26 fevereiro 2010

Música & Poesia

Tudo Bem Bahia (Moraes Moreira)


Tudo muito louco

Tudo bem barroco

E contemporâneo

Tudo muito certo

Tudo muito perto

Beira ao espontâneo



Tudo muito vivo

Tudo tem motivo

Tudo tem razão

Tudo muito solto

E num mar revolto

Tosca embarcação


Tudo muito corpo

Tudo muito torto

Certo como anzol

Tudo muito tempo

Tudo muito lento

Tudo e muito sol


Não por acidente

Forma essa gente

Outra geografia

Tudo velho e novo

Tudo vem do povo

Tudo bem Bahia.


Tudo Salvador

Tudo pelo amor

E a necessidade

Tudo interior

Tudo e a rigor

Na realidade


Tudo se mistura

Acha quem procura

Ganha quem tem fé

Tudo se acomoda

Num samba de roda

Homem e mulher


Tudo faz sentido

E a cada pedido

Faz-se uma oração

Tudo e muita calma

Coração e alma

Na palma da mão


Tudo e nada mudo

E depois de tudo

O grito que encerra

O divino dom

Tudo que há bom

Tem na Boa terra.

Poema de Moraes Moreira feito no Rio de Janeiro após tocar em Salvador no carnaval dos 60 anos do trio elétrico. (Agradeço ao amigo Maurício Almeida)


Epifania (Ruy Espinheira Filho)



Alguns anos não consigo

deixar nas águas do Lete:

os teus catorze morenos

e os meus magros dezessete.

Muitas coisas se afogaram,

e rostos, e pensamentos,

e sonhos, e até paixões

que eram imortais...

Porém,

os meus magros dezessete

e os teus catorze morenos

não entram nem em reflexo

nesse Rio do Esquecimento.


Que magia nos levou

a um espaço e a um momento

para que de nós soubéssemos:

tu, meus magros dezessete;

eu, teus catorze morenos?

Que astúcia do Imponderável

nos abriu aqueles dias

que permanecem tão claros

como quando nos surgiram?

Eu não sei. Mas sei que a vida

nunca mais me foi vazia.


Como não foi fácil, nunca,

por tanto me visitarem

os Arcanjos da Agonia.

Pois, se fui iluminado

por estarmos lado a lado

— os teus catorze morenos

e os meus magros dezessete —,

seria fatal que também

viesse a sentir a alma

em chagas multiplicadas

por setenta vezes sete.


Ah, os teus catorze morenos

e os meus magros dezessete!...

Quanto sofrimento fundo

— mas quanto sonho profundo

e alto!

Que belo mundo

foi-me então descortinado,

porquanto me era dado

o privilégio preclaro

de penar de amor no claro,

no escuro, em todas as cores,

em todos os tons da vida,

dia e noite, noite e dia,

varrido ao vento das asas

dos Arcanjos da Agonia

(que eram, por algum prodígio,

os mesmos da Alegria!...).


Ah, que por mim chorem flautas,

pianos, violoncelos,

as cachoeiras, os céus

comovidos dos invernos...

Chorem, chorem, que mereço

essas lágrimas, porque

tudo sofri no mais pleno

de paraísos e infernos.

Que chorem...

Mas eu, eu mesmo,

não choro... Como chorar,

se mereci essa dádiva

de um amor doer na vida

por setenta vezes sete

mais que qualquer outra dor,

mais que qualquer outro amor?

Só me cabe agradecer,

pois a vida perderia

(e, o que ainda é mais cruel,

sem nem saber que a perdia...)

se não provasse os enredos,

insônias, febres, venenos

que em meus magros dezessete

acendeu a epifania

dos teus catorze morenos!


25 fevereiro 2010

Colonialismo e soberania *

A política internacional costuma ser uma estranha combinação de dramaticidade e de tédio, deslocando-se de uma excitante promessa de mudança para uma triste perspectiva de monotonia. De forma recorrente, trafega-se de conhecidas petições sobre “sinceros desejos de uma nova ordem mundial sustentável" para reiterações de hegemonismos e Destinos Manifestos. Enquanto analistas buscam fornecer conceitos atualizados de Estado e soberania, a realidade continua sendo moldada pelo antigo conceito de imperialismo: aquele que era definido como expressão de uma fase monopolista do capital.



A decisão do governo britânico de explorar petróleo e gás nas Ilhas Malvinas, reavivando tensões entre a Argentina e o Reino Unido, 28 anos depois da guerra travada entre os dois países por esse arquipélago do Atlântico Sul, reafirma o léxico colonialista que faz tábua rasa das resoluções da ONU. A conhecida virulência do antigo império, sempre amparado no apoio dos Estados Unidos, não afronta apenas o povo argentino. Para além das fortes evidências de uma rica província de hidrocarbonetos na região, o que está em xeque é a soberania da América Latina. Elaborar estratégia para a defesa de suas riquezas energéticas, como o pré-sal brasileiro, é imperativo e inadiável.



Como denunciou a presidente Cristina Kirchner, “não é aceitável que as regras do mundo não sejam iguais para todos. As Nações Unidas podem tomar medidas, inclusive de força, contra países que não cumprem certas normas, mas quando são os poderosos que não as cumprem, nada acontece. A permanência de um enclave colonial não tem sentido". Afirmar que tudo não passa de “um assunto de política interna tanto para Cristina quanto para Gordon Brown" é jogar cortina de fumaça sobre questões mais profundas. Trata-se de, agindo com má-fé, estabelecer paralelos equivocados entre o passado e o presente.



