14 dezembro 2017

Lage ganha merecida homenagem em livro

Desde sua gênese no século XIX, o humor gráfico no Brasil teve como alvo prioritário os desmandos e os descasos dos governantes. A primeira charge impressa no país feita por um artista brasileiro, A Campainha, foi realizado em 14 de dezembro de 1837, por Manuel de Araújo de Porto-Alegre, o Barão de Santo Ângelo. Tratava-se de uma litografia vendida nas ruas que criticava a corrupção.

180 anos depois, no dia 14 de dezembro de 2017, nesta quinta, o nosso cartunista Lage é homenageado pelo também colega Nildão. Lage – 40 Anos de Humor  é o título do livro organizado pelo designer Nildão e traz 144 páginas com artes assinadas pelo profissional - que, durante 37 anos, publicou charges, tiras e cartuns no jornal Tribuna da Bahia. O lançamento acontecerá no dia 14 de dezembro, quinta-feira, a partir das 19h, no Museu de Arte da Bahia (MAB). Nildão convidou amigos e parceiros que conviveram com o artista ao longo dos anos para falar a importância do Lage no cenário do humor da Bahia.

Apesar de ter desenhado por mais de quatro décadas, Hélio Roberto Lage (1946-2006) nunca teve um livro que reunisse seus trabalhos. Até agora. Eleito o melhor do Brasil em 1997, pelo Troféu HQ Mix, o cartunista será homenageado na obra Lage – 40 Anos de Humor.


Helio Roberto Lage pertence a história dos nossos quadrinhos/cartuns. Homem simples, de bom papo e cultivador dos momentos humorísticos da vida. Desde seu relacionamento com as pessoas que lhes cercam, até o momento em que executa um trabalho, é um humorista nato. Além de humorista, era arquiteto e pintor nas horas vagas. Desenvolvendo sua atividade de cartunista com bastante brilho, Lage é um nome respeitado entre os que fazem humor e quadrinhos. Seu desenho é a melhor forma de expressão que compensa o seu lado introvertido. O lado humorístico, presente não só nas tiras, mas também nas charges políticas, são a contrapartida do seu temperamento melancólico.


De traço simples, Lage consegue captar todo o momento histórico político vivenciado nacionalmente. Cartunzão, L´amou tuju L´amu, Tudo Bem, Brega Brasil, Ânsia de Amar mostra um humor sem retoques – autêntico e mordaz. O humor caligráfico de Lage tem uma marca pessoal muito forte e traz, por inteiro, a perplexidade nossa de cada dia. É um quadrinho cartunístico que se cristaliza através de questões sociais e culturais. Conferindo ainda seus efeitos ideológicos e sua marcante criatividade. Enquanto muitos desenhistas se distanciavam dessa nossa realidade em seus trabalhos, Lage procurava se aprofundar mais em nossas questões políticas e culturais.


Se o humor de comportamento conquistou leitores nos anos 50, foi forçado pelo clima político estabelecido pela Revolução a dar lugar ao humor político, engajado. Os cartunistas se armaram contra o ataque, mas os meandros do comportamento humano, o sexo, o casamento, a cultura, enfim tudo aquilo que faz os costumes do cidadão brasileiro foi posto de lado pelos desenhistas de humor. Mas Lage, como grande crítico do cotidiano dissecou as leis e pacotes vindos de Brasília, além de mostrar a política local em suas charges diárias. Nas suas tiras ele mostrou o relacionamento humano, seus conflitos e insegurança, o dia-a-dia do baiano.


Referência na área do humor gráfico, especialmente na charge, Lage era dono de um estilo particular, marcado pela contestação calcada no humor virulento. Lage esteve ao lado de outros ilustradores conhecidos na Bahia na criação de trabalhos humorísticos, a exemplo do suplemento semanal A Coisa, do tablóide Coisa Nostra, da revista Pau de Sebo e do Dicionário do Baianês. A década de 70, que batia à porta com toda sua turbulência política e social, trouxe boa parte da munição com a qual Lage disparava sua ironia. A ousadia rendeu ao cartunista alguns desafetos, mas outros tantos admiradores.


Iconoclasta, dono de um traço simples e cortante, Lage logo se destacou pela mordacidade de seus desenhos. Costumava dizer que o bom cartum “é o que sai no estalo”. Durante o regime militar, entrou em controvérsias e chegou a ser chamado para depor nas famosas “sessões de informação” da ditadura. Mesmo assim, não diminuiu o tom de deboche, dizendo às vezes sem palavras o que toda uma nação calava na garganta.


