31 julho 2009

Som incendiário de Jimi Hendrix

O som é incendiário, elétrico, faiscante. Quem ouve não esquece jamais. Como um alquimista do som, ele buscava novos acordes, efeitos, sonoridades. Tentava imitar ao máximo os sons e músicas que vinham de sua mente. Excelente compositor e arranjador, ele era, antes de tudo, um experimentador. A experiência em misturar os sons para descobrir o que cada nota revelava, as cores que transcendia. E tudo isso porque ele tinha uma intensa relação com seu instrumento que não era apenas uma simples ferramenta de trabalho, mas uma extensão de seu corpo e alma. Seu universo sonoro cheio de estranhas e, ao mesmo tempo atrativas texturas e timbres, produzidas na sua uivante Stratocaster, jamais foi repetida. Ninguém ousou como ele. Sua guitarra elétrica não era mais obrigada a tocar só meras notas ou ritmo. Nas suas mãos, a guitarra transformou-se numa máquina geradora de sons tridimensionais. Eram cores e sons feito caleidoscópio na pele de quem ouvia, no som que irradia. E foi assim que ele revolucionou todo o conceito de música de sua época.


“Para mudar o mundo, você precisa antes mudar a sua cabeça."

Foi em agosto de 1969 que seu som espalhou para a multidão na Feira de Arte e Música de Woodstock, em uma fazenda no interior do estado americano de Nova York. Cerca de 500 mil pessoas assistiram Jimi Hendrix tocar na guitarra o hino americano Star Spangled Banner, fornecendo o som e a imagem que simbolizou a festa.

"Me dá licença que vou beijar o céu."

Jimi Hendrix era autodidata e canhoto, tocava de maneira completamente estranha uma guitarra Fender Stratocaster para destros, com as cordas invertidas. Ele revolucionou a maneira de tocar guitarra, desenvolvendo o uso da alavanca e principalmente dos pedais conhecidos como wha-wha. Mais do que isso, colocou a figura do guitarrista como principal personagem nas bandas de rock. Seus solos e riffs foram uma das principais raízes para o nascimento do heavy metal. Em todo seu trabalho misturou elementos do rock e do blues, até hoje é considerado o guitarrista número 1 de toda a história do rock e música pop de todos os tempos. Um guitarrista que segurou a chama do blues preservando sua mensagem para que as novas gerações a descobrissem. Em sua viagem explorou territórios desconhecidos para depois recontar em suas músicas.

INFÂNCIA

James Marshal Hendrix nasceu em Seattle no dia 27 de novembro de 1942. Iniciou na música tocando blues, sua influências fora Muddy Waters e Robert Johnson. Mudou-se para Nova York em 1963, trabalhou tocando em estúdio na gravação de outros cantores, tocou para grandes nomes como Isley Brother, Jackie Wilson, Sam Cooke e a lenda viva Little Richards.

“O dia em que o poder do amor for maior que o amor pelo poder, o mundo encontrará paz”

Seu primeiro nome artístico foi Jimmy James, montou a banda “Jimmy James and The Blues Flames”, Chas Chandler, baixista do The Animals, torna-se empresário da banda, no momento em que já haviam conseguido contrato com a Columbia. Rapidamente deixa de ser figurante e monta sua própria banda, Jimmy James and The Blue Flames. O jovem guitarrista canhoto chama a atenção não apenas pelos solos imprevisíveis e de estilo inédito até a época, mas também pela extrema habilidade em tocar a guitarra com os dentes ou nas costas. Depois de algumas reformulações no grupo, a banda mudou de nome, para “The Jimi Hendrix Experience”. Com o novo nome foram para Londres, nesta viagem surge a gravação da imortalizada música “Hey Joe”, além de “Purple Haze” e “The Wind Cries Mary”, fizeram grande sucesso na Inglaterra, desta viagem amadureceu a idéia do primeiro álbum “Are you Experienced”, lançado em 1967. Após uma turnê como banda de apoio na Europa fazem sua estréia na America no Monterey Pop Festival na California, logo após seguindo em turnê americana como banda de abertura dos Monkees.

“O conhecimento fala mas a sabedoria escuta”

Este álbum até hoje é considerado um marco na história do rock. No mesmo ano lançaram o segundo trabalho, “Axis : Bold as Love”, e em 1968, “Eletric Ladyland”. A banda acaba em 1969, Hendriz monta com Mitch Mitchell, Billy Cox , Larry Lee , Juma Sultan e Jerry Vélez, a “Bando of Gypsys”. Em agosto de 1969, a banda estoura no festival de Woodstock. Em 1970 a banda Experience seria reformulada e lançariam The First Rays of the New Rising Sun, logo depois mudando novamente de nome para Cry Of Love. Em 18 de setembro de 1970 Jimi Hendrix entrou em coma em um quarto de hotel de Londres, sozinho, sendo encontrado desacordado por uma equipe de paramédicos. A caminho do hospital foi constatada a sua morte em virtude de sufocamento por seu próprio vômito. Existem muitas controvérsias sobre a real causa da morte, mas provavelmente Hendrix sofreu uma overdose de comprimidos tranquilizantes. Ele morreu, mas sua enorme influencia exerce até hoje sobre o mundo da música.

"Minha filosofia pessoal é minha música. Nada menos que a música - vida - isso é tudo"





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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´lma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

30 julho 2009

Garotas de papel no Brasil

Até hoje as garotas mexem com o imaginário dos homens. No final do século 19 o teatro de revista vivia o seu auge nos Estados Unidos e transformou dançarinas em estrelas, fotografadas para revistas, anúncios e cartões, mas na década de 40 elas começaram a aparecer nas portas dos armários e paredes dos quartos de milhares de admiradores. E foi justamente esta a origem do nome pin up: o ato de pendurar as ilustrações em algum lugar. Desenhadas ou fotografadas, as garotas invadiram o planeta com suas poses sensuais porém sem vulgaridade.

Foi a partir de 1964, numa produção da Pirelli inglesa, que o calendário passou a ser um objeto absolutamente fascinante que logo se tornou peça de coleção, disputada em antiquários, e valendo bons dólares. As fotos de Robert Freeman nas areias de Mallorca eram atraentes e transgressoras. E definiram um estilo da Pirelli européia de fazer calendário marcado pela presença da mulher: no estado de mais puro sensualismo e beleza. E, também de cenários irresistíveis – o sul da França, oásis marroquino, paisagens da Tunísia, da Califórnia, da Jamaica, ou das Bahamas. Hoje, um exemplar dessas folhinhas vale pequenas fortunas nos leilões de memorabilia.

Em 1974, a Sotheby´s vendeu uma das folhinhas de Marilyn por US$286. Em 1991 uma exposição em Nova Iorque vendia reproduções de fotos antigas da atriz, do tempo em que era operária, por US$2 mil. E muitos das atrizes e modelos tiveram seus melhores momentos estampados em folhinhas que são vendidas nas grandes livrarias do país. E a pin up, antes simplesmente um desenho ou uma foto que ornamentava paredes e chamava visualmente a atenção pela beleza do rosto e do corpo, tradicionalmente escultural e sexy, acabou se transformando numa arte requintada de galerias e museus.

