31 agosto 2009

Presidentes do Brasil (6)

O paraibano jurista Epitácio Pessoa (1919-1922) governou o país numa época de transformações. Ele estava na França como senador participando com uma enorme delegação (com todas despesas pagas pelo contribuinte brasileiro) da Conferência de Paz. E ao retornar ao país com o seu “navio da alegria” descobriu que era o novo presidente do Brasil. Foi o primeiro nordestino a comandar a nação – e revelou-se muito mais ousado e autoritário do que seus aliados poderiam supor. Em 1922, acontecia a incomparável Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Surgiram as sufragistas, reivindicando o direito ao voto feminino – que só seria conseguido em 1932. Os chargistas trabalhavam como nunca. Levou a cabo algumas obras contra a seca no Nordeste. Foram construídos duzentos e cinco açudes, duzentos e vinte poços e quinhentos quilômetros de vias férreas locais. Isso, no entanto, não bastou para satisfazer a insustentável situação de penúria da população local. Cuidou também da economia cafeeira, conseguindo manter em nível compensador os preços do principal produto de exportação brasileiro à época.


No início de seu governo, compreendendo que a prosperidade decorrente dos negócios efetuados durante a guerra tinha bases acidentais e transitórias, empreendeu uma severa política financeira, chegando mesmo a vetar leis de aumento de soldo às Forças Armadas. Seu governo foi marcado por intensa agitação política. No campo artístico, destacou-se a Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, que buscava instituir novo modo de fazer arte no Brasil. Pretendiam fugir das concepções puramente europeias e criar um movimento tipicamente nacional. O radicalismo da fase inicial do movimento chocou inúmeros setores conservadores, que se viram ridicularizados pelos novos artistas. Lideravam o movimento: Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira, entre outros.

No governo de Epitácio Pessoa, as comemorações do centenário de nossa Independência foram marcadas pela realização de uma grande Exposição Internacional, visitando nessa ocasião o Brasil o presidente da república portuguesa, Antônio José de Almeida. Pouco antes, havia sido recebido o rei dos belgas, Alberto I. Em relação à família imperial brasileira, teve Epitácio Pessoa um gesto simpático, revogando a lei de banimento. No campo político, válido é assinalar a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922. Trouxe grande repercussão o novo partido, já que deu nova orientação e organização ao movimento operário. Os trabalhadores, influenciados pelos ideais da Revolução Russa de 1917, abandonaram progressivamente o anarquismo em favor ao socialismo. As oligarquias, naturalmente, não viam com bons olhos a organização proletária, buscando dificultar ao máximo sua atuação. O final de sua administração foi muito conturbado. A campanha do futuro presidente Artur Bernardes foi desenvolvida em meio a permanente ameaça revolucionária. Os estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco não concordavam com a candidatura oficial de Artur Bernardes e lançaram a candidatura de Nilo Peçanha, caracterizando uma segunda crise na política das oligarquias.

O advogado mineiro Artur da Silva Bernardes (1922-1926) toma posse como presidente da República. O estado de sítio era constante. Restrições dos direitos individuais, limitação do habeas-corpus, censura à imprensa, crimes políticos que não prescreviam. A Coluna Prestes durante três anos percorreu o país de alto a baixo. É feita a reforma da Constituição de 1891. Costa e silva não resistiu à pressão e teve uma trombose cerebral, sendo substituído por uma junta militar. O regime se consolidou pela força. O descontentamento com sua vitória e com o governo de seu antecessor, Epitácio Pessoa, foram algumas das causas do chamado Levante do Forte de Copacabana, primeira ação do movimento tenentista. Bernardes teve que fazer frente à coluna Prestes, movimento tenentista que percorreu o país pregando mudanças políticas e sociais e que jamais foi derrotado pelo governo. Além da oposição por parte da baixa oficialidade militar (incentivados pela revolução comunista), ele ainda confrontou uma guerra civil no Rio Grande do Sul, onde Borges de Medeiros tentava se eleger presidente do estado pela quinta vez consecutiva, e também o movimento operário, que se fortalecia novamente.


Em 1923 e 1924 ocorreram novas ações tenentistas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, respectivamente. Tudo isso levou Bernardes a decretar quase que ininterruptamente o estado de sítio. Artur Bernardes foi o pioneiro da siderurgia em Minas Gerais e sempre se bateu pela ideologia nacionalista e de defesa dos recursos naturais do Brasil. Sob seu governo, o Brasil se retirou da Liga das Nações em 1926. Bernardes promoveu a única reforma da Constituição de 1891, reforma que foi promulgada em setembro de 1926 e que alterava principalmente as condições para se estabelecer o estado de sítio no Brasil. Após deixar o governo, foi eleito senador em 1929. Foi contrário à ascensão de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada ao governo de Minas Gerais mas não pode evitá-la. Bernardes participou da chamada Revolução de 1930, que deslocou a oligarquia paulista do domínio federal; no entanto, a seguir participou da Revolução Constitucionalista de 1932. Fracassado esse último movimento, Artur Bernardes foi obrigado a retirar-se para o exílio em Portugal.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

28 agosto 2009

Presidentes do Brasil (5)

O governo do mineiro Venceslau Brás Pereira Gomes (1914-1918) coincidiu com a Primeira Guerra Mundial. Ele adotou uma política financeira de austeridade diante da crise das importações: as importações mundiais diminuíam e as nossas só aumentavam. Em seu governo foi aprovado o Código Civil (1916) e teve fim a luta do Contestado. Mas o verdadeiro flagelo do período foi a gripe espanhola que matou mais de 600 mil só no Brasil. Candidato único, logo de início teve de combater a Guerra do Contestado (crise herdada do governo anterior) e, após debelar a revolta, mediou a disputa de terras entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, tendo sido um dos fatores a dar origem ao conflito. Venceslau Bras definiu em 1916 os atuais limites entre Paraná e Santa Catarina. Enfrentou também diversas manifestações militares, entre elas a Revolta dos Sargentos (1915), que envolvia suboficiais e sargentos.

Promulgou o primeiro Código Civil brasileiro, que entrou em vigor em 1 de janeiro de 1916 e que foi a primeira lei a grafar o nome Brasil com a letra S. O torpedeamento de navios brasileiros, em 26 de outubro de 1917, por submarinos alemães, levou o Brasil a entrar na Primeira Guerra Mundial. Os navios brasileiros à procura de submarinos alemães travaram a Sangrenta Batalha do Toninhos, confundindo essa espécie de boto como seus inimigos, mataram dezenas deles. Devido às dificuldades em importar produtos manufaturados da Europa durante o seu mandato, causadas pela guerra, Venceslau Brás incentivou a industrialização nacional, porém de forma inadequada, já que o país ainda era essencialmente agrícola, e o governo necessitava de armamentos bélicos que requeriam uma indústria mais sofisticada que a do Brasil de 1914. Durante o quatriênio de Hermes, porém, Brás se revelou o mesmo ausente, passando a maior parte do tempo em sua fazenda, em Itajuba (MG). Em seu governo, revelou-se o tipo político mineiro: reticente e ardiloso, afastou-se do senador Pinheiro Machado. Com a ajuda de um empréstimo, tentou equilibrar as finanças do país.

