31 dezembro 2021

Ano de Yemanjá

 

O ano de 2022 tem início neste sábado, o dia de Yemanjá. Segundo os astrólogos chineses, o ano é do Tigre. Entre nós é da rainha das águas. É a dona das águas, esposa de Oxalá, mãe de todos os orixás. Veste azul, suas contas são transparentes. Pedras e conchas são seus símbolos. Seu dia é sábado e usa abebé prateado. Ebó de milho branco com azeite e cebola também é de seu agrado. No sincretismo afro-católico corresponde a Nossa Senhora da Conceição. Sua saudação é Odoiá!.

 


Deusa das águas, mares e oceanos, esposa de Oxalá e mãe de todos os Orixás, é a manifestação da procriação, da restauração, das emoções e símbolo da fecundidade. Yemanjá: Ye-Omo-Yá_mãe de todos os peixes, que são seus filhos e estão contidos em suas estranhas de água. Está associada ao poder genitor, a interioridade, aos filhos contidos em si mesma. Seu adedé (leque) simboliza a cabeça mestra. Ela é muito bonita, vaidosa e dança com o obebé (espelhinho) e pulseiras.

 

Na Nigéria ela é patrona da sociedade Geledes, sociedade feminina ligada ao culto das Yamis, as feiticeiras. No Rio de Janeiro, Santos e Porto Alegre, o culto a Yemanjá é muito intenso durante a última noite do ano, quando centenas de milhares de adeptos vão, cerca de meia noite, acender velas ao longo das praias e jogar flores e presentes no mar. No dia 02 de fevereiro a festa é nas águas de Salvador. Em 2022, Yemanjá e Exu caminharão juntos para aliar a esperança à motivação no intuito de trazer mais proatividade na luta diária.

 


Maria Bethânia é filha de Iansã, a rainha dos raios e dos ventos. Ela é a menina de Oyá, e também filha de Ogum e Oxóssi. Candomblecista, a abelha rainha canta sobre sua fé em diversas músicas de sua obra. Iemanjá não ficaria de fora: “Yemanja Rainha do Mar” é de composição de Pedro Amorim e Sophia De Mello Breyner: Quanto nome tem a Rainha do Mar?/Quanto nome tem a Rainha do Mar?/Dandalunda, Janaína/Marabô, Princesa de Aiocá/Inaê, Sereia, Mucunã/Maria, Dona Iemanjá..”. Na canção de Dinoel, Vicente Mattos, Arlindo Velloso, Marisa Monte interpreta alguns dos nomes pelos quais Iemanjá é conhecida: “Oguntê, Marabô/Caiala e Sobá/Oloxum, Ynaê/Janaina e Yemanjá/São rainhas do mar”.

 

“O mar serenou quando ela pisou na areia/Quem samba na beira do mar é sereia“, canta Clara Nunes na faixa “O Mar Serenou”. Filha de Ogum e Iansã (orixás do ferro e dos ventos e raios, respectivamente), a artista em diversas ocasiões cantou sobre Iemanjá.  Dorival Caymmi, o “Buda Nagô“, em seu terceiro disco, de 1957, “Caymmi e o Mar“, ele lançou “Dois de Fevereiro” e outras canções em homenagem à Iemanjá e ao mar: “Dia dois de fevereiro/Dia de festa no mar/Eu quero ser o primeiro/Pra salvar Yemanjá”.

 

22 dezembro 2021

O amor dá sentido a vida

 

Não sei porque estou escrevendo nesta noite de sábado. Sim, não sei porque. Confortar a alma, talvez. Sei que estou só. Simplesmente só. Fagner toca na vitrola e eu choro a sua ausência. São 22h30min. Jorginho e Sérgio passaram aqui com três rapazes. Todos alegres vão descobrir a noite.  Eu fiquei aqui no quarto pensando em ti. Esperando um telefonema, uma carta ou algo de você que sei que não vem. E volto a chorar.  Os olhos estão encharcados de lágrimas...como gostaria de te-lo aqui comigo. Como é difícil conviver com a solidão.

 


Durante o verão você brilhou comigo. Em cada canto da cidade estavaamos juntos, unidos. Lembranças....a passagem do  ano e nós no Fantoches brincando, a noite cansado, dormimos juntos. O feriado do dia primeiro a sua fuga para as festas de largo e depois o arrependimento. E nos dias que se seguiram, foram todos de festas. E você não perdia uma. Eu perdia você naqueles momentos. Mesmo assim não censurava. Você era a própria festa. A lavagem do Tororó e a nossa farra. A minha fuga para Olinda e o seu perdão. O nosso encontro louco no último dia de folia. Seus olhos brilhavam e sua boca ardia de desejos. Os nossos abraços em Arembepe, o rolar na areia,os beijos....tudo isso são momentos felizes. Como posso esquecer? Você é uma presença forte em minha vida. Uma coisa que já faz parte de mim. Agora mesmo estou pela metde. Confuso. Sem saber o que fazer. Minha outra parte está longe de mim. Com certeza no inverno de Conquista. Enrolado nos cobertores. E aqui, neste final de verão, volto a ficar só. É terrível.