Segundo o estudioso das pin ups, Rudolf Piper (que lançou em 1976 o livro “Garotas de Papel”, pela Editora Global), por volta de 1930, no Brasil a prática de utilização da figura feminina tornou-se comum. Na publicidade, os belos corpos de mulheres vendiam produtos variados, de lingerie a cigarros. O cinema já antecipara a mudança desde 1917. “O Malho” tornou-se a primeira publicação essencialmente feminina e, em 1934, sofria a concorrência de “A Cigarra”. Mas o mito da pin up só foi oficializado com a Segunda Guerra Mundial. O mercado nacional começou a ser invadido por uma enxurrada de fotos, posters, cartazes e calendários com mulheres famosas, posando nuas.

Depois da guerra voltou-se ao esquema piadas pin ups. O Riso, Bom Humor e Seleções de Rir Ilustrada eram sucessos de mercado. Jayme Cortez, um dos pioneiros no destaque dispensado às modelos nacionais, trabalhava na paginação e fotos femininos nos anos 50. Também muito conhecido, principalmente nos calendários das Borrachas Oriori, era o pintor Vicente Caruso que, no final dos anos 40, utilizando uma técnica mista de óleo e pastel, criou belas folhinhas representando índias brasileiras, morenas e de olhos verdes, num clima de mistério e tentação. Nos anos 20 quem fazia esse tipo de trabalho era o ilustrador Renato Silva na revista “Shimmy”.

Nos anos 50, a revista Escândalo lançava duas pin ups famosas: Elvira Pagã e Luz Del Fuego, esta última convivia com as suas serpentes que ajudaram a aumentar sua fama, e foi quem fundou o Partido Naturalista Brasileiro, cujo lema era “Menos roupa e mais pão”. A famosa estrela dos cabarés, Elvira Pagã, metida em maiô de lamê dourado, ganhou manchetes no Brasil e no exterior e capas durante 15 anos. Ela lançou o biquíni nas praias brasileiras (sendo presa por isso) e que, cantando, dançando e despindo-se nos palcos mais famosos do País, levava os homens à loucura. Nessa época, circulava clandestinamente os famosos “catecismos” de Carlos Zéfiro, o desenhista de histórias pornográficas quadrinizadas.

No final da década de 50 surgiu a revista Senhor, que segundo Rudolf Pipper, “inovou a imprensa do gênero, gráfica e estilisticamente, abordando as pin ups com inteligência e riqueza, elegância e sofisticação”. Destinada ao público Classe A, foi a pioneira entre outras publicações luxuosas que, hoje, proliferam. Nos anos 60, o semanário de humor e política O Pasquim transformou Leila Diniz, musa do cinema novo brasileiro, na mais notável e descontraída pin up nacional.

O gaúcho Benício se destacou como um dos melhores ilustradores da época. Ele é autor da maioria dos pôsteres das chanchadas nacionais, além de capista exclusivo dos livros de bolso da Editora Monterrey. Com a censura nos anos 70, esse gênero se esvaziou. Nos anos 80 o consumidor de pin up voltou a satisfazer suas fantasias dependurando no quarto calendário com fotos de Monique Evans, Sônia Braga, Denise Dummont e Aldine Muller. Nos anos 90, chegou a vez de Doris Giesse, Sônia Lima, Andréa Guerra e Luciana Faria. Nos dias atuais, você escolhe...
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29 julho 2009

Bettie Page foi a pin-up girl mais famosa

Criada tradicionalmente em uma família religiosa do Sul dos Estados Unidos, ela passou por um casamento fracassado e muitas outras experiências traumáticas. Mais tarde se muda para Nova York. É lá que um fotógrafo amador faz suas primeiras fotos, dando início à uma vertiginosa carreira de modelo. A beleza e a sensualidade da moça a transformam em uma das mais famosas pin-up’s de todos os tempos. A carreira, no entanto, é interrompida quando um senador americano dá início a uma dura perseguição a pornografia, transformando Bettie Page no símbolo da imoralidade.

The Notorious Bettie Page(2005) é um filme que revela parte da história real da lendária pin-up (foto antiga de mulher, que ganha esse nome por se destinar a pendurar na parede). A direção é de Mary Harron, que já havia feito Psicopata Americano e Um Tiro Para Andy Warhol. A fotografia em preto e branco, sem ajustes ou retoques, ajuda a recriar o clima dos anos 50.O filme vale a pena ser visto pela performance marcante de Gretchen Moll que, tingindo os cabelos de castanho e cortando a franja marcante que fez Bettie famosa, incorpora com perfeição a pin-up. Sua presença na tela é marcante e Gretchen relaciona-se com as câmeras tão bem quando fazia a Bettie real.

FAMA - Bettie ganhou essa notoriedade pela sua relação visceral com a câmera. Ela posava com uma impressionante descontração e naturalidade. Suas fotos foram responsáveis por diversos fetiches que até hoje são copiadas exaustivamente pelas revistas masculinas. Vale explicar que pin-up girl é uma modelo ou atriz cujas imagens sensuais são produzidas em grande escala. E Bettie Page habitou a imaginação de milhares de homens nos anos 50, em uma época que revistas como Playboy ainda não tinham invadido o mercado.

O filme conta a história de Bettie em um período que vai dos anos 30 aos 50. O trabalho da cineasta procura desmistificar certos aspectos da vida de Page. Ela sempre foi associada erroneamente como uma mulher pornográfica. Bettie era uma mulher comum e inocente que nunca se arrependeu de ter posado, pois seu trabalho nunca teve essa conotação. A imagem de uma mulher devassa foi criada pelos consumidores na tentativa de aumentar a sua satisfação pessoal ao apreciar as fotos. Um claro caso de que a imagem se tornou maior que a figura real.

O roteiro do filme segue essa trajetória, demonstrando os nostálgicos anos 50, repleto de ingenuidade. Nota-se que Bettie Page era uma garota cristã que aos poucos foi aflorando seu lado exibicionista, mas sem perder sua aura inocente. Sua imagem foi explorada por uma sociedade machista, ao mesmo tempo preconceituosa que a levou a comparecer em uma seção comandado pelo senador Estes Kefauver (David Strathairn), para explicar sobre suas supostas práticas pornográficas.

O filme explora esses contrastes buscando explicar o que torna algo realizado com inocência em produto pornográfico. O formato utilizado para apresentar essa transformação é a comédia leve. Através do humor, a diretora Mary Harron demonstra que o erotismo é um atributo produzido pela mente e não pelo ato em si.

AMEAÇA - Símbolo sexual dos anos 50, a pin-up Bettie Page chocou a população da época ao se deixar fotografar em poses sensuais, em trajes sado-masoquistas. Em uma sociedade recatada, a imagem apresentada daquela forma era vista como uma ameaça, e chegou a ser investigada pelo governo. Bettie, às portas do tribunal, relembra todos os fatores que a levaram ao estrelato em uma carreira que poucas ousariam ter.

Sem malícia, a garota sempre usou o erotismo para chamar a atenção, mesmo quando vivia em uma rígida família religiosa da cidade de Nashville. Casando-se cedo, Page se desiludiu no amor ao perceber no seu marido um homem frio e violento. As ilusões acabariam quando, já separada, ela sofre um estupro coletivo. Mas Bettie parte rumo à Nova Iorque, buscando uma carreira de atriz. Enquanto estuda, a jovem ganha a vida fazendo fotos como pin-up, mas ela custa a perceber o que sua ingenuidade representa para os homens americanos.

