31 janeiro 2012

Almandrade documenta 40 anos de arte

“Almandrade – Esculturas, Objetos, Pinturas, Desenhos, Instalação e Poemas Visuais” é o título da exposição comemorativa que documenta 40 anos de arte do artista plástico Almandrade. A mostra até o dia 26 de fevereiro de 2012 na Caixa Cultural SP faz um recorte do trabalho elaborado em mais de três décadas de utilização do objeto para estimular o pensamento e provocar a reflexão, segundo critério fundamentados na racionalidade, na materialidade e, não por acaso, na economia de dados. Artista compromete-se com a pesquisa de linguagens que envolvem artes plásticas, poesia e conceitos.


A proposta artística de Almandrade convida o espectador a pensar sobre a própria natureza da arte. Depois da passar pelo concretismo e arte conceitual nos anos 70, seu trabalho prossegue na busca de uma linguagem singular, limpa, com um vocabulário gráfico sintético. Redescobre a cor no começo dos anos 80 e os trabalhos, quer sejam pinturas ou objetos e esculturas, ganham uma dimensão lúdica, sem perder a coerência e a capacidade de divertir com inteligência.


Um escultor que trabalha com a cor e com o espaço e um pintor que medita sobre a forma, o traço e a cor no plano da tela. A arte de Almandrade dialoga com certas referências da modernidade, reinventando novas leituras.


Apesar de percorrer o figurativo no início da carreira, fincou sua identidade pautada na arte conceitual, nos concretistas, neo-concretistas e minimalistas. Sempre os poucos elementos e o aspecto enxuto que vai direto ao ponto vão imperar em suas criações.


Almandrade é o nome artístico de Antonio Luiz M. Andrade, Artista plástico, poeta, professor de teoria da arte e arquiteto com mestrado em Urbanismo, pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, é considerado pela crítica como um pioneiro da arte contemporânea da Bahia., participou de importantes mostras nacionais e internacionais como Bienal de São Paulo. Experimentalista assumido, Almandrade vem se comprometendo com a pesquisa de linguagens artísticas desde l972, onde ora se envolve com as artes plásticas, ora com a literatura. Poeta da arte e artista da poesia. Realizou cerca de trinta exposições individuais em várias capitais, autor do livro de poesia “Arquitetura de Algodão”.. É um dos principais divulgadores e questionadores da arte contemporânea no Brasil. Ou melhor, um defensor da arte como instrumento de pensamento e não de entretenimento.


Num retrospectiva das três décadas de produção artística, as obras de Almandrade, em formas, cores e poética, recheados com a significação de um teórico dos sentidos (criador do Grupo de Estudos de Linguagem da Bahia, editou a revista Semiótica em 1974), serão alvo de percepções do público.


LEVEZA


Ao longo dos anos o trabalho de Almandrade vem se impondo como um lugar de reflexão, solitário e à margem do cenário cultural baiano. Desde seu abstracionismo geométrico e arte conceitual, até seu mergulho na poesia concreta e no poema/processo, o artista tem sua marca. E de lá para cá ele vem se tornando mais rigoroso da arte conceitual. Desenhos em preto-e-branco, objetos e projetos de instalações, essencialmente cerebrais, calcados num procedimento primoroso de tratar questões práticas e conceituais, marcam a produção deste artista na segunda metade da década de 70.


Nos anos 80 ele redescobre a cor e seus trabalhos ganham uma dimensão lúdica, sem perder a coerência e a capacidade de divertir com inteligência. Um poeta da arte e um artista da poesia. Seja na pintura ou escultura, a arte de Almandrade dialoga com certas referências da modernidades, reinventando novas leituras. Trabalha com o mínimo de elementos pictóricos, duas ou três cores, dois planos, duas ou três texturas, um traço, etc. e vemos uma pintura, um objeto e uma escultura. A simplicidade que predomina nas composições desperta a imaginação e o raciocínio. Ele traz uma poética do mínimo e da leveza.


O percurso dos séculos

espelha rugas

na geografia da pele

e atrai o silêncio

das notas musicais

os que vão nascer

não vão experimentar

o futuro

vão se render

ao presente.



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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

30 janeiro 2012

Código moral da sociedade

A maioria das sociedades precisou de alguma forma de código moral como base para a vida em comunidade e, portanto, a criou. Talvez nem todos concordem com as regras escolhidas ou as considerem particularmente morais, mas um padrão de controle comportamental parece sempre surgir, mesmo se em certas ocasiões em nível aparentemente mais baixo que em outras.


A história demonstra que definições de hábitos de bem e mal têm sido substancialmente diferentes em diferentes situações, mas em cada exemplo pressionou-se o indivíduo a seguir a ética do seu povo, embora essa ética pudesse ser comparada a outras moralidades de aceitação mais geral. “O homem – disse R.S.Peters -, é um animal que segue regras”. Contudo, as regras mudam de acordo com as pressões, ambições e idéias dos que as inventam, os quais precisam persuadir os demais a segui-las, daí a máxima de C.L.Stevenson: “Moralidade é persuasão”. E a persuasão se torna mais fácil porque a maioria das pessoas não quer raciocinar a respeito dela. A verdadeira liberdade para tomar decisões é um doloroso fardo, como observaram Bérgson, Jean-Paul Sartre e os existencialistas. Códigos de uma moralidade já pronta e empacotada, que remove esse incômodo, são, pois, convenientes, desejáveis, úteis.


