29 junho 2012

Cinco fases de Gilberto Gil -1967/1987 (3)


A terceira fase do artista é o período de afirmação do movimento tropicalista coincide com um dos momentos mais conturbados da história política brasileira. Em dezembro de 1968, o Ato Institucional Número Cinco põe o Congresso em recesso e decreta outras medidas de exceção. Setores da esquerda desencadeiam ações armadas. O cerceamento das liberdades atinge também o campo artístico. A rebeldia tropicalista é fortemente golpeada com a prisão de Gil e Caetano. Depois de três meses de cárcere no Rio de Janeiro, os dois são confinados em Salvador, de onde saem, para o exílio em Londres. É nesse período que está a terceira fase, a posterior ao exílio, em que Gil faz a reavaliação dos seus caminhos até a descoberta da negritude.

Todos esses acontecimentos de golpe, prisão, despertam em Gil uma for postura mística, que se materializa no recurso radical à alimentação macrobiótica e num culto sincrético a Cristo, Xangô e Krishna. Em 1969, Gil e Caetano se veem forçados a abandonar o Brasil, indo morar em Londres. Antes de sair, Gil lança um dos seus maiores sucessos na época, “Aquele Abraço”, a música despedida, um hino vital de amor ao Rio e à vida, um samba de partido alto. Gil se despediu com este agitado samba de partido alto, no qual afirma que “meu caminho pelo mundo, eu mesmo traço” e, ainda, “quem sabe de mim sou eu”, Aquele Abraço serve para mostrar também, que, se quisesse, Gil seria um excelente sambista.

O Rio de Janeiro continua lindo/o Rio de Janeiro continua sendo/o Rio de Janeiro, fevereiro e março//Alô, alô, Realengo - aquele abraço!/alô, torcida do Flamengo - aquele abraço!/Chacrinha continua balançando a pança/e buzinando a moça e comandando a massa/e continua dando as ordens no terreiro//Alô, alô, seu Chacrinha - velho guerreiro/alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro/alô, alô, seu Chacrinha - velho palhaço/alô, alô, Terezinha - aquele abraço!//Alô, moça da favela - aquele abraço!/todo mundo da Portela - aquele abraço!/todo mês de fevereiro - aquele passo!/alô, Banda de Ipanema - aquele abraço!//Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço/a Bahia já me deu régua e compasso/quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!/pra você que meu esqueceu - aquele abraço!//Alô, Rio de Janeiro - aquele abraço!/Todo o povo brasileiro - aquele abraço!” (Aquele Abraço)

De volta ao Brasil, em 1972, Gil grava o disco “Expresso 2222”, grande sucesso de público. “Expresso 222” é uma composição que reflete seu aprendizado londrino. Mostra um Gil conseguindo imprimir à poesia um ritmo interior que é valorizado por sua interpretação vocal, onde se percebe a influência da técnica de cantores ingleses e americanos. Gil narrou sua viagem num trem muito especial que “parte direto de Bonsucesso para depois”, sobre um trilho, “que é feito um brilho”, confirmando sua maestria em buscar a comparação nova, a imagem inesquecível. Foi com “Expresso 2222” que Gil promoveu uma revolução na maneira de usar o instrumento – revolução tão importante quanto a promovida por João Gilberto no início da Bossa Nova.

Começou a circular o Expresso 2222/que parte direto de Bonsucesso pra depois/começou a circular o Expresso 2222/da Central do Brasil/que parte direto de Bonsucesso/pra depois do ano 2000//Dizem que tem muita gente de agora/se adiantando, partindo pra lá/pra 2001 e 2 e tempo afora/até onde essa estrada do tempo vai dar/do tempo vai dar/do tempo vai dar, menina, do tempo vai//Segundo quem já andou no Expresso/lá pelo ano 2000 fica a tal/estação final do percurso-vida/na terra-mãe concebida/de vento, de fogo, de água e sal/de água e sal/de água e sal/ô, menina, de água e sal//Dizem que parece o bonde do morro/do Corcovado daqui/só que não se pega e entra e senta e anda/o trilho é feito um brilho que não tem fim/oi, que não tem fim/que não tem fim/ô, menina, que não tem fim//Nunca se chega no Cristo concreto/de matéria ou qualquer coisa real/depois de 2001 e 2 e tempo afora/o Cristo é como quem foi visto subindo ao céu/subindo ao céu/num véu de nuvem brilhante subindo ao céu” (Expresso 2222)

Depois de gravar o antológico disco em parceria com Jorge Bem, Gil lança em 1975, “Refazenda”, o primeiro da trilogia “re”, com um som basicamente acústico. Refazenda assinala tranqüila maturidade. É a busca do equilíbrio, do auto-conhecimento, a volta ecológica à natureza (sair da vanguarda para a retaguarda, se recolher às raízes), impregnada pela serenidade zen. Sua grande viagem ao ego interior surge de forma explícita na canção “Retiros Espirituais”.

Nos meus retiros espirituais/descubro certas coisas tão normais/como estar defronte de uma coisa e ficar/horas a fio com ela/Bárbara, bela, tela de TV/você há de achar gozado/Barbarela dita assim dessa maneira/brincadeira sem nexo/que gente maluca gosta de fazer//Eu diria mais, tudo não passa/dos espirituais sinais iniciais desta canção/retirar tudo o que eu disse/reticenciar que eu juro/censurar ninguém se atreve/é tão bom sonhar contigo, ó/luar tão cândido//Nos meus retiros espirituais/descubro certas coisas anormais/como alguns instantes vacilantes e só/só com você e comigo/pouco faltando, devendo chegar/um momento novo/vento devastando como um sonho/sobre a destruição de tudo/que gente maluca gosta de sonhar//Eu diria, sonhar com você jaz/nos espirituais sinais iniciais desta canção/retirar tudo que eu disse/reticenciar que eu juro/censurar ninguém se atreve/é tão bom sonhar contigo, ó/luar tão cândido//Nos meus retiros espirituais/descubro certas coisas tão banais/como ter problemas ser o mesmo que não/resolver tê-los é ter/resolver ignorá-los é ter/você há de achar gozado/ter que resolver de ambos os lados/de minha equação/que gente maluca tem que resolver/eu diria, o problema se reduz/aos espirituais sinais iniciais desta canção/retirar tudo que eu disse/reticenciar que eu juro/censurar ninguém se atreve/é tão bom sonhar contigo, ó/luar tão cândido” (Retiros espirituais)

Ao mesmo tempo Gil começa a cutucar um tema tabu. Em “Pai e Mãe”, as figuras masculina e feminina começavam a perder a nitidez de seus contornos tradicionais. Detrás da rústica simplicidade e da densa poesia, Gil continua seu jogo sutil com incógnitas, ambigüidades e surpresas. Ainda no disco “Refazenda”, um trabalho de Gil em parceria com o acordeonista Dominguinhos, “Lamento Sertanejo”. Nesse trabalho, Gil mostra que é possível fazer música essencialmente brasileira com as mais variadas técnicas.

Por ser de lá/do sertão, lá do cerrado/lá do interior do mato/da caatinga do roçado./eu quase não saio/eu quase não tenho amigos/eu quase que não consigo/ficar na cidade sem viver contrariado.//Por ser de lá/na certa por isso mesmo/não gosto de cama mole/não sei comer sem torresmo./eu quase não falo/eu quase não sei de nada/sou como rês desgarrada/nessa multidão boiada caminhando a esmo” (Lamento Sertanejo)

Também de grande movimentação na vida do artista e do cidadão Gil se mostra em 1976. Musicalmente, o fato mais significativo é sua participação com Caetano, Bethânia e Gal no conjunto Doces Bárbaros, um reencontro atualizado do grupo baiano. No início de 1977, Gil participa do Festival de Arte Negra da Nigéria e o contato direto com a cultura africana dá origem ao show e ao disco “Refavela”. No disco “Refavela”, três preciosidades. Gil canta a negritude em “Babá Alápalá” e “Refavela” e a outra, suave, ele diz que “o melhor lugar do mundo é aqui, e agora” na canção “Aqui e Agora”.

