Ao ouvir o som do tango surge
sempre a imagem de glamour, sensualidade e determinação no olhar.
Mas nem
sempre foi assim. O início da dança mais famosa dos argentinos não passava de
uma simulação de luta entre dois homens com faca em punho. A princípio era
apenas um ritmo para dançar e suas origens nasceram do Tanguillo da Andaluzia
(Espanha) e da Habanera, rumba cadenciada que se dançava em Havana, Cuba.
Recebeu influências de ritmos
africanos, candombe, de onde aliás se deriva o nome tango (em alguns dialetos
africanos tango significa lugar fechado onde as pessoas se encontram).
Inicialmente era considerado música de marginais, em que homens dançavam entre
si nas ante-salas dos prostíbulos.
No final do século XIX, Buenos
Aires era uma cidade em expansão. Sua população era de imigrantes espanhóis,
italianos, alemães, húngaros, árabes e judeus. Cerca de 70% da população era
composta por homens ávidos pelas promessas de fortuna e 25% de negros que
dançavam no ritmo do candombe. E é neste cenário que dá início ao tango,
praticado em bordéis e prostíbulos ao som de violino, flauta e violão. O
bandoneón surgiu somente em 1900, substituindo a flauta.
Assim o tango nasceu como
expressão folclórica das populações pobres, oriundas de todas aquelas origens,
que se misturavam nos subúrbios da crescente Buenos Aires. Os imigrantes, na
sua maioria gente pobre e com um fardo difícil, transmitiram nostalgia e um ar
melancólico para as músicas. Talvez por isso os portugueses se identifiquem
tanto com o tango. Dança multicultural que se identifica com o povo português,
o folclore, os bairros pobres, a nostalgia, assemelhando-se ao fado.
A fase inicial era puramente
dançante. O povo se encarregava de improvisar letras picantes e bem humoradas
para as músicas mais conhecidas. O baile era corporal, provocador, com
movimentos explícitos e letras obscenas: “duas sem tirar”, “gozo com tanto
vento”, “a espiga de milho” (no sentido metafórico).
O êxito desses espetáculos
tornou-os mais frequentes. Eram organizados apenas por homens. Em
público,
apenas dançavam homens com homens. Naquele tempo era considerada obscena a
dança entre homens e mulheres abraçados, sendo este um dos aspectos do tango
que o manteve circunscrito aos bordéis.
Enquanto aguardavam a vez para
entrar nos quartos das prostitutas, passavam o tempo bailando, homem com homem.
Mais tarde, o tango se tornou uma dança tipicamente praticada nos bordéis,
principalmente depois que a industrialização transformou as áreas dos subúrbios
em fábricas transferindo a miséria e os bordéis para o centro da cidade.
Nessa fase haviam letras com
temática voltadas para esses ambientes. Eram letras francamente obscenas e
violentas. As letras são escritas no peculiar dileto portenho, o lunfardo.
Gíria usada por delinquentes
e gigolôs, mistura de espanhol, de dialetos italianos, de português, de idiomas indígenas. Tanto a música como a letra
assumira tom acentuadamente melancólico, com temas obre os tropeços da vida e
desenganos amorosos. A temática é ligada à boemia, com menção ao vinho, aos
amores proibidos e às corridas de cavalos.
As pessoas ricas não podiam
dançar o tango, porque dizia que os dançarinos ficavam muito juntinhos, fazendo
passos sensuais e as outras danças da época eram mais comportadas. Por isso, o
tango só era dançado nas áreas pobres de Buenos Aires. Dos subúrbios chegou ao
centro de Buenos Aires, por volta de 1900. E as primeiras composições assinadas
surgiram na década de 1910, no período conhecido como Velha Guarda.
É nessa época que os emigrantes
argentinos chegaram a Paris, levando consigo o tango. A sociedade parisiense da
época ansiava por novidades e extravagâncias. O tango logo se transformou numa
febre na capital francesa e, como Paris era o ícone cultural de todo mundo
civilizado, depressa o tango alastrou ao resto da Europa.
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