Se, em 1982, o desespero foi o conselheiro que inspirou a ditadura militar a um salto no vazio, isto é, a ocupação das Malvinas, o que hoje move o governo argentino é a preservação de um espaço político soberano. Não há um general Galtieri tentando abrir um caminho para escapar do beco sem saída, mas uma presidente eleita reivindicando legítimos direitos nacionais. Um país renascido diante da recuperação de suas liberdades e consciente da importância da autodeterminação.



Não há solução de meio-termo quando a ofensiva imperialista não esconde mais seus objetivos. O golpe em Honduras, a ofensiva dos grandes proprietários na Argentina, a ação desestabilizadora da direita paraguaia, e as bases militares na Colômbia e no Panamá são fatos por demais suficientes para afastar a perigosa inércia analítica. Aquela que ignora, entre outras coisas, a crescente militarização das relações dos Estados Unidos com a América Latina.

As Ilhas Malvinas e suas adjacências são argentinas. Devem ser descolonizadas e reintegradas ao país. Têm que ser liberadas da ocupação estrangeira que se propõe a explorar suas riquezas e, provavelmente, instalar bases militares apontando para toda a América Latina e seu projeto de integração regional.



A luta deve prosseguir no plano político, diplomático, e em todos os terrenos apropriados, até a definitiva recuperação do arquipélago. È preciso afrontar todas as responsabilidades exigidas para o cumprimento de um programa de ação democrática e antiimperialista.


Não nos iludamos. Os piratas ingleses fazem parte de uma missão precursora no Atlântico Sul. A gravidade da situação obriga a coordenação no esforço de todos os partidos democráticos e populares para uma ação em conjunto com as correntes militares dispostas a não abdicar na luta contra o colonialismo”. (*Gilson Caroni Filho, Jornal do Brasil – 18.02.2010. Leia mais na página www.casadaamericalatina.org.br)

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

24 fevereiro 2010

O que há por trás da fita branca?

Um filme que não pode passar em branco. Preto no branco, cinza, tudo escuro e assustador. Silêncio. Fita Branca, do austríaco Michael Haneke que venceu o Festival de Cannes 2009, é um filmaço. Intrigante, instigante, incendiário, inovador. Um grupo de crianças é doutrinada com alguns ideais e se tornam juízes dos outros. Sabe aquelas pessoas que constrói uma ideia de uma forma absoluta que acaba virando uma ideologia. E coitado de quem estiver perto e não tem possibilidade alguma de se defender. Nazismo, facismo, judaismo, islamismo, qualquer nome que você venha a dar a esse tipo de problema pode encaixar nesse esquema brutal de pensamento único, fatalista. Verdadeira raíz do mal.

Numa comunidade rural na Alemanha (1913 /1914) estranhos e violentos incidentes começam a ocorrer. E passamos a conhecer o barão dono das terras e seus empregados submissos, o médico autoritário, a parteira e seu filho com problemas mentais, o pastor protestante rigoroso, o professor tímido, um enxame de crianças reprimidas e entediadas. E é nesse vilarejo que, em close up, conhecemos pessoas de feições sem traços de culpa ou de remorso, limpas. Cuidado com o que você vê superficialmente. A verdade não está lá fora (como queria informar o Arquivo X), mas bem dentro de nós.

O silêncio do diretor é impactante. O peso ditatorial da religião, o protecionismo a atos violentos, a sociedade de controle, tudo em preto e branco mostrado com nuances cinzentas que descambam para o que há de mais negro na alma humana. Assustador. Desarma e cala o espectador.

As crianças são oprimidas por uma educação severa e cruel. Os castigos são dolorosos e obriga a um respeito absoluto pela hierarquia. Ninguém pode opinar e o machismo é dominante, cruel. O filme de Haneke é uma crítica profunda a vários tipos de autoritarismo. E pode ser visto com várias leituras. Quem assiste não fica indiferente. Depois da premiação em Cannes a fita tem duas indicações para o Oscar 2010 ( filme estrangeiro e fotografia). Vale ressaltar o excelente trabalho em preto-e-branco do renomado Christian Berger. (OBS: Agradeço a dica do amigo Cassiano, do blog Museu do Cinema)


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23 fevereiro 2010

Obaluayê

Obaluaiyê quer dizer "rei e dono da terra" sua veste é palha e esconde o segredo da vida e da morte.

Está relacionado a terra quente e seca, como o calor do fogo e do sol - calor que lembra a febre das doenças infecto-contagiosas. Domina completamente as doenças que rege Ao mesmo tempo em que as causa, tem poder de cura sobre elas.


Nanã era considerada a deusa mais guerreira de Daomé. Um dia, ela foi conquistar o reino de oxalá e se apaixonou por ele. Mas este não queria se envolver com outra orixá que não fosse sua amada esposa yemanjá. Por isso, explicou tudo a nanã, mas ela não se fez de rogada. Sabendo que oxalá adorava vinho de palma, embriagou-o. Ele ficou tão bêbado que se deixou seduzir por nanã, que acabou ficando grávida. Mas por ter transgredido uma lei da natureza, deu a luz a um menino horrível, não suportando vê-lo, lanço-o no rio. A criatura foi mordida por caranguejos, ficando toda deformada. Por sua terrível aparência, passou a viver longe dos outros orixás. De tempos em tempos os orixás se reuniam para uma festa.


