31 março 2010

Ossain, o senhor das folhas

Originário de Iraô, atualmente na Nigéria, não fazia parte dos 16 companheiros de Odùdùwa quando na chegada de Ifá (Orunmilá). Patrono da vegetação rasteira, das folhas e de seus preparos, defensor da saúde, é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas. Cada Orixá tem a sua folha, mas só Ossain detém seus segredos. E sem as folhas e seus segredos não há axé, portanto sem ele nenhuma cerimônia é possível. Osanyin usa uma cabaça chamada Igbá-Osanyin. Fuma e bebe mel e pinga.

Osanyin também é um feiticeiro, por isto é representado por um pássaro chamado Eleyê, que reside na sua cabaça. As proprietárias do pássaro do poder são as feiticeiras. Ele carrega também sete lanças com um pássaro em cima da haste, o qual é seu mensageiro e voa para trazer-lhe notícias. Osanyin está extremamente ligado a Orunmilá, Senhor da Adivinhações. Estas relações, hoje cordial e de franca colaboração, atravessaram no passado período de rivalidade.

Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidentes. Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Ossain para manter sua saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.

As folhas de Osanyin veiculam ao axé oculto, pois o verde é uma das qualidades do preto. As folhas e as plantas constituem a emanação direta do poder da terra fertilizada pela chuva. São como as escamas e as penas, que representam o procriado. O sangue das folhas é um dos axés mais poderosos, que traz em si o poder do que nasce e do que advém.

OSANYIN existe em todas as folhas, por isso quando as queimam as matas ele fica revoltado com o ser humano, que destrói a força da natureza, que é a cura de todas as doenças que existem e que vão existir.

ESCRAVO

A história revela que ossain era escravo de orunmilá e recusava-se a cortar as folhas que teriam inúmeras utilidades na manutenção da saúde das pessoas: ervas que curam febre,as dores de cabeça e as cólicas. Tomando conhecimento do fato, Orunmilá quis ver quais eram as ervas de tão grande valor. Convencido do conhecimento de Ossain, Orunmilá percebeu que ele poderia lhe ser útil e o manteve para sempre a seu lado para as consultas.

Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e impetuoso, irritado por não deter os conhecimentos secretos sobre a utilização das folhas, usou de um ardil para tentar usurpar de Ossain a propriedade das folhas. Falou dos planos à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos. Explicou-lhe que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de Iroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas. "Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô.

Iansã aceitou a missão com muito gosto. O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram. Os orixás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. E, assim, continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto. Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.

NOME DAS PLANTAS

Òrúnmílá dá a Òsanyìn o nome das plantas. Ifá foi consultado por Òrúnmílá que estava partindo da terra para o céu e que estava indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse, eis todas as folhas que queria pegar o que fará com elas ? Òrùnmílá respondeu que iria usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra. Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou Òsanyìn no caminho.

Perguntou: Òsanyìn onde vai? Òsanyìn disse; "Vou ao céu, disse ele, vou buscar folhas e remédios". Òrúnmílá disse, muito bem, disse, que já havia ido buscar folhas no céu, disse, para benefício dos seres humanos da terra. Disse, olhe todas essas folhas, Òsanyìn pode apenas arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer remédios (feitiços) com elas porém não conhecia seus nomes. Foi Òrúnmílá quem deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia. Ele disse, você Òsanyìn carrega todas as folhas para a terra, disse, volte, iremos para terra juntos. Foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsanyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das folhas apanhadas.

LIVRE PARA O MUNDO

Desde pequeno Òsanyìn andava metido mata adentro. Conhecia todas as folhas, sabendo empregá-las na cura de doenças e outros males. Um dia Òsanyìn resolveu partir pelo mundo. Por onde andava era aclamado como o grande curandeiro. Certa vez salvou a vida de um rei, que em recompensa deu-lhe muitas riquezas. Òsanyìn não aceitou nada daquilo; disse que aceitaria somente os honorários que seriam pagos a qualquer médico.

Tempos depois, a mãe de Òsanyìn adoeceu. Sendo procurado por seus irmãos e para espanto destes, Òsanyìn exigiu o pagamento de sete cauris por seus serviços, pois não poderia trabalhar para quem quer que fosse no mundo, sem receber algo. Mesmo contrariados os irmãos pagaram-lhe os sete cauris e sua mãe foi salva. Òsanyìn curou a mãe e seguiu caminho, pois ele é a folha e tinha que estar livre para o mundo.

