30 março 2019

Bordões presidenciais. De Deodoro da Fonseca a Bolsonaro


Desde a Proclamação da República (1889), os governantes do País não resistiam ao apelo das frases de efeito. Cada momento da República a História registra um bordão, uma máxima, um slogan.

 


1891 – Marechal Deodoro da Fonseca: “Assino a carta de alforria do último escravo do Brasil”. O “escravo” era o próprio, e a carta, a de renúncia no dia 23 de novembro.



1930 – Washington Luís, tido como presidente frasista: “Governar é abrir estradas” (mote associado ao progresso). “A questão social é um caso de polícia” (sobre as greves).

 


1937-45 - Getúlio Vargas iniciou a ditadura do Estado Novo com um bordão populista: “Trabalhadores do Brasil”.



1946 – O sucessor de Getúlio, marechal Eurico Gaspar Dutra teve um diálogo em 1947 na visita do presidente norte americano Henry Truman: “How do you do, Dutra?. How tru you tru, Truman?”. Ele nunca gostou das frases atribuídas a ele.



1954 – Acuado por denúncias de corrupção, Getúlio Vargas deixou sua tragédia escrita em uma carta-testamento: “Saio da vida para entrar na história”.



1961 - O líder populista de São Paulo, Jânio Quadros se colocou com o discurso de varrer a corrupção do país. “Varre, varre, vassourinha”. “O homem do tostão contra o milhão” que iria “sanear” a nação. Ele jurou, até a morte, jamais ter pronunciado ou escrito “fi-lo porque qui-lo”. E não teria responsabilizado “forças ocultas” por sua renúncia ao governo em 1961. “Foram forças terríveis”, corrigiu Jânio.

 


1956-61 – O médico Juscelino Kubitschek assume a presidência com a bandeira do desenvolvimentismo. Sua meta era mudar a capital federal do litoral para o centro-oeste. “Brasília, a capital da esperança”. “O Brasil vai viver 50 anos em 5” ou “Um governo forte se faz perdoando”

 


1969 - O gaúcho General Emílio Garrastazu Médice era dado ao estilo ufanista: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. “Homens do meu tempo, tenho pressa...” (ao discursar assumia ares messiânicos). “Ninguém segura este país”, dizia o departamento de propaganda do governo. Data da época deste governo a famosa campanha publicitária cujo slogan era: "Brasil, ame-o ou deixe-o" inspirada no dístico conservador americano "Love it or leave it".



1974-79 - Mais um general, desta vez outro gaúcho Ernesto Geisel assumiu a presidência com a missão de iniciar o processo de abertura no país e de levar de volta os militares para os quartéis



1979-85 - Outro general, João Batista Figueiredo foi o escolhido para governar o país. De uma truculência quase caricatural, dono de frases que seriam hilárias se, antes, não soassem absurdas na boca de um presidente militar. Antes de entregar o poder aos civis, preferiu o mau humor: “Gosto mais do cheiro de cavalo do que do cheiro do povo”. E ao dirigir-se aos jornalistas: “Peço que me esqueçam”.



1984 – O presidente Tancredo Neves morreu em 1985, sem conhecer o gosto do cargo, mas é o autor dessas frases, driblando a esquerda e a direita: “Entre a Bíblia e o Capital (o livro de Karl Marx, com as bases econômicas do comunismo) prefiro o Diário Oficial”. Eleito presidente, fugiu das especulações sobre os nomes dos novos ministros com esta saída: “Na composição do ministério, a gente deve deixar as ondas baterem umas nas outras para depois estudar a espuma”.



1985-90- O maranhense José Sarney que ficou no lugar de Tancredo, em julho de 1985 soltou o verbo: “O destino não me trouxe de tão longe para ser sindico da catástrofe...”

 


1990-92 – Fernando Collor na campanha eleitoral: “Caçador de marajás”. “Não me deixem só”. No discurso de posse: “Vencer ou vencer”. Além de divulgar suas mensagens em camisetas.



1994-98 - Slogan, usado nas campanhas eleitorais de Fernando Henrique Cardoso à Presidência: "Gente em primeiro lugar".

 


2003-11 - Luiz Inácio Lula da Silva: “Uma palavra resume provavelmente a responsabilidade de qualquer governante. E essa palavra é estar preparado´.”.“O futuro será melhor amanhã”. “Eu mantenho todas as declarações erradas que fiz”. "Lá, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar" (em 4 de outubro de 2008, ao comentar os efeitos da crise financeira no país). "Tem hora em que estou no avião e, quando alguém começa a falar bem de mim, meu ego vai crescendo, crescendo, crescendo... Tem hora que ocupo, sozinho, três bancos com o ego" (abril de 2010).

