31 agosto 2016

Violencia (3)



Vemos violência e corrupção crescerem ao redor. São enormes chagas do nosso tempo. Como superá-las. A única saída é pela Educação, pela assimilação, pela incorporação de valores.

Habituamo-nos a conviver com roubos e corrupções. O desrespeito pela pessoa humana banalizou-se. O Brasil está imerso numa profunda crise moral. Fingir que não se vê poderá considerar-se corrupção moral passiva. Platão nos avisava, é curta a distância entre a corrupção moral e a tirania.


Quando o time de futebol perde, o brasileiro reclama, vai ao aeroporto de madrugada, para xingar os atletas.

Por que não exige a reforma política, o acabar de aposentadorias milionárias, a pressão de políticos corruptos? Vivemos numa sociedade enferma de uma total inversão de valores.

Temos uma cultura de impunidade, suborno, da conhecida Lei de Gerson, levar vantagem em tudo. O povo quer uma carga tributária aliviada, parlamentares com salários menos astronômicos e deixar de legislar em seu favor, cessar aposentadorias fantasmas no Congresso e no Judiciário.

A compra de parlamentares para ampliar a base de sustentação política no Congresso é antiga.

Os ditadores (com capa de democratas) querem ficar no poder pela eternidade. Se muitos reclamam dos vândalos misturados no movimento dos jovens que pedem mudanças (esses vândalos cometem assaltos e homicídios colocando o Brasil entre os países mais violentos do planeta), há vândalos também nos altos escalões públicos, praticando saques contra o erário acobertado pela impunidade.

Afinal, eles têm imunidade parlamentar.

O poeta Carlos Drummond de Andrade já anunciava:

“Provisoriamente não cantaremos o amor/que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos/cantaremos o medo, que esteriliza os abraços/existe apenas o medo., nosso pai e nosso companheiro”.

Lembrem-se que Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena, e Liberdade era o nome da maior prisão da ditadura uruguaia.

30 agosto 2016

Violência (2)



Dos 48.345 óbitos por homicídios, registrados em 2004, 34.712 aconteceram em cidades do interior do país. De acordo com o estudo, com base em dados de 1994 a 2004, isso mostra um crescimento da violência no interior do país, e não só nas grandes capitais e regiões metropolitanas. Assim, afirmou, pode-se buscar "uma integração de esforço de todos os setores do governo para que se possa formular políticas de prevenção de acidentes, promoção da saúde e a cultura da paz". Segundo ele, qualquer tipo de ação feita exclusivamente pelo Ministério da Saúde, no sentido de prevenção da violência, pode não gerar a repercussão necessária para realizar diminuir a violência. "Temos que estar juntos, tem que haver uma política integrada", disse.

"Existe um processo de interiorizar a violência, até pelos mecanismos de controle de segurança
implantados nos grandes municípios. De qualquer forma, para mim, ficou a surpresa de verificar que muitos municípios que não estão em nenhum mapa, em nenhuma condição que o municípios possa se destacar por essa ou por aquela razão, mas estão sendo destacados agora com a questão da violência. São municípios pequenos, onde impera a lei da impunidade", critica.


De onde vem a atual crise de segurança que atinge a sociedade brasileira? A causa de tudo que vivemos hoje, com o crescimento desenfreado do crime organizado, com as facções criminosas tendo o poder de paralisar a cidade, com as drogas dominando a juventude, está na falta de perspectiva do jovem, da corrupção que atinge todas as esferas da sociedade e da impunidade. Alguns procuram saídas individuais e cometem furtos e encontram na criminalidade do tráfico uma alternativa de vida. Outros procuram manter sua dignidade e entram para o comércio ambulante e muitos deles são vítimas diárias da guarda municipal. Muitos enfrentam as filas do desemprego e acham que se tudo continuar como estar as coisas vão piorar ainda mais. A violência faz parte da ordem capitalista, é parte integrante deste sistema, que é movido pelo roubo do trabalho humano.

