30 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (10)

No dia 20 de setembro de 1982 o Caderno B do Jornal do Brasil passa a publicar, todos os dias, de segunda a sábado, dez tiras nacionais das 20 que edita. São elas: Vereda Tropical, de Nani; Avis Rara, a tira de estreia de Bruno Liberati; Zarzan, de Cláudio Paiva; O Pato, de Ciça; Doutor Baixada, de Luscar; As Mil e uma Noites, de Paulo Caruso; A Turma do Pé Sujo, de Davilson; Cebolinha, de Maurício de Sousa; Lar, Doce, Lar, de Hubert e Agner; e As Cobras, de Luiz Fernando Veríssimo.


Em 1983 a Editora L&PM lança o livro As Origens do Capitão Bandeira, de Paulo Caruso e Racif Jorge Farah. Branco, sem cultura. Tem defeitos, crenças e cultiva algumas tradições. Ingênuo. Um super-herói tropical, mistura de Carlos Gardel caboclo com um Ghandi tupiniquim. Assim é o Capitão Bandeira. Em 64 páginas, os autores contam a história de um herói cujo lema é errar sempre, um malandro normal, mas difícil de seguir os passos.


Depois do sucesso em livro e peça teatral, O Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo chega aos quadrinhos, pelas mãos do desenhista Edgar Vasquez (1983). O livro, primeiro da série Quadrinhos, da editora gaúcha L&PM, reúne dez “causos” do famoso analista com seus índios velhos pirados. A obra revela não apenas o seu método terapêutico infalível (o joelhaço), mas, de maneira bastante didática, fornece receitas para casos incuráveis. Vasques diz que criou o Analista baseado na figura do humorista gaúcho Guaracy Fraga.


O personagem nasceu em 1984 de um livro de sucesso, o Menino Maluquinho, criação de Ziraldo. Garoto urbano, irreverente, original e com toda a força da lógica infantil. Sua primeira aparição nos quadrinhos aconteceu na Revistinha do Ziraldo, tentativa frustrada de atingir o público infantil com uma publicação excessivamente intelectualizada, que não passou do número seis. Agora, o garoto volta à cena, muito menos conceitual e muito mais ativo. Seus amigos são Bocó, Julieta, Adão (o menino mais bonito do mundo) e Forbes, um crioulinho paupérrimo, são alguns deles. O número de estreia saiu pela Editora Abril.


O principal personagem do cartunista Glauco Villas Boas é um consumidor inveterado de uns 30 anos, solteiro que mora com a mãe - com quem tem uma relação neurótica- e continua virgem até hoje. Geraldão bebe, fuma muito, vive atacando a geladeira e toma todos os remédios que vê pela frente. No começo, ele usava uma calça sem elástico. Depois, passou o dia todo peladão. Geraldão começou a ser publicado em tiras na Folha de S.Paulo em 1984. A revista circulou entre 1987 e 1989. Além desse personagem com complexo de Édipo tem Doy Jorge um rock star viciado, o Casal Neuras, Zé do Apocalipse (hippie místico) e Dona Marta (quarentona, solteirona e carente). São paranoias, neuroses e distorções freudianas mais espalhafatosas do repertório nacional.


Em1986 o ex-veterinário Fernando Gonsales lança no Folha de S.Paulo a série Níquel Náusea. Níquel é uma ratazana de esgoto, e faz parte da fauna urbana que resiste aos homens. Com ele, convivem Dolores, a pulga, e Fliti, a barata viciada em inseticida, além do sábio do buraco – “um rato profético e esclerosado”. No ano seguinte as tiras de Níquel Náusea ganham revista própria. A Folha também publicou em 1987 tiras do cartunista paulistano Caco Galhardo (Pescoçudos) e Fernando Gonsales (Níquel Náusea).


O rato de esgoto chamado Níquel Náusea é uma paródia do camundongo criado por Walt Disney, assim como outros personagens parodiam objetos ou personagens famosos: Flit (uma barata viciada em inseticida), Gatinha (a rata pela qual Níquel é apaixonado), Rato Ruter (desprezível, com um apetite voraz e uma personalidade explosiva), Sábio do Buraco (o rato mais velho que existe, oscila entre momentos de sabedoria e esclerose). Em 1988 Adão Iturrusgari publica Rock & Hudson, a dupla gay que vivencia a odisseia do faroeste americano. Em 1996 Adão Iturrusgari captou com grande maestria a alma da mulher livre dos tempos atuais com a personagem Aline.


