30 novembro 2012

Reverência ao samba

Compositor de alma, Riachão foi reverenciado como o sambista de maior expressão e longevidade da Bahia. Em 2007 ele foi personagem-símbolo da maior festa popular do Brasil, o Carnaval. A reverência ao samba como forma de folia momesca foi uma forma de resgate e a busca por uma maior valorização deste gênero. E foi justamente em 1917 (há 95 anos) que o conhecido samba carnavalesco, “Pelo Telefone” estourou no Carnaval. Gravado pela Casa Edison, na voz de Baiano, a composição assinada por Donga e Mauro de Almeida ainda tem muito do maxixe, ritmo hegemônico na época, e vira cantiga nordestina em um dos trechos. E a história do samba já começou marcada pelas misturas que sempre envolveram o gênero. Os puristas preferem o samba original, os apologistas das fusões querem misturar com o rock, frevo e pop.

Quando Noel Rosa compôs o samba “Feitio de Oração” e Vinícius de Moraes em “Samba da Bênção” afirma que “o bom samba é uma forma de oração”, estavam certos. A palavra samba veio do lamento “kusamba”, rezar, orar. “Quem se atreve a me dizer, do que é feito o samba?” pergunta Marcelo Camelo na composição “Samba a Dois”. E quem responde é Caetano Veloso em “Desde que o samba é samba” ao compor: “O samba é o pai do prazer/o samba é o filho da dor/o grande poder transformador”.

“É melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que existe/É assim como a luz no coração/Mas pra fazer um samba um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/Senão não se faz um samba, não//Senão é como amar uma mulher só linda; e daí?/Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza/Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora/Qualquer coisa que sente saudade/Um molejo de amor machucado,/Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher,/Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor/E para ser só perdão//Fazer samba não é contar piada/Quem faz samba assim não é de nada/O bom samba é uma forma de oração/Porque o samba é a tristeza que balança/E a tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não...//Ponha um pouco de amor numa cadência/E vai ver que ninguém no mundo vence/A beleza que tem um samba não/Porque o samba nasceu lá na Bahia/E se hoje ele é branco na poesia/Se hoje ele é branco na poesia/Ele é negro demais no coração” (Samba da benção, de Vinícius de Moraes)

Fernanda Porto e Alba Carvalho falam que nunca foram numa roda de samba, mas seu sambar tem repique e batuque sampleando reco-reco e agogô. “Esse samba é meu groove da vez/com guitarras e drum´n´bass/só pra ver como é que fica/eletrônica e couro da cuíca//Samba assim assado/de hit acelerado, será que é samba assim?/samba assim assado/de hit acelerado, é samba, sim” canta em “Sambassim”. Em 2005 o baiano radicado em São Paulo, Péri lançou seu quarto CD dedicado inteiro ao samba. Mesclando a batida bossa-novista de João Gilberto, a elegância de Paulinho da Viola, e a suavidade da voz e violão ele canta: “o samba é como a vida. Só na maciota. Um samba pequenininho. Um samba diferente. Um samba passarinho. Que voa quando está contente” (Samba Passarinho).

Já o compositor Assis Valente teve nova leitura do seu “Brasil Pandeiro” na voz dos Novos Baianos: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor/eu fui na Penha, fui pedir ao Padroeiro para me ajudar/salve o Morro do Vintém, pendura a saia eu quero ver/eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar/o Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada/
anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato/vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará/na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá//Brasil, esquentai vossos pandeiros/iluminai os terreiros que nós queremos sambar/há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente/num batuque de matar//Batucada, batucada, reunir nossos valores/pastorinhas e cantores/expressão que não tem par, ó meu Brasil/Brasil, esquentai vossos pandeiros/iluminai os terreiros que nós queremos sambar/Ô, ô, sambar, iêiê, sambar.../queremos sambar, ioiô, queremos sambar, iaiá”.


E Jadir de Castro e Luiz Bittencourt atacaram de “Samba do Ziriguidum” na voz de Jackson do Pandeiro: “Ziriguidun, ziriguidun/Meu coração num teleco-teco/Puxe e largue/Como no futebol/A onda vai, vai, vai/E, balança mas não cai/E o samba continua/Na base do ziriguidum/Abre a roda moçada/Pra entra mais um/Abre a roda moçada/Pra entra mais um”. Para encerrar só mesmo o “Samba e Amor” de Chico Buarque: “Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho muito sono de manhã/Escuto a correria da cidade que arde/E apressa o dia de amanhã/De madrugada a gente ainda se ama/E a fábrica começa a buzinar/O trânsito contorna a nossa cama – reclama/Do nosso eterno espreguiçar/No colo da benvinda companheira/No corpo do bendito violão/Eu faço samba e amor a noite inteira/Não tenho a quem prestar satisfação/Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho muito mais o que fazer/Escuto a correria da cidade - que alarde/Será que é tão difícil amanhecer?/Não sei se preguiçoso ou se covarde/Debaixo do meu cobertor de lã/Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho muito sono de manhã”.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

29 novembro 2012

Abre a roda que o samba vai passar

O samba surgiu na Bahia, mas se popularizou nacionalmente através do Rio de Janeiro, que, com uma indústria fonográfica forte, teve um papel fundamental na divulgação dessa música. Ao primeiro toque do tambor, homens e mulheres se colocavam a postos, em círculos. E iam se alternando no centro da roda, dançando sozinhos ou em pares, enquanto os outros acompanhavam em palmas. “A dança consiste num bambolear sereno do corpo, acompanhado de um pequeno movimento dos pés, da cabeça e dos braços. Estes movimentos aceleram-se, conforme a música se torna mais viva e arrebatada, e, em breve, se admira um prodigioso saracotear de quadris”, informa o antropólogo Edison Carneiro em seu livro “Samba de umbigada”. Quando dançam sozinhos, convidam outro a substituí-lo com uma umbigada, que chamam de “semba”.

