juca e Chico; o francês Georges Coulomb e sua Famille Fenouillard (1889); e o norte-americano Richard Felton Outcault, com Yellow Kid (1896), considerada a primeira HQ moderna.

Para os puristas, narrativa ilustrada sem balões é pré-história em quadrinhos. Se tivesse balões, as aventuras de Nhô-Quim teriam antecipado, em quase 30 anos, o Menino Amarelo do americano Outcault e consagrado Agostini como o inventor do gibi. Mas ele foi, inegavelmente, um precursor.
PIONEIROS
Um dos pioneiros dos quadrinhos no mundo e um dos primeiros a criar essa arte no Brasil, Agostini publicou ilustrações na revista humorística O Diabo Coxo (1864). Dois anos depois, tornou-se colaborador regular da revista O Cabrião. Mais tarde, foi o editor. Em 1867, fez uma de suas primeiras experiências com histórias seriadas, chamada As Cobranças, já aplicando várias técnicas de quadrinhos. Depois de alguns problemas em São Paulo, como perseguição e ameaça de alguns “homenageados” por suas charges, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital do Império e o grande centro das revistas ilustradas e da imprensa da época.
Agostini começou a colaborar com várias publicações. Na Vida Fluminense, em 30 de janeiro de 1869, o artista criou As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, a primeira história em quadrinhos seriada com um personagem fixo do Brasil. Nhô Quim foi uma das primeiras armas para atacar a aristocracia da época. Ele era um caipira rico e atrapalhado enviado à Corte pela família. As histórias do personagem não poupavam críticas aos problemas sociais do País e alfinetavam de comerciantes a artistas.
Nhô Quim era um anarquista por vocação. Desajustado da vida cortesã, metia-se em confusões com toda espécie de gente: comerciantes, imigrantes, artistas, prostitutas, políticos e autoridades. Ele perdia tudo pelo caminho (chapéu, trem, roupas) e quase foi passado para trás por dois encartolados vigaristas que lhe empurraram falsas ações bancárias. Agostini fez nove páginas duplas, interrompendo sua publicação em 08 de janeiro de 1870, sem concluir as peripécias em que Nhô Quim estava metido. Dois anos depois, Cândido Aragones de Faria desenhou outras cinco páginas, imitando o estilo de Agostini, mas também suspendeu seu trabalho, em outubro de 1872, deixando mais um episódio sem concluir.
Nhô, aferética de sinhô, era o tratamento que os escravos davam aos senhores brancos. Nessa série, Agostini destacou-se pelo uso de recursos metalinguísticos ou de enquadramento inovadores para a época. Entre cada um dos episódios da série, o autor introduziu como que uma espécie de gancho, que deixava pressupor a continuidade no número seguinte do jornal. Essa modalidade narrativa funcionava muito bem como estratégia de marketing e como elemento de manutenção de uma clientela cativa de leitores, como já haviam descoberto os autores de folhetim alguns séculos antes e como descobririam os syndicates norte-americanos vários anos depois.

28 janeiro 2009

Bá e Moon, invencíveis (2)

Gabriel Ba fala da importância de ter uma base clássica: “Você tem que começar e entender a base clássica, uma construção de anatomia e de profundidade, para depois poder escolher estilizar. Porque aí você vai ter mais ferramentas e conceitos na hora de estilizar e isso vai ser uma escolha. Se você começa às vezes muito estilizado, você solta esses conceitos e parte de algo que já chegou em você pronto. Então eu acho que é legal você estudar um pouco da base para depois poder estilizar. Porque no final, talvez não fique visível, mas vai fazer diferença. Quem tem a base faz diferença na hora de fazer um desenho mais estilizado”.

Eles nasceram em 1976 e, mesmo com sobre nomes distintos, são gêmeos, formados em artes plásticas por faculdades distintas e, apesar de seus estilos diferentes, trabalham juntos e são co-autores de quase todos os seus quadrinhos.

No Brasil, já publicaram quatro álbuns 10 Pãezinhos: O Girassol e a lua (20000), Meu coração não sei porque (2001), Crítica (2004) e Mesa para dois (2006); desenharam o épico medieval Rolando (2005), escrito por Shane Amaya, e participaram de diversas antologias da nata da produção nacional de quadrinhos.
Já tiveram seus trabalhos publicados nos EUA, Espanha e Itália. Contribuem para diversos jornais e revistas nacionais, e algumas internacionais. Querem desbravar o mundo, mas o mais importante é conseguir contar suas histórias no Brasil. Eles relatam toda a forma de fazer HQ, o processo de criação e produção no site www.10paezinhos.com.br
Conhecidos no Brasil como os autores da revista/fanzine 10 Pãezinhos, Moon e Ba vêm publicando seus trabalhos nos EUA desde o final da década de 90. Além da graphic novel própria “Ursula” (entre nós chamada de Meu coração não sei porque), os gêmeos assina, nos EUA, os desenhos da série Casanova e da premiada The Umbrella Academia. A série Umbrella Academy é desenhada por Ba, com roteiros de Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance.
E no final de julho foram contratados pela DC Comics para escrever uma nova série para o selo adulto Vertigo, batizada de Day tripper. O nome da série, referência à música dos Beatles, conta a história de vida de um jornalista e como ela é afetada por sua família. Cada edição acompanha um dia do personagem principal. Importante é que a história se passa no Brasil.
Os gêmeos também foram escolhidos para desenhar a nova série da revista BPRD (sigla de Bureau for Paranormal Reserarch and Defense), a agência de investigações do universo das histórias do personagem Hellboy. Publicada pela editora Dark Horse e com roteiros de Mike Mignola e Josh Dysart, a série narra os primeiros anos da agência e tem como um de seus personagens centrais o professor Trevor Bruttenholm. Nesse cenário, o demônio Hellboy é ainda uma criança e aparece com menos frequência nas aventuras.

27 janeiro 2009

Bá e Moon, invencíveis (1)

O ano de 2008 foi dos desenhistas Gabriel Ba e Fábio Moon (irmãos gêmeos). Eles foram vencedores de diferentes premiações nos Estados Unidos e no Brasil. Os dois desenhistas ganharam destaque na mídia brasileira por conta dos três prêmios vencidos no Eisner Awards, a maior premiação da indústria de quadrinhos norte-americano e o maior em relevância no mundo. A conquista sucedeu outras, Harvey Awards e Scream Awards, ambos norte-americanos. No Brasil, a dupla foi premiada com um dos prêmios Jabuti de literatura pela adaptação em quadrinhos do conto “O Alienista”, de Machado de Assis. Como se não bastasse os quatro prêmios, eles ainda tiveram duas obras (O Alienista e Meu Coração não sei Porquê) incluídas na lista do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) do ano passado.

Desde criança que os dois liam Mônica, Disney, Mad, Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Garfield, Calvin e Haroldo, os super heróis. “Ler Jorge Amado na escola também nos influenciou muito. Um bando de jovens com problemas em Salvador, e como éramos jovens pensávamos: ´putz podia ser eu`. Aquilo nos marcou muito. Toda história que a gente lia nos livros tentamos passar para os quadrinhos”, conta Gabriel. “Tem também o Sherlock Holmes, com suas histórias de quebra cabeça. A gente ficava montando as peças e tentando desvendar o final”, revela Fábio.
10 PÃEZINHOS
Em 1977 os irmãos quadrinhistas de São Paulo criaram a série 10 Pãezinhos, fanzine que lutava para sobreviver nos anos 90. Com “O Girassol e a Lua”, sua primeira história longa e o primeiro álbum lançado em 2000 pela Via Lettera foi considerada como a melhor história, o que lhe rendeu os primeiros troféus HQ Mix.