Iaiá, kiriê, kiriê, iaiá//A refavela/revela aquela/que desce o morro e vem transar/o ambiente/efervescente/de uma cidade a cintilar//A refavela/revela o salto/que o preto pobre tenta dar/quando se arranca/do seu barraco/prum bloco do BNH//A refavela, a refavela, ó/como é tão bela, como é tão bela, ó//A refavela/revela a escola/de samba paradoxal/brasileirinho/pelo sotaque/mas de língua internacional//A refavela/revela o passo/com que caminha a geração/do black jovem/do black-Rio/da nova dança no salão//Iaiá, kiriê, kiriê, iáiá//A refavela/revela o choque/entre a favela-inferno e o céu/baby-blue-rock/sobre a cabeça/de um povo-chocolate-e-mel//A refavela/revela o sonho/de minha alma, meu coração/de minha gente/minha semente/preta Maria, Zé, João//A refavela, a refavela, ó/como é tão bela, como é tão bela, ó//A refavela/alegoria/elegia, alegria e dor/rico brinquedo/de samba-enredo/sobre medo, segredo e amor//A refavela/Batuque puro/de samba duro de marfim/marfim da costa/de uma Nigéri/miséria, roupa de cetim//Iaiá, kiriê, kiriê, iáiá” (Refavela)

Já o disco Realce fecha o ciclo com a luz e todas as cores, a luz refratada, dissociada em todas as suas miríades: o arco-íris.
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Bule Bule agita o Pelourinho


Neste sábado (30/06) é o último dia da agenda de atrações de Forró no Pelourinho. Nesse dia o músico, escritor, compositor, poeta, cordelista, repentista, ator e cantador Bule Bule se apresenta no Largo Tereza Batista, às 21h. O artista reunirá grandes sucessos da sua carreira de mais de trinta anos dedicados à cultura popular, que faz dele uma referência nos gêneros tradicionais como o forró.

Na programação cultural do Museu da Cidade, também no Pelourinho, dia 02 de julho, segunda feira, o mais famoso cordelista baiano, Bule Bule se apresenta a partir das 15h na mostra Heroínas da Independência da Bahia

Legítimo defensor de gêneros musicais nordestinos como chulas do sertão, cocos, martelos, agalopados, xote, marcha de serra e repentes, Bule Bule é escritor de cordéis em sua essência. Depois dos álbuns Licutixo, A fome e a vontade de comer e Simples como a Natureza, ele lança Cordelizando a Canção com a participação especial de artistas consagrados. Desta vez o repentista baiano traz o show de gravação do seu segundo DVD. Vale a pena conferir!


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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

28 junho 2012

Cinco fases de Gilberto Gil -1967/1987 (2)


A segunda fase de Gil, a da tropicalia, marca a descoberta do internacionalismo cultural. Um bom exemplo é “Geleia Geral”, de Gil e Torquato Neto. A música é uma mistura de citações literárias e musicais, uma colcha de clichês ufanistas. Monta uma imagem do Brasil como um paraíso tropical e depois desmonta. O caráter satírico da música provém da construção da letra, do arranjo e da interpretação.

Um poeta desfolha a bandeira/e a manhã tropical se inicia/resplendente, cadente, fagueira/num calor girassol com alegria/na geleia geral brasileira/que o jornal do Brasil anuncia//Ê bumba iê iê boi/ano que vem, mês que foi/Ê bumba iê iê iê/é a mesma dança, meu boi//Ê bumba iê iê boi/ano que vem, mês que foi/Ê bumba iê iê iê/é a mesma dança, meu boi//"A alegria é a prova dos nove"/e a tristeza é teu Porto Seguro/minha terra é onde o Sol é mais limpo/em Mangueira é onde o Samba é mais puro/Tumbadora na selva-selvagem/Pindorama, país do futuro//Ê bumba iê iê boi/ano que vem, mês que foi/Ê bunba iê iê iê/é a mesma dança, meu boi//É a mesma dança na sala/no Canecão, na TV/e quem não dança não fala/assiste a tudo e se cala/não vê no meio da sala/as relíquias do Brasil/doce mulata malvada/um LP de Sinatra/maracujá, mês de abril/santo barroco baiano/super poder de paisano/formiplac e céu de anil/três destaques da Portela/carne seca na janela/alguém que chora por mim/um carnaval de verdade/hospitaleira amizade/brutalidade, jardim//Ê bumba iê iê boi/ano que vem, mês que foi/Ê bumba iê iê iê/é a mesma dança, meu boi(bis)//Plurialva, contente e brejeira/miss linda Brasil diz: "Bom Dia" /e outra moça também, Carolina/da janela examina a folia/salve o lindo pendão dos seus olhos/e a saúde que o olhar irradia//Ê bumba iê iê boi/ano que vem, mês que foi/Ê bumba iê iê iê/é a mesma dança, meu boi//Um poeta desfolha a bandeira/e eu me sinto melhor colorido/pego um jato, viajo, arrebento/com o roteiro do sexto sentido/faz do morro, pilão de concreto/Tropicália, bananas ao vento//Ê bumba iê iê boi/ano que vem, mês que foi/Ê bumba iê iê iê/é a mesma dança, meu boi” (Geléia Geral)

Outro ponto marcante, a canção “Miserere Nobis”, de Gil e Capinam, onde há referências históricas: à primeira missa no Brasil, e a chegada dos baianos ao sul desenvolvido. Os baianos que desorganizam a música brasileira no desejo de mudança. Também de Gil em parceria com Capinam é “Soy Loco Por Ti, América”. A música mostra a preocupação com a latino-americanidade no projeto tropicalista, a fusão de ritmos e do entrelaçamento da letra, onde português e castelhano passam um para o outro, como vasos comunicantes.

Soy loco por ti, América,/yo voy traer una mujer playera/que su nombre sea Marti,/que su nombre sea Marti/Soy loco por ti de amores tenga como colores la espuma blanca de Latinoamérica/y el cielo como bandera,/y el cielo como bandera/Soy loco por ti, América,/soy loco por ti de amores/Sorriso de quase nuvem,/os rios, canções, o medo/O corpo cheio de estrelas,/o corpo cheio de estrelas/Como se chama a amante desse país sem nome, esse tango, esse rancho,//Esse povo, dizei-me, arde/o fogo de conhecê-la,/o fogo de conhecê-la//Soy loco por ti, América,/soy loco por ti de amores/El nombre del hombre muerto ya no se puede decirlo,/quién sabe?/Antes que o dia arrebente,/antes que o dia arrebente/El nombre del hombre muerto antes que a/definitiva noite se espalhe em Latinoamérica/El nombre del hombre es pueblo,/el nombre del hombre es pueblo//Soy loco por ti, América,/soy loco por ti de amores/Espero a manhã que cante,/el nombre del hombre muerto/Não sejam palavras tristes,/soy loco por ti de amores/Um poema ainda existe com palmeiras,/com trincheiras, canções de guerra/Quem sabe canções do mar, ai,/hasta te comover, ai, hasta te comover//Soy loco por ti, América,/soy loco por ti de amores/Estou aqui de passagem,/sei que adiante um dia vou morrer/De susto, de bala ou vício,/de susto, de bala ou vício/Num precipício de luzes entre saudades,/soluços, eu vou morrer de bruços/Nos braços, nos olhos,/nos braços de uma mulher,/nos braços de uma mulher/Mais apaixonado ainda dentro dos braços da camponesa,/guerrilheira/Manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira,/nos braços de quem me queira//Soy loco por ti, América,/soy loco por ti de amores” (Soy Loco Por Ti, América)

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

27 junho 2012

Cinco fases de Gilberto Gil -1967/1987 (1)


Poetas, seresteiros, namorados, correi, é chegada a hora de se deleitar com a obra de Gilberto Passos Gil Moreira, o conhecido Gilberto Gil. Neste especial (que produzi para a Rádio Educadora da Bahia na época) vamos conhecer a trajetória do artista em cinco fases, no período de 1967 a 1987.

