28 fevereiro 2011

Altos e Baixos em Salvador (5)

O que falta nessa cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais quer se lhe ponha. Vergonha?” (Gregório de Mattos)


De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” (Ruy Barbosa)

Êxtase musical


Agô! Cantos sagrados de Brasil e Cuba é o título do CD que dá um mergulho fundo no oceano de nossa ancestralidade. Dois mundos aparentemente distantes e distintos, tão próximos e desconhecidos, únicos e unos em suas diversidades. O resultado é surpreendente. Ijexá vira salsa saltando do universo dos afoxés baianos para o das sonaridades cubanas. Nas 14 faixas de múltiplas sonoridades tem cantos para Exu, Oxossi, Agradecer e Abraço (participação de Gerônimo), Xaxará, Xangô, Oxaguian, Quebrando Pratos, Iemanjá, Muzenza, Caboclos, Agô! (saudação aos principais Orixas) e Saudação a Oxossi, Saudação a Omolu e Saudação a Ogum. Direção musical e produção de Ari Colares e Dino Barioni, três faixas foram produzidas por Carlinhos Brown. O trabalho é da ong Sambata que se dedica a promover êxtases musicais do encontro entre Brasil e Cuba. Assim, a religião dos Orixás é o principal fundamento da música popular. Belo, valioso, fundamental.


Revitalização


Vale a pena conhecer o trabalho do trio BaianaSystem, que moderniza e amplifica o alcance e as possibilidades da guitarra baiana, fazendo conexões com dub jamaicano, timbres de guitarra e levadas angolanas, além do som da chula do Recôncavo Baiano. O que esse grupo faz é libertar o pop festivo da monocultura da industria do carnaval. E vem mais gente nessa linha: Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, Letieres Leite, B Negão, Lucas Santtana, Pitty e muito mais. È a volta da diversidade sonora baiana.


Engarrafamento


Futuro pessimista para o tráfego em Salvador. A lentidão do tráfego, o crescimento da frota particular, aumento do tempo nas viagens de ônibus em 60% nos últimos oito anos, aumento dos congestionamentos. A cidade está travada. O problema, segundo especialistas não é a topografia das ruas e sim de gestão pública. Todo investimento tem de priorizar o transporte coletivo e alternativo. É preciso ainda um planejamento a longo prazo, melhorar as condições do transporte público, garantir as faixas exclusivas para ônibus e intensificar os agentes de trânsito nas ruas.


Transporte


Salvador necessita implantar um sistema transporte de massa eficiente, rápido e livre de engarrafamentos. Afinal, transporte de qualidade e alta capacidade significa melhor qualidade de vida urbana e mais saúde para cidadãos. Nossa cidade tem caminhado na contramão da história e da modernidade. O uso indiscriminado de carros particulares (acima dos 800 mil) e motos (incalculável) na cidade provocou um assustador crescimento nos índices de violência no trânsito, de mortes nas ruas, de zonas e tempo de engarrafamentos e de estresse para todos. Os gestores passaram e não planejaram nada para a localidade.


Buzu é parte da vida da cidade e das pessoas. O transporte coletivo em Salvador já teve o bonde, as marinetes e as lotações. Os ônibus são imprescindíveis para o desenvolvimento da cidade. Acorda Salvador para melhoria nesses serviços! A Copa 2014 vem aí e até agora o povo continua sofrendo no trânsito!.

Padroeiro


A maioria dos soteropolitanos, não tem conhecimento de que São Francisco Xavier (1506-1552) é o padroeiro de Salvador. O padroeiro de Salvador tem duas festas por ano: 03 de dezembro, dia que foi determinado para a sua festa por ser a data em que ele morreu, e dia 10 de maio. São Francisco Xavier foi elevado a padroeiro de Salvador em 10 de maio de 1886. A escolha veio da crença dos soteropolitanos de que o santo atendeu às preces para que acabassem duas epidemias de peste na capital da Bahia.



Fora do Carnaval


“Suplemento do Carnaval 2010” é o título da pesquisa divulgada pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult) e pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI/Seplan), em parceria com o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb). Cerca de 77,9% dos baianos preferem escapar da folia. Destes, 60,5% preferem ficar em casa e envolver-se em atividades como ver televisão, ouvir música e acessar a internet. O restante viaja e, neste universo, a maioria (89,8%) prefere outras cidades baianas. Ou seja, durante o Carnaval, 1,57 milhão de soteropolitanos ficam em casa, 478 mil viajam, 93 mil trabalham na folia e 452 mil brincam.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

25 fevereiro 2011

Altos e Baixos em Salvador (4)

O que falta nessa cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais quer se lhe ponha. Vergonha?” (Gregório de Mattos)


