30 abril 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (06) Igreja da Graça

 


Um dos primeiros templos cristãos de Salvador foi a capela, construída em taipa e cobertura de palha, por Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru, e sua mulher, a princesa tupinambá Catarina Paraguaçu, por volta de 1535: a Igreja da Graça. Paraguaçu era filha de um cacique tupinambá. Em 1527, Caramuru e Paraguaçu foram para Saint-Malo, na França, onde Paraguaçu foi batizada em 30 de julho de 1528, na Cathédrale Saint-Vincent-de-Saragosse de Saint-Malo, com o nome cristão de Katherine du Brézil. Ela casou-se depois com Caramuru.

 

A igreja foi construída no século XVIII, com recursos de Catarina Paraguaçu, no mesmo local da capela que já existia desde 1535. Catarina era devota da Mãe de Jesus, como retratado em uma pintura do artista Manoel Lopes Rodrigues, feita 1881, no teto da igreja. No templo religioso estão os restos mortais de Catarina Paraguaçu, a índia que se causou com o náufrago português Diogo Álvares Correia, o Caramuru.

29 abril 2022

CURIOSIDADES BAIANAS 05 Primeira arquiteta da Bahia

 


Lycia Conceição Alves (1904 - 2005). Primeira mulher a se formar em arquitetura na Bahia. Diante da supremacia absoluta masculina, respondia com a supremacia intelectual. A cidade da Bahia não abria as portas para sua primeira arquiteta. Foi trabalhar nove anos depois de formada na Embasa na função de topógrafa, numa época em que era a única mulher a trabalhar na empresa. E se não pode exercer a profissão de arquiteta, sua energia foi direcionada em protetora dos animais.

28 abril 2022

CURIOSIDADES BAIANAS 04 Dois de Julho

 


No alto, a representação de um povo que lutou pela independência diante da Corte portuguesa. Com uma lança em punho, o índio vem acompanhado, logo abaixo, de uma mulher – ela, por sua vez, é a própria Bahia. Do outro lado, a índia Catharina Paraguaçu, que não participou das batalhas, mas mostra a participação feminina em cada uma delas. Nos mosaicos, as incursões e tomadas de balsas portuguesas tanto na Ilha de Itaparica quanto em Cachoeira, no Recôncavo. O Rio São Francisco também está ali, personificado por um homem velho. Entre eles, um punhado de leões, exibindo a força e a energia dos combatentes. Tudo isso compõe o Monumento ao 2 de Julho que, à época de sua inauguração, em 1895, era o mais alto de toda a América Latina. Só que, no meio da Praça do Campo Grande, a escultura de 25 metros enfrentou batalhas diferentes, nos últimos tempos. O Monumento ao Dois de Julho foi todo criado na Itália pelo artista italiano Carlo Nicoli y Manfredini, então vice-cônsul do país no Brasil. Com estética neoclássica, foi construído nas cidades de Pistóia e Carrara e transportado nos lastros de navios até ser montado em Salvador. As únicas peças feitas no Brasil são as bases dos candelabros. Erguidos em granito, vieram da Serra de Itiúba,

27 abril 2022

CURIOSIDADES BAIANAS 03 Farol de Itapoan

 


Em 7 de setembro de 1823, o Farol de Itapuã foi inaugurado. O Engenheiro Zózimo Barroso o construiu, sobre a Pedra da Piraboca para sinalizar bancos de areia ali existentes e orientar a navegação marítima de Salvador. O farol tem 21 metros de altura, apresenta a forma de uma torre toda em ferro fundido, emite um relâmpago branco a cada 6 segundos, uma luz fixa branca, com alcance de 15 milhas náuticas (28 km), facilitando, assim, a navegação de embarcações que veem de longe. O farol está entre os cinco mais antigos da Bahia e foi fabricado na Escócia e montado aqui para orientar as embarcações que chegavam ao local e diminuir os acidentes causados pelas rochas e bancos de areia na região. Originalmente pintado de roxo-terra. Em 1939, passou a ser pintado em faixas horizontais de cor branca e laranja e, em 1950, sua pintura foi novamente modificada para vermelho e branco, cores que mantém até hoje. Além de útil para a navegação, ele também virou cenário, cartão postal de Salvador.

26 abril 2022

CURIOSIDADES BAIANAS 02 Beleza negra

 


Em um momento em que apenas brancos brincavam dentro das cordas e os negros só eram aceitos como cordeiros, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, então com 20 anos, desceu o Curuzu no Carnaval de 1974 acompanhado de umas 100 pessoas negras que levavam cartazes exaltando a beleza negra e outras frases importadas do movimento negro dos Estados Unidos. Era a resposta ao fato de que jovens negros  tinham suas fichas de inscrição  rejeitadas pelas agremiações carnavalescas. Esperavam-se pelo menos 500 pessoas, mas o medo da repressão fez a maioria recuar. Qualquer menção a direitos humanos soava como coisa de comunista, e, para diminuir o risco de confronto com a polícia, Vovô foi convencido a abrir mão do nome que havia decidido para o bloco, Poder Negro. Depois de uma consulta a um pesquisador belga amigo, chegou-se a Ilê Aiyê, que em iorubá significa mundo negro.

 

25 abril 2022

CURIOSIDADES BAIANAS 01 A maior biblioteca rural do mundo está na Bahia

 


Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado. Está sediada em um prédio de três andares, o único daquela área da caatinga. Já foi apelidado de “Empire State of Paiaiá”, reunindo os quase 100 mil livros, segundo a contagem oficial, da autodeclarada “maior biblioteca rural do mundo”. No distrito de São José do Paiaiá, em Nova Soure, com pouco mais de 700 habitantes tem apenas uma rua central pavimentada, uma biblioteca com mais de 40 mil volumes,  espécie de lavoura intelectual do semi-árido baiano. O professor Geraldo Prado é o fundador da maior biblioteca rural do mundo, na Comunidade do Paiaiá, localizada em Nova Soure. É a segunda maior biblioteca comunitária do mundo. Só perde para uma que fica nas proximidades de Valladolid, na Espanha, em um lugar onde moram 170 pessoas.