A preocupação política sempre foi uma constante na obra do cantor e compositor Gilberto Gil. Mas a sensibilidade do artista, aguçada por ricas experiências pessoais e por uma rara sintonia com o mundo a seu redor, levou-o a alargar e a aprofundar essa postura, entrelaçando-a ao próprio cotidiano. Já em seu primeiro disco, “Louvação”, ele pulava fora do convencional. Assim ele define sua Procissão: “Olha, lá vai passando a procissão/se arrastando que nem cobra pelo chão”. Afinal, comparar uma procissão à cobra que se arrasta pelo chão anunciava a chegada de um poeta da MPB.

Olha lá vai passando a procissão/se arrastando que nem cobra pelo chão/as pessoas que nela vão passando/acreditam nas coisas lá do céu/as mulheres cantando tiram versos/os homens escutando tiram o chapéu/eles vivem penando aqui na terra/esperando o que Jesus prometeu//E Jesus prometeu vida melhor/pra quem vive nesse mundo sem amor/só depois de entregar o corpo ao chão/só depois de morrer neste sertão/eu também tô do lado de Jesus/só que acho que ele se esqueceu/de dizer que na terra a gente tem/de arranjar um jeitinho pra viver//Muita gente se arvora a ser Deus/e promete tanta coisa pro sertão/que vai dar um vestido pra Maria/e promete um roçado pro João/entra ano, sai ano, e nada vem/meu sertão continua ao deus-dará/mas se existe Jesus no firmamento/cá na terra isto tem que se acabar” (Procissão)

Desde seu elepê de estreia, Gil mostrou que não ia se contentar com o convencional. Tanto que já nesse disco ele surpreendia com “Lunik 9”, uma canção dividida em diversas partes, sem se fixar num único andamento. Gil canta um tema da era tecnológica, contrapondo a lua da lírica tradicional à lua desmistificadora pelos voos especiais. Outra música que refletia o clima de contestação da época, “Ensaio Geral”.

Também desta primeira fase estão as canções “Roda”, de Gil e Torquato Neto, e “Ele Falava Nisso Todo o Dia”. Esta última sobre um personagem preocupado com o seguro de vida. É pelo protesto que Gil se identifica com o despertar de uma geração. Uma canção que causou impacto pela complexidade construtiva: “Domingo no Parque”. O forte da música é o arranjo que Gil e Rogério Duprat realizaram, segundo uma concepção cinematográfica, assim como a interpretação contraponteada de Gil. Letra, música, sons, ruídos, palavras e gritos são sincronizados, interpenetrando-se como vozes em rotação para narrar uma tragédia amorosa, vivida em ambiente popular. “Domingo no Parque” ficou em segundo lugar no 3º Festival da Record, em São Paulo.

O rei da brincadeira (ê, José)/o rei da confusão (ê, João)/um trabalhava na feira (ê, José)/outro na construção (ê, João)//A semana passada, no fim da semana/João resolveu não brigar/no domingo de tarde saiu apressado/e não foi pra Ribeira jogar capoeira/não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar/o José como sempre no fim da semana/guardou a barraca e sumiu/foi fazer no domingo um passeio no parque/lá perto da Boca do Rio/foi no parque que ele avistou Juliana/foi que ele viu/foi que ele viu Juliana na roda com João/uma rosa e um sorvete na mão/Juliana seu sonho, uma ilusão/Juliana e o amigo João/o espinho da rosa feriu Zé/e o sorvete gelou seu coração/o sorvete e a rosa (ô, José)/a rosa e o sorvete (ô, José)/foi dançando no peito (ô, José)/do José brincalhão (ô, José)//O sorvete e a rosa (ô, José)/a rosa e o sorvete (ô, José)/oi, girando na mente (ô, José)/do José brincalhão (ô, José) Juliana girando (oi, girando)/oi, na roda gigante (oi, girando)/oi, na roda gigante (oi, girando)/o amigo João (João)/o sorvete é morango (é vermelho)/oi girando e a rosa (é vermelha)/oi, girando, girando (é vermelha)/oi, girando, girando...//Olha a faca! (olha a faca!)/olha o sangue na mão (ê, José)/Juliana no chão (ê, José)/outro corpo caído (ê, José)/seu amigo João (ê, José)/amanhã não tem feira (ê, José)/não tem mais construção (ê, João)/não tem mais brincadeira (ê, José)/não tem mais confusão (ê João)...(Domingo no Parque)

Em 1967, com o som dos Beatles na cuca e toda a ebulição da época, contracultura e psicodelismo, Gil começa a procurar novos caminhos. Junto a Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, o maestro Rogério Duprat, os poetas Torquato Neto e Capinam, o artista plástico Rogério Duarte e o empresário Guilherme Araújo, Gil é um dos expoentes do Tropicalismo, um movimento que iria modificar profundamente a música brasileira.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

26 junho 2012

Gilberto Gil: 70 anos de vida (2)


Em 2008, Gilberto Gil lançou "Banda Larga Cordel", reafirmando seu engajamento irreversível com as novas réguas e compassos do universo “bits and bytes” - tema que o tem fascinado por mais de trinta anos - onde Gil disponibiliza ao máximo seu trabalho para webcasts, podcasts, cellcasts, etc. Os shows tiveram um caloroso convite para que se fotografe e filme o que quiser o quanto quiser. Os bastidores da tour foram lançados na internet ao máximo em diversas plataformas a partir do hotsite especialmente criado.

Ainda no ano de 2009, em dezembro, foi lançado o CD/DVD BandaDois, registro do show gravado ao vivo em setembro no Teatro Bradesco em SP, sob direção de Andrucha Waddington. O show, com Gil em voz e violão, contou com as participações de Maria Rita e de seus filhos Bem (que o acompanha ha tempos nas apresentações) e o filho mais novo José, que surpreendeu o público nos números em que toca baixo.

Em abril de 2010 excursionou pelos Estados Unidos, com o projeto Concerto de Cordas, e logo após seu retorno ao Brasil, inicia a gravação de seu novo disco, “Fé na Festa”, todo dedicado ao gênero do forró, o álbum inclui parcerias com Vanessa da Mata e Nando Cordel. Em junho de 2010 Gil excursionou o nordeste com a turnê “Fé na Festa”, durante o mês de julho, leva a Europa o mesmo show, intitulado em terras estrangeiras como: “For All”.

Com 57 álbuns lançados, Gilberto Gil ganhou 8 Grammys. Por seu engajamento sempre criativo em levar para o mundo o coração e a alma da música brasileira, Gilberto Gil tem sido contemplado por diversas entidades e personalidades e tem recebido muitos prêmios no Brasil e no exterior. Seu talento, sua curiosidade, a firmeza de sua convicção cultural como músico e embaixador, o torna único.

Gil lançou em 1996 na rede uma música, Pela Internet, uma alusão na letra e no título ao samba Pelo Telefone (Donga), de 1917. Em dezembro de 1996 ele fez um show na sede da Embratel para transmissão em tempo real pela internet. Foi o primeiro show de um artista brasileiro transmitido ao vivo pela rede. Em janeiro de 2008 Gil foi o primeiro artista brasileiro ater um canal exclusivo de vídeos no YouTube.

Os anos 20000 Gil conciliou suas habilidades cibernéticas com uma volta às origens musicais. Começou com sua abordagem do cancioneiro seminal de Luiz Gonzaga (feita para a trilha sonora do filme Eu Tu Eles – 2000). Teve uma passagem pela política como primeiro Ministro da Cultura do Governo Lula, e fechou a década com o lançamento de Fé na Festa (2010), álbum de inéditas compostas com inspiração nas tradições das festas juninas.

O show Concerto de Cordas & Máquina de Ritmos, programado para rodar o Brasil em comemoração aos seus 70 anos de vida e 50 de carreira, é seu trabalho acústico que já vem sendo feito desde 2009 por Gil com seu filho Bem. A máquina de ritmos de Gil com passos em ação continua emocionando a todos.

“Gil é um mensageiro do sempre sintonizado com o agora. Ele nos ensina não só os meandros do fazer artístico como os meandros da alma, da fé, da busca do equilíbrio e da aceitação dos limites humanos”, escreveu a pesquisadora Ana de Oliveira na apresentação do livro Gilberto Gil. Encontros (Azougue, 2008).