Essa é a Bettie, morena de curvas arredondadas, salto agulha, meia arrastão, chicote em punho, atitude sadomasoquista e aquela carinha de virgem de um lado, safada do outro. Ele foi a modelo pin-up mais famosa dos anos 50. Mas, por trás de tanto carisma, simpatia e beleza que ela sempre esbanjou frente às câmeras, existe uma sulista jovem cheia de sonhos e pequenas tragédias em sua vida e é isso retratou a cinebiografia The Notorious Bettie Page. A atriz Bettie Page morreu no dia 11 de dezembro de 2008, em Los Angeles (Estados Unidos). Ela tinha 85 anos. ( A origem da expressão pin-up deve-se ao fato de que muitas das imagens de mulheres sensuais, recortadas em revistas, jornais e cartões postais, eram penduradas - em inglês, pin up- em oficinas e borracharias Estados Unidos a fora).
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28 julho 2009

Pérolas da MPB (2)

“Para um coração mesquinho/Contra a solidão agreste/Luiz Gonzaga é tiro certo/Pixinguinha é inconteste/Tome Noel, Cartola, Orestes/Caetano e João Gilberto” (Paratodos, Chico Buarque)


“Drão!/O amor da gente/É como um grão/Uma semente de ilusão/Tem que morrer pra germinar/Plantar nalgum lugar/Ressuscitar no chão” (Drão, Gilberto Gil)


“Mandacaru/Quando fulora na seca/É o siná que a chuva chega/No sertão/Toda menina que enjôa/Da boneca/É siná que o amor/Já chegou no coração...” (Xote das Meninas, Luiz Gonzaga e Zé Dantas)



“Tire suas mãos de mim,/eu não pertenço a você,/não é me dominando assim,/que você vai me entender,/eu posso estar sozinho,/mas eu sei muito bem aonde estou,/você pode até duvidar/acho que isso não é amor” (Será, de Villa Lobos e Renato Russo)



“Eu, tu e todos no mundo/No fundo, tememos por nosso futuro/ET e todos os santos, valei-nos/Livrai-nos desse tempo escuro” (Extra, Gilberto Gil)



“Avião sem asa, fogueira sem brasa/Sou eu assim sem você/Futebol sem bola,/Piu-Piu sem Frajola/
Sou eu assim sem você” (Fico Assim Sem Você, Abdullah e Cacá Moraes)


“Viver é um livro de esquecimento/Eu só quero lembrar de você até perder a memória” (Elevador. Ana Carolina)


“Eu vim/Vim parar na beira do cais/Onde a estrada chegou ao fim/Onde o fim da tarde é lilás/Onde o mar arrebenta em mim/O lamento de tantos "ais".”(A Paz, Gilberto Gil e João Donato)


“Exagerado/Jogado aos teus pés/Eu sou mesmo exagerado/Adoro um amor inventado” (Exagerado, Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni).


“Veja bem!/É o amor agitando o meu coração/Há um lado carente/Dizendo que sim/E essa vida dá gente/Gritando que não...” (Grito de Alerta, Gonzaguinha)


“Quando a mão tocar no tambor/Será pele sobre pele/Vida e morte para que se zele/Pelo orixá e pelo egum” (Serafim, Gilberto Gil)



“Rebento, a reação imediata/a cada sensação de abatimento/Rebento, o coração dizendo: Bata!/a cada bofetão do sofrimento/Rebento, esse trovão dentro da mata/e a imensidão do som nesse momento” (Rebento, Gilberto Gil)


“Pra cada braço uma força/De força não geme uma nota/A lata só cerca, não leva/A água na estrada morta/E a força nunca seca/Na vida que é tão tão pouca” (A Força que Nunca Seca, Chico César e Vanessa da Mata)


“O mundo é o mar/Maré de lembranças/Lembranças de tantas voltas que o mundo dá” (Memórias do Mar, Vevé Calazans e Jorge Portugal)


“Amores são águas doces/paixões são águas salgadas/queria que a vida fosse/essas águas misturadas” (Memórias das Águas, Roberto Mendes e Jorge Portugal)


“Onde eu nasci passa um rio/que passa no igual sem fim/igual sem fim minha terra/passava dentro de mim” (Onde eu Nasci passa um Rio, Caetano Veloso)


“Por você/Eu dançaria tango no teto/Eu limparia/Os trilhos do metrô/Eu iria a pé/D
o Rio à Salvador...” (Por Você, Roberto Frejat, Guto Goffi e Mauro Santa Cecília)



“Eu fico/Com a pureza/Da resposta das crianças/É a vida, é bonita/E é bonita...” (O Que É, o Que É?, Gonzaguinha)



“Não me salvo/Porque não me acho/Não me acalmo/Porque não me vejo/Percebo até/Mas desaconselho...”(Enquanto Durmo, C. Oyens e Zelia Duncan)



“Sexo é integração/Não é abuso/Não é serviço/Seu corpo forte e bonito/Não é só por isso/Pré-requisito/Pra minha satisfação” (Sexo, Christiaan Oyens e Zélia Duncan)



“Vou te contar os olhos já não podem ver/Coisas que só o coração pode entender/Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho” (Wave, Tom Jobim)


“Errar é útil/Sofrer é chato/Chorar é triste/Sorrir é rápido/Não ver é fácil/Trair é tátil/Olhar é móvel/Falar é mágico/Calar é tático/Desfazer é árduo/Esperar é sábio/Refazer é ótimo/Amar é profundo/E nele sempre cabem de vez/Todos os verbos do mundo” (Todos os Verbos. Marcelo Jeneci e Zélia Duncan)


“Meu coração, não sei por que/Bate feliz quando te vê/E os meus olhos ficam sorrindo/E pelas ruas vão te seguindo/Mas mesmo assim/Foges de mim” (Carinhoso. Pixinguinha)


“A lua girou, girou/Traçou no céu um compasso/A lua girou, girou/Traçou no céu um compasso” (A Lua Girou, Milton Nascimento)
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27 julho 2009

Pérolas da MPB (1)

“Quando o verde dos teus olhos/Se espalhar na plantação/Eu te asseguro não chores não, viu/Que eu voltarei, viu/Meu coração” (Asa Branca, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)


“Uma parte de mim é multidão/Outra parte estranheza e solidão” (Traduzir-se. Fagner e Ferreira Gullar)



“Tire o seu sorriso do caminho/Que eu quero passar com a minha dor/Hoje pra você eu sou espinho/Espinho não machuca a flor” (A Flor e o Espinho, de Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Guilherme de Brito )

“Queixo-me às rosas/Mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam de ti, ai” (As Rosas Não Falam, Cartola)

“O mundo passa por mim todos os dias/Enquanto eu passo pelo mundo uma vez/A natureza é perfeita/Não há quem possa duvidar/A noite é o dia que dorme/O dia é a noite ao despertar” (O Mundo é Assim, de Alvaiade, Velha Guarda da Portela)



“Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo” (Reconvexo, Caetano veloso)


“Eu tenho tanto/Prá lhe falar/Mas com palavras/Não sei dizer/Como é grande/O meu amor/Por você...” (Como é Grande o meu Amor por Você, Roberto e Erasmo Carlos)


“Vem me fazer feliz/Porque eu te amo/Você deságua em mim/E eu oceano/E esqueço que amar/É quase uma dor...”(Oceano, Djavan).




