30 janeiro 2009
O número 1 dos quadrinhos (2)
29 janeiro 2009
O número 1 dos quadrinhos (1)
Muito antes de a imprensa popular norte-americana tratar as histórias em quadrinhos como uma investigação estrangeira, o ilustrador ítalo-brasileiro Angelo Agostini fazia sucesso com histórias ilustradas em revistas do Brasil. Ele era republicano e abolicionista ferrenho, crítico contumaz dos militares, tendo criado espaço na imprensa nacional para a caricatura e a sátira política. Graças ao seu traço de excelente qualidade e uma percepção sutil da realidade brasileira, charges e caricaturas tornaram-se uma parte integrante da imprensa nacional.
28 janeiro 2009
Bá e Moon, invencíveis (2)
Eles nasceram em 1976 e, mesmo com sobre nomes distintos, são gêmeos, formados em artes plásticas por faculdades distintas e, apesar de seus estilos diferentes, trabalham juntos e são co-autores de quase todos os seus quadrinhos.
No Brasil, já publicaram quatro álbuns 10 Pãezinhos: O Girassol e a lua (20000), Meu coração não sei porque (2001), Crítica (2004) e Mesa para dois (2006); desenharam o épico medieval Rolando (2005), escrito por Shane Amaya, e participaram de diversas antologias da nata da produção nacional de quadrinhos.
27 janeiro 2009
Bá e Moon, invencíveis (1)
Desde criança que os dois liam Mônica, Disney, Mad, Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Garfield, Calvin e Haroldo, os super heróis. “Ler Jorge Amado na escola também nos influenciou muito. Um bando de jovens com problemas em Salvador, e como éramos jovens pensávamos: ´putz podia ser eu`. Aquilo nos marcou muito. Toda história que a gente lia nos livros tentamos passar para os quadrinhos”, conta Gabriel. “Tem também o Sherlock Holmes, com suas histórias de quebra cabeça. A gente ficava montando as peças e tentando desvendar o final”, revela Fábio.
“Machado de Assis foi leitor de Poe, e os irmãos Fábio Moon e Gabriel Ba são leitores de Machado de Assis – assim caminha a humanidade (e as artes em geral). Os gêmeos deixam aqui sua comprovada admiração, transcriando, intercriando, recriando – que é tudo uma forma de criação/homenagear a história ´aloprada´ de Simão Bacamarte. Conhecem aquela velha frase publicitária: ´Veja o filme, leia o livro´?. Pois leia a história machadiana, veja/lia esta homenagem que os irmãos prestam ao nosso gênio. Não tenha sido da ´loucura´ nem da boa literatura. Taí, rimou e é uma boa solução”.
26 janeiro 2009
Nildão lança site autoral e livro no Rio Vermelho
23 janeiro 2009
Música & Poesia
O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas?
Que andam sussurrando em versos e trovas?
Que andam combinando no breu das tocas?
Que anda nas cabeças, anda nas bocas?
Que andam acendendo velas nos becos?
Que estão falando alto pelos botecos?
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza.
Será, que será.
O que não certeza, nem nunca terá?
O que não tem conserto, nem nunca terá?
O que não tem tamanho?
O que será, que será?
Que vive nas idéias desses amantes?
Que cantam os poetas mais delirantes?
Que juram os profetas embriagados?
Que está na romaria dos mutilados?
Que está na fantasia dos infelizes?
Que está no dia a dia das meretrizes?
No plano dos bandidos, dos desvalidos?
Em todos os sentidos.
Será, que será.
O que não tem decência, nem nunca terá?
O que não tem censura, nem nunca terá?
O que não faz sentido?
O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar?
Por que todos os risos vão desafiar?
Por que todos os sinos irão repicar?
Por que todos os hinos irão consagrar?
E todos os meninos vão desembestar?
E todos os destinos irão se encontrar?
E mesmo o Padre Eterno,
Que nunca foi lá,
Olhando aquele inferno
Vai abençoar
O que não tem governo, nem nunca terá?
O que não tem vergonha, nem nunca terá.?
O que não tem juízo?
La la la la la……..
Sagração do verão (Luis Carlos Guimarães)
De repente a mulher desabrochou nua
saindo do mar, pois a água não a vestia,
antes a desnudava, fazendo a sua
nudez mais nua à dura luz que afia
seu gume no sol da manhã que inaugura
o verão. Dezembro só luz reverbera
em seu corpo, doura-lhe as coxas, fulgura
nas ancas, no dorso ondulado de fera.
