06 julho 2015

Sertão de Guimarães Rosa em toda parte


São 180 páginas coloridas e ilustradas por Rodrigo Rosa. Roteiro assinado por Eloar Guazzelli, a versão em quadrinhos de Grande Sertão: Veredas, clássico da literatura segue o texto original de Guimarães Rosa para reconstruir as questões de amor e morte, do homem de deus ou do diabo, da jagunçagem no sertão. Essa ousada transposição em edição limitada e numerada tem acabamento de primeira.

“Carece de ter coragem. Carece de ter muita coragem”. A iniciativa dos herdeiros do autor e da Editora Globo leva ao leitor em linguagem de graphic novel com altíssima qualidade plástica.

Guazzelli tem experiência com cinema, animação e roteirização, também é um ilustrador premiado, além de grande admirador de Guimarães. Equilibrando elementos contos e abstratos, explorando as diferentes passagens, as revelações, e criando ritmo, Guazzeli colaborou com o trabalho do também premiado ilustrador Rodrigo Rosa, que possui um dos traços mais ricos entre os ilustradores brasileiros.

O cartunista, ilustrador, quadrinista e jornalista Rodrigo Rosa soube explorar os elementos psicológicos, históricos e o mistério da obra. Trouxe uma visão moderna, contemporânea e ousada do imaginário roseano.

NONADA

Mágico supremo da literatura brasileira, Guimarães Rosa vê o ato de escrever como um processo alquímico e o escritor como um feiticeiro: “Para ser um feiticeiro da palavra, para estudar a alquimia do sangue do coração humano, é preciso provir do sertão”. O escritor poeta Guimarães sabia o segredo da magia. Ele lidou com palavras como entidades mágicas. Assim também o fez o quadrinista. Com as mãos cheias de magia ele transformou a linguagem de Guimarães em metáforas gráficas como conchas no mar que podem conter a água em seu vazio e o barulhinho das ondas.

Segredos e mistérios. Palavras grávidas com sentidos imprevisíveis se abriram para horizontes indefinidos dos desenhos. Prosa é conhecimento. Desenhos, sentimentos. Nos seis interstícios moram palavras não ditas, desenhos etéreos como o vôo dos pássaros. Essa imagem poética é uma explosão de cores onde o passado longínquo ressoa em ecos do sertão. Cada quadrinho está cheio de vôos que escapam ao nosso controle. Em seus quadrinhos os desenhos explodem as páginas que os prende, e voam levando-nos em suas asas. E como escreveu K.Marx, “o que era uma luz interior se transforma num fogo consumidor que se derrama parta fora”.

Grande Sertão: Veredas traz marcas visuais tão expressivas e portadoras de significados quanto as palavras escritas. Se colocam aos olhos do leitor, convidando-a a um outro caminho de percepção e de leitura. O Rio São Francisco, espinha dorsal, é a grande testemunha que atravessa todo o sertão, como um olho divino-demoníaco, índice do que tudo vê e tudo sabe, participante dos mistérios do viver.

“Vida é sorte perigosa

Passada na obrigação:
Toda noite é rio-abaixo,
Todo dia é escuridão...”

Macambira, quixabeira, xiquexique são vegetais que conversam e falam do grande sentimento
humano. E as palavras/desenhos tomam uma dimensão profética, poética no convívio com a intimidade das palavras. Naquela apreensão pessoal, única e insubstituível que todo leitor tem o direito de construir e de desfrutar.

Para Guimarães Rosa, esse universo da linguagem era o território daquele encantamento a que a vida das pessoas se dirigia, onde elas podiam, vislumbrar a perenidade dos gestos e de seu sentido. Se viver era perigoso, a vida era o inevitável travessia em busca de seu significado.

O fazendeiro Riobaldo recebe um visitante e lhe conta a história da sua vida. Foi chefe de jagunços, entrou para as lutas sertanejas acompanhando as forças de polícia que perseguiam os bandos. Depois passou para o outro lado, sob a chefia de Joca Ramiro que é assassinado e ele vai em busca de vingança. Riobaldo assume a chefia e se descobre apaixonado por seu companheiro de lutas, Diadorim e, no final, o grande segredo se revela.

Um dos maiores méritos do autor que como médico visitava diversos municípios do sertão, anotava tudo que ouvia. Mais tarde, ao escrever suas obras, ele trazia para o texto escrito uma característica tão marcante das tradições orais de nosso povo: a recriação “de ouvido”  de palavras e modos de falar dos saberes eruditos. O que ele fez foi iluminar, como poucos, a paisagem e linguagem do sertão brasileiro.

NONADA.


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