De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” (Ruy Barbosa)



Cartografia


Foi estudando o samba reggae (misturando informação do Caribe, dos EUA, da Europa e da África) que a antropóloga Goli Guerreiro viu a imagem do mundo atlântico. O estilo musical já foi tratado em seu livro anterior, A Trama dos Tambores. Recentemente ela publicou dois novos livros: Terceira Diáspora, Culturas Negras no Mundo Atlântico e Terceira Diáspora, o Porto da Bahia. Publicados pela editora baiana Corrupio, ela aponta um descolamento de ícones, costumes, músicas, filmes e livro por todo o atlântico negro, que resulta naquilo que chama de terceira diáspora. A terceira diáspora, em sua tese, seria o momento atual das culturas negras deslocadas pela democratização das informações sociais, políticas e culturais de diversos países. Goli se pauta nas relações criadas pela internet que reproduz a interface do blog (www.terceiradiaspora.blogspott.com) que ela criou antes de pensar nas publicações. E nas suas impressões das viagens que fez nos últimos anos. O olhar de Goli enxergou o inusitado. Confira nos livros que mostra uma cartografia de todo esse repertório estético.


Artes plásticas


Um dos maiores registros das artes plásticas produzidas na Bahia, a partir da geração de 1945 até o século 20, foi feito pela crítica de arte Matilde Matos, no livro 50 anos de arte na Bahia (Editora EPP, 400 páginas). A autora reuniu 250 imagens de mais de 80 artistas. Para cada um, resgatou trechos de suas críticas publicadas no jornal e escreveu textos atuais. A obra resgata a produção artística baiana, realizada nos últimos cinco décadas, ilustradas por cerca de 250 reproduções. A apresentação é do secretário de Cultura do Estado, Márcio Meirelles, e o prefácio do jornalista João Falcão. O livro é dividido por décadas, começa pelos ícones baianos da Geração 50 (Mário Cravo Júnior, Genaro de Carvalho, Carlos Bastos, Rubens Valentim, Carybé entre outros), Geração 60 (com a arte dos renovadores, as mulheres na arte – Juarez Paraiso, Juraci Dorea, Calasans Neto, Lygia Milton, Emanuel Araújo), Geração 70 (Edison da Luz, Bel Borba, Murilo Ribeiro), Geração 80 (Leonel Mattos, Vauluízo Bezerra, Marcia Magno, Chico Mazzoni), Geração 90 (Marepe, Caetano Dias, Zau Pimentel) e a Geração 2000 (Célia Mallet, Álvaro Machado, Adriano Castro). Livro imperdível!.


Poluição sonora

Com a entrada do verão, os níveis de poluição sonora chega a alturas insuportáveis. Os moradores pagam IPTU caro e não têm direito a repouso. Festas, gincanas, shows de banda, som alto de carros parados (querendo ser trio elétrico) e agora até som de celular no ônibus (pior não pode ser). Cadê a fiscalização? Não dá para fiscalizar tudo em Salvador, então morador não precisa pagar IPTU porque não existe fiscalização. A prefeitura sabe cobrar mas não sabe fiscalizar e os moradores são penalizados. Aqui, poderiam cobrar taxas de trios elétricos e blocos que arrecadam no Carnaval, fazem barulho e ainda deixam a cidade suja.


Reconhecimento


Ele começou tocando no exterior para depois no interior da Bahia. O instrumentista e compositor Mestre Lourimbau é soteropolitano que agora, com 61 anos, lançou seu primeiro CD (gravado em 1997) e que ganhou recursos do Fundo de Cultura do Estado da Bahia. O CD tem 11 faixas e é fruto de um show feito no Teatro Vila Velha. Lourival Santos Araújo assina as músicas, sozinho ou em co-autoria. Na ficha técnica nomes como Ivan Bastos (baixo), Bau Carvalho (guitarra), Gilmar Gomes (percussão) e Giba Conceição (pandeiro). Vale conferir este CD que dá um de seus recados na letra de Branco com Preto: “Negros e brancos se orientem/e não se dispensem/que o batente é quente”.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

24 fevereiro 2011

Altos e Baixos em Salvador (3)

O que falta nessa cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais quer se lhe ponha. Vergonha?” (Gregório de Mattos)


De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” (Ruy Barbosa)


Hospitais


A saúde em Salvador vai de mal a pior. Cerca de 426 pacientes morreram à espera de vaga nos hospitais públicos em 2009. Muitos culpam a carência de leitos que é agravada pela imigração de pacientes do interior para a capital. Mas outros informam que a demanda de alguns municípios não chega a 40% e que o Estado arca com esses custos. E de quem é a culpa? Salvador não possui uma rede complementar eficiente, formada pelos hospitais filantrópicos e privados. Afinal, Salvador é uma das poucas capitais do País que não possui um hospital municipal. Há também deficit de leitos de alta complexidade, principalmente os de UTI.