Outro mineiro Delfim Moreira da Costa Ribeiro (1918-1919) teve mandato curto, só de oito meses, que ficou conhecido como regência republicana. Vice-presidente de um Rodrigues Alves eleito pela segunda vez, assumiu no lugar do presidente eleito, que morreria pouco depois, de gripe espanhola (mais tarde é homenageado dando seu nome à cidade de Presidente Alves, e considerado hoje o presidente que mais se preocupou com a população da República Velha). Delfim, na verdade, não estava em condições de governar, pois sofria de um tipo de arteriosclerose precoce. Durante o período de regência, quem governou de fato foi seu ministro de Viação, Afrânio de Melo Franco. No seu governo, o Brasil se fez representar na Conferência de Paz em Paris, pelo senador Epitácio Pessoa, eleito presidente em 13 de maio, em disputa com Rui Barbosa. Logo após a volta do novo presidente do exterior, Delfim Moreira passou-lhe o cargo, voltando à vice-presidência.

Seu curto mandato (que ficou conhecido como regência republicana) foi um período assinalado por vários problemas sociais, especialmente um grande número greves gerais. Delfim Moreira sofreu durante sua presidência de uma doença que o deixava totalmente desconcentrado e desligado de suas tarefas, sendo que, na prática, quem tomava as decisões era o ministro Afrânio de Melo Franco. Reformou a administração do território do Acre, republicou o Código civil brasileiro com várias correções ao texto original de 1916. Decretou intervenção no estado de Goiás.
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27 agosto 2009

Presidentes do Brasil (4)

O conselheiro mineiro Afonso Augusto Moreira Pena (1906-1909) assume a presidência. Seu governo opôs resistência à continuidade da política de valorização do café. A implementação da política de valorização do café se revelou um enorme sucesso e ajudou a quitar os compromissos externos e ainda obter imenso lucro. Disponibilizou recursos necessários para que Cândido Rondon realizasse a ligação no telégrafo do Rio de Janeiro à Amazônia. Foi, talvez, o único mulato presidente do Brasil. Durante seu governo, foi editado um decreto instituindo o uso da faixa presidencial no Brasil, sendo ele mesmo o primeiro presidente a usá-la e o primeiro a passá-la a seu sucessor. Desde então, todos os presidentes a recebem na ocasião da posse. Pena promoveu a criação de parques industriais, incentivou a construção de linhas férreas, modernizou os portos de Recife, Vitória e Rio Grande so Sul. Promoveu a conquistado Oeste, a cargo de Rondon, e organizou a Exposição Nacional de 1908, para mostrar que o Rio de Janeiro se civilizara.

Morre o presidente Afonso Pena e assume seu vice, o carioca Nilo Procópio Peçanha (1909-1910).Peçanha procurou montar um ministério de conciliação e fazer um governo moderado e pacifista. Ele manteve o país sob relativo controle até o fim de seu mandato, em novembro de 1910. Deu prosseguimento à política fiscal e financeira de Afonso Pena, continuou a incentivar a construção de estradas de ferro (para escoar o café) e de frigoríficos. Ele deu ênfase à construção de ferrovias e em questões sociais (Serviço de Proteção aos Índios, Escola de Aprendizes Artífices).

O gaúcho Hermes Rodrigues da Fonseca (1910-1914) foi o primeiro militar eleito à presidência em pleito direto. Era sobrinho do marechal Deodoro. Sua eleição foi resultado da falta de acordo entre as lideranças paulistas e mineiras, e da emergência no cenário político da aliança do Rio Grande do Sul com os militares, rompendo assim a “política do café-com-leite”. Logo no início da sua gestão eclodiu a Revolta da Chibata, um levante de marinheiros que se opunham ao regime de castigos físicos em vigor na Marinha. Estoura também o Conflito de Juazeiro cuja figura central foi o padre Cícero, líder religioso venerado por camponeses do sertão do Cariri.

Depois de conseguido o objetivo, o fim da aplicação da Chibata na Marinha, e concedida a anistia a todos os mais de dois mil marinheiros amotinados, o governo traiu sua palavra e começou um processo de expulsão de marinheiros. O primeiro motim, já controlado, foi seguido de um levante no batalhão de fuzileiros navais sem causa aparente. O Marechal Hermes ordenou o bombardeio aos portos e colocou o país em estado de sítio. Mais de 1200 marinheiros foram expulsos e centenas foram presos e mortos. Apesar de ser bastante popular quando eleito, sua imagem ficou bastante abalada depois da revolta. Logo outra revolta veio conturbar o seu governo, a Guerra do Contestado, que não chegou a ser debelada até o fim de seu governo. Hermes da Fonseca foi um dos dois únicos militares a chegar na Presidência de forma direta e eleitoral. O outro foi Eurico Gaspar Dutra. Em 1912, já tido como “uma nulidade”, Hermes se casou com a caricaturista Nair de Teffé. A “linda donzela, cujos dotes de espírito lhe inspiraram tão violenta paixão”, fez com que o presidente se esquecesse de governar. O país caía nas mãos ardilosas do senador Pinheiro Machado.
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26 agosto 2009

Presidentes do Brasil (3)

O advogado paulista Manoel Ferraz de Campo Sales (1898-1902) assumiu a presidência de um país falido. O excesso de gastos por causa das despesas militares (Revolta da Armada, a Revolução Federalista e a campanha de Canudos) tinha esvaziado os cofres. Sua política dos estados fortaleceu as oligarquias regionais, o que lhe permitiu a aprovação pelo Congresso do seu projeto de saneamento das finanças públicas. O governo assumiu o controle direto do Banco da República do Brasil que, em fins de 1905, passaria por nova fase jurídica, recuperando o nome de Banco do Brasil. Seu governo instituiu o casamento civil, a promulgação dos Códigos Penal e Comercial, e a abolição da exigência de passaporte em tempo de paz. Campos Sales foi o primeiro presidente brasileiro a viajar ao exterior. Recebeu o apelido de Campos Selos, por causa do imposto do selo, sendo vaiado ao deixar a presidência por causa de sua política de ajuste financeiro que fora mal compreendida pela população brasileira.

Foi um dos presidentes mais impopulares da história do Brasil. Afinal, a agricultura, a indústria e o povo foram prejudicados no seu governo. Ele criou a chamada “política dos governadores” que perduraria até a Revolução de 30. Ao ignorar os partidos para apoiar os governadores estaduais, criou a “degola política”, institucionalizou a fraude eleitoral e converteu a federação em feudos eleitorais. Criou a política de “café com leite” - a aliança entre São Paulo e Minas Gerais, que passaram a se alternar no poder.

Assume o poder o carioca Francisco de Paula Rodrigues Alves (1902-1906) enfrentando a onda de epidemias e doenças na Capital Federal. Conselheiro nos tempos do império, abolicionista, jornalista e chefe de redação do jornal “16 de Junho”, juiz de direito, ele remodelou, embelezou e saneou o Rio de Janeiro. O porto foi ampliado, os velhos quarteirões de cortiços demolidos e os moradores transferidos para a periferia, para se poder abrir ruas e construir novas avenidas. A vacina obrigatória gerou uma série de manifestações populares. Rodrigues Alves foi o último paulista a tomar posse como presidente do Brasil. Foi eleito duas vezes, cumpriu integralmente o primeiro mandato (1902 a 1906), mas faleceu antes de assumir o segundo mandato (que deveria se estender de 1918 a 1922).