Um código moral é um sistema de padrões éticos pelos quais uma dada sociedade controla o comportamento de seus membros, motivando-os para que atinjam os objetivos dela. É um processo de controle psicológico de grupo que geralmente proporciona uma estrutura bem mais ampla de manipulação do que a corporificada apenas no código legal dessa sociedade. Em tal sociedade, quem se rebelar contra o código será considerado uma pessoa imoral, mesmo que mais tarde pesquisadores julguem que o rebelde estava certo e a sociedade, errada.


A partir do século IV, a Igreja Católica começou a pensar em termos de heresia e, portanto de tortura como meio de purgação. O começo da Idade Média foi o período de experiência da provação. O século XVII foi a era da humilhação pública, da cadeira de tortura, do tronco e do ferro em brasa. O século XVIII foi do açoite e o XIX das maldosas variantes do aprisionamento, do desterro, dos trabalhos forçados, das casas de correção e campos de concentração. Os códigos morais são produtos de seus ambientes, resultado de uma mistura de pressões econômicas, psicológicas e políticos. O catolicismo do século XIV produziu uma moralidade que incentivava a queimar na fogueira os membros não-ortodoxos de sua própria fé.


Em seu livro sobre “A Assustadora História da Maldade”, Oliver Thomson traz uma profunda compreensão das complexas relações entre as crenças de uma sociedade e seu comportamento. A ideia dominante e provocativa do autor é que a moralidade está sujeita aos costumes e aos caprichos dos ricos e poderosos, como em qualquer outro aspecto da vida humana. Para a maioria de nós, todo código ético propõe a virtude e condena o mal. Entretanto, muitos crimes foram e são cometidos em nome do que se supõe ser a virtude, caminho para o poder ou o prestígio, em todos os períodos históricos. O genocídio fez parte da ética fascista, o infanticídio, de espartana. Os jesuítas praticavam a tortura, os puritanos queimavam as bruxas, os membros do IRA e do ETA creem na validade do assassinato. O que faz com que o conceito do bem (e, portanto, o do mal) mude conforme a época, o povo e o contexto sócio econômico?


Toda época é escrava de suas convenções. Em todos os tempos, e em todas as latitudes, uma tenaz resistência às pressões da norma percorreu as margens. A norma sempre esteve presente, mas a transgressão também. A memória das sociedades e seu imaginário atestam a permanência de uma contracultura sexual e de uma resistência libertina. De século em século, prosseguiu assim uma história amorosa paralela. A dialética reinventada entre a proibição e a transgressão surgiu a idéia de um equilíbrio social indefinível que seria permanentemente buscado e seguidamente rompido.


Das civilizações egípcia e mesopotâmica à idade moderna, passando pela cidade greco romana, pelos princípios do cristianismo, da Idade Média e do Iluminismo, seria possível reconstituir todo o nosso passado por meio de uma história da literatura licenciosa e da transgressão artística. Não há um século, uma época, ou uma arte que não tenha seu “inferno” ricamente dotado. Nele se encontra, sob formas infinitamente variadas, uma mesma ciência do interdito, uma mesma forma de designar tudo desafiando-o. Clandestina ou não, esta cultura erótica é como uma placa fotográfica hipersensível, um negativo da cultura oficial cujos avatares, conseqüências e momentos de crise ela registra a contrário.


Todos os períodos da História abrigaram seus próprios dissidentes. Sociedade alguma jamais foi inteiramente normalizada, mesmo tendo cada uma estabelecido suas normas. Houve agnósticos em plena Idade Média cristã, libertinos no século 19, pornocratas na Inglaterra calvinista, despreocupados pacifistas às vésperas da Grande Guerra, puritanos declarados em maio de 68, etc. As grandes evoluções da moral sexual nunca envolveram a coletividade como um todo. Elas tiveram apenas uma significação majoritária, global, antropológica. Ficar de acordo com os valores dominantes em seu tempo ou se confrontar com eles, aceitar o peso do holismo ou oferecer-lhe resistência, esta margem permanece sempre em aberto. E remete cada homem a sua irredutível liberdade. A pressão coletiva é sempre poderosa, mas nunca o é de forma absoluta.

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27 janeiro 2012

Orlando Moscozo, empreendedor

Há 90 anos nascia o empresário e político Orlando Moscozo. O texto a seguir está publicado no meu livro “Gente da Bahia, volume dois”: Orlando Moscozo Barreto de Araújo nasceu no dia 28 de janeiro de 1922 no município de Mundo Novo, na Bahia. Ele se considerava filho da região das Lavras Diamantina, zona de Lençóis onde a família desenvolveu seu potencial econômico. Formou-se na Faculdade de Medicina da UFBA em 1945. Porém não chegou a exercer a profissão, dedicando-se às atividades de político e empresário. Desde os anos de juventude ele tinha postura de líder. Foi presidente da União dos Estudantes da Bahia em 1943/44, ano em que entrou para a Força Expedicionária Brasileira. Nesse período organizou o setor de abastecimento e suprimento às famílias dos soldados convocados para a guerra. Foi nomeado, por causa disso, presidente da Legião Brasileira de Assistência (1947/50). Em 1953 foi vice-presidente da Associação Comercial e presidente da Bolsa de Mercadorias. De 1953 a 1954 foi presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia.


