05 setembro 2014

Jardim dos sonhos



Ele nasceu em um jardim sentindo o cheiro das flores e o vento que acariciava sua pele, ouvindo os
sons das folhas balançarem com o sopro dos ventos e aquela profusão de cores ao seu redor. O jardim era o seu mundo. E assim ele cresceu acreditando existir um jardim em seu corpo e, a cada atividade, procurava recuperar o jardim perdido seja em seu bairro ou mesma na cidade vizinha.

Seu amor por jardim era tanto que ele se tornou jardineiro. E com grande eficácia conseguia prazer no que fazia. Cuidar das plantas. Naquele pequeno pedaço verde de terra ele operava o milagre de fazer com que a vida ressurgisse com beleza. Era um trabalho detalhista, de amor à natureza. Sua vida era um jardim, pois ele respirava o verde das árvores, o perfume das flores e carregava dentro de si um jardim de delícias, um jardim de sonhos.

Todos que passavam pelo local não conseguiam enxergar o jardineiro, e sim o jardim com toda beleza. Durante os últimos 20 anos ele fazia sempre a mesma coisa com um sorriso enorme no rosto. Sua voz era suave quando falava com as flores e sentia que suas palavras estavam sendo ouvidas. O cuidado que tinha com o jardim era visível a todos.
 
Enquanto para muitos aquele trabalho deveria ser um tédio, para ele era uma excitação. Ele nunca desprezava a repetição e, ao atingir seu acorde final tão logo tenha conseguido cuidar de cada canto do jardim, a beleza se fazia surgir. E a cada vez que ele repetia o cuidado com as plantas, cada vez mais era de uma forma diferente. Cada repetição é uma ressurreição, um eterno retorno de uma
experiência passada que parecia nova em folha.

A vida humana, mesmo nos momentos de maior tragédia, é uma luta pela beleza e a beleza exige a repetição. Uma vez só não basta. É como o Bolero de Ravel. Há um único tema ao longo de todo o Bolero, e a ideia em espiral. Cada volta na espiral é a mesma coisa e é outra coisa. Assim é a vida do jardineiro. Afinal o sol nasce e morre a cada dia e essa beleza é diferente a cada renascer.

Assim é o jardineiro, a cada repetição a beleza renasce nova e fresca como a água que borbulha na mina. E, a cada dia, a cada momento ele passa a cuidar com minúncia do seu jardim, desenvolvendo essa repetição e modificando, transpondo esse acontecimento fortuito para fazer disso um instante de beleza, de prazer. O cuidar das coisas belas. E ele saber de cor onde estava cada plantinha e mesmo que tudo aquilo desaparecesse ele seria capaz de recriá-lo, porque todas as árvores, folhas, flores e raízes estavam formado em seu corpo. A essência do jardim estava dentro dele. A beleza que ele via no jardim era a beleza que morava em seu corpo.

Até que um dia, ao passar por um local nunca antes visto, ele deparou-se com o deserto e, procurou desesperadamente um jardim. Ele sabe que o deserto era belo porque, em algum lugar, esconde um jardim. Mas sua procura foi em vão, no deserto não havia jardim. E o jardineiro que inconscientemente compôs sua vida segundo as leis da beleza da natureza, nesse instante do mais profundo desespero ele entristeceu e sentou em uma pedra que havia no local. Ficou até por horas, dias, semanas até que desapareceu feito pó. O vento então soprou o pó pela terra deserta e com a chegada da chuva, com o tempo, o milagre do pó do jardineiro ressurgiu em folhas verdes e, meses depois, aquele deserto transformou-se em um belo jardim, onde a vida fez amor com a beleza. No jardim seu trabalho se realizou. No jardim ele encontrou o prazer e descansa. Pura contemplação.

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HUMOR GRÁFICO NA BAHIA

Uma exposição com as obras dos precursores do grafismo baiano (cartum, caricatura, charge e quadrinhos) até os dias atuais é de grande necessidade para o grande público (jovem e adulto).

É necessário apresentar ao público a história desses artistas que continuam invisíveis e são importantes no registro dos acontecimentos históricos e sociais.

Por esse motivo, vamos apresentar em 2015 uma grande exposição de humor gráfico na Bahia e queremos a participação de todos os artistas.