Todos dançavam, menos Obaluaiyê, que ficava espreitando da porta, com vergonha de sua feiura. Ogum percebeu o que acontecia e, com pena, resolveu ajudá-lo, trançando uma roupa de mariwo - uma espécie de fibra de palmeira - que lhe cobriu todo o corpo. Com este traje ele voltou a festa e despertou a curiosidade de todos, que queriam saber quem era o orixá misterioso. Yansã, a mais curiosa de todas, aproximou-se, e neste momento, formou-se um turbilhão e o vento levantou a palha, revelando um rapaz muito bonito. Desde então os dois orixás vivem juntos, e os dois passaram a reinar sobre os mortos.


FONTES:

http://www.africanasraizes.com.br/cultura.html

http://www.acordacultura.org.br

http://bravoafrobrasil.blogspot.com/2009/10/lendas-africanas.html

http://estudoreligioso.wordpress.com

http://www.lendas.orixas.nom.br

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22 fevereiro 2010

Ibeji, o orixá criança

Ibeji, o único orixá permanentemente duplo, aproxima-se de Exu pelo seu comportamento arquetípico independente. É formado por duas entidades distintas e sua função básica é indicar a contradição, os opostos que coexistem. Num plano mais terreno, por ser criança. A ele é associado a tudo o que se inicia: a nascente de um rio, o germinar das plantas, o nascimento de um ser humano.

Seus filhos são pessoas com o temperamento infantil, brincalhonas, sorridentes, irrequietas, de muita energia nervosa. Como marca física, aparentam menos idade do que realmente possuem.

São muito dependentes em seus relacionamentos emocionais, quase sempre teimosos e possessivos.


Ágeis no caminhar, não têm paciência para ficar parados por muito tempo. Odeiam profissões burocráticas e preferem os esportes onde descarregam a e energia e possam competir ou as carreiras que possibilitem algum prazer lúdico. São muito cativantes e carinhosos, com uma sensibilidade sempre à flor da pele; por isso mesmo, magoam-se com facilidade, exageram as contrariedades e agressões que recebem e se deixam levar por mal-entendidos. Gostam de vinganças, que costumam ser rápidas e esquecidas. Tendem a simplificar as coisas, reduzindo o comportamento dos outros a princípios simplistas como “gosta de mim – não gosta de mim”


Como a maior parte das crianças, gosta de estar em meio a muita gente. As pessoas da Umbanda freqüentemente temem Ibeji: poderoso como todo o Orixá, a criança-divindade, entretanto, entende os pedidos de maneira simplista, o que pode levar a conseqüências não previstas pelas entidades em geral. Por outro lado, têm a reputação de ser extremamente fiéis às pessoas que conquistam sua confiança.


No dia de Ibeji, 27 de setembro (o mesmo de Cosme e Damião, com quem são sincretizados), é costume as casas de culto abrirem suas portas e oferecerem mesas fartas de doces e comidas para as crianças, elevadas à condição de representantes na terra do Orixá. Qualquer participação de Ibeji em cerimônias, dá um toque alegre e inconseqüente à ela, sendo freqüente que as comidas ritualísticas a eles oferecidas recebam enfeites como fitas de cetim em cores vivas. A Ibeji se oferece todas as cores vivas e as roupas de seus filhos, em cerimônia, são multicoloridas. São homenageados aos domingos, recebendo como comidas rituais, doces, bolinhos, balas, e refrigerantes. A saudação ao Ibeji é Beje ó ró La ó.


GÊMEOS


Existiam num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles. Em troca, pediam doces balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximos a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão, pedia sempre a orumilá que o levasse para perto do irmão. Sensibilizado pelo pedido, orumilá resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.


FONTES:

http://www.africanasraizes.com.br/cultura.html

http://www.acordacultura.org.br

http://bravoafrobrasil.blogspot.com/2009/10/lendas-africanas.html

http://estudoreligioso.wordpress.com

http://www.lendas.orixas.nom.br


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19 fevereiro 2010

Música & Poesia

Além da Brincadeira (Marcelo Quintanilha)



Eu quero alguém que quando acabe fevereiro

O ano inteiro venha comigo morar

Quero um amor que vá além da brincadeira

E que depois da quarta feira ainda queira namorar

Pra que viver outra paixão de carnaval

De pierrot e colombina

Fantasiando o amor

Que acaba quando a vida volta ao seu normal

E a emoção logo termina

No silêncio do tambor

Não vou sofrer outra desilusão igual

Só confete e serpentina

Espalhados pelo chão

Pois dessa vez eu vou mudar esse final

Você comigo combina

E eu não te deixo mais não






Soneto de Intimidade (Vinicius de Moraes)


Nas tardes de fazenda há muito azul demais.

Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora

Mastigando um capim, o peito nu de fora

No pijama irreal de há três anos atrás.


Desço o rio no vau dos pequenos canais

Para ir beber na fonte a água fria e sonora

E se encontro no mato o rubro de uma amora

Vou cuspindo-lhe o sangue em tomo dos currais.