Em 1995, a Editora Abril Jovem publica o gibi Turma do Barulho. Através de uma linguagem irreverente, Toby, Babi, Milu, Kid Bestão, Bobi, entre outros, viviam aventuras dentro de um ambiente escolar longe de ser politicamente correto, onde os roteiros eram desenvolvidos a partir da ideia o humor pelo humor. No fim da década de 1990 e começo do século XXI, surgiram na internet diversas histórias em quadrinhos brasileiras, ganhando destaque a webcomics dos Combo Rangers, criados por Fábio Yabu que tiveram três fases na internet (Combo Rangers, Combo Rangers Zero e Combo Rangers Revolution), uma minissérie impressa e vendida nas bancas (Combo Rangers Revolution, Editora JBC, 2000, 3 edições), ganhando, posteriormente, uma revista mensal pela mesma JBC (12 edições, Agosto de 2001 a Julho de 2002) e, posteriormente, pela Panini Comics (10 edições, Janeiro de 2003 a Fevereiro de 2004) e os Amigos da Net, criados por Lipe Diaz e Gabriela Santos Mendes.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

29 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (9)

Na década de 80 se consolidou o trabalho artístico de vários quadrinistas brasileiros, tais como Angeli, Glauco e Laerte, que vieram ajudar a estabelecer os quadrinhos underground no Brasil (aliás, alguns denominam de "overground", porque vendidos em banca; "underground" seriam O Balão e outras dos anos setenta, vendidas de mão em mão). Outros rotularam esta turma como representantes do "pós-underground". Eles desenharam para a Circo Editorial em revistas como Circo e Chiclete com Banana.


Os três cartunistas produziram em conjunto as aventuras de Los Três Amigos (sátira western com temáticas brasileiras) e separados renderam personagens como Bordosa, Geraldão e Overman e Piratas do Tietê. Angeli cria personagens curiosos como o punk revoltado Bob Cuspe, a dupla de homossexuais enrustidos Meiaoito e Nanico, a estupradora de homens Mara Tara e a distorção das conquistas do movimento feminista Rê Bordosa, além da dupla infernal Os Skrotinhos. Mais tarde juntou-se a Los Três Amigos o quadrinista gaúcho Adão Iturrusgarai. Estes quatro publicam tiras e cartuns na Folha de São Paulo e lançam álbuns por diversas editoras (mas principalmente pela Devir Livraria).

Outro quadrinista de sucesso na época e que continuou na década seguinte é Miguel Paiva, criador dos personagens Radical Chic (a partir de 1982 no Jornal do Brasil), Gatão de Meia Idade (1994) e desenhista das tiras do detetive Ed Mort (publicado em tiras de jornal a partir dos anos 1980, com texto de Veríssimo), famosos por também terem sido adaptados para televisão, teatro e cinema. Ed Mort é uma espécie de Macunaíma da área policial – investigador cínico e arrogante, sem nenhum caráter, que convive com ratos e baratas num escritório mal cheiroso e sombrio. Trabalho pouco, mas procura manter a classe mesmo nos raros momentos em que consegue ter dinheiro para se deliciar com um pedaço de pizza e uma Fantauva, refeição predileta por necessidade.


O cartunista Luscar cria a série Dr. Baixada (1980) na época do Mão Branca, o esquadrão da morte que atuava na Baixada Fluminense. Capa preta, chapéu e metralhadora, Dr. Baixada está sempre atuando – ou no assaltante ou na vítima. A ordem é apagar, fazer o serviço, sem perguntas e sem que ele próprio saiba a quem serve. O mais impressionante é que o Dr. Baixada, matando daqui e dali, acredita estar fazendo o bem. O personagem foi criado inicialmente para a revista Mad, da qual saiu para a página de quadrinhos do Caderno B do Jornal do Brasil. Para Luscar (Luis Carlos dos Santos), “o Dr. Baixada representa o poder invisível detido pelo Sistema”. Ele vive num universo habitado por bicheiros, hippies, prostitutas, menores (e maiores) abandonados, e até um mendingo-filósofo, Diógenes, do qual se diz que foi professor. “Cassado pelo AI-5, caiu na sarjeta”, explica Luscar.


Desde os anos 80, Angeli vêm desenvolvendo uma galeria de personagens famosos por seu humor anárquico e urbano; entre eles se destacam o esquerdista anacrônico Meia Oito e Nanico, o seu parceiro homossexual enrustido (mas não muito); Rê Bordosa, conhecida como a junkie mais "porralouca" dos anos 1980; Luke e Tantra, as adolescentes que só pensam em perder a virgindade; Wood & Stock, dois velhos hippies que deixaram seus neurônios na década de 1960; os Skrotinhos, a versão underground dos Sobrinhos do Capitão; as Skrotinhas, a versão "xoxotinha" dos Skrotinhos; Mara Tara, a ninfomaníaca mais pervertida dos quadrinhos; Rhalah Rikota, o guru espiritual comedor de discípulas; Edi Campana, um voyeur e fetichista de plantão à procura do melhor ângulo feminino; o jornalista Benevides Paixão, correspondente de um jornal brasileiro no Paraguai e o único a ter conseguido entrevistar Rê Bordosa; Ritchi Pareide, o roqueiro do Leblão; Rampal, o paranormal; o machão machista Bibelô; o egocêntrico Walter Ego (também conhecido como "o mais Walter dos Walters"); Osgarmo, o sujeitinho vapt-vupt; Rigapov, o imbecil do Apocalipse; Hippo-Glós, o hipocondríaco (inspirado em Cacá Rosset); Vudu; Los Três Amigos e Bob Cuspe, o anárquico punk que cuspiu nas piores criaturas de nossas gerações. Ele próprio também se tornou um personagem, estrelando de início as tiras "Angeli em crise". Outra versão caricata sua é o personagem Angel Villa de Los Três Amigos.