Paraguassu, K-Lunga, Tischenko, Sinézio Alves, Fernando Diniz, Theo, Lage, Setubal, Nildão, Ruy Carvalho, Cedraz, Cau Gomez, Bruno Aziz, Valterio, Flavio Luis, Luis Augusto, Valmar Oliveira, Andre Leal, Angelo Roberto, Eduardo Barbosa, Gentil, Jorge Silva, Carlos Ferraz, Helson Ramos, Hector Salas, Tulio Carapiá, Sidney Falcão são alguns dos artistas cujas obras estarão na mostra.

Muitos desenhistas ainda não confirmaram, com seus trabalhos, presença na mostra.

Participe, colabore. Contato: gutecruz@bol.com.br
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública), na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596) e Canabrava (Rua João de Deus, 22, Pelourinho). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

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FÉRIAS

Caros leitores: a partir de segunda feira (dia 08) estarei de férias. Serão 305 dias e vou aproveitar para ler uns livros reservados para ocasião, ouvir algumas músicas necessárias para o coração, colocar a mão na terra para saber da estação, mimar meus cachorros e plantar o que a natureza espera de cada um de nós. Em outubro estarei de volta. São poucos dias afastados. Voltarei com mais energia. Obrigado pela atenção.

04 setembro 2014

O olhar na MPB



Quantas composições foram feitas para traduzir o olhar? Na música popular brasileira o olhar sempre foi uma referência. Vamos citar algumas. “Olhar Matreiro”, de Cazuza e Fagner revela: “Quando eu voltar pra você/Eu vou voltar inteiro/Quando eu chegar com meu olhar matreiro/Quando eu tocar a campainha/Me aninha/Certo que você é minha rainha...”. Tom Jobim parece que não entendeu o significado do olhar na composição “Este Seu Olhar” cuja letra diz: “Este seu olhar quando encontra
o meu/Fala de umas coisas/Que eu não posso acreditar/Doce é sonhar, é pensar que você/Gosta de mim como eu de você//Mas a ilusão quando se desfaz/Dói no coração de quem sonhou/Sonhou demais, ah! se eu pudesse entender/O que dizem os seus olhos”.

Já o tropicalista Tom Zé vai fundo em “Teu Olhar”: “Quando é dia/teu olhar/água clara/teu olhar/pela fresta/do olhar/procurava/teu olhar/minha alma, minha calma, estrela-dalva”. Mesmo sem entender a separação, Tim Maia encontra “Ternura em seu Olhar”: “Que parou comigo/Estou perdido e pra você/Eu já não sou ninguém/Mas apesar de tudo/Ao cruzar olhos nos olhos/Estou certo que tem//Ternura, ternura/Em seu olhar/Ternura, ternura/Em seu olhar”.

E foi dessa maneira que Gilberto Gil viu “Seu Olhar”: “Há no seu olhar/Algo que me ilude/Como o cintilar/Da bola de gude/Parece conter/As nuvens do céu/As ondas brancas do mar/Astro em miniatura/Micro-estrutura estelar//Há no seu olhar/Algo surpreendente/Como o viajar/Da estrela cadente/Sempre faz tremer/Sempre faz pensar/Nos abismos da ilusão/Quando, como e onde/Vai parar meu coração?//Há no seu olhar/Algo de saudade/De um tempo ou lugar/Na eternidade/Eu quisera ter/Tantos anos-luz/Quantos fosse precisar/Pra cruzar o túnel/Do tempo do seu olhar”

O trio Flávio Venturini, Zé Eduardo e Paulo Oliveira escreveram a composição “Teu Olhar, Meus Olhos”: “Olhei teus olhos/Vi o meu olhar e/Uma luz nasceu//Fechei meus olhos/Vi o seu olhar e/Tanto amor cresceu//E vi o brilho dos teus olhos/Brilhar no mundo dos meus sonhos/Me vi no fundo dos
teus olhos/Brincamos juntos tantos sonhos//Amor o sonho/Nunca vai mudar em/Teu olhar, teu olhar, meus olhos”. Candeias ficou preso pela “Expressão do teu olhar”: “Na expressão do teu olhar foi que senti/Que me amavas, eu não podia, não podia fugir/Na expressão do teu olhar compreendi/Que precisava do carinho que nunca senti/Os teus olhos lindos, encantadores tinha um quê das flores/Rosas formosas com brilho do orvalho da manhã/Calados serenos transmitindo um tom de veneno/Me atraias, olhar sedutor/Cadê, o ativo olhar que há tempos conheci/Sedução do olhar que pressenti cheio de calor/Deus criou a beleza na mulher/Vem o tempo e destrói a obra do criador”. E o paulistano Guilherme Arantes canta que “O universo vai se abrir, sob o efeito de um olhar” na canção “Sob o Efeito de Um Olhar”.