Fico ali respirando o cheiro bom do estrume

Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme

E quando por acaso uma mijada ferve


Seguida de um olhar não sem malícia e verve

Nós todos, animais, sem comoção nenhuma

Mijamos em comum numa festa de espuma.

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18 fevereiro 2010

Música para relaxar, refletir, pensar

Longe da folia, no balanço da rede e tendo como panorama verdes coqueirais do Norte da Bahia, nada melhor do que ouvir a boa música popular brasileira.

Pierrot & Colombina, de Marcelo Quintanilla e Vania Abreu é uma preciosidade que rola tranquilo na vitrola.
Isabela Taviane com seu Diga Sim é maravilhoso.

Maria Gadu é um achado, raro, para ouvir e reouvir sempre.
Axé Babá, de Alexandre Leão é fazer das músicas carnavalescas da Bahia, o canto da bossa nova. Uma recriação muito especial.
Carlinhos Brown no álbum A Gente Ainda Não Sonhou experimenta sonoridades pouco experimentadas em nossa terra e assim seu trabalho é revestido de uma criatividade vulcânica, basta lembrar que ele está acompanhado de feras como Jaques Morelenbaum entre outros e o que se pode ouvir são pérolas como Pedindo pra Voltar, Te Amo Família, Loved You Right Away, Garoa, Guaraná Café e Aroma da Vida. Basta ouvir para sonhar. Bom demais.
Tem ainda o trabalho de Elpídio Bastos (Meu Tesouro) que estourou na mídia com Nossa Paixão (participação especial do Olodum)
Tiganá Santana com Maçalê (o poder do Orixá em mim) traz elementos da cultura banto. Vale cada faixa. Produção de Luiz Brasil e participação de Roberto Mendes e Virginia Rodrigues.

Péri, sempre trazendo o samba bossa novíssima, traz seu Segundo Tempo.
E o que dizer de Jau?. Pra mim uma das melhores vozes da Bahia (ao lado de Lazzo). O cantor e compositor Jau fez parte de um dos projetos mais bem sucedidos da história recente da música baiana: o Afrodisíaco que arrebatou Salvador no verão de 2005/2006. A dupla Afrodisíaco era composta por Jauperi e Pierre Onássis. Esse último deixou a carreira artística por motivos religiosos. E Jau continuou com um balanço incrível. Pena que para achar seu trabalho o ouvinte tem que ralar muito nas lojas da cidade, difícil mesmo.
Cada vez mais a voz feminina se fortalece na MPB. Basta ouvir o samba gostoso na voz suavizada de Mariana Aydar (Minha Missão, Zé do Caroço, Vento no Canavial, Deixa o Verão, Beleza, O Samba me Persegue).

Tem ainda Fernanda Takai, doce, suave (lembra um pouco a voz da bela Nara Leão).
Muitas dessas preciosidades você só encontra na loja Pérola Negra.
Por hoje é só, amanhã tem música & poesia


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10 fevereiro 2010

Oxumaré

Oxumaré é um Orixá bastante cultuado no Brasil, apesar de existirem muitas confusões a respeito dele, principalmente nos sincretismos e nos cultos mais afastados do Candomblé tradicional africano como a Umbanda. A confusão começa a partir do próprio nome, já que parte dele também é igual ao nome do Orixá feminino Oxum, a senhora da água doce. Algumas correntes da Umbanda, inclusive, costumam dizer que Oxumaré é uma das diferentes formas e tipos de Oxum, mas no Candomblé tradicional tal associação é absolutamente rejeitada. São divindades distintas, inclusive quanto aos cultos e à origem.

Em relação a Oxumaré, qualquer definição mais rígida é difícil e arriscada. Não se pode nem dizer que seja um Orixá masculino ou feminino, pois ele é as duas coisas ao mesmo tempo; metade do ano é macho, a outra metade é fêmea. Por isso mesmo a dualidade é o conceito básico associado a seus mitos e a seu arquétipo. Essa dualidade onipresente faz com que Oxumaré carregue todos os opostos e todos os antônimos básicos dentro de si: bem e mal, dia e noite, macho e fêmea, doce e amargo, etc…