24 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (27) Cowboy homossexual

 


Na década de 1950 os quadrinhos de super-herois entraram em baixa e as editoras investiram em outros gêneros, inclusive faroeste. Foi nessa época que a Marvel criou o cowboy Rawhide Kid (no Brasil, publicado coo Billy Blue), que fez relativo sucesso até cair no esquecimento poucos anos depois. Com a chegada de Joe Quesada à direção da Marvel, trouxeram o cowboy de volta, mas com uma nova roupagem. O personagem perdeu o ar de homem durão do velho oeste e adotou atitudes de um homossexual estereotipado. Rawhide Kid levantou muita polêmica com sua volta, em 2003. A editora tirou o personagem do ostracismo, mas também do armário. Na minissérie Slap Leather (algo como Tapa no couro), publicada pelo selo Marvel Max, o herói é apresentado como homossexual. O personagem da década de 1950 tinha jeito de mau e era durão e bom de briga. Anos depois é retratado bem afeminado. Isso tudo antes de O Segredo de Brokeback Mountain virar sucesso nos cinemas.

Criado em 1955 por Stan Lee e Bob Brown, a personagem era conhecido por sua timidez com as garotas, mas nunca tinha sido abordado desta forma. Billy Blue, como é conhecido no Brasil, teve série própria com mais de 150 edições entre 1960 e 1979, e apareceu esporadicamente em outras publicações da Marvel, incluindo as recentes mini-séries western Blaze of glory e Apache skies, de John Ostrander e Leonardo Manco, junto com outros velhos caubóis da Marvel. Nas duas, era heterossexual convicto.

 

23 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (26) Stan Lee quase largou os quadrinhos

 


Nos anos 60, os quadrinhos eram vistos como algo lido apenas por pré-adolescentes. Por isso, foi pedido a Stan Lee que escrevesse textos mais simples. Na altura, o escritor estava considerando mudar de carreira e acreditou que a criação do Quarteto Fantástico seria seu último trabalho na área. Então, e com o apoio de sua esposa, Lee resolveu ser rebelde e aumentou a complexidade de seu texto e também de seus personagens. Na verdade, a HQ do Quarteto Fantástico ganhou tanto sucesso que acabou mudando o paradigma dos quadrinhos, fazendo frente a títulos como Liga da Justiça, da DC.

https://www.aficionados.com.br/curiosidades-stan-lee/

 

22 abril 2022

Ícone da pop art: Andy Warhol

 

Ele foi figura mais conhecida e mais controvertida do pop art, Andy Warhol (1927-1987) mostrou sua concepção da produção mecânica da imagem em substituição ao trabalho manual numa série de retratos de ídolos da música popular e do cinema, como Elvis Presley e Marilyn Monroe. No início foi vitrinista, fez todo tipo de desenho para todo tipo de publicidade, gravura, capa de livro, cartão de Natal, etc. A transição da publicidade para a arte pura se deu através das histórias em quadrinhos. Os primeiros trabalhos de Andy foram versões ampliadas das tiras de Dick Tracy usadas como elemento decorativo nas vitrines da loja novaiorquina Lord and Taylor. Uma das características de sua arte é justamente esta qualidade ou nitidez de imagem da publicidade ou da imagem produzida mecanicamente. Ele foi um dos primeiros a empregar a serigrafia para multiplicar os seus trabalhos. Para ele, como para a produção industrial, o que conta é a quantidade, e esta que acaba por gerar a qualidade.

 


Warhol não estava interessado em ideias mas em objetos. Ou melhor, imagens de objetos industrializados – a lata de sopa Campbell, a garrafa de Coca Cola, a tampinha Pepsi Cola, o vidro de ketchup ou as caixas de sabão em pó Brillo. Para ele estas imagens tinham o mesmo valor que as outras que ele também repetiu exaustivamente de personalidades famosas como Marilyn Monroe, Elizabeth Taylor, Elvis Presley, Marlon Brando, Mao Tsé-tung e até Pelé, além do símbolo da foice e do martelo. Tudo neutro, asséptico e brilhante como os esquemas gráficos de livros de bolso. Nenhuma emoção ou subjetividade – o seu rosto deixava transparecer o mesmo tédio dessas imagens colhidas aleatório da sociedade de massa.

 


Quando em 1960 Warhol realizou as primeiras pinturas baseadas em Dick Tracy, Popeye e Super Homem, além de duas garrafas de Coca Cola, inaugurando assim, em meio a um dos mais sofisticados cenários das artes plásticas contemporâneas, um novo filão: a elevação da banalidade e da vulgaridade cotidiana a estatuto de arte (ou vice-versa). A consagração viria mais tarde, em 1962, quando, além de realizar a série de pinturas de notas de um dólar, Warhol expôs suas já clássicas latas de sopa Campbell´s  na Ferus Gallery, em Los Angeles. Estava confirmada uma nova arte, uma das últimas correntes artísticas do século 20 a manter uma profunda tensão estética em seus propósitos, um questionamento entre o lugar da arte e a banalidade do mundo.

 


Personagem obrigatório nos acontecimentos sociais de Nova York, ele usava seus cabelos, tintos, platinados e quando rarearam foram substituídos por perucas no mesmo tom e corte. Óculos de aros coloridos ele já usava na década de 50. Na moda, lançou o clássico e trivial look despojado: calça jeans, tênis e paletó escuro. No universo povoado por pessoas e situações do então “submundo das artes”, Warhol foi o responsável pelo lançamento do grupo Velvelt Underground na cena pop novaiorquina dos anos 60. O grupo não só apresentou Lou Reed ao mundo como mostrou aos hippies que havia muito mais sujeira embaixo do tapete do que o movimento flower power imaginava. Além de Lou Reed e John Cale, cabeças do Velvet, no Greenwich Village, Wahol introduziu a cantora alemã Nico ao grupo e passou a incluí-la na maioria de suas performances, projetos multimídia e filmes.

 


Em 1969, Warhol fundou a revista Interview. Editou livros, produziu filmes e apresentações no estúdio que mantinha em Manhattan, chamado Factory (Fábrica) e viveu cercado por uma fauna de gente pouco convencional. Depois era visto com frequência na discoteca Studio 54. Responsável pela frase de que todo mundo, no futuro, seria famoso por 15 minutos, Warhol foi um marco na arte norte americana. Retratou personalidades e produtos com a frieza de uma máquina tendo conquistado fama e prestígio só comparáveis aos grandes artistas do século. Na época, o diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, Richard Oldenburg resumiu o perfil do artista que ajudou a criar as bases da pop art: “Warhol fez seu estilo de vida uma obra de arte... Foi uma das primeiras pessoas a se transformar, por ser artista plástico, em estrela”.