Seu governo foi destacado pela campanha de vacina obrigatória (que ocasionou a Revolta da Vacina), promovida pelo médico sanitarista e ministro da Saúde Osvaldo Cruz, e pela reforma urbana da cidade do Rio de Janeiro, realizada sob os planos do prefeito do Rio de Janeiro, o engenheiro Pereira Passos, que incluiu, além do remodelamento da cidade, a melhoria de estradas de ferro e a construção do Teatro Municipal. Ocorreu também em seu governo a chamada revolta da Escola Militar. Houve também o Convênio de Taubaté, que foi a primeira política de valorização do café. Esse convenio reuniu São Paulo,Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os três estados decidiram que o governo federal compraria e estocaria as sacas de café para evitar a queda de preço. Também determinaram um imposto de três francos por saca exportada. Sua administração financeira foi muito bem sucedida. O presidente dispunha de muito dinheiro, já que seu governo coincidiu com o auge do ciclo da borracha no Brasil, cabendo ao país 97% da produção mundial. Em 1903, Rodrigues Alves comprou a região do Acre da Bolívia, pelo Tratado de Petrópolis - processo conduzido pelo então diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior (barão do Rio Branco). Em seu primeiro mandato, o vice-presidente eleito foi Francisco Silviano de Almeida Brandão, que faleceu; quem assumiu a vice-presidência foi Afonso Pena. Deixou a presidência com grande prestígio, sendo chamado "o grande presidente". Após Rodrigues Alves, nenhum paulista governou o Brasil, exceto por alguns dias apenas Ranieri Mazzilli e Ulisses Guimarães.

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25 agosto 2009

Presidentes do Brasil (2)





Com a posse de Prudente José de Moraes e Barros (1894-1898) começa a chamada República do Café-com-Leite. A sua eleição marcou a chegada ao poder da oligarquia cafeeira paulista em substituição aos setores militares. Foi o primeiro governador do estado de São Paulo (1889-1890), senador e terceiro presidente do Brasil e primeiro político civil a assumir este cargo. Os quatro anos de governo de Prudente de Morais foram agitados, tanto por problemas político-partidários (a perda do apoio do Partido Republicano Federal) como pela oposição dos setores florianistas e pela continuação, no Rio Grande do Sul, da Revolta Federalista (1893-1895). Prudente de Morais dedicou todos os seus esforços à pacificação das facções, que tinham em seus extremos os defensores do governo forte de Floriano e os partidários da monarquia.


Durante seu governo, abandonou uma a uma as medidas inovadoras de Floriano Peixoto. Essa cautela de Prudente foi necessária, já que os florianistas ainda tinham uma certa força, principalmente no Exército. Além disso, o vice-presidente estava ligado às idéias de Floriano. Resumindo, Prudente de Morais imprime uma direção ao governo que atende mais aos cafeicultores. No início do seu governo consegue pacificar a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, assinando a paz com os rebeldes, que receberam anistia. Em 1896, enfrentou a questão diplomática envolvendo os ingleses, que acharam por bem tomar posse da Ilha da Trindade em 1895, e a revolta da Escola Militar. Fez então valer sua autoridade: fechou a escola e o clube militar. A questão diplomática foi resolvida favoravelmente ao Brasil. Prudente de Morais restabeleceu as relações com Portugal e assinou o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação com o Japão, em novembro de 1895, com o objetivo de incitar a vinda de imigrantes japoneses. Mas pouco tempo depois enfrentaria um movimento rebelde ainda maior: a Guerra de Canudos, no sertão baiano.

Obrigado a submeter-se a uma cirurgia, se afastou do poder entre 10 de novembro de 1896 e 4 de março de 1897, passando o cargo ao vice-presidente, Manuel Vitorino Pereira. Com a vitória dos amotinados de Antônio Conselheiro sobre várias expedições militares, a situação voltou a deteriorar-se. Prudente interrompeu então a convalescença e nomeou ministro da Guerra o general Carlos Machado Bittencourt, que liderou nova expedição e derrotou os rebeldes. As divergências internas no PRF e a Guerra de Canudos desgastam o governo. Mesmo com a vitória das tropas do governo na guerra, os ânimos não se acalmam. Em 5 de novembro de 1897, durante uma cerimônia militar, sofreu um atentado contra a sua vida; escapou ileso, mas o seu ministro da Guerra, Mal. Bittencourt, faleceu. O presidente decretou, então, estado de sítio, para o Distrito Federal (Rio de Janeiro e Niterói) conseguindo assim livrar-se dos oposicionistas mais incômodos.

As dificuldades econômico-financeiras, herdadas da crise do encilhamento, acentuaram-se em sua administração, sobretudo devido aos gastos militares, aumentando as dívidas com os credores estrangeiros. Com a assessoria de seus ministros da Fazenda, Rodrigues Alves e Bernardino de Campos, negociou com os banqueiros ingleses a consolidação da dívida externa, operação financeira que ficou conhecida como funding loan, base da política executada por Joaquim Murtinho nos quatro anos seguintes. No plano da política externa, resolveu, favoravelmente, para o Brasil a questão de limites com a Argentina, arbitrada pelo presidente norte-americano Grover Cleveland e na qual se destacou o representante brasileiro, Barão do Rio Branco.
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24 agosto 2009

Presidentes do Brasil (1)

O Brasil é uma República desde 15 de novembro de 1889. O presidencialismo foi introduzido pela primeira Constituição republicana, a de 24 de fevereiro de 1891, que tomou como modelo as Constituições dos Estados Unidos e da Argentina.



O primeiro presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, hoje República Federativa do Brasil foi Deodoro da Fonseca (1889-1891). A República não foi proclamada por civis. Arquitetado por militares, nosso primeiro presidente foi um militar, aliás, o único general que tomou parte do movimento. O marechal Deodoro começou a cair no mesmo dia em que tomou posse. Em 25 de fevereiro de 1891 o Congresso o elegeu presidente com 129 votos, contra 97 de Prudente de Morais. No entanto, Floriano Peixoto, candidato a vice na chapa de Prudente, obteve 153 votos (24 a mais que Deodoro e quase o triplo dos 57 dados a Eduardo Wandenkolk, vice de Deodoro).



No dia da posse, o Congresso recebeu Deodoro com um silencio constrangedor para, minutos depois, aclamar Floriano com urras ensurdecedores. Em 03 de novembro de 1871, indignado om a aprovação de uma lei que permitiria o impeachment do presidente, Deodoro fechou o Congresso. Doente e de cama, Deodoro renunciou em favor de Floriano Peixoto. Deodoro fez um governo desastroso: a política financeira de seu ministro Rui Barbosa mergulhara o país no caos. O fechamento do Congresso e a decretação do estado de sítio candidata Deodoro ao posto de primeiro ditador brasileiro.



