31 julho 2015

Politicamente segregados



O leitor está cada vez mais buscando notícias em suas incursões online. O resultado disso é que o
público seleciona o tipo de notícias e opiniões de que mais gosta. Não deseja informações confiáveis, e sim as que confirmem as ideias preconcebidas. Um bom exemplo disso é que os norte americanos vêm se segregando em comunidades, clubes e igrejas onde são cercados por pessoas que pensam como eles. Em seu livro editado em 2008, “A grande classificação: porque a divisão da América em agrupamentos de ideias iguais nos está dividindo”, de Bill Bishop, ele diz que quase metade dos americanos vive em condados que votam por maioria avassaladora em candidatos democratas ou republicanos. Nos anos 60 e 70, em eleições nacionais igualmente disputadas, só cerca de um terço dos eleitores vivia em condados que apresentavam maiorias avassaladoras nas eleições.

“O país está ficando mais politicamente segregado – e o benefício que deveria advir da presença de uma diversidade de opiniões se perde para o sentimento de estar com a razão que é próprio dos grupos homogêneos”, escreve Bishop. Além de mostrar que os americanos demonstram menos tendência a discutir política com pessoas de visões diferentes, o declínio da mídia noticiosa tradicional acelera a ascensão de ideias preconcebidas. O perigo disso tudo é que esse noticiário autosselecionado aja como entorpecente como aconteceu nos anos 50 quando um obscuro psiquiatra do sistema judiciário de Nova York, Frederick Werthmam escreveu um livro, A Sedução dos Inocentes, alertando aos pais que as história em quadrinhos são veículos que aumentam a violência juvenil e não traz benefício aos leitores. Todos seguiram a cartilha de Wertham e o resultado agora prova o contrário.


No Brasil a imprensa está se transformando numa instância de uma sociedade abandonada e agredida por muitas de suas autoridades. O Ministério Público, no cumprimento de seus deveres constitucionais, se sente respaldado pela sociedade. E o Judiciário deveria seguir essa linha contra a a corrupção e à altura da indignação nacional. O jornalista deve investigar, obter provas concretas do que vai ser publicado. A informação é a base da sociedade democrática. É preciso melhorar os controles éticos da notícia, combater as injustas manifestações de prejulgamento. Jornalismo não existe onde não há liberdade. No jornalismo diário, numa crise política como a atual, não se pode ter a dimensão do todo antes que o todo exista. Por isso os jornais não podem contar uma história arrumada, é no processo diário que a coerência se constrói, que o sentido se forma.

O jornalista é o profissional que estabelece vínculos entre os fatos corrente e passados, provocação estimula o raciocínio do leitor/ouvinte/telespectador, e procura ainda extrair disso tudo alguma perspectiva que sinalize o futuro. Tudo isso com princípios éticos, sem se deixar contaminar por influências políticas ou interesses pessoais. O desafio hoje é permitir que o leitor entenda os fatos, pois existe uma avalanche de informações. A função do jornalista é buscar a verdade camuflada através da verdade aparente. Ser jornalista hoje é ter perseverança, vontade e amor pela profissão, já que os jornalistas ganham mal e não há incentivos para a realização do trabalho. É tentar ser uma testemunha do seu tempo.

Aprendemos eticamente nos bancos das faculdades que a preservação da verdade (ainda que subjetiva) e a apuração de fatos através de fontes idôneas (se possível na investigação junto a especialistas), é fator primário a ser observado na apuração de qualidade. Somos seres carentes de informação, fontes, verdades e de espaço para veiculação de nosso material.

Por que as pessoas não prestam atenção na política?. São poucas as que se interessam pelo assunto. O desinteresse pela política e a capacidade do cidadão comum estabelecer uma ponte entre o que ocorre no poder e seus interesses é muito grande. Sabemos que o Brasil recuperou há muito tempo todos os seus direitos políticos, as eleições livres são rotineiras, mas a distribuição de renda ainda é uma vergonha. A escolaridade do brasileiro vem crescendo, a taxa de mortalidade infantil decrescendo. Afinal o que está acontecendo?. A política é fundamental no cotidiano dos indivíduos. Ela influencia na geração de emprego, no valor dos salários, na qualidade da educação, nos transportes públicos e programas assistenciais. Enfim, no dia adiado cidadão, e porque essa falta de interesse?.