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Festival de Humor da Bahia




No dia 01/04, às 14h haverá debate do FHUBÁ na sala do Coro do TCA. Tema: Baianidade: existe uma forma de humor baiano? Os participantes serão os seguintes:

1. Nivaldo Lariú: "Humor na Linguagem Popular Baiana". Nivaldo Lariú e escritor, autor do Dicionário de Baianês.

2. Nelson Cadena : "Humor na Publicidade". Nelson Cadena é publicitário e autor de livros e catálogos sobre propaganda no Brasil.

3. Gutemberg Cruz: "Humor Gráfico na Bahia". Gutemberg Cruz é jornalista, escritor e estudioso do humor gráfico da Bahia.

4. Ruy Botelho: "Humor no Futebol". Ruy Botelho é radialista e comentarista de futebol.

5. Jorge Alencar: "Humor e Performance". Jorge Alencar é criador em dança, teatro e audiovisual e diretor artístico e fundador do Grupo Dimenti.

6. Roberto Albergaria: "Humor no cotidiano de Salvador". Roberto Albergaria, graduado em História, é professor aposentado da UFBA. É comentarista da Rádio Metrópole.

Mediador: Fernando Guerreiro


A sessão de debates será no domingo, a partir das 14h, na Sala do Coro do TCA. O modelo é o clássico de mesas redondas: cada palestrante fala sobre sua área por dez minutos e depois se inicia o debate com perguntas do público e intervenções do mediador.

Programação completa no site:
http://www.fhuba.com.br/site/

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28 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (8)

Em Natal (RN), Emanoel Amaral publica a tira O Super Cupim, a sátira dos super-heróis. No ano seguinte, Ota (Otacílio d´Assunção) publica no RJ Os Birutas. Os Birutas foi a primeira revista de HQ inteiramente escrita e desenhada por Ota e saiu em 1973. A revista durou três números e os personagens já tinham aparecido antes em tiras diárias no extinto diário carioca O Jornal, entre 1972 e o início de 1973.


E no Espírito Santo, Milson Henriques publica Marly, a personagem capixaba. Marly é uma solitária afim de sempre se doar. Amiga inseparável de Creuzodete, sempre ao telefone, as duas vivem trocando ferroadas e alfinetadas. As tiras publicadas na imprensa capixaba, também conhecidas em outros pontos do país, precederam o sucesso no teatro.


Criada pelo ator, diretor e desenhista Milson Henriques em 1973, Marly só se transformou em personagem de carne e osso em 1992, com a primeira versão de Hello Creuzodette para os palcos, quando Milson Henriques soube transpor com sucesso a heroína dos quadrinhos para o teatro.


Em 1974 no Rio Grande do Sul Edgar Vasques publica Rango, tira que marcaria época no meio universitário com sua forte crítica social. Os quadrinhos do Rango, um dos mais célebres anti-heróis das tiras brasileiras, que resumia na época da ditadura – e ainda resume – a miséria do nosso povo, está de volta em edição comemorativa. O personagem tem a cara do Brasil: miserável, esfomeado, marginalizado, pobre e desempregado, que vivia dentro de uma lata de lixo.


A primeira aparição de Rango foi na revista Grilus, a revista do Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde Vasques então estudava. A partir de 1973, Rango ocupou as páginas de vários periódicos brasileiros, como Pasquim e Folha da Manhã. Fazendo parte do boom de humor da década de 70, simbolizou a resistência à ditadura militar.


Não obstante os outros gêneros como o de super-heróis, faroeste e horror continuaram a inspirar algumas produções nacionais: no final de 1969 surgiu o artista marcial mascarado Judoka, considerado o principal super-herói brasileiro até então (ele apareceu em um filme de 1973 estrelado por Pedro Aguinaga e Elisângela). Aproveitando a onda do western spaghetti foram criados Johnny Pecos, Chet, Chacal, Katy Apache dentre outros.


Na linha da crítica política e social apareceu a revista Balão, fundado pelo Laerte e pelo Luiz Gê e publicada por alunos da USP e com a curta duração de dez números, revelou autores consagrados até hoje, como os irmãos Paulo e Chico Caruso, Xalberto, Sian e o incrível Guido (ou Gus), entre outros.


Em 1976 a Editora Grafipar, que publicava livros, resolve entrar no mercado de Quadrinhos, em 1978 Cláudio Seto montou um Núcleo de Quadrinhos na Editora, a editora teve nomes como Mozart Couto, Watson Portela, Rodval Matias, Ataíde Braz, Sebastião Seabra, Franco de Rosa, Flávio Colin, Júlio Shimamoto, Gedeone Malagola, entre outros.


Gutemberg Cruz lança no jornal A Tarde a coluna semanal Quadrinhos em Estudo (1977). E no dia 18 de julho começa a ser publicado no jornal A Tarde as tiras em quadrinhos diárias dos personagens Os Bichim, de Nildão; Niquita, de Dílson Miflej; Bacuri, de Carlos França; Nego & Nega, de Romilson; Juá, de Sebas: Grilote, de Reinaldo; e mais tarde Brito, de Vleber; O Verme, de Calafange.