Floriano Peixoto (1891-1894), alagoano, o conhecido Marechal de Ferro não se contentou com a interinidade de exercer apenas um mandato-tampão e foi até o fim do mandato. Seu governo foi um dos mais contestados de toda a República. Foram três anos de guerra e ditadura militar. Seu governo teve grande oposição de setores conservadores, como a publicação do Manifesto dos 13 generais. O apelido ou alcunha, de "marechal de ferro" era devido à sua atuação enérgica e ditatorial, pois agiu com determinação ao debelar as sucessivas rebeliões que marcaram os primeiros anos da república do Brasil. Recebeu também o título de Consolidador da República. Entre estas, a Revolta da Armada no Rio de Janeiro, chefiada pelo almirante Saldanha da Gama, e a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, ambas com apoio estrangeiro. A vitória de Floriano sobre essa segunda revolta gerou a ainda controversa mudança de nome da cidade de Nossa Senhora de Desterro, para Florianópolis ("Cidade Floriana") em Santa Catarina.





Apesar da constituição versar no art. 4 novas eleições quando o presidente renunciasse antes de dois anos, Floriano permaneceu em seu cargo, alegando que a própria constituição abria uma exceção, ao determinar que a exigência só se aplicava a presidentes eleitos diretamente pelo povo, assumindo assim o papel de consolidador da República. Entre o final de 1891 e 15 de novembro de 1894, o governo de Floriano Peixoto foi inconstitucional, pois estava a presidência da República sendo exercida pelo vice-presidente sem que tivessem acontecido novas eleições presidenciais, como exigia a constituição.



Ele fez um governo nacionalista, austero e centralizador, enfrentou implacavelmente seus inimigos, demitiu (contra a lei) os governadores que tinham apoiado Deodoro; venceu a queda-de-braço contra a Marinha, na segunda Revolta da Armada. No Sul, deu apoio a Júlio de Castilhos. Queria a reeleição (que era inconstitucional), mas, ainda assim, se recusou a dar um golpe – articulado por seus aliados jacobinos (republicanos exaltados e radicais, inimigos dos oligarcas) – contra a posse do civil Prudente de Morais. Aso assinar o acordo financeiro com a Inglaterra e manter a monocultura cafeeira como única opção econômica do Brasil, Prudente de Morais entregou um país estabilizado mas muito endividado ao seu sucessor.
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21 agosto 2009

Sua majestade, o rei do ritmo: Jackson do Pandeiro nos 90 anos de seu nascimento

Meus inimigos querem me matar/ Se ainda estou vivo devo à Iemanjá/ Eu que sou moleque de morro/ Criado na gafieira/ Sou bamba na capoeira/ Sou valente lá pra cachorro/ Quando há barulho eu não corro/ Sei que o tempo vai fechar/ A minha vontade é de briga/ O barulho pra mim é jogo/ Tenho o corpo fechado/ Porque sou filho de Xangô/ Sou feliz por tudo que fiz/ Sei que Iemanjá me ajudou (Moleque de Morro). Essa música você pode até não ter ouvido, mas, certamente, ao saber o nome do seu mestre e compositor, rapidamente se lembrará de uma figura para lá de ritmada: Jackson do Pandeiro.
O paraibano Jackson do Pandeiro foi o maior ritmista da história da música popular brasileira e, ao lado de Luiz Gonzaga, o responsável pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. Em 54 anos de carreira artística estão registrados sucessos como Meu enxoval, 17 na corrente, Coco do Norte, O velho gagá, Vou ter um troço, Sebastiana, O canto da Ema e Chiclete com Banana. A história da sua carreira artística reforça a herança da influência negra na música nordestina - via cocos originários de Alagoas - que lhe permitiram sempre com o auxílio luxuoso de um pandeiro na mão, se adaptar aos sincopados sambas cariocas e à música de carnaval em geral.

VOZ DE OURO DA PARAÍBA - Dono de um recurso vocal único, ele conseguia dividir seus vocais como nenhum outro cantor na música popular brasileira. Seu maior mérito foi de ter levado toda riqueza dos cantadores de feira livre do Nordeste para o rádio e televisão. Grandes nomes da MPB lhe devotam admiração e já gravaram seus sucessos depois que o Tropicalismo decretou não ser pecado gostar do passado da música brasileira, principalmente a de raiz nordestina.

Nascido em Alagoa Grande, Paraíba, no dia 31 de agosto de 1919, numa família de artistas populares, sua mãe, Flora Mourão, era cantora e folclorista de Pastoril e o batizou como José Gomes Filho, onde depois ganhou o apelidou de Jack devido sua semelhança física com um ator norte-americano de filmes de faroeste Jack Perry. Jackson do Pandeiro, começou na verdade, tocando zabumba, para acompanhar a mãe, mas fazia sucesso na região com o instrumento que marcaria sua trajetória: o pandeiro. Com ele, viajou em busca do sucesso.

SAMBAS & NORDESTINIDADE - Antes mesmo de gravar seu primeiro disco, Jackson conheceu a consagração ao participar de uma revista carnavalesca chamada “A Pisada É Essa”, da Rádio Jornal do Comércio, em fevereiro de 1953, cantando o coco “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti. A música vira uma coqueluche e leva o então representante da Gravadora Copacabana, Genival Macedo, a propor contrato de exclusividade ao dono daquela “esquisita”, mas envolvente voz.

Em novembro de 1953, é lançado para todo o Brasil o primeiro disco de um acervo de 137, envolvendo mais de 400 canções. “Forró em Limoeiro” e a já famosa entre os pernambucanos, “Sebastiana”, são as escolhidas para a estréia discográfica. O sucesso se repete nacionalmente, enquanto o ritmista mantém-se em Recife, com medo de viajar de avião. Por exigência contratual, vê-se obrigado a seguir, de navio, o mesmo caminho trilhado por outros nomes da música nordestina: o Rio de Janeiro. Chega como uma estrela que jamais se apagaria.

A trajetória de Jackson de Pandeiro não registra números de vendagens significativos, nenhuma aventura pelo exterior e muito menos o charme que cerca os ídolos da música popular brasileira. Falecido em 10 de julho de 1982, o Rei do Ritmo ainda tem sua rica e vasta obra restrita às lembranças nostálgicas de quem vivenciou seu período áureo ou esquecida em empoeiradas prateleiras de colecionadores. Conhecer a obra deste artista tão completo e genial, se faz necessário para a sua perpetuação, agregando ainda mais valor à história passada, presente e futura da música brasileira.

PRINCIPAL HOMENAGEADO - Jackson influencia gerações e gerações, seu maior mérito foi de ter levado toda riqueza dos cantadores de feira livre do Nordeste para o rádio e televisão, enfim para a indústria cultural. Grandes nomes da MPB lhe devotam admiração e já gravaram seus sucessos depois que o Tropicalismo decretou não ser pecado gostar do passado da música brasileira, principalmente, a de raiz nordestina. O Prêmio Sharp de Música foi unânime em escolher o artista como o principal homenageado do troféu em 1998.