Em 1954 elegeu-se deputado estadual (1955/1959), quando apresentou projetos de larga influência sócio-administrativa, como reorganização dos serviços telefônicos do Estado, criação do Conselho do Comércio da Bahia e reorganização da Bolsa de Mercadorias. Em outubro de 58 exerceu o cargo de vice-governador (1959/1963) de Juracy Magalhães e interinamente o governo do Estado, na ausência do governador. Em abril de 1963 foi reeleito novamente vice-governador, ao lado do governador Lomanto Júnior. Em 68, após cumprir seu mandato de vice-governador, afasta-se da política e se volta para a vida empresarial, ampliando a empresa Barreto de Araújo Produtos de Cacau S/A, que transformou-se na maior fábrica de moagem do mundo, processando mais de 1 milhão de sacas por ano e exportando anualmente algo em torno de US$ 120 milhões. Com o objetivo de promover uma assistência privada de base aos componentes do grupo Barreto de Araújo, organizou a criação da Fundação Barreto de Araújo. Em 1983 foi eleito presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), função que desempenhou até 1992, sendo reeleito várias vezes. Em 1988 admitiu voltar à política, embora cassado pelo AI-5. Em 1994, já afastado da cena pública, Orlando Moscozo recebeu a Medalha Thomé de Souza outorgada pela Câmara Municipal de Salvador. Em 1996 era presidente do Sindicato da Indústria da Extração de Óleos Vegetais e Animais de Produtos de Cacau e Balas no Estado da Bahia, e conselheiro da FIEB, como membro do Conselho de Representantes e suplente de delegado junto à Confederação Nacional da Indústria.


Entusiasta do desenvolvimento econômico do estado, foi ele quem promoveu a substituição da atividade primária que prevalecia, pela atividade industrial, não somente na capital, mas também no interior. Levou a empresa Barreto de Araújo, herdada de seu pai, a grandes iniciativas. Dentre as realizações do seu grupo empresarial destacam-se a maior fábrica de chocolate amargo do mundo, em Ilhéus, fábrica de óleo de mamona, fábricas de papel, fábrica de sucos, em Sergipe, ao todo 18 empresas, além de outros empreendimentos na agricultura e na pecuária. Era um pioneiro em alguns ramos da atividade empresarial na Bahia. Também no comércio, deixou marcas indeléveis de sua atuação, tornando o seu grupo um dos maiores exportadores de cacau, óleo de mamona, chocolate amargo, sucos etc, com escritórios em Londres, nos Estados Unidos e em outros grandes centros da economia mundial. Igualmente na construção civil, teve atuação de destaque, deixando em Salvador vários empreendimentos arrojados, inclusive os conjuntos Antonio Carlos Magalhães e João Durval Carneiro.


Presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia, deixou instalado um centro de preparo profissional do Senac na Rua Dr. J.J.Seabra e um ginásio do Sesc na Av. Castelo Branco. Na presidência da Federação das Indústrias, assinalou a sua passagem por várias iniciativas no campo da formação de mão-de-obra, inclusive através de convênios com instituições estrangeiras e na assistência social aos industriários, culminando com a aquisição de sede própria em que hoje funcionam a Federação, o Sesi e o Senai. No campo da assistência social, criou a Fundação Joaquim Barreto de Araújo, através da qual ajudava a várias instituições sociais de Salvador e prestava assistência aos milhares de empregados das 18 empresas do grupo Barreto de Araújo, sendo uma das últimas instituições a receber a sua ajuda a Fundação Baiana de Cardiologia, presidida pelo próprio Álvaro Rabelo, uma das organizações hospitalares de doenças do coração mais conceituadas do País.


Orlando Moscozo faleceu no dia 17 de outubro de 1996, aos 74 anos. Acometido por um derrame cerebral que o imobilizou no leito de enfermo por longos meses, a Bahia perdeu uma de suas lideranças mais autênticas, quer no empresariado, quer na política. E deixa à Bahia um legado de pioneirismo e ousadia que serve de exemplo às futuras gerações. Durante a breve missa rezada pelo padre Gilberto Luna, não foi esquecida a atuação positiva de Moscozo, um dos maiores entusiastas do desenvolvimento econômico que o estado já teve, com participação efetiva na vida pública, deixou marcas também na indústria, comércio, entre outros setores. O governador da época, Paulo Souto destacou o pioneirismo de Orlando na indústria e o seu papel no desenvolvimento da Bahia, marcando presença significativa na vida empresarial e política do estado. O então secretário da Indústria e Comércio, Jorge Khoury, apontou o empresário como responsável pela implantação de um novo estágio econômico na Bahia. “Orlando Moscozo foi um empresário corajoso que participou de várias atividades e ousou expandir o leque de suas empresas criando um estágio novo para o estado”. Para Walter Pinheiro, na ocasião diretor da Tribuna da Bahia e colega de Rotary de Orlando Moscozo, “ele foi um exemplo de liderança política, empresarial e classista, não lhe faltando tempo para atividades sociais e filantrópicas que dignificaram sua pessoa por este mundo”.

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26 janeiro 2012

Mordaça brasileira

Há 595 anos, quando o Brasil ainda era adolescente, nasceram nossas primeiras regras de censura. Isso mesmo, em 1517 os portugueses começaram a montar o tripé institucional que regulamentaria a censura na metrópole (e consequentemente na colônia) até 1768. Juízes eclesiásticos denominados Ordinário, representantes do Estado absolutista (cuja instituição era chamada de Mesa do Desembargo do Paço), e pelo Santo Ofício da Inquisição. Era essa a estrutura formada para censurar.