 

21 abril 2022

Erotismo e pornografia (04)

 

A pornografia e o erotismo transitam sempre em terreno marcado pelas contradições, um território não-determinado, uma fronteira entre situações opostas, a tensão entre polaridades. Ao se instalarem, o fazem sempre como uma transgressão das interdições que também são, por sua vez, parte de um conjunto de contradições. Essa impossibilidade de traçar limites preciso entre o erótico e o pornográfico é sinal de sensatez e um bom ponto de partida, tendo em vista as contradições, o jogo semântico que cerca o uso social dessas palavras, a forma dialética com a história tem tratado do assunto.

 


Como explicar as transformações os costumes, principalmente ao dissipar-se o que restava da afetada atitude de pudor herdada do século XIX. Desmoronava assim um obstáculo cuja força não deve ser subestimada. Quando eu era estudante, quase todos os meus mestres, tenho certeza, teriam sentido um tanto embaraçados em desenvolver diante de nós certos temas. Não parecia decente perder tempo com tais assunto. O que envergonhava nossas mães já não envergonha nossos filhos. Aí está a ruptura. Com uma violência que deixou atônito cada um e nós, desmoronaram debaixo de nossos olhos estruturas erguidas há séculos para ordenar as relações entre sexos. As proibições caíram. Os corpos se desnudaram. Acostumamo-nos a não mais enrubescer diante de certos temas. Certos comportamentos, outrora cuidadosamente dissimulados, começaram a ser alardeados, enquanto a conjugalidade se revestia de novas formas.

 

A revolução que, anulando disposições consagradas desde as origens da espécie humana, veio modificar de cima a baixo a divisão dos papeis e dos poderes entre os homens e as mulheres. Cada cultura, em consequência, guardou o erotismo e a pornografia forçosamente um lugar privilegiado em seu sistema, cada uma apresentando-os à sua maneira. Não é fácil estabelecer o limite entre erotismo e pornografia, na medida em que ele varia com as épocas e segundo os indivíduos.

 

Para o ensaísta, romancista e historiador de arte, Alexandrian, “a nova forma de hipocrisia consiste em dizer: se este romance ou este filme fosse erótico, eu me inclinaria diante de sua qualidade, mas é pornográfico, por isso eu o rejeito com indignação. Esse raciocínio é tanto mais inepto quanto ninguém consegue explicar a diferença entre um e outro. E com razão: não há diferença. A pornografia é a descrição pura e simples dos prazeres carnais; o erotismo é essa mesma descrição revalorizada em função de uma idéia do amor ou da vida social. Tudo o que é erótico é necessariamente pornográfico, com alguma coisa a mais. É muito mais importante estabelecer a diferença entre o erótico e o obsceno. Neste caso, considera-se que o erotismo é tudo o que torna a carne desejável, tudo o que a mostra em seu brilho ou em seu desabrochar, tudo o que desperta uma impressão de saúde, de beleza, de jogo deleitável; enquanto a obscenidade rebaixa a carne, associa a ela a sujeira, as doenças, as brincadeiras escatológicas, as palavras imundas”.

 


O erotismo e a pornografia reside na palavra escrita, não em representações desenhadas, pintadas ou esculpidas, e não em fotografias – ou seja, em nada do que está contido nas páginas do livro, mas sim na mente do observador. O erotismo e a pornografia têm muito a dizer-nos sobre a bossa própria natureza como seres humanos, sobre o contexto atual em que vivemos, e muito para agradar ao sentido estético. Podemos tapar os olhos e os ouvidos, que não desaparecem. O erotismo e a pornografia são parte entrelaçados da estrutura do mundo contemporâneo.

 

20 abril 2022

Erotismo e pornografia (03)

 

Há um binômio opositor entre erotismo e pornografia. Antes sinônimos de um mesmo malefício moral, agora se separam para cumprir uma compreensão simplista e binária sobre o permitido e o indesejado. Erotismo é apropriado, conceitualmente, para higienizar uma postura regrada sobre a sexualidade e pornografia é tida por uma rotulação de imundície e deturpação.

 

Erotismo atende ao que é “referente ao amor” e acresce por “literatura erótica”, deixando claro o entendimento de que se trata de algo legitimado através das letras e de um sentimento nobre. Pornografia está atrelada a palavras como “devassidão”, “obscenidade”, “caráter imoral de publicações”, abrangendo produções em suportes subalternos. A origem da pornografia começou com os estudos sanitários sobre a prostituição entre os séculos XVIII e XIX. O erotismo, por sua vez, surge no século XVI e também surge como uma ameaça, mas vinculada a um bom gosto, sob respaldo de uma parcela erudita e abastada da sociedade.

 

O erótico e o pornográfico, duas instâncias de representações culturais do prazer, estão presentes em centenas de espaços. A questão que se coloca é: a quem interessa dizer o que é obsceno e pornográfico? O que é erótico para um pode ser – e frequentemente é – pornográfico para outro.

 


O artista multimídia Eduardo Filipe que adota a alcunha de O Sama, numa entrevista ao site Raio Laser (https://www.raiolaser.net/home/13-perguntas-para-sama) falou sobre os limites entre erotismo e pornografia:

 

“Penso que a pornografia está contida no erotismo, mas o erotismo não cabe bem na pornografia. Entretanto, estes limites variam de cultura para cultura… Além disso, há o componente político presente em qualquer relação humana, que se dá através de lugares de poder. No Brasil, por exemplo, só recentemente as mulheres estão conseguindo se libertar do antiquado papel de submissão, e por isso começam a estabelecer novas direções e relações de poder no imaginário erótico, ou até mesmo pornográfico. Para o homem brasileiro médio, geralmente machista e carregado de preconceitos, isso poderá ser doloroso. Mas ou eles se adaptam ou vão merecer a extinção. O meu trabalho contém erotismo, mas não duvido que existam aqueles que o achem pornográfico.

 


“Não gosto de cagar regra, mas eu particularmente não curto nada que envolva a submissão de uma pessoa sem o consentimento da mesma. E também acho uma tremenda maldade envolver crianças e animais em situações eróticas e/ou pornográficas. Posso abrir algumas exceções para as representações artísticas, tipo desenhos ou pinturas com animais ou crianças em situações eróticas, que remontam tempos bem antigos, mas apesar de não curtir, acho bem menos grave do que situações que envolvam pessoas reais. Inevitável não lembrar do Mike Diana ou do Suehiro Maruo. Estes caras navegam por mares bem diferentes dos que eu navego, mas não posso negar que são grandes artistas. Fora isso, entre adultos que se respeitam e estão de acordo, por mim, vale tudo. Abaixo o falso moralismo!”