NOVAMENTE SANGO

Òsanyìn havia recebido de Olodumaré o segredo das ervas. Estas eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Sangô se queixou à sua mulher, Yansan-Oyá, senhora dos ventos, de que somente Òsanyìn conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no mundo sem possuir poder sobre nenhuma planta. Oyá levantou as saias e agitou-as, impetuosamente. Um vento violento começou a soprar. Òsanyìn guardava o segredo das ervas numa cabaça pendurada num galho de iroco. Quando viu que o vento havia soltado a cabaça e que esta tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou "Ewê O!! Ewê O!" (Oh! as folhas!! Oh! as folhas!!)

As folhas voaram pelo mundo e os Orisás se apoderaram de algumas delas, mas Òsanyìn continuou dono do segredo das suas virtudes e dos cantos e palavras que devem se dizer para que sua força, Axé, apareça.

Assim, Ossain é o deus das ervas. Comanda as folhas medicinais, litúrgicas, é o mestre do mato. Sem ele nenhuma cerimônia é possível, usa pilão, veste verde, sua saudação é Euê ô! Ibaulama ou Inlê é. Ao dançar, leva em cada mão uma chibata de couro de três pernas, com ele se flagela. Come tudo que é caça e seu dia é quinta-feira.

FONTES:

http://www.africanasraizes.com.br/cultura.html

http://www.acordacultura.org.br

http://bravoafrobrasil.blogspot.com/2009/10/lendas-africanas.html

http://estudoreligioso.wordpress.com

http://www.lendas.orixas.nom.br

-----------------------------------------------------------

Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

30 março 2010

Oxum

Dona das águas. Na África, mora no rio Oxum. Senhora da fertilidade, da gestação e do parto, cuida dos recém-nascidos, lavando-os com suas águas e folhas refrescantes. Jovem e bela mãe, mantém suas características de adolescente. Cheia de paixão, busca ardorosamente o prazer. Coquete e vaidosa, é a mais bela das divindades e a própria malícia da mulher-menina. É sensual e exibicionista, consciente de sua rara beleza, e se utiliza desses atributos com jeito e carinho para seduzir as pessoas e conseguir seus objetivos. Quando Orumilá estava criando o mundo, escolheu Oxum para ser a protetora das crianças. Ela deveria zelar pelos pequeninos desde o momento da concepção, ainda no ventre materno, ate que pudessem usar o raciocínio e se expressar em algum idioma. Por isso, Oxum é considerada o orixá da fertilidade e da maternidade. Por sua beleza, Oxum também é tida como a deusa da vaidade, sendo vista como uma orixá jovem e bonita, mirando-se em seus espelhos e abanando-se com seu leque (abebê ).


Em um belo dia, Sàngó que passava pelas propriedades de Èsù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Òsùn. Foi-se a tal ponto que Sàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Oyó. Òsùn rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èsù. Sàngó então irado e contradito, sequestrou Òsùn e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo.

Èsù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência. Chegando nas terras de Sàngó, Èsù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre. Lá estava Òsùn, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei.Èsù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe sedeu uma poção de transformação para Òsùn desvencilhar-se dos domínios de Sàngó.

Èsù, através da magia pode fazer chegar as mãos de sua companheira a tal poção. Òsùn tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voou e pode então retornar a casa de Esù.

FONTES:

http://www.africanasraizes.com.br/cultura.html

http://www.acordacultura.org.br

http://bravoafrobrasil.blogspot.com/2009/10/lendas-africanas.html

http://estudoreligioso.wordpress.com

http://www.lendas.orixas.nom.br



---------------------------


Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929




29 março 2010

Exu, o mensageiro dos orixás

Exu é a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros e também a mais conhecida. Há, antes de mais nada, a discussão se Exu é um Orixá ou apenas uma Entidade diferente, que ficaria entre a classificação de Orixá e Ser Humano. Sem dúvida, ele trafega tanto pelo mundo material (ayé), onde habitam os seres humanos e todas as figuras vivas que conhecemos, como pela região do sobrenatural (orum), onde trafegam Orixás, Entidades afins e as Almas dos mortos (eguns). Esse Orixá (ou Entidade) não deve ser confundido com os “eguns”, apesar de transitar na mesma Linha das Almas (uma das três linhas independentes) sendo o seu dia a segunda-feira; ficando sob o seu controle e comando, os Kiumbas (espíritos atrasadíssimos na evolução).