Ainda em 1977 o desenhista Daniel Azulay lança no Jornal do Brasil a série Gilda, uma vaca baiana, vaidosa, que adora ver televisão, mas teme as segundas intenções do diretor. Ela é uma voraz consumidora de produtos anunciados pela TV. Já o desenhista Miguel Paiva lança no Jornal do Brasil a série Dr. Freud, o psicanalista dominado por fortíssimo complexo de Édipo e tarado sexual. Ele é um grande investidor. Investe particularmente nas neuroses do paciente. Baseado na obra literária de Edy Lima, a Rio Gráfica e Editora lança a revista A Vaca Voadora (1977), textos de Sandra Siqueira e desenhos de Ambrósio Moreira. O personagem principal é uma criança, Lalau, um menino que vê e julga os adultos, completamente loucos que vivem a sua volta.


E Ziraldo lança a Turma do Pererê nas edições dominicais do Jornal do Brasil. O Porco com Cauda de Pavão (1978), o mais novo personagem das HQs do baiano Caó (Alvaro Cruz Alves) é também o título da sua primeira exposição em Salvador, no ICBA. Ainda em 1978 Ziraldo cria Mineirinho, o Comequieto, uma ironia sobre o machismo brasileiro.

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27 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (7)

Na Bahia, o cartunista que conseguiu captar a essência do baiano em todas as suas nuances, desde a ingenuidade, a liberalidade, a transgressividade, linguagem e a sua liberdade foi Lage. Com seu traço caligráfico, único, o mestre do desenho de humor baiano fez uma radiografia da “terra da felicidade” através de uma gama de personagens publicados nas tiras de jornais e revistas e até mesmo na tv (Educativa da Bahia).

L´amu tuju L´amu, Cartunzão, Tudo Bem, Brega Brasil, Ânsia de Amar, Dora Mulata e tantos outros de 1969 até 2006. Sua verve humorística não deixava escapar nada, seja na malícia das baianas, nos interesses escusos dos políticos, na sagacidade dos boêmios, na melancolia dos idosos e na alegria da juventude. Ele mostrou a Bahia de fio a pavio, em raio X, não poupou ninguém. Sua verdade foi radiográfica. Tudo passava pela sua lente sensível de observador atento a tudo o que acontecia em sua aldeia.


No início dos anos 1970 os quadrinhos infantis no país predominaram, com o início da publicação das revistas de Maurício de Souza e a montagem pela Editora Abril de um estúdio artístico, dando a oportunidade para que vários quadrinistas começassem a trabalhar profissionalmente, produzindo principalmente histórias do Zé Carioca e de vários personagens Disney, mas também trabalhando com todos os personagens que a editora adquirira os direitos, como os da Hanna-Barbera. Artistas brasileiros continuaram a desenhar histórias de personagens infanto-juvenis estrangeiros, como os contratados pela RGE para dar continuidade à produção de histórias e capas das revistas de sucesso do Fantasma, Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira e Mandrake.

Personagens e autores brasileiros tiveram um pouco mais de espaço na Editora Abril com o lançamento da Revista Crás! (1974-1975), que trazia alguns personagens satíricos como o Satanésio (de Ruy Perotti) e o Kaktus Kid (de Canini, conhecido desenhista brasileiro do Zé Carioca). Satanésio chegou inclusive a ter título próprio, com duração de quatro números pela Abril. Trata de um "diabão", que, triste pelo fato de ninguém mais ir ao inferno, já que os humanos transformaram o próprio planeta num lugar similar, resolve dar um pulo "no andar de cima" para conseguir clientes. Constantemente desmoralizado, acaba tendo até que aguentar um anjo da guarda que quer protegê-lo, o Anjoca. Já Kaktus Kid é uma paródia dos velhos caubóis do faroeste. Inspirado no visual de Kirk Douglas, Kaktus Kid era o dono de uma funerária em busca de clientes.


Nos anos 1970 começou a circular no Brasil a revista MAD em português, que além do material original, trazia trabalhos de artistas nacionais, na qual se destaca o editor Ota. O sucesso desse lançamento, também fez surgir revistas similares, como Pancada e Crazy.

O desenhista Michele Iaccoca cria Eva (1970) na revista Claudia. A principal característica do humor de Michele é a sua ligação com a atualidade. No paraíso perdido de Michele, Adão e Eva nasceram sem olhos. Só a serpente enxerga. Conformista, acomodado, Adão aceita todos os esquemas da vida e da sociedade protegida por uma suave mistura de cinismo com ingenuidade. Desajeitadamente libertária, Eva luta inutilmente contra a passividade calculada de um homem e não consegue perceber que a maior parte das opressões está no angustiante vazio branco que envolve em cada folha.


Em 1971, Wera Rakowitsch, aluna de Arquitetura da UnB (Brasília) cria ZAP, um ser feminino, dócil e ao mesmo tempo crítico. O tipo da personagem é um pé. O fio de cabelo com o lacinho foi criado para fazer parte da caracterização da personagem. Muda de posição de acordo com os momentos de sua vida. Os dedos do pé, assim como o próprio pé, lhe servem de apoio e se movimentam em determinadas situações.


Em 1972 é lançada a revista Sacarolha, de Primaggio Mantovi, pela Rio Gráfica e Editora. O garoto Édson Arantes do Nascimento passa a reviver suas travessuras em busca de uma bola de futebol pelos campos como Pelezinho (1976), principal elemento da 12a família de personagens do desenhista de quadrinhos Mauricio de Sousa. O contrato, planejado desde fins de 1969, foi firmado em abril de 1976 e teve distribuição diária de tiras para jornais brasileiros e, principalmente no exterior.