19 abril 2022

Erotismo e pornografia (02)

 


Juarez Paraiso (1934 - ) professor, pintor, escultor, gravador, fotógrafo, muralista, publicitário, cenógrafo, figurinista, decorador e artífice. Artista gráfico de todas as técnicas (xilogravura, metal, serigrafia, offset), pintor de todas as tintas (do pincel à pistola) assim respondeu em dezembro de 1999:

 

“O pornográfico surge quando desaparece o sentimento estético. A ausência do estético, portanto, qualifica o pornográfico. E nos parece claro que a prevalência do instinto também elimina o pornográfico. Uma situação onde o instinto sexual é predominante, portanto, não é uma situação pornográfica. O pornográfico seria a exposição do sexo ou de situações sexuais de forma exageradamente frontal, sem a solicitação do instinto sexual ou da presença da idealização artística, do sentimento estético.  A pornografia só existe pela banalização do sexo, pela sua exposição bizarra e escandalosa. O instinto sexual é uma condição primaria e natural. Fora os preconceitos sócio-culturais e os sentimentos de culpa impostos principalmente pela religião cristã, a pratica instintiva do sexo elimina o pornográfico. E mais ainda quando gera um prazer associado com o amor, a integração de sentimentos recíprocos e benfazejos. O erótico encarna o sentimento onde o sexo ultrapassa o simples sentimento de prazer sexual, por encontrar-se enriquecido com a vivencia do estético, isto é, com a construção do prazer associado com o sentimento do belo, ou da expressividade artística. (...) O erótico pode existir através de qualquer assunto, tornando-se o verdadeiro tema do artista. Também varia o grau de erotismo, a depender do assunto e da força expressional dos diversos artistas”.

 


O artista plástico, fotógrafo e crítico de arte César Romero em março de 2000 respondeu por email: “O erotismo está ligado a sensualidade, ao dengo, ao brincalhão e travesso. É suave e insinuante, não é imediatista, nem choca. No erotismo o libido é mostrado de forma lasciva e terna e pornografia é imediatista e por vezes na Arte, até grosseiro”.

 


Pintor, gravador, ilustrador, desenhista, entalhador e cenógrafo baiano Calasans Neto (1932 – 2006)  em 1999 respondeu: “O adjetivo erotismo que é relativo ao amor com toda conotação de sugestão ao desejo bolindo com o mais escondido dos libidos e o que tem de lubrico, lascivo é sempre sutilmente representado das imagens plásticas ou na literatura, é uma forma delicada de bolir com sentimentos sensuais e fazer o espectador participar de sonhos eróticos. Já a pornografia é outra vertente sem sutileza, grosseira, obscena onde o jogo do prazer é visto sob a ótica da devassidão sem a poesia sugestiva da paixão. Ela vem da forma mais chocante para o espectador. Para mim, infinidades de pintores e escultores já participaram de um erotismo poético e reputo como o mais perfeito símbolo do erotismo o quadro `Le Bain Turc´de Ingres hoje no Louvre – Paris”.

 


O jornalista Marcos Rodrigues, autor do livro Pasolini ainda vive?, em dezembro de 1999 assim se expressou: “Quando penso em erotismo a primeira ideia que me ocorre é a da sensualidade através de imagens, gestos, provocações, enfim a exploração do desejo (....). A pornografia consiste na publicação extravagante da nudez ou do ato sexual, sem nenhuma conotação de provocar ou chamar atenção, mas sim de escancarar. É o sexo do sistema que sugere a exploração a fundo de aspirações e fantasias. Na pornografia nenhum gesto é contido, executado mecanicamente, instantâneo, implicando na sacanagem explícita, na libertinagem, uma vez que o homem supõe sentir a interferência social nas suas atitudes sexuais. O que vale é dar vazão ao instinto (...) A pornografia tem a função da televisão, que atrai a atenção do espectador/leitor pelo produto que oferecessem direito de recusa”.

 

18 abril 2022

Erotismo e pornografia (01)

 

Em 1999 estava fazendo uma pesquisa sobre a relação entre erotismo e pornografia. Vários artistas foram consultados por meio de email. E alguns deles responderam. O antropólogo, historiador, pesquisador, professor de Antropologia da UFBa e na época, presidente do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, autor do livro, Bahia: Inquisição & Sociedade, respondeu:

 


“Erotismo tem a ver com excitação dos sentidos provocados por emoções sensuais. Varia de pessoa para pessoa, de povo para povo, podendo ou não implicar em sentimentos de amor e afeto, mas sempre em excitação que pode ou não chegar ao orgasmo. Quanto a pornografia, é um conceito oriundo da moral judaico-cristã, que rotula negativamente como indecentes certas atitudes ou comportamentos eróticos, geralmente associados ao deleite libidinoso  e que pode chocar ou causar emoções lúbricas em terceiros” (11/11/1999)

 


O poeta e escritor carioca radicado em Salvador, Zeca de Magalhães (1959-2007), sobrinho-bisneto do escritor Graça Aranha, arte-educador e autor de livros como O Nome do Vento, Exercícios da Morte Vizinha' respondeu em 1999:

 

“O erotismo é o deleite da sedução, é o eterno desejo. Já a pornografia é a avidez da conquista sem surpresa, é o desejo saciado. O pornográfico expõe e o erótico sugere. A diferença entre eles pode ser sintetizada em duas palavras:  a sutileza e o escracho, e que encontram-se pois, embora diferentes entre si, provocam os gens de humano desejo”.

 


Pintor, desenhista, gravador, cenógrafo, Floriano Teixeira (1923 – 2000) foi senhor de um traço inconfundível, seguro, gracioso e que é suporte visível de todas as suas artes múltiplas – a gravura, a escultura e sobretudo a pintura. Um desenhista raro, detalhista ao extremo. Ele respondeu:

 

“Erotismo  e pornografia, qualidades distintas uma da outra. A primeira, nos transporta a um pensamento, ou estado de pureza e amor sexual sem pecados. A segunda, fere porque é o caracter de baixa qualidade, cujo objetivo principal é agredir com obscenidade, imoralidade e indecência” .