“Gil é um grande inventor que não registra patente. Sua imensa vaidade exercida em demasiada modéstia e seu desprezo inocente pela própria grandeza são as duas faces dessa lua meio negra e meio escondida que é a música da sua pessoa (…) Suponho que Gil inventou o samba-jazz-fusion e a toada moderna – coisa que não lhe interessam. Ele também criou o neo-rock-n´-roll brasileiro e a nova cultura musical afro-baiana – que lhe interessam muito, mas cuja paternidade ele não reivindica e cuja responsabilidade não aparece no que ele se permitiu fazer depois. Ele não olha para trás” (Sem Patente. In: Caetano Veloso. O mundo não é chato. Organização de Eucanaã Ferraz. Pag. 96. São Paulo: Companhia das Letras, 2005)

Hoje, terça, dia 26, para comemorar os 70 anos de Gil, o You Tube exibirá uma hora do Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo:

Discografia

1962: Primeira gravação como cantor, interpretando “Coça, coça, lacerdinha”.
1963: Disco de estreia “Gilberto Gil- sua música, sua interpretação”.
1965: Compacto simples com “Procissão” e “Roda”.
1966: Contrato para fazer o primeiro LP: “Ensaio geral” (lado A) e “Minha senhora” (lado B).
1967: Composição de músicas para o filme “Brasil ano 2000”. Lançamento do LP “Louvação”.
1968: Compacto “Pega a yoga, cabeludo” e “Barca Grande”; disco tropicalista “Gilberto Gil”; participação no repertório do Panis et circensis; compacto com “A luta contra a lata ou a falência do café”.
1969: Compacto “Aquele abraço” e “Omã iaô” e seu terceiro LP “Gilberto Gil”
1971: Lançamento na Inglaterra do álbum “Gilberto Gil”.
1972: Compacto duplo com “O sonho acabou”, “Oriente”, “Felicidade vem depois” e “Expresso 2222” e compacto com “Cada macaco no seu galho” e “Chiclete com banana”. LP com as faixas “Back in Bahia”, “Ele e eu”, "Expresso 2222”, e outras. Lança com Caetano o LP “Barra 69”.
1973: Compacto simples com “Meio-de-campo”.
1974: Disco e LP “Temporada de verão”. Compacto “Vamos passear no astral” e “Está na cara, está na cura”.
1975: Álbum duplo “Gil Jorge Ogum Xangô” e lançamento de “Refazenda”.
1976: Álbum duplo de “Doces Bárbaros”.
1977: Compacto com “Sítio do Pica-Pau Amarelo” e “A gaivota”. Refavela é lançado. Refestança é gravado em LP.
1979: “Nightingale”, compacto com “Não chore mais” (o seu maior hit, com 750 mil cópias) e “Macapá". Lançamento de “Realce” e LP com “Super-homem”, “Marina", “Realce” e “Toda menina baiana”.
1980: Lançamento do “Se eu quiser falar com Deus” e “Cores vivas”.
1981: “Luar” e “Brasil”, com João Gilberto e Caetano. “Sonho molhado” e “Cara a cara” saem em um compacto.
1982: Disco “Um Banda Um”.
1983: Disco “Extra”.
1984: Álbum “Quilombo na Europa”.
1985: Disco “Dia dorim noite neon” e “Gil, 20 anos-luz”.
1986: Trilha sonora do filme “Jubiabá”.
1987: Disco acústico “Gilberto Gil em concerto”. Sai nos EUA “Soy loco por ti, América”.
1989: Disco “O eterno deus Um dança”.
1990: Relançamento em CDs de discos lançados em LP pela
1991: CD “Afoxé” é lançado apenas no exterior.
1992: “Parabolicamará” e duplo “Songbook Gilberto Gil”.
1993: Disco “Tropicália 2”. Todos os seus LPs e discos são relançados em CDs na série “Colecionador”.
1994: lançamento mundial em disco e homevideo de “Gilberto Gil unplugged”.
1997: Single promocional “Pela internet” é lançado em CD, bem como o duplo “Quanta”.
1998: Disco duplo ao vivo “Quanta gente veio ver”. CD “O sol de Oslo”.
1999: Lançamento da caixa “Ensaio Geral”, com 13 CDs. CD gravado para o livro “GiLuminoso”
2000: Disco “Gilberto Gil e as canções de Eu tu eles”. Lançamento do CD “Gil Milton”.
2001: Disco “São João Vivo”.
2002: CD “Kaya N’gan daya” e caixa “Palco” (com 30 CDs), com material inédito.
2004: DVD “Outros (Doces) Bárbaros”.
2005: DVD “Show da Paz, Gil na ONU”.
2006: Relançamento do disco “Sol de Oslo”. Lançamento da música “Ballet de Berlim”, para homenagear a Copa.
2008: Álbum “Banda Larda Cordel” é lançado pela internet.
2009: CD e DVD “Banda Dois”.
2010: CD “Fé na Festa”.

Festivais e Prêmios

1965: Participa do 4º Festival da Balança, com “Iemanjá”.
1966: Concorre como compositor no 1º Festival Internacional da Canção e no 2º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record (recebendo o quinto lugar com a interpretação de “Ensaio geral” por Elis Regina).
1967: Segundo lugar no 3º Festival de Música Popular Brasileira com “Domingo no parque”.
1968: Terceiro lugar no 4º Festival de Música Popular Brasileira por “Divino, maravilhoso”.
1970: Golfinho de Ouro pela música “Aquele abraço” (prêmio recusado)
1977: Participação no 2º Festival Mundial de Arte e Cultura Negra.
1986: Recebe o Golfinho de Ouro.
1990: Gil recebe o título de cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras do ministro da Cultura da França. Recebe o 10º Prêmio Shell para Música Brasileira pelo conjunto de sua obra.
1993: Homenageado no Festival Internacional de Jazz de Montreux.
1994: Recebe o Prêmio Sharp de Música.
1999: “Quanta live” é eleito o disco do ano na categoria World Music pelo Grammy.
2003: Gil recebe o prêmio de personalidade de 2003 no Grammy Latino em Miami.
2004: Prêmio Polar de Música concedido pela Real Academia Sueca de Música.
2005: Compõe “hino” em francês, para o festival de Dacar – “La Renaissence Africaine”. Recebe o Polar Music Prize em Estocolmo. Recebe o Prêmio Multishow de Música Brasileira, 2005 com a música “Vamos Fugir”, com Skank. É indicado ao 6º Grammy Latino com o CD “Eletroacústico”. Recebe do governo francês a “Légion D’Honneur Grand Officier”.
2006: Recebe o Grammy nos EUA de melhor álbum contemporâneo de World Music pelo CD “Eletroacústico”. Recebe o título de Honra ao mérito do Afoxés Bisnetos de Gandhy.
2007: Indicado ao 50º Grammy com o disco “Gil Luminoso”, concorrendo ao troféu de melhor álbum na categoria World Music.
2008: Indicado ao prêmio 9º Grammy Latino na categoria melhor álbum compositor com o CD “Banda Larga Cordel”.
2009: Recebe diploma da Cidade de Milão por ser “embaixador da cultura e da consciência crítica do Brasil moderno”.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

25 junho 2012

Gilberto Gil: 70 anos de vida (1)


Amanhã, dia 26 de junho o cantor e compositor Gilberto Passos Gil Moreira comemora 70 anos de vida. Sua arte meditativa e esfuziante, brasileira e internacional, negra e multirracional, pura e comprometida, é hoje, sem intenções, sem cálculo, tão polítoca quanto metafísica, e, portanto, arte no mais alto sentido. “Gil é o receptivo. Luz onde as sombras se assentam, e que lhes dá contorno. Clareza que abraça o mistério sem temor. O maleável. `Transcorrendo, transformando, tempo e espaço navegando todos os sentidos´. A natureza, o princípio feminino (´a porção melhor que trago em mim agora´), o que recebe. É assim que as palavras se articulam nos encadeamentos rítmicos, melódicos, semânticos de suas canções”, disse o cantor e compositor Arnaldo Antunes.

“Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo” é o título da turnê comemorativa dos seus 70 aos. Começou no Teatro Castro Alves, em Salvador (18 e 19/05), depois Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo que celebra cinco décadas de carreira, o artista feste 70 anos de vida. Na data do aniversário, 26 de junho, Gil vai comemorar com um almoço em família, no Rio. No dia seguinte, embarca para uma turnê na Europa. A primeira apresentação do concerto no exterior, na capital inglesa, Gil será acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Londres. Depois, ele e seu quarteto passam por cidades como Bruxelas (Bélgica), Montreux (Suíça), Nice e Lyon (França), Milão, Roma e Florença (Itália). Arranjos originais, o repertório inclui músicas como Domingo no Parque, Estrela, Oriente, Expresso 2222, Máquina de Ritmo, Eu não Tenho Medo da Morte, Quatro Coisas e Saudade da Bahia.

O registro ao vivo do show Concerto de Cordas & Maquinas de Ritmo vai ser editado pela gravadora Biscoito Fino em CD, DVD e Blu-ray no segundo semestre. No repertório, somente uma inédita – a balada Eu Descobri, feita originalmente para o grupo Mutantes, mas não gravada pela banda.

Gilberto Gil é uma das singulares estrelas da música popular brasileira que transcende a rótulos. Compositor, cantor, músico, intelectual, polêmico, político, místico, enfim, uma figura complexa e, por vezes, paradoxal. Esse nordestino negro, nascido na Bahia, teve papel fundamental em um dos movimentos mais marcantes da música brasileira, a Tropicália.

Gilberto Gil tem um papel fundamental no processo constante de modernização da Musica Popular Brasileira. Na cena há 50 anos, ele tem desenvolvido uma das mais relevantes e reconhecidas carreiras como cantor, compositor e guitarrista. Seus álbuns lançados mundo a fora, desde 1978, o ano do sucesso de sua performance no “Montreux Jazz Festival”, na Suíça , gravado ao vivo, até o mais recente servem de guia para muitos artistas.

Ritmos do nordeste do Brasil como o baião, samba e bossa-nova foram fundamentais na sua formação. Usando essas influências como um ponto inicial, Gil formulou sua própria música, incorporando rock, reggae, funk e ritmos da Bahia, como o afoxé. A obra musical de Gilberto Gil abrange uma ampla dimensão e variedade de ritmos e questões em suas composições, pertinentes a realidade e a modernidade; da desigualdade social às questões raciais, da cultura Africana à Oriental, da ciência à religião, entre muitos outros temas. A abrangência e profundidade nos diferentes temas de sua obra musical, são qualidades específicas deste artista, fazendo de Gilberto Gil, um dos melhores e mais importantes compositores musicais brasileiros.

A importância de Gilberto Gil na cultura do Brasil vem desde os anos 60, quando ele e Caetano Veloso criaram o Tropicalismo. Radicalmente inovativo no cenário musical, o movimento assimilou a cultura pop aos gêneros nacionais; profundamente crítica nos níveis políticos e morais, o tropicalismo finalizou sendo reprimido pelo regime autoritário militar. Ele e Caetano foram exilados de seu país, indo para Londres.

Quando ele retornou ao Brasil, ele começou a series de discos antológicos nos anos setenta: "Expresso 2222", "Gil e Jorge"(com Jorge Ben Jor), " Os Doces Bárbaros" (com os baianos Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia) e a trilogia conceitual: "Refazenda" (sobre a extração de campo), "Refavela" (com ritmos da Jamaica, Nigeria, Rio de Janeiro e Bahia), e "Realce" – este último gravado em Los Angeles, firmando sua opção pela música pop, que direcionaria o desenvolvimento de sua trajetória nos anos 80. Nos anos 90, vieram: "Parabolicamará", "Tropicalia2" ( com Caetano Veloso, celebrando os 25 anos do movimento Tropicalista) e "Unplugged" ( a coletânea de sucessos gravado ao vivo pelo canal MTV). In 1997, Ele lançou o album duplo "Quanta" e em 1998, lançou "Quanta gente veio ver", em album duplo ao vivo, comemorando o enorme sucesso de uma tounee mundial e que ganhou o "Grammy Award" de melhor musica mundial. Em 2000, lançou o CD "Eu, Tu, Eles" e o CD "Gil & Milton" (com Milton Nascimento). Em 2001, lança o CD "São João Vivo".

Em 2002, lança o CD e DVD "Kaya n´Gan Daya", que depois de uma tournée mundial, tornou-se em CD ao vivo. Em 2004, lançou ao vivo o CD e DVD "Eletracústico". Eletracustico foi o resultado do concerto que realizou na ONU em N.Y. "Eletracústico" veio para atender a imensa demanda do público, depois do intervalo de três anos sem gravar, desde que assumiu o cargo de Ministro da Cultura do Brasil. Alguns dos seus sucessos estão mais intensivamente marcados pelo diálogo entre a percussão acústica e eletrônica, cantando um repertório histórico de sucessos dos anos 60 até os dias de hoje, com a alegria e entusiasmo marcantes da sua voz.

Em 2006, a gravadora Biscoito Fino relança o disco com o título de “Gil Luminoso – voz e violão”, cd que foi gravado em 1999 para ser encartado no Livro “Giluminoso – A Po.Ética do Ser”, de Bené Fonteles. O livro foi uma homenagem a Gil com mais de 50 letras do compositor, fotos e um longo depoimento de Gilberto Gil. A tournée Gil Luminoso, uma das mais belas de sua carreira, passou pela Europa e Estados Unidos.

Nesses anos de estrada, Gil tornou-se não apenas um músico brilhante, mas um compositor capaz de inspirar-se em praticamente todos os estilos de música brasileira, muitas vezes estabelecendo cruzamentos originais entre esses estilos e os ritmos africanos ou o rock. Sua música é sempre moderna e, embora sintonizada com os ritmos internacionais, jamais perde um agudo senso de brasilidade que é uma de suas características mais marcantes. As diferentes fases da carreia de Gil expressam as experiências mais típicas de sua geração. A pluralidade, a diversidade, a receptividade, a flexibilidade e o colorido de cada momento caracterizam essa trajetória artística. Sua arte meditativa e esfuziante, brasileira e internacional, negra e multirracional., pura e comprometida, é hoje, sem intenções, sem cálculo, tão política quanto metafísica, e, portanto, arte, no mais alto sentido.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

21 junho 2012

Nascido nos anos 40, o baião resiste ao tempo, mostrando toda a força da música nordestina




Luiz Gonzaga, o eterno rei do baião

“Eu vou mostrá pra vocês como se dança um baião e quem quiser aprender é favor prestar atenção. Morena chegue pra cá bem junto ao meu coração. Agora é só me seguir, pois eu vou dançar o baião. Eu já dancei balanceio, chamego, samba e xerém. Mas o baião tem um quê que as outras danças não tem...” (Luiz Gonzaga, Baião). O Baião nasceu na verdade, de uma dança cantada, uma criação nordestina, resultante da fusão da dança africana com as danças dos índios e dos portugueses.

Registrado anteriormente como baiano nas toadas do bumba-meu-boi, o baião, segundo o historiador Pereira da Costa, é um misto de dança, poesia e música, cujas toadas são acompanhadas à viola e pandeiro. Dança rasgada, lasciva, movimentada, ao som de canto próprio, com letras e acompanhamento à viola e pandeiro, originária dos africanos, mais uma transformação das suas danças nacionais como o maracatu e o batuque. O primeiro registro da palavra baião na discografia brasileira foi feito na década de 1920, por Jararaca (José Luiz Rodrigues Calazans), quando gravou o “Samba nortista”, de Luperce Miranda.

O baião é um gênero musical, agente agregador entre Nordeste e Sudeste do país. Isso porque, a partir de sua modernização por Gonzagão, na primeira metade do século 20, o baião levou o homem do sertão ao estrelato, no rádio e no cinema.