Exu é figura de status entre os Orixás, que apesar de ser subordinado ao poder deles, constitui uma figura tão poderosa que frequentemente desafia as próprias divindades. Sua função e condição de figura-limite entre o astral e a matéria, se revela em suas cores, o negro e o vermelho, sendo esta última a vibração de menor frequência no espectro do olho humano, abaixo do qual tudo é negro, há ausência de luz. Seus aspectos contraditórios também podem ser analisados sob outro ponto de vista: o negro significa em quase todas as teologias o desconhecido; o vermelho é a cor mais quente, a forte iluminação em oposição à escuridão do negro. Até em suas cores, Exu é o símbolo das grandes contradições, do amplo terreno de atuação.


Os Exus são considerados entidades poderosas, mas nem sempre conscientes dessa força, desconhecendo seus limites e suas consequências ao envolver os seres humanos vivos. Assim ao utilizar-se de suas vibrações, um iniciado precisa tomar cuidado para não permitir que Exu, mesmo com o propósito de ajudá-lo, provoque um descontrole energético que possa ser prejudicial ao ser humano.


Sua função mítica é a de mensageiro – é o que leva os pedidos e oferendas do homens aos Orixás, já que o único contato direto entre essas diferentes categorias só acontece no momento da incorporação, quando o corpo do ser humano é tomado pela energia e pela consciência do seu Orixá pessoal (quando a consciência de quem “carrega” o Orixá desaparece). É Exu quem traduz as linguagens humanas para a das divindades. Por isso, é imprescindível para a realização de qualquer ritual, porque é o único que efetivamente assegura em uma dimensão (ayé ou orum) o que está acontecendo na outra, abrindo os caminhos para os Orixás se aproximarem dos locais onde estão sendo cultuados.


O poder de comunicar e ligar, confere à ele também o oposto; a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação. Se possibilita a construção, também permite a destruição. Esse poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as encruzilhadas, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas entradas e saídas. Isso não entra em contradição com o fato de Ogum, o Orixá da guerra, ser considerado o senhor dos caminhos. Além da grande afinidade entre as duas figuras míticas (que são irmãos, de acordo com as lendas), Ogum é responsável pelo desbravamento, pelo desmatar e o criar de novos caminhos, pela expansão do reino, enquanto Exu é o senhor da força que percorre esses caminhos.


Como, então, essa imagem de menino brincalhão, mesmo que imprudente, se coaduna com a imagem popular que associa Exu ao Diabo? Mesmo em cultos de Umbanda (alguns) Exu é frequentemente considerado um representante do mal, das forças perigosas e não totalmente recomendáveis. Qual a visão está correta? A rigor, ambas ou nenhuma delas. Exu realmente brinca e se diverte, possibilitando brincadeiras e prazeres aos seres humanos. Também mexe com forças terríveis, provoca acontecimentos dramáticos, causando o mal.

Em termos históricos, as culturas africanas que cultuam os Orixás – muito diversificadas, consequência evidente de uma sociedade dividida em raças, tribos, muito pouco centralizada para os parâmetros ocidentais – são muito mais antigas que as que conhecemos. Há lendas de Orixás que se explicam como respostas socialmente criativas a acontecimentos perdidos num longínquo passado, como a substituição do matriarcado pelo patriarcado, o surgimento do primeiro conceito de sociedade agrária, em oposição a uma cultura nômade e caçadora.


Assim, como encontrar uma figura que representa o mal numa cultura onde não existe a dicotomia bem-mal? A moralidade ou imoralidade portanto, não está nas figuras dos Orixás, nem principalmente em Exu, mas sim nas interpretações que nós, ocidentais, fazemos a respeito de seus desígnios. Para a cultura africana, politeísta, onde os deuses brigam entre si, cada um tomando atitudes radicalmente opostas às dos outros, não existe um certo e um errado, mas vários. Cada ser humano é “filho” de dois Orixás e, para ele, suas atitudes serão as mais corretas, enquanto um “filho” de outro Orixá deverá manter postura diferente, mas adaptada ao arquétipo de comportamento associado ao seu próprio Orixá.