“Meu coração, não sei por que/Bate feliz quando te vê/E os meus olhos ficam sorrindo/E pelas ruas vão te seguindo/Mas mesmo assim/Foges de mim” (Carinhoso, de Pixinguinha)



“Tristeza, por favor vá embora/Minha alma que chora está vendo o meu fim/Fez do meu coração a sua moradia/Já é demais o meu penar/Quero voltar àquela vida de alegria/Quero de novo cantar” (Tristeza, Haroldo Lobo e Niltinho)


“Procurei/Em todas as mulheres/A felicidade/Mas eu não encontrei/E fiquei na saudade/Foi começando bem/Mas tudo teve um fim..” (Mulheres, Martinho da Vila).

“Nessa cidade todo mundo é d'Oxum/Homem, menino, menina, mulher/Toda gente irradia magia/Presente na água doce/Presente na água salgada/E toda cidade brilha” (É d´Oxum, Gerônimo e Vevé Calazans)


“Quando olhei a terra ardendo/Qua fogueira de São João/Eu preguntei a Deus do céu, uai/Por que tamanha judiação” (Asa Branca, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)


“Brasil, meu Brasil brasileiro/Meu mulato inzoneiro/Vou cantar-te nos meus versos/O Brasil, samba que dá/Bamboleio que faz gingar/O Brasil do meu amor/Terra de Nosso Senhor/Brasil! Brasil!/Pra mim... Pra mim..” (Aquarela do Brasil, de Ary Barroso).


“É a sua vida que eu quero bordar na minha/Como se eu fosse o pano e você fosse a linha/E a agulha do real nas mãos da fantasia/Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia” (A Linha e o Linho, Gilberto Gil)



“O povo foge da ignorância/Apesar de viver tão perto dela/E sonham com melhores tempos idos/Contemplam essa vida numa cela/Esperam nova possibilidade/De ver esse mundo se acabar/A arca de Noé, o dirigível/Não voam nem se pode flutuar” (Admirável Gado Novo, Zé Ramalho)



“Ando por aí querendo te encontrar/Em cada esquina paro em cada olhar/Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar/Que o nosso amor pra sempre viva/Minha dádiva/Quero poder jurar que essa paixão jamais será//Palavras apenas/Palavras pequenas/Palavras” (Palavras ao Vento, Marisa Monte e Moraes Moreira)


“Por ser exato o amor não cabe em si/Por ser encantado o amor revela-se/Por ser amor/Invade/E fim” (Pétala, Djavan)


“Mas é preciso ter manha/É preciso ter graça/É preciso ter sonho sempre/Quem traz na pele essa marca/Possui a estranha mania/De ter fé na vida....” (Maria Maria, Milton Nascimento e Fernando Brant)


“Ah, se já perdemos a noção da hora/Se juntos já jogamos tudo fora/Me conta agora como hei de partir” (Eu te amo, Chico Buarque e Tom Jobim)


“Conhecer as manhas e as manhãs,/O sabor das massas e das maçãs,/É preciso amor pra poder pulsar,/É preciso paz pra poder sorrir,/É preciso a chuva para florir” (Tocando em Frente, Almir Sater e Renato Teixeira).

“Estamos meu bem por um triz pro dia nascer feliz/O mundo acordar e a gente dormir, dormir/Pro dia nascer feliz/Essa é a vida que eu quis/O mundo inteiro acordar e a gente dormir” (Pro Dia Nascer Feliz, Cazuza e Frejat)


“Tua tristeza é tão exata/E hoje em dia é tão bonito/Já estamos acostumados/A não termos mais nem isso./Os sonhos vêm/E os sonhos vão/O resto é imperfeito” (Há Tempos, Renato Russo).


“Como beber/Dessa bebida amarga/Tragar a dor/Engolir a labuta/Mesmo calada a boca/Resta o peito/Silêncio na cidade/Não se escuta/De que me vale/Ser filho da santa/Melhor seria/Ser filho da outra/Outra realidade/Menos morta/Tanta mentira/Tanta força bruta...” (Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil)


“O que será que me dá/Que me bole por dentro, será que me dá/Que brota à flor da pele, será que me dá/E que me sobe às faces e me faz corar/E que me salta aos olhos a me atraiçoar/E que me aperta o peito e me faz confessar/O que não tem mais jeito de dissimular/E que nem é direito ninguém recusar/E que me faz mendigo, me faz suplicar/O que não tem medida, nem nunca terá/O que não tem remédio, nem nunca terá/O que não tem receita” (O que Será. À Flor da Pele. Chico Buarque)
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24 julho 2009

Descoberta silenciosa do mar

O primeiro contato é de encantamento. Ao folhear cada página a sensação é de crescente bem estar, um maravilhado que não tem como descrever em palavras. “Ondas”, livro de Suzy Lee é como um poema, que permite que a imaginação de cada pessoa escreva uma história. Assim, uma menina, gaivotas e o mar formam uma história de descobertas e aventura. Com poucos traços a carvão, a coreana Suzy Lee ilustrou em azul, preto e branco o ruído das águas, o bater de asas das gaivotas, o vento que balança o vestido da menina e a conversa silenciosa que se estabelece ao longo da narrativa. Na história, a garotinha encontra o mar pela primeira vez e Lee ilustra as diversas etapas da relação que se estabelece, aos poucos, com o mar: curiosidade, desconfiança, enfrentamento, desapontamento, susto, desdém, contentamento e confiança.

Para a autora, a descoberta do “prazer universal” de se divertir a beira-mar suscita uma série de sensações, recriadas em imagens pela artista. Ela maneja delicadamente um azul intenso, capaz de dar fluência à leitura deste livro sem palavras em que até mesmo a divisão das páginas serve de resumo para conduzir a narrativa. “Sempre que visito o mar, em qualquer lugar do mundo, vejo adultos e crianças se divertindo enquanto brincam com as ondas, sem distinção entre eles. Sempre tive o desejo de fazer um livro sobre este prazer universal, e quis mostrar tal encantamento através de imagens poderosas, que dizem mais que palavras”, diz ela.

Sobre a divisão física do livro destacando dois planos narrativos, de um lado da página, a segurança, da terra firme; de outro, o mar e seus mistérios, ela informa: “Duas páginas distintas representam também mundos de realidades e fantasias diferentes. Quando a menina cruza a divisão do livro, ela é absorvida para o centro físico do objeto e então emerge dele como uma Alice quando sai do espelho (em Alice no país do espelho). A dobra entre as duas páginas do livro é um dos temas que me interessam. Além disso, Onda é um tipo de sequência do meu livro anterior, Espelho (Edizioni Coraini, 2003), no qual abordei o mesmo assunto: nele, a menina acha seu amigo refletido na página dupla”.

O livro-imagem vendeu 100 mil exemplares em apenas um ano. Sucesso dos verões (e outras estações) em diversos países, foi publicado inicialmente nos Estados Unidos e já ganhou outras versões pelo mundo e finalmente desaguou no Brasil pela conceituada Cosac Naify, uma editora de qualidade. Suzy Lee ganhou com Onda os prêmios de Melhor Livro Ilustrado (lista The New York Times), Melhor Livro do Ano de 2008 (álbum infantil, pela Publishers Weekly) e Melhor Livro Infantil de 2008 (Wall Street Journal)

Crianças e adultos podem até construir a história de Onda de formas diferentes, vão se assemelhar na magia do encontro com o mar – o barulho das ondas, a imensidão azul, pegadas na areia. O mar representa o desconhecido, que espanta e atrai com seu poder e beleza. A garota traz com ela o gosto do novo, a necessidade de experimentar para conhecer e aprender. É assim, entre o rugir das ondas - que às vezes se lançam mais furiosas à praia - e a proteção das gaivotas, que a menina estabelece sua comunicação com o mar. Respeitar a natureza pode ser um dos ensinamentos com gosto de poesia do livro-imagem. Saber que, como a garotinha de Onda, todos vamos crescer e enfrentar desafios, é outro. Importa mais lançar nas páginas coração e mente para escrever sua própria história e descobrir que amizades nascem também de diferenças. É assim que a menina, inicialmente tímida e assustada, experimenta as delícias da água salgada e fria. O mar a recebe e também a expulsa, mas, no final, revela sua grandeza com os presentes jogados na areia.