Filho legítimo das danças africanas, especialmente dos povos de língua banto, o samba veio dos batuques e lundus. Onde se plantava cana, tabaco, algodão, café e minas de ouro, havia negros e onde havia negros, havia dança e música, lembra Carneiro. Assim, os batuques foram se espalhando pelo país e se misturando com sonoridades e danças dos portugueses e dos índios, dando origem ao coco (no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), ao jongo (no Rio, São Paulo, Minas e Goiás) e ao samba (no Maranhão, Bahia, Guanabara e São Paulo), afirma o pesquisador.

Considerado obscena, ofensivo, os sambas eram vistos como locais de orgia e bebedeira, dignos da mais severa perseguição. Apesar de tudo, o samba sobreviveu. Os negros eram a maioria da população e o samba, a forma que eles conheciam de celebrar, se divertir, brincar. E apesar da base africana, o samba é natural do Brasil, onde descobriu novos instrumentos, coreografias e sotaques.

Os pesquisadores são unânimes em afirmar que o centro de tudo, o local onde o samba ganhou vida foi no recôncavo baiano, onde a música estava nas plantações, na pesca, na hora de construir, no lazer. O samba, naquela época cadenciava o trabalho. O coração do samba no recôncavo é a região que inclui Santo Amaro, Acupe, Santiago do Iguape e Cachoeira. E foi de Cachoeira que saiu Hilária Batista de Almeida, ou Tia Ciata, a mulata baiana que, no começo do século XX, ensinou o Brasil a sambar. Ela promovia em sua casa festas onde estava presentes os grandes músicos da época e foi lá que surgiu “Pelo Telefone”, o samba que lançaria no mercado fonográfico um novo gênero musical. A gravação de Donga foi em 1917 (há 95 anos), mas antes dele, em 1902 (há 110 anos), o santo-amarense Baiano foi o responsável pela primeira gravação feita no Brasil, o lundu “Isto é Bom”, do baiano Xisto Bahia. A partir daí o samba se espalhou por todo o país.

Há várias vertentes do samba como o choro, um samba em forma de canção, ou a bossa nova, ritmia do samba a serviço do requinte melódico da região. O samba de roda foi a grande fonte de inspiração do pagode baiano, assim como o samba duro e o pagode carioca.

Depois que a Unesco reconheceu o samba de roda como Obra-prima do Patrimômnio Oral e Imaterial da Humanidade, todas as atenções se voltaram para essa expressão cultural que, desde os tempos da escravidão, floresce no entorno da Baía de Todos os Santos. O samba de roda do Recôncavo Baiano sobrevive em dezenas pequenas comunidades interioranas, sendo a principal manifestação folclórica nas datas festivas, comemorações do dia a dia ou nos batuques que animam o encontro de amigos nos butecos.

“Desde que o Samba é Samba”, composição do mano Caetano diz: “A tristeza é senhora,/Desde que o samba é samba é assim/A lágrima clara sobre a pele escura,/a noite e a chuva que cai lá fora/Solidão apavora,/tudo demorando em ser tão ruim/Mas alguma coisa acontece,/no quando agora em mim /Cantando eu mando a tristeza embora//O samba ainda vai nascer,/O samba ainda não chegou/O samba não vai morrer,/veja o dia ainda não raiou//O samba é o pai do prazer,/o samba é o filho da dor/O grande poder transformador”.

Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Roberto Mendes e outros artistas baianos já se renderam à beleza do ritmo tendo gravado vários samba de roda. De raiz africana, era a diversão dos escravos e se subdivide em vários formatos como a chula, o samba de corrida, o de parada, de quadra, o samba duro, entre outros. O samba não é apenas um ritmo, é algo mais que uma simples música, ele evidencia o sentimento de um povo, uma espécie de herança que passa de gerações a gerações sendo, portanto, um conjunto de emoções.

O poeta Vinícius de Moraes sintetizou, com extrema felicidade, a origem do samba brasileiro, seu compromisso com a herança africana e as contribuições que lhe foram trazidas pela cultura européia, ao dizer que “o samba nasceu lá na Bahia e se hoje é branco na poesia, ele é negro demais no coração...”.E Zé Keti completa: “Eu sou o samba/A voz do morro sou eu mesmo sim senhor/Quero mostrar ao mundo que tenho valor/Eu sou o rei do terreiro/Eu sou o samba/Sou natural daqui do Rio de Janeiro/Sou eu quem levo a alegria/Para milhões de corações brasileiros/Salve o samba, queremos samba/Quem está pedindo é a voz do povo de um país/Salve o samba, queremos samba/Essa melodia de um Brasil feliz”.

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28 novembro 2012

Saudade de Lage (1946/2006)

Foi com o suplemento semanal A Coisa, publicado na Tribuna da Bahia nos anos 1970 que conheci mais de perto o cartunista Lage. No final da década de 1960 havia criado um movimento (clube) de estudo das histórias em quadrinhos e artes gráficas em geral na minha comunidade, o bairro do Pero Vaz aqui em Salvador. Com a publicação do fanzine Na Era dos Quadrinhos e as exposições e palestras sobre o tema nas escolas e bibliotecas da cidade ficamos conhecidos em toda Salvador (até mesmo contato com o desconhecido, na época, Umberto Eco). Defendíamos com unhas e dentes o movimento em prol das artes gráficas – cartuns, quadrinhos, charges e poema processo.

A força de nossas ações deu origem em reunir os cartunistas para a criação de uma publicação local para reforçar o trabalho desses artistas “invisíveis” da sociedade. Depois do suplemento A Coisa (publicado todas as sextas na Tribuna da Bahia), lançamos o jornal quinzenal Coisa Nostra, revista Pau de Sebo, além de exposições dos trabalhos dos cartunistas onde a interação era uma das molas do evento porque o público participava votando no melhor cartum da mostra. A mídia também, oferecendo prêmios aos melhores.

Referência na área do humor gráfico, especialmente na charge, Lage era dono de um estilo particular, marcado pela contestação calcada no humor virulento. Iconoclasta, dono de um traço simples e cortante, Lage logo se destacou pela mordacidade de seus desenhos. Costumava dizer que o bom cartum “é o que sai no estalo”. Durante o regime militar, entrou em controvérsias e chegou a ser chamado para depor nas famosas “sessões de informação” da ditadura. Mesmo assim, não diminuiu o tom de deboche, dizendo às vezes sem palavras o que todo uma nação calava na garganta.

