29 dezembro 2016

O sentido da vida



Para o escritor Bradley Trevor Greive, “não importa como você a olha, a vida é estranha. Muito estranha. Por exemplo: é um fato inquestionável que somos todos feitos exatamente da mesma substância das formas de vida mais inteligentes, criativas e magníficas do Universo. Além disso, somos feitos da mesma matéria atômica das maiores montanhas do nosso planeta e das estrelas mais brilhantes da nossa galáxia”. E ele incentiva a todos irem atrás do seu sonho com energia e paixão.

“A verdade é que nós todos nascemos com potencial para a grandeza, abençoados com oportunidades para alcançar novas e estonteantes alturas. Mas, tristemente, muitos de nós são preguiçosos demais, preocupados demais com o que os outros possam pensar, com medo demais de mudanças, para abrir suas asas e usar todos os seus talentos. É importantíssimo fazer o que o deixa feliz – e da melhor maneira possível”.
 
Lembra que faça o que você fizer, os enganos são partes da vida e não adianta perder tempo se castigando por erros do passado. Rejeição e resistência são inevitáveis quando se faz algo muito importante ou especial. “Quando você se propõe a realizar seus sonhos, muitos tentarão detê-lo (incluindo os que mais amam você). O que falta neste mundo são pessimistas lamentáveis”. Para ele é importante compreender que seguir o seu próprio caminho pode ser recompensado, mas não é fácil não...Todos têm dificuldades. Ouvir o coração e usar a cabeça nunca estará errado”, conclui.


“Somos, em essência, um conjunto de órgãos e sistemas que funcionam de maneira interativa e de cuja harmonia decorre a grande diversidade de ações e funções que nos habituamos a realizar no cotidiano (...) O conjunto das nossas aptidões, mesmo as mais especiais, depende de uma complexa integração entre todos os componentes do nosso organismo, que, conforme a demanda imposta, respondem com a função que deles se espera”, escreveu o professor da Faculdade de Medicina da USP, Wilson Jacob Filho, concluindo que “o todo depende da integridade funcional das partes que o compõem”.

O ser humano é uma manifestação da fonte de energia formada pelos elementos físico-químicos, um ser cósmico habitante de uma galáxia, a Via-Láctea,
uma entre duzentas bilhões de outras, dependendo do Sol, estrela de quinta categoria, uma entre outras trezentas bilhões, situada a 27 mil anos-luz do centro de nossa galáxia, perto do braço interior da aspiral de Órion, morando no terceiro planeta do sistema solar, a Terra.

Somos um elo da corrente única da vida, com os mesmos vinte aminoácidos e quatro bases fosfatadas dos demais seres viúvos, um animal do ramo dos vertebrados, dotado de sexualidade, da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da família dos hominidas, do gênero homo, da espécie sapiens/demens, portador de um corpo de 30 bilhões de células, continuamente renovada por um sistema genético que se formou ao largo de 3,6 bilhões de anos.

O mundo está em movimento, tudo circula e se movimenta infinitamente. A ciência do saber está aberta a todos, mas muitos segredos serão mantidos, porque o homem não está livre das paixões, que podem construir ou destruir coisas belas. Os mistérios só se deixarão revelar pelo coração puro como o de uma criança.

Cada caminho é uma verdade, seguindo sua própria escolha. Para os antigos gregos, a inteligência mora no coração, aí é a casa de todas as mais sinceras respostas. É preciso amar a escolha e nisso que se revel a inteligência do homem: escolher aquilo que cabe na medida do seu sentimento. Siga sempre em frente e não deixe de duvidar de seus próprios caminhos, porque os caminhos são seus, é certo, mas também podem levá-lo para tão longe de si mesmo e afastá-lo dos seus verdadeiros propósitos.