Desde 2000 eles lançaram cinco livros dos 10 Pãezinhos, quatro revistas independentes e ganharam 11 HQ Mix e 3 troféus Ângelo Agostini. Em 2003 eles publicaram uma HQ de oito páginas na antológica Autobiographix, que foi indicada ao Eisner. No ano seguinte lançaram Ursula pela Art´Planet Lar e Rock´n´Roll independente. Em 2005 foi a vez do Rock´n´nRoll pela Image e o Smoke and Guns pela A it. Em 2006 foi lançado o De: Tales pela Dark Home, indicado ao Eisner Award, e fizeram o Casanova e participaram do 24 seven. Em 207 participaram do segundo volume do 24 seven, do Flight, mais Casanova e fizeram o Umbrella Academy, o Sugar Shock, ambos pela Dark Horse e o quinto independente. No ano passado ganharam três Eisner Awards.
A trajetória desses meninos é ímpar. Subverteram a fórmula de sucesso que consagraram nomes brasileiros lá fora, como Mike Deodato e Ed Benes ao lançarem um trabalho autoral longe de editoras grandes como Marvel e DC.
O ALIENISTA
Na adaptação do conto O Alienista, de Machado de Assis, Flávio Moreira da Costa informou na introdução: “O alienista, esta história tão bem contada, sempre foi inspiração ou tentação para cineastas e criadores em geral – ao que me lembre, Nelson Pereira dos Santos adaptou-a para o longa-metragem Um asylo muito louco; Jorge Laclete (creio que não foi o único) transformou-a em peça; e agora ei-la em história em quadrinhos – que é como se chamavam na minha infância as hoje adultas graphic novels. Não seria isto uma prova de seu potencial narrativo, do encanto que a própria história contém e que atinge todos nós, leitores e espectadores? (...)”

“Machado de Assis foi leitor de Poe, e os irmãos Fábio Moon e Gabriel Ba são leitores de Machado de Assis – assim caminha a humanidade (e as artes em geral). Os gêmeos deixam aqui sua comprovada admiração, transcriando, intercriando, recriando – que é tudo uma forma de criação/homenagear a história ´aloprada´ de Simão Bacamarte. Conhecem aquela velha frase publicitária: ´Veja o filme, leia o livro´?. Pois leia a história machadiana, veja/lia esta homenagem que os irmãos prestam ao nosso gênio. Não tenha sido da ´loucura´ nem da boa literatura. Taí, rimou e é uma boa solução”.

26 janeiro 2009

Nildão lança site autoral e livro no Rio Vermelho


O cartunista e designer Nildão promove uma big festa dançante para o lançamento do seu site autoral e do seu décimo segundo livro: “Quem pode, pódio” .
O evento acontece dia 29 de janeiro, quinta-feira, a partir das 21 horas no Bar Santa Maria, Pinta e Nina que fica no Largo de Dinha do acarajé, no Rio Vermelho. A animação fica por conta do Dj Roger N’ Roll & Dj Rafabela e o ingresso no valor de 20 reais dá direito a um exemplar do livro.
A novidade este ano é que Nildão também estará lançando o seu site autoral. Criado pelo designer Luiz Celestino nildao.com.br pretende mostrar um pouco da obra do cartunista e disponibilizar para o público parte do seu acervo. O site possui uma loja virtual que oferece os produtos criados pelo cartunista tais como: livros, posters, postais e camisetas.
Nessa nova publicação, totalmente colorida, Nildão retorna às raízes e explora o universo do cartum não verbal. Dividido em quatro módulos, a primeira parte intitulada “quem pode, pódio” faz uma paródia das relações competitivas da sociedade moderna.
Em “o bicho vai pegar” o autor trabalha de forma bem humorada os animais e suas idiossincrasias. Na terceira parte “a noite é uma criança” ele aborda de forma lírica e suave a magia e os mistérios da noite e por último em “Sorria, você “star” na Bahia” Nildão mostra o bom humor do povo baiano.A seleção e edição do livro foi realizada por Renato da Silveira, designer e professor da Facom.
Quem é Nildão? - Nildão como cartunista publicou em 1980 o livro “Me segura qu’eu vou dar um traço”, em 88 lançou o livro “Bahia - Odara ou desce”, em 89 colocou no mercado o livro de grafites “Quem não risca não petisca”, em 98 lançou “Ivo viu o óbvio” além do flip-book “Capoeira Ligeira” realizado em parceria com o fotógrafo Aristides Alves. Em 2001, foi a vez do livro de cartuns “É duro ser estátua”.
Em 2003 lançou “Poesia – Remédio contra azia”, sua primeira experiência no gênero, em 2005 lançou “Colíricas”, em 2006 colocou nas ruas “O sol nasce para toldos” além da coleção de postais “São será o Benedito e outros santos geneticamente modificados” criada em parceria com Renato da Silveira. Em 2007 publica “Borboletras” mais um trabalho composto de pequenos textos e nanodelicadezas.
Em 2008 Nildão nos brinda com o livro “Penso, Logotipo” uma brincadeira com imagens e ícones de nosso tempo.Nildão já ganhou inúmeros prêmios em Salões de Humor além de ser premiado no meio publicitário com a campanha de cartuns feita para a Bahiatursa que concorreu no Festival de Cannes. Teve poemas selecionados para o projeto Mídia Poesia 1 e 2, veiculado pela Rede Bahia e uma das frases do livro “Poesia-Remédio contra Azia” serviu de tema para o programa “Saia Justa” do canal GNT.
Onde encontrar os Livros de Nildão? - Além da loja virtual www.nildao.com.br, “Quem pode, pódio” e os demais livros de Nildão podem ser encontrados na Pérola Negra (Canela), restaurante Ramma (Barra), Livraria Tom do Saber, Urbanorama, Mídialouca e Gandha (Rio Vermelho). Contatos: newdao@ig.com.br - Tel. 3240 5231 (Fonte: Assessoria do artista)

23 janeiro 2009

Música & Poesia

O Que Será (À flor da Terra), de Chico Buarque

O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas?
Que andam sussurrando em versos e trovas?
Que andam combinando no breu das tocas?
Que anda nas cabeças, anda nas bocas?
Que andam acendendo velas nos becos?
Que estão falando alto pelos botecos?
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza.
Será, que será.
O que não certeza, nem nunca terá?
O que não tem conserto, nem nunca terá?
O que não tem tamanho?
O que será, que será?
Que vive nas idéias desses amantes?
Que cantam os poetas mais delirantes?
Que juram os profetas embriagados?
Que está na romaria dos mutilados?
Que está na fantasia dos infelizes?
Que está no dia a dia das meretrizes?
No plano dos bandidos, dos desvalidos?
Em todos os sentidos.
Será, que será.
O que não tem decência, nem nunca terá?
O que não tem censura, nem nunca terá?
O que não faz sentido?
O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar?
Por que todos os risos vão desafiar?
Por que todos os sinos irão repicar?
Por que todos os hinos irão consagrar?
E todos os meninos vão desembestar?
E todos os destinos irão se encontrar?
E mesmo o Padre Eterno,
Que nunca foi lá,
Olhando aquele inferno
Vai abençoar
O que não tem governo, nem nunca terá?
O que não tem vergonha, nem nunca terá.?
O que não tem juízo?
La la la la la……..


Sagração do verão (Luis Carlos Guimarães)


De repente a mulher desabrochou nua
saindo do mar, pois a água não a vestia,
antes a desnudava, fazendo a sua
nudez mais nua à dura luz que afia
seu gume no sol da manhã que inaugura
o verão. Dezembro só luz reverbera
em seu corpo, doura-lhe as coxas, fulgura
nas ancas, no dorso ondulado de fera.
Fera que guarda no ventre um colmeia
com a flor em brasa do sexo que ateia
fogo ao meu desejo e tanto me consome
a vulva, gruta, rosa de pêlos – que nome
tenha – que desfaleço como se em sangue
me esvaísse morrendo de amor. Exangue.