Todos os dias, na redação do jornal Tribuna da Bahia, ele ia no começo da tarde, conversava com uma ou outra pessoa, ficava folheando os jornais, calado e, de repente, aparecia com uma de suas charges geniais. Assim, nos últimos 35 anos, a história da Tba está ligada a de Lage. Quando ele chegou nas páginas do jornal, primeiro em preto e branco, depois às cores, o papeis era outro e o jornalismo também. Mas sua ferramenta continuava as mesmas: o traço exato e o humor demolidor.

As charges de Lage se casam perfeitamente com a missão da Tribuna da Bahia, que é dar informação de forma exclusiva., analítica, sintética e contextualizada.

Quem quiser entender a Bahia de 1969 a 2006 precisa levar a sério o trabalho de Lage e olhar co atenção o comentário cáustico e agudo de suas charges. Mais do que jornalistas, são cronistas do desenho, que respondem diretamente aos acontecimentos com traço e legenda.

Lage morreu no dia 29 de novembro de 2006, aos 60 anos de idade. Trabalhou como chargista no jornal Tribuna da Bahia desde a sua fundação. Foi funcionário da TB Educativa. Formado em arquitetura pela UFBa, o artista optou desde cedo pelo desenho. Criou, ao lado de outros desenhistas, a revista Pau de Sebo, o jornal Coisa Nostra e o Dicionário de Baianês.
“Bastava um pedacinho de papel , e tinta preta, que ele derramava com uma humanidade rimada de simplicidade. Neste mundo de aparência, foi-se um exemplar de gente que não curtia alarde”, escreveu o mestre em comunicação Paulo Roberto Leandro (A Tarde - 01/12/2006).

“Nunca dizia não, mas jamais admitia utilizar a sua pena para ilustrar ideias dos outros. Era original e muitas vezes demolidor nas suas charges inteligentes sobre os assuntos nacionais daqueles que faziam doer quando a gente ria”, escreveu o jornalista Sérgio Goes (TB – 01/12/2006).

“Lage foi genial. Seu traço simples das figuras humanas que retratava, o cidadão classe média quase sempre com a cara do baiano que vai a padaria no final da tarde, narigão, olhos de gude; os policiais brucutus; e as suas tirinhas sobre sexualidade (o casal na cama, o papagaio putz) deixava seus fãs admirados. A primeira coisa que o leitor da Tribuna da Bahia fazia quando pegava o jornal era olhar e ler a charge de Lage”, escreveu o jornalista e escritor Tasso Franco (TB – 04/12/2006).

Em setembro de 2010 ele ganhou importante mostra retrospectiva na Caixa Cultural Salvador. Com curadoria do cartunista Nildão, Lage – 40 Anos de Humor apresentou 60 trabalhos de diferentes fases do desenhista, que revelam seu olhar crítico, mas sempre bem humorado, para fatos que marcaram as últimas décadas.

O artista recebeu diversos prêmios nacional e internacional durante sua trajetória. O último deles, em 1997 quando foi um dos vencedores do Trofeu HQ Mix dedicado aos melhores da área.
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27 novembro 2012

Rubem Valentim: 90 anos de nascimento (2)

Valentim é um dos mais originais e autênticos construtivistas brasileiros. “Minha linguagem plástico-visual-signográfica está ligada aos valores míticos profundos de uma cultura afro-brasileira (mestiça-animista-fetichista). Com o peso da Bahia sobre mim - a cultura vivenciada; com o sangue negro nas veias - o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo - a contemporaneidade; criando os meus signos-símbolos procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico ao que flui continuamente dentro de mim”, disse em uma de suas entrevistas.

“A estilização de seus signos-fetiche do candomblé abriu seu espaço, que, se a princípio era bidimensional foi-se a terceira dimensão, como querendo respirar a sacralidade de um rito, a um só tempo poético, sacro e agnóstico. Os deuses da mitologia afro-baiana - Oxossi, Ogun, Xangô, Iansã, Iemanjá e Oxalá - ofereceram-lhe a motivação para criar uma obra intuitivamente construtivista e aparentemente abstrata, mas na verdade de fundo místico/mítico/religioso, portanto sensorial e sensitiva.

A memória cultural de sua raça, por isso mesmo, está tatuada na heráldica de seus deuses plásticos, como foram marcados, no passado, a ferro em brasa, seus irmãos negros nas senzalas”, escreveu o crítico de arte, Alberto Beuttenmuller, em 1977.

Para o crítico Frederico Morais, “às vezes é preciso calar: usar um silêncio artifício, para dizer melhor e mais alto. Calar para que o silêncio cante toda a extraordinária beleza da vida, para que se possa ouvir este fio de água cantando, que vem das fontes primitivas. Sabedoria. Às vezes é preciso eliminar a cor, como se elimina o ruído, e chegar à dura pureza do branco. Luz. Contra o caos, Rubem Valentim propõe o cosmos”.

Ele morreu no dia 30 de dezembro de 1991, vítima de câncer, e os museus prestaram homenagens a um dos principais nomes do construtivismo brasileiro. Valentim morreu aos 69 anos sem concretizar seu projeto maior, o de criar uma fundação - em Brasília ou São Paulo - para abrigar sua obra, uma das raras no Brasil a merecer a atenção do crítico italiano Giulio Carlo Argan. O ensaísta foi um dos primeiros a observar que o uso dos negros do candomblé por Rubem Valentim nada tinha de folclórico.
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26 novembro 2012

Rubem Valentim: 90 anos de nascimento (1)

Artista plástico. Nasceu em Salvador simultaneamente na Semana de Arte Moderna, no dia 09 de novembro de 1922 (há 90 anos). Autodidata em pintura. Começou a pintar ainda criança, fazendo figuras e paisagens para presépios de Natal. Em 1946 formou-se em Odontologia, tendo exercido por pouco tempo a clínica sem entretanto deixar de pintar.

