29 maio 2015

O olhar na MPB



Quantas composições foram feitas para traduzir o olhar? Na música popular brasileira o olhar semprefoi uma referência. Vamos citar algumas. “Olhar Matreiro”, de Cazuza e Fagner revela: “Quando eu voltar pra você/Eu vou voltar inteiro/Quando eu chegar com meu olhar matreiro/Quando eu tocar a campainha/Me aninha/Certo que você é minha rainha...”. 

Tom Jobim parece que não entendeu o significado do olhar na composição “Este Seu Olhar” cuja letra diz: “Este seu olhar quando
encontra o meu/Fala de umas coisas/Que eu não posso acreditar/Doce é sonhar, é pensar que você/Gosta de mim como eu de você//Mas a ilusão quando se desfaz/Dói no coração de quem sonhou/Sonhou demais, ah! se eu pudesse entender/O que dizem os seus olhos”.

Já o tropicalista Tom Zé vai fundo em “Teu Olhar”: “Quando é dia/teu olhar/água clara/teu olhar/pela fresta/do olhar/procurava/teu olhar/minha alma, minha calma, estrela-dalva”. Mesmo sem entender a separação, Tim Maia encontra “Ternura em seu Olhar”: “Que parou comigo/Estou perdido e pra você/Eu já não sou ninguém/Mas apesar de tudo/Ao cruzar olhos nos olhos/Estou certo que tem//Ternura, ternura/Em seu olhar/Ternura, ternura/Em seu olhar”.


E foi dessa maneira que Gilberto Gil viu “Seu Olhar”: “Há no seu olhar/Algo que me ilude/Como o cintilar/Da bola de gude/Parece conter/As nuvens do céu/As ondas brancas do mar/Astro em miniatura/Micro-estrutura estelar//Há no seu olhar/Algo surpreendente/Como o viajar/Da estrela cadente/Sempre faz tremer/Sempre faz pensar/Nos abismos da ilusão/Quando, como e onde/Vai parar meu coração?//Há no seu olhar/Algo de saudade/De um tempo ou lugar/Na eternidade/Eu quisera ter/Tantos anos-luz/Quantos fosse precisar/Pra cruzar o túnel/Do tempo do seu olhar”

O trio Flávio Venturini, Zé Eduardo e Paulo Oliveira escreveram a composição “Teu Olhar, Meus Olhos”: “Olhei teus olhos/Vi o meu olhar e/Uma luz
nasceu//Fechei meus olhos/Vi o seu olhar e/Tanto amor cresceu//E vi o brilho dos teus olhos/Brilhar no mundo dos meus sonhos/Me vi no fundo dos teus olhos/Brincamos juntos tantos sonhos//Amor o sonho/Nunca vai mudar em/Teu olhar, teu olhar, meus olhos”. Candeias ficou preso pela “Expressão do teu olhar”: “Na expressão do teu olhar foi que senti/Que me amavas, eu não podia, não podia fugir/Na expressão do teu olhar compreendi/Que precisava do carinho que nunca senti/Os teus olhos lindos, encantadores tinha um quê das flores/Rosas formosas com brilho do orvalho da manhã/Calados serenos transmitindo um tom de veneno/Me atraias, olhar sedutor/Cadê, o ativo olhar que há tempos conheci/Sedução do olhar que pressenti cheio de calor/Deus criou a beleza na mulher/Vem o tempo e destrói a obra do criador”. E o paulistano Guilherme Arantes canta que “O universo vai se abrir, sob o efeito de um olhar” na canção “Sob o Efeito de Um Olhar”.


Moraes Moreira e Antônio Risério conheceram o “Olhar de Cobra” que diz: “Ela tem um olhar de cobra/Que toda hora/Paralisa o meu/E toda vez que ela olha/A brisa beija a flora/Estrelas brilham no breu”. A banda Chiclete com Banana dispara o “Olhar 99”: “Olhe meu olhar noventa e nove/Salpicado de amor”. Na carnavalesca “Chão da Praça”, Moraes Moreira e Fausto Nilo falam de “olhos negros, cruéis, tentadores/das multidões sem cantor” pois “lá no Oriente tem gente/com olhar de lança na dança do meu amor”. Alexandre Peixe cantou o “olhar de escorpião”. Na composição “Olhinho”, Zeca Baleiro confessa: “Olhos santos, santos olhos/olhos de quem quer ver/o que ninguém vê/quer ver o que ninguém ver/furacão, avião, lamparina, sina, carnificina e solidão”.

Já Humberto Teixeira em “Dono dos Teus Olhos” cheio de ciúme revela: “Não se esqueça/que eu sou dono dos teus olhos/faz favor de num espiá pra mais ninguém;esse azul cor de promessa dos teus olhos/faz qualquer cristão gostar de tu também/que nosso Senhor perdoe os meus ciúme/quando penso em cegar os óio teu/pra que eu/somente eu/seja o teu guia/os óio dos teus óio/a luz dos óio teu”.