O maior legado de Lage é seu desenho. Mais precisamente, o movimento que seus traços sugeriam. Ele conseguia imprimir movimento em algo estático. Além disso, brilhava na questão da agilidade, da perspicácia, da rapidez do ataque através do humor. Quem quiser entender a Bahia de 1969 a 2006 precisa levar a sério o trabalho de Lage e olhar com atenção o comentário cáustico e agudo de suas charges. Mais do que jornalistas, são cronistas do desenho, que respondem diretamente aos acontecimentos com traço e legenda.

Se pensarmos na estética da fome glauberiana, que norteou boa parte da arte latino americana dos anos 1960 e 1970, veremos que os quadrinhos de Henfil e os cartuns de Lage, por exemplo, estão para a cultura brasileira nos anos 1970 assim como o cinema do próprio Glauber Rocha esteve para a cultura brasileira dos anos 1960. O mesmo ímpeto revolucionário, a mesma ousadia política, a mesma brasilidade guerreira.


13 dezembro 2017

Dois livros infanto-juvenis serão lançados em Salvador nesta sexta-feira (15)


Os autores baianos Paulo Setúbal, Fabiana Janes e Vitor Sousa assinam as publicações

Nesta sexta-feira (15), das 17h às 20h, na Livraria LDM do Shopping Paseo Itaigara acontece o lançamento de dois livros voltados para o público infantojuvenil: “...Mais do que Brincadeira” e “O Curupira e a Floresta Ameaçada”, de Fabiana Janes, Paulo Setúbal e Vitor Sousa.


Escrito por Fabiana Janes e ilustrado por Vitor Sousa, o livro “...Mais do que Brincadeira” conta, em versos, a história de um menino inquieto e cheio de criatividade que não se contenta em apenas imaginar histórias, mas quer transformá-las em deliciosas aventuras que embalam suas tardes.


Em “O Curupira e a Floresta Ameaçada”, escrito e ilustrado por Paulo Setúbal, um pequeno índio, diante dos perigos que ameaçam a floresta em que habita, se unirá a um dos mais poderosos seres da mata, o Curupira, para banir todos os inimigos da Mãe-Natureza.


Os dois livros, juntamente com outras 18 obras, foram vencedores do 2º Edital de Literatura infantil de autores baianos, promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, em 2016.

As obras ilustradas, com ênfase na cultura da Bahia, foram feitas para serem utilizadas no processo de alfabetização das crianças das redes estadual e municipais durante o ano letivo de 2017, sendo distribuídas a 416 municípios parceiros do programa Educar para Transformar com tiragem inicial de 42 mil exemplares cada.

Sobre os autores

Nascida em Salvador, Fabiana Janes dedica-se ao ensino do Ballet Clássico a crianças e adolescentes da capital baiana, desde os 17 anos. Em suas aulas, as histórias estão sempre presentes, animando os movimentos. "...Mais do que brincadeira" é sua estreia como autora de literatura infantil.

Vitor Sousa nasceu em Salvador e, quando criança, tinha como diversão as histórias em quadrinhos. Mas não se contentava apenas em ler, queria contar suas histórias também. Aos 21 anos fez parte da equipe do Estúdio Cedraz como colorista da Turma do Xaxado. Atualmente, atua como roteirista de audiovisual em produtoras da capital, e, agora, ilustra seu primeiro livro.

Paulo Setúbal, natural de Candeias, é cartunista, quadrinista, caricaturista, chargista, ilustrador, autor de textos literários, argumentista de quadrinhos e artista plástico. Ele desenha e pinta desde criança e com o passar do tempo fez do amor por essas artes sua profissão. Como cartunista, figura entre os principais artistas do humor gráfico na Bahia e teve suas charges publicadas nos principais jornais da capital baiana e de editoras do eixo Rio-São Paulo.


Serviço

Lançamento: “...Mais do que Brincadeira” e “O Curupira e a Floresta Ameaçada”, de Fabiana Janes, Paulo Setúbal e Vitor Sousa.

Local: Livraria LDM do Shopping Paseo Itaigara

Dia: Sexta-feira - 15 de dezembro


Horário: das 17h às 20h

12 dezembro 2017

Livro em homenagem ao cartunista Lage será lançado nesta quinta no MAB

Com 144 páginas, no formato 23,5x21,0 cm, inteiramente colorido, o livro Lage – 40 anos de humor da editora Nildão Design, Comunicação e Produção, será lançado no dia 14 de dezembro, a partir das 19h, no Museu de Arte da Bahia (MAB). A obra vai ser vendida pelo preço promocional de lançamento no valor de R$ 50. Embora tenha desenhado por cerca de 40 anos, Hélio Lage não deixou nenhuma publicação que registrasse ou reunisse suas obras, sendo este livro o primeiro a organizar parte do imenso e diversificado legado do cartunista.