Pintor autodidata, influenciado por Torres Garcia, experimentando uma aproximação com o concretismo nos anos 60 e voltando, no final da vida, às formas circulares. Essas “mandalas”, não são referenciais. Elas têm um sentido universal, ecumênico. Participou do movimento renovador das artes iniciado na Bahia em 1946/47. Em 1948 passou a dedicar-se exclusivamente às artes plásticas. Bacharelou-se em Jornalismo no ano de 1953. Em 1957 transfere-se para o Rio. Ganha, em 1962, o prêmio de viagem ao estrangeiro no XI Salão Nacional de Arte Moderna.

Viaja para a Europa onde permanece três anos e meio visitando museus, exposições e galerias de arte, interessando-se principalmente pela arte negra e dos povos primitivos e informando-se na época sobre o que havia da chamada vanguarda nos países ditos desenvolvidos/industrializados.

Viaja pela Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Itália. Fixa-se em Roma, aí trabalha e expõe. Percorre toda a Itália. Visita as Bienais de Veneza de 1964 e 1966. Vai à África participando da Exposição de Arte Contemporânea do I Festival Mundial de Arte Negra, 1966, Dacar, Senegal. Retorna a Roma. Volta para o Brasil em setembro de 1966, atendendo convite do então Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília.

De 1949 a 1955 participou do Salão Baiano de Belas Artes. Em 1950, dos Novos Artistas Baianos. Em 1955, da III Bienal de São Paulo. Em 1966, a convite, da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador, com Sala Especial, obteve Prêmio Especial pela Contribuição à Pintura Brasileira. Nesse mesmo ano participa de uma mostra coletiva contemporânea em Roma. Com seis grandes relevos denominados Emblemas, participou como artista convidado da I Bienal Internacional de Arte Construtivista Nuremberg, Alemanha, em 1969; do Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e da X Bienal de SP.

Nos anos 70 participou da II Bienal de Artes Plásticas Coltejer, em Medellin, Colombia; II Festival de Arte Negra, em Lagos, na Nigéria; Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu Nacional de Belas Artes, em Santiago, Chile; Japão, entre outras.

Seu primeiro prêmio foi em 1955, Universidade da Bahia, no Salão Baiano de Belas Artes. A partir daí não parou mais com muitas exposições individuais, centenas de mostras coletivas e inúmeros prêmios. Em 1974 o cineasta Aécio Andrade dirigiu um curta metragem em cores: Rubem Valentim e sua Obra Semiológica. André Paluch dirigiu nesse mesmo ano o curta em cores Artistas Brasileiros no Museu de Ontário, Canadá, e o crítico de arte Frederico Morais produziu o audio-visual A Arte de Rubem Valentim.

Suas obras estão espalhadas por diversos museus, galerias, nas ruas, além de várias coleções importantes particulares no Brasil e no estrangeiro. Um bom exemplo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de SP, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes do RJ, Galeria Nazionale d’Arte Moderna de Roma, Itália; Museu de Ontário, Canadá; Palácio Residencial do Governo da Bahia, Ondina, Salvador; Palácio do Governo do Zaire, Kinsasha, África; Embaixada do Brasil em Roma e Bogotá; Museu de Arte e História de Genebra, Suiça; Museu de Arte Moderna de Paris, França; Museu de Lagos, Nigéria, entre outros.
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23 novembro 2012

Percussão, a alma da música baiana (3)

A Bahia comparece como o lugar por excelência da tradição, da ancestralidade, da familiaridade (MOURA, 2001). E o cenário Carnaval se constitui num ambiente ideal no campo da música, seja através do lundu, do samba, do maxixe, do tango brasileiro, da marcha, do samba reggae ou qualquer outro gênero sincrético composto para a festa, para a construção identitária da Bahia. E a cidade do Salvador se especializou em vender sua própria imagem, embalada perlo fazer musical que tem o Carnaval como uma grande vitrine dessa representação.

O surgimento da axé music no final dos anos 80 trouxe consigo inúmeras mudanças de ordem comportamental, econômica,social e artística, mudando por vezes o foco artístico cultural do Centro Sul para o Nordeste (Gonzagão fez isso nos anos 1940 com o baião). A axé music se torna, então, a representante do Carnaval contemporâneo de Salvador, já sendo denominado por revistas especializadas como pop axé. O próprio Carnaval, enquanto ambiente de negociações, apresenta em seu repertório tanto temáticas consideradas ícones da negritude, quanto a presença de sonoridades ligadas ao mundo do local pelo global (HALL, 20034) também se apresenta no que podemos denominar de Carnaval contemporâneo.

O movimento da axé music foi proporcionado por experimentações de sonoridades e instrumentos heteróclitos e pela fragmentação do processo produtivo da indústria fonográfica, terceirizando as etapas de gravação, fabricação e distribuição do produto (DIAS, 2000, p.17), ambientado no Carnaval.

A partir de 1987, quando uma nova sonoridade passou a invadir os lares através das ondas sonoras das FM locais. Estas, que até então se limitavam a reproduzir o modelo do eixo sul, passam a veicular as produções musicais locais gravadas no estudio WR, tornando-se um marco para o mercado da música produzida na Bahia, particularmente em Salvador. As gerações anteriores saiam de suas cidades para “tentar a sorte” no eixo Rio-São Paulo (Assis Valente, Dorival Caymmi, João Gilberto, Gil, Caetano, Gal, Tom Zé e muitos outros).

Goli Guerreiro em A Trama dos Tambores/2000 percebe a axe music oriunda do encontro da musica dos blocos de trios com o dos blocos afro. É um hibridismo musical, caracterizado por sonoridades harmônicas e percussivas.

FORÇA, IMPROVISO

Batidas, sonoridades, alma, força, improviso. A percussão é tudo isso, ela é a base da música baiana
O próprio ritmo maior da folia momesca mostra as diferenças de como as batidas se encaixam de acordo com o estilo. Para a axé music, a percussão tem que ser de festa, tem que ser forte, com profundidade, agudo, alegre como é o povo baiano.