Parques


Salvador está cada vez mais abandonada. Os parques estão destruídos e as autoridades não enxergam. Os parques Metropolitano de Pituaçu, do Abaeté e São Bartolomeu (Pirajá) são provas desse abandono. Nessas locais a insegurança é total e o uso de drogas é constante. Ausência do poder público causa problemas. Os ambientalistas informam que a população ainda não tem total conhecimento da importância dos parques ambientais para uma cidade. É preciso criar uma campanha eficaz de conscientização da população sobre o assunto e fazer trabalhos com as comunidades carentes que moram no entorno desses parques para torná-los parceiros dos ambientalistas e instituições de preservação ambiental. Afinal, cuidar da natureza é cuidar da vida.


Desigualdades


“Nos somos os maiores criadores, os maiores produtores culturais, mas, no entanto, quem se apropria da riqueza cultural é um punhado de pessoas da elite branca baiana. Eles se apropriaram até mesmo da logomarca. O samba reggae virou axé music (…) A Bahia tem um viés de desigualdade muito forte, que se expressa na pobreza, na educação, na moradia e na questão da raça. Nós temos um racismo fortíssimo na Bahia, apesar de sermos maioria. (…) Nós temos uma elite extremamente insensível e arrogante”: Zulu Araújo, arquiteto e presidente da Fundação Palmares (Revista Muito n.136, 07/11/2010)


Complicado


“Moro no Rio de Janeiro porque é complicado viver aqui. Lá, você circula muito mais, como músico é valorizado de outra forma”. O discurso do percussionista baiano Orlando Costa – é repetido por 09 entre 10 artistas que vão embora em busca de maior reconhecimento. (Revista Muito n.137, 14/11/2010)


Rios da cidade


Salvador tem 12 rios em seu território. A maioria dos habitantes desconhece. Muitos desses rios foram comprometidos pela expansão urbana com esgotos interferindo no equilíbrio ambiental e na qualidade de vida dos moradores. Das 41 fontes existentes na cidade, 35 ainda corre aqui, mas todas apresentam problemas. A pesquisa sobre a qualidade das águas na capital baiana está no livro O Caminho das Águas em Salvador, da socióloga Elisabete Santos.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

23 fevereiro 2011

Altos e Baixos em Salvador (2)

O que falta nessa cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais quer se lhe ponha. Vergonha?” (Gregório de Mattos)


De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” (Ruy Barbosa)



Livros


O ilustrador Enéas Guerra investe em mercado editorial baiano. À frente da Solisluna Design e Editora (nova editora baiana) fez bonito na 21a Bienal Internacional do Livro com estande criativo e promoveu o lançamento de 16 títulos, entre livros ficcionais para adultos e crianças, literatura técnica ou de caráter mais acadêmico. Entre os livros estão: Candomblé da Bahia e Cacimbo, de José de Jesus Barreto, Notas Mínimas, de Katherine Funk, Margarida Bem me Quer, de Débora Knittel, Imagens da Diáspora, de Gustavo Falcon, Olho Desarmado de Sônia Rangel, entre outros. Mais informações no site da editora: solislunadesign.com.br



Saneamento


Cerca de 83% da cidade de Salvador têm acesso à água e esgoto encanado, segundo dados da Embasa. O fim do esgoto a céu aberto e dos alagamentos, que atingem principalmente os bairros periféricos, poderia reduzir a números insignificantes os casos de leptospirose, doença contraída pela urina contaminada dos ratos e que, entre os meses de janeiro a julho de 2010, já matou pelo menos 13 pessoas em Salvador.


Aeroporto


A guerra contra os portugueses na Bahia durou um ano e cinco meses, mobilizou mais de 16 mil pessoas só do lado brasileiro e custou centenas de vidas. Foi também na Bahia que o Brasil independente correu o mais sério risco de se fragmentar porque os portugueses alimentava a esperança de que, uma vez dominada a Bahia, suas tropas poderiam atacar o Rio e dali recuperar as demais províncias perdidas. Como a Bahia tem muito de contradição, o Aeroporto Internacional Dois de Julho que homenageava a maior data da nossa história (data magna baiana), mudou de nome e hoje é Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães.