 


O professor, jornalista e escritor Marcos Uzel, autor dos livros Guerreiras do Cabaré - A Mulher Negra no Espetáculo do Bando de Teatro Olodum, A Noite do Teatro Baiano e O Teatro do Bando - Negro, Baiano e Popular, em agosto de 2000, respondeu: “Erotismo e pornografia são  abordagens e percepções do lado sensual da vida humana. As pessoas sentem necessidade de enfocar a sexualidade como forma de se aproximar de seus mistérios e da sua complexidade, numa tentativa de entende-la melhor. De acordo com uma leitura mais psicanalista, seria esta uma maneira de driblar a própria morte. Se Eros é o Deus do Amor, por outro lado temos em Thanatos o Deus da Morte. Como bem escreveu a autora gaúcha Lya Luft em O Quarto Fechado, ´toda negação do amor gera a morte, não importa que amor, não importa que proibição`. Enquanto o erotismo reveste-se de um contorno mais implícito, a pornografia cerca-se de um aspecto mais explícito.  Ao enfoque erótico interessa mais sugerir e menos, expor. Se ambos lidam com o sensualismo, distinguem-se, contudo, na revelação deste. O erótico apela mais à imaginação.  Já o pornográfico não se preocupa com a alimentação do mistério, preferindo a revelação imediata, que, no erotismo resiste sob forma de um véu de promessas do quanto ainda está por ser desvelado”.

 

17 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (25) Símbolo da resistência cultural francesa

 

Criado pelo roteirista René Goscinny (1926-1977) e pelo desenhista Albert Uderzo (nascido em 1927), as aventuras de Asterix pelo mundo antigo foram sucesso imediato, tornando-se uma das BDs (sigla de bande dessinée que, em tradução literal significa “tira desenhada” ou, na tradução mais correta, simplesmente histórias em quadrinhos) mais famosas do mundo. O primeiro álbum, publicado em 1961 (Asterix, o Gaulês, contendo material dos números 1 a 38 da Pilote), vendeu 6 mil cópias na França à época de seu lançamento. O segundo álbum, A Foice de Ouro, publicado em 1962, vendeu 20 mil cópias. Só aí, com a triplicação das vendas em apenas um ano na década de 60, é possível notar o quão influente a obra da dupla Goscinny/Uderzo seria. E não deu outra. O nono álbum, Asterix e os Normandos, de 1967, vendeu impressionantes 1,2 milhões de cópias não durante o ano de seu lançamento, mas em apenas dois dias.

 


Criado em 1959 na revista Pilote como insulto aos livros escolares que contavam as glórias dos gauleses, “antigos franceses”. E acabou adotado como material didático. De insulto, o personagem passou a identidade nacional. Unindo aulas de história com muito humor, os até agora 37 álbuns de Asterix, o Gaulês são um verdadeiro tesouro dos quadrinhos que precisam ser explorados e devorados por todos, além das adaptações para TV e cinema. Além das histórias serem muito boas, elas representavam um sentimento nacional francês. Na década de 1950 o país perdia sua importância para a nova potência mundial, os EUA e Asterix acabou se tornando símbolo da resistência cultural francesa.

16 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (25) Stan Lee quase largou os quadrinhos

 


Nos anos 60, os quadrinhos eram vistos como algo lido apenas por pré-adolescentes. Por isso, foi pedido a Stan Lee que escrevesse textos mais simples. Na altura, o escritor estava considerando mudar de carreira e acreditou que a criação do Quarteto Fantástico seria seu último trabalho na área. Então, e com o apoio de sua esposa, Lee resolveu ser rebelde e aumentou a complexidade de seu texto e também de seus personagens. Na verdade, a HQ do Quarteto Fantástico ganhou tanto sucesso que acabou mudando o paradigma dos quadrinhos, fazendo frente a títulos como Liga da Justiça, da DC.

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15 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (24) Primeiro filme baseado em uma HQ a vencer o Festival de Veneza

 


Coringa fez história como o filme baseado em HQs com maior número de indicações no 92ª edição do Oscar 2020. Indicado a 11 prêmios, o longa levou a estatueta  na categoria Melhor Ator para Joaquin Phoenix e também de Melhor Trilha Sonora Original. Além disso, arrecadando mais de US$ 1 bilhão na bilheteria mundial, o longa ultrapassou os filmes do Deadpool e se tornou o longa para maiores mais lucrativo da história. Dirigido por Todd Phillips, a produção narra a história de origem do icônico vilão do Batman, mas com pouca relação com qualquer uma das várias origens que o arqui-inimigo do Batman teve nas HQs e nas telas. Aqui, Arthur Fleck é um homem lutando para se integrar à sociedade despedaçada de Gotham. Coringa fez história no Festival de Veneza 2019 e venceu o prêmio máximo: o Leão de Ouro. Trata-se do primeiro filme baseado em uma história em quadrinhos a vencer o prêmio no cultuado festival. Ele reinventa a origem do arqui-inimigo do Batman.

 

14 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (23) Dia do Quadrinho Nacional

 


Em 30 de janeiro de 1869, a revista ilustrada A Vida Fluminense, do Rio de Janeiro, publicou em suas páginas o primeiro capítulo daquela que é considerada a primeira história em quadrinhos brasileira: As aventuras de “Nhô- Quim”, ou Impressões de uma viagem à Corte, de autoria do caricaturista italiano Angelo Agostini. E, em reconhecimento ao pioneirismo da obra, a Associação dos Quadrinistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC – ESP) instituiu, no ano de 1984, que seria comemorado o Dia do Quadrinho Nacional a cada 30 de janeiro. Desde que Angelo Agostini publicou, no dia 30 de janeiro de 1869, uma história chamada de As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte, nada mais foi a mesma coisa na cultura brasileira. A narrativa surpreendeu a sociedade da época porque trouxe críticas sociais de uma forma simples e divertida. As sequências de imagens e o texto literário formavam, pela primeira vez no Brasil, uma linguagem que sugere movimentos, empresta aromas e nos permite ouvir belas canções com os olhos. É por isso que no dia 30 de janeiro se comemora o Dia do Quadrinho Nacional.