Leonardo Reis - Pertence a uma família onde a música é uma herança religiosa. Seu irmão, Orlando Costa ensinou os primeiros passos. Tem nos timbales um dos seus instrumentos de mais destaque, fruto de estudo e pesquisa em Cuba com o mestre Chagito. Seu timbre percussivo está presente nos discos e shows de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Marisa Monte, Ana Carolina, Ivete Sangalo e Banda Eva.

Jorge Sacramento - O professor Jorge é assistente da cadeira de Percussão da UFBA, é percussionista/assistente da Orquestra Sinfônica da Bahia e coordena vários projetos de extensão na EMUS/UFBA. É Mestre e Doutorando em Educação Musical pela Universidade Federal da Bahia. Já gravou discos de vários artistas: Andréa Daltro, Joatan Nascimento, Juvino Alves, Lindemberg Cardoso, Paulo Lima e Wellington Gomes são alguns deles. Sacramento também é timpanista oficial das novenas da Conceição da Praia e do Senhor do Bomfim.

Bira Reis - Músico de percussão e sopro, arte-educador, professor, artista plástico e pesquisador, Ubirajara de Andrade Reis - o Bira, faz trabalhos e pesquisas direcionadas à cultura popular universal e étnica. Como educador, o mestre Bira realizou atividades com instituições como o Projeto Axé; Ilê axé opô afonjá; Ilê oxumaré; Oimba; comunidade do bairro de Arenoso e Praia Grande. Como músico, arranjador e compositor, o mestre Bira participou de vários eventos, entre eles o Fórum Mundial Social – Índia, quando integrou o grupo do músico italiano Aldo Brize; fez shows com a cantora Virgínia Rodrigues no festival de música Del Ciel, na Itália; foi regente do Afoxé e faz a direção musical da lavagem do Sacre Coeur, em Paris; foi responsável pela criação e direção musical da trilha sonora da Exposição 100 anos de Pierre Verger; fez a criação da trilha sonora da peça Capitães de Areia, de Jorge Amado, entre muitas outras ações.

Orlando Costa - Pesquisador de instrumentos percussivos há 20 anos, Orlando conhece bem os diferentes estilos e origens da percussão. Com o trabalho reconhecido mundialmente, Orlando já acompanhou artistas brasileiros e estrangeiros em turnês internacionais pelo Japão, Israel, Marrocos, Estados Unidos, Canadá, países da Europa e América do Sul. O percussionista também se apresentou com os músicos Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Mariza Monte, Carlinhos Brown, Banda Mel, o americano Jerrel Lamar e Margareth Menezes em importantes festivais como o Montreux Jazz Festival, Arezzo Wave Love, Viva Afro-Brasil, North Sea Jazz, Nice Jazz e o Johnny Walker Festival.

Peu Meurray - Músico, compositor e artista plástico, Peu Meurray tem 20 anos de percussão e já tocou e gravou com grandes estrelas da música nacional e internacional, entre elas, Marisa Monte, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Saul Barbosa, Simone Moreno, Pepeu Gomes, Daniela Mercury - com quem gravou o DVD Eletrodoméstico em 2003, e os internacionais Lorenzo Jovanotti – com quem seguiu em turnê pela Europa em 2002/2003, e a banda italiana Negrita. À frente do espaço cultural Galpão Cheio de Assunto, Peu transforma pneus velhos retirados do lixo em tambores, caixas de som, além de móveis e objetos de arte. A ideia surgiu depois de presenciar a poluição que assola o Rio Tietê, em São Paulo. Logo, percebeu que podia transformar sua indignação em um projeto social. Surgiu a ONG Tambores de Pneus, que já conseguiu atingir mais de mil crianças e adolescentes. Na organização são realizadas oficinas culturais com teatro, artes plásticas, dança, música e cidadania. Hoje, o trabalho já é conhecido em Salvador, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Itália e Japão, além de ter sido visitado por artistas como Marisa Monte, Ed Motta, Marcos Suzano, Tony Allen e Jovanotti.

Waltinho Cruz - Sua iniciação na carreira musical começou nos terreiros de Candomblé de Cachoeira e no Alto do Gantois com a Ialorixá Mãe Menininha, assimilando toda a Cultura Africana, o que tornou possível sua chance de tocar nas noites acompanhando vários artistas. Com o intuito de se aperfeiçoar na arte de tocar um instrumento musical, ingressou na Universidade Federal da Bahia (UFBA), aprendendo percussão com diversos mestres brasileiros e estrangeiros de renomes artísticos, a partir daí ingressou na Orquestra Percussiva da UFBA regida pelo Professor e Maestro Walter Shmetak. Paralelo á sua formação acadêmica, surgiu o convite para fazer parte de um grupo musical baiano chamado Scorpions, atualmente conhecido como o fenômeno musical Chiclete com Banana, a partir se sua entrada no grupo Waltinho Cruz dá início a sua carreira profissional na música brasileira. Ao longo de sua carreira, participou de vários projetos relacionados á música tais como a criação juntamente com o músico Carlinhos Brown do Grupo Timbalada, o Grupo Percussivo Levada do Pelô, (com este, realizou uma turnê na Europa resultando na gravação de um CD), recebeu o Prêmio Troféu Caymi de Melhor Instrumentista, assim como inúmeras premiações contempladas do Prêmio Sharp.

Fonte:

CORRÊA, Djalma. A Percussão no Brasil

DIAS, Juliana. Percussão baiana foi da religião para a festa e acabou virando escola. A Tarde. 24/01/2011
FIGUEIREDO, Luciano org. Festas e batuques do Brasil. Rio de Janeiro: Sabin, 2009 (Coleção Revista de História no Bolso.2)

GUERREIRO, Goli. A Trama dos Tambores. São Paulo: Editora 34, 2000
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

22 novembro 2012

Percussão, a alma da música baiana (2)


No século XVIII a maioria dos instrumentos de cordas já havia atingido seu apogeu. No século XIX os sopros ganharam seu formato atual. E foi apenas nos últimos cem anos que o naipe de percussão se desenvolveu plenamente. A percussão se tornou o grande signo da música do século XX: além de enriquecê-la com ritmos e instrumentos latino-americanos, africanos e orientais, ela estimulou a incorporação da emancipação do ruído e da independência do timbre nas poéticas contemporâneas.

