O mestre Raymundo Aguiar (foto), ou K-Lunga (como assinava seus desenhos), é um exemplo. Até hoje somente a sua
pintura foi considerada. Sua obra gráfica, de interesse ilimitado, permanece em segundo plano, cercada por um silêncio constrangedor. Ele se dedicou ao desenho, charge, caricatura, gravura, xilogravura e pintura, distinguindo-se em técnicas como gravura a água-forte, a água-tinta, pastel, óleo e xilogravura.
Sua obra de desenhista, além do valor intrínseco, é importante por ter registrado, de forma autêntica, acontecimentos sociais e políticos de sua época. Os desenhos de K-Lunga caracterizam-se pela maneira irônica de mostrar a sociedade burguesa: sua elegância e esnobismo eram os pontos ressaltados. Suas charges políticas têm caráter chistoso, movimentado e retratam legítimos quadros de costumes dos bastidores da democracia brasileira.
A irreverência brincalhona de suas caricaturas resultou em sua detenção por 36 horas. Desde o governador Antonio Moniz até Antonio Balbino foram alvos de suas críticas. Uma de suas charges mais ousadas e contundentes, As Transformações, provocou o empastelamento do jornal A Hora, dirigido por Artur Ferreira, de oposição cerrada ao governador Antonio Moniz.
O trabalho desse português meio franzino e de talento singular, a despeito do delegado Pedro Gordilho tê-lo chamado de “fazedor de bonecos”, começou a incomodar os donos do poder. De modo geral, emprestou o valor de seu lápis aos maiores jornais e revist
as locais. Como caricaturista, trabalhou nos jornais A Tarde, O Imparcial, Jornal de Notícias, A Noite e nas revistas A Luva, A Fita, A Garota, A Farra, Melindrosa, revista da Bahia, Única e A Renascença.
Pintor, chargista e publicitário, Nicolay Tischenko (foto) ajudou, com suas charges, a perceber as ambiguidades da condição humana, as contradições disfarçadas, os anseios e insatisfações. Seu traço vivo, forte, fixou nossos tipos, usos e costumes sociais e políticos, dando às suas figuras um “décor” próprio. Seus desenhos foram publicados de 1958 a 1975 no jornal a Tarde. Seu traço era marcado pela sensibilidade europeia e, naquela época, foi uma grande sensação no mercado. A repercussão das charges publicadas em A Tarde incentivou o desenhista a reuni-las no livro Charges.
No início (1958) ele não entendia o coloquialismo do nosso idioma, mas seu traço forte se destacava logo nas charges que foram publicadas no jornal A Tarde. O russo Tischenko aos poucos foi conhecendo nossa cultura, nossa política e idioma. Preferiu a charge à caricatura, pois inspirava mais o riso do que o temor. Afinal, a caricatura individualizava o ataque, abrindo o flanco a retaliações diretas. A charge política é uma forma de combate que além de fazer rir, deve levar o leitor à reflexão, ainda que sob a ótica da descontração e do entretenimento.
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