Esse gênero musical foi transformado em musica popular urbana no início da década de 1940 através do cantor e compositor Luiz Gonzaga, tido, não por acaso, como o "Rei do Baião". O baião teria nascido de uma forma especial dos violeiros tocarem o lundu na zona rural do Nordeste, estruturando-se em seguida como música de dança. Há também um parentesco do “arrasta-pé” do baião com as danças indígenas, sendo uma cena folclórica a dança do sertanejo com as mãos atrás das costas e dançando com uma perna a frente da outra. O que se chama hoje de forró remete-se, na verdade, a diversos ritmos nordestinos, dentre eles o baião.

SANFONA, ZABUMBA & TRIÂNGULO - O Baião, anteriormente conhecido como Baiano, por influência do verbo “baiar”, forma popular de bailar, baiar, baio (baile), na opinião de estudiosos do gênero, sempre foi apreciado e praticado no Nordeste, depois foi se difundindo por outros estados e por fim atravessou com sucesso as fronteiras do País. O Baião é formado dos seguintes passos: balanceios, passos de calcanhar, passo de ajoelhar, rodopio. Como outros gêneros, o baião designou inicialmente um tipo de reunião festeira dominada pela dança. O folclorista Câmara Cascudo o associa aos termos “baiano” e “rojão”.

O ritmo binário do baião, vestido por melodias dolentes, muitas delas em modo menor, foi devidamente estilizado, amaciado para o paladar urbano pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga. A síntese instrumental imaginada por Gonzaga para acompanhar o ritmo: sanfona, zabumba e triângulo, virou epidemia. O sucesso do baião nas mãos e voz de Gonzaga foi tão grande que ele desequilibrou o eixo da Música Popular Brasileira (MPB) do meio para o fim dos anos 1940 até meados dos 1950. Músicas do cantor como Baião, Asa Branca, Juazeiro, Paraíba, Qui nem Giló, Respeita Januário, Sabiá, Vem Morena, Baião de Dois, Imbalança, Noites Brasileiras e inúmeras outras colocaram o Nordeste no mapa da MPB.

Para Câmara Cascudo, o baião é a fiel expressão da música nordestina do sertão, que nasceu sob a influência do cantochão (canto litúrgico da Igreja Católica) dos missionários, brotando das violas, das sanfonas de oito baixos, das zabumbas, dos pífanos dos homens rústicos. A coreografia consiste basicamente na improvisação de movimentos. A quantidade de músicos pode variar, mas predominam três que tocam a sanfona, o triângulo e a zabumba. Podem fazer parte também outros instrumentos como a rabeca, o pandeiro e o agogô.

GÊNERO MAIS INFLUENTE - Depois de fazer sucesso, o baião passou a ser gravado por diversos artistas famosos como Emilinha Borba, Marlene, Ivon Curi, Carmem Miranda, Isaurinha Garcia, Ademilde Fonseca, Dircinha Batista, Jamelão, entre outros. As cantoras Carmélia Alves e Claudete Soares foram aclamadas como a Rainha e Princesa do Baião, respectivamente, e o cantor Luiz Vieira como Príncipe. Em 1950, tornou-se o gênero musical brasileiro mais influente no exterior até a década de 1960, quando começou a perder prestígio para a bossa nova e o rock and roll. O baião Delicado do compositor Valdir Azevedo recebeu diversos arranjos de maestros americanos. Mesmo com o seu relativo esquecimento, o baião continuou sendo cultivado por inúmeros artistas e músicos nacionais, como Dominguinhos, Zito Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, Jorge de Altinho. O baião foi e é matriz de intervenções modernizadoras de Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Guinga e inúmeros outros instrumentistas.

O baião influenciou também gerações mais novas de artistas como o baiano Raul Seixas, que realizou uma fusão do rock com o baião, criando o baioque. Nos anos 90 Chico César, Lenine, Zeca Baleiro e Rita Ribeiro dão novo fôlego ao gênero. E a perenidade do baião foi definida por Gilberto Gil em 1976 com a composição “De Onde Vem O Baião” cuja letra diz: “Debaixo/Do barro do chão/Da pista onde se dança/Suspira uma assustança/Sustentada por um sopro divino/Que sobe pelos pés da gente/E de repente se lança/Pela sanfona afora/Pega o coração do menino//Debaixo/Do barro do chão/Da pista onde se dança/É como se Deus/Irradiasse uma forte energia/Que sobe pelo chão/E se transforma/Em ondas de baião/Xaxado e xote/E balança a trança/Do cabelo da menina/E quanta alegria//De onde é que vem o baião?/Vem debaixo/Do barro do chão/De onde é que vem/O xote e o xaxado?/Vem debaixo/Do barro do chão/De onde vem a esperança/Assustança espalhando/O verde dos teus olhos/Pela plantação?/Ô, ô/Vem debaixo/Do barro do chão”.
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20 junho 2012

Mulheres da Cidade d´Oxum


A socióloga e Mestre em Geografia, Antônia dos Santos Garcia realizou uma pesquisa em 34 bairros populares de Salvador. Esses movimentos de bairro são, predominantemente de mulheres, que buscam melhores condições de vida não só junto ao poder público, mas agindo diretamente em creches, escolas e outras experiências comunitárias. Ao analisar a distribuição dos serviços públicos da cidade, vê-se claramente a sua perversidade ao privilegiar as regiões abastadas e brancas.

Este seu trabalho lançado pela Edufba em 2006, intitulado Mulheres da Cidade d´Oxum busca, sobretudo, compreender a pratica desigual de apropriação do espaço urbano entre homens e mulheres, fazendo uma releitura sobre a cidade a partir das relações raciais, de gênero e de classe no espaço soteropolitano.

Antonia Garcia analisa as mulheres das classes populares como sujeitos sociais, buscando o resgate dos múltiplos significados de suas práticas coletivas. Mostra ainda que a base deste movimento é amplamente negra, como as próprias militantes, sujeitos de sua pesquisa, se autodefinem. E foi inspirada em Oxum (orixá das águas doces, da beleza e da vaidade feminina) que Garcia reflete sobre os problemas apontados pelos homens, especialmente, pelas mulheres, sujeitos de sua pesquisa, traçando um panorama atual e pertinente sobre as relações de poder na cidade do Salvador.

As mulheres, apesar de maioria da população, em quase todas as cidades continuam quase sempre invisíveis. Em Salvador, por exemplo, são 53% (IBGE, 2000) de população e também maioria do eleitorado (51%), segundo o TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Esta mesma tendência se manifesta no Estado, onde as mulheres baianas já são 4.155.743 eleitores, com predominância nas faixas etárias que variam de 25 a 69 anos, e um total de 4.063.500 eleitores, nos 417 municípios.

Além da invisibilidade, permanece o tratamento desigual baseado no sexo, que continua em todo o mundo, em todas as cidades. Os direitos civis e políticos das mulheres são violentados. Os direitos econômicos e sociais são afrontados. Salvador, por exemplo, se inscreve entre s lugares mais desiguais do sistema. A pobreza crônica atinge mais de 1,4 milhão de moradores (cerca de 73% da população – IBGE 1996). Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (2001) confirma o grau de pobreza da capital, que apresenta as menores rendas familiar e per capita entre as 12 maiores capitais brasileiras.

ESCOLHIDA - No século XVI, Salvador foi escolhida como sede de governo devido à excelente localização geográfica e estratégica posição econômica, como principal porto de carga e descarga de mercadorias de todo o Nordeste. Localizado entre o mar e as colinas da Baia de Todos os Santos, a capital baiana prosperou, inicialmente, com a exportação do açúcar e depois com o comércio entre a Colônia e Portugal.

A partir do final do século XIX a influência de Salvador como metrópole colonial regional diminuiu progressivamente, sobretudo na terceira década do século XX. Entrou em declínio, ficando estagnada desde o início do século XIX até por volta de 1950. Com a instalação da Petrobras, na década de 1950, o Centro Industrial de Aratu na década de 1960, e o Polo Petroquímico de Camaçari na década de 1970, a economia da Região Metropolitana de Salvador tomou outro rumo.

