29 julho 2015

Diversidade em questão



A ideia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de
visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. “Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem todos têm o mesmo horizonte”, disse Konrad Adenauer. O brasileiro tem muita dificuldade em aceitar a diversidade. Não tem consciência de que nosso país é um viveiro de diferenças, desde as espécies da fauna e da flora e diversificadas regiões geográficas até nossa enorme variedade humana, cultural, religiosa e linguística. E por que isso? Para muitos, essa nossa mistura evoca a ideia de inferioridade. Esse pensamento retrógrado veio de cinco séculos passados, de uma ideologia eurocêntrica que dizia que o elemento branco conquistador é superior. Essa ideia está na base da nossa formação desde o século 16.

Os primeiros jesuítas que vieram ao Brasil escreveram cartas informando que a miscigenação entre brancos, índios e negros acarretaria um gradual branqueamento, correspondente a uma evolução para esses contingentes humanos tidos como inferiores, menos inteligentes. Esses pensamentos atravessaram séculos e geraram preconceito, exclusão, vergonha e estão presente no imaginário coletivo.

No século 16 o povo ibérico queria expandir seus territórios e sua visão de mundo se baseava na racionalidade e no dogma cristão. Os povos milenares que ocupavam as Américas se relacionavam com o meio ambiente e tinha uma maneira totalmente distinta dos europeus. O encontro entre esses dois grupos humanos (ibéricos e americanos) gerou povos híbridos a partir da subordinação violenta do ameríndio ao europeu. Os valores e interesses da civilização branca foram impostos às custas de negação de valores humanos dos povos indígenas.

O antropólogo Darcy Ribeiro disse que o pai do povo brasileiro é branco, mas a mãe que o gerou é índia. O filho desse casal fundador é um mestiço bastardo e desorientado. Os colonizadores faziam questão de rebaixar a figura materna, gerando o sentimento de que nossa gente tem uma origem desprovida de valor. Esse foi todo o problema histórico que gerou o sentimento incômodo com a diferença.

E como disse o analista Roberto Gambini, “o amor se nutre da diversidade do outro em relação a mim. Amor não é fusão, é aceitação daquilo que não sou eu. Se todos fossem iguais, não seria necessária grandeza alguma, apenas uma boa acomodação. O Brasil é um país que clama por um amor generoso pelo diferente e por uma compreensão da riqueza que nasce da alquimia das diferenças. Mas nada disso está muito claro em nossa mentalidade coletiva. Falta foco, faltam linhas que aprofundem e direcionem essa reflexão. Ainda não descobrimos que aprender a respeitar e conviver com diferentes maneiras de ser nos faz crescer como seres humanos”.

Educação é a única coisa que pode promover a ascensão social da próxima geração das camadas menos favorecidas e gerar mudança social. É preciso tolerância, respeito e compreensão do valor da diversidade, aliados a um gradativo nivelamento das diferenças sociais.

Uma pesquisa desvendou a complexidade do perfil do povo brasileiro. Preconceituoso, conservador ou mesmo um pouco acomodado, o Brasil é um país que, em muitos aspectos, é completamente diferente do que se imagina. Foi a essas e a outras conclusões que chegou o sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alberto Almeida, quando concluiu o livro “A Cabeça do Brasileiro” (Editora Record). Algumas conclusões chegam a ser óbvias, como o fato de que grupos sociais com menos escolaridade apresentam mais resistência ao pluralismo de ideias. Outras chegam a ser preocupantes, como a pouca mobilização dos brasileiros para lutar por causas coletivas, como melhores ambientes de trabalho e salários mais justos. 

Apesar disso, o autor explica que a tendência mundial é a do individualismo. Além disso, o preconceito ainda está muito presente no dia-a-dia da população, afetando diretamente os processos de recrutamento e seleção e dificultando o aproveitamento do famoso conceito de ‘diversidade’ organizacional. Assim, mulheres e negros continuam a receber salários menores, enquanto homossexuais são alvo de piadas dos colegas de trabalho. Segundo o professor, “as pessoas de escolaridade baixa são mais tradicionalistas, enquanto aquelas de escolaridade mais elevada aceitam mais o pluralismo, as diferenças, o novo. O brasileiro ainda reivindica pouco, reclama pouco. É um povo que evita o conflito. Ao reivindicar por melhores salários ou promoções, melhores condições de trabalho, a busca costuma ser mais individual do que coletiva, mas isso não é algo exclusivo do Brasil. É um fenômeno mundial”.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo texto! continue escrevendo!