Trânsito


O trânsito caótico de Salvador devido a falta de soluções eficientes de mobilidade, expansão mal planejada do mercado imobiliário, más condições da pavimentação de vias públicas, inercia dos diversos prefeitos que a cidade teve e tem. O sistema de transporte coletivo da cidade é um dos piores do Brasil. O transporte de massa como o metrô ainda é promessa enquanto o dinheiro público escorre para outras vias. A primeira capital administrativa do país deveria ser dotada de um bom sistema de transporte público e intervenções de mobilidade que realmente fossem eficientes na resolução do problema. A boa mobilidade tem efeito multiplicador não só nos cidadãos como para os visitantes.


Vandalismo


O vandalismo está em alta na cidade. Bancos, placas de grama, mudas de plantas, esculturas, placas de trânsito, nada escapa da ação dos ladrões e pichadores que depredam o patrimônio público. É preciso criar leis mais severas para quem comete vandalismo, consertando o que foi destruído, prestando serviços a instituições sociais. Mas é preciso mais: todo cidadão deve ser responsável pela conservação dos equipamentos de uso público pois se destinam ao bem comum. É preciso educar essa gente. Consciência neles!


Entulho


Salvador não possui alternativas para a revitalização de entulho pelo setor privado da construção civil. Está na contramão do que determina o Conselho Nacional de Meio Ambiente. O gerador de entulho deveria ter no canteiro de obras um plano de gestão de resíduos. Se houvesse reciclagem interna nas obras, não seria preciso colocar caçambas nem contêineres externos. Além de tapar bueiros, poluir rios, depredar a paisagem e obstruir vias de trânsito, o descarte inadequado de entulho serve como abrigo para roedores e escorpiões, animais vetores de doenças. O poder público precisa pressionar o setor de construção civil a criar alternativas de reutilização.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

22 fevereiro 2011

Altos e Baixos em Salvador (1)

O que falta nessa cidade?
Verdade.
Que mais por sua desonra?
Honra.
Falta mais
quer se lhe ponha.
Vergonha?” (Gregório de Mattos)




De tanto ver triunfar as nulidades;

de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça.

De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,

o homem chega a desanimar-se da virtude,

a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” (Ruy Barbosa)


Acessibilidade


Cerca de 500 mil pessoas (16% do continente populacional de Salvador segundo dados do IBGE) possui algum tipo de deficiência. Este número elevado não é respeitado o Decreto 5.296/04, que regulamenta a Lei de Acessibilidade (10.098/00). A lei obriga os poderes públicos a garantirem acessibilidade, nos espaços, seja público ou privados, às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida (idosos, crianças, gestantes, obesos). Mas em Salvador isso não acontece. As calçadas estão esburacadas e estreitas, ausência de rampas, de avisos auditivos e sinalizadores, além de transporte coletivo ineficiente para pessoas com deficiência. Na Bahia são mais de dois milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, ou seja, cerca de 15% da população do Estado. Como sempre acontece por essas bandas, não houve a aprovação nem implementação do Conselho Municipal dos Direitos de Pessoas com Deficiência. Um atraso de vida!


Memória


A Bahia de tanta diversidade cultural não possui até hoje um espaço reservado à documentação, memória e resgate das expressões culturais do povo baiano. A arquiteta Lina Bo Bardi tentou construir, no início dos anos 60, um acervo de qualidade. A ditadura militar e o desinteresse dos governantes locais relegaram o acervo aos porões do Solar do Unhão. Sei do esforço da Secretaria de Cultura do Estado mas precisam com urgência documentar as danças, procissões, rezadeiras, curandeiros, lendas e crenças, o cancioneiro dos morros, das praias e da caatinga, os carnavais e as receitas tradicionais, os boiadeiros, vaqueiros, as rendeiras e os artesãos. São essência da nossa cultura a se perder de vista.


Xixi

A cultura de fazer xixi na rua continua sendo uma das práticas mais populares e persistentes na capital das tradições. O mau cheiro, entretanto, aguça a memória. A Praça Castro Alves, aos pés do poeta são um dos 53 locais públicos mais procurados por quem batiza com xixi as ruas do Centro Histórico de Salvador. A lista dos mijódromos inclui a Avenida Tancredo Neves, Suburbana e Contorno, as praias de Boa Viagem, e do Cantagalo, Largo dos Mares, fim, de linha da Ribeira e o terminal Rodoviário de Salvador.



Planejamento


A improvisação é a tônica entre nós, e poucos são os que se dedicam ao planejamento. Tudo aqui é festa em última instância. Nada de preparação, pesquisa e boa atuação. “Todo planejador devia andar com um mapa no bolso. O mapa representa o espaço, e as relações econômicas e sociais se realizam nele. É preciso, por exemplo, começar a pensar a Bahia de forma espacial”, escreveu o economista Armando Avena. A falta de planejamento e de manutenção do espaço público pelos poderes públicos cria uma crise de gestão em Salvador. A coleta de lixo é ineficaz, o centro e periferia são tomadas pelo crime, monumentos abandonados....