Fera que guarda no ventre um colmeia
com a flor em brasa do sexo que ateia
fogo ao meu desejo e tanto me consome
a vulva, gruta, rosa de pêlos – que nome
tenha – que desfaleço como se em sangue
me esvaísse morrendo de amor. Exangue.
22 janeiro 2009
Paranóia surrealista de Salvador Dali (2)
Tecnicamente as inovações de Dalí pertencem às suas temáticas delirantes do que ao arsenal de procedimentos estéticos que a arte moderna deitou na mão do artista. Como pintor, chega a ser acadêmico, embora tenha realizado objetos, montagens ou estranhas esculturas. Mas Dalí nunca negou sua admiração por artistas acadêmicos como Meissonier (1815/1891) ou Bouguereau (1825/1905). A atividade paranóico-crítica (método de interpretação inventado pelo artista nascido pela tese de seu amigo íntimo, o psicanalista Jacques Lacan chamada Da Psicose nas suas relações com a Personalidade).
cinema “lato sensu”. Os dois filmes provocaram na época enorme reação na França, com a temática anticlerical e/ou demolição da moral burguesa. Hoje observa-se o violento lirismo de duas histórias belas e engraçadas. O namoro de Dalí com o cinema continuou em 1932 quando escreveu o roteiro “Babaouo” que nunca foi filmado.
21 janeiro 2009
Paranóia surrealista de Salvador Dali (1)
Na Alemanha, em 1919, fundava-se a Bauhaus, escola-núcleo do pensamento funcionalista. Era a arquitetura racionalista e sua ênfase no urbanismo, o surgimento do design como um programa ideológico e da arte como ato construtivo, integrado ao mundo das técnicas industriais. O Cubismo, precocemente, e o Construtivismo, paralelamente, instauravam-se como movimentos capazes de acompanhar o próprio desenvolvimento da Ciência moderna, tornando o objeto artístico um fato objetivo, crítico e racional. Arte e Tecnologia pretendiam avançar de mãos dadas, acreditando numa relação positiva entre o indivíduo e o progresso.
20 janeiro 2009
Druuna decide destino dos sobreviventes da tragédia nuclear (2)
Serpieri é um apologista da forma feminina, que não poupa elogios às mulheres brasileiras. Em uma breve visita a Belo Horizonte (MG) em 1997, Serpieri foi um dos principais convidados da 3ª Bienal Internacional de Quadrinhos. Na ocasião, em uma entrevista, ele informou: “Nos anos 70, eu trabalhava com quadrinhos de faroeste e pensava que meu desenho não tinha muito a ver com a ficção científica. Eu tinha resistência ao desenho geométrico, certinho, tecnológico da FC. Mas a fantasia e a ficção dos quadrinhos publicados na Metal Hurlant me fascinavam muito. Como eu ainda tinha muitas histórias para contar com o faroeste, comecei a fundir este gênero com a fantasia. Só depois, nos anos 80, eu cheguei à ficção científica. Fiquei muito impressionado com Alien e Blade Runner de Ridley Scott; aí comecei a fazer uma história em que aparece a deterioração do mundo tecnológico. Quando comecei a desenhar essa história não pensei numa personagem protagonista, mas foi aí que surgiu a Druuna”.
19 janeiro 2009
Druuna decide destino dos sobreviventes da tragédia nuclear (1)
A arte clássica do italiano Paolo Eleuteri Serpieri, os álbuns Morbus Gravis ( do latim doença grave) e Druuna foi elogiada por Fellini. Seus traços realistas são feitos a nanquim e sombreados a lápis, depois pintados a guache e aquarela, quando ganham volume e vida. O resultado é espetacular. A Martins Fontes ia lançar os dois volumes primorosos no Brasil. A Meriberica/Líber, sediada em Lisboa, se antecipou e publicou o seu álbum em português castiço. Mas os direitos seriam apenas para Portugal. As revistas que circularam em nosso mercado foram avidamente consumidas pelos fãs dos personagens de Serpieri. A Martins Fontes recuou.