 


Enquanto uma parte de mim delira na estranheza desta solidão, a outra parte é só vertigem Traduzir essas partes se faz necessário. E quando me afundo em mim, sinto  saudades, porque dentro de mim tem você. E é você que eu procuro neste quarto vazio, nesta noite, neste mundo, nesta vida. Dá vontade de jogar tudo pra cima e correr ao seu encontro. Viajar hoje mesmo. Agora. Porque não faço? Daqui há algumas horas vou descansar esta cabeça pesada no travesseiro e dormir. E tenho  certeza que vou sonhar com você perto de mim. Sonha sim....pelo menos é alguma coisa...melhor do que nada. Mas o que acontece? Será que vai ser sempre assim. No melhor, a separação. Não consigo me conformar. Sei que sou apressado no querer as coisas. Mas desta vez as dores da separação são muito fortes. Acho que é a primeira vez, neste 1982, que passo um fim de semana sem você em Salvador. E a dor quem salva? A esperança de t encontrar amanhã. Ela é quem dá força pra continuar nessa vida.

 


Levanto e troco o disco  de Alceu Valença pelo de Simone. Milton Nascimento e Fernando Brant me conforta com seu poema Amar. “Amar é a melhor maneira de viver”, diz um trecho do poema. “É o que a gente tem de bom”. E é desses dois poetas que transcrevo Amor Amigo, um trecho: “Para mim você é a luz/que revela os poemas que fiz/me ensina a viver/me ensina a amar/quem conhece da terra e do sol/muito sabe os mistérios do mar”. Mais uma: “Um dia ele chegou tão diferente/do  seu jeito de sempre chegar/olhou-a de um jeito mais quente/do que sempre costuma olhar/E não mal disse a vida tanto o quanto/era seu jeito de sempre falar....”

 


Lembra? Sem você a vida para mim nada significa. Te amo e  tempo não varreu isso de mim. O fruto que tenho é o bastante para querer. Para amar. E o amor é o que nos guia, nos une. E por mais que eu diga ou escreva, é sempre bom lembrar que o amor é tudo na vida. É ele que dá sentido a vida. É ele que nos faz viver...Falta poucos minutos para meia noite. O piano de Egberto Gismonti corta a noite e a voz suave de Olivia Byington torna-se mais clara, mais crua. E eu volto a chorar, mais forte. Não sei porque, mas esta canção me faz mais fundo, mais mudo. “A minha solidão é sua/De certo sei que você vaga/Em qualquer parte/Sob essa vaga lua”. Sei que já deliro e choro, e nada mais sei, e nada mais imploro. Só espero dormir  sonhar com você em frente a porta desse quarto, em que embarca sob essa vaga luz, e a luz da lua, apura a nitidez da marca, mais nua, mais clara, mais crua. Boa noite amor. (Salvador, 06 de março de 1982, às 24h).

21 dezembro 2021

O primeiro encontro

 

O verão estava chegando com toda a sua luz, seu brilho. E foi assim que eu o conheci. O local não era uito de meu agrado. As pessoas dançavam frenéticas, luzes e som no ar. A coragem não me veio logo. Com um pouco de bebida a situação foi logo resolvida. E no salão juntei-me aos outros. Mesmo assim sentia-me só. E embora meu coração ansiasse por amizade, não sabia abrir-me, inibido como sou. Num rápido momento o vi passar. Alto, moreno....uma figura que me impressionou. Ele também notou algo em mim. A partir daí não consegui me controlar, e ficávamos distante, olhos nos  olhos até que ele, mais decidido se aproximou e, bem natural, abraçou-me na dança. Horas depois, cansados, subimos para conversar. Conhecer um pouco mais um do outro.

 


Estava um pouco trêmulo. Sua mão decansava docemente na minha. E ele enlaçou-me levemente. Senti os seus lábios aproximando-se dos meus. Inclinou-se para mim e apertou-me estreitamente nos braços. O contato daquela pele macia incenduou-me. Sentaados ficamos. A cabeça encostada no meu ombro, os dedos alisando os cabelos do peito. Meu coração batia aceleradamente. Em seguida convidei-o para dormir em casa.