22 janeiro 2009

Paranóia surrealista de Salvador Dali (2)

O mais surrealista de todos os pintores modernos, mais ligado à expressão plástica do inconsciente, mais excêntrico e que levou sua arte aos alucinantes caminhos da imaginação criadora.

Tecnicamente as inovações de Dalí pertencem às suas temáticas delirantes do que ao arsenal de procedimentos estéticos que a arte moderna deitou na mão do artista. Como pintor, chega a ser acadêmico, embora tenha realizado objetos, montagens ou estranhas esculturas. Mas Dalí nunca negou sua admiração por artistas acadêmicos como Meissonier (1815/1891) ou Bouguereau (1825/1905). A atividade paranóico-crítica (método de interpretação inventado pelo artista nascido pela tese de seu amigo íntimo, o psicanalista Jacques Lacan chamada Da Psicose nas suas relações com a Personalidade).
E a paranóia acompanhou o pintor catalão numa mistura de poder e saber (ele era extremamente culto), entre dinheiro e glória, loucura e razão. Com ele, o surrealismo tornou-se uma arte popular, muitas vezes chegando ao kitsch. Pertencem ao nosso imaginário cenas como as dos relógios derretidos, dos dedos plantados em paisagens oníricas, imagens criadas por Dalí. Os bigodes “superalegres e verticais ascendentes” foram sua imagem de marca. Suas declarações de genialidade o afastavam dos redutos sérios da arte, mas eram armadilhas preparadas pelo pintor. Suas roupas extravagantes e os bigodes melados de escrementos conquistaram a russa Gala (aliás Elena Deluvina Diakoroff), ex-modelo do poeta francês Paul Eluard, a grande paixão do pintor. Foi ela que colocou Dalí nos trilhos do capitalismo – ensinou o artista a valorizar o dinheiro. Tinha passado pela revolução socialista na Rússia e sabia quanto vale ficar sem, um tostão.
APETITE
Quando Dalí começou a enriquecer, atingiu o puritanismo revolucionário do fundador do surrealismo, André Breton, que cunhou o anagrama Avida Dollars para explicar o apetite por dinheiro do pintor. Gala passou a ser a musa, mãe, amante, algoz e deusa de Salvador Dalí até morrer. A diva russa, modelo maior de Dalí na costa mediterrânea da Espanha e fora dela, se tornou a principçal figura de sua obra. Gala foi a mulher mais reproduzida em suas telas, das inúmeras recriações do “Angelus” às substitutas de santas criadas para a adoração masoquista do pintor.
“O surrealismo sou eu”, costumava dizer, parafraseando Luís 14. Morto, ele deixou mais de mil quadros (além dos falsos) assinados para prover. Se ele não teve unanimidade dos críticos, as únicas obras de Dalí que talvez tenham a unanimidade da crítica não estão nas artes plásticas, mas no cinema. São os dois filmes que co-roteirizou com Luís Buñuel, e que este dirigiu: Um Cão Andaluz (1928) e A Idade de Ouro (1930). Ambos são obras-primas não apenas do chamado cinema surrealistas, mas do
cinema “lato sensu”. Os dois filmes provocaram na época enorme reação na França, com a temática anticlerical e/ou demolição da moral burguesa. Hoje observa-se o violento lirismo de duas histórias belas e engraçadas. O namoro de Dalí com o cinema continuou em 1932 quando escreveu o roteiro “Babaouo” que nunca foi filmado.

Ele também trabalhou com Walt Disney, mas nenhum dos projetos foi realizado. O primeiro, de 1946, seria uma sequência animada para o longa Destino, no estilo de Fantasia. O outro, planejado dez anos mais tarde seria Dom Quixote, e também não chegou a ser concretizado. Foi Hitchcock quem conseguiu levar Dalí a Hollywood. O pintor realizou as sequências de sonho do filme Quando Fala o Coração (1945), além das produções feitas com auxílio de Dalí, uma em 1954 sob a direção de Robert Descharnes, e outra em 1974, para a tevê alemã chamada Viagem à Baixa Mongólia.
Para muitos o que Dalí fez foi pegar elementos do inconsciente freudiano e da técnica renascentista de pintura, resultando entre mágicas de grande brilho. Ele soube orquestrar o delírio do grande público em torno de seus happenings. Com Dalí surge a gestão do que importa mais: o artista ou a obra? O público médio consome mais a vida de Dalí, que se tornou um estereótipo esperado do artista excêntrico.

21 janeiro 2009

Paranóia surrealista de Salvador Dali (1)

Há 20 anos morria o mestre do sonho e da rebeldia. No dia 23 de janeiro de 1989 o artista plástico espanhol Salvador Dalí, considerado sinônimo da pintura surrealista, morreu aos 84 anos no hospital de Figueras (nordeste da Espanha), vítima da insuficiência cardíaca, agravada por uma pneumonia. Desde que ingressou, aos 17 anos, na Escolça de Belas Artes de Madri, Dalí sempre foi leitor de Freud. Foi lá que conheceu o poeta García Lorca e o cineasta Luis Buñuel. Sempre irreverente, Dali desenhou sua própria caricatura e enviou-a aos jornais em 1985, quando já circulavam rumores sobre sua frágil saúde.

Na Alemanha, em 1919, fundava-se a Bauhaus, escola-núcleo do pensamento funcionalista. Era a arquitetura racionalista e sua ênfase no urbanismo, o surgimento do design como um programa ideológico e da arte como ato construtivo, integrado ao mundo das técnicas industriais. O Cubismo, precocemente, e o Construtivismo, paralelamente, instauravam-se como movimentos capazes de acompanhar o próprio desenvolvimento da Ciência moderna, tornando o objeto artístico um fato objetivo, crítico e racional. Arte e Tecnologia pretendiam avançar de mãos dadas, acreditando numa relação positiva entre o indivíduo e o progresso.
Mas na era funcionalista surgia o movimento DADA e, logo a seguir, o Surrealismo, empenhados em desmistificar a utopia racional e progressista de seus contemporâneos. A racionalidade do projeto e à lógica de um sistema organizado, os dadaístas contrapunham a inserção do acaso e da interferência existencial do artista. Já os surrealistas queriam uma total redutibilidade do Indivíduo, enquanto potência ilógica e onírica, face ao mundo da Ordem. É nesce momento que entra Salvador Dalí.
INCONSCIENTE
Integrante do grupo que deu origem ao Surrealismo na pintura (fato anteriormente ocorrido na literatura), Dalí – assim como Marx Ernst. Juan Miró, Hans Arp, Yves Tanguy, André Masson e René Magritte – recuperaram o inconsciente no espaço da arte. Interessados no conteúdo onírico das imagens e no funcionamento simbólico do espaço plástico, os surrealistas trabalhavam a partir da realidade das coisas e da figuração convencional dos objetos banais do mundo, mas num contexto onde as relações entre eles eram absurdas, inesperadas, inexplicáveis.
Para muitos críticos de arte, seu trabalho mais interessante foi realizado nos anos 20 e 30 – era a materialização das imagens insólitas de uma certa realidade interior, há pouco desvelada pela psicanálise. E aprovadas por Freud. E não foi só a imagem do surrealismo que Dalí condicionou. Ele foi um dos que ajudaram a popularizar o inconsciente, uma das noções centrais da nossa cultura psicanalizada.
O cerne da pintura surrealista, para Dali, era o seu caráter irreverente face aos valores burgueses e o mito da sociedade industrial, isto é, interessava-lhe mais o conteúdo simbólico das imagens do que a questão formal da pintura: valia-lhe, pois, o choque pelo escândalo. E ele fez de sua própria vida uma constante performance anti-stablishment, querendo ser, ele mesmo, uma potência viva de denúncia.
MITOLÓGICO
Monarquista, ele não aceitava a idéia dos surrealistas de uma política revolucionária, embora tenha revolucionado a concepção de artista no século 20. Inventou o modelo mitológico do artista do século 20, que um pintor como o norte-americano Andy Warhol ambientou para o mundo chique de Nova Iorque. Sobre sua obra escreveu o conceituado historiador de arte italiano Giulio Carlo Argan: “Salvador Dali traz na visão onírica e cheia de implicações sexuais de sua pintura um delírio de grandeza, uma pomposa retórica neobarroca, uma repugnante mistura de lúbrico e de sacro”.
Depois da 2ª Guerra Mundial, a pintura de Dali se academizou, passando a imitar o classicismo renascentista. O artista passou, então, a expandir suas atividades, criando modas, influenciando a publicidade, inventando móveis, jóias, vestidos, unhas postiças, sapatos musicais para amenizar as caminhadas durante a primavera, etc. Como artista e como homem, Dali foi uma figura controversa, aclamado por uns e negado por outros. Responsável pela revitalização do surrealismo, ele marcaria para sempre o imaginário mundial com seu extravagante bigode, cultivado sob a influência de um dos maiores mestres da pintura espanhola: Diego Velásquez.