A censura nesses primeiros séculos, tanto no Brasil quanto em Portugal, seguia ditames religiosos, amordaçando grandes literatos como Gil Vicente e até Camões. Segundo as professora de Historiada USP, Maria Luíza Tucci Carneiro, “o argumento usado para apreender e queimar livros é que eles feriam a verdadeira fé católica. É uma luta contra o herege, o inimigo número um deles”.


A repressão só começaria a mudar de ritmo com a ascensão do marquês de Pombal ao poder português. Assim, o ministro do rei dom José 1º cria, em 1768, a Real Mesa Censória, instituição formada por leigos e religiosos que passou a regulamentar as perseguições oficiais. “A censura ganha um tom político” conta Maria Luiza.”Perseguia não mais o cristão-novo, mas os maçons, que representavam a trama de algo secreto contra o governo, os teóricos da Ilustração, como Voltaire, e os jesuítas, grandes inimigos de Pombal”.


Essa nova censura política se estenderia ao Brasil, que só deixou de espelhar as práticas censoriais portuguesas depois de 1808, com a abertura dos postos e o nascimento oficial da imprensa no país. E a mordaça no Brasil não parou mais. Um mês depois da Proclamação da República, em 1889, já existia um decreto restringindo a atuação da imprensa. Em 1923 é decretada a Lei Adolfo Gordo (senador paulista) que cerceava a atuação da imprensa, e o alvo era os anarquistas e comunistas.


E como explicou a professora: “O século 20 é o auge da censura. E os seus dois grandes momentos são, claramente, o período Vargas, com o DIP e a polícia política atuando como aparatos censores e repressores,e, depois, a ditadura militar, sobretudo o período de 1968 a 1975”. “A censura é a mais forte arma que os regimes totalitários têm utilizado, desde a Antiguidade, para impedir a propagação de ideias que podem pôr em dúvida a organização do Poder e o seu direito sobre a sociedade. Sempre, em todos os tempos, os homens que detêm a direção de um Estado se valem da força para fazer cair os que contestam a sua legitimidade. Pensar diferente foi considerado crime no Antigo Regime, na época moderna, como foi em vários períodos de nosso século”, escreveu a professora Anita Novinsky no capítulo “Os regimes totalitários e a censura”.


Quem deseja conhecer toda a trajetória da censura em território brasileiro não deve deixar de ler a obra organizada por Maria Luiza, “Minorias Silenciosas – A História da Censura no Brasil”, lançada pela Edusp, Imprensa Oficial de SP e a Fapesp. O livro reúne ensaios e depoimentos de 22 intelectuais de campos distintos. Trata-se de um time de historiadores, professores de literatura, jornalistas, sociólogos e educadores. Eles fazem uma analise sobre a censura à atividade intelectual e artística em diferentes momentos da história brasileira, desde o período colonial até os anos posteriores ao golpe militar de 1964.


“A repressão à liberdade não é só inerente aos governos autoritários – lembra José Mindlin na orelha do livro -, ela pode ter outras origens – a Igreja, a existência de classes mais fortes e mais fracas, e as injustiças da sociedade em geral”. “Se quisermos combater a censura, não será ridicularizando seus excessos, mas contestando o seu cerne”, afirma Renato Janine no prefácio da obra.

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25 janeiro 2012

Linguagem proibida

O caráter chulo desta ou daquela palavra ou acepção prende-se aos tabus fisiológicos (especialmente sexuais) que envolvem o corpo humano no contexto social, ou seja, a revelação entre o comportamento público e privado. Transgredir o limite entre o privado e o público (quer no ato, quer no dito) significa “ofender” conveniências/convenções éticas, religiosas ou jurídica – donde a “ofensa”ser usada como “insulto”. Sendo o palavrão ofensa/insulto, e consequentemente policiado na linguagem escrita mais que na falada (já que esta segue menos regras que aquela), fica restrito/rebaixado, respectivamente, à pornografia e à vulgaridade, apenas tolerado sob a camuflagem do eufemismo.


A obscenidade é imoral, mas, para sê-lo, precisa ser dita. O “escondido”deve mostrar-se de alguma forma. E para exibir-se como “escondido” deve utilizar-se de um código próprio: um código que simultaneamente anuncie e oculte sua própria fala. A linguagem é um campo privilegiado que oferece amplas possibilidades para esse jogo, pois as palavras se prestam a duplos sentidos, permitindo a ambigüidade necessária.


Fica o dito, pelo não dito – essa parece ser a fórmula ideal da linguagem erótica. Essa é a ordem da linguagem proibida, instaurando uma linguagem da ordem, ainda que pelo avesso. Pois, nem o obsceno pode fugir à uma ordenação cultural, e a colocação da sexualidade em discurso obedece a uma normatização. Na obra é “A Linguagem Proibida: um estudo sobre a linguagem erótica” Dino Preti revelando uma das formas de discurso popular que os temas proibidos assumiram no Brasil da virada do século. Através das definições do dicionário pode-se perceber a dupla moral de uma época em que o comportamento burguês de “bons costumes” procura mascarar a latente ideologia machista. O processo metafórico se organiza sempre a partir do ponto de vista masculino, e ao desmontá-lo o autor deflagra algumas das formas de opressão da mulher na nossa sociedade.

