31 julho 2007

Cidadão do mundo: Guimarães Rosa (1)



Em 2006 o Museu da Língua Portuguesa homenageia, na Estação da Luz em São Paulo, comemorou os 50 anos de uma das maiores obras da literatura brasileira: Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Quem visitou o local conheceu a história do amor incomum de Riobaldo e Diadorim. Se leu o livro, se deliciar com as vivências que o museu preparou. Concebida por Bia Lessa, a mostra fez um passeio pelas veredas de Guimarães Rosa. Foram sete caminhos, cada um correspondente a um personagem ou a um aspecto importante do livro. Este ano, no dia 19 de novembro, Rosa partia. Faz 40 anos. Mas ele, na verdade (e como dizia) não morreu, ficou encantado.

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."

Mineiro, brasileiro, cidadão do mundo. O escritor João Guimarães Rosa sempre mostrou paixão pela (re) criação de palavras. O poder de encantamento desse grande escritor mineiro está no seu poder de criar mundos e linguagens, pois ele vê a linguagem como um mundo, e o mundo como um campo onde se cruzam e recruzam linguagens a interpretá-lo.

O tempo é que é a matéria do entendimento

A partir do sertão (aquele particular, o mineiro, e de suas adjacências, o baiano e goiano), atravessado por imagens e valores simbólico, por personagens e acontecimentos insólitos, Rosa misturou símbolos das mitologias bíblicas, egípcias, das cosmogonias antigas, do ocultismo, da cabala, dos cultos esotéricos e obteve o desenho e a linguagem de um sertão fabuloso, inteiramente imaginário, só dele.

Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.

Suas narrativas inspiram-se na fala das populações da região que ele percorreu como médico e viajante. A fala sertaneja aparece recoberta por neologismos, palavras novas eu ele inventara. Da relação entre a linguagem do escritor erudito, criando palavras, renovando expressões, e a fala dos personagens do sertão, Guimarães Rosa conseguiu criar um estilo todo pessoal, uma terceira margem da expressão. Para ele, esse universo da linguagem era o território daquele encantamento a que a vida das pessoas se dirigia, onde elas podiam vislumbrar a perenidade dos gestos e de seu sentido.

"...Mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou..."

Um dos aspectos mais criativos da escrita de Guimarães Rosa é o da relação entre a linguagem do escritor erudito, criando palavras, renovando expressões, e a fala dos personagens do sertão. Ele conseguiu criar um estilo todo pessoal, uma “terceira margem”, da expressão, entre aqueles dois pólos: a escrita citadina e a fala sertaneja.

“Ser forte é parar quieto, permanecer”.

30 julho 2007

Corrupção cria raízes na sociedade

A imprensa revela, diariamente, evidências de comportamento inadequado, antiético ou criminoso de representantes dos três Poderes. Cerca de R$40 bilhões é o cálculo do rombo anual nos cofres públicos. A corrupção hoje funciona em redes, organizada. Os escândalos revelados têm a ver com nepotismo, fraude em, licitações e concorrências, compra de apoio parlamentar. Com a impunidade a corrupção se espalha em todo o segmento da sociedade. As operações da Polícia Federal e ações do Ministério Público têm muito de espetáculo, não redundam em condenações. E o resultado é um forte cheiro de pizza impregnando o país.

A impunidade compõe o ambiente propício para o quadro de desencanto institucional e de depressão cívica que se observa hoje no país. A idéia de impunidade na corrupção destrói a idéia de nação. É preciso estimular mais a vigilância da sociedade. Afinal, a cultura da ineficiência com falta de transparência é um coquetel explosivo.A sociedade não tem o hábito de fiscalizar. É preciso investigar, processar, punir, prevenir, e a sociedade precisa se fortalecer e fiscalizar. A morosidade do Judiciário cria toda essa sensação de impunidade. É preciso que o sistema penal tenha ritos mais simples, fase investigativa mais curta, para desestimular a corrupção, e revisão do foro privilegiado. Mais transparência na gestão de todas as esferas públicas e diminuição de burocracia na máquina do Estado.

Levantamento da Operação Navalha revela que quase a metade dos parlamentares recebeu de empresas do setor de construção civil doações vultosas às suas campanhas eleitorais. Neste vínculo vicioso a corrupção se repete ano após ano. É preciso estancar o sangramento. O que se nota é que a corrupção cria raízes na sociedade e parece se multiplicar por todos os cantos do país. Quem paga a conta é sempre o cidadão comum. Os atos que lesam a administração pública atingem o cidadão comum, pois cada centavo desviado do erário significa menos escolas, menos qualidade no atendimento à saúde da população, menos estrutura social e urbana. E isso gera pobreza, violência e tantos outros déficts sociais.

É preciso que aquele que pratica um ilícito (seja dos Poderes Executivo, Judiciário ou Legislativo) paguem por suas faltas como qualquer cidadão comum. É hora da sociedade organizada reagir. O professor de história do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos, SP, Marco Antonio Villa em um artigo para o jornal Folha de S.Paulo escreveu: “A Justiça brasileira é severa com o ´andar de baixo´, mas leniente com o ´andar de cima´. Contra os pobres, age rapidamente e pune severamente. Já políticos acusados de corrupção – e considerados por seus pares como corruptos – continuam circulando livremente. Alguns estão no Congresso e são recebidos pelo presidente da República com todas as honras. Um deles, inclusive, pode entrar tranquilamente no Palácio do Planalto, mas será preso se pisar nos Estados Unidos”.

“O Judiciário deve agir combatendo os crimes, independentemente da origem social do acusado. Parece óbvio, mas não é o que ocorre no Brasil. É um Poder que acabou conivente com a desmoralização da própria Justiça. E exemplos não faltam. Não é mero acaso que nenhum dos políticos importantes acusados de corrupção tenha sido condenado e preso. Eles contratam advogados criminalistas especializados em inocentar corruptos – e eu cobram honorários caríssimos. Sabem que recebem dinheiro sujo. Mesmo assim, muitos deles, sem pestanejar, assinam manifesto em defesa da ética na política...”. E encerra seu artigo afirmando: “O que o país espera é uma Justiça célere, eficiente e não-classista. (...) Espera que o corrupto seja preso, julgado e condenado (devolvendo aos cofres públicos o dinheiro desviado)

O Brasil tem leis suficientes para punir os envolvidos com corrupção, mas é necessário que elas sejam efetivamente aplicadas e que o processo judicial seja mais ágil. A avaliação é de representantes de duas organizações não-governamentais que tratam do combate à corrupção no país: Transparência Brasil e Amigos Associados de Ribeirão Bonito. Para o diretor-executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, a maior parte dos problemas que acontecem com licitações públicas não decorrem por falhas na lei, mas da não aplicação da legislação. “Se a lei fosse aplicada e se a não aplicação da lei fosse punida, já seria um passo monstruoso na direção da moralização maior dos negócios públicos no país”, avalia.