20 janeiro 2009

Druuna decide destino dos sobreviventes da tragédia nuclear (2)

Paolo Serpieri antes de criar a heroína lasciva Druuna, fez desenhos para a Larrousse e ilustrações para a Bíblia Sagrada. Mas ganhou dinheiro e fama com os pecados de Druuna, com quem contracena, em algumas histórias sob seu traço, como o personagem Doc. Lançado no Brasil pela Heavy Metal, Druuna é uma das personagens mais excitantes do mundo dos quadrinhos eróticos. Paolo Serpieri é considerado um dos maiores artistas do gênero, com erotismo na dose certa e detalhes enlouquecedores.

Serpieri é um apologista da forma feminina, que não poupa elogios às mulheres brasileiras. Em uma breve visita a Belo Horizonte (MG) em 1997, Serpieri foi um dos principais convidados da 3ª Bienal Internacional de Quadrinhos. Na ocasião, em uma entrevista, ele informou: “Nos anos 70, eu trabalhava com quadrinhos de faroeste e pensava que meu desenho não tinha muito a ver com a ficção científica. Eu tinha resistência ao desenho geométrico, certinho, tecnológico da FC. Mas a fantasia e a ficção dos quadrinhos publicados na Metal Hurlant me fascinavam muito. Como eu ainda tinha muitas histórias para contar com o faroeste, comecei a fundir este gênero com a fantasia. Só depois, nos anos 80, eu cheguei à ficção científica. Fiquei muito impressionado com Alien e Blade Runner de Ridley Scott; aí comecei a fazer uma história em que aparece a deterioração do mundo tecnológico. Quando comecei a desenhar essa história não pensei numa personagem protagonista, mas foi aí que surgiu a Druuna”.
E disse mais: “Enquanto personagem, Druuna surgiu como minha concepção de uma mulher sensual. Ela representa o erotismo e a sensualidade. Mas é como se ela fosse uma mulher que você poderia encontrar, ela é viva, atual, palpável. É como se você pudesse tocá-la, por isso utilizo essa plasticidade nos desenhos e nas formas. Eu a inseri em um mundo em decomposição para criar um contraste entre um corpo perfeito de mulher, que remete à vida e prazer, e o ambiente em decomposição. Em suas histórias, Druuna também aparece em um mundo onírico, realizando uma fuga, da morte e da dor, através do prazer. Meu trabalho responde a uma necessidade pessoal”.

Sobre a questão da relação entre o erotismo e a pornografia ele foi categórico: “Eu penso que a pornografia é a representação do ato sexual. Tanto pode ser chata quanto pode ser excitante. Não entendo quando as pessoas se escandalizam com a representação do ato sexual, que é algo belo. Por sua vez, o erotismo pode ser muito fascinante. Há toda uma série de situações e elementos que se referem ao ato sexual. Chamo de erotismo um olhar de uma bela mulher, um vestido transparente, o movimento dos seios. Para alguns o erotismo é nobre e a pornografia é vulgar; muitas vezes isso é hipocrisia de quem tem medo do prazer. Vou dizer algo perigoso: o erotismo é muito hipócrita e parece muito nobre pois se pensa que o ato sexual é algo vulgar”.

“A qualidade e a impressionante uniformidade do traço que Serpiere conseguiu preservar no decorrer de quase duas décadas de produção das aventuras de Druuna o ajudaram a formatar o hiper-realismo quase fotográfico que ele buscou para os personagens de suas histórias. Foram o resultado do esforço de um artista obstinado em alcançar sempre a perfeição” (...) “Nenhum personagem do cinema ou das histórias em quadrinhos em todos os tempos reuniu tantos atributos físicos juntos quanto Druuna. Tudo isso, à primeira vista, levou a uma leitura superficial da heroína e, não raro, preconceituosa, feita muitas vezes a partir de princípios morais. Inclusive de um bom número de críticos, que a transformaram num clichê erótico. E dos moralistas, que sempre tiveram muito que se sentir incomodados com ela – tanto que suas histórias continuam inéditas em muitos países da Europa, Ásia e América”, escreveu o jornalista e pesquisador Gonçalo Júnior sobre o estilo do artista no seu livro “Tentação à Italiana, um perfil dos mestres do erotismo contemporâneo”, lançado pela Ópera Graphica Editora em 2005.
E concluiu: “Do ponto de vista cultural, para os italianos, Druuna tem uma outra importância visual: a de resgatar, historicamente, as formas cheias das grandes deusas do cinema, antenadas pelo pioneirismo do furacão Brigitte Bardot e, mais adiante, com Barbarella, interpretada no cinema por Jane Fonda -, ambas filmadas por Roger Vadim. Serpieri deu aos homens italianos o velho prazer de olhar para uma bela bunda sem correr o risco da indiscrição ou de um torcicolo. Druuna quase sempre salta da folha de papel a partir de um talento excepcional de um anatomista que a faz próximo do tridimensional, como se ela estivesse fora do papel. E, assim, arrasta a todos para o mundo dos sonhos que idealizou. O mundo de Druuna”.

19 janeiro 2009

Druuna decide destino dos sobreviventes da tragédia nuclear (1)

Sobreviventes de uma catástrofe nuclear partiram numa nave espacial em busca de algum planeta habitável. O comandante Lewis teve sua consciência mantida através dos tempos graças ao formol e ao fluido vital retirado de corpos humanos estrategicamente selecionados pelo computador Delta. A nave, batizada por seus habitantes de “Cidade” é controlada pela inteligência cibernética. Os últimos homens correm perigos. Um deles, Schastar, sofre um mal incurável que se transmite ao menor contato físico. A única salvação contra a ameaça que paira sobre quase toda a população da nave é uma droga com efeitos alucinógenos. Uma eleita terá de decidir o destino da espécie. Seu nome é Druuna. Em troca do remédio, bastante escasso, ela se humilha e se prostitui.

A arte clássica do italiano Paolo Eleuteri Serpieri, os álbuns Morbus Gravis ( do latim doença grave) e Druuna foi elogiada por Fellini. Seus traços realistas são feitos a nanquim e sombreados a lápis, depois pintados a guache e aquarela, quando ganham volume e vida. O resultado é espetacular. A Martins Fontes ia lançar os dois volumes primorosos no Brasil. A Meriberica/Líber, sediada em Lisboa, se antecipou e publicou o seu álbum em português castiço. Mas os direitos seriam apenas para Portugal. As revistas que circularam em nosso mercado foram avidamente consumidas pelos fãs dos personagens de Serpieri. A Martins Fontes recuou.