PRÊMIOS - As histórias da série “Morbu Gravis” começaram a ser desenhadas por Serpieri em1985, para o Charlie Mensuel e editadas originalmente pela Dargaud. Ele começou no mundo dos quadrinhos na revista italiana “Lancio West” (1978). Apaixonado pelo tema Western, ilustrou para Larousse (1980), uma “Historia del Far Wesr” que, juntou a “La India Blanca” e suas colaborações na publicação italiana “Orient Express” lhe valeram o reconhecimento internacional.
16 janeiro 2009
Música & Poesia
Jack Soul Brasileiro
E que som do pandeiro
É certeiro e tem direção
Já que subi nesse ringue
E o país do swing
É o país da contradição...
Eu canto pro rei da levada
Na lei da embolada
Na língua da percussão
A dança mugango dengo
A ginga do mamolengo
Charme dessa nação...
Quem foi?
Que fez o samba embolar?
Quem foi?
Que fez o coco sambar?
Quem foi?
Que fez a ema gemer na boa?
Quem foi?
Que fez do coco um cocar?
Quem foi?
Que deixou um oco no lugar?
Quem foi?
Que fez do sapo
Cantor de lagoa?...
E diz aí Tião!
Tião! Oi!
Foste? Fui!
Compraste? Comprei!
Pagaste? Paguei!
Me diz quanto foi?
Foi 500 reais
Me diz quanto foi?
Foi 500 reais
Olha Tião!
Oi!
Foste? Fui!
Compraste? Comprei!
Pagaste? Paguei!
Me diz quanto foi?
Foi 500 reais
Me diz quanto foi?
E foi 500 reais...
Jack Soul Brasileiro
Do tempero, do batuque
Do truque, do picadeiro
E do pandeiro, e do repique
Do pique do funk rock
Do toque da platinela
Do samba na passarela
Dessa alma brasileira
Eu despencando da ladeira
Na zueira da banguela
Nessa alma brasileira
Eu despecando da ladeira
Na zueira da banguela...(2x)
Quem foi?
Que fez o samba embolar?
Quem foi?
Que fez o coco sambar?
Quem foi?
Que fez a ema gemer na boa?
Quem foi?
Que fez do coco um cocar?
Quem foi?
Que deixou um oco no lugar?
Quem foi?
Que fez do sapo
Cantor de lagoa?...
E diz aí Tião!
Tião! Oi!
Fosse? Fui!
Comprasse? Comprei!
Pagasse? Paguei!
Me diz quanto foi?
Foi 500 réis...
Eu só ponho BEBOP no meu samba
Quando o tio Sam
Pegar no tamborim
Quando ele pegar
No pandeiro e no zabumba
Quando ele entender
Que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E o meu samba, e o meu samba
Vai ficar assim...
Ah! ema gemeu...(5x)
Aaaaah ema gemeu!
Elegia: indo para o leito (John Donne)
Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o Céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu Anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que minha mão errante adentre.
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra a vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.
15 janeiro 2009
Edgar Allan Poe (1809-1849)
Há 200 anos, no dia 19 de janeiro de 1809, nascia, na cidade de Boston, o poeta, romancista e crítico literário Edgar Allan Poe. Precursor das literaturas policial e de ficção científica, foi também um dos primeiros autores a se dedicar aos contos literários. Sua obra é tão significativa que deixou rastros nos trabalhos de autores como Bradbury, Lovecraft, Doyle, Kafka, Henry James, Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud, Proust, Maupassant, Verne, Thomas Mann, Fernando Pessoa, Machado de Assis e tantos outros.
Ele era um jovem aventureiro, romântico, orgulhoso e idealista. Foi expulsos das universidades por não se enquadrar nos padrões comportamentais daquela época. Boêmio, vivia no luxo, se entregando à bebida, ao jogo e às mulheres. Foi para a Grécia e ingressou no exército lutando contra os turcos. Perdeu-se nos Balcans chegando até a Rússia, sendo repatriado pelo cônsul americano. De volta a América, descobre que sua mãe adotiva havia falecido.
Aos 22 anos, vivendo na miséria, publica Poemas. Já em Baltimore procura pelo irmão Willian e assiste a morte dele. Allan Poe passa a viver com uma tia muito pobre e viúva com duas filhas. Durante dois anos vive em miséria profunda. Mas vence dois concursos de poesias e o editor Thomaz White entrega-lhe a direção do "Southern Literary Messenger".