O presidente da organização não governamental Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo), Josmar Verillo critica o que considera uma “indecência” que é o foro privilegiado para políticos. “Foro privilegiado é guarda-chuva de bandido. Para que se criou uma lei de improbidade administrativa para agente político, se ela não se aplica aos políticos? Isso é um absurdo”, argumenta. Segundo o presidente da ONG Amarribo, existem no país máfias organizadas que sabem como buscar recursos públicos, emitir notas frias, criar empresas fantasmas e que já têm esquemas sobre como desviar cada tipo de verba. A única saída para amenizar essa situação, segundo Verillo, é a participação da a sociedade civil na fiscalização da aplicação do dinheiro público. “É preciso uma reação social. Se a sociedade não reagir a isso, vamos ficar anos jogando dinheiro público fora”, afirma.

27 julho 2007

Realidade virtual na virada do milênio

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1990/2000 - A última década do século é a da realidade virtual. As novas tecnologias de realidade virtual já permitem que as pessoas, literalmente, entrem no computador para interagir com os atores colocados em cena. Assim, usando um capacete criador de realidade virtual, entra-se no filme. Lara Croft, heroína virtual de milhares de fãs pelo mundo afora, é a mocinha do game Tomb raider, gravou um disco produzido por Dave Stewart, virou objeto de culto, a ponto de ir para capas de revistas e ser saudada como o ideal feminino da virada do século. Tudo isso sem existir. Ela é apenas uma das criaturas que habitam o mundo virtual e que, depois de serem eleitas ídolos cyber, começam a chegar ao mundo real. O que estava em livros de ficção científica, como Looker, de Michael Crichton (sobre modelos que serão belas para sempre, uma vez que são artificiais), ou Idoru, de William Gibson (que fala da idolatria e falsos seres), torna-se realidade. Virtual, e lucrativa.

O relativismo de todos os conceitos e noções políticas, culturais, ética e estética é uma das características mais marcantes de nossa época. Não há mais qualquer noção de bem ou mal, de certo ou errado, de belo ou feio que seja aceita sem contestações por uma parcela significativa de uma sociedade. O “tudo é relativo” de Albert Einstein transformou-se na síntese, no emblema mais característico de nossos dias. Se em épocas anteriores eram necessários longos e dolorosos processos para que os homens abandonassem suas crenças, seus princípios morais e sua fé, hoje questiona-se o próprio sentido de se adotar ou defender qualquer sistema de valores. “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”, disse o escritor americano Marshall Berman, recorrendo a um discurso de Próspero, personagem central da peça Tempestade, de William Shakespeare. Esta é uma descrição exata de nossos tempos.

A engenharia genética, de sua parte, poderá tornar possível a multiplicação de clones humanos, isto é, a fabricação em série de indivíduos idênticos. A discussão da sexualidade no cinema refinou-se. Aclamada em Cannes/97, a fábula moderna Ma Vie en Rose, do belga Alain Berliner, rediscute papéis sexuais e anuncia a nova tendência no cinema. O filme sugere que as linhas das fronteiras entre o masculino e o feminino estão cada vez mais esmaecidas. Jurassic Park, de Steven Spielberg, foi o filme de maior sucesso do ano de 1993 e bateu o recorde de bilheteria do E.T. O sucesso tem a ver com o uso espetacular de recursos visuais e cibernéticos. O cinema brasileiro atravessou uma crise profunda, tanto de criação quanto de produção. Em 1994 o cinema ensaia um retorno com Lamarca, de Sérgio Rezende, e Carlota Joaquina-Princesa do Brazil, de Carla Camurati, O Quatrilho, de Fábio Barreto, O Mandarim, de Júlio Bressane, Jenipapo, de Monique Gardenberg, O Que é Isso Companheiro?, de Bruno Barreto, e tantos outros.

26 julho 2007

Década do yuppie e pós-moderno

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1980/1990: Uma década cool. O comportamento da era nuclear onde a individualidade é tudo, a auto-suficiência, o normal. Assistirá a filmes preto e branco classe Z também chamados de cult. Os computadores tornaram-se “objetos de desejo” e “máquinas de guerra” (a terminologia é de Deleuze-Gauttari). Oitenta foi a década dos anseios e das interpretações e pode ser definida por uma palavra: pós-moderno. Signo do vale-tudo da década, esse jargão funcionou como um abre-te sésamo para explicar qualquer coisa. E para caracterizar as inovações e o estilo de vida desses anos de paródia e marketing do passado reciclado. Compact discs, videoclip, videocassete, antena parabólica, fax, computador pessoal, TV a cabo, controle remoto.

Ícone-mor da era, Michael Jackson se projetou na galáxia do merchandising artístico. Thriller vendeu milhões de cópias, reis o condecoraram, magnatas o adularam, o público adorou. Foram os anos de ouro do sampler, scratch, acid house, trash – o ruído tecnológico substituiu os solos de guitarra. O rap (canto falado) saiu dos guetos para o mundo. Os 80 foram os anos da dança urbana – discoteca, forró, lambada, funk, break e samba. Word music. Em música, os ídolos planetários foram todos descartáveis, de fácil consumo: Madonna, Springsteen e U2. A década fecha sob o domínio de Prince.

Os anos 80 foram cinematograficamente marcados por dois movimentos – um em direção ao futuro, às fantasias espaciais (com a confirmação da supremacia de Steven Spielberg como o mago do cinema); outro, pela volta ao passado, e a reencenação da História (A Era do Rádio, de Woody Allen; Platoon, de Oliver Stones; Ragtime, de Milos Forman; Ginger e Fred, de Fellini; O Baile, Casanova e a Revolução, de Ettore Scola; Fanny e Alexander, de Bergman; Kagemusha e Ran, de Akira Kurosawa, entre outros). Na vertente do futuro, houve outros espetáculos, os cult movies Blade Runner, Alien, Uma Cilada para Roger Rabbit.

Uma das grandes stars dos 80, Jéssica Rabbit virou objeto de desejo, na era da Aids. Ela é um cartoon. Livres, agressivas, as mulheres irromperam, nos primórdios da década, determinadas a garantir seu espaço. Sônia Braga, Xuxa, Luma de Oliveira e Luiza Brunet se destacaram aqui e lá fora. Entre as estrangeiras, as personalidades mais notáveis, pelo charme e o talento, foram as atrizes americanas Sigourney Weawer e Kathleen Turner, as européias Natassia Kinski e Isabelle Adjani. Um inimigo microscópio, capaz de matar o homem em menos de um ano, mobilizou médicos de todo o mundo: o HIV, vírus da Aids. E não há qualquer droga capaz de destruí-lo ou impedir sua multiplicação em níveis não letais.

Fim do mito: perestroika derruba o maior símbolo da divisão do mundo – o muro de Berlim. Além da década da democracia, os anos 80 foram também a década do meio ambiente – da expansão planetária da consciência ecológica. Começando a perder o medo de ser negra, a Bahia atravessou a década no passo do Ilê Ayê e do Olodum, que ocuparam as ruas num rito de contagiante liberdade. Nos quadrinhos, os vilões ganharam projeção. Muitos desenhistas fixaram a loucura da década sob o signo das artes plásticas nas HQs. As graphic novels (edições de luxo das novelas gráficas) invadiram as livrarias, aumentando a média etária dos leitores. Ninguém mais diz que quadrinhos é coisa de criança.