 


2011-16 - Dilma Rousseff: “Na vida a gente não sobe de salto alto”. “O meio ambiente é uma ameaça para o desenvolvimento sustentável”.



2019 - Jair Bolsonaro: "Não houve golpe militar em 1964" (durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, 30 de julho de 2018).

29 março 2019

Radiografia de uma terra decadente


Ela está no coração do Brasil, sintetiza antiguidade e modernidade e possui, de longe, o maior patrimônio cultural do país. Com 500 anos de história, os baianos resistiram aos costumes dos invasores europeus. Sentido estético exacerbado, exibicionismo, auto-suficiência (bem do signo de áries) e uma impávida certeza de que o caos daí decorrente será compensado por encantos que não se encontram em qualquer lugar do mundo. Em outras palavras, decadênciamas com elegância.



Esse é um diagnóstico que qualquer turista faz desde o momento em que enfrenta os inconvenientes do Aeroporto Dois de Julho (mudado para Luis Eduardo Magalhães) até a hora em que paga a última conta de restaurante na Barra ou Rio Vermelho.



Que fascínio é esse que vai bem além de belas igrejas, museus, mulheres, paisagens e gastronomia?. Mas, quem chega mais perto conhece o ridículo da obsessão do baiano pelo barulho (cada um quer tocar seu aparelho em alto volume como se fosse um trio elétrico, seja no carro, no bar ou em qualquer lugar, o espírito trio eletrizante parece ter enraizado, e tome-lhe som na estratosfera. Haja ouvidos!!!), a pobreza de urinar nas ruas e praças como se o privado fosse público (segundo os estudiosos, esse defeito veio desde os político na época imperial e o poeta Gregório de Mattos denunciava em suas trovas), o falar alto e aberto em qualquer hora (Caetano Veloso confirmava na música Tieta), o misturar o público com o privado, o apego a celulares (isso é da modernidade insana) e as músicas sem qualidades (que muitos a defendem como se fosse cultura popular, ledo engano). Talvez esse apego aos gestos, mais do que ao bom comportamento, faz de cada encontro um pequeno ritual erótico que transforma estrangeiros e visitantes em voyeurs, desejosos de fazer parte do jogo.



Fazer xixi na rua, jogar lixo pela janela, parar o carro no passeio, destruir o patrimônio público são maus hábitos do baiano. Para os antropólogos este desleixo da população com o bem púbico é porque tudo que é público é visto como terra de ninguém. O estado desrespeita o cidadão, começando com mau exemplo.



Atravessar pistas sem nem sequer esperar o sinal do semáforo, atender celular no trânsito, levar cachorros para fazer cocô na calçada e na praia, falar alto dentro do ônibus contando particularidades da vida privada de si ou do vizinho. A deseducação começa dentro de casa. O filho os pais desrespeitando as vias públicas, ou seja jogando lixo, atravessando as pistas longe dos semáforos, desrespeitando as regras de trânsito como beber e dirigir, estacionar nas calçadas, passar em fila duplas e outras atrocidades.



Salvador precisa ser repensada sob o ponto de vista econômico, urbano e social. Na década de 1940, foi criado o plano de Salvador urbanisticamente moderno. Hoje é necessário um programa para melhorar a qualidade de vida do soteropolitano.



Na Bahia, 56% dos domicílios foram considerados impróprios para se viver pela pesquisa de Indicadores do Desenvolvimento Sustentável (IDS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado com dados de 2008 e publicado em 2010. As estatísticas percentuais do Estado estão acima dos números nacionais, que trazem 43% dos  imóveis pesquisados como inadequados, totalizando cerca de 24,7 milhões de lares dentre os 57, 5 milhões de casas pesquisadas.



No estudo, foram consideradas adequadas as residências com serviços de abastecimento de água por rede geral, esgoto para rede coletora ou fossa séptica, coleta de lixo direta ou indireta e com um máximo de duas pessoas por dormitório. A Bahia apresenta um grande  contingente de domicílios no meio rural, o que interfere na média do Estado. Os dados mostram que a Bahia enfrenta maiores problemas com esgoto.

 


Estamos na Bahia, a terra do orgulho e da autoestima, mas a educação que é um bom sinal, continua em baixa. É olhar nas estatísticas.A educação sozinha não faz mudança, mas nenhuma grande mudança se faz sem a educação, disse o educador colombiano Bernardo Toro. Educação não é apenas atribuição das escolas. Educação é responsabilidade também da família e da sociedade na formulação e na validação dos valores básicos dos nossos jovens e das nossas crianças. (Texto originalmente escrito em 2016)