Uma pesquisa divulgada pelo IBGE informou que 53,3% de jovens entre 18 e 24 anos (73% no Nordeste) estão matriculados no ensino fundamental (eles deveriam estar cursando faculdade pela faixa etária). Se for fazer um teste com esses jovens, muitos deles não entendem o que leem. E se não entendem não sabem o que acontecem ao seu redor. Fecha o ciclo. Este é o Brasil... (Texto escrito em 2012)


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30 julho 2015

País do covering



Você sabe o que é covering! É discriminação disfarçada. Uma forma de discriminação sutil pós fase   não usam seus cabelos crespos naturais.
de discriminação direta. Trata-se de uma forma introjetada onde o discriminado deixa de manifestar sinais mais marcantes de sua identidade, como por exemplo, os gays que não podem andar de mãos dadas, ou os negros que

O Brasil é o país do covering! Segundo o antropólogo da UERJ, Sérgio Carrari, “na medida em que os negros ascendem socialmente e assumem um certo padrão de comportamento, de vestimenta e de linguagem eles passariam por um processo de branqueamento e deixariam de ser tratados como negros”.

Será que em pleno século 21, especialmente nos grandes centros urbanos onde muita gente que se orgulha de ser livre de qualquer discriminação, tem pessoas que ainda não pode assumir sua
identidade cultural? Questões sobre direitos civis, sobre preconceito e sobre assimilação ainda não estão resolvidas. Exemplos? Nas entrevistas para empregos, muitos jovens de Salvador afirmam que não poderiam utilizar cabelo rastafari porque não pegava bem já que os clientes do shopping não gostam do visual afro.

Se antes a discriminação era direta, ou seja, contra mulheres, negros, gays, deficientes físicos. No século 20, onde a luta pelos direitos civis tornou isso ilegal, agora, a nova forma de discriminação é sutil. Não contra todos os negros, mas somente contra aqueles que usam cabelo diferente.

O professor de Direito e reitor na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Kenji Yoashino, criou um novo termo para essa questão: Covering, algo que pode ser traduzido como um acobertamento, um disfarce. “Na minha pesquisa para escrever sobre o covering, ou a discriminação disfarçada, me deparei com um provérbio brasileiro: ´O dinheiro empobrece´. Os negros americanos também conhece isso: usam terno para trabalhar porque dizem que são mais respeitados vestidos dessa maneira. Mas, quando estão com roupas de ginástica,
são mal vistos ate pelos vizinhos, porque, aí, são associados a bandidos. Ter o que eu chamo de disfarce faz toda a diferença entre ser um negro bom ou um negro mau”, explica Yoashino.

O que falta no mundo de hoje é respeito. As pessoas têm que entender que existem diferenças e respeitar isso. Alisar o cabelo para tentar se enquadrar no que a sociedade exige para determinados grupos de pessoas não é o correto. Se enquadrar em certos padrões de respeitabilidade seja no modo de se vestir, de ser, de estar para ficar indistinguível é fazer concessão para ser aceito pela sociedade na sua diferença. Um preço nessa aceitação para ser discreto e não trazer sinais muito visíveis dessa diferença. E quem desafia essa situação? As leis garantem igualdade, mas as pessoas não, sempre cobrando dos outros a sua própria imagem.

É preciso ter força para mostrar que todos são iguais nos direitos, e diferentes na maneira de pensar,
de ser e de estar e procurar sempre uma forma de resistência, consciente. Um bom exemplo de resistência é o do escritor americano James Baldwin que, em meados do século passado, usou a literatura para se afirmar como negro e homossexual.

Como bem escreveu o escritor brasileiro Luis Capucho (Rato), as pessoas normais vivem mais à superfície, mais à flor da pele do que outras, sempre submersas, meio sem o fôlego necessário à vida social, como os peixes que vivem mais no fundo do mar, portanto mais nas trevas, mais solitários, parados, diferentes, mais no fundo da vida. Os da superfície que dão movimento, são quem decide para que direção vai a vida, porque, com o temperamento expansivo, as atitudes e as palavras são dominantes  O assunto é complexo e é preciso um novo olhar para denunciar formas nada sutis de discriminação e preconceito. Pense e reflita sobre essa questão. (Texto escrito e publicado neste blog em 2007)
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29 julho 2015

Diversidade em questão



A ideia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de
visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. “Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem todos têm o mesmo horizonte”, disse Konrad Adenauer. O brasileiro tem muita dificuldade em aceitar a diversidade. Não tem consciência de que nosso país é um viveiro de diferenças, desde as espécies da fauna e da flora e diversificadas regiões geográficas até nossa enorme variedade humana, cultural, religiosa e linguística. E por que isso? Para muitos, essa nossa mistura evoca a ideia de inferioridade. Esse pensamento retrógrado veio de cinco séculos passados, de uma ideologia eurocêntrica que dizia que o elemento branco conquistador é superior. Essa ideia está na base da nossa formação desde o século 16.