Contar uma história sem palavras e ser capaz de criar uma narrativa que pode ser lida inúmeras vezes, descobrindo detalhes novos em cada experiência. E essa palavra – experiência – é apropriada para definir o que é ler Onda, da coreana Suzy Lee. A artista mostra como uma menina que vai pela primeira vez à praia, encara o mar. Com formato horizontal, as páginas abertas formam um horizonte de 60 cm. À esquerda, estão a areia, a menina e algumas gaivotas. À direita, o mar. A garotinha chega à praia com a mãe, e se aproxima lentamente do mar, foge, grita, encara e flerta co ele. Aos poucos, ganha coragem para por os pés na água. Começa a brincar até que uma onda maior a assusta. Ela sai correndo e mostra a língua – acha que está segura na areia. Mas a onda arrebenta numa das ilustrações mais bonitas do volume. Depois que o susto passa, o azul do mar invade o céu e, de repente, a infância está resumida numa imagem. A menina nunca tinha visto a água antes. No início, ficou furiosa com o mar, depois assustada. Mas aí começou a brincar com a onda. Depois de tanto o que acontecia, acabou gostando da onda. Ficou amiga dela. A história é uma história de amizade. Mas sem uma palavra.

O poeta pergunta: "A onda anda?/ aonde anda/ a onda?. O outro responde, "no alto de sua crista". Enquanto isso o artista canta: "O mar quando quebra na praia, é bonito, é bonito". Para que outras palavras se Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Dorival Caymmi já emprestam as suas ao mar? Ao longa das imagens deste livro a menina conversa, brinca e até "tira uma onda" na praia. Se os poetas dedicarem seus versos ao mar, aqui é a menina que ouvirá a poesia que vem de suas marolas.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´lma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

23 julho 2009

Discussão teológica em Retalhos

Uma das histórias em quadrinhos mais premiadas de todos os tempos finalmente é publicada no Brasil, pela Companhia das Letras. “Retalhos” de Craig Thompson. Autobiográfica, a obra rendeu ao quadrinista os principais prêmio dos quadrinhos: três Harvey Awards (melhor artista, melhor graphic novel e melhor cartunista), dois Eisner (melhor graphic novel e melhor escritor/artista), dois Ignatz, um prêmio da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos, além de uma longa e elogiosa carta escrita por Art Spiegelman.

O primeiro amor, a rivalidade entre irmãos, a secura paterna, o inverno massacrante, o verão sufocante, o isolamento geográfico. Tudo que poderia resvalar numa narrativa pueril ganha uma dimensão épica avassaladora no traço claro e limpo de Thompson. Seus traços quase rabiscados, promove uma comovente discussão teológica que passa pela infância, adolescência, chega à maturidade e não se completa jamais. As quase 600 páginas é um trabalho de “exorcismo” psicológico, tratando inclusive do abuso sexual que o autor sofreu na infância. Craig Matthew Thompson, 33 anos, nasceu e cresceu na pequena cidade norte-americana de Marathon, no Wisconsin, em uma família de cristãos fundamentalistas, seguidores dos preceitos da Igreja Batista. O seminário seria seu destino certo, caso, no meio do caminho, ele não tivesse descoberto seu talento para o desenho. Escapou por pouco.


DIFERENTE

A obra trata da tragédia e das dores, físicas e morais de crescer sentindo-se diferente do ambiente que o cerca, e a coragem necessária para questioná-lo e seguir rumos distintos dos que lhe são pregados. O crescente questionamento dos preceitos da igreja Batista que Thompson frequentava na infância, as brincadeiras e brigas com o irmão caçula, o inverno rigoroso do local e a relação com Raina, a primeira namorada, guiam o fio narrativo de Retalhos. O resultado é uma obra extremamente original, sensível, marcante. “È o que chamo de literatura”, comentou Jules Feiffer (autor de O Homem no Teto). “Comovente, delicada, com desenhos maravilhosos e sinceridade dolorosa, pode ser a graphic novel mais importante desde Jimmy Corrigan”, escreveu Neil Gaiman (autor de Sandman).

Já o New York Times Review of Books assim comentou: “Ao contar esta história das pequenas brutalidades que os pais infligem a seus filhos e os irmãos uns aos outros, Thompson descreve a agonia e o êxtase da obsessão (por Deus, por um amor) e não teme denunciar os caminhos pelos quais a obsessão consome a si mesmo e evapora-se”.

Thompson trabalhou no departamento de design de uma das maiores editores de quadrinhos dos Estados Unidos, a Dark Horse. Em seguida lançou seu primeiro álbum, Good – Bye, Chunky Rice, em 1999. Em 2003 foi a vez de Retalhos e no ano seguinte, Carnet de Voyage, com relato de viagem sobre a turnê a turnê de divulgação de Retalhos na Europa. Seu próximo livro será Habibi, sobre o mundo árabe.


Essas e outras obras em quadrinhos podem ser encontradas na Galeria Retrô Quadrinhos Cultura e Arte, rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho, Salvador. Telefone 3347-4929.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´lma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

22 julho 2009

A vida na cidade grande pela ótica de Eisner

Ele foi um dos primeiros a apostar no formato hoje conhecido como graphic novel: histórias longas, narrativas adultas, abordagens literárias. Poucos artistas, como ele, conseguiram unir traços de clareza quase fotográfica (na reprodução dos cenários urbanos) com um minimalismo objetivo e, ao mesmo tempo, expressionista nas feições de seus personagens. Um arguto observador do cotidiano urbano. A melancolia das histórias de Will Eisner (1917-2005) é atordoante. Quatro de seus trabalhos estão reunidos em Nova York – A Vida na Cidade Grande, um dos títulos que inauguram o selo Quadrinhos na Cia., criado pela Companhia das Letras. Nova York coloca em um volume os livros: Pessoas Invisíveis, Caderno de Tipos Urbanos, O Edifício e Nova York: a Grande Cidade.

“Nova York: a grande cidade é uma série de vinhetas, algumas delas mudas, outras não; algumas são histórias e outras apenas momentos. Enquanto Eisner estava compondo a maior parte das ilustrações deste livro, ele dava aulas na School of Visual Arts de Nova York, e há uma perspectiva de professor na forma com que muitas destas histórias são contadas, especialmente as mais curtas. A maestria de Eisner sobre o relato mudo é evidente. O diálogo, quando ele o emprega, tende a ser desenhado com um pincel grosso, um cartum onde jamais se desperdiça uma palavra, mas seu ouvido para o ritmo e o linguajar dos nova-iorquinos é natural”, informa Neil Gaiman na introdução.

