09 agosto 2011

A charge

“Rir é o melhor remédio” ensina o senso comum. Contudo, o jornalismo diário não possui muito espaço para o riso. O universo midiático é um campo mais austero. Por outro lado há uma forma diferente de fazer jornalismo: as charges jornalísticas. É por meio delas que podemos encontrar fatos abordados pelo humor, pela sátira e paródia, com o objetivo de buscar o riso, a reflexão, a crítica acerca dos acontecimentos narrados (ou não) pelo jornalismo convencional.


A charge nasce a partir da notícia. Na construção de charge o noticiário diário é fonte inspiradora para o chargista. Dessa fonte a charge leva a uma construção social da realidade. Trata-se de uma manifestação comunicativa condensadora de múltiplas informações. A interpretação da charge aciona o conhecimento de um conjunto de dados e fatos contemporâneos ao momento específico em que se instaura a relação discursiva entre o produtor e o receptor da charge. O texto chargístico, além da facilidade da leitura, diferencia-se dos demais gêneros opinativos por fazer sua crítica usando constantemente o humor.


Por focalizar uma realidade específica, a charge se prende mais ao momento, daí, portanto, a razão da limitação temporal da charge. Devido ao seu teor crítico é a maior facilidade com que a imagem é apreendida, o caráter da charge é temporal; depressa ela é esquecida. O humor é a principal característica das charges. Para a construção desse humor, o chargista utiliza recursos da linguagem e estruturas narrativas. Esses recursos de estratégias, destaca-se o componente visual, sem o qual seria praticamente impossível pensar o humor gráfico. A presença do “exagero” (aumento desproporcional e intencional de formas, fatos e atitudes) é utilizada como estratégia discursiva. E isso possibilita uma ênfase naquilo que o chargista quer dizer, evidencia aspectos específicos e marcantes daquilo que a obra retrata e isso atinge o leitor com rapidez e maior impacto que algumas outras formas de artes visuais.


Em Salvador, o jornal A Tarde é o único, no momento, que exibe diariamente, a charge na página de opinião. O suporte material, o jornal A Tarde, de publicação diária e grande circulação, traz todo dia na página A3 Opinião, uma charge. O fato de a charge se encontrar na página A3, de opinião, já diz muito em relação ao seu conteúdo, devido às características de gênero opinativo e permitem que o leitor compreenda que se diz respeito a um gênero opinativo, que evidencia uma crítica através do humor. Isso comanda o “uso” que o leitor irá fazer da charge, ou seja, ele tem ciência de que se trata da retomada de um acontecimento/notícia por meio do humor, sátira e ironia e pode, assim, propiciar o riso, parodiando situações e/ou pessoas.


Assim, a charge constitui importante modalidade do discurso jornalístico. A charge é uma crítica político social através da qual o chargista expressa graficamente, com humor e ironia, seu ponto de vista sobre determinadas situações cotidianas. Esse desenho sempre teve significativa repercussão, as vezes mais que os editoriais ou artigos – a exemplo dos constrangimentos provocados pelas charges sobre Maomé, publicadas em um jornal dinamarquês, no ano de 2005, causando incidentes diplomáticos.

A importância do desenho humorístico na imprensa, seja como documento histórico, como fonte de informação social e política, como fenômeno estético e como forma de expressão artística e literária, é inegável. O humor gráfico exige de seu criador um mínimo de destreza de traço e um mínimo de julgamento estético. Exige muita síntese, tanto de traços, por causa do impacto visual que deve provocar, quanto de significado, que tem que ser necessariamente claro para que a mensagem passe a todos os leitores.


Os chargistas são responsáveis pelas entrelinhas da história oficial impressa, traçadas no dia a dia com a atualidade de um editorial e a potência de uma bomba. Uma parte importante do pensamento brasileiro está no traço desses humoristas. Afinal, a caricatura, a charge, o desenho de humor, mesmo sendo uma área frequentemente esquecida, são sempre um indício seguro do pensamento e cultura de uma época. O desenho de humor é uma parte narrativa e descritiva da arte do nosso tempo. Ele é necessário para a crítica social, para fixar os novos hábitos e costumes e para demonstrar com vigor mais imediato as novas ideias.


A charge é uma crítica política na qual o artista demonstra através de seus traços sua visão em relação a determinados temas utilizando recursos como a sátira. Como o desenho é uma linguagem mais acessível que muitos textos políticos, seu alcance chega a ser maior do que um editorial. A charge é uma crítica humorística de um fato ou acontecimento específico, funcionando como uma reprodução gráfica de uma notícia já conhecida do público, segundo a ótica do desenhista. Tanto pode se apresentar somente através de imagens quanto combinando imagem e texto (título, diálogos).


A validade humorística da charge advém do real, da apreensão de facetas ou de instantes que traduzem o ritmo de vida da sociedade, que flagram as expressões hilariantes do cotidiano. Sua intenção é representar o real, criticando-o. O desenho chargístico contém a expressão de uma opinião sobre determinado acontecimento, só adquirindo sentido no espaço jornalístico, porque se nutre dos símbolos e valores que fluem permanentemente e está sincronizada com o comportamento coletivo.

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