Todos nós precisamos encontrar um sentido no mundo. É o que chamo de a árvore da vida, um freixo frondoso, gigantesco, enraizado no centro da terra e sua sombra cobre toda a superfície. A árvore se abria em ramos ancestrais que filtravam uma luz que projetava, como se fosse fina renda, milhares de desenhos no chão. Essa árvore da vida produz os frutos do conhecimento. E o conhecimento é dado a todos, mas a cada um conforme o seu próprio sonho.

Para domar um leão, cada um terá que vencer um desafio. E não há um desafio igual para todos porque não percorremos os mesmos caminhos. Aquele a quem foi dada a inteligência que compreenda. A forma e a virtude das coisas vêm primeiro das ideias. E se fazem verdadeiras segundo as inteligências confiadas numa virtude ideal. Se desejas obter o ouro, a riqueza, faça com que a luz da verdadeira instrução e do conhecimento se multiplique e se espalhe por toda sua alma com a força de três poderes verdadeiros: memória, mente e vontade.

28 dezembro 2016

Quem disse que cabelo não sente? (3)



O movimento punk, detonado a partir de 1976, colocou na moda o estilo mais agressivo de penteado da história do rock. À base de sabão seco, criou-se um estilo pontiagudo cuja variante é o moicano. Cabelos espetados, descoloridos, mais uma vez, o couro cabeludo fica diretamente ligado à contestação. Johnny Rotten (Joãozinho Podre), dos Sex Pistols, virou o rock pelo avesso. Cinismo e energia levados às últimas consequências, olhando no olho da rainha e nos seus engomados súditos. Se havia espaço para cortes moicanos, por que não esperar o surgimento do visual de uma sioux? A sombra Siouxsie trouxe o visual gótico, negro como as trevas. Rainha do pós-punk, musa dark. Siouxsie e sua banda Banshees apresentam músicas com letras geralmente escuras e pesadas, estilo terror-soft. Tem a ver com o clima fantasmagórico que o grupo cria em seu visual. O descabelante rock do grupo estilhaçou as vitrinas.

O estilo romântico e rococó típico dos anos 50 foi retomado, com exagero adicional, pelas duas
vocalistas da banda new wave The B52´s, Cindy Wilson e Kate Pierson no fim da década de 70. E o reggae jamaicano refletiu a filosofia rastafari com suas próprias interpretações bíblicas. Partindo daí, com a certeza de que o “homem sagrado” não deve cortar seus cabelos, surgiram as dreadlocks (algo como tranças terríveis), mundialmente visualizadas através da figura de Bob Marley. As dreadlocks usadas pelos adeptos da religião jamaicana rastafári começaram a fazer sucesso na Europa a partir da explosão internacional de Bob Marley, em 1978. E influenciam até hoje. No Brasil, as locks foram adotadas por gente como Gilberto Gil e Margareth Menezes.

A irlandesa Sinéad O´Connor sacudiu o círculo pop inglês, cruzou o oceano e freqüentou a lista dos top pop no final dos anos 80. Cabeça raspada e olhar psicótico emolduram oi visual do primeiro disco. Ela assume com garbo sua diferença pictórica e investe na paridade do nome. Sinéad com a ferocidade da tribo Skinhead (“que mal há em cuspir no palco? É como ir ao banheiro; do contrário você explode”). Cabeça barbeada, outsider, introvertida, ela canta o abismo.

Enquanto Sinéad raspa a cabeça, quatro baby faces de cabelos escondendo testas e olhos, com roupas negras, intitulados The Jesus & Mary Chain trazem o som do desespero. Outra banda que não deve ser tomada alegremente: The Sisters of Mercy (As irmãs da Piedade), que mostram seu som pouco misericordioso para com as fraquezas humanas, povoado do niilismo típico de tendência dark.


Algumas vezes careca, outras vezes com o corte retro, a diva da pop music Grace Jones apresenta uma aparência enigmática, como um andróide inviolável. O artista francês Jean Paul Gould foi o responsável pelo design do cabelo, corpo e das capas de Grace. Combinação das mais perfeitas já vistas na música pop. Cantora sedutora, ousada, que brilha com, seu visual exótico e sua música dançante. Curtos ou longos, os cabelos têm cotação, sua mitificação no mundo dos mitos, deuses do Olimpo.