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23 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (6)

O mineiro Henrique de Souza Filho, o Henfil em plena treva da ditadura dos anos 70, que mais dialogou com as massas, transformando-se num popstar do desenho no País. Seus personagens, habitantes da caatinga seca e árida, passaram a apresentar a contradição do sul maravilha e o mundo bravo do sertão, principalmente mostrando nos personagens Zeferino, Graúna e o bode Francisco de Orelana. Na galeria de personagens criados pela genialidade de Henfil, os Fradins têm um lugar especial. Eles foram inspirados em dois freis dominicanos mineiros. O Cumprido é o religioso carola e careta, covarde, mas também lírico, romântico e sonhador. Já Baixim é o Henfil pós-freis dominicanos, com uma nova visão de Igreja, que conhece a hipocrisia do mundo e a combate através da ironia e da agressão.


Os Fradins têm ainda o mérito de introduzir em páginas impressas expressões como putsgrilla, tutaméia, cacilda, além do gesto simbólico e sua onomatopeia, o top top, que caíram no gosto dos leitores. Acompanhado os dois Fradins, o Preto que Ri, um frei negro, que ri de sua própria desgraça, e o Tamanduá que Chupa Cérebros. O Cabôco estreou no Pasquim em 1972 e de todos os personagens de Henfil foi o que causou mais polêmica e inimizades ao autor. Dono de um cemitério atípico, Cabôco só enterrava pessoas que estavam vivas. Para personalidades públicas que, no entendimento de Henfil, haviam colaborado de alguma forma com a ditadura, caia no cemitério dos mortos-vivas. E o Cabôco tinha como cúmplice o Tamanduá, que sugava cérebros de suas vítimas para conhecer os pensamentos mais escondidos.


Com o negro Orelhão, criado nas páginas de O Dia, Henfil desenha a crítica social, com um humor direto, falando claramente aos pobres da cidade, sobre seus problemas mais imediatos. Também para esse público surgiram no Jornal dos

Spots seus personagens de futebol: Urubu (torcida do Flamengo), Bacalhau (torcida do Vasco, portugueses), de Arroz (torcida do Fluminense, de pessoas ricas), Cri-Cri (torcida do Botafogo, por conta de sua chatice), Gato Pingado (torcida do América, muito pequena). E para os mais intelectualizados Ubaldo, o Paranoico, um personagem criado com a anistia de 1970, e que sempre se recusou a admitir que os tempos estariam mudando.

The Supermãe nasceu no Jornal do Brasil em março em 1969 e, em março de 1970 mudou-se para as páginas da revista Claudia. Em 1981 Ziraldo reuniu quase uma centena de suas melhores historinhas em um álbum para contar este longo tempo de convivência da Dona Clotildes com seu amadíssimo folho Carlinhos. E elas são uma prova de que o humor é implacável, mesmo quando fala de carinho, de amor e de ternura. Ou da dificuldade que o ser humano tem de se entender com coisas tão simples. Ainda em 1969, Fortuna cria no Pasquim a série em quadrinhos Madame e seu Bicho Muito Louco. Fernando Ikoma criou para a editora Edrel, Satã, a Alma Penada.


A presença massiva da produção do quadrinho norte-americano no mercado de países periféricos como o Brasil criou barreiras que impediram o desenvolvimento de uma produção local. Como forma de combater esta invasão, foram utilizadas duas estratégias pelos produtores nacionais: num primeiro momento foram criados personagens que buscavam um discurso de semelhança como modelo original; em seguida foi utilizada a paródia como recurso narrativo com o objetivo de ridicularizar o discurso épico do super-herói americano.


Os quadrinhos de super-heróis tiveram vários personagens brasileiros lançados em revista nos anos de 1960: Capitão 7, Capitão Estrela, Jet Jackson, Capitão Radar, Vigilante RodoviárioEscorpião e Raio Negro. No estilo policial foi criado O Anjo, desenhado por Flávio Colin que originou o filme O Escorpião Escarlate. No faroeste apareceu a tira do gaúcho Fidêncio, de Júlio Shimamoto, além dos quadrinistas de horror, que trabalharam nas revistas da Editora La Selva. Com o golpe militar houve uma nova onda de moralismo que bateu de frente com os quadrinhos. Em compensação, esse movimento inspirou publicações jornalísticas cheias de charges como O Pasquim que, embora perseguido pela censura, criticavam a ditadura incansavelmente. A Editora Edrel fundada por Minami Keizi em 1967, foi pioneira no estilo mangá no país, isso quando o estilo ainda não havia se tornado febre, artistas como o próprio Keizi e Claudio Seto desenhavam no estilo, na época o estilo era considerado estranho e por isso, os artistas tiveram que segue padrões norte-americanos e/ou europeu. (sucesso também em seriado de tevê), Minami introduziu o mangá no Ocidente vinte anos antes dos americanos.