Outra razão de confusão vem do fato de os negros terem chegado ao Brasil na condição de escravos, tratados como subumanos e sem os mínimos direitos. Nenhuma hipótese havia, portanto, para que Exu e outras figuras míticas do Candomblé e da Umbanda, fossem aceitas como independentes: os negros tinham de ser convertidos ao “Deus Único”, aos mitos cristãos. Uma divindade africana ao ser “capturada” pelas explicações católicas, teria no máximo o status de santo, divindade menor, praticamente humana, na teologia cristã. Como precisavam de um Diabo, os jesuítas encontraram na figura de Exu, o Orixá que poderia meio forçadamente, vestir a sua roupa, provavelmente porque, sendo o mais humano dos Orixás, à ele se pede interferência nas questões mais mundanas e práticas, o que resulta que a maior parte das oferendas do culto vá, para ele. Exatamente por isso, Exu era a divindade que protegia, na medida do possível, os negros dos repressivos senhores. Era para Exu que pediam desgraças para seus senhores.


Dois outros fatores associam Exu ao Demônio; o fogo – elemento do Diabo e também frequente nos cultos e oferendas para o mensageiro dos Orixás africanos – e o sexo, território considerado tabu pelos católicos, e o prazer – em geral, as atividades favoritas de Exu. A sensualidade desenfreada costuma ser atribuída à influência de Exu, que significa a paixão pelo gozo, sendo frequentemente representado em estatuetas, como figura humana sorridente, debochada. Para completar os tabus que marcavam Exu como uma figura que subvertia o conceito de “faça o bem e será recompensado, faça o mal e será punido” – já que ele podia fazer qualquer coisa e alterar qualquer resultado – mas um fator fez com que fosse não só usado como o Diabo, mas reconhecido como sua própria encarnação por parte dos jesuítas: Exu gosta de sangue. É costume que, em oferendas, o sangue de animais seja o último ingrediente.


Como, porém, essa base filosófica africana foi esquecida na prática pelos brasileiros, existe certo temor e preconceito com relação a Exu. Isso se revela no temor que os babalorixás (sacerdotes que dirigem a Umbanda ou um Candomblé) têm em identificar alguém como filho de Exu, ou seja, como pessoas cuja energia básica é a mesma do mensageiro dos deuses. Reforçam-se assim, os mitos de desgraça que ronda a figura de Exu. A Pomba Gira, figura comum nos cultos de Umbanda e presente em diversos Candomblés, dada a grande intercomunicação entre as duas vertentes, não passa, de um Exu Feminino, onde estão em destaque o senso de humor debochado, a voluptuosidade e sensibilidade desenfreadas, usando cabelos soltos, saias rodadas e vaidosas flores na cabeça. Sua dança é uma gira frenética, desenfreada, violenta até, com quase nenhum controle – sem “compostura”, de acordo com a visão ocidental.


Exu come tudo que a boca come, bebe cachaça, é um cavalheiro andante e um menino reinador. Gosta de balbúrdia, senhor dos caminhos, mensageiro dos deuses, correio dos orixás, um capeta. Por tudo isso sincretizaram-no com o diabo. Mas, na verdade, ele é apenas um orixá em movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão mas, uma excelente pessoa. Intrépido e invencível, toda festa de terreiro começa com o seu padê, para que ele não venha a causar perturbação. Sua roupa é bela: azul, vermelha e branca e todas as segundas-feiras lhe pertencem.

FONTE:

http://estudoreligioso.wordpress.com

--------------------------------------------------------------------------

Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

26 março 2010

Música & Poesia, Música & Poesia

O Estrangeiro (Caetano Veloso)


O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara

O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela

A Baía de Guanabara

O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:

Pareceu-lhe uma boca banguela.

E eu menos a conhecera mais a amara?

Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela

O que é uma coisa bela?


O amor é cego

Ray Charles é cego

Stevie Wonder é cego

E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem


Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?

Uma arara?

Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara

Em que se passara passa passará o raro pesadelo

Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro

Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante deareia brancae de óleo diesel

Sob meus tênis

E o Pão de Açucar menos óbvio possível

À minha frente

Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas

À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura

Do branco das areias e das espumas

Que era tudo quanto havia então de aurora


Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas

E uma menina ainda adolescente e muito linda

Não olho pra trás mas sei de tudo

Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo

Mas eu não desejo ver o terno negro do velho

Nem os dentes quase não púrpura da menina

(pense Seurat e pense impressionista

Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda

Mas não pense surrealista que é outra onda)


E ouço as vozes

Os dois me dizem

Num duplo som

Como que sampleados num sinclavier:


"É chegada a hora da reeducação de alguém

Do Pai do Filho do espirito Santo amém

O certo é louco tomar eletrochoque

O certo é saber que o certo é certo

O macho adulto branco sempre no comando

E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo

Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita

Riscar os índios, nada esperar dos pretos"

E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento

Sigo mais sozinho caminhando contra o vento

E entendo o centro do que estão dizendo

Aquele cara e aquela:


É um desmascaro

Singelo grito:

"O rei está nu"

Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú


E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo

E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.