Segundo Nildão, organizador da publicação, o evento prestará uma justa homenagem ao cartunista Hélio Lage (1946-2006), que durante 37 anos publicou charges, tiras e cartuns no jornal Tribuna da Bahia.

“A ideia é convidar os amigos e parceiros que conviveram com o artista ao longo dos anos para falar da importância do Lage no cenário do humor da Bahia. Pretendemos criar um clima leve e descontraído, bem apropriado ao homenageado, e resgatar histórias e causos da época em que o cartunista conviveu e organizou mostras e jornais coletivamente”, explica.


"Lage - 40 anos de humor" expõe a competência do cartunista Hélio Lage em revelar detalhes da natureza humana e da vida política com a refinadíssima arte do humor. São cerca de 200 trabalhos desse genial artista, apresentando charges, cartuns, caricaturas, quadrinhos e tiras.

As charges destacam-se na sua produção com uma precisão que desnuda figuras da história política da Bahia e do Brasil. Um rico material que estimula nossa memória: líderes políticos, governantes, problemas econômicos e sociais, são abordados com a potência de fazer da imagem do passado uma provocação para nos posicionar no presente.


Para o amigo, o escritor baiano Nivaldo Lariú, Lage foi uma pessoa fundamental em sua carreira. O cartunista foi responsável pela ilustração do Dicionário de Baianês, seus desenhos foram de extrema importância para dar vida ao livro. “O trabalho dele enriqueceu muito o dicionário, soube captar o que realmente eu queria, aquela coisa engraçada da Bahia, pitoresca, a essência da terra. Uma boa parte do meu sucesso devo ao Lage pelo trabalho de ilustração que ele fez. Essa homenagem em forma de  livro parte de uma boa iniciativa, a história da Bahia foi por muitas vezes contada por Lage. É mais que merecedor pelo trabalho que ele fez durante anos no jornalismo, com um humor que derrubava qualquer um", explica Lariú, que ainda destacou a competência de Nildão em realizar o projeto. “É a pessoa mais qualificada e delicada para fazer essa linda homenagem”, conclui.



O livro tem o objetivo de manter a vivacidade de sua obra e evidenciar aquele que foi talentoso sem ser arrogante, bem humorado sem ser grosseiro, simples sem ser simplório. Um cartunista de pouca fala e muito traço. O projeto tem apoio financeiro da Fundação Pedro Calmon, do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, da Secretaria de Cultura e do Governo da Bahia.

Serviço:
Lançamento do livro Lage – 40 anos de humor
Quando: 14 de dezembro, quinta-feira
Horário:  a partir das 19h
Onde: Auditório do Museu de Arte da Bahia (MAB) – Corredor da Vitória
Entrada Gratuita
Valor do livro: R$ 50


05 dezembro 2017

Aconteceu há 100 anos... (02)

E o samba passou a existir no Brasil com toda aceitação. Donga foi o primeiro a gravar um samba: Pelo Telefone (1917), criado por um grupo de boêmios cariocas que se reuniam na casa da Tia Ciata, baiana considerada mãe do gênero. Composta por Mauro de Almeida, Sinhô e Donga, faz alusão à perseguição policial aos jogos de azar. Mais tarde, o gênero espalha-se pelo Brasil e domina o carnaval. Os alemães afundam os navios brasileiros Paraná e Macau e envolve o Brasil (o único país sul-americano) na guerra.


Em 1917, o Brasil torna-se o primeiro país sul-americano a entrar na Primeira Guerra Mundial. Na mesma data o governo decreta Estado de Sítio. O Brasil queima três milhões de sacas de café para evitar a queda nos preços do produto. E no Estado do Rio de Janeiro, pela primeira vez no país, é produzido o aço.

O mais famoso produto de exportação argentino, o tango, ganhou novo impulso e popularidade em 1917, quando o cantor Carlos Gardel divulga o primeiro tango com letra, Mi Noche Triste, com música de Samuel Castriota e letra de Pascual Contursi. O tango estava a caminho do sucesso internacional - com seus cantores apaixonados, bandonions e violinos acompanhando seu delicioso passo melódico intercalado. Gardel transformou-se em um astro no exterior, mas, em casa, sua celebridade assumiu proporções quase míticas. Para os argentinos, o cantor, assim como o próprio tango, era a expressão da alma do país, formado em grande parte por imigrantes.