Tom Wolfe é o autor de um dos dois grandes livros da década. Com A Fogueira das Vaidades ele declara que o Terceiro Mundo invadiu o Primeiro, se encontra entrincheirado nos guetos de NY à espera do grande momento para cruzar o abismo dentro da Big Apple, instaurando o domínio do caos. Tom fez companhia a Umberto Eco. O Pêndulo de Foucault prova que não se misturam impunemente as Palavras Sagradas do Livro da Vida e que a raça humana é capaz de acreditar em qualquer complô. É a época da filosofia yuppie. Luisa Lyon, a modelo favorita de Mapplethorpe, mostra a sexualidade forte, a naturalidade e os músculos bem marcados da mulher dos anos 80. Destaca-se também Jane Fonda, obcecada por ginástica e músculos. Na esteira do êxito de Rita Lee, o rock nacional ganha força e qualidade inéditas e consagra-se como o mais recente movimento a mudar o panorama da música brasileira.

25 julho 2007

Culto ao corpo. Era da incerteza

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1970-1980: O pop-filósofo Tom Wolfe definiu os anos 70 como “A Década do Eu”. Ou seja, depois dos anos 60, em que a vida comunitária foi a chave, as pessoas começaram a se voltar para si mesmas, para uma espécie de “novo individualismo”, ou até, como queriam muitos, “novo egoísmo”. Isso explicaria por que John, Paul, George e Ringo resolveram acabar com os Beatles e seguir carreiras isoladas; por que Simon continuou com a música, enquanto Garfunkel preferiu ser ator de cinema; por que Crosby, Stills, Nash & Young se separaram. O rock fragmentou-se numa quantidade de estilos e idiomas – progressive rock, heavy metal, glitter rock, entre outros.

O rock se transformou num negócio bilionário. A Inglaterra estava na recessão e a juventude sem perspectiva liderou o movimento punk contestando o rock milionário. O grupo Sex Pistols colocou o movimento em foco para os meios de comunicação de massa. Além dos garotos rebeldes do punk rock, Bob Marley e toda a tropa de músicos negros jamaicanos inflamaram ingleses e americanos com a batida pulsante do reggae. Na segunda metade dos anos 70, o estilo disco dominou os EUA e se espalhou pelo mundo. A palavra disco vem de discotheque. E os subúrbios do mundo tiveram acesso à discoteca através do filme Os Embalos de Sabado à Noite, cuja trilha sonora, em álbum duplo dos Bee Gees, se tornou o maior sucesso de venda de todos os tempos. No cinema o destaque foi para 2001, uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Mais tarde, este mesmo cineasta lança o filme Laranja Mecânica, mostrando um futuro desolador e violento.No Brasil, os aplausos vão para o filme Macunaíma, de Joaquim Pedro.

A comida natural, juntamente com a vegetariana e a macrobiótica, foi um must dos anos 70, assim como diversas outras programações da linha de saúde em voga naquele tempo, tipo correr nos calçadões, parar de fumar, entre outros. Todas as bandeiras que as feministas agitaram na década (morte ao sutiã, igualdade de direitos, ampla liberdade sexual) resultaram na febre da “amizade colorida”. Foi a década que misturou tudo. A mulher ganhava (e queria mais) autonomia e mostrava isso através do psicodelismo e do look típico.

No Brasil, era a época do milagre econômico. Grandes obras – a Ponte Rio-Niterói, enormes hidrelétricas, a Transamazônica – eram contratadas quase com a mesma facilidade com que hoje se constrói uma pracinha. O poder da classe média aumentava. Junto com tal milagre, o país vivia o inferno da ditadura. A imprensa era censurada, os partidos controlados, passeatas proibidas. Começaram a surgir uma série de jornais alternativos, após Pasquim, que tiveram vida efêmera, como Flor do Mal, Presença e o baiano Verbo Encantado. Com a censura, surge as revistas eróticas que tomaram um maior impulso.

Imprensada pela censura e empobrecida pelo exílio de vários artistas de peso, a MPB resistiu. Nomes como Milton Nascimento, Gonzaguinha, João Bosco, Novos Baianos foram revelados. São os anos da música nordestina (Fagner, Belchior,Alceu Valença, Ednardo, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho), da vanguarda erudita (Walter Franco, Marcus Vinícius). A presença da mulher como força de produção, na música é um dado importante na década: Joyce e Sueli Costa, Leci Brandão, Marina Lima, Ângela Ro Ro, Cátia de França, Marlui Miranda, Simone, Elba Ramalho, Rita Lee e tantas outras. O caminho da improvisação esteve constantemente em pauta com a música instrumental de Wagner Tiso, Egberto Gismonti, Nana Vasconcelos, Hermeto Paschoal, Nivaldo Ornellas.

24 julho 2007

Anos rebeldes na febre sixties

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1960/1970: “A Terra é azul”. O mundo soube disso, em abril de 1961, através do emocionado testemunho de um russo, Yuri Gagarin, o primeiro homem a realizar uma viagem espacial. A liberação sexual foi possível graças ao advento da pílula anticoncepcional. Houve o Maio de 68. Na moda, figuras exóticas como Twiggy e Veruschka. Com uma tesoura e alguma audácia, Mary Quant inventou a minissaia e revolucionou a moda na década de 60. Twiggy é a cara dos anos 60, símbolo de rebeldia da mulher, de sua ânsia por independência. Paco Rabanne criou a moda fórmica (ele introduziu o metal, o plástico e o couro na moda feminina) e Oscar de La Renta os panos ciganos. Yves St. Laurent abriu lojas para o seu prêt-à-porter.

Os hippies surgiram com seu flower power e depois de um apogeu, em Woodstock, sumiram inteiramente. Ainda na moda, dominava batas, colares, brincos, estampados. Era o psicodelismo. Todos se abriram aos filósofos orientais, às aventuras sentimentais, ao exotismo de outras geografias, à vida no campo. Em Amsterdã, surgiu a pornografia e a imprensa livre, underground. A revista Playboy alcançou tiragens que ninguém previa. Passou a ter mais imitadores pelo mundo do que a revista Time. Os quadrinhos se liberam com o movimento underground. Aparecem heroínas – Barbarella, Valentina -, reflexo dos movimentos feministas.

Ziraldo lança o gibi Pererê, a primeira a refletir toda a euforia de uma época, com personagens tipicamente brasileiros. Henfil cria Os Fradinhos. Mauricio de Sousa cria os personagens Mônica, Cascão e Chico Bento. O maior mito do cinema novo, Glauber Rocha torna-se símbolo de sucesso do cinema brasileiro no exterior com os filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Lolita, livro proibido na década anterior, virou filme de Stanley Kubrick. Os filmes começaram a ter autor: Bergman, Truffaut, Resnais e Godard. Fellini e Marcellio Mastroianni descobriram juntos a bilheteria, com La Doce Vita. Elizabeth Taylor elevou seu preço para um milhão de dólares por filme. Pagaram pelo prejuízo pelo menos por Cleópatra, o maior fracasso financeiro do cinema. O romance Sementes do Diabo (que virou O Bebê deRosemary) foi o início da moda comercial do satanismo. O assassinato da atriz Sharon Tate foi o mais esmiuçado pelas manchetes.