13 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (22) Mistério das cuecas

 


Muita gente pergunta porque os heróis dos gibis usam cueca por cima da calça. Isso vem do circo, mais especificamente dos strongmen, halterofilistas que participavam de grandes demonstrações de força. Los uniformes desses artistas eram macacões ou colãs, quase sempre acompanhados de uma “cueca” para tornar as roupas apertadas menos escandalosas. Esse visual foi representado inclusive por grandes artistas, como Pablo Picasso, em seus quadros de temática circense do chamado Período Rosa do pintor. No final do século 19 e começo do 20, três homens levaram o halterofilismo ao status de celebridade: o primeiro foi Eugen Sandow, tido como o mais próximo do ideal de perfeição grego. Bernarr MacFaddeb que se tornou magnata das publicações ai lançar as primeiras revistas sobre exercícios físicos. E Charles Atlas, o herdeiro de Fadden, que se tornou um símbolo entre os jovens e foi inspiração direta para muitos dos futuros autores e desenhistas de quadrinhos. Como esses strangmen eram os maiores símbolos de força e masculinidade no começo do século 20, é natural que os heróis pulps e seus herdeiros, os super-heróis, tivessem um visual inspirado neles. Isso levou os primeiros uniformizados, como Fantasma, Superman e Batman, a usarem a hoje infame cuequinha.

12 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (21) Primeiro mangá

 

Criado por Katsushika Hokusai, o primeiro manga que foi lançado em 1814 (ano aproximado, varia muito de onde se pesquisa ) se chamava Hokusai Mangá.  Com um traço típico de pinturas e desenhos  antigos japoneses, esse mangá reuniu em 15 volumes cenas populares do dia-a-dia e folclóricas, fazendo assim as pessoas se verem naqueles desenhos feitos de nanquim  sobre papel de arroz, na qual o autor era mestre nesse tipo de técnica, chamada  ukiyo-e. Katsushika Hokusai que inventou o termo mangá unindo os ideogramas “man” (engraçado) e “gá” (desenho). Entre 1814 e 1849, Hokusai produziu um conjunto de obras em 15 volumes retratando cenas do dia-a-dia que o rodeava, deformando o desenho das pessoas que retratava de forma a salientar seus traços marcantes. Estas caricaturas de época receberam o nome de Hokusai Mangá e representam os primeiros passos das charges e das histórias em quadrinhos no Japão.

 


Rakuten Kitazawa (1876-1955), que criou os primeiros quadrinhos seriados com personagens regulares e batalhou pela adoção da palavra mangá para designar histórias em quadrinhos no Japão.Yasuji Kitazawa, mais conhecido pelo pseudônimo Rakuten Kitazawa, foi um mangaká e artista nihonga japonês. Ele desenhou muitos editoriais de cartoons e histórias em quadrinhos durante os anos finais da Era Meiji e do início do Período Shōwa. É considerado por muitos historiadores como o fundador do mangá moderno porque seu trabalho foi uma inspiração para muitos artistas e animadores de mangá mais jovens. Ele foi o primeiro cartunista profissional no Japão, e o primeiro a usar o termo mangá em seu sentido moderno.

 

Hoje, queremos recuperar a figura de um deles, Rakuten Kitazawa, autor de Tagosaku para Mokubê no Tôkyô-Kenbutsu ( Tagosaku e Mokube visitam Tóquio ), considerado o primeiro mangá moderno (ou seja, o primeiro mangá moderno). mangá em seu significa

 

Os primeiros quadrinhos seriados com personagens regulares só viriam em 1902,

com Tagosaku to Mokube no Tokyo Kenbutsu (“A Viagem a Tokyo de Tagosaku e

Mokube”), de Rakuten Kitazawa (1876-1955), que também recuperou o termo mangá.

Sua obra foi fortemente influenciada por Wirgman. 

Hokusai Katsushita foi um artista japonês que viveu do final do século XVIII à metade

do séc. XIX. Tornou-se famoso no Ocidente por trabalhos como “As 36 Vistas do Monte Fuji”. A obra é um dos representantes máximos do que se chama ukiyo-ê, a arte japonesa de produzir gravuras em madeira. A arte ukiyo-ê chegou à Europa a preços acessíveis, o que contribuiu para divulgá-la entre os europeus. O trabalho refinado de Hokusai e outros artistas serviu de inspiração para pintores impressionistas europeus, como Monet e Toulose-Lautrec.

 

Apesar de serem baratos no Ocidente, os ukiyo-ê mais elaborados custavam caro no Japão. Para conseguir vender as gravuras, os artistas passaram a fazer trabalhos mais simples. Por conta disso, o mesmo Hokusai que encantara o mundo ocidental com gravuras refinadas, passou então a produzir trabalhos mais simples e populares, sendo essas as obras que receberam o nome de mangá.

 

O “mangá” de Hokusai se assemelha a charges e cartuns e não remetem diretamente a

histórias em quadrinhos. Os temas abordados pelo artista foram principalmente a vida urbana, as classes sociais e a personificação de animais. Para Sato (2007) a coleção “Hokusai Mangá”, não pode ser considerada uma compilação de histórias em quadrinhos por não haver narrativa sequencial, nem onomatopeias e textos em balões. Apesar disso, o termo mangá foi depois utilizado pelos japoneses para nomear as histórias em quadrinhos não só do Japão, mas também as de outros países. Isso veio a ocorrer depois da segunda metade do século XIX.

 

11 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (20) Les Pieds Nickelés

 


Considerada a primeira história em quadrinhos francesa (critério: inclusão de balões). Esta série foi publicada primeiramente (em hebdomadários, jornais e revistas) em 1908. Criação do francês Louis Forton para a revista L´ Épatant. A gang dos pés niquelados (ou Os Vagabundos) formava um trio de impostores, num humor selvagem, destruindo as instituições. Eram três impostores que levavam o humor até consequências inimagináveis. Retratavam os verdadeiros ladrões de vida real. Corruptos, chegaram a deputados, ministros de Estado, até darem um pontapé e expulsarem da presidência da república o verdadeiro presidente Armand Falliéres. Foram para a América e ridicularizaram Hollywood, o preconceito racial e o presidente Harding. A anarquia continuou mesmo depois da morte do autor, Louis Forton. Virou animação nas mãos do famoso Émile Cohl. Embora tendo aparecido num jornal infantil, realmente é uma história para adultos, por suas sátiras políticas e moral abalada.

