26 outubro 2016

Trajetória de Frank Miller (02)



Em 1987 ele lançou a obra que é considerada um divisor de águas na linguagem dos quadrinhos: a
série Cavaleiro das Trevas, que tomou o velho Batman objeto de um culto que até hoje vem rendendo milhões aos mercadores da cultura de massas. Estrelando um envelhecido e ultraviolento Batman, que volta à ativa num futuro à beira do colapso, dominado por gangs de rua sanguinários, mísseis nucleares, políticos decadentes e uma mídia sensacionalista. Uma visão de expressionismo urbano com o dramático impacto do melhor film noir.

A releitura ousada do Homem Morcego (The Dark Knight Returns) consagrou um formato que passou a ser chamado de prestigie (acabamento requintado, lombada quadrada, papel couchê e sem páginas de publicidade). Estava lançada uma nova tendência. As editoras passaram a valorizar vários de seus produtos com esse formato ou com outros menos luxuosos.

Em 1990 Miller se une à tradição do quadrinho francês. A editora Dark Horse lança a minissérie Hard Boiled onde aconteceu um encontro entre o astro dos quadrinhos franceses (Geof Darrow) com um astro norte americano (Miller). A história trata de um ciborg impiedoso em busca de suas memórias e seu propósito, com uma arte nitidamente violenta, repleta de imagens de aberrações sexuais.

Rica em detalhes, a arte de Darrow para Hard Boiled se desenvolve sob medida para o roteiro surreal-futurístico escrito por Frank Miller, em que Nixon, um andróide assassino coletor de impostos, perde o controle durante uma missão e é destruído. Reconstruído e reprogramado ele pensa ser Carl Seltz, um fiscal de seguros e pai de família exemplar. A série foi premiada com o Eisner Award, conceituado prêmio concedido às melhores obras de HQ.


No mesmo ano é lançada pela editora independente Dark Horse, Give Me Liberty, desenhada pelo artista britânico Dave Gibbons. A personagem principal é uma jovem negra chamada Martha Washington. No futuro sombrio, quando a América vive a expectativa de uma guerra civil sob lei marcial, ela luta pelos seus direitos. A série é ecológica, anti racista e anti fascista. O batismo de fogo de Martha Washington acontece no Brasil, para onde vem com a missão de defender a floresta amazônica dos ataques militares de nacionalistas brasileiros e de terroristas patrocinados pelas corporações norte americanas.

Miller sabe roteirizar como poucos. Mas o problema nesta série é que ele acredita que homens e mulheres fazem sozinhos uma revolução – e que, ainda sozinhos, são capazes de corromper a humanidade inteira. Ele já apostou na teses da feminilidade casual em Elektra Assassina e se deu muito bem. Assim, Martha integra uma força de paz no Brasil para salvar a Amazônia dos fabricantes de hambúrgueres, luta contra a ganância árabe e o massacre dos índios.

25 outubro 2016

Trajetória de Frank Miller (01)



Ele conquistou uma posição de destaque no cenário da cultura pop americana. Roteirista e desenhista
de sucesso, Frank Miller teve uma carreira meteórica no competitivo mercado dos quadrinhos nos Estados Unidos, a ponto de impor suas próprias regras à indústria.

A Comic Con Experience 2016, que acontece no São Paulo Expo entre 1º e 4 de dezembro, terá a volta de Frank Miller, mestre dos quadrinhos que esteve na CCXP 2015 e agora retorna para discutir Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior, a sua nova minissérie do Batman que está sendo publicada atualmente nos EUA e no Brasil.

Sua carreira começou aos 20 anos, como desenhista da revista Twilight Zone, da Gold Key Comics. Logo passou a desenhar episódios da revista Weir War (histórias de terror) para a DC. Mas foi na Marvel que seu nome começou a brilhar. Não com seus primeiros trabalhos, dois números do Homem Aranha, mas com um herói com a vida comprometida pela pouca vendagem: O Demolidor.

Em 1980 ele criou Elektra na primeira história que escreveu para a revista Demolidor. Ele pegou a revista mensal do personagem quase falida e, ao longo do tempo em que esteve desenhando e roteirizando suas aventuras, desenvolveu e sedimentou seu hoje inconfundível estilo. Fiel à linha de humanização dos super heróis, Miller praticamente recriou o Demolidor, inspirando nas aventuras do personagem ingredientes adultos como sexo, violência e análises psicológicas, derrubando ainda o habitual maniqueísmo dos personagens dos quadrinhos.

Em sagas que chegaram a durar meses, Miller introduziu nas aventuras do Demolidor uma de suas mais importantes criações, a ninja assassina Elektra (o grande amor da juventude do herói). Mas, apesar de sua popularidade, ele não hesitou em mata-la para que se tornasse um eterno fantasma na vida do Demolidor.

O assassinato da anti-heroína foi a fórmula de sucesso instantânea. Elektra tornara-se criminosa tão implacável e violenta que o autor foi obrigado a exterminá-la. Morta, tornou-se mito. A genialidade de Miller acertou os leitores nas veias. Elektra é uma das grandes obras da década de 1980.