14 janeiro 2009
Consciência das palavras (3)
13 janeiro 2009
Consciência das palavras (2)
“Adoro os poetas”, disse o arquiteto João Batista Vilanova Artigas (1915/1985). “O que eles dizem com duas palavras a gente tem que exprimir com milhares de tijolos”. Já o intelectual francês Roland Barthes- foto (1915/1980) disse: “A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras”.
12 janeiro 2009
Consciência das palavras (1)
“O que queremos dizer, por exemplo, com a palavra ´paz´! Uma ausência de conflito! Um esquecimento! Perdão! Ou um grande cansaço, uma exaustão, um esvaziamento do rancor!. Parece-me que o que a maioria das pessoas entende por ´paz´ é a vitória. A vitória do seu lado. É isso o que ´paz´ significa para ´eles´, por enquanto, para os outros, paz quer dizer derrota”, disse no discurso ao receber o prêmio literário.
Já o filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard em sua obra “Senhas” (Difel, 2001) disse que “as palavras são portadoras, geradoras de idéias, mais não só porque transmitem essas idéias e aquelas coisas, mas porque elas próprias se metaforizam, se metabolizam umas nas outras, segundo uma espécie de evolução em espiral. É assim que elas são bateleiras de idéias. As palavras têm para mim extrema importância. Que elas têm vida própria e que são, portanto, mortais, é algo evidente para todo aquele que não se prende a um pensamento definitivo, de intenção edificadora. É o meu caso. Há na temporalidade das palavras um jogo quase poético de morte e renascimento: as metaforizações sucessivas fazem com que uma idéia se torne sempre algo mais e diverso do que antes era – uma ´forma de pensamento´. Pois a linguagem pensa, nos pensa e pensa por nós – quando menos tanto quanto nós pensamos através dela. Também aqui há uma troca, que pode ser simbólica, entre palavras e idéias. Acredita-seque progredimos impulsionados pelas idéias – pelo menos é esta a fantasia de todo teórico, de todo filósofo. Mas são igualmente as próprias palavras que geram ou regeneram as idéias, que fazem o trabalho de ´embreagens´. Nos momentos em que assim atuam, as idéias se entrelaçam, se misturam ao nível da palavra, que serve, então, de operadora – mas uma operadora não-técnica – em uma catálise em que a própria linguagem está em jogo. Isso faz dela um investimento pelo menos tão importante quanto as idéias”.
O poeta e prosador brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902/1987) escreveu em 1942 (José. “O lutador”. In Poesia completa): “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encanta-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas acaricia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça”.
Já o poeta e pensador francês, Paul Valéry (1871/1945) disse: “É necessário mais espírito para prescindir de uma palavra do que para empregá-la”. O ensaísta e poeta austríaco Karl Kraus (1874/1936) afirmou: “Quanto mais de perto se encara uma palavra, com mais distância ela nos encara de volta”. É do filósofo e teórico inglês Jeremy Bentham (1749:1832) a citação: “E se o significado de todas as palavras, especialmente de todas as palavras pertencentes ao campo da ética, (...) algum dia vier a ser fixado! Que fonte de perplexidade, de erro, de discórdia, e até mesmo de derramamento de sangue não seria estancada!”.
O filósofo austríaco radicado na Inglaterra, Ludwig Wittgenstein (1889/1951) escreveu em 1940 (Culture and value): “Uma teologia que insiste no uso de determinadas palavras e frases, ao passo que proibi outras, em nada torna as coisas mais claras (...) Ela gesticulada com palavras, como se poderia dizer, porque deseja dizer algo e não sabe como expressa-lo. A praticada às palavras o seu significado”.
Já o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844/1900) disse: “São as palavras mais tranqüilas que trazem a tempestade”. E foi radical: “Deveríamos nos livrar, de uma vez por todas, da sedução das palavras!”, escreveu em 1886 em “Além do bem e do mal”. Mas em 2003 Adriana Falcão lançou seu Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento informando: “É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido. (...) “A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois”.
09 janeiro 2009
Música & Poesia
O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?