 

No caminho, a palavra não era necessária, bastavam os gestos. Em casa ele não largava a minha boca. Seus lábios mordiam os meus lábios, seus dentes batiam nos meus dentes e os nossos hálitos se confundiam inteiramente. No instante seguinte, perdemo-nos um no outro, tornamo-nos um único ser, entrelaçamo-nos em uma unidade amorosa que mergulhava cada vez mais fundo na insondável fonte do amor.  Passamos quase toda a noite aplacando-nos. Exaustos, afinal, adormeceno em estreito abraço. Creio que ao mesmo tempo. Entretanto, não acordamos ao mesmo tempo. Acordei em primeiro lugar, com uma sensação de felicidade, que a princípio não soube explicar. Vi-o deitado ao meu lado, nu, o rosto expressivo, bonito.

 


Corpo anguloso, pele torneada do sol, uma boca bem delineada e o pescoço grossso, mas erguio. Aquilo excitava-me. Ele acordou e murmurou baixinho palavras doces. Beijou-me nos olhos, na boca, no pescoço. Suas mãos tornaram-se ágeis e firmes, deslizando-as por entre minhas pernas. Percorri com meus lábios aqueles contornos tão arredondados, de carnes acetinadas, fina e tão polida. Depois tudo seguiu um ritmo quente e novo, nascido naquele instante. Eu ansiava por que essa operação não terminasse nunca. Houve a agonia dos corpos, a união, o pazer inconcebível

 


No dia seguinte ele apareceu.  Usava uma camisa esporte de cor azul e calça jeans. Parecia mais jovem, barba aparada,  com seus cabelos pretos, seus gestos animados e desinibidos, seu soriso tão franco e inocente quanto o de uma criança.  Era simpático, não  conseguia deixar de fita-lo constantemente.  Era diverso  de todas as pessoas que conhecia. Possuia uma marca pessoal  que fascinava.  Estava de férias e, com um convite meu, resolveu ficar por mais tempo naa cidade.  Ele não  era daqui. Apaixonado pelo mar, frequentava-o todos os dias. Queimadão da praia, ficava com aquele suave e delicado olhar meio vaago,  ligeiramente torturado, despertando incontida carga emotiva.  Era seus dias depressivos. Sentia seus olhos pousar em mim. Aproximava-me dele e ficávamos juntinhos horas a fio....

 


E assim foram os dias, meses. O Natal passou, o Carnaval também. E tudo era alegria ate o  dia em que partiu. Já sabia que um dia ele teria que partir, mas na hora não  aceitava aquilo, estava perdendo aquela felicidade, toda aquela alegria. E ele partiu. Fiquei a escutar os discos e lembrar os momentos que passamos juntos. Impossível libertarmos do  que nos deixaram como marcas, por mais que nos esforcemos, por mais que escandamos, por mais que as disfarçamos, que as mergulhamos no álcool ou enganemos com alegres ou tristes canções, elas estão presentes. Impossível esquecer as noites de conforto, de calor, os dias de sol, de mar, nas festas, nas feiras, em tudo o que fazia....Impossível riscá-los, inútil negá-los, ingênuo tentar esquecer. Alguma coisa parecia ter morrido  em mim. Olho as fotos, das poucas que tirei, e vejo através da janela as estrelas que me parecem incrivelmente distantes. E de repente me dou conta de que estou só. Sentei-me novamente e tive vontade de ficar assim, parado.... Como é difícil ter que aceitar alguém que ama ficar assim distante....Sim,  eu o  amo  e essa é a verdade.  Não poso  esconder. Não sei mais o  que fazer. Os dias parecem longos e as noites mais tristes.  Os meses ficam  tropeçar uns nos outros. O  tempo até paarece que parou...mas na verdade quem está parado  sou eu, triste e só.

 


E quanto mais penso  que seu mundo está lá, sua família e seus amigos, e não  aqui, perto  de mim,  fico mais triste.  As circunstâncias unem e separam as pesssoas. Não sei explicar bem isso, mas não queria que fosse assim. Tudo estava tão belo....Ah! estou lembrando o dia em que passamos na ilha, era seu aniversáario, chovia muito, e nós dentro da barraca, fazia um frio, mas nossos corpos juntos esquentaram um ao outro. E ele era puro sorriso, brilho nos olhos, no corpo. Brilho de sol, pombas no ar. Agora, não posso mais escrever, maeus olhos estão nublados...são lágrimas Odemar, por você, por mim, por nós. Obrigado. (Guto, 30 de março de 1981).