Moraes Moreira e Antônio Risério conheceram o “Olhar de Cobra” que diz: “Ela tem um olhar de cobra/Que toda hora/Paralisa o meu/E toda vez que ela olha/A brisa beija a flora/Estrelas brilham no breu”. A banda Chiclete com Banana dispara o “Olhar 99”: “Olhe meu olhar noventa e nove/Salpicado de amor”. Na carnavalesca “Chão da Praça”, Moraes Moreira e Fausto Nilo falam de “olhos negros, cruéis, tentadores/das multidões sem cantor” pois “lá no Oriente tem gente/com olhar de lança na dança do meu amor”. Alexandre Peixe cantou o “olhar de escorpião”. Na composição “Olhinho”, Zeca Baleiro confessa: “Olhos santos, santos olhos/olhos de quem quer ver/o que ninguém vê/quer ver o que ninguém ver/furacão, avião, lamparina, sina, carnificina e solidão”.
 
Já Humberto Teixeira em “Dono dos Teus Olhos” cheio de ciúme revela: “Não se esqueça/que eu sou
dono dos teus olhos/faz favor de num espiá pra mais ninguém;esse azul cor de promessa dos teus olhos/faz qualquer cristão gostar de tu também/que nosso Senhor perdoe os meus ciúme/quando penso em cegar os óio teu/pra que eu/somente eu/seja o teu guia/os óio dos teus óio/a luz dos óio teu”.

Leila Pinheiro conhece muito bem o “Olhar de Mulher” quando canta: “Ninguém pode ofuscar/A jóia rara/Que brilha no olhar/De uma mulher/Quem sabe o que quer/Não pode resistir/A gloria de existir/Sobe essa luz/A jóia que seduz/Não cabe em sua mão/Só pode possuir/Quem sabe o seu valor/E der em troca/O coração/De graça em troca/O coração”. Tem muito mais olhar na MPB...

HUMOR GRÁFICO NA BAHIA
Uma exposição com as obras dos precursores do grafismo baiano (cartum, caricatura, charge e quadrinhos) até os dias atuais é de grande necessidade para o grande público (jovem e adulto).

É necessário apresentar ao público a história desses artistas que continuam invisíveis e são importantes no registro dos acontecimentos históricos e sociais.

Por esse motivo, vamos apresentar em 2015 uma grande exposição de humor gráfico na Bahia e queremos a participação de todos os artistas.

Paraguassu, K-Lunga, Tischenko, Sinézio Alves, Fernando Diniz, Theo, Lage, Setubal, Nildão, Ruy Carvalho, Cedraz, Cau Gomez, Bruno Aziz, Valterio, Flavio Luis, Luis Augusto, Valmar Oliveira, Andre Leal, Angelo Roberto, Eduardo Barbosa, Gentil, Jorge Silva, Carlos Ferraz, Helson Ramos, Hector Salas, Tulio Carapiá, Sidney Falcão são alguns dos artistas cujas obras estarão na mostra.
Participe, colabore. Contato: gutecruz@bol.com.br
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03 setembro 2014

É preciso olhar com atenção (2)



O mundo sensorial é ilusório. Esse mundo das paixões e desejos é o mundo que vemos e percebemos.
Real seria o mundo das propriedades matemáticas que só podem ser descobertas pelo intelecto. É o que pensava Lévi-Strauss. Charles de Bovelles afirmou que há três olhos – o olho angélico, o olho humano e o olho animal, a saber, o intelectual, o racional e o sensível. Os dois mais potentes estão admitidos à contemplação de Deus, o sol natural de cada um deles. Mas o olhar angélico percebe Deus na luz, enquanto o olhar humano o percebe na sombra.