Assim, o período de 1960 a 1980 houve a politica industrial incentivada e que foi abortada na década de 80. Com a derrocada da Sudene, o Nordeste perdeu sua capacidade de desenvolvimento industrial. Salvador herdou o desemprego em toda a década de 1990. O setor terciário é o mais significativo da cidade.

Ao concluir sua obra, Antonia dos Santos Garcia informa: “Infelizmente, a Cidade d´Oum é sexista, racista, e classista, como todas as cidades organizadas sob a ótica das classes dominantes. Contudo, as mulheres de Salvador têm no símbolo de Oxum a inspiração para torná-la a cidade das mulheres, dos homens, enfim, das pessoas felizes e libertas das amarras da dominação de qualquer natureza” (p.210)

Com suas formas curvilíneas repleta de contornos, enseadas, ladeiras, curvas sensuais, Salvador ganhou a roupagem da terra feminina, de mulheres bonitas e atraentes, regida pelas divindades femininas mais fortes do candomblé, Oxum e Iemanjá. “Nessa cidade todo mundo é de Oxum, homem, menino, menina, mulher...”, diria o cantor Gerônimo. E Gilberto Gil escreveu que “toda menina baiana tem um santo que Deus dá. Toda menina baiana tem encanto que Deus dá. Toda menina baiana tem defeito também que Deus dá”.

A regência de orixás como Oxum e Iemanjá é uma característica que fortalece bastante Salvador como cidade feminina. Elas são lembradas com muita fé. A festa de Iemanjá é um dos maiores ritos do mundo. A forte presença das mulheres negras em Salvador, as famosas mulheres do partido-alto que conseguiram muito progresso, também intensificou a ideia de Salvador terra das mulheres. Elas foram e são símbolos de força, mulheres do povo. A maior autoridade religiosa na Bahia foi mãe Menininha do Gantois. Toda essa história da cidade feminina tem muito das origens e cultura da terra.

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19 junho 2012

Anésia foi a primeira mulher no sertão baiano de Jequié a ingressar no cangaço


O romance Anésia Cauaçu se baseou em narrativas orais de pessoas que ouviram histórias relacionados aos Cauaçus ou que mesmo chegaram a conhecer personagens do romance. A obra procura também preservar a pronúncia e a morfossintaxe popular. Neste sentido o romance é rico em palavras e expressões da variante linguística do catingueiro das primeiras décadas do século XX.

O romance pode ser considerado também uma meta-narrativa-histórica em que o autor procura na ficção revelar fatos históricos e acontecimentos presente na memória coletiva através da tradição oral. Para o escritor Domingos Ailton, autor do romance, “Anésia Cauaçu tem uma dimensão tão grande que não cabe apenas nos estudos sociológicos. A ficção tem este poder de representar o imaginário”.

Os feitos dos Cauaçus estão presente na memória coletiva de algumas pessoas idosas ainda hoje em Jequié, mas se não houver ainda trabalhos como este romance os fatos poderão se perder com o tempo sem que as novas gerações conheçam esses acontecimentos marcantes da região de Jequié. A ideia do autor da obra é que o romance seja estudado nas disciplinas do curso de Letras e no ensino médio e fundamental.

BASE CIENTÍFICA

O romance Anésia Cauaçu se baseou também em fontes científicas como os livros História de Jequié ( Imprensa Oficial do Estado, 1971), Capítulos da História de Jequié ( EGB, 1997) e Nova História de Jequié (Gráfica Santa Helena, 2006) de autoria do historiador Émerson Pinto de Araújo e nas dissertações de mestrado Anésia Cauaçu: Mulher- Mãe-Guerreira, um estudo sobre mulher, memória e representação no banditismo na região de Jequié – Bahia. (Unirio, 2001), de Márcia do Couto Auad e De tropeiro a coronel: ascensão e declínio de Marcionillo Antônio de Souza (1915-1930) - (Ufba, 2009), de João Reis Novaes.

O romance Anésia Cauaçu é uma contribuição para recuperar parte importante da história do cangaço e dos coronéis em parte representativa do sertão baiano na República Velha, e da memória coletiva da região de Jequié.

CANGACEIRA

Anésia Adelaide Cauaçu, foi uma cangaceira brasileira que viveu na região de Jequié, interior da Bahia, no início do século XX. Inicialmente, Anésia era uma dona de casa dedicada ao marido e a filha, mas abandonou essa vida para ingressar no cangaço, juntando-se aos seus tios e e irmãos que formavam o temido e afamado bando dos Cauaçus.

Carismática e extremamente bonita, Anésia era o membro mais célebre desse bando pois, além de ter conhecimento de táticas de guerrilha e ter uma mira infalível, ela também jogava capoeira. Um de seus grandes feitos foi de arrancar, com um tiro certeiro, o dedo de um delegado que indicava aos policiais onde deveriam se posicionar, durante um tiroteio no centro de Jequié, a uma distância considerável.

Em 1916, Anésia abandonou o cangaço e foi viver com sua família sob proteção de um fazendeiro que devia favores aos cauaçus mas, traída pelo mesmo, foi entregue a polícia e nunca mais se teve notícias dela. O escritor Ivan Estevam Ferreira, no seu livro "A Pedra do Curral Novo", sugere que Anésia pode ter falecido em Jequié e a identifica com uma anciã que morreu no ano de 1987 com 93 anos, que vivia sob os cuidados de pessoas caridosas.

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18 junho 2012

Ecologia é a heroína dos quadrinhos*


*(Artigo publicado no jornal A Tarde, Caderno2, página 1, 09/06/1992 por Gutemberg Cruz)

Uma coleção em quadrinhos de seis álbuns coloridos com aventuras de Jacques Cousteau está à disposição dos amantes da ecologia. A série foi lançada em 1985 pela Editora Robert Laffont, de Paris, e agora (1992) chega às livrarias brasileiras publicadas pela Siciliano. Os argumentos e desenhos são de Dominique Sérafini, que não apenas imaginou aventuras envolvendo a equipe do oceanógrafo francês Jacques Yves Cousteau. Sérafini participou delas. O realismo dos seus desenhos e a riqueza dos detalhes transportam facilmente o leitor para a aventura, como se fizesse parte da equipe Cousteau. Na aventura O Boto Cor de Rosa da Amazonia, Sérafin conta a saga do barco Calypso no Rio Amazonas. O boto cor de rosa é uma espécie em extinção, e o álbum adota uma posição preservacionista. A equipe teve que se virar em busca de ilustrações já perdidas, como astecas, fenícios e maias, pra contar a saga da Atlântida.

Lutar pela proteção do “planeta azul” e contra as ameaças que as atividades humanas fazem pesar sobre ele são os objetivos fundamentais da equipe Cousteau. Há anos, os homens do Calypso vêm vivendo mil aventuras, tais como cavalgar baleias, identificar tubarões, filmar jacarés, brincar com polvos e enguias, explorar ruínas, encontrar vestígios das civilizações submersas. Tudo está registrado na série que começa com A Ilha dos Tubarões e vai até A Onda de Fogo, passando no caminho por Leões do Calypso, O Boto Cor de Rosa da Amazonia, O Mistério da Atlântida e A Selva de Coral.

ECOLOGIA

A questão ecológica já frequenta as páginas das histórias em quadrinhos desde o início de 1980, década que marcou a ascensão dos quadrinhos adultos. Muitos autores se preocupam com o meio ambiente e discutem em suas obras a melhor maneira de como a civilização pode continuar a viver, sem que, para isso, a natureza deixe de existir Com a onda verde que atingiu os meios de comunicação, a ecologia entrou com mais força nos gibis. Basta lembrar o Monstro do Pântano, Homem Animal, Orquidea Negra, o caipira Chico Bento, o baiano Mero, dentre outros.