Beat ou stroki em inglês. Coup ou battement em francês. Schlag em alemão. Colpo ou percussione em italiano. Golpe em espanhol. Udárnye instruménty em russo. Xincarigomes em banto e bituit na India. A batida rítmica é primordial.

Em 2011 a linguagem universal dos tambores ganhou ainda mais voz no Carnaval de Salvador. A percussão foi escolhida como tema da folia momesca, e os mestres e percussionistas da Bahia estiveram no centro dos holofotes. Dos templos budistas aos atabaques das religiões de matriz africana, a percussão se fez presente. Na capital baiana, a genialidade dos mestres criou até escolas diferenciadas, conhecidas como “a batida do Olodum” ou “o toque do Ilê Aiyê”.

LINGUAGEM

A linguagem percussiva popular durante muito tempo foi transmitida de mestres para discípulos por meio da observação e audição. Foi dessa maneira que muitos percussionistas reconhecidos internacionalmente aprenderam e continuam a repassar os seus conhecimentos. É o caso de Memeu, mestre de percussão do Olodum, que aprendeu os elementos e as bases rítmicas com Neguinho do Samba, o inventor do samba-reggae e fundador da Banda Didá, que faleceu em 2009.

Ex-integrante da Banda Mirim – trabalho social realizado há 27 anos pelo Olodum – e desde 1996 no comando da ala percussiva, formada por 100 percussionistas durante o Carnaval, mestre Memeu conta que aprendeu os ensinamentos do samba-reggae, ritmo-base do grupo, por meio da sensibilização, percepção e prática musical. “No meu tempo não tinha partitura. Tínhamos que memorizar as batidas, distingui-las e daí sair para a rua e pôr em prática tudo o que ouvíamos”, relata Memeu.

As noções de leitura rítmica e de dinâmica eram aprendidas sem nenhuma base teórica, mas nem por isso a percussão deixou de possuir recursos e riquezas com características próprias. “A percussão está na música baiana em geral, e não só no Carnaval. Ela é a base, dá o ritmo da música baiana. É muito importante o reconhecimento dessa linguagem”, ressalta o coordenador do Núcleo de Percussão da Ufba, Jorge Sacramento.

CENTRAL

A percussão é um elemento central da vida de Salvador, é a expressão do cotidiano de um povo. O samba reggae foi o movimento de criação musical que valorizou o tambor e o trabalho do percussionista. O trio elétrico mudou completamente a estética da produção musical carnavalesca. O samba reggae também transforma a maneira de se fazer música, de se fazer carnaval. A percussão é a base da MPB, é o elemento que vai dialogar com a música europeia. A percussão dá o ritmo da música baiana.

A Bahia é um berço de grandes percussionistas. O talento e a criatividade de vários deles acabaram por criar ritmos com marcas características que se tornaram verdadeiras escolas.

Fia Luna - Atuou entre os anos 1960 e 1970. Seu toque entra influencia do candomblé. É considerado referência para várias gerações.

Pintado de Bongó - Contemporâneo de Fia Luna, foi quem introduziu Carlinhos Brown no universo da música.

Prego do Pelourinho, importante para a história do bloco Olodum. Mestre Prego participou da formação de importantes grupos de percussão do estado da Bahia, como Ilê Ayê e Olodum. Ele foi professor de Neguinho do Samba, criador da escola de percussão Olodum e do samba reggae.

Nelson Maleiro - Conhecido como Gigante do Bagda, foi criador do bloco Cavaleiros de Bagda (1959). Ele inovou a estética do Carnaval baiano com seus instrumentos percussivos. Foi o primeiro negro a protagonizar uma propaganda comercial ao vivo na TV Itapoan. Um agitador cultural

Cacau do Pandeiro – Mestre do instrumento que, de tão seu, virou predicado, sobrenome, Grande parte dos músicos baianos ligados à percussão foram alunos dele. Ele é uma das raízes da árvore genealógica da percussão baiana.

Filhos de Gandhy (19048) - Tem como principal influência sonora o instrumento gã, que dá a direção do ijexá, o seu ritmo.

Ilê Aiyê (1974)- A batida inconfundível do bloco, criada pelo mestre Bafo, em 1975, foi herdado do candomblé, de forma discreta e a mistura do samba duro com ijexá.

Olodum (1979) - Carlinhos Realce, primeiro mestre de percussão do bloco afro, aliou características percussivas ao gingado de danças. A grande influência do bloco é Neguinho do Samba e seu samba reggae que misturou o reggae jamaicano com o ritmo das escolas de samba que chegaram a Salvador no final da década de 1960.

Okambí (1982) – Comandado por Jorjão Bafafá, o bloco afro surgiu com a influência do ritmo ijexá.

Didá (1993). Criado por Neguinho do Samba, trouxe a sonoridade do feminino na percussão e a batida ritmica do samba reggae.

Timbalada (1993) Criada por Carlinhos Brown, discípulo do mestre Pintado do Bongô, o bloco possui um ritmo mais eclético nascido da batida do samba reggae, mas com a novidade da introdução dos timbaus.

Okambí (1997) O bloco mudou de estilo e passou a adotar como ritmo a mistura da salsa latina com a batida das escolas de samba. Criou o ritmo afro cubano.


Carlinhos Brown - Cantor, compositor, produtor, arranjador, pesquisador ou incentivador musical. Fiundou no fim dos anos 80 a banda Timbalada que adotou um novo instrumento musical: o timbau. Criou a Associação Pracatum Ação Socia, os grupos Pracatum, Ebanóises e Hip Hop Roots

Wilson CaféEstá com o espetáculo Poesia e Ritmo, projeto que mistura elementos do clássico e do popular, tendo a percussão como mola mestra. Ele mantem o projeto Cocoblackdance, um trabalho de percussão e DJ que foi apresentado em trio elétrico no Carnaval de 2010, e acontece à frente da Escola de Educação Percussiva Integral, uma ONG que ele mantêm há dez anos no Cabulo II e que trabalha com 150 adolescentes.