Nos seis meses em que é uma divindade masculina, é representado pelo arco-íris que, segundo algumas lendas é a ponte que possibilita que as águas de Oxum sejam levadas ao castelo no céu de Xangô. Por essa lenda, é atribuído a Oxumaré o poder de regular as chuvas e as secas, já que, enquanto o arco-íris brilha, não pode chover. Ao mesmo tempo, a própria existência do arco-íris é a prova de que a água está sendo levada para os céus em forma de vapor, onde então se aglutinará em forma de nuvem, passará por nova transformação química recuperando o estado líquido e voltará à terra sob essa forma, recomeçando tudo de novo: a evaporação da água, novas nuvens, novas chuvas, etc..
Nos seis meses subseqüentes, o Orixá assume forma feminina e se aproxima de todos os opostos do que representou no semestre anterior. É então, uma cobra, obrigado a se arrastar agilmente tanto na terra como na água, deixando as alturas para viver sempre junto ao chão, perdendo em transcendência e ganhando em materialismo. Sob essa forma, segundo alguns mitos, Oxumaré encarna sua figura mais negativa, provocando tudo que é mau e perigoso.
Uma interpretação antropológica mais cuidadosa, porém, pode questionar a validade dessas lendas. Não podemos nos esquecer de que tanto na África, como especialmente no Brasil, a população negra, que trazia consigo todos esses mitos, foi continuamente assediada pela colonização branca. Uma das formas mais utilizadas por jesuítas para convencer os negros, era a repressão física, mas para alguns, não bastava o medo de apanhar. Eles queriam a crença verdadeira e, para isso, tentaram explicar e codificar a religião do Orixás segundo pontos de vista cristãos, adaptando divindades, introduzindo a noção de que os Orixás, seriam santos como os da Igreja Católica, etc…
Essa busca objetiva do sincretismo sem dúvida foi esbarrar em Oxumaré e na cobra – e não há animal mais peçonhento, perigoso e pecador do que ela na mitologia católica (recordar os mitos de Adão e Eva, a maçã, a concepção de pecado original, etc…). Por isso, não seria difícil para um jesuíta que acreditasse sinceramente nos símbolos de sua visão teológica. Reconhecer na cobra mais um sinal da presença dos símbolos católicos na religião do Orixás e nele reconhecer uma figura que só poderia trazer o mal. Essa, pelo menos, é uma das interpretações feitas por pesquisadores que compararam diferentes versões dos mesmos mitos que não encontraram uma divisão absoluta entre bem / arco-íris (ou masculino) e mal / cobra (ou feminino). Na verdade, o que se pode abstrair de contradições como as que apresenta Oxumaré é que este é o Orixá do movimento, da ação, da eterna transformação, do contínuo oscilar entre um caminho e outro que norteia a vida humana. É o Orixá da tese e da antítese. Por isso, seu domínio se estende a todos os movimentos regulares, que não podem parar, como a alternância entre chuva e bom tempo, dia e noite, positivo e negativo.
Conta-se sobre ele que, como cobra, pode ser bastante agressivo e violento, o que o leva a morder a própria cauda. Isso gera um movimento moto-contínuo pois, enquanto não largar o próprio rabo, não parará de girar, sem controle. Esse movimento representa a rotação da Terra, seu translado em torno do Sol, sempre repetitivo- todos os movimentos dos planetas e astros do universo, regulados pela força da gravidade e por princípios que fazem esses processos parecerem imutáveis, eternos, ou pelo menos muito duradouros se comparados com o tempo de vida médio da criatura humana sobre a terra, não só em termos de espécie, mas principalmente em termos da existência de uma só pessoa. Se essa ação terminasse de repente, o universo como o entendemos deixaria de existir, sendo substituído imediatamente pelo caos. Esse mesmo conceito justifica um preceito tradicional do Candomblé que diz que é necessário alimentar e cuidar de Oxumaré muito bem pois, se ele perder suas forças e morrer, a conseqüência será nada menos que o fim da vida no mundo.
Enquanto o arco-íris traz a boa notícia do fim da tempestade, da volta do sol, da possibilidade de movimentação livre e confortável, a cobra é particularmente perigosa para uma civilização das selvas, já que ela está em seu hábitat característico, podendo realizar rápidas incertas.
Outra fonte de indefinição a respeito do Orixá vem das contradições existentes em suas lendas no Brasil e na própria África. Oxumaré é uma divindade originária da cultura do Daomé, região centro-norte da África. Há séculos tal civilização foi dominada pelos iorubas, povo mais primitivo no sentido de organização social e visão religiosa, mas, em compensação, mais poderoso em termos de organização militar. Como aconteceu com Roma e Grécia, a dominação de uma sociedade menos rica em produções culturais ou no terreno da superestrutura em geral fizeram com que os mitos dos daomeanos não fossem apenas reprimidos, pelo contrário, os iorubas não tentaram impor sua cultura ao povo dominado. Ficaram na verdade impressionados com sua cosmologia e tentaram assimilá-la, principalmente nas figuras que não fossem formas semelhantes a divindades que também possuíssem. Oxumarê foi um desses casos.
O princípio da dualidade dos iorubas fazia parte dos Orixás-crianças (Ibeji) – A dualidade que eles representam, porém, é mais próxima do comportamento contraditório e irresponsável em termos ético das crianças, ainda não reprimidas pela codificação social. Já a dualidade de Oxumarê é mais abrangente e até mesmo metafísica, pois representa os ciclos que não estão ao alcance do ser humano.
Oxumaré, Iroco, Omolu, Obaluaê e Nanã, os Orixás do Daomé mais conhecidos e cultuados, castigam quando dispostos ou provocados, mas raramente se arrependem e não possuem as falhas humanas, visíveis e humanizadoras das figura do panteão ioruba.