“A violência é a causa da pobreza”

A melhor forma de combater à violência é a educação. A opinião é do fundador do Instituto Nacional de Educação para a Paz e os Direitos Humanos, o médico e doutor em Saúde Coletiva Feizi Milani. “O que mais favorece a cultura da violência é o fatalismo, a ideia de que as coisas são assim, porque sempre foram assim e, portanto, sempre serão desta forma. Para a promoção da cultura da paz, a primeira coisa que devemos fazer é combater esse fatalismo. As pessoas precisam recuperar a sua percepção como sujeito, como protagonista da história e, portanto, capazes de mudar as suas vidas, a vida da sua comunidade, a sociedade”, disse numa entrevista ao jornal A Tarde (15/06/2008).


Para ele, “estamos mergulhados em uma cultura de violência”, e citou as cantigas infantis (“atirei o pau no gato”), os desenhos animados (onde os heróis resolvem os problemas na base da força), além da “cultura da competição, que também gera violência”. Segundo o professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, “não ser violento exige muito mais coragem que ser violento”.

“A violência existe em todas as classes sociais. O tipo mais comum, mas frequente no mundo inteiro, é a violência doméstica, a intra-familiar. Essa violência ocorre igualmente em todas as classes sociais”, disse na entrevista, acrescentando mais adiante que “a exclusão social, aliada a uma concentração excessiva de riqueza em uma sociedade extremamente materialista, isso sim gera violência. Pobreza não é a causa da violência, na realidade, a violência é a causa da pobreza. A relação é exatamente inverso”.


29 agosto 2016

Violência (1)



O Brasil nasce com violência.
O país começa com os colonizadores chegando aqui e dizimando os índios.
Depois temos os africanos capturados para trabalhos à força na lavoura com extrema violência.
A nossa democracia racial tão falada a partir da figura do mulato, mas esqueceram de que o mulato no Brasil é fruto do estupro das mulheres negras pelos brancos.
A violência sempre esteve entre nós.

A falta de perspectiva dos jovens leva ao caminho mais rápido para a afirmação dentro do seu meio, tanto como elemento ou como graduação de riqueza. É difícil explicar a um jovem do subúrbio que o caminho para realização é o trabalho árduo, quando se verifica a malversação de fundos, a corrupção, o nepotismo, a sonegação e tantos crimes do colarinho branco. O jovem, como é da sua natureza, tem pressa. A escola deixa a desejar. O ambiente familiar é corrosivo, emprego não existe e, se existe, o salário em sua maior parte, e de sobrevivência pura e irrestrita. Então, quando ele vê um primo, tio, vizinho quase analfabeto circulando com carros caros, roupas de grife e bebendo uísque importado, quer também o seu quinhão. Abandona a escola e entra na marginalidade. Falta de garantia de futuro e da perda de perspectiva.

Nossa criminalidade é uma doença social. Temos uma sociedade injusta, perversa, milhões de pessoas vivendo na miséria e sem nenhuma perspectiva. Para o analista Roberto Gambini, “em parte, a violência que nos assola tem origem nessa frustração, nessa negação cabal da possibilidade de ingresso no mundo do trabalho dignamente remunerado e do crescente conforto. Um segmento urbano da sociedade brasileira – e aí entram a influência de estruturas patológicas de personalidade, histórias de privação afetiva, de abuso, falta de acolhimento e de experiência de pertencimento, etc – opta pela violência como meio de consecução de objetivos basicamente inatingíveis”.

NÚMEROS - Os números mostram que a violência pesa no bolso de cada brasileiro, e sangra os cofres do país. Muitas vezes o dinheiro gasto não compra proteção. Em 2006 os gastos dos governos federal, estaduais e municipais com segurança chegaram a R$ 35 bilhões, com penitenciárias e com as polícias e servidores da área de segurança. Empresas e cidadãos gastaram outros R$ 37 bilhões. Entraram na conta, por exemplo, despesas com vigias e equipamentos de segurança, seguros de carros, do comércio, indústria, setor de serviços e o gradeamento de prédios.

