19 agosto 2011

Arte africana de André Diniz

Depois de passar alguns anos publicando fanzines, o carioca André Diniz lançou no ano 2000 sua própria editora, a Nona Arte conquistando mais de 14 prêmios. Foi roteirista para diversos desenhistas como Laudo (A Inconfidência Mineira), Antonio Eder (Chalaça, 7 Vidas, A Guerra dos Farrapos, A Independência do Brasil), José Aguiar (Revolta de Canudos, Ato 5), entre outros.

Editado pela Conrad em 2009, o álbum 7 Vidas narra o retorno do autor a vidas passadas com o auxílio da terapia de regressão. O relato de Diniz faz o leitor viajar a diferentes épocas, culturas e lugares diversos, da Itália da Idade Média, Peru do Século XIX, e Brasil do século XXI e conta com os desenhos de Antonio Eder. O desenho simples, mas extremamente expressivo de Eder casa perfeitamente com o roteiro realista e espontâneo de Diniz. Arte em preto e branco com jogos de câmera, enquadramentos e angulações interessantes.


Nos meses que fez terapia e depois resolveu contar numa narrativa gráfica ele não abordou sob a ótica mestiça ou religiosa. Narrou apenas o que viu deixando a interpretação para o leitor. Diniz não se deixou levar pelo discurso doutrinário. As ideias básicas do espiritismo kardecistas estão ali apenas como elementos narrativos ou ambientação, sem o objetivo de convencer o leitor a acreditar nisto ou naquilo. O relato é quase poético pela simplicidade e sinceridade do autor.


O álbum de estreia desse grande roteirista foi Fawcett (sobre o explorador americano que se perdeu nas selvas do Mato Grosso e influenciou a criação do Indiana Jones) com desenhos de Flávio Colin, lhe rendendo o prêmio Ângelo Agostini.


Em parceria com o fotógrafo Maurício Hora, André Diniz lançou recentemente a graphic novel Morro da Favela (Editora Leya/Barba Negra). O álbum conta a história de Maurício Hora, morador do Morro da Providência (RJ), sua ligação com a fotografia e como essa arte mudou sua vida. Assim, Diniz retratou em preto e branco o cotidiano e as memórias de Maurício na sua comunidade.


Nascido e crescido no Morro da Previdência, no Rio de Janeiro, o primeiro a ser ocupado na cidade, em 1897, pelos combatentes do Exército brasileiro que derrotaram Antônio Conselheiro e a população de Canudos. Mauricio desejou não seguir os caminhos do pai, apontador do jogo do bicho e um dos introdutores do tráfico de drogas no morro. Mesmo que sua trajetória fosse permeada por visitas ao presídio, abusos da polícia e tratamento diferenciado dos amigos e colegas do morro, ele teve certeza de que seu futuro seria diferente. Desde cedo conseguiu trabalho de ourives, arranjou sua primeira máquina fotográfica. Uma Pentax, para exercer o ofício que namorava desde quando foi apresentado ao laboratório fotográfico de seu tio.


Com uma técnica inspirada na xilogravura e na arte africana, traços estilizados e peculiares, feitos diretamente no computador através de um tablet, Morro da Favela confirma Andre Diniz como um dos mais importantes quadrinistas na prolífera produção recente do país.


O Morro da Providência, considerada a primeira favela do país, é apresentada por Diniz no dia a dia do aglomerado urbano e termina por revelar a história desse fotógrafo brasileiro. O morro já chamou “da Favela”, mas recebeu de volta o nome original, “da Providência!, depois que o outro apelido se espalhou pela cidade e passou a denominar todas as comunidades do relevo carioca, sem distinção.


Mais outra obra de Diniz: O conhecido poeta dos escravos, Castro Alves tem seu texto original adaptado por André Diniz no álbum A Cachoeira de Paulo Afonso, lançamento de uma editora que estreia no mercado de quadrinhos, a carioca Pallas. O poema faz parte do livro Os escravos, publicado em 1876. A Cachoeira de Paulo Afonso é um conjunto de imensa quedas d´água do Rio São Francisco. Com quedas de até 80 metros de altura, o enorme tamanho da natureza serviu de inspiração ao poeta que retrata a fuga desesperada de um casal de negros perseguidos.


E já está para ser lançado Mwindo, primeiro trabalho com roteiro de outra pessoa, Jacqueline Martins. Trata-se de uma lenda que fala de um rei africano que proíbe as sete mulheres grávidas de darem à luz à meninos. As seis primeiras parem meninas, todas ao mesmo tempo. Da sétima esposa, nasce Mwindo, um garoto que sai por seu dedo indicador. O rei tenta matá-lo. Mesmo recém-nascido, Mwindo, lidera uma guerra contra seu pai, passando para o mundo subterrâneo, matando e ressuscitando pessoas.

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