Há os olhos do corpo e os olhos do espírito, segundo Bovelles. Os primeiros -  a que chama de olhos mundanos – são esferas perfeitas que “não podem ver toda a superfície da esfera”, excitados pela luz e pela cor apenas “em metade de sua esfera, aquela voltada para o mundo”, mas “cegos por natureza em sua outra metade, aquela presa no interior da cabeça”. A Natureza não lhe deu a visão interior. O homem ganhou o primeiro olhar. Deve conquistar o segundo através da sabedoria ou ciência de si mesmo.

O olhar também foi considerado perigoso. Basta conhecer a história das filhas e a mulher de Ló, transformadas em estátuas de sal. Ou Orfeu perdendo Eurídice. Narciso perdendo-se de si mesmo. E Édipo cegando-se para ver o que, vidente, não podia enxergar. Ou mesmo Perseu defendendo-se da Medusa forçando-a a olhar-se. E os índios, recusando espelhos, pois sabem que a imagem refletida é sua própria alma que a perderão se nelas e nele depositarem o olhar. Olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si.
 
O uso das palavras que expressam o olhar é bem diversificado. O povo diz “Olho gordo” quando há sinais de ganância. Se o desejo é voraz o olho é comprido. Olho de sapo é olho parado, olho de peixe morto. Olho de lince é agudo, terno é olho de pomba, infiel ou suspeito é olho de gato, tímido é olho de coelho, cruel é olho de cobra, sensual é olho de macaca. Assim, a expressão do olhar busca e acha suas metáforas no ser vivo. O olhar é muito mais do que função fisiológica, é uma linguagem forte, um universo carregado de sentido. O universo do olhar é vasto e misterioso.

O homem de hoje é um ser predominantemente visual. A maioria das informações que ele recebe lhe
vem por imagens. O mundo se dá ao olho humano (segundo o discurso de Epicuro e de Lucrécio), porque a natureza desenvolve um movimento constante, veloz, desprendendo da superfície dos seres os simulacros, figuras que duplicam sutilmente a forma superficial das coisas. Assim os simulacros vêm ao encontro dos nossos olhos, trazidos que são pelos raios da luz solar, estelar ou lunar. Os olhos recebem passivamente, com prazer ou desprazer, contanto que estejam abertos. O efeito desse encontro chama-ser conhecimento. Para conhecer basta abrir bem os olhos em um espaço iluminado e acolher os ícones do mundo. Assim, conhecer é estar imerso em um oceano de partículas cintilantes e nele engolfar-se sensualmente. Assim, segundo os filósofos antigos, conhecer é ser invadido e habitado pelas imagens errantes de um cosmos luminosos. Para eles a vida é um percurso de luz e morrer é perder a luz. Assim, viver é olhar essa luz, por breve mas belo tempo. Mas o olhar que vê o nascer para a luz contempla também o mergulhar na treva.

HUMOR GRÁFICO NA BAHIA
Uma exposição com as obras dos precursores do grafismo baiano (cartum, caricatura, charge e quadrinhos) até os dias atuais é de grande necessidade para o grande público (jovem e adulto).

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Por esse motivo, vamos apresentar em 2015 uma grande exposição de humor gráfico na Bahia e queremos a participação de todos os artistas.

Paraguassu, K-Lunga, Tischenko, Sinézio Alves, Fernando Diniz, Theo, Lage, Setubal, Nildão, Ruy Carvalho, Cedraz, Cau Gomez, Bruno Aziz, Valterio, Flavio Luis, Luis Augusto, Valmar Oliveira, Andre Leal, Angelo Roberto, Eduardo Barbosa, Gentil, Jorge Silva, Carlos Ferraz, Helson Ramos, Hector Salas, Tulio Carapiá, Sidney Falcão são alguns dos artistas cujas obras estarão na mostra.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública), na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596) e Canabrava (Rua João de Deus, 22, Pelourinho). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

02 setembro 2014

É preciso olhar com atenção (1)