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21 novembro 2012

Percussão, a alma da música baiana (1)

Os instrumentos de percussão são os mais antigos que existem. Em muitos sítios arqueológicos foram encontradas representações de pessoas dançando em torno de um tambor. Muitos objetos musicais também foram encontrados como toras de árvore fossilizadas, possivelmente usadas como tambores primitivos, e diversas versões de litofones, rochas de diversos tamanhos que eram dispostas sobre um tronco ou buraco no chão, usadas para produzir música melódica por percussão.

Gritos, batidas de palmas, pedras que se chocam, batidas do pé na terra, a pulsação do coração. Tudo isso é percussão, e já acompanha o homem desde a Pré-História. O ritmo, o elemento primeiro e fundamental na musica, está ligado ao homem desde o momento em que este foi concebido. Durante nove meses, todo ser humano passou por este período intra uterino. Neste ambiente interior onde todos os órgãos estão sendo formados, inclusive os da percepção, este novo ser em gestação está totalmente envolto por toda uma complexidade de sons e ritmos. As suas células recebem continuamente estas informações sonoras, comandadas pelo tambor primeiro o coração materno. Este ritmo, este pulso o acompanhará ininterruptamente por toda sua vida até seu ultimo suspiro.

Percutindo o próprio corpo, pedras, ossos, madeiras, e depois peles: nessa evolução natural, o homem das cavernas expressou, através da percussão, os timbres e ritmos que se fixaram na sua memória. Esses grupos humanos instalam-se em diferentes pontos da terra, desenvolvendo costumes e expressões próprias. A percussão vai se apropriando desses novos costumes expressões e dos novos materiais e utensílios criando outros ritmos e sonoridades.

PRIMEIRO

O índio foi o primeiro percussionista brasileiro. Batendo um ritmo continuo no chão com os pés, usando a voz com sons guturais e tocando vários chocalhos; assim descreveram os colonizadores que aqui chegaram àquilo que viram e ouviram dos habitantes deste novo continente. A contribuição europeia tornou-se mais um elemento rítmico e sonoro na percussão brasileira. Porém, a terceira e mais forte influência foi sem duvida aquela trazida com a chegada dos escravos de origem africana.
Os africanos oriundos de diversas regiões e tribos com sua sólida tradição e cultura musical, possuíam amplo domínio dos tambores, madeiras e dos metais

Na Bahia em 1850, em consequência à Revolução dos Malês, foi proibida a entrada dos tambores Batá , em todos os portos do pais e ordenada à queima destes tambores para que nunca mais seus toques fossem ouvidos. Assim, calava-se a voz destes tambores rituais que, além de seus toques sagrados, incitava os escravos a luta. Em todo o país, proibiu-se a utilização de tambores e outros instrumentos de percussão nas igrejas.

O colonizador, ao trazer quatro milhões de mão-de-obra escrava, estava “importando” milhares de percussionistas, que, com seus toques tribais, sagrados e profanos, assustavam e ameaçavam o poder. Esse caldeirão rítmico influenciou a música trazida pelos marinheiros europeus, a música da corte e a música tocada nas igrejas.

MISTURA

As formas musicais trazidas da Metrópole como o Fado, a Valsa e a polca tornaram-se ritmicamente mais vibrantes ao se misturarem à Fofa e ao Lundu. A manifestação popular europeia dos três dias de carnaval recebeu o nome de Entrudo. Pelas ruas desfilavam grupos fantasiados, cantando e tocando, e, entre eles, o Zé Pereira, figura típica do português, tocando bumbo ao lado de grandes bonecos

Aproveitando a liberação dos costumes, durante o período carnavalesco, foram surgindo por todo o país inúmeros grupos de foliões, que trouxeram para as ruas cantos e toques de suas tradições culturais. Desta forma, Bantos e Sudaneses as duas mais representativas etnias africanas no Brasil organizaram-se e saíram pelas ruas tocando e cantando em homenagem a seus orixás. No Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais e principalmente na Bahia, começaram a aparecer os grupos de Afoxé.

Também conhecidos como candomblé de rua, estes grupos, formados unicamente por homens, marcavam a presença africana no carnaval. Na Bahia, os afoxés Império da África, Mercadores de Bagdá, Filhos de Gandhi, e Pai Burukô, grupo criado por Deoscóredes dos Santos (mestre Didi), marcavam a presença dos terreiros no carnaval de Salvador.

Pelo inevitável processo de aculturação surgiram os afoxés de Índio e de Caboclo que seguiam o modelo africano diferenciando nos cantos e nos trajes. Os grupos de afoxé foram se adaptando a várias modificações e, com o tempo. Muitos deles extinguiram-se. O afoxé Filhos de Gandhi é a representação máxima desta resistência cultural. Por meio destas e tantas outras manifestações populares a percussão revela a presença rítmica destas três vertentes da nossa cultura. O índio, o branco e o negro.
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20 novembro 2012

O negro nas histórias em quadrinhos (10)

Gutemberg Cruz lança no jornal A Tarde a coluna semanal QUADRINHOS EM ESTUDO (1977). E no dia 18 de julho começa a ser publicado no jornal A Tarde as tiras em quadrinhos diárias dos personagens OS BICHIM, de Nildão; NIQUITA, de Dílson Miflej; BACURI, de Carlos França; NEGO E NEGA, de Romilson; JUÁ, de Sebas: GRILOTE, de Reinaldo; e mais tarde BRITO, de Vleber; O VERME, de Calafange.

Em 1996 a Editora Jazz Music lança, em formatinho, a revista em quadrinhos A Família Negritude Júnior com roteiro de Alexandre Nagado, Jonatas Star Mar e Ismael dos Santos, e arte de José Luis Siqueira da Silva e Silvio Spotti. Mostra as aventuras atrapalhadas desse grupo musical.