PRÊMIOS - As histórias da série “Morbu Gravis” começaram a ser desenhadas por Serpieri em1985, para o Charlie Mensuel e editadas originalmente pela Dargaud. Ele começou no mundo dos quadrinhos na revista italiana “Lancio West” (1978). Apaixonado pelo tema Western, ilustrou para Larousse (1980), uma “Historia del Far Wesr” que, juntou a “La India Blanca” e suas colaborações na publicação italiana “Orient Express” lhe valeram o reconhecimento internacional.
Seus quadrinhos Western valeram-lhe o Prêmio Yellow Kit no salão Internacional de Lucca, em 1980. Além de colaborar com a L’Eternauta, Heavy Metal e Orient-Express, publicou suas histórias na revista Pilote. A terceira parte da saga de “Druuna” já lançada em diversos países chama-se “Creatura”. A censura atacou a revista Comic Arte italiana. O editor Rinaldo Traini cobriu os órgãos sexuais dos personagens dos novos episódios de “Druuna”. Sabe-se que o conservadorismo invadiu a Itália, quando algumas editoras foram compradas por órgãos religiosos. Também o conservadorismo está tomando uma boa fatia da cultura norte-americana. Que essa praga (censura) não chegue ao Brasil. Essa ficção científica recheada de erotismo significa para Serpieri pintor figurativo que leciona no Instituto de Arte De Roma uma nova experiência quanto ao tema e estilo. A saga da voluptuosa Druuna está fazendo sucesso eram diversos países.
SUCESSO - Druuna fez tanto sucesso que até virou até jogo de computador. Narra um futuro apocalíptico, em um mundo corrompido por uma estranha doença, onde a protagonista perambula buscando a cura, e respostas. Os quadrinhos são carregados de sensualidade e erotismo. O corpo de Druuna é perfeito e sua nudez contrasta com o resto do cenário: degenerado, podre, sujo.
Ana Lima posou nua como "pantera" para uma Playboy de 1989. Ao comentar sobre quem representaria melhor Druuna no cinema, Serpieri mencionou Ana Lima, e sua "semelhança fascinante. Mas ela não é uma atriz…" O ensaio de Ana Lima foi publicado após a primeira história, Morbus Gravis (1985, pesquisa de preços). Na época, a fonte de inspiração do autor era Valérie Kapriski, atriz francesa. Outras possíveis candidatas a interpretar Druuna, na visão de Serpieri: Jennifer Lopez ("mas não estou inteiramente convencido"), Monica Bellucci, Salma Hayek, e Laetitia Casta.

16 janeiro 2009

Música & Poesia

Jack Soul Brasileiro(Lenine)

Jack Soul Brasileiro
E que som do pandeiro
É certeiro e tem direção
Já que subi nesse ringue
E o país do swing
É o país da contradição...


Eu canto pro rei da levada
Na lei da embolada
Na língua da percussão
A dança mugango dengo
A ginga do mamolengo
Charme dessa nação...

Quem foi?
Que fez o samba embolar?
Quem foi?
Que fez o coco sambar?
Quem foi?
Que fez a ema gemer na boa?
Quem foi?
Que fez do coco um cocar?
Quem foi?
Que deixou um oco no lugar?
Quem foi?
Que fez do sapo
Cantor de lagoa?...

E diz aí Tião!
Tião! Oi!
Foste? Fui!
Compraste? Comprei!
Pagaste? Paguei!
Me diz quanto foi?
Foi 500 reais
Me diz quanto foi?
Foi 500 reais

Olha Tião!
Oi!
Foste? Fui!
Compraste? Comprei!
Pagaste? Paguei!
Me diz quanto foi?
Foi 500 reais
Me diz quanto foi?
E foi 500 reais...

Jack Soul Brasileiro
Do tempero, do batuque
Do truque, do picadeiro
E do pandeiro, e do repique
Do pique do funk rock
Do toque da platinela
Do samba na passarela
Dessa alma brasileira
Eu despencando da ladeira
Na zueira da banguela
Nessa alma brasileira
Eu despecando da ladeira
Na zueira da banguela...(2x)

Quem foi?
Que fez o samba embolar?
Quem foi?
Que fez o coco sambar?
Quem foi?
Que fez a ema gemer na boa?
Quem foi?
Que fez do coco um cocar?
Quem foi?
Que deixou um oco no lugar?
Quem foi?
Que fez do sapo
Cantor de lagoa?...

E diz aí Tião!
Tião! Oi!
Fosse? Fui!
Comprasse? Comprei!
Pagasse? Paguei!
Me diz quanto foi?
Foi 500 réis...

Eu só ponho BEBOP no meu samba
Quando o tio Sam
Pegar no tamborim
Quando ele pegar
No pandeiro e no zabumba
Quando ele entender
Que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E o meu samba, e o meu samba
Vai ficar assim...

Ah! ema gemeu...(5x)
Aaaaah ema gemeu!


Elegia: indo para o leito (John Donne)

Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o Céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu Anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que minha mão errante adentre.
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra a vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente

A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.

15 janeiro 2009

Edgar Allan Poe (1809-1849)


Há 200 anos, no dia 19 de janeiro de 1809, nascia, na cidade de Boston, o poeta, romancista e crítico literário Edgar Allan Poe. Precursor das literaturas policial e de ficção científica, foi também um dos primeiros autores a se dedicar aos contos literários. Sua obra é tão significativa que deixou rastros nos trabalhos de autores como Bradbury, Lovecraft, Doyle, Kafka, Henry James, Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud, Proust, Maupassant, Verne, Thomas Mann, Fernando Pessoa, Machado de Assis e tantos outros.

Ele era um jovem aventureiro, romântico, orgulhoso e idealista. Foi expulsos das universidades por não se enquadrar nos padrões comportamentais daquela época. Boêmio, vivia no luxo, se entregando à bebida, ao jogo e às mulheres. Foi para a Grécia e ingressou no exército lutando contra os turcos. Perdeu-se nos Balcans chegando até a Rússia, sendo repatriado pelo cônsul americano. De volta a América, descobre que sua mãe adotiva havia falecido.