FILHOS DE OXUMARÉ
Como é comum a todas as divindades originárias do Daomé (cultura jeje) é relativamente difícil estabelecer um arquétipo específico de comportamento associado ao Orixá, já que ele é misterioso e cheio de sombras e mitos. Os filhos de Oxumaré são bem mais difíceis de serem reconhecidos dos os guerreiros filhos de Iansã, os calmos e sábios filhos de Oxalá e os maternais e familiares filhos de Iemanjá, por exemplo. Mesmo assim, algumas características básicas podem ser listadas. Há, porém, divergências em relação às suas características ao consultarmos autores diferente. Para o renomado pesquisador Pierre Verger, por exemplo, Oxumaré pode ser associado à riqueza: Oxumaré é o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas; das pessoas pacientes e perseverantes nos seus empreendimentos e que não medem sacrifícios para atingir seus objetivos.
Já Monique Augras, segundo sua visão a respeito dos filhos de Oxumaré, eles costumam possuir o dom da vidência. Quando vivia na terra, Oxumaré previa tudo, adivinhava o que ia acontecer, a tal ponto que não era mais possível viver. Os deuses então decidiram mantê-lo afastado dos homens, pois a clarividência total acaba transformando-se em maldição. A Seu pedido, Oxumaré obteve a autorização de descer na terra de três em três anos.
Verger acrescenta que Oxumaré está associado ao misterioso, a tudo que implica o conceito de determinação além dos poderes dos homens, do destino, enfim: É o senhor de tudo o que é alongado. O cordão umbilical, que está sob seu controle, é enterrado geralmente com a placenta,sob uma palmeira que se torna propriedade do recém-nascido, cuja saúde dependerá da boa conservação dessa árvore.
Assim, ao arquétipo de comportamento associado à figura desse Orixá complexo está a tendência à renovação, a compulsividade à mudança. Seus filhos estão entre aquelas pessoas que, de tempos em tempos, mudam tudo em sua vida: mudam de casa, de amigos, de emprego, como se ciclos se sucedessem sempre, obrigatoriamente, exigindo e provocando rompimento com o passado e iniciando diuturnamente a busca de um novo equilíbrio que deverá persistir até num novo momento de ruptura, desintegração e substituição. Mutabilidade, reinício é seu princípio básico, aproximando-o dos mitos ocidentais referentes ao planeta Plutão, o astro da morte, da destruição, da revolução como forma de renascimento e ressurreição.
Também são apontados nos filhos de Oxumaré certos traços de orgulho e de ostentação, algo que os aproxima do clichê do novo-rico, exibicionista, quando surge um grave problema para alguém de sua amizade, e que precisa efetivamente da sua ajuda. A androginia do Orixá, por vezes é estendida a seus filhos. Estes, segundo algumas correntes, seriam bissexuais em potencial, mas essa interpretação não é aceita universalmente.
Fisicamente, os filhos de Oxumaré tendem a se movimentar extremamente leve, pouco levantando os pés do chão. Têm em comum com a cobra a facilidade em serem silenciosos, armarem seus botes na vida sem que as pessoas em torno se apercebam disso e só atacando seus inimigos quando têm plena certeza da vitória, que a vítima está encurralada num território que não é o seu.
PRIMOGÊNITO
Nanã, obcecada pela idéia de ter um filho de oxalá, concebeu o primogênito obaluaiye que, por sua terrível aparência, foi desprezado por ela. Nanã consultou ifá, e este orixá lhe disse que, numa segunda tentativa, ela daria a luz a um filho lindíssimo, tão formoso quanto o arco-íris. No entanto, preveniu-a sobre o fato que a criança jamais ficaria a seu lado. Seu sonho parecia realizado até o momento do parto, quando deu a luz a um estranho ser que recebeu o nome de oxumaré. Durante seis meses a criatura tomava a forma de arco-íris, cuja função era levar a água para o castelo de oxalá, que morava em orun (no céu). Depois de cumprida a tarefa, ele voltava a terra por outro seis meses, assumindo a forma de uma cobra. Com essa aparência, ao morder a própria cauda, dando a volta em torno da terra, ele teria gerado o movimento de rotação, bem como o transito dos astros no espaço. É um orixá que representa polaridades contrarias, como o masculino e o feminino, o bem e o mal, a chuva e o tempo bom, o dia e a noite, respectivamente, através das formas do arco-íris e serpente.
O exótico e o mistério são os seus domínios. Tudo nele é repetitivo, variando apenas as formas, como no ciclo da chuva: a água que evapora, retorna como chuva. Ou como no universo dos corpos celestes, onde a lua, o sol, a terra e os demais astros e planetas executam os seus movimentos com metodicidade harmoniosa. No ciclo "vida e morte", ele também está presente; e seu símbolo mais forte é o da cobra mordendo a própria cauda, numa atitude que representa o ciclo vital: vida, morte e renascimento. A marca mais evidente de oxumaré é o arco-íris, de quem é senhor.
Dia da semana: Terça-feira
Cores: Verde e amarelo, preto e amarelo, multicor
Comida: “Cobra” feita de batata-doce amassada e banana-figo feita em azeite doce
Saudação: Arrum Bo Bo Oxunmaré!
Domínio: Arco-íris, céu, chuva fina, sol, terra.
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

09 fevereiro 2010

Morena faceira

Neide é sal, é sol escaldante, é verão, é sorvete espumante, é brisa de mar nas tardes de domingo, é música trilhando nos meus ouvidos, é algo que não se pode definir em palavra, ela é uma mulher de corpo e alma. Neide é assim, quem olha para ela fica amando até o fim. Mas o fim pode ser o começo de uma amizade. Eternidade. Dadiva da vida. Revivida. Vida é cantiga de amor, é viola, batucada, pé no chão. É feijoada, café e limão. É limonada gelada no sol de verão. É suor, é cerveja e muita paixão. Conhecer Neide é sentir ansiedade, é ficar na vontade, é fazer tudo, perder o sono e ficar mudo. Mudo com a mudança do viver, de olhar o sol brilhando no sertão e sobreviver.

