BRASIL - Criados em 1985 pelo cartunista brasileiro Adão Iturrusgarai, os cowboys gays são uma sátira escrachada já a partir do nome, referência ao ator de Hollywood que era ídolo de dez entre dez mulheres, mas que escondia sua homossexualidade. A dupla Rocky e Hudson foi publicada em tiras de jornais e em revistas.
O cartunista Angeli criou em 1983 uma dupla de “revolucionários de botequim”, Meia-Oito e Nanico, que, nas palavras do criador eram “Um, seco e moralista; outro, que queria soltar as plumas”. Meiaoito foi atropelado por um caminhão em tira publicada no dia 20 de julho de 2007. Seu criador reconhece que, como tipo urbano, o pseudo guerrilheiro estava datado. Muitos cartunistas usam a homossexualidade com o tom cômico, não é o caso de Laerte. Suas tiras tocam no tema para reflexão.
A personagem Katita foi criada em 1995 por Anita Prado e aborda, através de tiras, o universo homossexual feminino. As tiras faz uso do humor, o que deixa uma leitura muito mais saborosa e chega para marcar o pensamento e o sentimento das mulheres que preferem amar-se entre si.
O baiano Tomas M. é responsável pela criação de Pássaros Rebeldes, tira de quadrinhos protagonizada pelos amigos Tim e Tom. Retratados com traços bem simples, os dois personagens são jovens e vivem a descoberta da própria homossexualidade em histórias comicas. As tiras foram publicadas no blog pássaros rebeldes.
No auge da polêmica em torno do kit de combate à homofobia produzido pelo Ministério da Educação (MEC), o governo baiano avalia a possibilidade de utilizar em sala de aula a cartilha “Fala Menino! Igual a tudo na vida, um papo sério sobre sexualidades”. O material, que teve apoio financeiro da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, discute temas relacionados à orientação sexual e homofobia através de desenhos em quadrinhos. A cartilha é feita em formato de história em quadrinho, e tem como personagem principal um adolescente gay, o Caju.
Além da narrativa, a cartilha apresenta um glossário com a descrição de termos como bullying e homofobia. Segundo o autor do gibi, o quadrinista Luís Augusto Gouveia, “o material dá ao adolescente homossexual argumentos para que perceba que isso é natural. Queremos distribuí-los nas escolas, fazer debates, a princípio em dez instituições públicas”, afirmou em entrevista ao jornal A Tarde. Luis Augusto trata do tema de forma bastante didática, como lhe é característico, apontando para reflexões importantes, sem perder a naturalidade. Na discussão sobre o preconceito, contrapõe argumentos frequentemente usados em debates, além de destacar outras formas de discriminação presentes em nossa sociedade.
A publicação teve uma tiragem inicial de três mil unidades e foi distribuída gratuitamente. Em entrevista ao Portal Flavour, o quadrinista contou um pouco de sua experiência com o tema e antecipou que a turma do Fala Menino! ganhará um novo personagem, o Caju, um adolescente que está se descobrindo enquanto homossexual. “A cartilha se chama Igual a Tudo na Vida e mais do que uma cartilha sobre homofobia ou bullying é uma história em quadrinhos sobre o que significa ser homossexual hoje em dia para um adolescente e como a sexualidade das pessoas reflete nas pessoas ao seu redor. Além, claro, de discutir claramente sobre o bullying homofóbico dando argumentos, tanto para quem sofre a violência, quanto para quem a reproduz. É um texto ousado por ser direto e apontar claramente para os sentimentos de quem vive esta realidade, cada vez mais comum nas escolas, assim como em qualquer lugar. E, finalmente, é uma história significativa para toda a turma do Fala Menino!, já que além do novo personagem, o Caju (um adolescente gay assumido), um outro personagem conhecido da turma do Lucas, também sai do armário até o final da história”.