A bossa nova viajou muito bem para os EUA, onde todo mundo dançava o twist. O destaque era para o talento elegantíssimo de Tom Jobim e o canto de João Gilberto. Depois, surgiram os Beatles marcando o início da fase iê-iê-iê e da fama mundial, e Londres virou a swinging city. No comando da Jovem Guarda, Roberto e Erasmo Carlos arrebatam as paradas com versões de rock estrangeiros, doces baladas e novos padrões de comportamento jovem. Armados de guitarras e discursos inflamados, Caetano Veloso e Gilberto Gil semeiam a polêmica nos festivais de MPB, colhem prestígio e inventam a Tropicália. Foi o período do protesto. Profeta do protesto, o cantor popular Bob Dylan estoura nas paradas com a composição Blowin´in the Wind (Soprando no Vento) e torna-se um hino do movimento pelos direitos civis. Jimi Hendrix reinventou a guitarra elétrica e trouxe o blues para a era da eletrônica. O explosivo grupo de rock Rolling Stones cantou os sonhos de revolta de uma geração.

Julian Beck foi o criador do mais importante acontecimento teatral da década de 60: o Living Theatre (teatro vivo). Andy Warhol, James Rosenquist e Roy Lichtenstein anunciam a pop art, arte adequada para a sociedade de consumo. Cassius Clay conquista a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos e quatro anos depois derrota o campeão mundial Sonny Liston. Em 65 repete a dose. Pelé faz mil gols. Os aviões aumentaram de tamanho e tiveram que ser chamados de Jumbo. Viu-se muita novela na tevê. Criou-se então o projeto Minerva e o Mobral. O Carnaval da Bahia já era reconhecido nacionalmente depois que Caetano Veloso lançou Atrás do Trio Elétrico. Surge o poema-processo, que pôs fim na palavra como construtor do poema.

23 julho 2007

Os alegres e ingênuos fifties

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1950/1960: A geração beat influenciou todas as modas juvenis, do vestuário às canções preferidas, da gíria aos estereótipos de comportamento no relacionamento social. O surgimento da beat generation é o marco inicial de grande parte da problemática juvenil contemporânea, dos Beatles aos hippies. Foi seguida pela geração hipster, lançada por Norman Mailer, em 1957 quando publicou The White Negro, rompendo com os beat-niks. A expressão vem de “hip” (quadril) e insinua o andar do negro e do marginal. Do hipster nasceram, anos mais tarde, os hippies. Marlon Brando e James Dean são os dois astros-símbolos da juventude do pós-guerra: garotos problemáticos. Marilyn Monroe, símbolo sexual dos anos 50, é a última das deusas fabricadas pela indústria de sonhos de Hollywood. Surge Elvis Presley,o rock and roll e a geração Coca-Cola.

Em 1956, Juscelino Kubitscheck se elege presidente e injeta diretamente na veia do povo uma dose cavalar de otimismo e esperança. O Brasil entra de cabeça, ainda que meio atrasado, na era industrial. O progresso chega ao interior com a construção de Brasília, a indústria brasileira deslancha e tudo levava a crer que o país seria uma das potências mundiais no final do século. O nacionalismo se refletia no teatro de Arena, de Oduvaldo Viana “Vianinha” Filho, no Cinema Novo de Glauber Rocha, na Bossa Nova de João Gilberto, na Poesia Concreta de Ferreira Goulart, no Neoconcretismo de Hélio Oiticica. Os filmes da Atlântida reinam absolutos nesta década. Surge a Vera Cruz com o cinema profissional.

No Brasil ainda não havia nada mais ambicionado do que um Cadilac rabo de peixe. O chiclete de bola, o blue jeans, o rabo de cavalo, o topete e a cuba livre são obrigatórios. Gibi era uma palavra mágica para crianças, adolescentes e muitos adultos. O rádio cria ilusões, vende produtos, fabrica astros, molda a opinião do grande público: Cauby Peixoto, Ângela Maria e Doris Monteiro são os ídolos. Luís Gonzaga divulga o baião. As estampas Eucalol, a Revista do Rádio, os jingles e as novelas da Rádio Nacional (inclusive Gerônimo, o Herói do Sertão) fazem sucesso. O Pasquim foi um dos principais acontecimentos editoriais no país. Alguns escritores nacionais tiveram seus romances transformados em best sellers. Entre eles estão Jorge Amado (Gabriela, Cravo e Canela), Érico Veríssimo (Olhai os Lírios do Campo) e Guimarães Rosa (Grande Sertão Veredas).

Samuel Beckett faz sucesso com Esperando Godot. Depois dele, todo o destaque foi para Ionesco, o dramaturgo do absurdo. Billie Holliday, Ella Fitzgerald, Sarah Vaugham e Anita O´Day era as singers´singers do jazz. Gerry Mulligan e Chet Baker faziam o seu jazz ser branco e cool. Thelonius Monk e Miles Davis acabaram depois com essa festa com o free-jazz. Nat King Cle viajava com suas canções para que o mundo visse in person os discos que comprava. Dançava-se o mambo com as pausas para os gemidos. O cinerama e o cinemascope surgiram para salvar o cinema. Cantando na Chuva foi escolhido o melhor musical de todos os tempos do cinema. Hitchcock inaugura a sua melhor fase de suspense do humor negro no cinema. O romance mais lido tinha J.D.Salinger como autor. François Sagan tem êxito literário na França com Bonjur Tristesse e deu uma opção para O Pequeno Príncipe. A imprensa italiana promove uma “guerra de vedetes” ente Sophia Loren e Gina Lollobrigida. Brigitte Bardot foi o sonho erótico de toda uma geração masculina.

Jacques Heim inventou o biquini. A atriz Luz del Fuego (Dora Vivacque) dançava com serpentes enroladas no corpo nu. Norma Bengell foi a primeira atriz a aparecer completamente nua num filme (Os Cafagestes). Na arte, populariza-se a gravura, surgem galerias e marchands para o novo mercado. Ficaram famosas as esculturas de Mário Cravo e as tapeçarias de Genaro de Carvalho. Setembro de 1950; começa a grande aventura da televisão no Brasil com a inauguração da TV Tupi de São Paulo. O Brasil é campeão do mundo. E alguns da nossa seleção viram ídolos nacionais como Mane Garrincha e Pelé. Em 1956, Salvador começa a ser uma das cidades mais turísticas do Brasil.

20 julho 2007

Existencialismo, moda dos jovens

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1940/1950: O impacto das guerras mundiais gerou, na França, uma filosofia que se tornou moda entre os jovens: o Existencialismo, cujo papa era Jean-Paul Sartre. Jovens vestidos displicentemente, com casaco de couro preto, passaram a perambular pelas “caves” parisienses, ouvindo jazz, canções e poemas de velhos e novos profetas: Boris Vian, Jacques Prévert, Jean Cocteau. Essa maneira de encarar a vida acabaria influenciando novas correntes cinematográficas, como a nouvelle vague, de Louis Malle, Truffaut e Godard. Roma, Cidade Aberta e Ladrões de Bicicleta comunicaram ao mundo que havia um cinema diferente na Itália.