Agora que o samba agitou seu corpo, volteia, sacode, dança, explode em sons e cores, treme e balança em mil amores. Porque age assim comigo? Me deixa desinibido de ternura e compaixão. E na ala que ensaia com graça, nos passos da linda mulata de corpo ondulante, gingado que embala no ritmo que fala e o bumbo que ronca batucada, tum tum tum em meu coração.

Essa Neide danada que vem de passista, que salta e arrisca em cadência tão viva, saltando e gingando com graça felina, essa menina, tão leve e ligeira, faceira, tão linda e fagueira (não vou dizer besteira), tão tão que me deixa tonto neste colorido de vida, é azul, é vermelho, é branco, é preto, tudo com seu jeito.

E assim, lembrando Jobim, a minha alma canta nesta Salvador. Estou morrendo de saudades. Saudade do seu seu mar, praia sem fim, você foi feita prá mim. Este samba é só porque, eu gosto de você. A morena vai sambar. Seu corpo todo balançar...

Criatura, quando você passa eu acho graça, desse seu jeito de andar, balança aqui e acolá. Minha musa, minha inspiração, dentre as rosas é a mais bela que surgiu no jardim do meu coração. O que mais tenho a dizer, Neidinha, sei que você é minha, em meu pensamento e prazer.

Neide é sinônimo de paixão, de amor forte, beijos ardentes, tudo com muito tesão. Neide é simpatia
seja de noite ou de dia, tudo com muita alegria, sai fora a antipatia. Neide é força total, no inverno ou no verão, debaixo de um aguaceiro ou no sol castigado do sertão. Neide é meiguice, mas nada de deixar a gente triste, ela é raio de sol em toda sua extensão dos dedos dos pés ou na cabeça em ação.

O que mais dizer dessa menina brejeira morena, mulata um tanto faceira que mexe e remexe todas as asneiras e chega no topo em tom de ciumeira. É Neidinha, É Neidinha, É Neidinha. Eita menina festeira!!!

Neidinha, se seus olhos brilham tanto/Por verdade ou por amor/Não sei se lhe agrado/Com perfume ou uma flor//Só sei que quando lhe vejo/Me sobe um ardor, um desejo/Uma profunda sede de anseio/ Até parece um lampejo//Oh menina que ilumina/Que me satisfaz/Que me inspira/A não fazer mal//Mas que mal há em querer bem/Em recostar minha cabeça em alguém/Em ter amor a você e a mais ninguém/Me diga, tem, tem??

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

08 fevereiro 2010

Origem do mundo segundo lenda africana

Todas as religiões do mundo tentam explicar os grandes mistérios da humanidade: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? Reza uma história africana, originária de Ketu, que no início de tudo havia o Orum, o espaço infinito, e lá vivia o deus supremo Olorum. Certo dia, Olorum criou uma imensa massa de água, de onde nasceu o primeiro orixá: Oxalá, o único capaz de dar vida. Olorum mandou Oxalá partir e criar o aiyê, o mundo. Só que Oxalá não fez as oferendas necessárias para a viagem e enfrentou sérios problemas no caminho.

Quem acabou criando o mundo foi Odudua, sua porção feminina. Para consolar Oxalá, o deus supremo lhe deu outra missão: a de inventar os seres que habitariam o aiyê. Assim Oxalá usou a água branca e a lama marrom para criar peixes azuis, árvores verdes e homens de todas as cores. Foram justamente os homens que, mais tarde, imaginaram formas de adorar e representar a saga de deuses como Oxalá, Odudua, Olorum e tantos outros.

O sopro sagrado de Olorum

Quando Olorum, o senhor do infinito, fez o universo com o seu hálito sagrado, criou junto um punhado de seres imateriais com a finalidade de povoá-lo. Estes seres, os orixás, foram dotados de poderes fantásticos, como o domínio sobre o fogo, a água, a terra, o ar, os animais e as plantas e também o masculino e o feminino.

No princípio, eram muitas as divindades africanas, tantas que a comparamos às cores da exuberante África. Ainda hoje, os adeptos das religiões afro-brasileiras continuam adorando um pequeno grupo destas divindades, que representam todos os elementos essenciais à natureza e à vida humana.

Os povos africanos produziram uma infinidade de mitos sobre a criação do mundo e as forças espirituais. Isso porque a necessidade de explicar o mundo em que vivemos é praticamente tão antiga quanto a própria humanidade.

Ossaim, o malabarista das folhas

Certo dia, Ifá, o senhor das adivinhações veio ao mundo e foi morar em um campo muito verde. Ele pretendia limpar o terreno e, para isso, adquiriu um escravo. O que Ifá não esperava era que o servo se recusasse a arrancar as ervas, por saber o poder de cura de cada uma delas. Muito impressionado com o conhecimento do escravo, Ifá leu nos búzios que o criado era, na verdade, Ossaim, a divindade das plantas medicinais. Ifá e Ossaim passaram a trabalhar juntos. Ossaim ensinava a Ifá como preparar banhos de folhas e remédios para curar doenças e trazer sorte, sucesso e felicidade.

Os outros orixás ficaram muito enciumados com os poderes da dupla e almejaram, no seu íntimo, possuir as folhas da magia. Um plano maquiavélico foi pensado: Iansã, a divindade dos ventos, agitou a saia, provocando um tremendo vendaval. Ossaim, por sua vez, perdeu o equilíbrio e deixou cair a cabaça onde guardava suas ervas mágicas. O vento espalhou a coleção de folhas.