Tecnologia

A cidade carece de um sistema estadual de ciência e tecnologia capaz de formular políticas e buscar o consenso dos diversos setores representados, interessados em prover o governo de sugestões para um plano consistente em ciência, tecnologia e inovação, a curto e longo prazo.


Virada


Salvador está precisando urgentemente de uma virada histórica. É uma cidade de 500 anos que ainda mantém hábitos medievais. Você tem os senhores feudais encastelados, o populacho e lixo, muito lixo nas ruas” (Fabio Cascadura, vocalista e guitarrista da banda Cascadura – A Tarde. 08/02/2011. Caderno 2)

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

21 fevereiro 2011

Quadrinhos abstratos exploram outros limites gráficos

Abstração, psicodelismo, estética. A editora norte americana Fantagraphics lançou em 2009 a antologia Abstract Comics, organizado por Andrei Molotiu. O álbum reúne quadrinhos abstratos produzidos por diversos artistas entre 1967 e 2009. São trabalhos de 43 artistas gráficos, entre eles estão Victor Moscoso, Spyros Horemis, Jeff Zenick, Bill Shut, Patrick McDonnell, Ibn Al Rabin, Derik Badman, Grant Thomas, Draw, Elijah Brubaker e Mark Badger. Molotiu é professor de História de Arte, especialista em Fragonard e pintura caligráfica chinesa, artista de desenho/pintura caligráfica, de história em quadrinhos abstrata


Abstract Expressionist Ultra Super Modernistic Comics é o primeiro trabalho da antologia, de autoria de Robert Crumb publicado na revista Zap Comics n.1 (1967). A leitura dessa antologia vai muito mais do leitor e sua relação entre o símbolo e o significado. Cada um interpreta à sua maneira. Mesmo as formas sendo abstratas, cada leitor encontra na relação sequencial entre elas ideias de mistura, cruzamento, transformação, ainda que todas elas não sejam mais que metáforas para tentar descrever o que se vê, e não descrições objetivas dessas mesmas “ações” representadas. As manchas abstratas de cada quadro lembra bem aquelas nuvens no céu que não tem qualquer intencionalidade de comunicação, mas que cada um que olha vê nela forma similar a qualquer objeto, seja em forma humana, animal ou vegetal.


Cada leitor abstrai individualmente todo espectro de potencialidades não figurativas, representativas, formais. Cada trabalho desencadeia em nossa mente qualquer ideia, abstração. Mas essa interpretabilidade não pode ser compartilhada do modo mais comum. São obras, como disse Umberto Eco, abertas.


Cada artista reunido nesse álbum tem técnicas diferentes, seja a tinta no papel, aquarelas, lápis, lápis de cor, colagens, manipulação digital, desenho minimal, cartoons aliadas às diferentes estratégias e presenças dos elementos das histórias em quadrinhos. Esses artistas desconstroem os quadrinhos tidos como “normais”. Os graus de atenção são diversos e complexos. Podem ver sem ler, mas nunca ler sem ver.

Muitos dos trabalhos apresentados não possuem o dinamismo sequencial dos quadrinhos não abstratos e não se relaciona com a estrutura narrativas ou os princípios sequenciais a que estamos habituados com seus descritores, mas sim a padrões preferenciais de leitura. Esse experimentalismo nos quadrinhos que vem desde a época de Gustave Verbeck em 1903 e seu “Upside Downs” ou mesmo Winsor McCay com seu “Little Nemo in Slumberland” (1905). Foram muitos os artistas gráficos que deram sua contribuição ao quadrinho experimental até chegar ao abstracionismo. Inclusive um desenhista da Marvel, Steve Ditko nos anos 60 trazia exemplo de abstração na historieta do mago Dr. Estranho. E de lá até hoje temos cortes temporais, espaciais, espacio temporais, narrativas que se funde sobre o salto de imagem em imagem, fazendo da elipse a sua marca registrada. O desenhista Barbe, Crepax, Bode e tantos outros desconstruíram os quadrinhos. Essa desconstrução muitas vezes é necessária para o sopro da narrativa quadrinhográfica.