Um estudo divulgado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a educação, a ciência e a cultura mostrou que entre os anos de 1999 e 2004 a criminalidade cresceu no interior do Brasil e, nos últimos anos aumentou também o número de jovens vítimas de crimes violentos. Os casos de violência nas grandes cidades muitas vezes ofuscam o que acontece no interior dos estados. O responsável pela pesquisa atribui esse fenômeno a falta de medidas de segurança no interior e também no surgimento de novos pólos de desenvolvimento econômicos nessas áreas.

Há uma percepção que se espalha entre os cidadãos, da necessidade de buscar solução para o problema da insegurança pública. O Brasil não vai ficar mais seguro com uma ou duas medidas isoladas. Tem que começar com o cuidado com a educação, pois para muitos especialistas, as escolas são um dos principais equipamentos para prevenção da violência pois identifica jovens que começam a se envolver com a criminalidade, delinquência e violência. Os profissionais que trabalham, no ensino devem estar preparados para lidar com essa situação. Depois o diálogo com os pais. A família unida reduz os índices da criminalidade.

PUNIÇÃO - Depois da década de 80, uma série de crime fez os Estados Unidos mudarem as leis. Em vez de buscar apenas a reabilitação dos presos, o país também passou a punir os infratores com mais rigor. Os Estados Unidos têm a maior população carcerária do mundo: mais de dois milhões de presos. A média per capita também é a mais alta, um preso para cada 140 adultos. As penas de prisão para criminosos violentos são longas, sem possibilidade de liberdade condicional.

Até os anos 80, prevalecia nos EUA a filosofia de reabilitação dos presos. Mas uma onda de crimes nas grandes cidades levou a população a eleger políticos que pregavam a punição dos criminosos. Novas leis foram aprovadas, impondo penas rigorosas. E a criminalidade caiu. A certeza da punição cria um forte incentivo para que crimes não sejam cometidos. Para muitos especialistas no assunto, o Brasil precisa reforçar a polícia, os tribunais e o sistema penitenciário para que os criminosos tenham certeza de que serão punidos.

26 agosto 2016

Há 130 anos nascia o político baiano Otávio Mangabeira



Deputado, senador, ministro, governador. Otávio Mangabeira foi, em todas essas posições, um incorruptível. Político e patriota, colocava sempre à frente do que postulava ou defendia, os sagrados ideais de liberdade. Por isso sofreu, sem perder o seu caráter. Octávio Cavalcanti Mangabeira nasceu em Salvador a 27 de agosto de 1886. Sua primeira manifestação política e, ao mesmo passo, literária, foi um manifesto contra a reforma da Constituição Baiana,. Em cujo conteúdo havia a exigência dos candidatos ao governo estadual residirem no Estado.

Por essa época fazia o curso de Engenharia Civil, diplomando-se aos 19 anos de idade,m sendo o orador da turma. Um ano antes de formar-se, ingressou no Diário de Notícias assinando uma seção de versos. Trabalhou também na Gazeta do Povo e O Democrata. Em 1906 integrou o corpo docente da Escola Politécnica da Bahia. Mas ele foi atraído pela política.

O seu primeiro posto foi o de vereador (1908 a 1912). Em 1912 foi eleito deputado federal. De 1926/30 foi Ministro das Relações Exteriores do Governo Washington Luis. Exilado político, após a Revolução de 1930. Líder dos autonomistas, entre 1934 e 1937. Novamente exilado entre 1937 e 1945. Deputado federal em 1946. De 1947 a 1951 governou a Bahia. No seu governo construiu o Fórum Rui Barbosa, inaugurou o Instituto Biológico da Bahia, restaurou o Teatro do ICEIA e construiu o Estádio da Fonte Nova.