O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem
Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante deareia brancae de óleo diesel
Sob meus tênis
E o Pão de Açucar menos óbvio possível
À minha frente
Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas
À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura
Do branco das areias e das espumas
Que era tudo quanto havia então de aurora
Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
E uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina
(pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)
E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
Como que sampleados num sinclavier:
"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do espirito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos"
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela:
É um desmascaro
Singelo grito:
"O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú
E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singer
but i've given up all attempts at perfection").
Tecendo a Manhã (João Cabral de Melo Neto)
"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".
08 janeiro 2009
Decifrando a transa (1972) de Caetano Veloso
Se o LP anterior tinha tons sombrios da cinzenta paisagem londrina (Caetano Veloso, 1971), onde a capa traz um close do rosto do artista com fisionomia fechada e um espesso agasalho de pele e a vasta cabeleira em um exílio forçado, o disco de 1972 é o retorno, onde o Caetano múltiplo pede para ser decifrado. Você não me conhece, ele assume na primeira faixa.
A sensual "You don´t know me" abre o disco com um excelente arranjo acústico e um Caetano sutil e interpretativo. A música incidental cantada por Gal Costa (Saudosismo) foi gravada originalmente por Caetano no compacto duplo com os Mutantes. “Por que não me mostra (o que está) atrás do muro?”, ele pede cantando.
You don’t know me/Bet you’ll never get to know me/You don’t know me at all/Feel so lonely/The world is spinning round slowly/There’s nothing you can show me/From behind the wall//"Nasci lá na Bahia/De mucama com feitor/O meu pai dormia em cama/Minha mãe no pisador"//"Laia ladaia sabadana Ave Maria/Laia ladaia sabadana Ave Maria"//"Eu agradeço ao povo brasileiro/Norte, Centro, Sul inteiro/Onde reinou o baião.
Em seguida, o bilingüismo de "Nine out of ten" (Nove em Cada Dez) é acompanhado por uma levada meio samba, meio nordestina com uma sonoridade repleta de ecos, lembrando um show ao vivo. “A minha melhor música em inglês. É histórica. É a primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos de reggae, uma vinheta no começo e no fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul MacCartney. Eu e o Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Marley e The Wailers foram a melhor coisa dos anos 70”, revelava Caetano na época. A música reflete a expansão do eu, o encontro do poeta com o prazer de viver, livre (“I´m alive”)
Walk down Portobello road to the sound of reggae/I’m alive/The age of gold, yes the age of/The age of old/The age of gold/The age of music is past/I hear them talk as I walk yes I hear them talk/I hear they say/Expect the final blast/Walk down Portobello road to the sound of reggae/I’m alive//I’m alive and vivo muito vivo, vivo, vivo/Feel the sound of music banging in my belly/Know that one day I must die/I’m alive//I’m alive and vivo muito vivo, vivo, vivo/In the Eletric Cinema or on the telly, telly, telly/Nine out of ten movie stars make me cry/I’m alive/And nine out of ten film stars make me cry/I’m alive
E o baiano explora composições antigas como a bela "Mora na filosofia" (de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos) carregado de tristeza e terminando como uma catarse, ou mesmo a impactante "Triste Bahia" onde mistura Gregório de Mattos com o samba de roda e jingadas de capoeira.. Há uma sonoridade crescente dos instrumentos afro-brasileiros, a começar pelo som do berimbau.