Ingrid Bergman apareceu em Casablanca e, sem pintura no rosto, transformou-se na maior da história do cinema. Humphrey Bogart apareceu no mesmo filme e o mito que começou nunca terá fim. ...E o Vento Levou passou a ser o maior sucesso em dinheiro e Cidadão Kane, de Orson Welles, passou a ser o melhor filme de todos os tempos. Rita Hayworth deu elegância à sensualidade, dançou com Fred Astaire, foi Gilda, a mulher inigualável. Betty Grable era a pin-up nº1 em plena guerra.

Os anos de guerra encontraram Hollywood domesticada. Suas heroínas já não tinham o apelo carnal de Jean Harlow nem se metiam em adultério ou aventuras escabrosas com Clark Gable. O Código Hays cronometrara os beijos e recobrira com um véu moralista os sonhos enlatados. O próximo passo foi fazer com que todos sentassem praça contra o Eixo, no novo gênero dominante: o filme de guerra. A América Latina invadiu as telas norte-americanas com seus heróis (Simon Bolívar, Benito Juarez), seus ritmos típicos (tango, samba, maxixe, rumba, conga) e algumas estrelas importadas: Carmem Miranda, César Romero, Desi Arnaz, Carlos Ramirez, entre outros.

A música mais preferida era feita por Glenn Miller. Frank Sinatra começou cantando em sua orquestra e tornou-se o delírio vocal da época. Christian Dior inventou o new look com cintura fina e saia longa e rodada. A mulher passou a usar tudo que podia em maquiagem e roupa. O jazz teve a modificação do be-bop que Dizzy Gillespie imaginou. Ninguém mais discutiu nem desconhecia que Charlie Parker era o melhor homem no saxofone. O be-bop foi um movimento de rebelião, de renovação das fórmulas dançantes do swing, pontuando as complicadas melodias com solos cheios de notas curtas e fragmentadas.

Vicente Celestino faz sucesso no filme de Gilda de Abreu, O Ébrio. Orlando Silva se destaca com Carinhoso, de Pixinguinha, e Ademilde Fonseca chega às paradas com Tico Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Aquarela do Brasil é o maior sucesso de Ari Barroso na voz de Francisco Alves. Marlene e Emilinha Borba tornam-se rainhas do rádio. Nas artes plásticas, a fama foi para o baiano Mário Cravo Júnior. A publicação semanal O Cruzeiro lidera o mercado nacional de revistas, com grandes reportagens e ensaio fotográfico. A democracia americana achava-se ameaçada e, para levantar este moral, só mesmo superpoderes imediatos: os super-heróis. As histórias em quadrinhos desempenham seu papel na propaganda ideológica anti-nazista. E a garotada colecionava estampas Eucalol.

Tennessee Williams foi o autor mais importante que o teatro norte-americano teve depois de O´Neill. Um Bonde Chamado Desejo é um exemplo. Oklahoma, de Rodgers e Hammerstein, renovou o teatro na Broadway. Repórter policial no Rio de Janeiro, Nelson Rodrigues se consagraria como dramaturgo com Vestido de Noiva. Depois viria Anjo Negro e Álbum de Família, dando nova fase e ambições para o teatro brasileiro. Outro sucesso: Arthur Miller, com A Morte do Caixeiro Viajante. Kafka passou a ser uma descoberta com O Processo e uma influência literária.













19 julho 2007

Depressão e sedução andam juntas


Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1930/1940: A depressão é uma característica da década. Mas a elegância também é. Chanel, que já modificara a aparência feminina na década anterior, tem supremacia total nos primeiros anos: vestidos de renda, capa de borracha, bijuteria, calças de marinheiro, pulloven, col roule e o perfume Chanel nº5. Salvador Dali é a moda na pintura e deixa as pessoas estonteadas, numa exposição internacional de surrealismo, com um sofá vermelho em forma de lábios de mulher. Tornou-se a figura mais controvertida e polêmica do surrealismo. Joan Crawford inventa a mulher com ombros. Schiaparelli leva o surrealismo para a moda das mulheres: usa fibra suntéticas em seus trabalhos.

Marlene Dietrich e Greta Garbo seduzem platéias indefesas. Katharine Hepbum prova que há um outro tipo de beleza. Inventa-se a glamour-girl. Gary Cooper, Cary Grant e Clark Gable são os galãs das telas. Boris Karloff e Bela Lugosi são os monstros. O Código Hays bane a nudez das telas, cronometra os beijos e recolhe com um véu moralista os sonhos enlatados. Bing Crosby inventa um estímulo íntimo e romântico para a canção. Louis Armstrong e Duke Ellington fazem jazz e história. A música que o mundo quer é o swing. Paul Whiteman e Benny Goodman atendem a todos os pedidos. Fred Astaire e Ginger Rogers aderem ao swing em vários filmes musicais.

Carmen Miranda grava Taí e tem seu primeiro sucesso nacional. Mais tarde, embarca para os EUA e tem sucesso internacional que dura até hoje. Ela põe o mundo inteiro dançando samba, rumba e conga, tudo ao ritmo de seu chica-chica-bom e influencia a moda dos sapatos e turbantes. A década consagra o samba e a seresta interpretados por cantores de voz possante como Orlando Silva e Nélson Gonçalves. O rádio atinge todos os lares brasileiros. Araci de Almeida, que é chamada “Dama da Central” por viajar de trem (tinha medo de avião), e Dalva de Oliveira eram as estrelas. O carnaval foi um dos temas do primeiro filme nacional sonoro do cinema brasileiro: Coisas Nossas, realizado por Paulo Benedetti em 1930, com o Bando dos Tangarás. Essa foi a época de ouro da música de Carnaval.Compositores como Lamartine Babo, Noel Rosa e Ari Barroso criaram músicas eternas. Dorival Caymmi, Pixinguinha e Assis Valente são os destaques na música.

Artistas e pensadores começam a revisar a formação do povo brasileiro. O negro deixa de ser o simples “criado doméstico” de obras anteriores e assume proporções heróicas nos quadros de Portinari. Na literatura brasileira, os romancistas eram os que vinham do Norte/Nordeste, como Graciliano Ramos (Vidas Secas), José Lins do Rego (Menino do Engenho) e Jorge Amado (Jubiabá). Os poetas eram Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Mário Quintana. Patrícia Galvão (Pagu) também se destaca.

Autor de uma obra inteiramente vivida e ousada, Henry Miller foi proibido na Inglaterra e nos EUA. T.S.Eliot é poeta consagrado. O escritor Ernest Hemingway começa a se destacar. Surgem os quadrinhos de ficção científica, policial, guerra, faroeste: é o advento da HQ realista. Dirigido pelo baiano Adolfo Aizen, o Suplemento Juvenil do jornal A Nação (RJ) traz para o Brasil os heróis Flash Gordon, Jim das Selvas, Mandrake. Super-Homem e Batman. O nacionalismo chega ao nosso cinema; é a vez dos clássicos da literatura e da temática brasileira. O teatro dos anos 30 no Brasil era cheio de formalismo, no palco e na platéia. O panorama do teatro nacional: cenários suntuosos, revistas leves e digestivas e comédias ingênuas.