Leila Pinheiro conhece muito bem o “Olhar de Mulher” quando canta: “Ninguém pode ofuscar/A jóia rara/Que brilha no olhar/De uma mulher/Quem sabe o que quer/Não pode resistir/A gloria de existir/Sobe essa luz/A jóia que seduz/Não cabe em sua mão/Só pode possuir/Quem sabe o seu valor/E der em troca/O coração/De graça em troca/O coração”. Tem muito mais olhar na MPB...

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O livro "Breviário da Bahia" 
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Tel: 3336-6997. 
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28 maio 2015

Loucura, a volta ao instinto livre



O louco já foi transformado em personagem em várias épocas e manifestações artísticas. De Machado
de Assis ao cinema hollywoodiano, dos quadrinhos de Maurício de Souza à tragédias gregas, das artes plásticas ao teatro do absurdo surgiram muitas histórias das razões da loucura. O pensador francês Michel Foucault citou a frase em que Dostoievski diz que “não é trancando seu vizinho que você se convence da sua própria loucura”. Ele mostra é que uma sociedade como a nossa tem uma incapacidade mental de conviver com o diferente. O louco é a diversidade represada.

Criadora do Museu de Imagem do Inconsciente, no Rio, a doutora Nise da Silveira concorda ao afirmar que “louca é a sociedade, basta olharmos à nossa volta. Os loucos têm muito mais juízo do que a maioria das pessoas”.

As três grandes correntes de interpretação sobre a loucura surgem na Antiguidade Clássica. Homero inaugura a corrente mítica que atribui tudo o que acontece ao homem à vontade dos deuses. Depois tem Eurípedes e os trágicos onde a loucura aparece como uma exacerbação das paixões, e sua causa está no conflito entre a proibição e a norma, o desejo e a função. A última corrente é representada por Hipócrates que passa a entender o louco como alguém que sofre de um mal orgânico.

Com o tempo, as concepções de Homero foram reeditadas, de forma corrompida, pelos padres demonistas da Idade Média.E assim os deuses se transformariam em diabos e o homem seria culpado por seu desvio. A cura da loucura muitas vezes era a fogueira purificadora da Inquisição. Já as ideias de Hipócrates seriam reaproveitadas pelos alquimistas, ainda na Idade Média, e pela medicina do século XIX. As duas linhas permaneceriam em evidência até hoje. A primeira, no esoterismo que se propõe como remédio. E a segunda, na própria psiquiatria.

Mas teve um filósofo que foi soterrado pelo racionalismo platônico: Eurípedes, ele foi o único que não deixou sucessor. Até hoje, ninguém, recuperou plenamente a idéia de que a loucura pode surgir do lado emocional do ser humano. Freud foi um possível sucessor do autor de “Medeia”. Ele se aproximou da emoção mas não chegou a reaproveitar a idéia da loucura como uma explosão da passionalidade. Freud não tem uma teoria sobre a loucura. A loucura é a volta ao instinto livre, que procura o prazer desavergonhadamente, sem culpa. E Freud ainda apresenta uma visão médica, não consegue perceber que a cultura violenta o instinto.

A sociedade hoje classifica a loucura ou insânia como uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados "anormais" pela sociedade. É resultado de doença mental, quando não é classificada como a própria doença. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psiquiatria clínica. Em algumas visões sobre loucura, não quer dizer que a pessoa está doente de mente, mas pode simplesmente ser uma maneira diferente de ser julgado pela sociedade. Na visão da lei civil, a insanidade revoga obrigações legais e até atos cometidos contra a sociedade civil com diagnóstico prévio de psicólogos, julgados então como insanidade mental

O Elogio da Loucura é um ensaio escrito em 1509 por Erasmo de Roterdã em 1509 e publicado em 1511. O Elogio da Loucura é considerado um dos mais influentes livros da civilização ocidental e um dos catalizadores da Reforma Protestante. O livro começa com um aspecto satírico para depois tomar um aspecto mais sombrio, em uma série de orações, já que a loucura aprecia a auto-depreciação e passa então a uma apreciação satírica dos abusos supersticiosos da doutrina Católica e das práticas corruptas da Igreja Católica Romana. O ensaio termina com um testamento claro e por vezes emocionante dos ideais cristãos.

O ensaio é repleto de alusões clássicas escritas no estilo típico dos humanistas do Renascimento. A
Loucura se compara a um dos deuses, filha de Plutão e Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, cujos companheiros fiéis incluem Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia (Loucura), Tryphe (falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono morto).