E se antes esse tipo de quadrinhos (abstrato) tinha papel secundário, relegado a experimentações isoladas, hoje existe um movimento que atua nesse processo pelo qual as artes visuais vislumbre. E o papel dessa antologia é inspirar outros criadores a abandonar (mesmo que temporariamente) a figuração. Os quadrinhos autorais e os autobiográficos seguem esse movimento de desconstrução da imagem. É a Fantagraphics é uma editora que mantém viva e atualizada a tradição do underground, do quadrinho pessoal, liberdade total. Nos anos 90 tivemos os ousados jovens como Chester Brown, Adrian Tomine, Peter Bagge, Daniel Clowes, Alan Sieber, Lourenço Mutarelli, etc, cada um com seu estilo, sua visão de mundo. Há neles uma explosão de formas, cores e uma interação estética rica de sequencialidade., cortes, elipse, tudo abstração onde o leitor poderá viajar ou não. Depende da cabeça (conhecimento, cultura) de cada um.

Quem abrir o álbum vai deparar com os espaços brancos de Patrick McDonnell, dos quadros fragmentados de Benoit Joly, das formas florais de Damien Jay, do concretismo ao poema processo de Ib Al Rabin, do colonialismo psicodélico de Andy Bleck, do futurismo de Andrei Molotiu, do transformismo de Anders Pearson, do desestruturismo de Grant Thomas, do instigante Henrik Rehr, do esquadramento de Mark Granyea, ao quadro transfigurado de Drawn e Jason T. Milis, Elijah Brubaker, das manchas de Tim Gaze, dos riscos de Troylloyd. Tudo para ver e rever, e ver de novo, novo, ovo, vo,o....Abstrações.


ARTE ABSTRATA


O surgimento da arte abstrata ou abstracionismo foi no início do século XX, por volta de 1910. As principais características são: O abstracionismo como libertação das formas naturalistas. Não existe relação da imagem do mundo real com os traços, cores e formas que compõem as obras.

Produção totalmente não-representacional e não objetiva. O artista lança mão tão somente da estruturação dos elementos da composição, ou seja, das relações formais entre linha, cor, ritmo e superfície.


Quando a arte abstrata surgiu no começo do século XX, provocou muita polêmica e indignação. A elite europeia ficou chocada com aqueles formatos considerados “estranhos” e de mau gosto. A arte abstrata quebrou com o tradicionalismo, que buscava sempre a representação realista da vida e das coisas, tentando imitar com perfeição a natureza. Na arte abstrata o artista trabalha muito com conceitos, intuições e sentimentos, provocando nas pessoas, que visualizam a obra, uma série de interpretações. Portanto, na arte abstrata, uma mesma obra de arte pode ser vista, sentida e interpretada de várias formas.


Um desenhista, um artista, quando olha para uma forma, seja ela de um ser humano, animal, árvore ou qualquer objeto, ele não vê apenas a forma apresentada no mundo real, ele abstrai essa forma. Este olhar é desenvolvido... Ele passa por este processo de leitura da forma... Ele passa a não ser mais uma forma, mas assume um significado. A criança abstrai com facilidade. Esse tipo de capacidade de abstração da forma, cria também maneiras diferentes de se ver o mundo, a vida, as pessoas e tudo mais. Não precisamos ser pragmáticos em tudo em nossa vida. Podemos aprender a abstrair. A ver além. A partir dessa nova maneira de ver, de ler, de interpretar, de codificar formas através do desenho, da ilustração, das histórias em quadrinhos e de outras maneiras de se expressar, é que a arte passa a ter vida própria. Os reflexos desta nova maneira de ver, é claro, se estende não só pelas artes gráficas, mas também na literatura, no cinema, na música, etc.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

18 fevereiro 2011

Eduardo Barbosa: Uma vida em função do quadrinho nacional. Autêntico (4)

1914-2006


O desenhista, jornalista e arquiteto Eduardo Barbosa (1914-2006), carioca de Bonsucesso chegou em Salvador em 1973 e não voltou mais para sua terra. O batismo de quadrinhos foi com a revista o Tico Tico. De leitor, passou a desenhista no Suplemento Juvenil, de Adolfo Aizen. O segundo batismo foi com Alex Raymond (autor de Flash Gordon, Jim das Selvas e Nick Holmes), seu grande ídolo.


Daí em diante, começou a mudar e a lutar por um quadrinho mais nacional. Chegou a ser relator de uma lei que regulamentava as histórias em quadrinhos no Brasil, no Conselho Nacional de Cultura (no término do Governo de João Goulart). Na oportunidade, reuniram-se vários desenhistas para discutir os problemas do quadrinho nacional. A lei foi engavetada, como aconteceu com todas as outras que a procederam.

Mesmo sem condições de lançar seus próprios personagens, pois as editoras estavam mais interessadas nos quadrinhos de fora, Barbosa continuou a desenhar. Fez quadrinhos para a Série Sagrada (São Judas Tadeu, Cosme & Damião, N.S.da Penha de França, Bom Jesus da Lapa, São Jorge, Santo Agostinho, N.S.da Conceição) e As Grandes Figuras (Rondom, Raposo Tavares) da Editora Brasil América Ltda (Ebal), os Clásicos Ilustrados, Cavaleiro Negro, Reizinho, Fantasma, da Rio Gráfica Editora, Fuzarca e Torresmo para a La Selva, Tio Patinhas para a Abril, entre outras.