Há um grande número de termos em torno do ato sexual e dos órgãos genitais. Ao examinarmos a série sinonímica que designa o órgão sexual masculino notamos a semelhança física entre os elementos comparados. Daí a sua permanência até nossos dias. Alguns desapareceram porque eram objetos da época, de uso mais restrito. Em rápida análise desses sinônimos, observa-se que neles estão presentes os temas de violência, força, agressividade (cacete, cano, chuço, ferro, lança, malho, manivela, músculo, pau, pistola, Petrópolis, trabuco, vara, varão), de resistência, rigidez (eixo, ferro, jacarandá, malho, maniçoba, nabo, pau, peroba, Petrópolis), de agilidade, astúcia (bagre, gato, músculo) e de dimensão (banana, bisnaga, cano, espiga, lingüiça, nabo, paio, Petrópolis, travão, varão).


A um sentimento de força, poder e de violência, essencialmente masculino, corresponde uma afirmação de fraqueza e impotência feminina, com imagens desvalorizadoras referentes às suas partes pudendas, tais como engenhoca, fenda, greta, quintanda, ruptura (órgão genital) e bolacha, bombordo, disco, esfera, furo, gelatina, melancia, orifício, rosca, quiosque (para as partes anais). Enquanto o falo toma forma como uma arma, um instrumento de força e violência potencial, o corpo da mulher surge, através de um processo bem parecido de associação lingüística, tanto como o objeto dessa violência quanto, paradoxalmente, um local de perigo por si só.


Assim, a linguagem erótica e suas várias manifestações na gíria, no vocabulário obsceno, e nos processos lingüísticos de expressão da malícia, se apresentam como formas lingüísticas estigmatizadas e de baixo prestígio, condenadas pelos padrões culturais, o que as transformou, com poucas exceções, em tabus lingüísticos. Como os costumes, submetidos a um processo competitivo de forças sociais opostas, em que se alternam e se equilibram leis de continuidade e da renovação, controladas pelo grau de aceitabilidade do povo, em diferentes épocas, assim também o estoque lexical sofre a influência das pressões sociais que ora o prendem a tradição de uma hipotética “boa linguagem”, ora o libertam para a aceitação de novos vocábulos, novos conceitos, surgidos da necessidade de expressar idéias e atividades mais recentes.


Sob a perspectiva moral, por exemplo, as frágeis linhas que marcam os limites dos “bons costumes”, cujos conceitos continuamente se renovam dentro da comunidade, são transpostas para o campo do léxico. Formas vulgares se incorporam à fala culta ou vice-versa. A vida das palavras tornam-se um reflexo da vida social e, em nome de uma ética vigente, proíbem-se ou liberam-se palavras, processam-se julgamentos de “bons” ou “maus” termos, apropriados ou inadequados aos mais variados contextos.

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23 janeiro 2012

Pagamento para o sexo é legal, imoral ou engorda

Amor, sexo, relacionamentos e dinheiro foram os temas mais discutidos em conversas de bar, universidades e escritórios nos Estados Unidos o ano passado, 2011. A discussão foi provocada por um gibi.


A obra mais recente do canadense Chester Brown é uma graphic novel de memórias com 280 páginas intitulada Paying for It: a comic strip memoir about being a john (lançada em 2011 pela Drawn & Quarterly). Aborda o período em que o desenhista teve relação com prostitutas, em uma espécie de ensaio em defesa do sexo pago e contra a tirania do amor romântico. O trabalho vai ser publicado no Brasil agora em 2012 pela editora WMF Martins Fontes com o provável título de Pagando para isso: a memória em quadrinhos sobre ser um John.


O relato autobiográfico trata de como é ser um “john” – gíria utilizada no inglês para os clientes das profissionais do sexo. Brown faz o inverso do anonimato de um “john”: revela em quadrinhos, uma a uma, as relações que teve com prostitutas durante um período de seis anos. Mais do que relatar, porém, Brown faz uma defesa da prostituição, numa revolta contra a tirania do amor romântico. A HQ é acompanhada por uma longa seção de texto onde o autor rebate cada argumento moral contra a prostituição. Com prefácio de Robert Crumb e acompanhada de elogios de Alan Moore e Neil Gaiman, a graphic novel tornou-se um dos lançamentos mais comentados de 2011 nos EUA e no Canadá.


Brown começou a pagar por sexo, alguns anos após a sua namorada terminou com ele (ele permaneceu em celibato durante três anos após a dissolução) e ele decidiu a carga emocional de relacionamentos românticos era demais para suportar e jurou off nunca ter uma namorada mais uma vez . Com alguma apreensão, ele começou a ver prostitutas em Toronto.


Não há nada de erótico sobre pagando por ela, mesmo que haja alguma nudez e cenas de sexo. Em vez disso, Brown se concentra em seu diálogo interior ao visitar prostitutas e as conversas francas com Seth e Matt, que estão em volta confuso e preocupado com a prática do seu amigo de contratar prostitutas e sua decisão de abandonar relacionamentos românticos. Robert Crumb escreve na introdução pagando por ele:


“Ele é provavelmente o resultado de uma dessas abduções alienígenas onde enfiar uma agulha no abdômen de uma mulher humana e engravidá-la. Você pode dizer, olhando para a foto dele. Observe como, ao longo do livro, sua expressão facial é sempre a mesma. Sua boca é uma fenda. Ele nunca mostra os dentes, nunca sorri, nunca faz uma careta. O oposto da minha retratos de mim mesmo. Neutralidade Chester Brown no mundo é, na minha opinião, muito admirável. Como Jesus disse, Seja como transeuntes".