E o próprio Eisner revela: “Vistas de longe, as grandes cidades são um acúmulo de grandes edifícios, grandes populações e grandes áreas. Para mim, isso não é ´real´. O real é a cidade tal como ela é vista por seus habitantes. O verdadeiro retrato está nas frestas do chão e em torno dos menores pedaços da arquitetura, onde se faz a vida do dia-a-dia”.

A leitura de Nova York marca pela tristeza, pela crueza com que narra pequenas histórias incríveis. Em “Santuário”, um dos três episódios de Pessoas Invisíveis, o protagonista é um sujeito gordo e careca chamado Pincus Pleatnik que vê sua rotina desmoronar, graças a um obituário equivocado. Não importa o quanto se esforce para afastar as coisas que mais teme – solidão, morte, doença, desejo, amor... É só uma questão de tempo para que seus maiores medos arrombem a porta da frente e o tomem de assalto. Isso pode não ser uma verdade universal, mas é uma das regras do mundo criado por Will Eisner. O Edifício acompanha as vidas de quatro pessoas relacionadas a um mesmo prédio de uma cidade grande. Os outros dois livros, Nova York: a Grande Cidade e Caderno de Tipos Urbanos são coleções de vinhetas que duram poucas páginas. Na maioria, são narrativas breves e sem palavras.

Na introdução ao Caderno de tipos urbanos o autor diz que “viver numa cidade grande pode ser comparado a existir numa selva. Tornamo-nos criaturas do ambiente. A reação dos ritmos e coreografias é visceral, e em pouco tempo a conduta de um morador fica tão singular quanto a de um habitante da selva. Vemos habilidades ancestrais e sobrevivência e mudanças sutis de personalidade afetarem o comportamento. Aqui temos uma espécie de estudo arqueológico de tipos urbanos”. Nas histórias ele mostra os principais fatores ambientais que caracterizam a cidade: tempo, cheiro, ritmo e espaço.

Assim, o mestre dos quadrinhos traça um panorama original da vida na metrópole. É um registro impressionante, desde as situações mais cotidianas até as reviravoltas mais trágicas da vida que se esconde por trás de toda grande cidade.
Essas e outras obras em quadrinhos podem ser encontradas na Galeria Retrô Quadrinhos Cultura e Arte, rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho, Salvador. Telefone 3347-4929.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

21 julho 2009

Sábado dos meus amores

O cômico, o trágico e todo o caráter universal de situações e personagens aparentemente banais estão presentes na obra do jovem escritor Marcello Quintanilha, Sábado dos Meus Amores, lançado pela Editora Conrad. Um artesão que mostra a identidade nacional através de crônicas visuais onde o sonho e a realidade se misturam. Desde o vôo solitário de uma borboleta, num jogo de loteria, o primeiro amor de uma moça recém-alfabetizada, ou mesmo um torcedor apaixonado e cheio de superstições, o que se observa é o mergulho vertiginoso na vida brasileira, dos desamores, do futebol, do cotidiano de bairros populares onde o desenho e a crônica se entranham num traço simples, criativo e o requinte da narrativa, poética mas cortante.


Quintanilha tem mais de 20 anos de carreira. Nascido em Niterói (1971) ele estreou nos quadrinhos em 1988 com histórias de terror e artes marciais publicadas pelo Bloch Editores. Em seguida publicou HQs em revistas como General, Nervos de Aço, Metal Pesado e Zé Pereira, além da norte-americana Heavy Metal. Em 1999, lançou o seu primeiro álbum, Fealdade de Fabiano Gorilla, ainda com o pseudônimo Marcello Gaú. Em 2005, veio o segundo livro: Salvador, parte da Coleção Cidades Ilustradas, da editora Casa 21 (o francês Jano desenhou o Rio de Janeiro e o inglês David Lloyd desenhou São Paulo).

Durante os 15 dias que esteve em Salvador, Quintanilha registrou tudo com o olhar de surpresa próprio de quem chega a cidade pela primeira vez. A diversidade cultural da cidade, seduziu o artista e o levou a abraçar o projeto Cidades Ilustradas. Além de muitas imagens, o encontro com a baianidade rendeu conversas interessantes, base para a construção de textos que traduzem as peculiaridades das ruas de Salvador.

Considerado pelo letrista Aldir Blanc como o “Rossellini tupiniquim”, por causa de seu estilo realista, em Sábado dos Meus Amores o leitor pode conferir suas sofisticadas crônicas visuais com cores que seduzem na primeira leitura. Desde o início dos anos 2000, Quintanilha vive em Barcelona ilustrando os periódicos espanhóis como El Pais e La Vanguardia. Trabalha na série de quadrinhos Sept Balles pour Oxford, da editora belga Editions du Lombard, em parceria com os roteiristas Jorge Zentner e Montecarlo.

Este Sábado dos Meus Amores é apaixonante, da primeira a última página. Desde a borboleta rubembragueana até o amor de uma semianalfabeta por um pescador sagaz. Tocante, sensível, um primor. A primeira página leva o leitor a um cruzamento urbano, em que o cronista Rubem Braga (1913 - 1990), observa uma borboleta rodopiar entre prédios e árvores. Um piscar de olhos, ele já não está mais ali. Está aberto o caminho que liga os idílicos anos 50 ao mais corriqueiro sinal fechado do século 21. Além da referência explícita a Braga, há um quê de Nelson Rodrigues e seu universo de situações ordinárias, cotidianas, por vezes levadas ao limite da tragédia. Como a vivida por Zé Morcela, trabalhador de circo que aproveita o tempo livre para beber e jogar cartas num boteco de uma cidadezinha qualquer, até perceber que comprou briga com a polícia local. A qualidade gráfica também é observado. Parabéns a Conrad e a Quintanilha. Quadrinhos de alta voltagem e que mapeiam a alma brasileira.


Essas e outras obras em quadrinhos podem ser encontradas na Galeria Retrô Quadrinhos Cultura e Arte, rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho, Salvador. Telefone 3347-4929.
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20 julho 2009

Ritos do canibalismo em Os Brasileiros

Para quem gosta de histórias em quadrinhos que aprofundam a nossa brasilidade, vale conferir Os Brasileiros (Editora Conrad), do antropólogo e historiador André Toral. Neste álbum ele reúne histórias que desenhou sobre índios publicadas entre 1991 e 2008 e reapresenta o Brasil. O elemento unificador da obra de Toral é a temática do choque de civilizações, que envolve os povos indígenas brasileiros. Choque retratado em diversas manifestações, distantes umas das outras no tempo e no espaço. As histórias contemplam desde os primeiros anos da “colonização” aos conflitos contemporâneos na Amazônia. "Brasileiros é uma condição plural. Por isso que o título está no plural, ele remete a um problema: o que significa ser brasileiro? Não é uma condição única: varia com o período histórico. Os índios não podem ser retratados como vítimas das circunstâncias, porque sempre foram protagonistas da história. Eles tomam decisões ativas, não apenas reagem aos acontecimentos", diz o quadrinista.

Tanto quanto os brancos, os índios são retratados como homens, com seus próprios valores, costumes e práticas. Toral retrata a relação entre as civilizações em momentos críticos, de conflito bélico - seja em meio a guerras, seja nos fazendo acompanhar bandeirantes traficantes de índios ou nos fazendo testemunhas dos crimes que se perpetram nas selvas amazônicas.