Na atual sociedade do espetáculo em que vivemos, do narcisismo industrializado, é preciso pensarnão apenas o que vemos, mas como vemos. Ver, atualmente, está ao lugar do ser, perdemos outras dimensões da existência, pois segundo a filosofia oriental, cada um se torna o que contempla. É preciso pensar em “como vejo” para ser capaz de entender sua participação como sujeito do conhecimento. Porque se você vê pelos olhos de outros, alguém lhe obrigou a ver o que você nem sequer teve chance de escolher. No momento em que alguém viu no seu lugar e lhe impôs sua visão, você compactuou com o visto sem chance de escapar ao imposto. É preciso ter cuidado com esse olho devorador que tudo quer abarcar nessa sociedade de vigilância, de televisões e monitores por todos os lados a vender imagens declaradamente marcadas pela brutalidade da persuasão e da sedução. Esse sim é o olhar perverso, marcado por sua posição absoluta que define a forma do mundo sem admitir contestação. Esse é o olhar autoritário que impera sobre
outros proibindo-lhe existência. Um olhar fascista proibe pensar de outro modo, outra visão. É preciso olhar com atenção, pensar uma ética do olhar.

Para Décio Pignatari, televisão é olho contra olho, olhar contra olhar, dose diária de um “midiacamento” insuportável e insubstituível, mistura de elixir e droga, que provoca reações variadas no paciente, da náusea ao vício e à paixão. Sendo vício, viciado e vicioso, o olhar da televisão é sectário. Quem não assiste televisão não pertence à seita dos “haxixins”, é perigoso como qualquer não-sectário. O olho crocodílico da televisão cola e bricola. Tudo consome, tendo em vista o consumo.

“A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo ser acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar,esquece a amplidão”. Esse é um trecho do livro da escritora Marina Colasanti, “Eu sei, mas não devia”.

“A vista é o que nos faz adquirir mais conhecimentos, nos faz descobrir mais diferenças”. O texto é de Aristóteles na abertura da Metafísica. O olhar deseja sempre mais do que o que lhe é dado ver. Todos os filósofos
falaram sobre o olhar. “A vista – escreveu Giordano Bruno – é o mais espiritual de todos os sentidos”. O olhar antigo captou o movimento sob as aparências da matéria corpuscular. O olhar científico procura descrever a energia. No olhar da Renascença, o olho do pintor convive harmoniosamente com o olho do sábio. Leonardo da Vinci, pintor-cientista, dá ao olho o poder de captar a “prima verità” de todas as coisas. “O olho, janela da alma, é o principal órgão pela qual o entendimento pode obter a mais completa e magnífica visão dos trabalhos infinitos da natureza”.

Para Hegel os olhos não são espelhos do mundo e janela da alma, como escreveram Leonardo da Vinci e muitos renascentistas (ou mesmo o olho do corpo é fonte de pecado, como disse Padre Antônio Vieira) e
sim o olhar que se impressiona com os acontecimentos políticos da época, pensar o mundo interior à consciência do mundo e definir o movimento de constituição da História. O homem sem consciência de si, para si, é um ser silencioso e vazio. Ele substitui a cegueira da imaginação pelo pensamento der ver: a consciência e a coisa, o sujeito e o objeto – divisões brutais que determinam com rigor as esferas do sensível e do pensado, do que vê e do que é visto.


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HUMOR GRÁFICO NA BAHIA
Uma exposição com as obras dos precursores do grafismo baiano (cartum, caricatura, charge e quadrinhos) até os dias atuais é de grande necessidade para o grande público (jovem e adulto).

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Por esse motivo, vamos apresentar em 2015 uma grande exposição de humor gráfico na Bahia e queremos a participação de todos os artistas.

Paraguassu, K-Lunga, Tischenko, Sinézio Alves, Fernando Diniz, Theo, Lage, Setubal, Nildão, Ruy Carvalho, Cedraz, Cau Gomez, Bruno Aziz, Valterio, Flavio Luis, Luis Augusto, Valmar Oliveira, Andre Leal, Angelo Roberto, Eduardo Barbosa, Gentil, Jorge Silva, Carlos Ferraz, Helson Ramos, Hector Salas, Tulio Carapiá, Sidney Falcão são alguns dos artistas cujas obras estarão na mostra.
Participe, colabore. Contato: gutecruz@bol.com.br
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