MALÉFICO - “Agora vejo que o ideal do amor romântico na verdade é maléfico... O amor causa mais tristeza do que felicidade. Pense em todas as pessoas que almejam o amor mas sentem-se desgraçadas por não conseguir encontrar... É impossível uma única pessoa ser compatível com todas nossas necessidades emocionais e sexuais.” Brown – defensor declarado do libertarianismo - despeja suas frases inclusive sobre amigos famosos, como os também quadrinistas Seth e Joe Matt. Para não deixar dúvidas sobre suas posições, o autor ainda escreve vinte e três apêndices à HQ, rebatendo cada argumento que conhece contra a prostituição.


Brown sugere que é o conceito de propriedade (deliberadamente fabricados ou inconsciente) retransmitida através romantismo que infecta uma outra maneira normal personalidade de criação de ciúmes, stress, desarmonia, as pessoas desconfiam e drives para as profundezas do romântico ou pessoais de auto-destruição gosta do a que poucos escapam ilesos. Ao longo de 33 capítulos, Brown e colegas cartunistas (e regulares em obras uns dos outros) e Seth Joe Matt discutir os problemas e perigos associados com a prostituição e integralizado, para o sexo em geral.


As descobertas pessoais que ele vem ao longo do livro são possíveis pelo fato de que ele forçou-se para superar um estigma que ele realizou em toda a sua vida: que é inerentemente errado pagar por sexo. Que a prostituição é errado, e que as escoltas e Johns semelhantes são de algum modo "menos" do que outros. Com essa barreira passou, ele é livre em mente e espírito para prosseguir uma vida sem envolvimentos românticos. Após seu primeiro encontro, Brown continua a própria monogamia livre de caminho com uma interessante mistura de curiosidade científica e precisa de um adolescente para a satisfação física, ele tem todo o entusiasmo de um cachorro com um osso (sem trocadilhos ... talvez), mas mantém um distanciamento em quase analítica, pelo menos em sua auto-ilustrado da escolta que encontra.

Ele escreve com um grau de honestidade e consideração raramente encontra quando se trata de assunto de homens que pagam por sexo, detalhando os aspectos mundanos e mais profunda de sua experiência, de busca de anúncios classificados e ler opiniões on-line para discutir o amor romântico, que ele, pessoalmente, rejeita. Ele apresenta essas ideias, aquelas que, sem dúvida, desafio as crenças de muitas pessoas sobre a santidade do sexo, amor e monogamia em um fácil de ler o formato de histórias em quadrinhos que convida os leitores a pensar diferente sobre a prostituição.


Após o fim de um relacionamento sério mais de uma década atrás, ele decide que nunca mais quer ter uma namorada novamente. Ele logo percebe que ele tem dois desejos concorrentes: o desejo de ter relações sexuais e do desejo de não ter uma namorada. "Talvez eu deva pagar por sexo", ele finalmente conclui.


Para Brown, esta é uma decisão pragmática e que não carrega nenhuma vergonha. Ele não é solitário ou desesperado. Ele não é auto-aversão, nem tem desprezo pelas mulheres. Ele é apenas um cara normal que quer uma vida sexual satisfatória, mas sem todas as expectativas e inseguranças que muitas vezes acompanham envolvimentos românticos. A discussão está aberta agora no Brasil: o que o leitor acha do tema tratado – o amor é realmente uma ilusão, um sofrimento que não vale a pena conhecer ou é algo para ser plantado, semeado e colhido?E o que você acha do sexo pago? Está em aberto a discussão.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

Cartografia dos Prazeres (11)

TRANSGRESSÃO - Ato de rebeldia que leva alguém a infringir uma lei. Denuncia, ao infringi-la, a própria lei, sua injustiça ou ilegitimidade. Mostra o que nela há de falho e condenável, porque o ato transgressor levanta consigo outra questão: em nome de quê.


È o sentimento da transgressão que revela o prazer, e ele está intrinsecamente relacionado à proibição. Ato de rebeldia que leva alguém a infringir uma lei. Denuncia, ao infringi-la, a própria lei, sua injustiça ou ilegitimidade. Mostra o que nela há de falho e condenável, porque o ato transgressor levanta consigo outra questão: em nome de quê.


TRAVESTIS – Homem que recorre à maquiagem, roupas e fármacos estéticos para parecer uma mulher. O travesti é idealista, acredita na arte. É utópico e romântico, tem orgulho de ser quem é (...) Não confundir o travesti com a drag queen. A drag queen é satírica, caricatura de uma impossibilidade (...) O travesti não enfrenta a moral vigente/ ele enfrenta a biologia. O travesti é revolucionário, quer mudar o mundo. O travesti não quer ter uma identidade/ ele almeja uma ambiguidade sempre deslizante, sempre cambiante, se parindo numa estufa fritura de neoloucos (...) O travesti nos fascina porque assume a verdade de sua mentira (Arnaldo Jabor. Amor é prosa, sexo é poesia).