A participação política das mulheres se intensifica e elas se organizam para apoiar os movimentos como as revoluções de 30 e 32. Berta Maria Júlia Lutz se destaca na difícil luta pelo direito e emancipação da mulher na realidade brasileira. Em 1932, na Bahia, o artista José Guimarães promoveu a primeira exposição de pintura moderna de Salvador. Quarta maior cidade do Brasil em população (290.443 habitantes, em 1940), Salvador uniu a Cidade Alta e a Cidade Baixa, pelo Elevador Lacerda, inaugurado em 1930, numa estrutura de 72 metros de altura.

18 julho 2007

Ética e estética do pós-guerra

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1920/1930: São os anos loucos, nos quais o hot jazz e o blues saem de Nova Orleans e Nova Iorque para o mundo. Debilitada pela guerra, a Europa não opôs resistência ao american way of life (estilo de vida americano); ao contrário, adotou-o em toda a linha, substituindo o champanha pelo drink, a valsa pelo charleston, o teatro pelo cinema. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, duas novas danças, originárias dos EUA, invadem os salões brasileiros: o fox-trot e o charleston. Dança-se o charleston até em Pequim. Descobrem o túmulo de Tutankhamon e a moda passa a ser egípcia em todos os detalhes. As mulheres cortam os cabelos e pintam vermelho nos lábios e unhas. Tinha um ar vamp e já queria mais independência. Madeleine Vionnet inventa uma nova mulher com vestidos franjados, muitas contas e crepe. Doucet, famoso figurinista francês, praticamente despiu a mulher da elite: as saias subiram a ponto de mostrar as ligas rendadas, e os decotes ousados deixaram os seios quase à mostra.

Picasso descobre a arte africana e dela faz ótimo uso. A humanidade caminha rumo à modernidade e as linhas geométricas se impõem. As artes decorativas passam a preferir os ângulos e estabelecem o estilo Arte Déco como o mais elegante. Modigliani passa a ter seus quadros disputados. O abstrato é mais do que uma tendência em arte. Van Dongen é o pintor que melhor reproduz em quadros os extravagantes hábitos e costumes da época. Bauhaus surge na Alemanha e todas as artes prestam atenção e obedecem. Josephine Baker chega a Paris e com um cacho de bananas põe Les Noirs entre as modas da cidade.

O francês Le Corbusier explicava seus conceitos da “máquina de morar”. Já se disseminava a consciência de que era preciso fazer alguma coisa na área de arquitetura e do urbanismo. Com seus longos colares, as “melindrosas” logo passaram a reunir-se no chá da tarde para apreciar a voz de Francisco Alves e Vicente Celestino, cujos discos ultrapassavam a tiragem de três mil exemplares. Surgiram “almofadinhas” vestidos com terno impecável, cabelos engomados com brilhantina, colete, pilotando as primeiras motocicletas, importadas dos EUA e da Inglaterra.

Scott Fitzgerald é o escritor de qualidade e sucesso maiores. Todo mundo lê O Grande Gatsby e This Side of Paradise. Rodgers e Hart, George e Ira Gershwin, Irving Berlin e Cole Porter dão a idade de ouro da música popular norte-americana. Mestre do chorinho, requintado improvisador, Pixinguinha, à frente de Os Oito Batutas, foi um dos pioneiros na divulgação da música brasileira no exterior. Chicago inventa um novo tipo de jazz: é o saxy-sexy jazz.

Al Jolson canta Mamnmy em um filme que já é sonoro: O Cantor de Jazz. Charlie Chaplin é o cinema: criador de Carlitos, o poeta-vagabundo mais famoso das telas. Walt Disney fez seu primeiro desenho animado com Mickey Mouse. Re-inventa o filme de cowboy. Surge o primeiro filme brasileiro inteiramente sonorizado, Acabaram-se os Otários, de Luís Barros. O grande nome no cinema brasileiro é Humberto Mauro. O cineasta mineiro inicia seu Ciclo de Cataguases com Tesouro Perdido. As maravilhas da eletricidade conquistaram rapidamente as atenções dos brasileiros: a “vitrola”, com seus pesados discos de 78 rotações, e o rádio, introduzido no Brasil por Roquette Pinto. A história-em-quadrinhos é influenciada pelo estilo Arte Déco com os grandes adventos tecnológicos.

Villa-Lobos, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti tentam colocar o Brasil dentro da década e promovem uma semana de arte moderna em São Paulo. choques e escândalos. São Paulo se divide entre antropófagos e nacionalistas. Longe do “barulho” dos paulistas, os cariocas fazem o Modernismo espiritualista. É o Pós-Simbolismo. De Minas surge Drummond. Do Rio Grande do Sul aparecem Mário Quintana e Érico Veríssimo. O teatro, únicas arte ausente na Semana de 1922, continuava sendo o luxo esnobe das cidades, prolongamento dos elegantes salões. Heitor Villa-Lobos é o principal compositor da escola nacionalista do Brasil.

17 julho 2007

Começo da idade do jazz e samba

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.


1910/1920: Houve uma guerra mundial. Seu fim foi o começo da idade do jazz. Bessie Smith cantava blues e o samba passou a existir no Brasil com toda aceitação. Donga foi o primeiro a gravar um samba: Pelo Telefone. E o Carnaval passou a dispor de um novo e fascinante ritmo, cuja trajetória é marcada por disputas de todo o tipo – muitas das quais acabaram por inspirar famosos sambas, como o Quem são Eles (de Sinhô), que originou respostas musicais por parte de Donga, Pixinguinha e seu irmão, o China (Já te Digo, Carnaval, de 1919).

Embora o samba tenha passado a dominar como ritmo carnavalesco desde a sua criação, a marcha ou marcha-rancho continuou disputando a preferência popular nos festejos de momo. Popularidade crescente do ragtime e do jazz. Stravinski trouxe o modernismo para a música. A América tinha como namorada Mary Pickford. Rodolfo Valentino era o galã da moda. Ele, dançando, e Carlos Gardel, cantando, transformaram o tango numa mania de quase todos os continentes.

Paul Poiret mudou inteiramente a silhueta feminina, exigindo magreza para modelos de inspiração grega e persa. O cinema, as revistas e os novos padrões internacionais começaram a liberar o corpo feminino. Surgem reclames de soutiens e de remédios (como o “regulador” A Saúde da Mulher) e métodos para corrigir a postura dos seios. As saias sobem, sob as ordens de Paris. Para acompanhar as saias mais curtas, botas de cano alto, confeccionadas em camurça e em pano, com bicos e frisos de verniz. Na maquiagem usava-se anilina e pó-de-arroz. Nada nos lábios. Na dança, o sucesso era de Isadora Ducan e Nijinski.