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Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (5)

Em 1960 foi vencida a resistência dos editores e surgiu uma revista em quadrinhos com personagens e temas brasileiros. Foi O Pererê com texto e ilustrações de Ziraldo (mesmo autor de O Menino Maluquinho). O personagem principal era um saci e não raro suas aventuras tinham um fundo ecológico ou educacional. Mais do que quadrinhos para criança, Ziraldo publica uma profunda reflexão (sob o crivo do populismo) sobre o Brasil da época, entre 1960 e 1964, quando a revista acaba. A Turma do Pererê se tornou o marco do quadrinho nacional. Conta as travessuras de um grupo de amigos na Mata do Fundão. Pererê, um menino negro inspirado na figura folclórica do Saci,e seus amigos; o índio Tininim, o macaco Alan, a onça Galileu, o jabuti Moacir, o tatu Pedro, o coelho Geraldinho, a coruja General Nogueira, a Boneca-de-Piche, a mãe Docelina vivenciam situações que estão no cotidiano das crianças, mas difíceis de tratar tanto na escola quanto em casa. Entre os assuntos abordados com naturalidade por Ziraldo estão saúde, ética, pluralidade cultural, preservação da natureza e drogas.


Durante 43 números e 182 histórias, a alegre fauna ziraldiana representou no microcosmo da Fazenda do Fundão o clima de euforia nacionalista então vigente no país. Pererê, conforme observou o quadrinhólogo Moacy Cirne, entrou sorrateiramente para a história como um acontecimento tão importante quanto os filmes do Cinema Novo, o Centro Popular de Cultura, o movimento dos poetas Concretos e a Bossa Nova. Em 1975 a série voltou através da Editora Abril.


Um grupo de desenhistas brasileiros – entre eles Jayme Cortez, Julio Shimamoto, Flávio Colin se reuniu em 1961 disposto a defender o quadrinho nacional, acabando de vez com o imperialismo norte americano. Com manifesto, acusaram as editoras que só publicavam histórias estrangeiras, transmitindo assim uma realidade alienígena. As editoras boicotaram o movimento. Para se defenderem, as quatro editoras (Ebal, Rio Gráfica, Abril e O Cruzeiro) criaram uma cópia do Comics Code norte americano, que chamaram de Código de ética. Esse Código garantia que as histórias, apesar de estrangeira, não eram nocivas à formação dos jovens leitores. Nocivas eram – segundo eles – as histórias de terror publicadas pelas editoras paulistas (La Selva, Outubro), que não se submeteram ao Código.


A lei que regulamentava a publicação de histórias nacionais chegou a ser decretada, mas nunca cumprida. Com a renúncia de Jânio Quadros, os planos de nacionalizar os quadrinhos foram por água abaixo. Os processos foram arquivados e as editoras não precisavam mais de se apoiar no Código de Éticas para se manter de pé, e por isso chegaram até a abandoná-lo de vez. O mercado de trabalho foi drasticamente cortado: as editoras pequenas fecharam as portas, e as grandes se recuravam a fornecer trabalho aos desenhistas que estavam ligados ao movimento. Eles então fundaram uma cooperativa no Rio Grande do Sul, a CETPA (Cooperativa Editora de Trabalho de Porto Alegre) que só publicava histórias sobre temas nacionais, mas que acabou pouco tempo depois. A conturbada situação política da época, acabou aniquilando completamente o movimento.


Em 1962, Leonel Brizola (RS) declarou proibida a entrada de quadrinhos estrangeiros nesse estado e, às bancas, só chegavam produtos nacionais. A medida provocou uma avalancha de desenhistas às terras gaúchas. Mas faltava divulgação e estrutura para distribuição dessas novas publicações.


Com as dificuldades cada vez maiores para sobreviver nos moldes do modelo americano, a solução foi partir para o quadrinho cartunístico. Usando esse recurso, nascem os quadrinhos de traços nervosos, mas profundamente críticos como Os Fradinhos (1964), de Henfil, Dr Macarra (1962) de Carlos Estevão, Os Chopinik´s, de Jaguar, O Pato, de Ciça e o alternativo O Pasquim.


No dia 26 de junho de 1969 chegou às bancas o semanário O Pasquim que se tornara a mais importante publicação de humor nos 20 anos do Regime Militar. No início foi um jornal de costumes. O semanário foi um reduto de humor que surgiu para revolucionar a imprensa e o humorismo brasileiro. O cartunista Henfil continuou com a tradição da "tira" com seus personagens contestadores Graúna e Os Fradinhos.

Nildão lança novo livro no Rio Vermelho

O cartunista e designer Nildão promove big festa para lançar "Alegria Passa-e-Fica"", seu décimo quinto livro. Será dia 29 de março, quinta-feira, a partir das 21 horas no Bar Santa Maria, próximo a Dinha, no Rio Vermelho. A animação fica por conta de DJ Roger N' Roll & Dj Rafabela e o ingresso custa 30 reais e dá direito a um exemplar do livro.


O novo trabalho em formato compacto e de capa dura possui uma abordagem inusitada sobre as cidades brasileiras. Já na apresentação o autor nos dá pistas sobre a criação desse novo livro: "descobri o mapa da mina quando avistei as 5.565 cidades brasileiras. Uau! Garimpei nomes, comparei sotaques, avancei fronteiras na busca frenética da cartografia poética do meu eu Interior."