TRAVESTISMO - Ato de vestir ou de algum outro modo usar roupas o sexo oposto para ser excitado.


TRANSGRESSÃO - Em todos os tempos, uma tenaz resistência às pressões da norma percorreu as margens. A norma sempre esteve presente, mas a transgressão também. A memória das sociedades e seu imaginário atestam a permanência de uma cultura sexual, de uma resistência libertária, de um certo “arranjo” com a regra, inclusive a mais consensual. Afinal, as utopias sexuais sempre estiveram presentes no imaginário das sociedades. Desde suas origens os homens e as mulheres sonharam com um cidade ideal em que nada iria contrariar seus desejos, e onde prevaleceria o prazer dos corpos e sua inocência. Em “A Assembleia das Mulheres”, Aristófanes tenta já imaginar uma comunidade deste tipo, governada pelas mulheres.


VAGINA – Canal das fêmeas com a função de abrigar o pênis e levar o sêmen ao útero.


VARIANTE - Experimentos sexuais que alguém realiza por curiosidades e não encontre excitação suficiente para repetir.


VERGONHA - Surge na pintura entre desejo e proibição. No avesso da fachada (nossas posturas em sociedade) se revelam sentimentos, partes do corpo e modos de ser de que vulgarmente sentimos vergonhas. No dicionário, vergonha é “sentimento penoso de desonra/ humilhação ou rebaixamento diante de outrem”, ou “sentimento de insegurança provocado pelo medo do ridículo, por escrúpulos, etc/ timidez, acanhamento”. Pode ser sinônimo de pudor, que o dicionário defende como “sentimento de vergonha, de mal-estar, gerado pelo que pode ferir a decência, a honestidade ou a modéstia. E também, por extensão, ‘esse sentimento’, ligado a atos ou coisas que se relacionam com o sexo”.


VÍCIOS - Encarados pelo ângulo da moral, as práticas e ideias sexuais que não se conformam aos padrões morais vigentes são considerados vícios, pois os seus conteúdos, os padrões, são tratados como virtudes. O vício possui três sentidos principais: é disposição habitual para o mal (pecado); é uma tendência ou impulso reprovável, incontrolável – defeito (doença); significa depravação (gosto ou prática sexual reprovados pela moral e pela sociedade). A palavra vício traz inscrita, em sua definição, a referência ao sexo.

VOYEURISMO - Obtenção de prazer sexual através da observação de outras pessoas, geralmente nuas, vestindo-se/despindo-se ou em atividades sociais, especialmente se estas não têm o conhecimento de estarem sendo observadas. No cinema o prazer é criado a partir de um mecanismo voyeurista inerente que tem aqui um papel mais importante do que nas outras formas de arte. Um termo psicalítico freudiano, voyeurismo refere-se à gratificação erótica em olhar-se para alguém sem ser visto, isto é a atividade do voyeur.


VULVA – Parte exterior do aparelho genital feminino.


ZOOFILIA - Excitação sexual advinda de contato físico com animais.



Referências:


BREMMER, Jan (org.). De Safo a Sade. Momento na história da sexualidade. Tradução de Cid Knipel Moreira. Campinas, SP. Papirus, 1995.

CRUMPACKER, Bunny. A vida sexual dos alimentos. São Paulo: Ideia & Ação, 2009.

DIEH, Paula. A covarde folha de parreira. Mais! Folha de S.Paulo. 17 de setembro de 2000. Páginas 18 e 19.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Rio de Janeiro. Imago Editora, 1997.

GIDDENS, Anthony. A transformação de um intimidadesexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo. Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.

JABOR, Arnaldo. Amor é prosa, sexo é poesia. Crônicas afetivas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

LOVE, Brenda. Enciclopedia de práticas sexuais. Rio de Janeiro: Gryphus, 1997.

MALINOWSKI, Bronislaw. The Sexual Life of Savages. Londom, 1929.

PALEY, Maggie. O livro do pênis. Tradução de Tatina Antunes. São Paulo/ Conrad Editora do Brasil, 2001.

SCHOMMER, Aurélio. Dicionário de Fetiches. Rio de Janeiro: Ediouro, 2008.

SHATTUCK, Roger. Conhecimento proibido/ de Prometeu à pornografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

STOLLER, Robert J. Observando a imaginação erótica. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1998.

VALENÇA, Na Maria Macedo. Um olhar sobre o erotismo. Disertação de mestrado defendida na PUC/RS, em dezembro de 1993.


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20 janeiro 2012

Cartografia dos Prazeres (10)

SADISMO - Obtenção de prazer sexual infligindo sofrimento a outras pessoas, ou humilhando outras pessoas. Termo derivado da fama obtida pelo Marques de Sade, autor de diversos livros der caráter erótico.

SADOMASOQUISMO - Obtenção de prazer sexual através de inflingir ou vivenciar dou ou humilhação.

SEDUÇÃO - Amadurecida a revolução da década de 60, formalizada a liberação da mulher e a igualdade entre os sexos, a eficiência na sedução é cada vez mais valorizada em todas as áreas, do marketing à administração de empresas, passando pela política. Ela requer sofisticação quase igual à que fez a fama do infalível Casanova.