Aos 22 anos, vivendo na miséria, publica Poemas. Já em Baltimore procura pelo irmão Willian e assiste a morte dele. Allan Poe passa a viver com uma tia muito pobre e viúva com duas filhas. Durante dois anos vive em miséria profunda. Mas vence dois concursos de poesias e o editor Thomaz White entrega-lhe a direção do "Southern Literary Messenger".
Em 1833 lança Uma aventura sem paralelo de um certo Hans Pfaal. Dirige a revista por dois anos. Allan Poe gozava de uma certa reputação com leitores assíduos. Depois de sua vida estabilizada, aos 27 anos casa-se com sua prima de 13 anos, Virgínia Clemn. No ano de 1838 trabalha na Button’s Gentleman Magazine na companhia de sua esposa. O casal vivera na Filadélfia, Nova York e Fordham. Em 1847, sofre com a morte de sua esposa vitimada pela tuberculose.
Poe escreveu novelas, contos e poemas, exercendo larga influência em autores fundamentais como Baudelaire, Maupassant e Dostoievski. Mas admite-se que seu maior talento era em escrever contos. Escreveu contos de horror ou "gótico" e contos analíticos, policiais. Os contos de horror apresentam invariavelmente personagens doentias, obsessivas, fascinadas pela morte, vocacionadas para o crime, dominadas por maldições hereditárias, seres que oscilam entre a lucidez e a loucura, vivendo numa espécie de transe, como espectros assustadores de um terrível pesadelo.
Entre os contos, destacam-se O gato preto, Ligéia, Coração denunciador, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo, Berenice e O barril de amontillado. Os contos analíticos, de raciocínio ou policiais, entre os quais figuram os antológicos Assassinato de Maria Roget, Os crimes da Rua Morgue (este considerado o marco inicial do moderno romance policial) e A carta roubada, ao contrário dos contos de horror, primam pela lógica rigorosa e pela dedução intelectual que permitem o desvendamento de crimes misteriosos.
Em seus contos, Poe se concentrava no terror psicológico, vindo do interior de seus personagens ao contrário dos demais autores que se concentravam no terror externo, no terror visual se valendo apenas de aspectos ambientais. Poe ressaltava suas virtudes intelectuais para fugir da desgraça pessoal.
Em 1849, Allan Poe lança O Corvo. Eureka e Romance Cosmogônico lhe atribuem a fama necessária para provocar a censura da imprensa e da sociedade. Desiludido, volta para Richmore e depois vai para Nova York e entrega-se à bebida. Antes de seguir para a Filadélfia, resolve encontrar-se com velhos amigos. Na manhã seguinte, Poe é encontrado por um amigo em estado de profundo desespero, largado numa taberna sórdida, de onde o transportaram imediatamente para um hospital.
Estava inconsciente e moribundo. Ali permaneceu, delirando e chamando repetidamente por um misterioso "Reynolds", até morrer, na manhã do domingo seguinte, aos 39 anos e deixando uma vasta obra em sua vida de sacrifícios e desordem. Era 7 de outubro de 1849, e os Estados Unidos perdiam o gênio visionário, o poeta de amplos recursos e contista conhecido sobretudo por suas histórias de mistério e horror, fonte de inspiração direta para a renovação literária européia no final do século XIX.
A primeira obra de Poe adaptada para o cinema foi O Poço e o Pêndulo (1909), por Henri Desfontaines, há um século. Depois diversos cineastas tentaram adaptar outras obras do escritor, mas nenhuma chegou a qualidade de um Buñuel (que assinou o roteiro do filme dirigido por Jean Epstein em 1928, A Queda da Casa de Usher) e Felini (que dirigiu Toby Dammit, episódio de Histórias Extraordinárias). Agora o aventureiro Sylvester Stallone promete para este ano a estréia da cinebiografia Poe, com roteiro assinado pelo ator. Poe merecia coisa melhor.

14 janeiro 2009

Consciência das palavras (3)

“Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar”, escreveu o poeta Fernando Pessoa em “Livro do Desassossego”. “As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida. Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente".
"E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as idéias, as imagens, tremulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de e das esbatidas, onde um luar de idéia bruxuleia, malhado e confuso”. No final ela completa: “A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha”.
O dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra ao realizar uma oficina sobre dramaturgia atoral (método criado por ele, que tem relação com o ator e a estrutura dramática) em Salvador (setembro de 2008) disse a um jornal local: “Há um grande renascimento da escrita dramática, é um fenômeno em todo o mundo. E é necessário recuperar a palavra, avançando cada vez mais criativamente”. Para ele, o retorno da palavra está acontecendo porque há uma saturação da imagem, da linguagem não-verbal, corporal, gestual. “Há, atualmente, uma demanda muito grande de jovens que querem escrever. É muito importante ver esta nova geração interessada na escrita dramática, no poder da palavra”, frisa.
Tido como um renovador da cena teatral espanhola, o diretor, dramaturgo e teórico do teatro, Sinisterra é autor de obras como “Ay, Carnela!” (adaptada para o cinema pelo diretor espanhol Carlos Saura), “El cerco de Lenigrado” e “El lector por horas”, “El canto de la Rana”, entre outros. Ele também adaptou “Ensaio sobre a cegueira”, do português Saramago, além de ter trabalho pedagógico reconhecido.
O colunista da Folha de S.Paulo, Jorge Coli em seu artigo dominical Ponto de Fuga (“Os que somem no nevoeiro”, 05/10/2008) escreveu: “Estranho poder o das palavras, agenciadas de uma certa maneira, ao encontrar ritmos secretos e correspondências imprevistas. A arte da poesia não se dirige à consciência. Nela, as frases brotam do indizível para melhor a ele nos conduzir.
Na poesia, as palavras morrem como designação e ressuscitam, além da linguagem, como talismãs cheios de poderes que não se explicam. Intuições se infiltram no espírito do leitor e o tomam. É então que elas, as palavras, fazem o coração se apertar, tornar-se frágil. São comoções assim que surgem à leitura de ´Réquiem´, poema em 18 momentos de Lêdo Ivo. Está lá o verso: Às palavras me seguem como cães´. São fiéis e vivas”.

13 janeiro 2009

Consciência das palavras (2)

Onde vão as palavras quando foge da gente, quando voa com os ventos na brisa recente, ou se esconde nos livros da estante ausente. Será que está na memória, história da mente, ou na sensibilidade que a gente nem sente! Norman O. Brown disse: “Somos feitos de sonhos”. Octávio Paz afirmou: “Somos feitos de palavras” (no livro O Arco e a Lira. Nova Fronteira, 1982). O poeta faz amor com palavras.

“Adoro os poetas”, disse o arquiteto João Batista Vilanova Artigas (1915/1985). “O que eles dizem com duas palavras a gente tem que exprimir com milhares de tijolos”. Já o intelectual francês Roland Barthes- foto (1915/1980) disse: “A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras”.
“Palavras são peixes escorregadios, criaturas cobertas de névoa que invocam muitos sentidos diferentes ao mesmo tempo. As palavras são como o morto: um enigma a ser decifrado, travas a ser iluminadas...” (Rubem Alves em Lições de Feitiçaria). “Eu sonho com um poema/cujas palavras sumarentas escorram/como polpa de um fruto maduro em tua boca./Um poema que te mate de amor,/Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido:/Basta provardes o seu gosto...” (Mário Quitana).
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer” (Graciliano Ramos, escritor). “Escrevo os meus poemas procurando o rumor das palavras mais do que o significado delas. Penso que rimo por dentro, e isso é coisa ínsita, não dá em madeira. Meu processo de escrever é ir desbastando a palavra até os seus murmúrios e ali encaixar o que tenho em mim de desencontros. Isso produz uma coisa original como um dia ser ávore. Trabalho, às vezes, dias inteiros para pescar um verso que fique em pé” (Manoel de Barros, poeta).
“Minha relação com as palavras é orgástica. Escrevo porque preciso ter relações com elas para viver em paz. Depois que uso uma palavra nova, ela me beija. Quer dizer que gostou de mim. Eu sou de bem com as palavras que uso porque elas me são” (Manoel de Barros). Esse poeta já foi comparado a Guimarães Rosa pelo seu gosto em inventar palavras. “Eu queria avançar para o começo. Chegar ao acriançamento das palavras”, disse o poeta mato-grossense Manoel de Barros.
“Metade das palavras que usamos não tem nenhum significado, e da outra metade cada homem entende cada palavra segundo os moldes de seu próprio capricho e imaginação”, escreveu o polonês Joseph Conrad para seu amigo Cunninghame Graham. O romancista Conrad percebeu na linguagem a fraqueza das palavras e da realidade que exprimem. Ele tinha plena consciência das limitações da língua. E uma das grandes conquistas de Conrad foi unir as palavras de moda a revelar as fraquezas que elas próprias encenam. Ainda mais notável, aprendeu a fazê-lo numa língua (inglês) que não era a sua. “O Agente Secreto” é um de seus melhores romances.