Um personagem obscuro e com poucas histórias publicadas nos anos 1960 surgiu através dos traços de Carmine Infantino. Trata-se do Homem Animal, cujo poder era a capacidade de absorver as características de animais que estivessem por perto. A partir de 1988, o argumentista inglês Grant Morrison iniciou a sua versão do herói e, em pouco tempo, a revista Animal Man passou a ser uma das mais elogiadas pela crítica e público. Motivo: as histórias têm sido a sua aproximação real com os animais, não apenas para extrair poderes, mas para sentir o que eles sentem. A partir daí, Morrison humaniza os animais que aparecem nas histórias: um golfinho relata ao impressionado herói como foi a festa anual da matança de uma aldeia de pesadores; a agonia de um chipanzé aidético e estágio terminal,propositadamente contaminado pelo homem. O Homem Animal se envolveu tanto com as causas ecológicas que, ao chegar em casa e encontrar a geladeira cheia de pedaços de amigos seus, virou vegetariano. O enredo é consistente, e os desenhos de Chas Troug e Doug Hazlewood, bem estruturados.

VEGETAL

A febre verde continuou ainda pelas mãos de outro inglês. Desta vez, Alan Moore, que utilizou o Monstro do Pântano, a criatura idealizada por Len Wein e Bernie Wrightson como uma mutação humana em contato com produtos químicos e a vida dos pântanos do Sul dos EUA. Para ele, o Monstro do Pântano não era uma aberração e sim um vegetal capaz de pensar e, como tal, sentir o sofrimento das plantas, infligido pelo homem. Moore começou a revitalizar o personagem em 1983 e criou o Parlamento das Árvores.

Outra personagem dos anos 1970 que foi revisitada nos aos 1980, a Orquídea Negra, ressurge como a mais rara das flores. Na verdade, ela é um ser híbrido, que necessita das mesmas condições que uma planta precisa para sobreviver. Mas ela não é uma planta...Nem uma mulher....A Orquídea Negra é um enigma de rara beleza e poesia. O autor dessa nova origem é o escritor inglês Neil Gaiman, junto com o desenhista Dave Mckrean, que usou uma técnica mista de tinta e óleo com tinta spray para carros e filtros de tecido sobre aquarelas. Em cada imagem sequenciada, a fusão do expressionismo figurativo e abstrato com o impressionismo numa atmosfera de sonho, imaginação, memória.

O personagem de Paul Chadwick, Concreto, chegou a ser profético numa história, ao ponderar a seus amigos sobre os perigos dos acidentes com petroleiros em alto mar, citando explicitamente a Exxon. Dias após a publicação dessa história, o petroleiro Exxon Valdez poluiu a costa do Alasca. E até o Príncipe Submarino, Namor, em sua fase idealizada por John Byrne, tornou-se um empresário que dedica seu tempo a comprar indústrias poluidoras. Mais recentemente, a Editora Abril colocou no mercado uma revista em quadrinhos para as meninas: Barbie, onde o ponto alto, além da moda, é o movimento ecológico. Frank Miller em sua obra Give Me Liberty questionou a respeito do futuro da Floresta Amazônica.

AMAZÔNIA

No Brasil, a Brasiliense vem lançando a importante coleção Ecologia em Quadrinhos. O terceiro volume enfocou o tema Amazônia. A autora é uma jovem advogada, que começou fazendo tiras nos jornais de São Paulo. Dotada de grande talento, senso de humor original e texto de primeira, Cláudia Lévay fez um trabalho de fundamento científico na base das aventuras do jacaré-tinga Jorge Ginga e do papagaio urbano Eurico. Os dois embrenham-se nos mistérios da Floresta Amazônica, e juntos explicam o funcionamento do maior ecossistema florestal do mundo. É visível a qualidade literária do texto. “Tanto uma criança quando um ativista verde podem utilizar este livro de linguagem simples e acessível, tal o rigor de seus dados científicos básicos”, escreveu no prefácio o professor e jornalista Alvaro de Moya.

A obra despertou interesse da Organização Mundial da Saúde, na Suíça, e a Brasiliense lança, dentro da mesma coleção e da mesma autora, Pantanal, Mata Atlântica e outros. Um importante trabalho na luta pela relação do homem e seu meio. Maurício de Sousa, autor da Mônica e sua turma (Cebolinha, Magali, Tina, Cascão dentre outros), considerado o Walt Disney brasileiro pelo alto índice de vendagem e tiragem de seus gibis, sempre se preocupou com a flora e a fauna. Seus personagens Papa Capim, Chico Bento e Horácio, dentre outros, discutem a questão do meio ambiente. Em 1990, a Superintendência Estadual de Rios e Lagos, distribuiu em todas as escolas do Rio de Janeiro, 30 mil exemplares da cartilha A Turma do Pererê, de Ziraldo, esclarecendo que jogar lixo no rio polui e entope o curso d´água; que o desmatamento, além de provocar deslizamentos, encher o rio de lama, e que não se deve construir nada nas margens do rio.

Na Bahia, há 15 anos, o cartunista Paulo Serra vem divulgando o seu personagem Mero na luta ecológica. Mero surgiu para criticar e alertar sobre a devastação do meio ambiente. “Mero – diz o autor – nasceu em plena metrópole paulista, de uma rachadura de parede, um ser de forma arqueada e corcunda que, passado para o papel, ganhou uma cabeça com quatro pontas, em forma de coroa, óculos redondos, terno e gravata, estereotipo de um cidadão urbano. Com o desenrolar de suas atitudes, sempre dosadas de forte cunho ecológico, recebeu o nome de Mero, que, como substantivo, quer dizer piche e, como adjetivo, puro,simples, genuíno, sem mistura. Portanto, achei este adjetivo ideal, pois o tema natureza sugere pureza e simplicidade”. Filiado, hoje ao grupo ecológico Germen, Paulo Serra vem trabalhando durante todos esses anos em favor da causa ecológica.

Também o baiano Cedraz, criador de Joinha, Pipoca, Birita, Turma do Xaxado e muitos outros desde os anos 1970 vem discutindo a questão ecológica e seus quadrinhos. Assim, todos esses personagens como Homem Animal, Monstro do Pântano, Orquidea Negra, Jorge Ginga, Chico Bento e Mero, cada um a seu modo, fazer parte da preservação da natureza. Seria bom que essa consciência ecológica pudesse passar das páginas dos gibis para a realidade. Mas é um passo. Sonho também se torna realidade.


Em defesa da natureza

Dez dos melhores cartunistas da Russia e 10 de seus colegas brasileiros se reuniram no livro Dez mais Dez – A Natureza se Defende (Editora Europa), uma coletânea de significativos trabalhos dos artistas, coordenados pelo minero Manoel Caetano Mayrinck. A ecologia é o trema principal. Tanto o Brasil quanto a antiga União Soviética sofrem (e sofrem) com uma política desenvolvimentista que não se importa em transformar rios em esgoto, derrubar florestas inteiras e fragmentar o horizonte com as silhuetas das chaminés. Borjalo, Vladimir Soldatov, Marat Valiankhmetov, Santiago, Oleg Tesler, Ziraldo, Jaguar, Mino e Nilson derramam o nanquim sobre as florestas devastadas, o globo terrestre e os arranha céus das grandes cidades. Vale conferir.

Enquanto isso, nos EUA, a editora californiana Eclipse Books reuniu desenhistas Neil Gaian, Chales Vess, Grant Morrison, Todd McFarlane, Jim Starlin e Moebius no álbum Born to be Wild, o livro contra a vivissecção dos bichinhos. Esses artistas acreditam que os novos tempos não comportam assassinatos, muito menos os praticados em laboratórios científicos. Born to be Wild é uma caridade endereçada ao Peple for the Ethical Treatment os Animals, órgão com propostas e métodos semelhantes às sociedades protetoras dos animais conhecidas entre nós. Baratos e populares, os quadrinhos parecem constituir o veículo ideal para as primeiras lições: preservação da vida animal no planeta.

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Turma do Xaxado fala sobre o Meio Ambiente

Em comemoração ao Dia do Meio Ambiente, a Editora Cedraz está lançando a edição especial Meio Ambiente e Cidadania, estrelando a Turma do Xaxado, criação de Antonio Cedraz. Com 32 páginas em papel reciclado e preço de R$ 20,00, com correio incluso, o livro ensina as crianças sobre a preservação do meio ambiente, reciclagem e como devemos cuidar do lixo.
Mais informações estão disponíveis na Editora Cedraz – Turma do Xaxado:

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)