Em 1958, escreveu um livro sobre Lampião (Lampião, Rei do Cangaço) que serviu de base para um filme de Carlos Coimbra (pelas Cinedite). Publicou também no Gazetas de Notícias, do Rio, em folhetim, o romance Judas Tadeu, além de escrever colunas de artes plásticas, participar de coletivas, fazer xilogravuras, reformar graficamente diversos jornais, inclusive as revistas de Cultura Vozes. Foi secretário de redação do Diário da Manhã (1961), no Maranhão.


No Rio, foi repórter de polícia e política, chefe de reportagem e diagramador. Nos anos 60 ele e mais dois amigos resolveram editar quadrinhos eróticos (os famosos catecismos onde Carlos Zéfiro já fazia sucesso). Em 1979, Ano Internacional da Criança, ilustrou Gato na Lua, de Maria Lúcia Amaral e A Velha Bizunga de Ofélia e Narbul Fontes. Veio para Salvador e atuou no Diário de Notícias, Correio e Jornal da Bahia.


Criou histórias sobre a Força Expedicionária Brasileira (Histórias e Heróis da FEB) que foram publicadas em 1975/1976 no Diário de Notícias de Salvador. Em 1977 produziu uma HQ sobre a Lenda da Lagoa do Abaeté, em homenagem aos 70 anos de Adolfo Aizen. A historieta foi publicada em 1979 no Jornal da Cidade, em Aracaju.


No início dos anos 80 iniciou uma HQ para a França, intitulada Yama – Le Mage, mas não recebeu retorno. Trata-se de uma história de aventuras que envolve uma série de diferentes países: Egito, India, Tibet, Africa nos anos 30. Além das entrevistas dada ao jornal Correio da Bahia, foi destaque numa reportagem publicada no fanzine Na Era dos Quadrinhos. Casado com a jornalista Naira Sodré, Eduardo Barbosa morreu no dia 07 de julho de 2006.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

17 fevereiro 2011

Eduardo Barbosa: Uma vida em função do quadrinho nacional. Autêntico (3)

E sobre a lei que regula (va) os quadrinhos no Brasil?

EB – É um dos meus pecados. Eu fui relator dessa lei. No Conselho Nacional de Cultura, no término do Governo de João Goulart. Os desenhistas se reuniram. Pascoal Carlos Magno era o diretor do Conselho. Reuniram-se Ziraldo, Fortuna, Flávio Colin, Benício, Péricles (fez o Amigo da Onça e suicidou-se pouco depois), Gutemberg Monteiro, José Menezes, Primaggio Montovi, José Geraldo, Aylton Tomaz e mais uma porrada de desenhistas. Bolamos essa lei. Mais ou menos isso: A editora, qualquer editora, tem que ter 30 por cento das páginas de suas revistas (no caso quadrinhos) com trabalhos de artistas nacionais. Mas nós mesmos chegamos a conclusão de que essa lei é utópica pelo simples fato de que não existe produção para fazer cumprir tal exigência. Nós não temos produção nem organização para dar, pelo volume de revistas editadas. Em média, as editoras publicam de 30 a 40 títulos mensais, cada. Vamos dizer, você não pode dar 30 por cento das páginas dessas revistas desenhadas. Não tem quem faça. Não tem desenhistas para fazer o negócio, sistemático, organizado. É tudo dispersivo. Faz uma coisa e se chateia, vai fazer outra. É desorganização dos próprios artistas. Eu mesmo trouxe da Argentina, quando trabalhei na Editorial Columba Hermanos, as leis de Peron, de nacionalização das HQs. Era o ideal. Apresentei-as ao conselho. Tinha um senador por lá que se prontificou a estudá-las, deu sumiço nas mesmas e quase acabou com a historieta no Brasil. A lei existe. Agora, os desenhistas nacionais infelizmente não tem condições de produção para manter o mercado. Mauricio de Souza, atualmente é o único que pode manter uma produção xis, pois tem uma grande equipe de desenhistas. Montou um esquema de trabalho. Venceu pela persistência. Merece nosso respeito.


Qual seria a solução para os desenhistas sobreviverem somente com os quadrinhos?

