30 junho 2022

Curiosidade dos quadrinhos (52): Semana Ilustrada

 


A primeira revista de caricaturas regular e de larga duração foi a Semana Ilustrada, do alemão Henrique Fleiuss, que se constituiu no modelo de todas as publicações humorísticas brasileiras do século 19. Fleiuss manteve por dezesseis anos um hebdomadário bem diferente dos que à época alcançavam maior destaque social. De formato pequeno, com quatro páginas para imagens e quatro para textos, trazia semanalmente, como personagens centrais, narradores em um diálogo aberto, o Dr. Semana e seu Moleque, personificado em um menino escravo. Amigo pessoal de D. Pedro II e da imperatriz D. Teresa Christina, Henrique Fleiuss freqüentava o Paço Imperial e era bem relacionado nas mais altas rodas da Corte, o que rendia-lhe o título de conservador e acrítico ao governo. Esta imagem, que começou a ser desenhada quando o artista era vivo, acabou perpassando aos estudos sobre imprensa ilustrada como um motivo para a ausência de críticas nos trabalhos do alemão.

29 junho 2022

Curiosidade dos quadrinhos (51) Realidade de forma humorística

 


Segundo Lailson de Holanda Cavalcanti (Historia del humor gráfico en el Brasil. Lleida: Editorial Milenio, 2005), o primeiro exemplo no país de um “desenho que representa a realidade de forma humorística e alegórica” data de 1831, na publicação O Carcundão, do estado de Pernambuco. “O jornal sai como um papel A3 dobrado, mimeografado, com um desenho na capa e outro na contracapa. As páginas externas eram impressas em xilogravura e a parte de texto, em tipografia. Na capa, um homem corcunda é apresentado com uma cabeça de asno, simbolizando a ignorância das elites como sendo um Goya, que é o santo padroeiro dos cartunistas ibero-americanos”, comenta Lailson, referindo-se ao pintor e gravador espanhol Francisco Goya (1746-1828). Na contracapa, o homem asno é soterrado por uma coluna, numa alusão à Sociedade Colunas do Trono, que defendia o absolutismo de Dom Pedro I. Na legenda, a expressão latina non plus ultra, que significa “não mais além”, era empregada recorrentemente na navegação. “Não é o primeiro desenho de humor produzido no Brasil, mas é a primeira charge brasileira, datada de 1831. Traz elementos alegóricos e cifrados em um contexto logo em seguida à abdicação de Pedro I, quando o conceito de uma república já existia, mesmo que em um movimento por um rei brasileiro”, argumenta.

 

"Este tipo de polêmica é inútil ", rebate Heliana Angotti Salgueiro, curadora da exposição "A Comédia Urbana: De Daumier a Porto-Alegre", montada em São  Paulo, 2003, na Faap. "Dentro de uma metodologia científica, não se pode defender que essa obra ou aquela foi a "primeira" em nenhuma área do conhecimento. Nunca se deve fechar a questão. As pesquisas avançam". E completa: "[Os desenhos do "Carcundão'] Aproximam-se mais das vinhetas francesas tipográficas. Porto-Alegre vivenciou o universo da caricatura da primeira metade do século 19 na França e tudo indica que adquiriu um nível de informação que outros no Brasil certamente não tinham".

 

28 junho 2022

Curiosidade dos quadrinhos (50) Vizunga

 


O quadrinista brasileiro Flavio Colin (1930-2002) produziu, durante parte dos anos 1964 e 1965, uma história em quadrinhos intitulada Vizunga, que, realizada na forma de série em tirinhas e destinada à publicação em jornais, foi originalmente veiculada no jornal Folha de São Paulo. Em junho de 1978, em seu décimo primeiro número, a revista Eureka(da Editora Vecchi) iniciou a republicação de Vizunga, em preto e branco – modo como o trabalho foi concebido originalmente –, mas agora com as tirinhas reunidas em blocos sequenciais que se estenderiam (ou deveriam se estender) pelos dois números seguintes daquela publicação. Todavia, a série reeditada ficaria sem a terceira parte, visto que a Vecchi extinguiu a revista no seu décimo segundo número – datado de janeiro de 1979.Ao todo, foram publicadas cento e cinco tirinhas da HQ Vizunga nas edições nº 11 e nº 12 da Eureka; desse total, a maior parte – 94 tirinhas – é composta de um conjunto de três quadrinhos cada uma, havendo ainda oito tirinhas com dois quadrinhos cada – entre elas a de abertura – e três tirinhas de quatro quadrinhos. Vizunga é um texto de ficção, ambientado ora na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, ora em locais ainda preservados da presença das sociedades ditas civilizadas, ao longo do qual Parsifal de Carvalho – personagem central da narrativa – conta suas experiências de caça, pesca e desbravamentos a Nelson, um recém-conhecido jovem de classe média, morador, como ele, das imediações do bairro de Copacabana. Parsifal é um bonvivant, homem rico que já correu mundo em viagens de férias ou de negócios e agora, com aproximados 60 anos de idade, desperta a admiração de um grupo de jovens interlocutores com os casos que desfia. A cada um de seus encontros com Nelson – que são sempre fortuitos –, Parsifal conquista novos e interessados ouvintes. Um passeio pelo calçadão de Copacabana, um jantar em restaurante, um banho de mar (Figuras 42a, 42b e 42c), convertem-se em oportunidade para que ele, sempre com requintes de detalhamento, relate suas aventuras por rincões pouco explorados do planeta.