("Some may like a soft brazilian singer

but i've given up all attempts at perfection").



Elegia: indo para o leito (John Donne)


Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;

Até que eu lute, em luta o corpo jaz.

Como o inimigo diante do inimigo,

Canso-me de esperar se nunca brigo.

Solta esse cinto sideral que vela,

Céu cintilante, uma área ainda mais bela.

Desata esse corpete constelado,

Feito para deter o olhar ousado.

Entrega-te ao torpor que se derrama

De ti a mim, dizendo: hora da cama.

Tira o espartilho, quero descoberto

O que ele guarda quieto, tão de perto.

O corpo que de tuas saias sai

É um campo em flor quando a sombra se esvai.

Arranca essa grinalda armada e deixa

Que cresça o diadema da madeixa.

Tira os sapatos e entra sem receio

Nesse templo de amor que é o nosso leito.

Os anjos mostram-se num branco véu

Aos homens. Tu, meu anjo, és como o Céu

De Maomé. E se no branco têm contigo

Semelhança os espíritos, distingo:

O que o meu Anjo branco põe não é

O cabelo mas sim a carne em pé.

Deixa que minha mão errante adentre.

Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.

Minha América! Minha terra a vista,

Reino de paz, se um homem só a conquista,

Minha Mina preciosa, meu império,

Feliz de quem penetre o teu mistério!

Liberto-me ficando teu escravo;

Onde cai minha mão, meu selo gravo.

Nudez total! Todo o prazer provém

De um corpo (como a alma sem corpo) sem

Vestes. As jóias que a mulher ostenta

São como as bolas de ouro de Atalanta:

O olho do tolo que uma gema inflama

Ilude-se com ela e perde a dama.

Como encadernação vistosa, feita

Para iletrados a mulher se enfeita;

Mas ela é um livro místico e somente


A alguns (a que tal graça se consente)

É dado lê-la. Eu sou um que sabe;

Como se diante da parteira, abre-

Te: atira, sim, o linho branco fora,

Nem penitência nem decência agora.

Para ensinar-te eu me desnudo antes:

A coberta de um homem te é bastante.



A Cama e a TV (Péri)


A paisagem que a tv me cala todos os dias, colando a noite

Uma menina esquálida sem rosto sem telefone

Ou nome que dê alegria a que a viu mas não entende quase nada

Uma janela na cabeça tela plana inteira

O preto e o branco em guerra nas cores de bombas na escuridão

Princípios do fim, na onda da televisão

Eu não entendo mais

Sua palavra é o verbo forte da minha alegria, a paz na vida

Mas o índio nu de cara pálida azul de fome

Nos conduz a um mar de becos sem saída num caminho que não continua

A imagem vesga da tristeza a morte derradeira

O não e o sim no olho na cara na boca no coração

O meio do fim, na mira da televisão


Viva vai a vida captando a vida

Via satélite para todo mundo ver

Num quarto escuro

A cama e a tv não param de dizer que tudo rola

Mesmo que as pedras nunca rolem por você


Eu não entendo mais

A solidão no quadro a quadro da melancolia, num breve slow motion

Os meus amigos voam e eu não posso mais ficar aqui a esperar

Sentado à beira do caminho

Só quero um pouco de carinho e tudo mais que vale a pena

Meu cinema, a sombra da noite e o sol partindo a manhã

Brilhando na minha cama.


Segunda Elegia, Terceira Sede (Fabricio Carpinejar)


Ser inteiro custa caro.

Endividei-me por não me dividir.

Atrás da aparência, há uma reserva de indigência,

a volúpia dos restos.


Parto em expedição às provas de que vivi.

E escavo boletins, cartas e álbuns

- o retrocesso da minha letra ao garrancho.


O passado tem sentido se permanecer desorganizado.

A verdade ordenada é uma mentira.


O musgo envaidece as relíquias. Os dedos retiram as teias,

assisto à revoada de insetos das ciladas.

Fujo da claridade, refulge a poeira.

O par de joelhos na imobilidade de um rochedo.


Reviso o testamento, alisando a textura

como um gramático da seda.

Desvendo o que presta pelo som do corte.