"Alegria Passa-e-Fica" faz um contraponto bem humorado com os nomes de 316 cidades brasileira. A brincadeira já começa no jogo de palavras do titulo da obra: Alegria fica no Rio Grande do Sul e Passa-e-Fica situa-se no Rio Grande do Norte. Sem acrescentar uma palavra sequer e se valendo apenas dos nomes originais das cidades Nildão criou um vasto e instigante mosaico brasileiro


Link da animação:

http://www.youtube.com/watch?v=6Gu9QjisSi8&feature=youtu.be

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

22 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (4)

Mesmo com uma enxurrada de personagens norte americanos havia personagens brasileiros: A Garra Cinzenta (1937) de Francisco Armond e Renato Silva; Audaz (1938), de Messias Mello; O Amigo da Onça (1943) de Péricles; no gênero do faroeste apareceu a revista do Jerônimo, publicada em 1957, desenhada por Edmundo Rodrigues baseada em uma novela de rádio. Julio Shimamoto publica O Gaucho (1964), Flavio Colin publica Vizunga (1965).


O Garra Cinzenta era uma série noir veiculada de 1937 a 1939 no jornal paulistano A Gazeta. O roteirista assinava como Francisco Armond, mas seria na verdade uma mulher, Helena Ferraz de Abreu. O desenho era de Renato Silva. Durante os dois anos em que circulou no suplemento A Gazetinha, a história que a princípio saía três vezes por semana teve a veiculação interrompida em mais de uma oportunidade, chegando a ficar meses sem dar sinal de existência.


O grande interesse do público – restrito a São Paulo, num momento em que os cariocas Suplemento Juvenil e O Globo Juvenil eram as mais importantes publicações de quadrinhos do País – levou A Gazeta a publicar, em dezembro de 1939 e janeiro de 1940, dois álbuns com a íntegra da aventura. A história gira em torno de misteriosos assassinatos na capital paulista. A vítima recebe um cartão da garra negra e logo em seguida é morta de maneiras originais.


O caso é investigado pelo detetive Higgins e seu parceiro Miller e com o decorrer da história que vai ficando cada vez mais macabra, eles vão se envolvendo em uma trama com ressurreições, robôs (na época chamados de automatas, lembrando que o termo robô foi criado na literatura de Azimov) e até um Homem-macaco. Mas o destaque é o grande violão da trama, trajando uma capa preta e uma cabeça de caveira, seu visual mais as estranhas criaturas que habitam esse mundo levam Garra Cinzenta a ser considerada a primeira, e mais icônica, HQ de terror.

A criação de Péricles Maranhão (O Amigo da Onça), foi publicada entre 1943 e 1962 no Cruzeiro, a revista de maior circulação do país na época. Foi talvez o personagem de cartum mais conhecido do Brasil, considerado inclusive como uma das razões do sucesso da revista na época. Ao perceber que muitos só liam o cartum, publicado na contra-capa da revista, e não a compravam, os editores passaram a publicá-la no meio da revista. Com desenho do criador, foi publicada semanalmente por 18 anos ininterruptos. Depois do suicídio de Péricles, foi continuada por Carlos Estêvão por mais alguns anos e, nos anos 90, por Jal & Kipper.


O Amigo era cruel, sádico, maldoso, malicioso. A sua irreverência encantava o brasileiro. O seu mau caráter era amado. Por ser um personagem peralta e travesso, talvez até parecido com o povo brasileiro, tornou-se uma instituição nacional. O Amigo da Onça tornou-se um dos personagens mais populares do país. O êxito foi absoluto em todo o Brasil: aparecia em bonequinhos, máscaras de carnaval, reproduções diversas e até personagem em teatro de comédia, sem que Péricles nada recebesse por isso. Tão célebre se tornou que, hoje, chamamos “amigo da onça” a alguém que se passa por nosso amigo para nos prejudicar. O Amigo da Onça é um dos mais importante cartum personagem. Cada nova página revela um profundo conhecimento do “espírito” satírico do brasileiro.


O no.1 da revista do Jerônimo,O Heroí do Sertão, foi publicado em l957 sendo a primeira história Laços de Sangue. O personagem foi baseado em uma novela homônima da Rádio Nacional, do escritor Moysés Weltman, que o desenhista Edmundo Rodrigues adaptou, criando os personagens para HQS. Paladino da justiça e andarilho dos sertões brasileiros, ele estava sempre à disposição, onde quer que o bem precisasse triunfar. Tendo ao lado o inseparável ajudante Moleque Saci, o personagem fez a alegria dos fãs durante 62 edições mensais e cinco almanaques especiais, escritos por Moysés Weltman, desenhados por Edmundo Rodrigues e publicados pela RGE. Em 1972 a extinta TV Tupi apresentou uma versão televisiva de suas aventuras.


Foi no formato de tira que estrearam os personagens de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica no fim de 1959. Com Bidu, inicialmente como tira, Mauricio principia a saga infantil, a mais bem sucedida experiencia editorial brasileira no campo dos quadrinhos, criando um rico elenco de personagens, que inclui Monica, Cebolinha, Cascão, Jotalhão, Astronauta, Papa Capim, o Louco e muitos outros. Só mais tarde, em 1970, suas histórias passaram a ser publicadas em revistas.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

21 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (3)

Em O Tico-Tico foi publicada também a série O Talento de Juquinha, do carioca José Carlos de Brito e Cunha, mais conhecido por J. Carlos, considerado um dos maiores nomes dos quadrinhos e do humor gráfico brasileiros. Ele esteve à frente da revista desde o início e foi um de seus maiores ilustradores, criando ainda os personagens Jujuba e seu pai, Carrapicho e a negrinha Lamparina, que é considerada sua maior criação nas HQs.