“Eu diria que Jackson é o grande malandro do nordeste da música popular”, disse Gilberto Gil. “O samba de Jackson já vinha com bebop”, informou João Bosco. “Ele encarnava toda aquela coisa da música nordestina, o ritmo, a energia e o suingue”, comentou Moraes Moreira. “No Nordeste, os três principais alimentos são a farinha, a carne seca e o ritmo, que é um verdadeiro deus e Jackson o nosso sacerdote. Temos hoje essa malandragem rítmica porque ouvimos muito Jackson quando éramos criança”, disse o músico Tom Zé. Nossa homenagem aos 90 anos de nascimento do rei do ritmo. Jackson do Pandeiro foi o maior ritmista da história da MPB



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20 agosto 2009

Tango, um sentimento triste que se baila (2)

Outro grande nome do tango argentino, contemporâneo de Gardel, foi Astor Piazzolla. Sua música encontrou resistência nas tradicionais famílias argentinas, mas representava a evolução de um ritmo que transcendeu os limites do popular para incorporar o erudito. Compositores europeus como Stravinski e Milhaud utilizavam elementos do tango em suas obras sinfônicas. A partir daí o tango começa a sofrer tentativas de renovação. Entre os representantes dessa tendência figuram Mariano Mores e Aníbal Troilo e, sobretudo, Astor Piazzolla que rompeu decididamente com os moldes clássicos do tango, dando-lhe tratamento harmônicos e rítmicos modernos. E o tango (como o samba, no Brasil) tornou-se símbolo nacional com forte apelo turístico. Casas de tango e o culto aos nomes famosos de Gardel e Juan de Dios Filiberto perpetuaram o gênero.


Com a invasão do rock and roll americano as danças de salão passaram a ser praticadas apenas por grupos de amantes e o tango passou a ser substituído por outros ritmos estrangeiros. Com o desinteresse comercial das gravadoras, poucos grandes tangos foram compostos. Muitos críticos musicais lembram quem o tango é irmão do fado. Os dois nasceram em meios difíceis, onde os homens se refugiam para esconder a solidão. Os dois gêneros abordam essa realidade. O tango nasceu na cidade portuária de Buenos Aires, nos bordéis e bares, assim como o fado em Portugal.

O tango inspirou grandes obras de diversos artistas em diferentes meios artísticos, seja no cinema, na moda, nos quadrinhos, na literatura, no teatro e nas artes plásticas. O tango tem sido uma inspiração para os filmes desde a invenção do cinema. Como a cena de tango interpretada por Rudolph Valentino no filme “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”. “Tango”, de Carlos Saura é imperdível. A música e a dança aparecem também no filme de James Cameron, “True Lies” com Arnold Schwarzenegger e Jamie Lee Curtis. E a famosa dança de Al Pacino em “Perfume de Mulher”. Não se pode esquecer o clássico “Último Tango em Paris”, com Marlon Brando e Maria Schneider, do cineasta Bernardo Bertolucci. Muitos outros filmes, através dos anos, apresentaram o tango, além dos musicais “Chicago”, “Rent” (Os Boêmios) e “Moulin Rouge”.

Nas histórias em quadrinhos o tema que me vem à lembrança é a imortal criação do italiano Hugo Pratt, Corto Maltese que atravessa meio mundo para procurar velhos amigos na Argentina ("Tango Argentino"), mas tem diversas obras que aborda o assunto. Por sua forte sensualidade, o tango que foi, a princípio, considerado impróprio a ambientes familiares, mais tarde o ritmo herdou algumas características de outras danças de casais como as corridas e quebradas da habanera, mas aproximou-se mais o par e acrescentou grande variedade de passos. Os dançarinos mais exímios compraziam-se em combiná-los e inventar outros, numa demonstração de criatividade.

Da ancestral e complexa relação entre os seres humanos, fora dos ambientes populares e dos prostíbulos (onde imperava nos subúrbios), o tango perdeu um pouco da lendária habilidade dos bailarinos. Admitido nos salões, abdicou das coreografias mais extravagantes e evitou posturas sugestivas de uma intimidade considerada indecente, numa adaptação ao novo ambiente. A entrada da mulher na dança acrescentou vida, beleza e sensualidade no baile.

A dança é um ritual. Os dançarinos, impassíveis estão sempre sérios e com o olhar fixo. Em nenhuma dança o olhar desempenha um papel tão importante quanto o tango. As pernas são fundamentais, cruzam e entrecruzam em movimentos rápidos e o movimento do corpo é dramático. Assim, o tango é o grande protagonista cultural da vida da cidade, e talvez a maior contribuição de Buenos Aires à cultura popular universal. Não é só música ou dança, o tango é uma maneira trágica de viver. Um sentimento triste que se baila.


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19 agosto 2009

Tango, um sentimento triste que se baila (1)

Ao ouvir o som do tango surge sempre a imagem de glamour, sensualidade e determinação no olhar. Mas nem sempre foi assim. O início da dança mais famosa dos argentinos não passava de uma simulação de luta entre dois homens com faca em punho. A princípio era apenas um ritmo para dançar e suas origens nasceram do Tanguillo da Andaluzia (Espanha) e da Habanera, rumba cadenciada que se dançava em Havana, Cuba. Recebeu influências de ritmos africanos, candombe, de onde aliás se deriva o nome tango (em alguns dialetos africanos tango significa lugar fechado onde as pessoas se encontram). Inicialmente era considerado música de marginais, em que homens dançavam entre si nas ante-salas dos prostíbulos.


No final do século XIX, Buenos Aires era uma cidade em expansão. Sua população era de imigrantes espanhóis, italianos, alemães, húngaros, árabes e judeus. Cerca de 70% da população era composta por homens ávidos pelas promessas de fortuna e 25% de negros que dançavam no ritmo do candombe. E é neste cenário que dá início ao tango, praticado em bordéis e prostíbulos ao som de violino, flauta e violão. O bandoneón surgiu somente em 1900, substituindo a flauta.

Assim o tango nasceu como expressão folclórica das populações pobres, oriundas de todas aquelas origens, que se misturavam nos subúrbios da crescente Buenos Aires. Os imigrantes, na sua maioria gente pobre e com um fardo difícil, transmitiram nostalgia e um ar melancólico para as músicas. Talvez por isso os portugueses se identifiquem tanto com o tango. Dança multicultural que se identifica com o povo português, o folclore, os bairros pobres, a nostalgia, assemelhando-se ao fado.

A fase inicial era puramente dançante. O povo se encarregava de improvisar letras picantes e bem humoradas para as músicas mais conhecidas. O baile era corporal, provocador, com movimentos explícitos e letras obscenas: “duas sem tirar”, “gozo com tanto vento”, “a espiga de milho” (no sentido metafórico). O êxito desses espetáculos tornou-os mais frequentes. Eram organizados apenas por homens. Em público, apenas dançavam homens com homens. Naquele tempo era considerada obscena a dança entre homens e mulheres abraçados, sendo este um dos aspectos do tango que o manteve circunscrito aos bordéis.

Enquanto aguardavam a vez para entrar nos quartos das prostitutas, passavam o tempo bailando, homem com homem. Mais tarde, o tango se tornou uma dança tipicamente praticada nos bordéis, principalmente depois que a industrialização transformou as áreas dos subúrbios em fábricas transferindo a miséria e os bordéis para o centro da cidade. Nessa fase haviam letras com temática voltadas para esses ambientes. Eram letras francamente obscenas e violentas. As letras são escritas no peculiar dileto portenho, o lunfardo. Gíria usada por delinqüentes e gigolôs, mistura de espanhol, de dialetos italianos, de português, de idiomas indígenas. Tanto a música como a letra assumira tom acentuadamente melancólico, com temas obre os tropeços da vida e desenganos amorosos. A temática é ligada à boemia, com menção ao vinho, aos amores proibidos e às corridas de cavalos.