André Toral apresenta sete narrações fictícias interligadas apenas pela relação entre brancos e índios no território brasileiro das descobertas até o passado recente. A maior parte da obra retrata os primeiros séculos depois do início da colonização pelos portugueses, quando grande parte do Brasil ainda não havia sido dominado e esta era uma terra sem lei. Esta condição atraiu para cá, além dos colonos lusitanos, toda espécie de marginais e aventureiros que não eram bem-vindos no Velho Mundo. Os europeus viam os índios como meros animais, apenas semelhantes ao homem, por isso podiam usá-los como mão-de-obra e eliminá-los conforme suas necessidades, sem ter que enfrentar nenhum tipo de lei.

VIOLÊNCIA - As ficções de Toral narram o choque cultural e social destas civilizações, mas sem mostrar os índios como vítimas gentis ou criaturas indefesas diante do homem branco, como foram retratadas em clássicos da historiografia brasileira. Partindo da violência sem limites dos bandeirantes, e passando pela fúria predatória dos fazendeiros inescrupulosos até chegar às armadilhas contemporâneas da ganância e do alcoolismo, surgem relatos impressionantes da luta de povos que resistiram e até hoje marcam presença como representantes das sociedades mais antigas e originais que fazem parte da população e da cultura brasileiras.

O paulistano Toral, professor da Faculdade de Comunicações e Artes Plásticas da Faap mostra uma identidade brasileira sempre em movimento. A começar pela violência do Brasil no século 16 através do canibalismo, praticado entre inimigos rituais (tupinambás e tupiniquins). “Nessa guerra de vingança, a violência sistematizada aparece num conjunto cerimonial. Os índios consideravam que ser comidos pelos vermes era uma morte covardes. A morte gloriosa era ser devorado pelo inimigo, era a melhor morte, era o destino ideal para um guerreiro”.

E as histórias mostram como os europeus utilizaram essa característica para obter escravos e em seu proveito. A partir dessas situações a naturalidade da violência vai se incorporando a naturalidade nacional. Em meio a rituais de devoração do inimigo e conflitos sangrentos que se arrastam da Europa até o Novo Mundo, de 1560 até aos grileiros e madeireiros de 2008, notam o quadrinho nacional em plena maturidade.

Os desenhos mais antigos são feitos em nanquim, outros, a lápis. Enquanto o nanquim é a parte do trabalho mais sério, requer mais cuidado, a parte feita em lápis é menos comprometido, e representa mais a “descontração” do meio. A cada história o leitor vai se envolvendo, mergulhando na história. Toral estreou nas HQs em 1986, com história Pesadelos Paraguaios, na extinta revista Animal. Em 1999 ganhou o troféu HQ Mix de roteirista por Adeus, Chamigo Brasileiro. Ele considera que o quadrinhista é um “diretor de cinema em miniatura”, que vive da obsessão hitchcockiana de “controlar tudo, cada pulga de uma cena”.

Essas e outras obras em quadrinhos podem ser encontradas na Galeria Retrô Quadrinhos Cultura e Arte, rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho, Salvador. Telefone 3347-4929.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

17 julho 2009

Maurício de Sousa: “Tudo ficou mais intenso, condensado”

O desenhista Mauricio de Sousa é o criador do personagem infantil brasileiro de maior sucesso em todos os tempos, a Mônica. Numa manobra incomum no mundo dos quadrinhos, ele reinventou a personagem. Na revista Mônica Jovem, já na decima, a menina dentuça e voluntariosa se transformou numa adolescente sensual, que veste minissaia e beija os rapazes na boca. O sucesso da publicação é estrondoso, com 410 000 exemplares vendidos, contra 200 000 que costuma vender o gibi da Mônica ainda criança. A mudança da personagem, alega Mauricio, foi uma forma de se adaptar às transformações de uma sociedade em que a infância é cada vez mais curta. Aos 73 anos, Mauricio de Souza numa entrevista a revista VEJA (04/02/2009)falou do futuro dos gibis. Leia alguns trechos:

Como explicar que os gibis da Mônica adolescente vendam o dobro dos da Mônica criança?
Em cinco décadas, uma mudança extraordinária aconteceu no nosso público. Se antes adolescentes de 14 anos ainda liam e gostavam dos meus gibis, hoje eles começam a deixar de lê-los aos 7. Aos poucos, passam a considerar a Turma da Mônica coisa de criança e a comprar mangás japoneses. Quando estão com 10 anos, já se assumem como jovens. São os pré-adolescentes, meninos e meninas com preocupações e vontades diferentes daquelas que havia quando a Mônica foi publicada pela primeira vez. A infância, portanto, encolheu. Há mais ou menos cinco anos, comecei a pensar em uma maneira de não perder esses leitores. Minha solução foi oferecer a eles um pouco do universo jovem, que até então era reservado aos mais velhos. Pegamos os tradicionais personagens da Turma da Mônica e os inserimos em histórias com uma boa dose de relacionamento. Eles agora protagonizam cenas de ciúme, sentem atração pelo outro sexo e ficam inseguros no grupo. Estão com os hormônios pipocando e não sabem o que fazer com isso. No quarto número, colocamos a Mônica beijando na boca o Cebolinha, agora chamado de Cebola. Deu supercerto. Crianças de 7 anos voaram para o mangá como abelhas no mel. Leem as histórias e se projetam nos nossos personagens. As meninas não veem a hora de ser como a Mônica jovem: descolada, bonitinha, moderninha.

Estamos perdendo anos preciosos da infância?
Essa melancolia que vejo em muitos adultos não faz sentido. Nada está sendo perdido. A questão é que tudo ficou mais intenso, condensado. A infância diminuiu em quantidade, mas ganhou em qualidade. As crianças de hoje aproveitam mais e melhor o tempo e se tornam cidadãs e se formam como ser humano antes do tempo. Logo, logo, será preciso adiantar as datas para que possam entrar mais cedo na faculdade. Elas fazem tudo ao mesmo tempo e não se queixam disso. Não têm preguiça. Meu filho Marcelinho, de 10 anos, está passando alguns dias em uma cidade pequena no interior da Bahia. Está adorando conviver com um monte de crianças com bagagem cultural diferente. Brinca na rua, nada no rio, anda de jegue e joga bola livremente. A qualidade dessa experiência pela qual ele está passando é fantástica. O Marcelo está fazendo as coisas que eu fiz quando era pequeno. Mas ele não precisa passar vários anos da vida fazendo isso. Pode ficar apenas dez dias. Quando voltar a São Paulo, retornará para as aulas de inglês e será novamente um dos campeões de xadrez da escola. Jogará videogame e assistirá à novela. Então essa experiência na Bahia se somará às outras. É uma vida vibrante. O Marcelo não é excepcional. Todas as crianças hoje o são, mesmo as que moram em bairros pobres e favelas.

O senhor foi criticado quando criou a Mônica jovem?
No Orkut, teve gente dizendo que eu apelei, que estava expondo as crianças a algo nocivo. Pura besteira. Os pequenos não entendem que uma roupa curta ou um decote têm algo a ver com sexualidade. Eles interpretam isso como algo fashion, colorido, quase uma mensagem gráfica. Outros disseram que eu devia estar sob efeito de alguma droga, que eu tinha matado a Mônica. Esquecem ou não percebem que nosso trabalho sempre tem a família como foco principal. Acontece que nas casas de hoje se pode conversar sobre tudo: sexo, drogas, violência. Se o pai não puxa esses assuntos, o filho de 5 anos faz isso por ele. É preciso parar de tratar as crianças como seres inferiores, sem senso crítico, sem experiência de vida. Tudo pode virar tema. Não é preciso censurar, apenas deve-se tomar cuidado para usar uma linguagem correta. Em 2004, decidimos que o Xaveco, amigo do Cebolinha e do Cascão, seria filho de pais separados. Ele passaria alguns dias com o pai e outros com a mãe, normalmente. Depois que publicamos a primeira história do Xaveco, nós nos sentamos e ficamos esperando os e-mails e cartas de reclamação. Não houve um único sequer. É um exemplo claro de como o mundo mudou.