Os psicólogos Pascal Bruckner e Alain Finkielkraut chamam atenção para um fato extremamente importante que determina, em larga medida, a febre de sedução que parece caracterizar as sociedades modernas? A pele é o que de mais profundo, todas as exclusões são pronunciadas em nome do corpo. As pressões sociais continuam a ter mais importância do que se julga na escolha do companheiro. A proximidade geográfica, o grupo profissional e a estratificação social conduzem as regras do jogo a que a norma social muitas vezes chama convencionalmente casamento de amor. Segundo Bruckner e Finkielkraut, ‘se existe hoje um romantismo, ele não é sentimental mas libidinal. Em vez da paixão, o desejo/ no lugar do coração, o sexo’.


De acordo com as hipóteses do sociólogo francês, Jean Baudrillard (Da Sedução, Papirus Editores, 1991), o jogo de sedução que define as sociedades modernas vai muito além da realidade sexual e do prazer que esta proporciona. O corposua aparência e modo de funcionamentotornou-se o primeiro e mais belo objeto de troca da sociedade mercantil. A sedução seria, neste ponto, o oposto da produção. A primeira valoriza o corpo, enquanto a segunda o desgasta. Entre o homem e a sociedade, o corpo conquistou o lugar que outrora era ocupado pelo suplemento de alma. O médico substituiu o padre, a higiene pôs de lado a confissão, os meios de comunicação destronaram o púlpito.


O fetichismo é a sedução do morto, inclusive a morte da regra na perversão. A perversão é um desafio gelado, a sedução é m desafio vivo. A sedução é móvel e efêmera, a perversão é monótona e interminável. A perversão é teatral e cúmplice. A sedução é secreta e reversível.

SEXO – Forma de reprodução; relação sexual. Há 1000 anos, o sexo tinha como significado prioritário a reprodução. Atualmente, sexo significa intimidade, conexão com outra pessoa, prazer, a possibilidade da descoberta da identidade e procriação.


SEXTING – Prática de divulgação de conteúdos eróticos através de celulares.


SODOMA - É o mais infame texto erótico inglês da Restauração. No século 18, atribuiu-se a autoria de “Sodom” ao lorde Rochester. A obra parece ter sido editada três vezes (em 1684, 16891690 e 1707), embora restam apenas cópias manuscritas. Era mais um drama que um romance, e os atos sexuais eram mais descritos que consumados.


TABU - “A proibição de dizer qualquer expressão imoral ou grosseira” é um tabu impróprio, já que em sentido próprio “o tabu lingüístico é a proibição de dizer certo nome ou certa palavra, aos quais se atribui poder sobrenatural, e cuja infração causa infelicidade ou desgraça” na conceituação de R.F.Mansur Guérios (Tabus lingüísticos, São Paulo, Nacional, 1979, p.5). A força e o poder de ênfase dessas palavras (ditas “chula” pelos dicionaristas) não decorre apenas do seu caráter de tabus lingüísticos (testemunhos nisso, para Louis-Jean Calvet – Saussure: pró e contra – Para uma lingüística social, SP, Cultrix, 1977 -, da ideologia de uma sociedade “cristã” pelo “papel restrito concedido à sexualidade: tudo é praticamente e implicitamente condenado, salvo a procriação”) aos quais se opõem os numerosos eufemismos, socialmente permissíveis, da linguagem polida; a presença de palavras chulas num contexto literário onde a fala culta é a de esperar-se constitui flagrante violação da norma.


Como escreveu José Paulo Paes nos livros Sonetos Luxuriosos: “Mas não é da capacidade de ofender os pudores que o chamado nome feio retira sua eficácia expressiva. Retira-a melhor, e em nível bem mais profundo, da ligação por assim dizer imediatase confrontada com os desvios da metáfora eufêmicacom as funções excretoras do corpo. Freud mostrou serem essas funções as fontes primeiras do prazer, mais tarde especializado na atividade sexual propriamente dita. E a mesma interdição que pesa sobre os deleites mictórios e fecais da primeira infância, condenando-os por anti-sociais, pesa também sobre os nomes imediatas ou não eufêmicos dos órgãos, produtos ou atos com eles relacionados. Essa aura de difuso prazer e precoce interdito, imagem em abyme do pecado original, irá coroar para sempre o nome feio, fazendo-o a própria voz do Corpo, obscura e subterrânea voz egótica sistematicamente abafada pelo discurso aristotélico e socializado da cabeça. A voz do Corpo surde dos confins da linguagem; por refugir as leis da lógica gramatical, não se presta à veiculação de conceitos; cabe-lhe antes dar vazão a emoções impossíveis de verbalizar satisfatoriamente: ira, aversão, espanto, exaltação, êxtase. Daí o termo obsceno ser usado freqüentes vezes como insulto ou exclamação nos momentos em que o léxico de impropérios ou interjeições permissíveis da língua revela-se inadequado para expressar a intensidade dos sentimentos do falante. Entre esses momentos, esta o auge do prazer sexual, quando não é incomum os amantes entremearem as palavras de carinho com outras tantas obscenidades.”.


Conforme disse Henry Miller: “Quando a obscenidade aparece na arte, em particular na literatura, ela não tem habitualmente o valor de um procedimento: o elemento deliberado que nela se encontra nada tem a ver com a excitação sexual, como é o caso da pornografia (...) Seu fito é despertar, comunicar um sentimento da realidade”. (Lobscenité et la loi de réflexiontrad. D.Kotchouhey, Paris, Seghers, 1949, p.25).

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