                         
Aos poucos, a mulher brasileira começou a romper o monopólio masculino de algumas profissões. Em meados da década, a advogada Mirtes Campos foi aceita no Instituto da Ordem dos Advogados, quebrando um tabu secular e provocando uma acirrada polêmica nos meios jurídicos. Outras pioneiras: Anita Malfatti (pintora), Cecília Meireles (escritora), Maria José Rabelo (primeira diplomata) e Eugênia Brandão (primeira repórter).

A elite intelectual de São Paulo estava em estado de choque desde a exposição de alguns quadros da jovem pintora paulista Anita Malfatti, em 1917. As tímidas incursões de Anita pelo campo do Expressionismo e do Cubismo - tendências predominantes na arte européia atual - dividiram a opinião pública e a crítica paulistana. Foi o confronto entre o velho e o novo. Menotti del Picchia se consagra com o livro de poesia nacionalista Juca Mulato.



A Bahia procurava encontrar os caminhos da modernização, lutando para sair da estagnação econômica. A Bahia contribuía apenas 2,8% da produção nacional. Em 1917 é fundada a Academia de Letras da Bahia. As regatas a remo atraiam a atenção de toda a cidade do Salvador. Era o remo o esporte mais preferido dos baianos. As emissoras de rádio transmitiam da Enseada dos Tainheiros as grandes disputas.

04 dezembro 2017

Aconteceu há 100 anos... (01)

O ano de 1917 foi simbólico na política e nas artes. A classe trabalhadora e os intelectuais de esquerda, exilados, assumem o poder na Rússia. Na mesma época o Dadaísmo (o mais marginal de todos os movimentos artísticos, pregando a não-arte) começava sua marcha para ocupar os museus, o que aconteceu mais arte, saindo da margem para o centro.


Para o século XX, 1917 (ou seja, 90 anos atrás), o ano da Revolução Russa foi o detonador de décadas de lutas ideológicas que se travaram pelo mundo inteiro entre o Comunismo, as Democracias Liberais e o Nazi-fascismo, provocando a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e, em seguida, a longa Guerra Fria (1947-1989).

As ideologias floresciam. O socialismo, impulsionado pela Revolução Russa de 1917, preconizava a formação de uma sociedade igualitária, controlada pelo Estado, e desfraldava a bandeira do paraíso construído na Terra, em que não haveria a exploração do homem pelo homem. O capitalismo, herdeiro da Revolução Francesa de 1789, prometia a felicidade através da realização puramente individual, que seria a chave para a conquista de uma vida cercada de confortos materiais.


Na Revolução de Outubro de 1917, os bolcheviques invadiram os prédios públicos, prenderam os integrantes do Governo Provisório e tomaram o poder. Com a ausência de Lênin, o grupo foi liderado por Leon Trotski, que, assim como seu companheiro, foi também um dos principais teóricos do movimento socialista, desenvolvendo a idéia - original de Marx - da “revolução permanente”, que prega um combate total ao modelo capitalista.

A partir daí, os bolcheviques ganhariam outro nome: Partido Comunista da União Soviética. O impacto da guerra foi enorme em muitos aspectos. Mudou o modo como cada indivíduo via a si mesmo e seu lugar no mundo. O hedonismo da década de 20 e a violência denunciavam uma perda coletiva da inocência. Em todas as nações combatentes, a burocracia e a indústria se expandiram muito.

Nos EUA, a falta de mão-de-obra deu um novo papel para a mulher e para os negros, que abandonaram as lavouras do sul e foram trabalhar nas fábricas do norte. Mas a ascensão dos oprimidos foi seguida por uma divisão social mais acentuada. A guerra havia provocado um frenesi xenófobo entre os norte-americanos.

Houve uma guerra mundial. Seu fim foi o começo da idade do jazz. Com forte marcação rítmica, uso frequente da síncope e pela improvisação sobre um tema melódico, suas raízes está na fusão de ritmos trazidos pelos africanos (como o spirituals e o blues) com a música européia dos séculos XVIII e XIX (caso dos hinos, marchas e operetas). Sob a base de uma música composta de improviso, o jazz acaba por expressar fortemente as emoções do músico.


Em 1917 a Dixieland Jazz Band, um grupo branco, faz a primeira gravação de jazz, Livery Stable Blues. Vende um milhão de cópias, lançando o jazz como música popular. Freddie Keppard, líder de uma banda negra, rejeitou a chance de fazer o primeiro disco de jazz - tinha medo de que outros músicos copiassem seu estilo. O instrumento que se sobressaia nas formações da época era o trompete, daí serem trompetistas os grandes músicos de então: Buddy Bolden, Joe “King” Oliver, Louis Armstrong e Bix Beiderbecke.