10 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (19) Ator que recusou interpretar Batman e Superman

 


O ator americano Josh Hartnett se recusou a interpretar Batman e Superman. Ele ficou famoso no final dos anos 90, ao interpretar Michael Fitzgerald na série dramática Cracker, exibida pela emissora ABC. Depois trabalhou nos filmes Prova Final e As Virgens Suicidas (produzido por Francis Ford Coppola). Em 2001 atuou nos filmes Falcão Negro em Perigo e Pearl Harbor. Na época ele tinha apenas 22 anos. Foi aí que ele recebeu convites para interpretar o Superman e o Batman. Recusou as propostas da DC: “Muita gente queria que eu aceitasse participar desses filmes. Mas sempre me interessei por histórias pessoais, e por isso, não desejava me associar aos clichês dos super-heróis. Na época, os atores tinham que trabalhar duro para conseguir suas carreiras de volta após interpretarem personagens do tipo”, comentou o astro.

09 abril 2022

Obaluaê, o orixá da cura

 

Ele é o Orixá mais temido dentre todos. Obaluaê, ou também como é conhecido Omolu, Omulu, Obaluaê, Obaluaiê, Xapanã. É também protetor dos doentes e pobres, pois ele conhece o sofrimento de carregar uma enfermidade e não quer que ninguém passe por essa dor. Sendo assim, Obaluaê está associado à saúde e à cura. Tem o grande poder de causar uma epidemia, mas ao mesmo tempo de curar qualquer mal. E está presente em todas as enfermidades e sua invocação, nessas horas, pode significar a cura, a recuperação da saúde.

 

Bandagem (Carlinhos Brown)

 

A minha dor/Sabe as saídas de esvair a dor/E a dor mais dolorida é a dor/Que sarará, que curará/Ei'de sara... A minha dor/A minha dor/Traga meu sorriso para dentro/Face de um castigo siga o domador/Que sarará, que curará/


Ei'de sará, é minha dor (é minha dor)

É minha dor (é minha dor)/Mãe não desespera/Sinto que já era/Tudo que me espera/Espera em dor/Findo as ferida/Cicatrizes vivas/Sou mais forte que a minha dor/Sou mais forte que a minha dor

https://www.youtube.com/watch?v=Fbhx97Ss278

 

Come Healing (Leonard Cohen)/Venha Cura

 

Recolha o quebrantamento/E traga-o para mim agora/Com a fragrância daquelas promessas/Em que você nunca ousou acreditar//As lascas que você carrega/A cruz que deixou para trás/Vem, cura do corpo/Vem, cura da mente//E deixe os céus ouvirem/O hino penitencial/Vem, cura do espírito/Vem, cura dos membros//Veja as portas da misericórdia/No espaço arbitrário/E nenhum de nós merecendo/A crueldade ou a graça//

O solidão da saudade/Onde o amor foi confinado/Vem, cura do corpo/Vem, cura da mente//Oh, veja a escuridão cedendo/A que cindiu a luz/Vem, cura da razão/Vem, cura do coração//O pó conturbado recobre/Um amor íntegro/O coração abaixo ensina/O Coração quebrado acima//Oh, deixa os céus vacilarem/E a Terra proclamar/Vem, cura do Altar/Vem, cura do Nome//Oh, anseio dos ramos/Por erguer o pequeno broto/Oh, anseio das artérias/Por purificar o sangue//E deixe os céus ouvirem/O hino penitencial/Vem, cura do espírito/Vem, cura dos membros//Oh, deixa os céus ouvirem/O hino penitencial/Vem, cura do espírito//Vem, cura dos membros

 

Obaluaê é senhor dos espíritos, mediador entre o mundo material e espiritual. Ele conhece a tristeza e as dores como ninguém, e é a prova de que tudo pode ser superado se você tiver coragem de seguir em frente e vontade de viver.

 

Ele é filho da Orixá Nanã Buruque e do Orixá Oxalá, e irmão de Oxumaré. Devido a erros cometidos por Nanã ao confrontar Oxalá, Obaluaê nasceu cheio de feridas e sua mãe o abandonou para morrer na beira do mar. Iemanjá, a rainha do mar, ao caminhar sobre seus domínios encontrou a criança enferma e sendo comida por caranguejos. A piedade e compaixão tomaram conta do coração de Iemanjá. Ela o adotou e criou como seu filho, ensinando-lhe a superar os males e a curar as doenças. Ele cresceu cheio de cicatrizes, e isso o deixava com vergonha. Como meio de esconder, ele passou a cobrir-se todo com palhas, ficando somente os braços e pernas de fora.

 


Iansã, que domina os ventos, viu Obaluaê de canto e ficou com muita curiosidade de saber como ele era! Ela enviou uma ventania no Orixá que levantou as palhas que o cobriam. Omolu Obaluaê ficou imóvel e assustado. Todos que estavam na festa também pararam para ver pela primeira vez um rapaz tão belo que brilhava como o Sol. Iansã dançou com ele até o final da festa, e a partir desse dia, os dois se uniram para combater a morte e as doenças.

 

Seu dia da semana é a segunda-feira, e a comemoração em seu nome é em 16 de agosto.

Cores de Obaluaê: preto, vermelho e branco.

No sincretismo: São Roque – santo da Igreja Católica padroeiro dos enfermos, vítimas de peste e dos cirurgiões. São Lazaro – o protetor dos leprosos e dos mendigos, que mesmo carregando diversas chagas em seu corpo não deixou de ter fé.

Saudação: “Atotô Obaluaê” que significa “silêncio para o grande Rei da Terra”

Ervas: Folha de Omulu (canela de cachorro) pariparoba, mamona, cambará.

Ferramenta de Obaluaê: o Xaxará, que é um cetro de mão, feito de nervuras da palha do dendezeiro, enfeitado com búzios e contas. Além de representar sua conexão com a terra, é também através dele que capta das casas e das pessoas as energias negativas e “varre” as doenças, impurezas e males.

08 abril 2022

Florisvaldo Mattos: 90 anos

 

O escritor, poeta e jornalista Florisvaldo Mattos completa hoje 08 de abril) 90 anos. O texto a seguir está no meu livro Gente da Bahia, volume dois: Nasceu em Uruçuca, antiga Água Preta do Mocambo, em 08 de abril de 1932 (há 90 anos), onde aprendeu as primeiras letras e completou o curso primário no Grupo Escolar Carneiro Ribeiro. Mudando-se com a família para Itabuna, aí cursou o secundário no Ginásio da Divina Providência. Iniciado em Ilhéus, conclui o curso colegial no Colégio da Bahia, em Salvador, onde se diplomou pela Faculdade de Direito da então Universidade da Bahia, em 1858, quando ingressa no jornalismo, como integrante da equipe fundadora do Jornal da Bahia. Passou depois ao Diário de Notícias, da cadeia dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, em ambos inicialmente como extensão da militância cultural de uma parcela do grupo nuclear da chamada Geração Mapa, que girava em torno da revista Mapa, com Glauber Rocha, João Carlos Teixeira Gomes, Paulo Gil Soares, Fernando Rocha, Antônio Guerra Lima e outros que optaram pelo jornalismo. “Sou personagem de palco e plateia do grande momento que foi a marcha da Universidade da Bahia para sua firmação e consolidação, nos anos 50, desenvolvendo e criando escolas, principalmente as escolas de arte. Por este caminho estrelado é que fui me encontrando com o pessoal que logo se afirmaria como os integrantes da chamada Geração Mapa”.