Desligando-se do Demolidor (personagem criado em 1940 por Jack Cole) depois de colocá-lo entre os líderes de vendagem, Miller partiu para um novo trabalho. A segunda maior editora de quadrinhos nos EUA, a DC Comics deu carta branca a Miller para criar, de cabo a rabo, Ronin. Essa minissérie em seis partes foi o laboratório do autor para alçar novos voos. Em cada edição, ele testou técnicos de arte inspirados em quadrinhos europeus, sul americanos e japoneses. Num mercado como o americano, que sempre olhou para o próprio umbigo, experimentar técnicas estrangeiras, por si só, já é uma ousadia.

Diferente dos quadrinhos época (e estamos falando de 1983), a narrativa de Miller tinha aspectos peculiares. Mudava de closes para grandes planos gerais, usava uma espécie de plano sequência, não enclausurava os quadros em formatos quadrados ou retangulares, mas variava-os. Talvez a sequência memorável seja a sucessão de páginas duplas em que a base do antagonista é liquidada e suas luzes vão apagando aos poucos, enquanto Ronin faz o seu trabalho.

Lançada em 1983 seis edições mensais, Ronin, inteiramente criado por ele, revelava a maturidade do traço, do roteiro, da edição de páginas e da diagramação desse autor. Mas não obteve o mesmo sucesso imediato.

24 outubro 2016

César Romero comemora 50 anos de vida artística



O artista plástico, fotógrafo e crítico de arte, César Romero celebra cinco décadas de vida artística em alto estilo, com a exposição César Romero - 50 anos: um resumo, que reúne dezenas de obras de todas as fases do artista ao longo da sua trajetória profissional, incluindo trabalhos inéditos na Bahia.

César Romero - 50 anos: um resumo será inaugurada no dia 25 de outubro, às 19 horas, no Espaço Caixa Cultural. A visitação acontece de terça-feira a domingo, das 9h às 18h, até 25 de novembro. A outra mostra, César Romero – 50 anos, será aberta dia 09 de novembro, às 19h no Museu de Arte da Bahia. Nesse dia, ele lança o livro A Brasilidade na Pintura de César Romero. Em agosto deste ano Romero recebeu a medalha Thomé de Souza, da Câmara Municipal de Salvador, aprovada por unanimidade pela Casa, para coroar cinco décadas de carreira dedicada à criação artística e a divulgação da cultura baiana.



50 ANOS - Com curadoria da crítica de arte carioca Mirian de Carvalho (ABCA/AICA), a exposição 50 anos: um resumo traz telas, fotografias, gravuras, totens, janelas e desenhos, que apresentam o universo do trabalho autoral, sanguíneo e único do artista, que é baiano de Feira de Santana e tem o Nordeste brasileiro, onde investigou fontes matrizes da cultura popular, como personagem de sua narrativa de formas, cores, códigos e símbolos. Conteúdo que foi trabalhado em 15 subtemas durante estes 50 anos de dedicação a arte.


Na obra de César Romero, a cultura popular nordestina é revivida e valorizada em suas características, tradições e peculiaridades, seja na atmosfera interiorana, nos casarios, nas igrejas, nos brinquedos populares, na cerâmica, no Carnaval, nas festas de largo, nas festas juninas, no circo, nas lendas, na religiosidade. Para o pintor baiano, que estreou no mundo das artes ainda estudante, em 1966, aos 16 anos, com um trabalho vencedor de prêmio na escola onde estudava, a marca cultural do país onde vive e atua é referência fundamental. Sua identidade cultural, enfim, é de ser baiano, nordestino, brasileiro e universal, como ele próprio gosta de se autodefinir.


O ARTISTA - César Romero de Oliveira Cordeiro (Feira de Santana, 1950) iniciou sua carreira de artista plástico na Bahia, em 1967. No Brasil, participou de mais de 500 exposições coletivas e 47 individuais. No exterior, foram 50 coletivas e 12 individuais, em países como Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Portugal, Uruguai, França, Havaí, Chile e Argentina. Fez parte dos principais Salões Oficiais realizados no Brasil. Obteve 44 prêmios de pintura, 5 de fotografia e 4 Salas Especiais. Possui trabalhos em 48 museus brasileiros. Há inúmeras referências nacionais e internacionais sobre seus trabalhos em livros, dicionários, revistas e jornais. Sua fortuna crítica consta de mais de 130 textos de especialistas em arte brasileiros e 12 estrangeiros.
                        
Crítico de arte filiado à Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e à Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), recebeu por duas vezes da ABCA o Prêmio Mário Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), em 2001 e 2007. Também da ABCA, por duas vezes, Prêmio Gonzaga Duque (crítico filiado por atuação do ano), em 2004 e 2010. Em 2015, recebeu da ABCA o Prêmio Destaque Especial por seus 40 anos escrevendo ininterruptamente na imprensa baiana, sobre arte e artistas - um recorde nacional. Em 2016, recebeu a Medalha Thomé de Souza, máxima honraria da Câmara Municipal de Salvador. César Romero tem formação em medicina psiquiátrica e atualmente vive e trabalha em Salvador, Bahia.

Serviço

Exposição: César Romero - 50 anos: um resumo
Artista: César Romero
Abertura: 25 de outubro, às 19 h
Visitação: de terça-feira a domingo, das 9 h às 18 h, até 25 de novembro.
Local: Espaço Caixa Cultural (Rua Carlos Gomes, 57, Centro)
Ingresso: Entrada franca