Martin Heidegger foto (1889/1976) disseque “uma maneira simples de sentir a linguagem é quando ela falta” e lembra que “a palavra é a morada do ser”. Se algo existe, existe porque sua essência pode ser pronunciada. E pode ser pronunciada porque a palavra constitui aquele que diz.. Em uma conferência intitulada “A Essência da Linguagem”, ao interpretar um poema de Stepfan George (1868/1933), se atém num verso que diz: “Triste eu aprendi a renunciar: nenhuma coisa que seja onde a palavra faltar”. O pensador vê esta sentença como o aprendizado de uma renúncia que re-anuncia uma nova relação da palavra com a coisa que é nomeada por ela. Uma afirmação de uma plena abnegação por parte do poeta ao que lhe é mais vital: a palavra inaugural. Para o criador, esta experiência originária com a linguagem é motivo da mais intensa alegria. A tristeza da renúncia que lhe abate não significa exatamente uma perda. Ao mencioná-la, o poeta está sugerindo a condição de um quieto resguardo, necessário para o brilho do inesperado. “Tristeza não é abatimento e nem depressão. Em sentido próprio, a tristeza articula-se no relacionamento com a máxima alegria; quando a alegria se retrai, torna-se hesitante e se resguarda na retração”, diz Heidegger. A articulação de tristeza e alegria é que permite, na tensão que rege a união dos opostos, o brilho de uma e a opacidade da outra.
“Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo. Sou prisioneiro da linguagem”, disse Wittgenstein.
Huzun é um termo que, em turco, significa melancolia, sentimento coletivo de pesar. Este sentimento compartilhado por todos os habitantes de Istambul (Turquia), por conviverem nas ruas, todos os dias, com ruínas que lembram ter sido esta a capital de grandes impérios no passado, o Bizantino e o Otomano. A Turquia tem um histórico dilema entre tornar-se européia ou voltar-se definitivamente para o Oriente.

12 janeiro 2009

Consciência das palavras (1)

Em maio de 2000, Susan Sontag (1933/2004), uma das mais respeitadas intelectuais americanas, por ocasião do recebimento do prêmio Jerusalém, proferiu o seguinte discurso: “Nós, escritores, ficamos preocupados por causa de palavras. Palavras significam. Palavras apontam. São flechas. Flechas cravadas na pele dura da realidade. E quanto mais portentosa, mais geral for a palavra, mais também se parecerá com um quarto ou um túnel. Elas podem expandir-se, ou bater em retirada. Podem impregnar-se de mais cheiro. Muitas vezes nos farão lembrar outros quartos, onde gostaríamos de morar, ou onde olhamos que já estamos vivendo. Elas podem ser espaços onde não pode,os habitar, pois perdemos a arte ou a sabedoria para tal. E por fim aqueles volumes de intenção mental que não sabemos mais como residir serão abandonados, lacrados com tábuas, trancados”.

“O que queremos dizer, por exemplo, com a palavra ´paz´! Uma ausência de conflito! Um esquecimento! Perdão! Ou um grande cansaço, uma exaustão, um esvaziamento do rancor!. Parece-me que o que a maioria das pessoas entende por ´paz´ é a vitória. A vitória do seu lado. É isso o que ´paz´ significa para ´eles´, por enquanto, para os outros, paz quer dizer derrota”, disse no discurso ao receber o prêmio literário.

Já o filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard em sua obra “Senhas” (Difel, 2001) disse que “as palavras são portadoras, geradoras de idéias, mais não só porque transmitem essas idéias e aquelas coisas, mas porque elas próprias se metaforizam, se metabolizam umas nas outras, segundo uma espécie de evolução em espiral. É assim que elas são bateleiras de idéias. As palavras têm para mim extrema importância. Que elas têm vida própria e que são, portanto, mortais, é algo evidente para todo aquele que não se prende a um pensamento definitivo, de intenção edificadora. É o meu caso. Há na temporalidade das palavras um jogo quase poético de morte e renascimento: as metaforizações sucessivas fazem com que uma idéia se torne sempre algo mais e diverso do que antes era – uma ´forma de pensamento´. Pois a linguagem pensa, nos pensa e pensa por nós – quando menos tanto quanto nós pensamos através dela. Também aqui há uma troca, que pode ser simbólica, entre palavras e idéias. Acredita-seque progredimos impulsionados pelas idéias – pelo menos é esta a fantasia de todo teórico, de todo filósofo. Mas são igualmente as próprias palavras que geram ou regeneram as idéias, que fazem o trabalho de ´embreagens´. Nos momentos em que assim atuam, as idéias se entrelaçam, se misturam ao nível da palavra, que serve, então, de operadora – mas uma operadora não-técnica – em uma catálise em que a própria linguagem está em jogo. Isso faz dela um investimento pelo menos tão importante quanto as idéias”.

O poeta e prosador brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902/1987) escreveu em 1942 (José. “O lutador”. In Poesia completa): “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encanta-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas acaricia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça”.

Já o poeta e pensador francês, Paul Valéry (1871/1945) disse: “É necessário mais espírito para prescindir de uma palavra do que para empregá-la”. O ensaísta e poeta austríaco Karl Kraus (1874/1936) afirmou: “Quanto mais de perto se encara uma palavra, com mais distância ela nos encara de volta”. É do filósofo e teórico inglês Jeremy Bentham (1749:1832) a citação: “E se o significado de todas as palavras, especialmente de todas as palavras pertencentes ao campo da ética, (...) algum dia vier a ser fixado! Que fonte de perplexidade, de erro, de discórdia, e até mesmo de derramamento de sangue não seria estancada!”.

O filósofo austríaco radicado na Inglaterra, Ludwig Wittgenstein (1889/1951) escreveu em 1940 (Culture and value): “Uma teologia que insiste no uso de determinadas palavras e frases, ao passo que proibi outras, em nada torna as coisas mais claras (...) Ela gesticulada com palavras, como se poderia dizer, porque deseja dizer algo e não sabe como expressa-lo. A praticada às palavras o seu significado”.

Já o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844/1900) disse: “São as palavras mais tranqüilas que trazem a tempestade”. E foi radical: “Deveríamos nos livrar, de uma vez por todas, da sedução das palavras!”, escreveu em 1886 em “Além do bem e do mal”. Mas em 2003 Adriana Falcão lançou seu Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento informando: “É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido. (...) “A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois”.

09 janeiro 2009

Música & Poesia

O Estrangeiro (Caetano Veloso)

O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?

O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem

Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante deareia brancae de óleo diesel
Sob meus tênis
E o Pão de Açucar menos óbvio possível
À minha frente
Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas
À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura
Do branco das areias e das espumas
Que era tudo quanto havia então de aurora

Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
E uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina
(pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)

E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
Como que sampleados num sinclavier:

"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do espirito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos"
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela:

É um desmascaro
Singelo grito:
"O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú

E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singer
but i've given up all attempts at perfection").




Tecendo a Manhã (João Cabral de Melo Neto)

"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".

08 janeiro 2009

Decifrando a transa (1972) de Caetano Veloso

Gravado integralmente em Londres, Transa (1972) é o terceiro disco solo de Caetano Veloso e um dos melhores do artista. Ele reuniu os amigos Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Souza para o trabalho de gravação, uma mistura de línguas, ritmos e sonoridades inspiradas nas sete faixas. Transa, transe e trânsito estão relacionados com o experimentalismo e as tranças litero-musicais do poeta Gregório de Matos (Triste Bahia), do compositor popular Monsueto (Mora na Filosofia), na homenagem aos Beatles (You Don´t Know Me – Você Não Me Conhece), João Gilberto (em um trecho de Saudosismo), Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Zé do Norte (“os óio da cobra verde”), Edu Lobo (“laia, ladaia, sabatana Ave-Maria”), entre outras preciosidades em seu processo de criação.

Se o LP anterior tinha tons sombrios da cinzenta paisagem londrina (Caetano Veloso, 1971), onde a capa traz um close do rosto do artista com fisionomia fechada e um espesso agasalho de pele e a vasta cabeleira em um exílio forçado, o disco de 1972 é o retorno, onde o Caetano múltiplo pede para ser decifrado. Você não me conhece, ele assume na primeira faixa.