Sobre de onde veio a ideia de abordar este tema, o autor informa: “Do convívio que tenho desde que o Fala Menino! chegou às salas de aulas com centenas de crianças e adolescentes e professores. Eu percebi a urgência de chamar atenção para a necessidade do respeito para com qualquer um que, por qualquer motivo, seja discriminado por ser quem e como é. O Fala Menino! sempre foi uma obra sobre o diálogo com a infância, com o novo e o respeito às diferenças. E o que vemos acontecendo, hoje em dia, é que enquanto as minorias conquistam suada e sofridamente o respeito social, uma grande parcela da comunidade reforça suas posturas preconceituosas chegando ao absurdo da violência fisica”.
Sobre a homofobia como tema para ser trabalhado desde cedo, junto às crianças, Luiz Auguto responde: “Qualquer homossexual que você entrevistar, pelo menos a grande maioria, vai lhe responder que já sabia ou desconfiava de sua sexualidade desde muito cedo, mesmo antes da chegada da puberdade. E por ouvir e ver tanta homofobia - muitas vezes dentro da própria casa, da boca e atitudes de quem mais amam - sofrem demais a solidão de se perceber algo do que tantos dizem tantos absurdos. Esses meninos e meninas não entendem o que acontece, por que eles são como são. E, se procuram ajuda nas suas religiões, normalmente encontram ainda mais punição por algo tão natural quanto qualquer coisa que Deus botou na Terra. A história desta revista foi escrita e ilustrada e pensada, palavra por palavra, quadrinho a quadrinho, para eles. E esta é a maneira que aprendi para conversar com crianças e adolescentes. Talvez um pouco mais ludicamente do que se falasse para adultos, mas, com certeza, com o mesmo respeito à sua inteligência e muito, muito mais, admiração e carinho. Quero que essas crianças cresçam sabendo que não estão sozinhas e que não são aberrações. Ninguém faz ninguém homo, assim como ninguém faz ninguém heterossexual. É a vida que vai nos construindo e, eu espero que com este trabalho, eu possa ser um vetor positivo na construção da auto-imagem dessas pessoas”.
O Fala Menino! É um trabalho premiado internacionalmente, reconhecido pelo Unicef e pelo MEC, que através de humor e sensibilidade, em quadrinhos, livos e animações para a tevê, fala do diálogo da infância com o mundo adulto com todas as suas questões, por mais incoerentes que possam parecer. A partir da liberdade da perspectiva infantil, Lucas e seus amigos passeiam por temas delicados como o respeito às diferenças, ética, cidadania, segurança, família, diálogo, violência e preconceitos enquanto divertem-se e aprendem neta aventura de crescer gente.
Leitura Recomendada:
- Cartilha Igual a tudo na vida, um papo sério sobre sexualidades, de Luis Augusto.Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, 2011.
- Rocky e Hudson, de Adão Iturrusgarai
- Katita: tiras sem preconceito, de Anita Costa Prado. Marca de Fantasia.
- “Lanterna Verde – Intolerância”: Arco de histórias escrito por Judd Winnick e ilustrado por Dale Eaglesham, publicado no Brasil nas edições 15 e 16 da revista “Liga da Justiça” pela Panini Comics;
- “A Morte do Superman”: Arco de histórias escrito e ilustrado por diversos autores, publicado no Brasil em dois volumes pela Panini Books;
- “52”: Maxissérie em 13 edições, escrita e ilustrada por diversos autores, publicada no Brasil pela Panini Comics;
- “Camelot 3000”: Maxissérie escrita por Mike W. Barr e ilustrada por Brian Bolland, publicada pela Panini Books em encadernado homônimo;
- “Authority – Sem Perdão”: Série escrita por Warren Ellis e ilustrada por Bryan Hitch, publicada em encadernado no Brasil pela Devir;
- “Jovens Vingadores”: Série escrita por Allan Heinberg e ilustrada por Jim Cheung, publicada no Brasil nas edições 27 à 34 de “Os Novos Vingadores” e 1 à 3 de “Avante Vingadores”;
- “Justiceiro – As Ruas de Laredo”: Arco de histórias escrito por Garth Ennis e ilustrada por Cam Kennedy, publicada no Brasil nas edições 4 à 7 da revista “Demolidor – O Homem Sem Medo”.
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