O que ansiava achar não acho

e esbarro em objetos despossuídos de lógica

que me encontram antes de qualquer pretensão.



O que fiz cabe numa caixa de sapatos.


Colecionava talhos de madeira, bonecos

adornados com a ponta miúda do canivete.

Lá estava um dos sobreviventes, desfocado,

vizinho das medalhas escolares

e dos parafusos condoídos de ferrugem.


Um auto-retrato não seria tão fidedigno.

Eu era aquela frincha de chão florido, casca e húmus.



Quantas foram as miudezas que não combinavam

com o conjunto e, na falta de harmonia,

abandonei no depósito da infância?


E se faltou confiança para restaurá-las ao convívio,

faltou coragem para excluí-las em definitivo.


Somos o desperdício do que estocamos.

Não aprendemos a desaprender.

Não doamos nada, nem a palavra passamos adiante.


O porão tem vida própria e respira

o que jogamos fora.

O que refugamos na ceia volta a nos mastigar.

Tudo pode fermentar: o forro, os passos, o odor do braço.

Tudo pode nascer sem o mérito do grito,

como um murmúrio ou estalar de um abraço.

Tudo pode nascer, ainda que abafado.

---------------------------------------------------------------
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929


25 março 2010

Trinta anos sem Roland Barthes

Há 30 anos morria o semiólogo francês Roland Barthes (12/11/1915 - 26/3/1980). Teórico da ciência dos signos e símbolos elaborada com base em Ferdinand de Saussure, estudioso da estrutura da linguagem. Crítico francês da corrente estruturalista, influenciado pelo linguista Saussure, fez uso da análise semiótica exercitando-se em revelar qual mensagem política/ideológica se ocultava por detrás dos símbolos presentes na mídia (principalmente na escrita).


Dividia o processo de significação em dois momentos: denotativo e conotativo. O primeiro tratava da percepção simples, superficial; e o segundo continha as mitologias, como chamava os sistemas de códigos que nos são transmitidos e são adotados como padrões. Segundo ele, esses conjuntos ideológicos eram às vezes absorvidos despercebidamente, o que possibilitava e tornava viável o uso de veículos de comunicação para a persuasão.

Barthes nasceu em 12 de novembro de 1915, em Paris. Escritor, sociólogo, filósofo, crítico literário, semiólogo e um dos teóricos da escola estruturalista. Formado em Letras Clássicas, Gramática e Filosofia, tornou-se um crítico dos conceitos teóricos complexos que circularam dentro dos centros educativos franceses na década de 1950. De 1952 a 1959 trabalha no Centro Nacional de Pesquisa Científica francês. Em 1953 lança o primeiro livro, O Grau Zero da Escritura, em que se manifesta contra a crítica literária tradicional e os valores da sociedade burguesa e sobre as arbitrariedades da construção da linguagem. "O texto não é a expressão da personalidade de um autor, mas um sistema de signos interpretáveis", escreve em A Torre Eiffel (1964). Segundo Francisco Bosco ”a escrita barthesiana está sempre se movendo no intervalo sutil entre o texto de vanguarda (que retarda a fluência da leitura, impondo sobre ela seu próprio e apropriado ritmo) e o texto ’clássico’ (que mantém um compromisso com uma prática confortável da leitura)”.


“A linguagem é como uma pele: com ela eu entro em contato com os outros”(Roland Barthes)


A sua obra, ampla e variada, caracteriza-se inicialmente pela reflexão sobre a condição histórica da linguagem literária. Em diversos livros tenta demonstrar a pluralidade significativa de um texto literário e a sobrevalorização do texto em vez do signo. Como sociólogo pertence à corrente estruturalista que caracterizou uma boa parte da intelectualidade francesa. Um de seus livros, Roland Barthes por Roland Barthes (1975 na França, 1977 no Brasil), acabou sendo definido pelo que não era: nem uma autobiografia nem um livro de “confissões” (embora com muitos elementos de um e de outro).


Noutro livro, Mitologias (1957), disseca os mitos e seus signos ideológicos na sociedade de massa. Um livro essencial para o entendimento da mitologia. Em Fragmentos de um discurso amoroso (1977) elabora um sofisticado estudo linguístico sobre o sentimentalismo. Além de teórico, mantinha intensa atividade como crítico literário, criador da revista Théâtre Populaire, animador do movimento Nova Crítica, diretor da École Pratique des Hautes Études. Principais obras: O grau zero da escrita (1953); O sistema da moda (1967); S/Z (1970); A câmara clara (1980).