A sensual "You don´t know me" abre o disco com um excelente arranjo acústico e um Caetano sutil e interpretativo. A música incidental cantada por Gal Costa (Saudosismo) foi gravada originalmente por Caetano no compacto duplo com os Mutantes. “Por que não me mostra (o que está) atrás do muro?”, ele pede cantando.

You don’t know me/Bet you’ll never get to know me/You don’t know me at all/Feel so lonely/The world is spinning round slowly/There’s nothing you can show me/From behind the wall//"Nasci lá na Bahia/De mucama com feitor/O meu pai dormia em cama/Minha mãe no pisador"//"Laia ladaia sabadana Ave Maria/Laia ladaia sabadana Ave Maria"//"Eu agradeço ao povo brasileiro/Norte, Centro, Sul inteiro/Onde reinou o baião.

Em seguida, o bilingüismo de "Nine out of ten" (Nove em Cada Dez) é acompanhado por uma levada meio samba, meio nordestina com uma sonoridade repleta de ecos, lembrando um show ao vivo. “A minha melhor música em inglês. É histórica. É a primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos de reggae, uma vinheta no começo e no fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul MacCartney. Eu e o Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Marley e The Wailers foram a melhor coisa dos anos 70”, revelava Caetano na época. A música reflete a expansão do eu, o encontro do poeta com o prazer de viver, livre (“I´m alive”)

Walk down Portobello road to the sound of reggae/I’m alive/The age of gold, yes the age of/The age of old/The age of gold/The age of music is past/I hear them talk as I walk yes I hear them talk/I hear they say/Expect the final blast/Walk down Portobello road to the sound of reggae/I’m alive//I’m alive and vivo muito vivo, vivo, vivo/Feel the sound of music banging in my belly/Know that one day I must die/I’m alive//I’m alive and vivo muito vivo, vivo, vivo/In the Eletric Cinema or on the telly, telly, telly/Nine out of ten movie stars make me cry/I’m alive/And nine out of ten film stars make me cry/I’m alive

E o baiano explora composições antigas como a bela "Mora na filosofia" (de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos) carregado de tristeza e terminando como uma catarse, ou mesmo a impactante "Triste Bahia" onde mistura Gregório de Mattos com o samba de roda e jingadas de capoeira.. Há uma sonoridade crescente dos instrumentos afro-brasileiros, a começar pelo som do berimbau.

Triste Bahia, oh, quão dessemelhante…/Estás e estou do nosso antigo estado/Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado/Rico te vejo eu, já tu a mim abundante/Triste Bahia, oh, quão dessemelhante/A ti tocou-te a máquina mercante/Quem tua larga barra tem entrado/A mim vem me trocando e tem trocado/Tanto negócio e tanto negociante//Triste, oh, quão dessemelhante, triste/Pastinha já foi à África/Pastinha já foi à África/Pra mostrar capoeira do Brasil/Eu já vivo tão cansado/De viver aqui na Terra//Minha mãe, eu vou pra lua/Eu mais a minha mulher/Vamos fazer um ranchinho/Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua/E seja o que Deus quiser//Triste, oh, quão dessemelhante/ê, ô, galo canta/O galo cantou, camará/ê, cocorocô, ê cocorocô, camará/ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos embora camará/ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará/ê, triste Bahia, ê, triste Bahia, camará/Bandeira branca enfiada em pau forte…//Afoxé leî, leî, leô…/Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte…/O vapor da cachoeira não navega mais no mar…/Triste Recôncavo, oh, quão dessemelhante/Maria pegue o mato é hora…/Arriba a saia e vamo-nos embora…/Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora…//Oh, virgem mãe puríssima…/Bandeira branca enfiada em pau forte…/Trago no peito a estrela do norte/Bandeira branca enfiada em pau forte…/Bandeira…

Segue a canção “It's a Long Way” que faz referências explícitas aos Beatles. Começa lenta, termina como começou, mas da metade até quase o fim vai crescendo e agregando aos versos da canção alguns outros versos de músicas antigas. Lembrando os Beatles naquela canção “The Long And Winding Road” (no LP Let it Be) ele canta “It´s a Long Way” (É Um Longo Caminho) com um registro de voz que passa por vários estágios, de alegria e tristeza, onipotência e fragilidade. (Acordei esta manhã cantando uma uma velha canção dos Beatles). Há sutilezas na pronuncia da palavra “long” onde se pode entender “lone” (só) e “London”, lugar do exílio. E a composição agrupa baião, rock, bossa nova numa versatilidade apaixonante. A música é toda baiana, no ritmo cadenciado, bom de se ouvir na rede. Haja balanço.

Woke up this morning/Singing an old, old Beatles song/We’re not that strong, my lord/You know we ain’t that strong/I hear my voice among others/In the break of day/Hey, brothers/Say, brothers/It’s a long, long, long, long… way//Os óio da cobra verde/Hoje foi que arreparei/Se arreparasse há mais tempo/Não amava quem amei//It’s a long, long, long, long… way//Arrenego de quem diz/Que o nosso amor se acabou/Ele agora está mais firme/Do que quando começou//It’s a long road, it’s a long, long, long, long…/It’s a long road, it’s a long and widing road…/Long and widing… road/It’s a long road, it’s a long, long, long, long…//A água com areia brinca na beira do mar/A água passa e a areia fica no lugar//It’s a hard… hard, long way//E se não tivesse o amor/E se não tivesse essa dor/E se não tivesse sofrer/E se não tivesse chorar/E se não tivesse o amor//No Abaeté tem uma lagoa escura/Arrodeada de areia branca…/Woke up this morning…

Há levadas experimentais como "Neolithic Man" que não perde o ar brasileiro e a poética atemporal em torno do olhar (“você não me verá/você não verá”), do conflito entre o ver e o não-ver.

I’m the silence that’s suddenly heard/After the passing of a car/I’m the silence that’s suddenly heard/After the passing of a car/I’m the silence that’s suddenly heard/After the passing of a car/Spaces grow wide about me/Spaces grow wide about me/If you look from your window at the morning star/You won’t see me…/You’ll only see…/That you can’t see very far/God spoke to me/You’re my son/And my eyes swept the horizon/Away/Que tem vovó pelanca só/Que tem vovó pelanca/You won’t see me…/Spaces grow wide about me

O disco se encerra com “Nostalgia (That's What Rock'n'Roll is All About)”, homenagem ao rock-blues curto, de duas estrofes rápidas, com o detalhe de Gal Costa imitar gaita na primeira e, na segunda, a gaita "real" ser tocada por Angela Ro Ro. E na composição ele revela valores contrário à ideologia burguesa como o acordar tarde, roupas extravagantes, movimento hippie e o comportamento marginal.

You sing about waking up in the morning/But you’re never up before noon/You look completely different from those straights/Who walked around on the moon/The clothes you wear/Would suit and old times baloons/You’re allways nowhere/But you’ll realize pretty soon/That’s all that you care/Isn’t worth a twelve bar tune//You won’t believe you’re just one more flower/Among so many flowers that sprout/You just feel faintly pround when you hear they shout/Very loud: "you’re not allowed in here, get out"/That’s what rock’n’roll is all about/That’s what rock’n’roll is all about/I mean, that’s what rock’n’roll was all about.

O que se observa nesse trabalho é a mistura de nosso ritmo com a sonoridade estrangeira, numa fusão de qualidade e profundidade pouco realizada antes dele. Em seu processo criativo ele utilizou da estética da inclusão, o uso da repetição (para o fluir do som) e transformar essa expressão artística (a música) como uma linguagem que permite transportar o ser ao infinito. Há nesse disco um trabalho afinado e identificado com experiências renovadoras do som. Para ouvir e re-ouvir sempre.