Aos poucos, a mulher brasileira começou a romper o monopólio masculino de algumas profissões. Em meados da década, a advogada Mirtes Campos foi aceita no Instituto da Ordem dos Advogados, quebrando um tabu secular e provocando uma acirrada polêmica nos meios jurídicos. Outras pioneira: Anita Malfatti (pintora), Cecília Meireles (escritora), Maria José Rebelo (primeira diplomata) e Eugênia Brandão (primeira repórter).

O padrão do homem era o dandy: fraque, cartola, bengala e, logicamente, bigode. Acompanhando o acelerado crescimento urbano, a publicidade traz para o Brasil o modelo norte-americano: o dandy cede lugar ao sportsman – empresário, o homem que “sabe fazer carreira na vida”, ganha o gosto pelos esportes competitivos. Os dias de regatas se tornavam acontecimentos urbanos. O football já atraía a simpatia dos jovens de elite. Marcel Proust obrigava todo mundo a ler e a buscar o tempo perdido. James Joyce era o sucesso de escândalo com Retrato do Artista Quando Jovem. Esses mestres do novo romance atingiram alto grau de autoconsciência, característico da época.

Em 1919, Salvador é a terceira concentração urbana do País, com 262.699 habitantes. Nessa época, já está adiantada a modernização de seu porto, cujo movimento espelha a riqueza da região. São exportados fumo, mamona, sisal e cacau. Os sobradões coloniais ocupam grande parte do traçado da cidade, mas entre eles já começam a surgir suntuosos prédios de arquitetura neoclásica e eclética. Em 1919, inicia-se a construção do Teatro Municipal, na Praça Castro Alves, e do Cine Olympia, na Rua Dr.J.J.Seabra. Nos subúrbios, os terreiros de candomblé mantêm-se fiéis às tradições tribais. Mãe Menininha de Gantois nos anos 20, começava a ficar famosa.

16 julho 2007

Boemia elegante da belle époque

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1900-1910: o século começou com o brilho da Torre Eiffel. Viena deixou de ser a cidade do prazer elegante. Paris passou a ser a imagem da alegria, da beleza, da ciência, do saber e das artes. A Cidade-Luz. O estilo art nouveau estava nos adornos e em todas as artes. A pintura decorava as mansões urbanas. Na Europa, explodia o Fauvismo; Picasso lançava o cubismo (1907) e Marinetti divulgava seu Manifesto Futurista (1909), começando a revolucionar a pintura do século XX. Sarah Bernahardt e Eleonora Duse eram atrizes rivais, mas de estilos diferentes. Ibsen removia todo o artificial para mostrar o real em suas peças. Bernard Shaw inquietava as platéias, discutindo no palco muitos problemas do dia-a-dia.


Santos Dumont começava a voar. Meliês chegava à Lua graças ao cinema que logo tinha Max Linder como seu primeiro galã. Griffith fez seus primeiros filmes e o cinema passou a ser a nova arte. A partir de 1908, o cinema brasileiro atravessou uma verdadeira febre de produção. Os atores do cinema nacional eram, em sua maioria, recrutados no teatro ou no circo. Homem que se prezasse no Brasil era bem-falante. A oratória compunha a personalidade masculina do mesmo modo que o fraque, o chapéu-coco, o cravo na lapela e o soberbo bigode – tudo isso acompanhado, naturalmente, de um título de doutor. Escravas das convenções, a mulher tinha um horizonte reduzido. Sua atuação social se resumia às demonstrações de fé nas missas dominicais, de caridade, nas reuniões beneficentes, e de boa anfitriã, nos salões onde expunha seus dotes musicais. Sem direito a voto ou participação política, sobrava à mulher o papel de mãe e educadora, sua principal tarefa na sociedade patriarcal.

O baiano Ruy Barbosa era o mestre da oratória e defensor das grandes causas. Candidatou-se à Presidência da República, mas perdeu e declarou: “Fora da lei não há justiça”. Os jornais começavam a modernizar-se. Acompanhando a maré do progresso no Brasil, as pequenas oficinas de tipografia compravam máquinas e iam se tornando grandes empresas. Acompanhando as inovações técnicas das oficinas de impressão, foram aparecendo inúmeras revistas com fotografias, páginas coloridas, ilustrações e caricaturas. Caricaturistas de talento como Raul Pederneiras, K-Lixto e J.Carlos tornaram-se a principal atração de revistas humorísticas como Fon-Fon!, Careta, O Malho, entre outras. O Tico-Tico, com seus personagens de quadrinhos Reco Reco, Bolão e Azeitona, ganhou, imediatamente, a preferência do público infantil.

Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, publicava sua obra intimista e perfeita, Dom Casmurro; Graça Aranha lançava o romance voltado para a questão dos imigrantes europeus, Canaã, e Euclides da Cunha entregou ao público Os sertões, colocando no centro da análise a rude humanidade do interior do Brasil. Com seus 2.667.729 habitantes em 1910, a Bahia era um dos estados mais populosos do Brasil. Por outro lado, Salvador, com seus 242.176 habitantes era, além de uma das maiores cidades do país, um de seus centros culturais mais importantes. Sede da primeira Faculdade de Medicina do Brasil (1808), passou a contar, a partir de 1901, com uma Faculdade de Direito, para a qual convergiam jovens de todos os estados, tornando-se uma das escolas de formação das novas elites.

Scott Joplin era o melhor compositor de ragtime, o ritmo da moda. Suas músicas tornaram indispensável a presença de um piano em cada casa. As toadas de violão, a modinha, o maxixe e a serenata eram a música do povo. Nos salões elegantes dançavam-se valsa e polca. Chiquinha Gonzaga escrevia músicas para o Carnaval das ruas. Ô Abre Alas é considerada a primeira marcha brasileira. Ethel Smythe compunha um hino para o movimento sufragista que as mulheres colocaram também nas ruas. E a moda feminina libertava-se dos espartilhos, anunciando uma nova desenvoltura de gestos para a década seguinte.

13 julho 2007

Música & Poesia

Miséria (Arnaldo Antunes, Sérgio Britto e Paulo Miklos)

Miséria é miséria em qualquer canto

Riquezas são diferentes

Índio, mulato, preto, branco

Miséria é miséria em qualquer canto

Riquezas são diferentes

Miséria é miséria em qualquer canto

Filhos, amigos, amantes, parentes

Riquezas são diferentes

Ninguém sabe falar esperanto

Miséria é miséria em qualquer canto

Todos sabem usar os dentes

Riquezas são diferentes

Miséria é miséria em qualquer canto

Riquezas são diferentes

Miséria é miséria em qualquer canto

Fracos, doentes, aflitos, carentes

Riquezas são diferentes

O Sol não causa mais espanto

Miséria é miséria em qualquer canto

Cores, raças, castas, crenças

Riquezas são diferenças

A morte não causa mais espanto

O Sol não causa mais espanto

A morte não causa mais espanto

O Sol não causa mais espanto

Miséria é miséria em qualquer canto

Riquezas são diferentes

Cores, raças, castas, crenças

Riquezas são diferenças

Índio, mulato, preto, branco

Filhos, amigos, amantes, parentes

Fracos, doentes, aflitos, carentes

Cores, raças, castas, crenças

Em qualquer canto miséria

Riquezas são miséria

Em qualquer canto miséria .