EB – A solução real seria a de uma boa produção. Historietas com bom enredo, bom desenho, bom acabamento. A história do Brasil está cheia de bons temas. Bandeirantes, invasões holandesas e francesas, quilombos, guerra do Paraguai... Um desenhista bom e com um bom nível cultural poderia desenvolver dentro de quaisquer dos temas da História do Brasil, uma excelente história em quadrinhos criando um personagem de ficção que vivesse suas aventuras dentro de um tema histórico. Mas também poderia desenvolver outros temas, tendo sempre em mente que, sem um bom roteiro e um bom desenho, limpo, bem acabado, qualquer HQ está fadada ao insucesso.


Não haveria outra solução?

EB – Existe, sim, mais é uma solução utópica, irrealizável, pelo custo do empreendimento. Seria a criação de um sindicato distribuidor nos moldes dos americanos, belgas, italianos, franceses e outros que, por contrato, ou por produção ou lá o que fosse, comprasse e distribuísse as historietas brasileiras (quando digo brasileiras, refiro-me aos artistas, não aos temas....) pois tem muito desenhista bom por aí, em outras atividades.


Isso já aconteceu com você?

EB – Já. Durante mais de dez anos dediquei-me tão somente às artes gráficas e ao jornalismo, trabalhando tanto no Sul como no Norte e Nordeste, secretariando, dirigindo e reformulando jornais.


E a censura nas editoras?

EB – Todos os editores tem seu Código de Ética, que é plenamente compreensível. Não é censura. Porque o desenhista e roteirista tem que ter em mente que quadrinhos é uma coisa séria, que crianças ainda não formadas, jovens de formação vacilantes ou mesmo adultos sem nenhuma formação ou de formação deficiente, de tendências políticas as mais diversas, médicos, advogados, juizes, militantes, são os leitores dessas histórias. Então há o cuidado de não se criar climas favoráveis ou contrárias a determinadas coisas. O que já não acontece com os grandes heróis de ficção, pois a tendência é sempre engrandecer o herói e ridicularizar o vilão. Então o desenhista não pode usar determinadas expressões, não deve fazer gozações com entidades públicas ou privadas de forma violenta. Não deve misturar religião com temas idiotas. Para isso é que o Código de Ética existe. Não é censura, veja bem. Censura foi o que existiu nos Estados Unidos, nos tempos do famigerado senador MacCatthy, que obrigou aos sindicatos americanos a vestir com soutians e longos as bailarinas que apareciam nos desenhos de Flash Gordon, mandou vestir Tarzan, cortar as cenas de beijos, em todas as historietas, num desrespeito flagrante à liberdade de criação dos maiores artistas do mundo. Mas sua época e seu espírito mesquinho passaram e aí estão os personagens censurados em filmes épicos, como o Superman, o Flash Gordon que vem em novo filme, Mandrake, Principe Valente, provas mais que cabais dos desacertos do senador...


E sobre o quadrinho na Bahia?

EB – Afora umas poucas tiras, o quadrinho na Bahia não existe. Não porque não existam bons desenhistas na terra. O que não existe, como já disse antes, é persistência para se fazer um bom trabalho. A maioria das tiras publicadas nos diários de Salvador é de péssima qualidade e fazem mais mal do que que bem ao desenhista. Acho que a turma deveria primar por uma melhor qualidade, melhor acabamento, melhores temas. Até erros flagrantes de português estão sendo publicados nas legendas e balões, tomem qualquer providência. O desenhista e autor de tiras diárias ou outro tipo de historieta, tem que ter um mínimo de cultura, pois do contrário, estará trabalhando contra a classe, dando base para que os quadrados contra os quadrinhos apontem seus erros como evidências de que historietas são um mal, principalmente para os jovens. É, esse, a meu ver, o panorama do quadrinho na Bahia.


E para o ano internacional das crianças, fez alguma coisa?

EB – Desenhei uma História do Café que será distribuída nos países onde o Brasil tem representações, pelo IBC. E até o momento, desenhei três livros infantis para a Editora Brasil América: Gato na Lua, A Velha Bizunga e a Formiga Lavapé e Vanuite, a Índia que foi Anjo de Paz, livro este baseado numa história verídica, passada entre Rodin e os Índios Caingangue, e, que deverão ser lançados ainda neste mês.


E criação sua, assim, está fazendo alguma coisa?

EB – Bem, estou desenhando uma história, com episódios que vão de 30 a 52 páginas, para um sindicato francês, Socerlid. É a história de Mentalo, o Mago, um místico tibetano, em luta permanente contra outro místico, o Tantra-Negro. Suas aventuras se desenrolam desde o Tibet até a África, desde a Índia até o Egito, e por aí... Será publicada em primeira mão na França e, posteriormente, distribuída para toda a Europa. No Brasil, somente se algum editor daqui se interessar, já que estou vendendo os direitos para a Socerlid.

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