A imagem vale mais que o conteúdo para obter os 15 minutos de fama na década narcisista dos 80. Brotam os cabelos com design, dos incríveis visuais de Grace Jones, a Boy George e Prince. Ninguém podia ter cabelo “igual”. Ganharam destaque as trancinhas afro, também em cabeças louras, e shaves variados. Nos anos 90 Madonna encarna Marilyn Monroe com os cabelos louro-brancos. Ela muda de cor e penteado a cada show. E as cabeças começaram a ficar quadradas.

O cabelo raspado na parte de baixo e moldado geometricamente no alto é o estilo das cabeças gráficas, esculpidas no topo em volumes cada vez mais altos que invadiu Nova York, Inglaterra e chegou também ao Brasil. Bem ao estilo do desenho animado Bart Simpson entrou na onda Lulu Santos, Shabba Ranks e muitos outros. O modismo recebeu a adesão da nova geração reggae que trocou os antigos dreadlocks por cortes rentes ao crânio, marcado por riscos e até mesmo pelo desenho do mapa da África, feitos com tesoura e navalha. O visual pegou e, para ser mantido, exige cuidados constantes.

Desde Sansão sabe-se o valor de uma bela cabeleira. Com a onda do interlace (cabelos postiços
amarrados na raiz dos cabelos naturais), os astros televisivos abandonaram as antigas perucas para mudar o penteado a cada novo trabalho. Postiços, tingidos ou descoloridos, cabelos bem tratados são fundamentais para a imagem de qualquer estrela.

Assim, o cabelo, juntamente com as roupas, é muito mais que um simples detalhe estético: compõe a identidade visual de cada um, uma opção que revela o “mood” da pessoa e define a tribo a que pertence. Os mil e um estilos de cabelos que surgiram nos últimos 60 anos revelam a necessidade, individual e de grupos, de expressar sua liberdade de escolha e uma variedade de tendências. Além do mais, os cabelos se prestam a metáforas, servindo para situações assustadoras (“de arrepiar os cabelos”) ou sofrimentos (“de deixar os cabelos brancos”).

27 dezembro 2016

Quem disse que cabelo não sente? (2)




O corte de cabelo mostra a personalidade da pessoa. Se nos anos 50 predominou o topete a la Elvis
Presley, nos 60 foi a vez dos Beatles. Só depois de já terem soltado os bichos e lançado ao mundo Sgt. Pepper´s e White Álbum foi que o visual dos Beatles chegou no Brasil. A Jovem Guarda reverteu o sentido de nobreza: o estilo do “príncipe” Foi parar na cabeça do “rei”. Uma brasa, mora! Roberto Carlos guia seu calhambeque rumo às paradas de sucesso.

O cabelo comprido de Roberto, os anéis e colares reluzentes de Erasmo, as roupas berrantes, as gírias, qualquer gesto repetido no palco vira a moda imediatamente. Os garotos passaram a usar calça de nycron de cintura baixíssima (a popular Saint-Tropez) e boca-de-sino, camisa Volta ao Mundo e perfume Lancaster. As garotas inauguraram o uso da minissaia e, na falta do laquê, passavam cerveja nos cabelos. Nada tinha muito sentido sem o “carrão” – linguagem Mustang vermelho.

Nos anos 60, as cabeleiras foram fundamentais. Ninguém poderia entrar em San Francisco sem trazer flores na cabeça. Era de Aquarius, siglas lisérgicas e, claro, os hippies. Cabelos grandes eram sinal de rebeldia. Não foi à toa que um dos maiores sucessos da época chamou-se Hair. Enquanto o flower-power (branco e classe média em sua maioria) era calmo, o black power era agitado. Os negros cabelos cresceram também, mas para cima. E Sly Stone avisava a chegada de mudanças, e James Brown orgulhava-se de ser negro. Entre nós, tempos depois, Tony Tornado caminhava pela “BR-3”.