Na década de 70, seu trabalho sofre influência de Jacques Lacan, Michel Foucault e Jacques Derrida e é estudado não só na França, mas ainda na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, é apenas com seus dois últimos livros que consegue reconhecimento não só como crítico, mas também como escritor: em 1975, com a autobiografia Roland Barthes por Roland Barthes, e, em 1977, com Fragmentos de um Discurso Amoroso, obra popular que vende mais de 60 mil exemplares na França e que comenta as dores de amor. Ferido num atropelamento, morre em Paris (26 de março de 1980). Seus trabalhos póstumos são publicados pela crítica e escritora Susan Sontag em 1982

----------------------------------------------------------------------------


Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

24 março 2010

Yansan

Filha de Nanã. Ela é a deusa dos ventos, das tempestades, dos tufões, dos elementos aéreos ligados ao relâmpago (ar + movimento = ao fogo). É a deusa do rio Níger da África que em iorubá, chama-se Odò Oya. Comanda os eguns (os mortos). Extrovertida e sensual como poucas. Foi a primeira esposa de Xangô. Tinha um temperamento ardente e impetuoso. Destemida, justiceira e guerreira, não teme a nada. Registram-se, em literatura, 17 qualidades sendo as mais conhecidas: Oya, Onyra, Bagam, Egunita, Benek, Cenou, Bomini e Muriai, a Iansã-do-Bale que preside a festa dos Egun).

Conta umas das lendas de Iansã, a primeira esposa de SÀNGÓ, teria ido, a seu mandato, a um reino vizinho buscar 3 cabaças que estava com Obalúayé. Foi dito a ela que não abrisse estas cabaças, as quais ela deveria trazer de volta a SÀNGÓ. Iansã foi e lá Obalúayè recomendou mais uma vez que não deixasse as cabaças caírem e quebrarem e, se isto acontecesse, que ela não olhasse e fosse embora. Iansã ia muito apressada e não aguentava mais segurar o segredo.


Um pouco mais à frente quebrou a primeira cabaça, desrespeitando a vontade de Obalúayé. Saíram de dentro da cabaça os ventos que a levou para o céu. Quando terminaram os ventos, Iansã voltou e quebrou a segunda cabaça. Da segunda cabaça saíram os Eguns. Ela se assustou e gritou: Reiiii! Na vez da terceira cabaça SÀNGÓ chegou e pegou para si, que era a cabaça do fogo, dos raios. Ela tinha um temperamento ardente e impetuoso. Foi a única entre as mulheres de SÀNGÓ que , no fim do seu reinado, o seguiu em sua fuga para Tapá. Quando ele recolheu-se para baixo da terra em Cosso, ela fez o mesmo em Yiá.

YANSÃ = Santa Bárbara

COR: amarelo escuro - Festa: Dia 04 de dezembro

AMALÁ: 7 velas brancas e 7 amarelo escuro, água mineral, acarajé ou milho em espiga coberto com mel ou ainda canjica amarela, fitas branca e amarelo escuro e flores. Local de entrega em pedra ao lado de um rio.


ERVAS: (Banho de descarrego): Catinga de mulata – Cordão de frade – Gerânio cor-de-rosa ou vermelho, Acúcena – Folhas de Rosa Branca – Erva de Santa Bárbara.


FONTES:

http://www.africanasraizes.com.br/cultura.html

http://www.acordacultura.org.br

http://bravoafrobrasil.blogspot.com/2009/10/lendas-africanas.html

http://estudoreligioso.wordpress.com

http://www.lendas.orixas.nom.br

------------------------------------------------------------------


Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

23 março 2010

Um anjo passou pela Tribuna: Haf

Ao surgir em outubro de 1969, o jornal Tribuna da Bahia revolucionou a imprensa baiana na forma e no conteúdo jornalístico. Primeiro jornal composto a frio no País, sua linha tinha uma carta de princípios. “Nós vamos ser um jornal para o desenvolvimento, contra os fatores de atraso e de marasmo. Nós não vimos para bajular os poderosos e pisar sobre os que não têm poder. Nós vimos para participar do processo de aceleração da história: participar desse processo no lugar que nos cabe, sem a pretensão de sermos donos dele nem a timidez que nos poria a seu reboque. A verdade, para nós, será a notícia”, informa o seu primeiro editor, Joaquim Quintino de Carvalho.