As pessoas ricas não podiam dançar o tango, porque dizia que os dançarinos ficavam muito juntinhos, fazendo passos sensuais e as outras danças da época eram mais comportadas. Por isso, o tango só era dançado nas áreas pobres de Buenos Aires. Dos subúrbios chegou ao centro de Buenos Aires, por volta de 1900. E as primeiras composições assinadas surgiram na década de 1910, no período conhecido como Velha Guarda. É nessa época que os emigrantes argentinos chegaram a Paris, levando consigo o tango. A sociedade parisiense da época ansiava por novidades e extravagâncias. O tango logo se transformou numa febre na capital francesa e, como Paris era o ícone cultural de todo mundo civilizado, depressa o tango alastrou ao resto da Europa.

O tango começou a ser exportado para o mundo por intermédio de marinheiros de diversas partes do mundo, encantados com suas incursões em terras pelas noites argentinas. A Argentina reabilitou o tango cantado, que a ditadura dos generais tentara erradicar, e redescobre a riqueza de suas origens e a filosofia que o acompanha. Até países como a Finlândia o tango tornou-se uma verdadeira instituição. Os mais conservadores e moralistas condenavam o tango (assim como já tinham condenado a valsa), por o considerarem uma dança imoral. Afinal, meter a perna entre as pernas de uma senhora era ofensivo e obsceno. A própria alta sociedade argentina desprezava o tango, que só passou a figurar nos salões da classe alta, graças ao efeito de ricochete provocado pelas notícias eu anunciavam o sucesso da dança em Paris.
A partir de 1917 a letra passou a ser parte essencial do tango e, consequentemente, surgiu os cantores de tango. “Mi Noches Tristes” é considerado o primeiro (ou pelo menos mais marcante nessa transição) tango-canção. De 1928 a 1935 Carlos Gardel reinou e atraiu multidões. Ele foi responsável pela popularização do tango, estrelando filmes musicais de tango produzido em Hollywood. A figura lendária de Gardel é o símbolo clássico do tango cantado. Seu parceiro, compositor e escritor de suas canções inesquecíveis como “Mi Buenos Aires Querido”, “El Dia que me Quieras” e “Volver”, foi Alfredo Le Pera, brasileiro.

Invadindo a cena da música para tirar o tango da marginalidade do “bas-fond”, Gardel cantou os caminhos e descaminhos do “Viejo Barrio”, “Mano a Mano”, “La Cumparsita”, “Caminito” e “Mi Buenos Aires Querido”. Com pinta de Rodolfo Valentino, o ator romântico do cinema mudo de então, Gardel gravou 500 discos, tendo ainda atuado no cinema, filmando nos anos 30 em estúdios da França e dos EUA. Só não acumulou fortuna porque foi também um perdulário, tão apaixonado pelo tango como por mulheres e corridas de cavalo.
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18 agosto 2009

Photographie: 170 anos (2)

Em 1826, baseado no fenômeno do escurecimento dos sais de prata quando expostos à luz, descoberto em 1727 pelo médico alemão Johann Schule, o francês Joseph Nicéphore Nièpce conseguiu, pela primeira vez, fixar uma imagem numa chapa de estanho. Em 1837, seu sócio, Louis-Jacques Daguerre, inventa o daguerreótipo, imprimindo as imagens sobre papel e obtendo imagens mais nítidas com o uso de sais de prata, vapor de mercúrio e hipossulfito de sódio. Em 1840, o inglês William Talbot aperfeiçoou o processo inventando o método de reprodução numa folha sensibilizada a partir de um original em negativo.

A fotografia, assim como a maior parte das grandes invenções que a sucederam durante o século XIX, nasceu de certas necessidades de ordem econômica e cultural, geradas nas sociedades em processo de industrialização crescente. E estas necessidades criaram condições favoráveis ou “momentos propícios” para o aparecimento de algo novo. A fotografia entrou então em esquema industrial com a invenção da chapa seca, que substituiu o colódio pela gelatina na fixação das imagens, e com a criação, pela Kodak, da câmara simples. Daí em diante, a contribuição da fotografia foi fundamental para as artes plásticas, o jornalismo, a ciência, a documentação de vida cotidiana e o lazer.

ARTE

Desde o início, a fotografia é usada como meio de utilizar de estudo pelos pintores (fotos de nus masculinos feitas por Eugêne Durrieux foram usadas por Delacroix) e alguns deles chegaram a pintar quadros a partir de fotos; mas a fotografia ainda é muito dependente da pintura no século XIX, e fotógrafos como Rejlander e Peach Robinson chegam a usar lentes embaçadas para obter o mesmo clima difuso das telas impressionistas. No século XX, a fotografia começa a tornar-se autônoma, com desenvolvimento paralelo ao de outros movimentos estéticos.

Desde 1860, fotógrafos acompanham exércitos em expedições militares como a Guerra da Criméia ou a da Secessão. Mas é a 04 de março de1880 que o Daily Herald de Nova York publica a primeira foto: Shatytown (favela), uma inovação que só irá se firmar no século XX (Daily Mirror de Londres, 1904; Ilustrated Daily News de Nova Iorque, 1919). Na Alemanha, nos anos 20, o fotojornalismo se desenvolve muito com o Berliner Illustrierte e o Nunchener Illustrierte Press. Os profissionais alemães vão fugir do país durante o nazismo, influenciando na criação, nos EUA, de um estilo de fotojornalismo: o da revista Life.

IMPORTÂNCIA

Da Segunda Guerra em diante, a fotografia passou a desempenhar papel cada vez mais importante na cobertura dos acontecimentos (nos EUA, Time e Newsweek; na França, Paris Match; na Alemanha Ocidental, Der Spiegel e Stern). Nos anos 80 o uso do sistema digital de transmissão de informações utilizado por computadores que permite o envio de fotos pelo telefone, condena ao desaparecimento gradativo os velhos processos de telefoto. No Brasil, na década de 50, a foto reportagem toma grande impulso com a revista O Cruzeiro e com a importância que a fotografia assume no Jornal do Brasil. O ponto culminante será atingido pela revista Realidade.

O aspecto documentário ou fotojornalístico baseia-se em um simples desejo de comunicação, de dizer sobre pessoas. O fotógrafo diz: Eu vi isto e esta é a maneira como eu sinto a respeito. A fotografia existe para as multidões e é por elas experimentada; todavia, apesar do consumo de massa, suas dimensões estéticas são intimamente guardadas por seu mais ardente praticante. Arthur Goldsmith em seu livro O Jogo da Fotografia, escreve que a fotografia pode “expandir e esclarecer sua própria visão, tornando-o mais vivo ao conduzi-lo, através do sentido primacial da visão, a um contato mais íntimo com a vida”.

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17 agosto 2009

Photographie: 170 anos (1)

Costuma-se considerar o dia 19 de agosto de 1839 como o dia de nascimento da fotografia, data em que a invenção do daguerreótipo (aparelho revelador, que usava chapa de cobre sensibilizada com prata e tratada com vapores de iodo) – depois de anunciada pública e oficialmente em Paris pelo astrônomo François Arago, secretário da Academia de Ciências francesa – foi revelada em seus detalhes técnicos, tornado possível a sua realização em qualquer parte do mundo.