O sonho não acabou. Seus personagens existem, usam peruca e calça boca-de-sino e acabam de invadir as discotecas de New York. A febre dos sixties atingiu a música na imagem colorida do conjunto Dee Lite; o cinema, com o filme sobre Jim “Doors” Morrison; na TV, com A Feiticeira e o seriado Batman. E coleções de moda internacionais. Nos cabelos, voltam as fitas largas, o coque banana e as perucas coloridas, uma brincadeira que lembra Andy Warhol e o estilista francês Pierre Cardin. Quem procura a autenticidade absoluta não hesita em dormir de touca de meia para obter o efeito liso, obrigatório no visual da época. Também cabelos altos, meio panetone, ao som de “Let´s Twist Again” e “I Love You, Yeh,m Yeh, Yeh!”. O tempero irreverente de quem flutua descompromissado pelo tempo.

Com o ritmo na cabeça, ou seja, heavy metal a todo volume, os head-bangers (balançadores de cabeça) agitam a cabeça no ritmo da música, jogando os cabelos compridos para o ar. Trata-se de uma tribo urbana que continua em ação até hoje. Desde o surgimento do rock pesado que os cultores dos decibéis e da velocidade como padrão musical adotam os cabelos longos. Tanto os cantores (basta conferir bandas como Deep Purple, Crue, Metallica, Bom Jovi, Iron Maiden, Sepultura e Megadeth) como os fãs, eles não mudam o visual.

Herdadas do movimento hippie, as cabeleiras dionisíacas de Robert Plant e Jimmy Page, do Led Zeppelin, tornaram-se marca registrada dos adeptos do heavy metal a partir de 1968. E chega aos anos 70, quando algumas cabeleiras tornaram –se históricas. Os longos fios loiros escondidos de Rick Wakeman foram um sucesso. Os cachos de Roger “Tommy” Daltrey também. Ou então os nórdicos cortes de Robert Plant. Blondies Have More Fun, título do filme de Marilyn Monroe, caiu como luva na ala feminina. A galeria de musas blondies no rock é extensa, mas tem um ícone supremo: Debbir Harry. Do Blondie, é claro.

Liberdade, a palavra de ordem nos anos 70 mexeu com as cabeças. Pós-psicodélico, o glam rock do começo dos anos 70 fez uso de todos os recursos da cosméstica feminina. Os adeptos incluem Brian Eno, David Bowie e Bryan Ferry, criador do topete tromba-de-elefante. O mutante David Bowie inventou na primeira metade dos anos 70 o astro decadente Ziggy Stardust, e sua banda Spiders From Mars (As Aranhas de Marte).

De sobrancelhas raspadas e cabelo vermelho, Ziggy desferiu um golpe de misericórdia na estética jeans-cabelos longos e outro na ética messiânica do rock. As mutantes de Bowie não tinham fim. De clone de Bob Dylan a mutante da era cibernética pós-punk, cada mudança, um corte de cabelo, um novo visual. Marc Bolan, fenômeno glitter, tinha uma banda cujo nome era ao mesmo tempo uma paródia e um retrato do marasmo da época: Tyrano-saurus Rex. Os cabelos: espalhados no ar.


The New York Dolls fizeram a cabeça de uma geração ainda de calças curtas. Perucas e mais perucas brilhantes nas cabeças. Por trás dos Dolls, o gênio de marketing: Malcolm McLaren. Na onda disco, imperou John Travolta com seu topetão, mas no final da década a rebelião punk, dark e gótica explode com tufos e/ou cores inimagináveis. Robert de Niro em Táxi Drive consagrou o estilo moicano. Nessa época cresceram também como erva as tranças dos ratafáris. No último capítulo dos cabelos, onde em cada cabeça há uma forma de ser livre, o mergulho narcisista dos anos 80, a onda revivals dos 90 e os dias atuais.