O senhor já pensou em criar um personagem rebelde ou fazer histórias para adultos com mais realismo?
Confesso que não saberia fazer isso. Minhas histórias sempre têm uma preocupação, uma proposta de futuro. Tenho para com meus personagens uma atitude parecida com a que exerço com meus filhos. Às vezes, convoco um deles para um sermão, pedindo que se comporte melhor. Muita gente reclama que eu deveria mostrar coisas negativas, como miséria e fome. Também não é a nossa proposta. Durante a II Guerra, todos os personagens dos quadrinhos americanos foram para o campo de batalha. Todos menos o Ferdinando, do Al Capp. Quando perguntaram ao desenhista se o personagem era contra os Estados Unidos, Al Capp respondeu que o soldado que lia o jornal na trincheira não queria saber de guerra. Ele precisava, sim, é de algo gostoso, bucólico, que o fizesse lembrar que tinha um lugar para retornar quando o conflito acabasse. É essa, um pouco, a nossa ideia. Promovemos lazer, entretenimento e diversão. O resto, a criança encontra na televisão ou na esquina.

Com a internet, o celular e a preocupação com o consumo de papel, existe um futuro para os gibis?
O papel pintado ainda vai durar muito tempo. Há uma diferença gigantesca entre a atenção que as crianças dão ao que está no papel e a dedicada ao que aparece nos equipamentos modernos, como videogame e computador. Meu filho Maurício ouve música com três telas ligadas, joga videogame e estuda ao mesmo tempo. Para quem é mais velho parece estranho, mas as crianças de hoje conseguem fazer isso normalmente. Quando uma criança pega um gibi, contudo, ela se isola totalmente do mundo. Fica completamente mergulhada na história. Com isso, o gibi ou o livro ajudam os pequenos a se concentrar. O cérebro deles estabelece uma prioridade, o que é ótimo para o aprendizado e a memória. Se eles lerem gibis cinco minutos por dia, o papel nunca vai desaparecer.
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16 julho 2009

Da infância a fase atual (4)

Mauricio de Sousa nasceu numa pequena cidade do estado de São Paulo, chamada Santa Isabel. Foi em outubro de 1935. Seu pai era o poeta e barbeiro Antônio Mauricio de Sousa. A mãe, Petronilha Araújo de Sousa, poetisa. Além de Mauricio, o casal teve mais três filhos: Mariza (já falecida), Maura e Marcio. Com poucos meses, Mauricio foi levado pela família para a vizinha cidade de Mogi das Cruzes, onde passou parte da infância. Outra parte foi vivida em São Paulo, onde seu pai trabalhou em estações de rádio algumas vezes. Suas primeiras aulas foram no externato São Francisco, ao lado da Faculdade, no centro de São Paulo. Mas depois continuou estudos no primário e no ginásio, dividindo-se entre as duas cidades.


Enquanto estudava, trabalhou em rádio, no interior, onde também ensaiou números de canto e dança. E, para ajudar no orçamento doméstico, desenhava cartazes e pôsteres. Mas seu sonho era se dedicar ao desenho profissionalmente. Chegou a fazer ilustrações para os jornais de Mogi. Mas queria desenvolver técnica e arte. Para isso, precisava procurar os grandes centros, onde editoras e jornais pudessem se interessar pelo seu trabalho.

Pegou amostras do que já tinha feito e publicado e dirigiu-se para São Paulo em busca de emprego. Não conseguiu. Mas havia uma vaga de repórter policial no jornal Folha da Manhã. E Mauricio fez um teste para ocupar a vaga. E passou. Ficou 5 anos escrevendo reportagens policiais. Mas chegou um tempo em que tinha que decidir entre a polícia e a arte. Ficou com a velha paixão.

Criou uma série de tiras em quadrinhos com um cãozinho e seu dono Bidu e Franjinha e ofereceu o material para os redatores da Folha. As historietas foram aceitas, o jornalismo perdeu um repórter policial e ganhou um desenhista. Essa passagem deu-se em 1959.

Nos anos seguintes, Mauricio criaria outras tiras de jornal Cebolinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho e páginas tipo tablóide para publicação semanal - Horácio, Raposão, Astronauta - que invadiram dezenas de publicações durante 10 anos. Para a distribuição desse material, Mauricio criou um serviço de redistribuição que atingiu mais de 200 jornais ao fim de uma década.

Daí chegou o tempo das revistas de banca. Foi em 1970, quando Mônica foi lançada já com tiragem de 200 mil exemplares. Foi seguida, dois anos depois, pela revista Cebolinha e nos anos seguintes pelas publicações do Chico Bento, Cascão, Magali, Pelezinho e outras. Durante esses anos todos, Mauricio desenvolveu um sistema de trabalho em equipe que possibilitou, também, sua entrada no licenciamento de produtos. Seus trabalhos começaram a ser conhecidos no exterior e em diversos países surgiram revistas com a Turma da Mônica. Mas chegou a década de 80 e a invasão dos desenhos animados japoneses.

Mauricio ainda não tinha desenhos para televisão. E perdeu mercados. Resolveu enfrentar o desafio e abriu um estúdio de animação a Black & White com mais de 70 artistas realizando 8 longas-metragens. Estava se preparando para a volta aos mercados perdidos, mas não contava com as dificuldades políticas e econômicas do país. A inflação impedia projetos a longo prazo (como têm que ser as produções de filmes sofisticados como as animações), a bilheteria sem controle dos cinemas que fazia evaporar quase 100% da receita, e o pior: a lei de reserva de mercado da informática, que nos impedia o acesso à tecnologia de ponta necessária para a animação moderna.

Mauricio, então, parou com o desenho animado e concentrou-se somente nas histórias em quadrinhos e seu merchandising, até que a situação se normalizasse. O que está ocorrendo agora. Conseqüentemente, voltam os planos de animação e outros projetos. E dentre esses projetos, após a criação do primeiro parque temático (o Parque da Mônica, no Shopping Eldorado, em São Paulo, seguido do Parque da Mônica do Rio de Janeiro) Mauricio prevê a construção de outros, inclusive no exterior.

As revistas vendem-se aos milhões, o licenciamento é o mais poderoso do país e os estúdios se preparam para trabalhar com a televisão. A par de um projeto educacional ambicioso, onde pretende-se levar a alfabetização para mais de 10 milhões de crianças. A Turma da Mônica e todos os demais personagens criados por Mauricio de Sousa estão aí, mais fortes do que nunca, com um tipo de mensagem carinhosa, alegre, descontraída, dirigida às crianças e aos adultos de todo o mundo que tenham alguns minutos para sorrir, felizes. O criador da “Turma da Mônica” recebeu em 2007 o título de Escritor para as Crianças do Unicef. No ano seguinte foi apontado como um dos dez escritores mais admirados do país, em pesquisa encomendada pelo Instituto Pró- Livro.
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