SENADOR - Eleito, mais tarde, deputado federal (1955) e senador da República (1959), morreria antes de completar seu mandato. Incursionou, com êxito, no terreno das letras, chegando a integrar a Academia Brasileira de Letras, publicou diversos trabalhos. Entre os trabalhos publicados estão Voto de Saudade (1934), A Nação e os Problemas Brasileiros (1930), Pelos Foros do Idioma (1930),  As Últimas Horas da Legalidade, Um Pregador da Paixão, etc. Faleceu em 29 de novembro de 1960.

Dois anos depois de sua morte, o distrito de Cabeças na cidade de Muritiba foi emancipado pelo então governador Juraci Montenegro Magalhães, recebendo o nome atual em homenagem ao ex-governador Otávio Mangabeira (dia 14 de março de 1962). Situado no Recôncavo, na zona fumageira do estado, nas margens da BR-101, o município de Governador Mangabeira é administrado atualmente pelo prefeito Antonio Pimentel.

ADMIRADOR - O escritor Jorge Amado em seu discurso de posse da Academia de Letra falou assim sobre Otávio Mangabeira: “Falar sobre Otávio Mangabeira seria fácil para mim, seu admirador e seu amigo, não me tomasse o peito a emoção da ternura e da saudade. Bem o conheci; honrou o político ilustre, com sua amizade, ao escritor jovem da sua terra pelos idos de 30, quando a revolução veio tirá-lo do Ministério do Exterior para o exílio. Exílio que se repetiria, como as ameaças de prisão e o ostracismo. Porque a vida de Otávio Mangabeira foi uma única batalha, ininterrupta, pela liberdade, pelos direitos do homem, pela democracia brasileira, pela moralidade dos governantes. Poucos homens tão íntegros e coerentes possui nossa vida, e poucos baianos tão consequentes em sua condição de baianos quanto este mestre da oratória e da habilidade parlamentar, esse administrador de raras qualidades, esse homem de imensa doçura pessoal.

“Se a política nos roubou o escritor que ele poderia ter sido, nos proporcionou o espetáculo magnífico
de um dos maiores tribunos da história parlamentar brasileira. A elegância da forma, a pureza da linguagem, a clareza do pensamento, e, sobretudo, a constante fidelidade aos ideais democráticos, à liberdade, fizeram dele, como bem observou Afrânio Coutinho, ´a personificação da arte da palavra´. Fui seu colega na Câmara dos Deputados e era sempre com renovada alegria que o via subir à tribuna, com certa solenidade na figura e certa gravidade nos gestos precisos, alegria a crescer em puro deleite intelectual ao ouvi-lo, em afirmações das quais por vezes eu discordava, mas ditas de tal maneira que era impossível deixar de admirá-las. Foi o último dos grandes oradores de certa fase de nossa vida política. Hoje a oratória dos comícios e mesmo da tribuna parlamentar perdeu certa unção quase sagrada, certa grandeza de forma e de aspecto, certa magnificência, para ganhar maior vivacidade, colocar-se a par com o nosso tempo. Dessa grande oratória, vinda do Padre Vieira no púlpito da Sé da Bahia a clamar contra os invasores holandeses, foi Otávio Mangabeira mestre inconfundível.

“Se eu tivesse de buscar uma única imagem para definir Otávio Mangabeira, eu vos digo que ele é a Bahia. A Bahia em suas melhores e mais generosas qualidades, aquela finura de civilização que era dele e é do último homem do povo baiano. A Bahia da grande oratória e da extrema habilidade política, a Bahia da delicadeza, da gentileza, da ternura humana, a Bahia afável e afetuosa, a cordial, a acolhedora, a da doce brisa do mar, a dos luares sem igual. Otávio Mangabeira era a Bahia: o amor aos obres ideais, a irredutível luta pela liberdade, a consciência democrática. Quando penso nele, penso na Bahia, na ampla humanidade de sua gente, na alegria do seu povo, em sua constante e fundamental doçura. Penso na Bahia nesta hora de minha vida, quando aqui chego com a responsabilidade de substituir Otávio Mangabeira. Chego coberto com a ternura de minha gente baiana”.