 


Neste campo atuou ainda no vespertino Estado da Bahia e dirigiu na Bahia por 14 anos a sucursal do Jornal do Brasil do Rio de Janeiro, do qual era correspondente. Desde maio de 1990, integra a redação do jornal A Tarde, a convite do jornalista Jorge Calmon para dirigir o suplemento A Tarde Cultural que, em 1995, viria a receber o prêmio de divulgação cultural, conferido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. No âmbito das atividades literárias, começou a publicar poemas seus em jornais do interior, como A Voz de Itabuna e Diário da Tarde, este de Ilhéus. Em Salvador, publicou inicialmente nas revistas Única e Ângulos, esta da Faculdade de Direito, de cuja equipe editorial participou, com João Eurico Matta e Nemésio Salles. No Jornal da Bahia e Diário de Notícias, de com Glauber Rocha, Paulo Gil e Inácio Alencar compôs a equipe editorial do SDN, suplemento dominical de expressão na década de 60. Em 1962 estava incluído na Antologia da novíssima poesia brasileira, editada pelos Cadernos Brasileiros, no Rio de Janeiro.

 

Fez ainda Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia em 1972. No período de 1987 a 1989 foi presidente da Fundação Cultural do Estado, e em 1995 tomou posse na Cadeira nº 31 da Academia de Letras da Bahia. Florisvaldo Mattos publicou em 1974 o ensaio A Comunicação na Revolução dos Alfaiates; A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior (recebendo por essa obra o Prêmio Copene de Cultura e Arte); e Estação de Prosa & Diversos (coletânea de ensaios, um conto e uma peça teatral).

 


Os poemas escritos nesses anos foram publicados em Reverdor, seu livro de estreia (1965), pelas Edições Macunaíma, que depois editariam os poemas de Fábula Civil (1975) e a plaqueta Dois Poemas para Glauber Rocha, em cooperação com o poeta Fernando da Rocha Peres. “Os poemas deste livro - escritos de 1995 a 1963 - foram escolhidos pelo autor, para publicação, tendo em vista uma unidade temática de base agrária”, escreveu no seu primeiro livro. Tal escolha fez com que Florisvaldo passasse a ser visto como um poeta do campo. “Foi este vínculo primeiro do poeta com a região grapiúna, suas roças adubadas com o sangue dos homens de aluguel e os sonhos desfeitos, que deu à sua voz o selo de compromisso com o Homem. Num momento em que o engajamento partidário foi o caminho encontrado por muitos escritores e artistas, o engajamento telúrico de Florisvaldo Mattos traçou a arquitetura do seu humanismo inteiro - sem rótulos ou partidos. Hoje, passadas as águas do tempo de apogeu dos vagões, podemos constatar que a procura da poesia foi a ambição maior de Florisvaldo Mattos. Não se desviava deste caminho, mesmo quando o abrigo acolhedor de uma opção partidária apontava possíveis atalhos”, comentou Cid Seixas.

 

Os temas líricos que se diversificam em Fábula Civil ganham novas direções em A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior (lançado pela Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, em 1996), mas, de um modo geral, fugindo sempre das confissões subjetivas, o poeta - como afirmou João Carlos Teixeira Gomes - se compraz com o espetáculo variado do mundo, celebra as viagens que fez pelos caminhos distantes, seu sentimento de hispanidade, a memória dos amigos desaparecidos, as experiências de leitura e suas afeições literárias, breves reminiscências de infância e outras vivências pessoais, sua paixão pelo jazz, num universo temático que busca sempre depurar-se, evitando transbordamentos emocionais. Tudo isto, em suma, dentro de estruturas formais construídas com rigor, que refletem a eficácia da sua linguagem poética, plena de poderosas metáforas e imagens dinâmicas.

 


“Alta poesia - continua João Carlos -, em suma, de requintada fatura, de um dos poetas mais importantes da sua geração, na Bahia ou no Brasil. Pela riqueza de certos processos metafóricos um construtor de verdadeiros prodígios verbais”. Para Jorge Amado, Florisvaldo Matos faz “poesia madura, ardente e sumarenta, invenção e experiência”. Os poetas que marcou Florisvaldo em sua trajetória foram os brasileiros Raimundo Correia, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Jorge de Lima, Joaquim Cardoso e o baiano Sosígenes Costa, que conheceu pessoalmente em Ilhéus, além dos poetas latino -americanos Neruda, César Vallejo, Rubén Dario, Nicolás Guillén, e os espanhóis Antônio Machado, Lorca, Miguel Hernandez e Vicente Aleixandre. Florisvaldo Mattos faz a defesa da consciência formal na construção do poema, citando uma frase de Ezra Pound, segundo a qual “a técnica é a prova de sinceridade do poeta”. Em 2011 ele publicou o livro Poesia reunidas e inéditos.

 

07 abril 2022

Curiosidade dos quadrinhos (18) Farmacêutico como herói

 


A pequena editora Nedor publicava pulps, mas, a partir de 1939, passou a publicar quadrinhos de super heróis e aventura, de olho no sucesso do Superman, lançado  um ano antes. Entre seus heróis, o que alcançou maior prestígio foi o Terror Negro. Em histórias escritas por Richard E. Hughes, ele é farmacêutico e ganhou seus poderes através da experimentação de uma substância – o “éter fórmico” - que lhe aumentava a força tornando-o invulnerável. Fico famoso como o herói Terror Negro e foi retratado pelo desenhista Dave Gabrielson. Sua estreia ocorreu na edição 9 da revista Exciting Comics, de 1941. No ano seguinte ele passou a aparecer em mais duas revistas, America´s Best Comics e Black Terror que durou até 1949. Depois de cair em domínio público, o Terror Negro ganhou HQs criadas por diversos artistas, inclusive Alex Ross.