Louis Jacques Mande Daguerre, um pintor já célebre e popular, decorador de teatros e inventor do diorama, havia chegado ao daguerreótipo há algum tempo, em 1837, graças às pesquisas iniciadas muito antes por Nicéphore Niépce, com quem Daguerre havia insistido em firmar uma sociedade no ano de 1829. Para Daguerre era bastante conveniente o entusiasmo de François Arago e sua disposição de conseguir que o governo francês adquirisse a patente do daguerreotipo, recompensando adequadamente seus inventores, já que, até esse momento (janeiro de 1839), ele ainda não havia encontrado uma solução satisfatória para a comercialização do novo invento.

Diante da facilidade de obtenção do daguerreótipo, uma vez revelado o seu processo de execução, Daguerre havia descartado a idéia de uma simples patente, não tendo êxito também o projeto de uma ampla subscrição do novo processo. Quando o inglês William Henry Fox Talbot apresentou um de seus photogenic dramings em reunião da Royal Institution, reivindicando para si a invenção de um processo diferente e potencialmente “superior” ao daguerreótipo, François Arogo tratou de empreender todos os seus esforços para apressar o anúncio oficial do processo francês.

FLORENCE

Até 1976, muito pouca gente já tinha ouvido falar no nome de Hercules Florence, um pesquisador francês que viveu entre 1830 e 1879, na Vila de São Carlos, hoje Campinas. Um número ainda menor de pessoas ousaria supor que este homem seria o inventor da fotografia. Antoine Hercules Romuald Florence, utilizando-se de meios precários, realizou pela primeira vez na história – em 1833 – a fixação da imagem em papel sensível.

A intenção de Florence era a de criar uma forma de reprodução gráfica, tendo em vista a inexistência de uma tipografia na região. Só que, pesquisando a sensibilidade dos sais de prata aos raios solares, a potencialidade da amônia como fixador e a câmara obscura, ele chegou, antes dos reconhecidos e consagrados cientistas europeus, à fotografia, cuja denominação, photographie. Em 1976, uma pesquisa de Boris Kossoy tornou público invento e inventor. Depois então Hercules florence passou definitivamente à história.

PESQUISA

Boris Kossoy apresentou e documentou a descoberta de Hercules Florence. A photographie brasileira, sem sotaque, levou Kossoy (autor de uma monografia sobre Florence e o seu invento) a várias universidades norte-americanas, a proferir dezenas de palestras e a solicitar inúmeras entrevistas com historiadores. Esta cruzada pela verdade histórica sobre as origens da fotografia obteve resultado positivo. Como provas irrefutáveis do pioneirismo de Florence, o pesquisador relaciona, por exemplo, a criação do nome photographie, que surgiu em 1832 por sugestão do farmacêutico Correa de Melo, quando se sabe que essa denominação é, historicamente, atribuída ao inglês John Erschell somente em 1839.

Outra prova é o uso do negativo-positivo, enquanto a placa do daguerreótipo permita apenas uma cópia, ao que se acrescenta a constatação de que o negativo-positivo é uma invenção de Fox Talbot, posterior a 1834 e aperfeiçoada somente em 1839. E já em 1833, Florence em sua casa da obscura Vila de São Carlos, afastada dos grandes centros e sem conhecimento de outras experiências européias, revelava e fixava, utilizando a urina como substância fixadora de imagens. A comprovação de seus experimentos está preservada em manuscritos, que foram colocados à disposição de Boris nos quatro anos que se dedicou à pesquisa.

MÉTODOS

Hercules Florence usava dois métodos dephotographie: um com a câmara fotográfica e da qual existem registro de várias experiências, como a imagem da janela de Florence ou da cadeia da Vila, e o outro, bastante semelhante ao da atual copiadeira, devidamente registrado pela fotografia de um diploma da maçonaria e outra sobre os rótulos de farmácia. Escurecendo uma placa de vidro com uma lâmpada de querosene, Florence desenhava-a com uma ponta de metal, transformando a placa numa matriz.

Em seguida, aplicava ao vidro uma moldura e aparador. Na câmara escura, emulsionava-lhe nitrato de prata passando depois à exposição da luz solar. O resultado era uma cópia de contato da placa com aquela que traçara o desenho. Quem folhear extenso manuscrito de Florence – L´Amidees Arts Livre a Lui Même ou Recherches et Decouverts sur Differents Sujets Noveaux – uma compilação de seus inventos e do relato da viagem científica da expedição Langsdorff, na qual atuou como segundo desenhista, encontrará a semente de suas fotografias.

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14 agosto 2009

Michael Jackson (1958-2009): morre o rei do pop, nasce o mito (5)