Os primeiros jesuítas que vieram ao Brasil escreveram cartas informando que a miscigenação entre brancos, índios e negros acarretaria um gradual branqueamento, correspondente a uma evolução para esses contingentes humanos tidos como inferiores, menos inteligentes. Esses pensamentos atravessaram séculos e geraram preconceito, exclusão, vergonha e estão presente no imaginário coletivo.

No século 16 o povo ibérico queria expandir seus territórios e sua visão de mundo se baseava na racionalidade e no dogma cristão. Os povos milenares que ocupavam as Américas se relacionavam com o meio ambiente e tinha uma maneira totalmente distinta dos europeus. O encontro entre esses dois grupos humanos (ibéricos e americanos) gerou povos híbridos a partir da subordinação violenta do ameríndio ao europeu. Os valores e interesses da civilização branca foram impostos às custas de negação de valores humanos dos povos indígenas.

O antropólogo Darcy Ribeiro disse que o pai do povo brasileiro é branco, mas a mãe que o gerou é índia. O filho desse casal fundador é um mestiço bastardo e desorientado. Os colonizadores faziam questão de rebaixar a figura materna, gerando o sentimento de que nossa gente tem uma origem desprovida de valor. Esse foi todo o problema histórico que gerou o sentimento incômodo com a diferença.

E como disse o analista Roberto Gambini, “o amor se nutre da diversidade do outro em relação a mim. Amor não é fusão, é aceitação daquilo que não sou eu. Se todos fossem iguais, não seria necessária grandeza alguma, apenas uma boa acomodação. O Brasil é um país que clama por um amor generoso pelo diferente e por uma compreensão da riqueza que nasce da alquimia das diferenças. Mas nada disso está muito claro em nossa mentalidade coletiva. Falta foco, faltam linhas que aprofundem e direcionem essa reflexão. Ainda não descobrimos que aprender a respeitar e conviver com diferentes maneiras de ser nos faz crescer como seres humanos”.

Educação é a única coisa que pode promover a ascensão social da próxima geração das camadas menos favorecidas e gerar mudança social. É preciso tolerância, respeito e compreensão do valor da diversidade, aliados a um gradativo nivelamento das diferenças sociais.

Uma pesquisa desvendou a complexidade do perfil do povo brasileiro. Preconceituoso, conservador ou mesmo um pouco acomodado, o Brasil é um país que, em muitos aspectos, é completamente diferente do que se imagina. Foi a essas e a outras conclusões que chegou o sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alberto Almeida, quando concluiu o livro “A Cabeça do Brasileiro” (Editora Record). Algumas conclusões chegam a ser óbvias, como o fato de que grupos sociais com menos escolaridade apresentam mais resistência ao pluralismo de ideias. Outras chegam a ser preocupantes, como a pouca mobilização dos brasileiros para lutar por causas coletivas, como melhores ambientes de trabalho e salários mais justos. 

Apesar disso, o autor explica que a tendência mundial é a do individualismo. Além disso, o preconceito ainda está muito presente no dia-a-dia da população, afetando diretamente os processos de recrutamento e seleção e dificultando o aproveitamento do famoso conceito de ‘diversidade’ organizacional. Assim, mulheres e negros continuam a receber salários menores, enquanto homossexuais são alvo de piadas dos colegas de trabalho. Segundo o professor, “as pessoas de escolaridade baixa são mais tradicionalistas, enquanto aquelas de escolaridade mais elevada aceitam mais o pluralismo, as diferenças, o novo. O brasileiro ainda reivindica pouco, reclama pouco. É um povo que evita o conflito. Ao reivindicar por melhores salários ou promoções, melhores condições de trabalho, a busca costuma ser mais individual do que coletiva, mas isso não é algo exclusivo do Brasil. É um fenômeno mundial”.
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