20 dezembro 2021

Tudo é mais intenso na estação do sol

 

No verão (ele começa no dia 21 de dezembro e termina no dia 20 de março) os dias são mais longos, e contribuem com a energia necessária ao processo da fotossíntese, estimulando o crescimento de plantas e animais. As pessoas vestem roupas mais descontraídas, e parecem adotar a mesma descontração para o seu comportamento. Sinônimo de festa e descanso para muitos, o verão significa oportunidade de trabalho e rendimento para outros. Os turistas chegam com o sol e a população aproveita parta ganhar um dinheiro extra, mesmo que temporário. A estação que aquece a economia e, consequentemente possibilita trabalho para milhares de pessoas, também faz as pessoas consumirem mais.

 


O verão traz consigo o êxtase, o calor, tudo parece mais intenso, mais livre, somos capazes de enormes sorrisos, vivemos momentos únicos, intensos, sabemos que é o prêmio mais que merecido depois das etapas anteriores. É também o contrastes da juventude com manhãs ensolaradas de brilho ofuscante e de sombras nítidas. Sol ardente no silêncio denso do meio dia. Nuvens amontoadas barrocamente, ameaçadoras. Um raio que estala, chuvarada na terra fofa. Assim é o verão, todo contraste. Sol abrasador e brisas de doçura, dias ofuscantes e noites profundas. Vida, entusiasmo e força. Manhãs claras e tarde de tempestade. Nuvens negras e arco-íris coloridos. Assim é o verão, assim é a juventude.

 

Assim como a primavera se desenvolve naturalmente para o verão, assim também a energia expansiva e criativa da madeira amadurece para a energia do fogo. Esta é a fase mais cheia de energia de todo o ciclo, quando acontece a fase mais quente da energia. Todas as formas de vida se esquentam nesta fase de crescimento da energia do fogo. O fogo está associado ao coração, que é a morada das emoções humanas e o órgão que pulsa e distribui o sangue e sua energia pelo corpo. Sua cor é o vermelho, a cor do calor e do sangue. Esta energia está associada ao amor e à compaixão, à generosidade e à alegria, à abertura e à abundância. Se bloquearmos esta energia, o resultado é a hipertensão, os problemas do coração e as desordens nervosas.

 


No final do verão chega um momento de interlúdio, de perfeito equilíbrio quando a energia do fogo diminui, se transformando em energia da terra, e se instala um estado de equilíbrio perfeito. Este momento é o clímax do ciclo, o intervalo entre as energias (yang) da primavera e do verão e as energias (yin) do outono e do inverno. O humor das cinco fases da energia está em harmonia neste momento, trazendo uma sensação de bem estar e completude. A energia do final do verão é a energia da terra, sua cor é o amarelo, a cor do sol e da terra. Na anatomia humana está associada ao estômago, ao baço e as pâncreas que estão situadas no centro do corpo e alimentam todo o sistema do corpo. Se a energia da terra for insuficiente, o organismo fica mal nutrido, afeta a digestão e todo o sistema se desequilibra e fica desvitalizado.

 

O verão é a estação das férias, das festas, do sol, do calor e da vitalidade. O calor e densidade são combinações perfeitas para que as plantas e flores cresçam nesta estação. Tempo da flor de lis, copo de leite, e gêrbena. Alimentação saudável deve ser praticada em todas as estações, mas o clima quente do verão exige cuidados extras, para evitar mal-estar e intoxicações alimentares. Nesta época do ano, a temperatura do ambiente auxilia na manutenção da temperatura interna, ao contrário do que acontece no inverno, quando o organismo gasta mais energia para fazer essa regulagem. No frio, as pessoas tendem a sentir mais fome, pois há uma maior necessidade de armazenar calor.

 


Ingerir comidas pesadas e calóricas no verão, como feijoada, leva à produção excessiva de calor no corpo. Isso pode causar um mal-estar generalizado. Segundo as nutricionistas, as pessoas podem sentir mais cansaço, indisposição para as atividades físicas e enjôo. Os alimentos gordurosos, como frituras, sobrecarregam mais o indivíduo e o organismo passa a ter uma digestão mais lenta, privilegiando o cansaço.

 

As ocorrências de intoxicações alimentares tendem a se acentuar no calor. A temperatura alta pode predispor à deterioração acelerada dos alimentos quando não acondicionados adequadamente, principalmente os que requerem refrigeração. Por isso, na praia, o ideal é que se evite o consumo de alimento der quiosque que não tenham infra-estrutura adequada e os vendidos por ambulantes. Verifique se a manipulação dos alimentos foi feita de forma cuidadosa. É comum a contaminação deles por coliformes fecais, pois nem todas as pessoas que trabalham com alimentação se preocupam em lavar as mãos adequadamente, após ir ao banheiro, por exemplo. (Texto publicado neste blog em 20 dezembro 2006)