Max Yantok publicou a partir de 1910 Kaximbown, tornando-se um de nossos principais caricaturistas. O personagem era um grã-fino metido a intelectual e aventureiro que portava seu inseparável cachimbo. Na companhia de Pipoca, seu criado, fazia viagens de aventuras e descobertas por lugares míticos como a Pandegolândia. Yantok criaria ainda vários tipos cômicos, como o Barão de Rapapé, o palhaço Tony Malasorte, Pandareco e Chico Preguiça, demonstrando fôlego e criatividade.


Em 1911, Alfredo Storni criou o casal Zé Macaco e Faustina, dois anos antes do surgimento da famosa dupla Pafúncio e Marocas (Bringing up Father, no original), do norte-americano George McManus. Zé Macaco e Faustina eram um casal marcado pela feiura e pela idiotice, que se esforçava para aparentar boa educação, inteligência e por estar na moda. Alfredo Storni apresentou também As Mentiras de Manduca.


Mas, sem dúvida, um dos grandes destaques da revista foi a série Réco-Réco, Bolão e Azeitona, obra imortal de Luiz Sá, com seu inconfundível traço sinuoso. Criados em 1931, Reco-Reco, Bolão e Azeitona, eram três garotos trapalhões que apareciam em O Tico-Tico. Bolão ficou tão popular que, em 1961, virou uma série de figurinhas do chiclete Ping-Pong. O cearense Luiz Sá estreou na edição 1331, em 8 de abril de 1931, colaborando com a publicação por três décadas. O talentoso artista destacou-se pela originalidade de seu traço e pela graciosidade de suas criaturas. Além de publicar inúmeras ilustrações e desenhar capas para O Tico-Tico, criou outros personagens, como o papagaio Faísca, o detetive Pinga-Fogo e a negrinha Maria Fumaça.

O Tico-Tico resistiu até fevereiro de 1962. As edições semanais foram dando espaço às mensais e depois bimestrais, aos almanaques e especiais dirigidos a pais e professores, até que, finalmente, com a marca excepcional de 2097 edições e quase 57 anos de existência, encerrou uma saga ainda não igualada pela revistas infantis nacionais.


Durante o governo de Juscelino Kubitscheck (1956/1961) foram livres os sindicatos, as manifestações artísticas e científicas - apareceram a música de protesto, o Cinema Novo, a Bossa Nova. Foi livre a imprensa. É nesse período que tem início a quadrinização de artistas populares como Arrelia e Pimentinha, Mazaropi, Oscarito e Grande Otelo, Carequinha e Fred. É o surto de nacionalização. Ziraldo lança na O Cruzeiro o seu Pererê. Moyses Weltman cria Jerônimo, o herói do sertão. Álvaro Aguiar cria O Anjo. Mauricio de Sousa cria Bidu e Cebolinha. O quadrinho brasileiro começa a tomar fôlego. Apesar do pequeno surto de nossos quadrinhos, Juscelino foi também um aliado fraterno das multinacionais.


Em São Paulo, no ano de 1925, através do desenho de Belmonte, concebido especialmente para figurarem na Folha da Noite, nascia um dos mais populares personagens daquele cotidiano, o José da Silva Pato – vulgo Juca Pato -, talvez “o primeiro personagem essencialmente urbano na caricatura brasileira”.Assim nas décadas de 1930 e 1940 Juca Pato e foi um dos personagens mais populares do dia a dia dos paulistanos. Careca, “de tanto levar na cabeça”, adotava o lema conformista “podia ser pior”, virou bordão na cidade de São Paulo e atravessou fronteiras. Hoje Juca Pato é nome de prêmio literário, conferido anualmente pela União brasileira de Escritores ao intelectual do ano.


Carlos Estêvão de Souza entrou para os Diários Associados (Diário da Noite) em 1948, onde passou a trabalhar com Vão Gôgo (Millôr Fernandes) na tira Ignorabus, o contador de histórias. O trabalho era totalmente diferente das tiras convencionais da época, brincando com os recursos da metalinguagem e do non-sense.


Além de Ignorabus, Carlos Estêvão criou outro personagem: Dr. Macarra era tipo de mandrião sempre a contar vantagens em situações que lembram o já citado quadro "As aparências enganam". Em geral, seu tema são as memórias do Dr. Macarra, versão livre narrada por ele mesmo a uma interlocutora embevecida. Um exemplo é a série Dr. Macarra em Cuba. Num dos quadros ele se gaba de que em Cuba servia de exemplo à juventude. No quadro seguinte, em flash back, ele está caído numa calçada, completamente bêbado, enquanto uma mãe o mostra ao filho: Myra, hijo, los hombres que beben tequilla acaban así, cahidos en las calles. Dr. Macarra chegou a ter uma revista própria que, como toda revista do gênero no Brasil, teve vida curta. Durante o ano de 1962, foram lançados nove números da Dr. Macarra.

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