E nesses 40 anos da Tribuna da Bahia, comemorados em outubro de 2009, o jornalista, produtor editorial e professor do Centro Universitário da Bahia (FIB/Estácio) Luis Guilherme Pontes Tavares lançou o livro HAF NA TB “A passagem de Hamilton Almeida Filho na Tribuna da Bahia entre 1972 e 1973” dentro da Coleção Cipriano Barata, do Núcleo de Estudos da História dos Impressos da Bahia - Nehib.


Mas quem foi esse Haf? Para o jornalista Césio Oliveira, ele funcionou, na época, como o anjo do filme Teorema, de Pier Paolo Pasolini (1968), “revelando em cada um dos colegas de redação facetas que disfarçavam”. Diz mais: “Magro, cabeludo, bem de acordo com o figurino da época, ele reuniu em torno dele muitos admiradores...”. Assim, a breve passagem do jornalista Hamilton Almeida Filho pela TB foi meteórica, flamejante, iluminada, “ajudou a distinguir jovens talentos que, mais adiante, constituíram a redação dos alternativos Boca do Inferno e Invasão, entre 1976 e 1977”.


Nascido na cidade paulistana de Taubaté, em 1946, Hamilton iniciou a carreira jornalística aos 15 anos no jornal carioca A Noite e em sua trajetória escreveu para o Jornal do Brasil, O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, Opinião, as revistas O Cruzeiro, Realidade, Bondinho, entre outras.


Quando chegou à TB em outubro de 1972 possuía três prêmios Esso de Jornalismo e um entusiasmo contagiante. Luís Guilherme conta do sucesso do caderno especial sobre a Guerra do Vietnã que Hamilton produziu para a TB no dia 28 de janeiro de 1973. Com seis páginas em policromia, o caderno dedicado à paz no Vietnã já trazia desenhos e uma tira de quadrinhos do norte-americano Jules Feiffer. Uma excelente escolha a de Feiffer com seu humor que pode ser hilariante ou cruel, mas que revela sempre as idiossincrasias de uma sociedade multifacetada. Humor brilhante e traço inovador. Assim como os trabalhos caligráficos de Lage.


“Ele tinha essa obstinação de mergulhar nos fatos e trazê-los à tona, e para fazer isso era preciso saber o que trazer e documentar e transcrever isso com graça, com a virtude de quem tem a criação. Ele era muito apegado aos fatos, ele tinha essa preocupação. O que era característica do Hamilton era fundamentalmente essa preocupação em estar colocando a reportagem como instrumento de transformação (...) Hamilton queria fazer o jornalismo aflorar, renovar, não só a linguagem, mas fundamentalmente a informação, fazê-la circular com mais liberdade, era um editor de primeira qualidade, tinha uma sensibilidade enorme para percepção do conjunto da coisa, da cabeça da matéria, do título, na condução do texto, a coisa formal, e uma percepção maravilhosa de destaque gráfico”, ressaltou o jornalista Gustavo Falcón, que construiu laços fontes de amizade com Haf na TB como atestou Luís Guilherme.


Esse trabalho inovador de Haf, principalmente na área gráfica veio de sua experiência no Jornal da Tarde, criado em São Paulo em 1966. Esse jornal que trazia um visual renovador e uma linguagem criativa inspirou muito a Quintino de Carvalho quando fundou a Tribuna da Bahia. Basta lembrar que a TB foi o primeiro jornal a dar grandes destaques nas fotos e/ou ilustrações, o primeiro na Bahia a cores aos domingos.


Haf também foi um dos integrantes do jornal alternativo Ex (um dos títulos mais criativos do jornalismo da década de 1970) e Mais Um, além de publicar o livro A sangue quente, sobre a morte de Herzog. Um trabalho revelador esse de Luís Guilherme sobre a rápida trajetória de Raf na TB. Agora um alerta aos pesquisadores da Bahia. É preciso enriquecer mais ainda a bibliografia da mídia baiana. Livro que relate a trajetória de nossa tevê, rádio e jornal. Só a Tribuna da Bahia teve como editores Quintino de Carvalho, Milton Cayres, João Ubaldo Ribeiro, Cid Teixeira entre outras lendas da cultura soteropolitana. Vamos resgatar essa história. A Bahia precisa conhecer mais seu passado para fortalecer ainda mais o presente. Parabéns Luís Guilherme pela obra que se encontra à venda na Livraria LDM, Piedade. Vale a leitura!.



-----------------------------------------------------

Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

-------------------------------------------------------------