Oxalá, o pai de todos os orixás, agarrou as folhas brancas como algodão. Já Ogum, o deus da guerra, pegou no ar uma folha em forma de espada. Xangô e Iansã se apoderaram das vermelhas: a folha-de-fogo e a dormideira-vermelha. Oxum preferiu as folhas perfumadas e Iemanjá escolheu o olho de santa-luzia. Mas Ossaim conseguiu pegar o igbó, a planta que guarda o segredo de todas as outras e de suas misturas curativas. Portanto, o mistério e o poder das plantas continuam preservados para sempre.


No tabuleiro de Iansã

Orixá das cores vermelha e branca, Iansã é a regente do vento e dos temporais. Segundo uma antiga história da África, Xangô, marido de Iansã, certa vez a enviou para uma aventura especial na terra dos baribas. A missão era buscar um preparado que lhe daria o poder de cuspir fogo. Só que a guerreira, ousada como ela só, ao invés de obedecer ao marido, bebeu a alquimia mágica, adquirindo para si a capacidade de soltar labaredas de fogo pela boca.

Mais tarde, os africanos inventaram cerimônias que saudavam divindades como Iansã através do fogo. E, para isso, usavam o àkàrà, um algodão embebido em azeite de dendê, num ritual que lembra muito o preparo de um alimento bastante conhecido até os dias que correm: o acarajé. Na verdade, o acarajé que abastece o tabuleiro das baianas é o alimento sagrado de Iansã, também conhecida como Oyá.

O quitute tornou-se símbolo da culinária da Bahia e patrimônio cultural brasileiro. E, assim como ele, diversos elementos da tradição africana fazem parte do nosso cotidiano. Em sons, movimentos e cores, a arte encontrou na religião de origem africana seu sentido, sua essência, sua identidade.

A porção humana dos orixás

Obá, a orixá guerreira, disputava o amor de Xangô com Iansã e Oxum. Obá sentia o corpo arder de ciúme ao ver seu amado tratar Oxum com gestos de atenção e carinho e passou a imaginar que sua rival colocava algum tempero especial na comida para enfeitiçar Xangô.

Certo dia, Obá foi à cozinha disposta a descobrir o segredo de Oxum. Percebendo o ciúme de Obá, Oxum resolveu pregar uma peça na guerreira e mentiu. Disse que seu ingrediente era, na verdade, um pedaço de sua orelha. Obá então pôs uma tasca da própria orelha na comida e serviu para Xangô, que rejeitou o prato. Foi quando Obá se deu conta que caíra em uma armadilha e desde este dia, cobre as orelhas quando dança na presença de Oxum.

Os sentimentos humanos sempre estiveram presentes na mitologia dos orixás e na tradição oral africana. Sentimentos que mais tarde viriam contar outras histórias, que compõem uma literatura tipicamente feita por negros no Brasil.

A espada justa de Ogum

Ogum é um orixá benfeitor, capaz de salvar muitas vidas, mas também destruidor de reinos. Há quem diga que um belo dia Ogum chegou em uma aldeia onde ninguém falava com ele. Sempre que se dirigia a um habitante do lugar, só recebia um grande vazio como resposta.

Pensando que todos estavam zombando dele, Ogum ficou furioso e destruiu cada pedacinho da aldeia. Logo em seguida, descobriu que aqueles moradores permaneceram calados porque faziam voto de silêncio e se arrependeu amargamente por haver empregado as suas forças numa ação bélica.

Desde então, o deus da guerra jurou ser mais cauteloso e proteger os mais fracos, sobretudo aqueles que estiverem sofrendo algum tipo de perseguição arbitrária. Tanto no orum, o universo, como no aiyê, a terra, a luta dos negros contra as injustiças é encarada por corajosos guerreiros espirituais e de carne e osso.

Omolu dança só

Há muitos e muitos anos, um episódio interessante percorre a África inteira. É sobre uma grande festa, que reunia uma lista de ilustres convidados - Oxum, Iemanjá, Oxalá, Xangô, Oxossi, Ossaim, Obá, Logunedé, Iansã, Nanã, Ogum e Oxumaré. Todos os orixás estavam lá. Na verdade, quase todos, porque faltava o Omolu.

Omolu ficou do lado de fora com vergonha das marcas que a varíola lhe deixara no rosto. Ao saber disso, Ogum correu até a floresta e teceu uma roupa de palha, o ofilá, para que o irmão participasse da festa. Omolu entrou, mas ninguém quis dançar com ele. Mesmo cobertas, suas feridas causavam repulsa nos orixás. A corajosa Iansã foi a única que o chamou para uma dança. E como Iansã é a orixá dos ventos, sem querer, mandou a roupa de Omolu pelos ares!

Qual não foi a surpresa quando, livre do ofilá, surgiu um homem lindo, sem defeito algum. Ao ver a beleza de Omolu, os orixás femininos suspiraram e os masculinos se morderam de inveja. Omolu ofereceu à Iansã uma recompensa, mas, a partir daquele dia, passou a dançar sempre sozinho nas festividades.

FONTES:

http://www.acordacultura.org.br

http://bravoafrobrasil.blogspot.com
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