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante…/Estás e estou do nosso antigo estado/Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado/Rico te vejo eu, já tu a mim abundante/Triste Bahia, oh, quão dessemelhante/A ti tocou-te a máquina mercante/Quem tua larga barra tem entrado/A mim vem me trocando e tem trocado/Tanto negócio e tanto negociante//Triste, oh, quão dessemelhante, triste/Pastinha já foi à África/Pastinha já foi à África/Pra mostrar capoeira do Brasil/Eu já vivo tão cansado/De viver aqui na Terra//Minha mãe, eu vou pra lua/Eu mais a minha mulher/Vamos fazer um ranchinho/Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua/E seja o que Deus quiser//Triste, oh, quão dessemelhante/ê, ô, galo canta/O galo cantou, camará/ê, cocorocô, ê cocorocô, camará/ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos embora camará/ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará/ê, triste Bahia, ê, triste Bahia, camará/Bandeira branca enfiada em pau forte…//Afoxé leî, leî, leô…/Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte…/O vapor da cachoeira não navega mais no mar…/Triste Recôncavo, oh, quão dessemelhante/Maria pegue o mato é hora…/Arriba a saia e vamo-nos embora…/Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora…//Oh, virgem mãe puríssima…/Bandeira branca enfiada em pau forte…/Trago no peito a estrela do norte/Bandeira branca enfiada em pau forte…/Bandeira…
Segue a canção “It's a Long Way” que faz referências explícitas aos Beatles. Começa lenta, termina como começou, mas da metade até quase o fim vai crescendo e agregando aos versos da canção alguns outros versos de músicas antigas. Lembrando os Beatles naquela canção “The Long And Winding Road” (no LP Let it Be) ele canta “It´s a Long Way” (É Um Longo Caminho) com um registro de voz que passa por vários estágios, de alegria e tristeza, onipotência e fragilidade. (Acordei esta manhã cantando uma uma velha canção dos Beatles). Há sutilezas na pronuncia da palavra “long” onde se pode entender “lone” (só) e “London”, lugar do exílio. E a composição agrupa baião, rock, bossa nova numa versatilidade apaixonante. A música é toda baiana, no ritmo cadenciado, bom de se ouvir na rede. Haja balanço.
Woke up this morning/Singing an old, old Beatles song/We’re not that strong, my lord/You know we ain’t that strong/I hear my voice among others/In the break of day/Hey, brothers/Say, brothers/It’s a long, long, long, long… way//Os óio da cobra verde/Hoje foi que arreparei/Se arreparasse há mais tempo/Não amava quem amei//It’s a long, long, long, long… way//Arrenego de quem diz/Que o nosso amor se acabou/Ele agora está mais firme/Do que quando começou//It’s a long road, it’s a long, long, long, long…/It’s a long road, it’s a long and widing road…/Long and widing… road/It’s a long road, it’s a long, long, long, long…//A água com areia brinca na beira do mar/A água passa e a areia fica no lugar//It’s a hard… hard, long way//E se não tivesse o amor/E se não tivesse essa dor/E se não tivesse sofrer/E se não tivesse chorar/E se não tivesse o amor//No Abaeté tem uma lagoa escura/Arrodeada de areia branca…/Woke up this morning…
Há levadas experimentais como "Neolithic Man" que não perde o ar brasileiro e a poética atemporal em torno do olhar (“você não me verá/você não verá”), do conflito entre o ver e o não-ver.
I’m the silence that’s suddenly heard/After the passing of a car/I’m the silence that’s suddenly heard/After the passing of a car/I’m the silence that’s suddenly heard/After the passing of a car/Spaces grow wide about me/Spaces grow wide about me/If you look from your window at the morning star/You won’t see me…/You’ll only see…/That you can’t see very far/God spoke to me/You’re my son/And my eyes swept the horizon/Away/Que tem vovó pelanca só/Que tem vovó pelanca/You won’t see me…/Spaces grow wide about me
O disco se encerra com “Nostalgia (That's What Rock'n'Roll is All About)”, homenagem ao rock-blues curto, de duas estrofes rápidas, com o detalhe de Gal Costa imitar gaita na primeira e, na segunda, a gaita "real" ser tocada por Angela Ro Ro. E na composição ele revela valores contrário à ideologia burguesa como o acordar tarde, roupas extravagantes, movimento hippie e o comportamento marginal.
You sing about waking up in the morning/But you’re never up before noon/You look completely different from those straights/Who walked around on the moon/The clothes you wear/Would suit and old times baloons/You’re allways nowhere/But you’ll realize pretty soon/That’s all that you care/Isn’t worth a twelve bar tune//You won’t believe you’re just one more flower/Among so many flowers that sprout/You just feel faintly pround when you hear they shout/Very loud: "you’re not allowed in here, get out"/That’s what rock’n’roll is all about/That’s what rock’n’roll is all about/I mean, that’s what rock’n’roll was all about.
O que se observa nesse trabalho é a mistura de nosso ritmo com a sonoridade estrangeira, numa fusão de qualidade e profundidade pouco realizada antes dele. Em seu processo criativo ele utilizou da estética da inclusão, o uso da repetição (para o fluir do som) e transformar essa expressão artística (a música) como uma linguagem que permite transportar o ser ao infinito. Há nesse disco um trabalho afinado e identificado com experiências renovadoras do som. Para ouvir e re-ouvir sempre.