HOMENAGENS
O mundo da música de luto prestou homenagens a Michael Jackson. Seus fãs continuam a ouvir suas músicas. Vários artistas falaram sobre a perda do ícone pop.
Caetano Veloso: “A notícia da morte de Michael Jackson foi um grande abalo. Cheguei ao Teatro do Sesi de Porto Alegre e, ao ser informado, pensei imediatamente em meus filhos Zeca e Tom. Logo Daniel Jobim me veio à mente. Ele é conhecedor e devoto de Michael desde a infância. Moreno, meu filho mais velho, também dedicou afeto intenso à figura desse gênio do nosso tempo. Mas são meus filhos menores que hoje se sentem mais atraídos por seu estilo. Como todo mundo, acompanhei Michael desde que ele era pequeno. Como todo mundo, fiquei siderado pelo cantor e dançarino de Off the Wall e Thriller. Como todo mundo, fiquei entre fascinado, enojado e apreensivo diante das transformações físicas por que ele passou. O que quer que tenha havido entre ele e aqueles meninos cujos pais o processaram, acho-o moralmente superior a esses pais. Michael é o anjo e o demônio da indústria cultural. A serpente do seu paraíso e seu mártir purificador. Os talentos artísticos extraordinários frequentemente coincidem com vidas torturadas e enigmáticas. Michael era um desses talentos imensos. Dançando Billie Jean na festa da Motown ele foi sim tão grande quanto Fred Astaire: comentava o Travolta de Saturday Night Fever e o Bob Fosse do Pequeno príncipe (este, uma influência fortíssima e evidente, que nunca vi mencionada). Vou entrar agora no palco pensando em Tom, Zeca, Moreno e Daniel - e, com um nó na garganta, no sentido da nossa atividade. Ele a representava em sua totalidade, fulgurantemente, tragicamente, divinamente”.
Gilberto Gil: "Lamento que um talento tão grande, tão incrível vá embora tão cedo. Um talento que proporcionou grandes momentos. Vou sentir saudade do rei do pop".
Ivo Meirelles: "Alguém precisa reinventar a música moderna. Com Michael Jackson morre o verdadeiro jeito pop de seduzir o mundo."
Deborah Colker (bailarina e coreógrafa): “O jeito de ele dançar era hip hop, era funk, era breakdance – mas não resultava em nada disso, porque era reivenção”
Latino: "Estou chorando como o mundo inteiro deve estar. É a perda de uma geração inteira. Para mim é um choque. Sempre abri os meus shows com músicas dele. Sempre me inspirei no "showman" que ele foi".
Eduardo Lages, maestro do Roberto Carlos: "Eu e o Roberto Carlos assistimos ao show do Michael Jackson há 20 anos e depois fomos ao camarim dar um abraço nele. Para mim o Michael Jackson era o último grande ídolo pop mundial que surgiu. Era um show de talento. O Roberto Carlos sempre foi muito fã do Michael Jackson".
Gabriel O Pensador: "O Michael Jackson deixou muita música boa. Foi um pioneiro nos videos clipes. Desde criança ele já era um talento. Todas as polêmicas ficam em segundo plano neste momento"
Sidney Magal: "Eu assisti ao show que ele fez no Brasil em 1993 porque fazia questão de assistir aquele que considerava o maior ídolo de todos os tempos. Eu admirava esse artista único, que era maior do que a própria arte. Ele era um monstro com quem a gente só tinha a aprender. Tenho quase todos os DVDs e CDs dele, meus filhos cresceram ouvindo e dançando Michael Jackson. Com sua dança, ele criava coisas fascinantes com o corpo. Foi um artista inato, que desde pequeno se destacou. Tudo o que fazia era de tanto bom gosto, tão bonito, que não tinha como não aplaudir."
O escritor e jornalista Maurício Valladares considera a História da música como "uma página virada" com a morte de Michael Jackson. “O que a música será a partir de agora, com todo esse processo? Parece até que ele não quis voltar para o mundo da música, estava tudo pronto. É o artista que mais chegou às pessoas, com muita qualidade, por muito tempo. Ele era uma fábrica, uma usina de hist muito pontuais. Em qualquer época, em qualquer lugar no mundo se uma festa estiver devagar, você faz uma seleção de sequencia de Michael Jackson e pronto, vai pegar fogo - disse Valladares, apostando que o disco mais vendido do astro, Thriller, vai vender ainda mais - Ele é um deus em todos os sentidos. Ele vai ser mais do que nunca uma referência de como as coisas funcionavam ao sair de cena”.
Ed Motta: “Até hoje quando se fala em música popular, ele é a pessoa número 1 do mundo”.
A vida e a morte
é uma dança
na dinâmica do mundo pop
Jackson expulsou o sonho de si
expôs ao voyeurismo desejante de milhões
e tornou-se o efeito especial em zilhões.
Perpetuou jovem, imune ao tempo
alimentando a indústria do entretenimento.
E na história da assimulação negra ao mercado
ele foi fetiche industrial americano que se tornou libertário
foi um cidadão do momento avançado do capitalismo turbinado.
“Quando Bob Dylan se tornou cristão/Fez um disco de reggae por compensação/Abandonava o povo de Israel/E a ele retornava pela contramão//Quando os povos d'África chegaram aqui/Não tinham liberdade de religião/Adotaram Senhor do Bonfim:/Tanto resistência, quanto rendição//Quando, hoje, alguns preferem condenar/O sincretismo e a miscigenação/Parece que o fazem por ignorar/Os modos caprichosos da paixão//Paixão, que habita o coração da natureza-mãe//E que desloca a história em suas mutações/Que explica o fato da Branca de Neve amar/Não a um, mas a todos os sete anões//Eu cá me ponho a meditar//Pela mania da compreensão//Ainda hoje andei tentando decifrar/Algo que li que estava escrito numa pichação/Que agora eu resolvi cantar/Neste samba em forma de refrão://"Bob Marley morreu/Porque além de negro era judeu//Michael Jackson ainda resiste/Porque além de branco ficou triste" (De Bob Dylan a Bob Marley - um samba-provocação de Gilberto Gil)
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13 agosto 2009

Michael Jackson (1958-2009): morre o rei do pop, nasce o mito (4)

A razão do fracasso - seja o comportamento polêmico do artista, a crescente especulação sobre sua vida pessoal ou apenas o desvio do interesse do público para ritmos como o rap e o hip-hop - permanece aberta ao debate. Um faixa em particular - "They don't care about us", que fazia uma alusão aos judeus, causou ultraje em muitas pessoas, inclusive o amigo de longa data do músico, o diretor de cinema Steven Spielberg, que considerou a música antissemita.

A participação do artista na cerimônia de entrega no prêmio musical Brit Awards, em 1996, quando apareceu rodeado por crianças e por um rabino, parece ter sido o estopim para muitos. Nessa ocasião, o músico Jarvis Cocker, da banda Pulp, interrompeu a apresentação de Michael Jackson, invadiu o palco e abaixou as calças.

Em sua carreira, Michael Jackson esteve três vezes no Brasil. A última foi em 1996. Neste ano, ele gravou com o grupo Olodum, no Pelourinho, em Salvador. Gravou também, na Favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, o videoclipe "They really don't care about us", dirigido por Spike Lee.
Nos anos seguintes, começa o declínio. Somente em 2001, o artista grava um novo disco: "Invincible". Fisicamente, é um outro Michael Jackson. Abalado por problemas físicos e psicológicos, envolvido em escândalos, o cantor foi se tornando cada vez mais recluso. A última aparição musical foi na Inglaterra, na entrega de um prêmio, em 2006. Com voz fraca, nem de longe lembrava o artista genial, o furacão musical que varreu o mundo nos anos 80.
APARÊNCIA
O virginiano Michael Jackson não fugiu à regra dos que pertencem a esse signo: sempre preocupado com a perfeição, em todos os níveis, de uma forma que muitas vezes chega às raias da obsessão. Tablóides, as revistas de fofocas e até mesmo uma parcela do público nunca perdoaram a pele cada vez mais clara. Eles o acusavam de não mais querer ser negro. A imagem do garoto negro que ajudou a embalar os anos 70 foi ficando distante. Mudanças no cabelo, no rosto, na cor da pele: o que realmente acontecia com o ídolo sempre protegido pelos óculos e pelos chapéus? A cada transformação, um Michael cada vez mais recluso. Não fumava, não bebia, não usava drogas, não comia carne. Um segredo guardado a sete chaves. Quando reaparecia, era como se fosse um novo Michael. Ele pouco falava sobre o assunto. Será que era vitiligo, a doença que provoca manchas na pele?

“Eu tenho uma doença de pele que destrói a pigmentação da minha pele. É uma coisa que eu não posso evitar. Mas, quando as pessoas inventam histórias que eu não quero ser o que eu sou, me machuca”, revelou o cantor em uma entrevista. Em cena, Michael Jackson também gostava de se transformar. Como no inesquecível lobisomen de “Thriller”. Mas a voz tão admirada no palco na vida real soava como a de uma criança. “Eu tinha tantas espinhas e isso me deixava tímido. Eu não costumava me olhar. Eu lavava meu rosto no escuro, não me olhava no espelho. Meu pai me importunava, e eu odiava. Eu chorava todos os dias por causa disso”, contou o astro. “Meu pai implicava comigo. Ele dizia que eu era feio”, contou. A irmã Latoya dizia que Michael não gostava de si mesmo. Por isso, queria tanto mudar. Os fãs do mundo inteiro certamente preferem o Michael que cantava: “não importa se você é preto ou branco”.
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