Canção da Mais Alta Torre (Arthur Rimbaud. Tradução de Augusto de Campos)

Inútil beleza

A tudo rendida,

Por delicadeza

Perdi minha vida.

Ah! que venha o instante

Que as almas encante.

Eu me digo: cessa,

Que ninguém te veja:

E sem a promessa

Do que quer que seja.

Não te impeça nada,

Excelsa morada.

De tanta paciência

Para sempre esqueço:

Temor e dolência

Aos céus ofereço,

E a sede sem peias

Me escurece as veias.

Assim esquecidas

Vão-se as Primaveras

Plenas e floridas

De incenso e de heras

Sob as notas foscas

De cem feias moscas

Ah! Mil viuvezas

Da alma que chora

E só tem tristezas

De Nossa Senhora!

Alguém oraria

À Virgem Maria?

Inútil beleza

A tudo rendida,

Por delicadeza

Perdi minha vida.

Ah! que venha o instante

Que as almas encante!

12 julho 2007

Roberto Mendes, entre a fonte e a ponte

O violonista, compositor, intérprete Roberto Mendes é a mais completa tradução do Recôncavo. Desde criança, com os irmãos, aprendia a cultuar o violão, e na sua terra Santo Amaro da Purificação conheceu os músicos Dilermando Reis e Dino Lopes. “Foram eles que me informaram o que era a chula e suas variantes”, confessou. “Eu sou uma pessoa privilegiada porque conhecer a chula na fonte e não através de discos ou de rádio. Foi através de seus criadores, pessoas que me ensinaram tudo o que sei. Eu não sou a fonte, só faço a ponte. Quisera eu ser um chuleiro, pois isto é mais nobre. O que sei bem é copiar”, brinca, modestamente.

No seu primeiro disco, Flama, ele reinventa o estilo em três canções: “Esse sonho vai dar” (chula-de-estiva, estilo também conhecido como samba amarrado), “Minha terra” e “Tudo de melhor” (uma fusão de chula com candombe, gênero musical procedente do Uruguai). Flama abriu novas possibilidades para a música popular brasileira, reciclando e resgatando gêneros esquecidos. Recria a cultura popular com suas idéias inventivas e simples, sem erudição.

Seu segundo disco, Matriz, o artista passeia pelo candombe (Salvador daqui), o ritmo da Guiana Francesa, cavaxá (Humana), servilhana (Doce esperança), chulas (Caribe, calibre amor, Chula de lá). E o santo-amarense não parou mais, resgatando cada vez mais o gênero musical muito cultuado no recôncavo baiano. Não se sabe por que ele foi abandonado pelos criadores da região, ficando relegado a uma manifestação folclórica. E Roberto Mendes cada vez mais compondo muitas chulas.

Mendes começou a vida artística profissional em 1976, participando de festivais universitários e oficinas musicais com o companheiro Jorge Portugal. Pouco depois, ainda com Portugal e mais Raimundo Sodré, Luciano Lima, Carlinhos Profeta, Arthur Dantas, Benza e Rubem Dantas, formou o Sangue e Raça, grupo inovador que trazia propostas miscigenadoras de vários ritmos e estilos musicais. Com o Sangue e Raça, pode conhecer, por dentro, o meio artístico e excursionar por todo o país.

Com a separação do grupo provocado pela saída de Raimundo Sodré, Mendes e Portugal retornam para Salvador, onde passaram a se dedicar às suas carreiras específicas de professor (Mendes ensina Matemática). Esta fase dura até que uma nova convocação de Sodré para que o acompanhasse na música “A Massa” e obrigasse a retornar ao Rio, enfrentando uma verdadeira maratona de festivais. Com a boa classificação da música num dos eventos patrocinados pela Globo, Sodré parte para o disco e Mendes o acompanha em “Coisa de Nego” e “Beijo Moreno”, ambos com bons resultados.

A partir das gravações com Sodré, Roberto encoraja-se a abandonar definitivamente a matemática pela música. Passa a acreditar mais nas suas possibilidades artísticas e investe em apresentações individuais, ou em dupla com Jorge Portugal, além de participar como músico acompanhante de discos de outros artistas. Em 1988, ainda com Portugal, concorre ao Festival da Globo com “Caribe, Calibre Amor”, retomando as influências da música caribenha praticamente abandonada por músicos de sua geração.

A grande contribuição de Roberto Mendes à música popular contemporânea foi o resgate de um dos gêneros mais populares e cultuados no recôncavo baiano: a chula. Estilo híbrido de harmonia européia e ritmo originário do batuque africano, a chula ficou restrito à tradição. Ponte entre a tradição e a modernidade, entre o passado e o presente, resgatando gêneros esquecidos, ampliando o painel da música regionalista ou misturando-a com estilo contemporâneo, o compositor e violonista Roberto Mendes é um dos mais inventivos músicos baiano da nova geração. Aplicado aluno dos ensinamentos tropicalistas do conterrâneo Cartão Veloso e discípulo confesso do eclético violão de Gilberto Gil, Mendes revela-se um músico-síntese, cabeça de ponta de um movimento em crescente depuração.

Desde 1985, Maria Bethânia vem registrando em seus trabalhos anuais músicas de Roberto Mendes e seus parceiros Jorge Portugal e Mabel Veloso. “Esse Sonho vai Dar” está no disco A Beira e o Mar; “Filosofia Pura” e “Lua” no disco Ciclo; “Iorubahia”, em Dezembros; “Ofá” em Maria, onde Bethânia funde o toque afro da canção de Mendes com os vôos vocais do grupo sul-africano Lady Smith Black Mambazo, “Vida Vã”, “Búzios” no disco Olho D´Água. E mais recentemente “Memória das Águas” e “Francisco, Francisco” no disco Pirata, e “Beira-mar” no premiado Mar de Sophia. Sarajane, Daniela Mercury, Beijo, Margareth Menezes e muitos outros artistas já gravaram suas composições mas quem acreditou há um bom tempo na criatividade de Mendes e continua levando fé é Maria Bethânia.

Assim é Roberto Mendes, de uma nobreza que encanta, “envolto em onda ancestral, o artista absorve e traduz em sons”, a matriz, o universo cultural que lhe deu régua e compasso. Pesquisador ritmo muito comprometido com a riqueza sonora e cultural de sua região, recôncavo baiano, Roberto Mendes confessa-se um “chuleiro”, aquele que toca e ama a chula, um ritmo primo-irmão do samba angolano, pai do nosso samba. O apego à chula não impede Roberto de mostrar sua fina sensualidade e talento como compositor em outros gêneros, como os influenciados pela cultura ibérica no Brasil,. A bossa nova e o romantismo melódico herdado de Caetano Veloso, seu grande amigo.

“Eu estou mais para a rebeldia do tribal do que para o clássico. Onde tiver um tambor e qualquer tradução irresponsável que o conceitue o minimalismo, é desse lado que fico”, definiu. E numa apresentação o parceiro Jorge Portugal afirmou que os olhos de Mendes estavam cravados no rosto da sua terá, Santo Amaro, e através desses olhos que ele vê o mundo.