A loucura como parte integrante da própria razão: eis uma proposição tão espantosa que se resiste a aceitar. Mas fácil defini-la como doença mental ou desvio social. Pois é da relação loucura/razão que trata João Frayze-Pereira (no livro O que é loucura), demonstrando que a determinação dos estados "normal" e "patológico" depende menos da ciência que da cultura e da sociedade. O assunto rende debate. Pensem na loucura, pois!.
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27 maio 2015

“Só uma minoria tem segurança jurídica no país”



Conselho de Justiça aponta TJ-BA como pior em julgamentos de corrupção: Um levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontou o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) como o pior tribunal estadual do país em relação a julgamento de casos de corrupção. No estado, o acervo de processos de casos de corrupção é de 7.233, mas apenas 559 foram julgados no ano de 2014. Desta forma, o tribunal baiano apenas julgou 7,73% dos processos de combate à corrupção de seu acervo de primeiro e segundo graus, ficando em último lugar no ranking nacional do cumprimento da Meta 4 do CNJ. A meta estabelece o julgamento de processos relativos a casos de corrupção distribuídos até 31 de dezembro de 2012.

Em 2008 os jornais baianos estampavam manchete dos desembargadores suspeitos de participar de comércio de decisões judiciais, que resultou na prisão de quatro advogados e serventuários. Os magistrados do Tribunal de Justiça da Bahia foram presos na operação batizada de Janus (o deus romano dos portões e portas). Ainda em 2008 no Centro de Convenções, a ministra Eliana Calmon, do Supremo Tribunal de Justiça, foi ovacionada ao criticar a postura de colegas do magistratura, que estariam “blindando” bandidos do colarinho branco e do crime organizado com liminares, para que estes não sejam presos. Ela foi uma das oradoras na abertura do seminário Segurança Pública e Promoção da Igualdade, Direito e Responsabilidade de Todos Nós.

Eliana Calmon disse que as decisões judiciais deixam o povo confuso: “Um juiz concede liminar, outro caça, e o povo não entende nada”. Ao defender a tolerância às diferenças e a igualdade de direitos, a ministra disse que o Judiciário “não é mais aquele cavalo de pedra que apenas assistia a tudo e simplesmente aplicava as leis. Agora, tem fundamental importância na cobrança de políticas públicas ao Estado” (A Tarde, 08/08/2008)

Nesse mesmo período o jornal Folha de S. Paulo (03/08/2008) publicava: “Só uma minoria tem
segurança jurídica no país, diz delegado”. A opinião é de Prótegenes Queiroz que admite blindagem de escritório de advogado, mas diz que “não se pode proteger exercício da advocacia criminosa”. Segundo ele, “a sociedade não se sente segura juridicamente. Porque hoje a segurança jurídica está despolitizada para uma minoria privilegiada no país, não para a maioria da população. A maioria é despolitizada mesmo. É punida mesmo. É só ver quantas pessoas que recorrem ao Judiciário têm sua demanda atendida rapidamente”.

MOROSIDADE

Há várias críticas ao Judiciário, uma delas é a demora muito para decidir processos, impedindo ou retardando providências essenciais. A outra é que o judiciário tem interferido em matérias da competência dos dois outros poderes, rompendo o equilíbrio, a independência e a harmonia determinados pela Constituição (art 2). Pesquisa inédita realizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) aponta que uma das principais causas da morosidade na Justiça é a falta de estrutura nas unidades judiciárias do País.

Pesquisa do Conselho Nacional de Justiça revela que a Bahia teve maior taxa de congestionamento de processos (76,6%) no ano de 2007. Outros dados que apontaram deficiências no Judiciário baiano dizem respeito ao insatisfatório número de juízes. A Bahia, empatando com o Maranhão, apresenta apenas 4,3 magistrados por cada 100 mil habitantes. Além disso, devido ao número menor de juízes, o Estado figurou entre aqueles com as maiores cargas de trabalho por magistrado em segundo grau e nos juizados especiais. Foram 2.442 processos originários e recursais por juízes baianos de segundo grau. Nos juizados especiais (média de 8812 processos por Estado), a Bahia contabilizou 15.775 por magistrado.

A pesquisa do CNJ demonstra ainda, que em 2007 a Bahia investiu menos com informatização do
Judiciário (1,7% dos gastos do Tribunal) que a média de todos os demais Estados do país (2,43%). Da mesma forma, a Justiça baiana, com 0,76, ficou abaixo da média nacional no número de computadores por usuários (0.86). “Lentidão dá o tom de julgamentos na Bahia” foi o título da matéria no jornal A Tarde (20/02/2009).

O judiciário cumpre com presteza e em modo claro sua missão de julgar?. A resposta do povo é não. Continua atrasando os processos e os problemas vão se agravando. Enquanto isso o Supremo Tribunal Federal pressiona o Congresso a reajustar os salários dos ministros da Corte dos atuais R$24.500 para R$27,716, o que representaria um reajuste de 13,12%. Se aprovado no Congresso, o reajuste da magistratura federal representará um gasto adicional de R$347 milhões. Se o salário de ministros do Supremo passar de 24 para 27 mil vai provocar efeito cascata em toda a magistratura federal. “Farinha pouca meu pirão primeiro” no judiciário brasileiro.

O colunista Alex Ferraz na Tribuna da Bahia (02/03/2008) comentou: “A Justiça brasileira nunca falha na sua tradição de estender de tal forma os prazos de julgamentos que, muitas vezes, acusados e acusadores morrem antes de findar um processo. Pois é: nunca falha, sempre tarda”.

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