Falcão – Falcão é um personagem do Universo Marvel, criado por Stan Lee e Gene Colan. Sua primeira aparição foi em Captain America Vol. 1, #117 (1969). Sam Wilson adotou a identidade de Falcão, tornando-se o primeiro norte americano negro a virar super herói na Marvel. Suas aventuras ao lado do Capitão América trouxeram tanta popularidade que a editora resolveu dar um passo um tanto ousado para a época. A partir da edição 134 da revista do Capitão (fev. 1971), a série deixou de chamar-se simplesmente Captain America para virar Captain America and The Falcon. Para os complexos anos 70, marcados pela luta dos negros por direitos iguais, parecia a atitude correta que um personagem de ideais tão justas quanto Rogers cedesse espaço no título de sua revista e seu parceiro. Os heróis atuaram juntos sob esse título conjunto por mais de sete anos, até a edição 222, de junho de 1978.


Raio Negro – Primeiro herói negro da DC e, embora sua revista só tenha durando 11 edições, foi um marco na editora. Surgido em Black Lightning 1, de 1977, o capitão olímpico Jefferson Pierce decide retornar ao bairro pobre e violento onde cresceu para trabalhar como professor. De quebra, decide enfrentar traficantes, assassinos e ladrões que infestavam a região. Utilizando seus dons atléticos e um cinto que lhe conferia poderes elétricos (além de uma peruca black power), Pierce assumiu a identidade de Raio Negro.

Ciborgue – O jovem Victor Stone surgiu como um dos novos membros da antiga Turma Titã, revitalizada como Novos Titãs, em 1980. Filho de um renomado cientista, Victor era um atleta que teve o corpo mutilado durante uma experiência conduzida por seu pai. Desesperado, o Doutor Stone reconstruiu o corpo do filho e substituiu as partes danificadas por próteses robóticas. Com isso, salvou sua vida. Ao adotar o codinome Ciborgue e unir-se aos novos Titãs começou a participar de trabalhos com crianças mutiladas.

Aço – Criada por Louise Simonson e Jon Bogdanove em Adventures of Superman 500, de 1993, John Henry Irons é um especialista em armamentos, que se arrependeu por ter criado diversas armas no passado e, ao simular sua morte, abandonou uma brilhante carreira para se tornar um operário em Metrópolis. Ao descobrir que algumas das armas que projetou eram usadas por gangues locais, desenvolveu uma armadura de combate e, inspirado pelo Superman (morto aparentemente na luta contra Apocalipse), passou a atuar como o herói Aço. O personagem chegou a ganhar revista própria entre 1993 a 1998, somando 52 edições., além de ter atuado como membro da Liga da Justiça.

Super Choque – Conhecido no Brasil como Super Choque, o herói adolescente foi criado em 1993 com roteiro de Dwayner McDuffie e Robert Washington III e arte de John Paul Leon. Ele surgiu em uma guera de gangues onde foi jogado um gás experimental. Com isso adquiriu poderes eletromagnéticos e passa a combater os vilões surgidos no acidente. A revista do herói foi criada pela Milestone, uma editora com a proposta de lançar títulos de personagens negros e latinos.

Missão: Perigo (Dateline: Danger) - Criação de John Saunders e Alden McWilliams. Série policial sobre uma dupla de agentes federais, um loiro e um negro, bem dentro do esquema da política americana de mascarar o problema racial.


Bibliografia consultada:

BARCINSKI, André. A negritude chega aos quadrinhos. Rio de Janeiro: Jordo do Brasil. 19 de julho de 1003, página 5.

CARDOSO, Athos Eichler. J. Carlos e os primeiros personagens infantis das HQ Brasileiras. Intercom, 2005.

CHINEN, Nobuyoshi. A presença do negro nos quadrinhos latino americanos: uma breve história. O caso do Brasil. Doutorando em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Faculdade Oswaldo Cruz. São Brasil

CIRNE, Moacy. Uma Introdução Política aos Quadrinhos. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982.

FRANCO, Gabriela & SALVATORE, Társis. Heróis negros. Revista Mundo dos Super Heróis n.11. Editora Europa Ltda. São Paulo, julho/agosto de 2008, paginas 12 a 14.

GOIDA. Enciclopédia dos Quadrinhos. Porto Alegre: L&PM Editores, 1990.

GUEDES, Roberto. A Saga dos Super Heróis Brasileiros. São Paulo: Opera Graphica, 2005.

GUERRA, Fábio Vieira. Super Heróis Marvel e os conflitos sociais e políticos nos EUA (1961-1981). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2011.

JUNIOR, Edimário Bastos Duplat. Poderosa Wakanda: A representação do super heroi negro nos quadrinhos da Marvel Comics. Salvador: Faculdade de Comunicação da UFBa, 2010.

MORRISOM, Grant. Superdeuses. São Paulo: Seoman, 2012.

VERGUEIRO , Waldomiro. A odisséia dos quadrinhos infantis brasileiros: Parte 1: De O Tico-Tico aos quadrinhos Disney, a predominância dos personagens importados. Versão resumida e adaptada de artigo publicado no primeiro número da revista International Journal of Comic Art , sob o título de “Children’s comics in Brazil: from Chiquinho to Monica, a difficult journey”.Acesso na Internet: março 2012:

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19 novembro 2012

O negro nas histórias em quadrinhos (09)

Os quadrinhos, tal qual a literatura, cinema, música e outras expressões artísticas, são reflexos dos anseios, conceitos e até mesmo dos preconceitos da sociedade que os produziram. Eis alguns dos personagens criados nos Estados Unidos:


Pantera Negra – Primeiro Negro dentro do conceito clássico de super herói. Foi criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1966. O nome foi inspirado pelo Partido dos Panteras Negras, grupo radical surgido na mesma época e que defendia os direitos dos negros. O herói apareceu nas páginas de Fantastic Four 52 e sua participação criou grande repercussão. Na trama, T´challa é o herdeiro de Wakanda, um minusculo país africano, alvo de constantes ameaças por ser a maior reserva do mundo de vibranium, um metal capaz de absorver energia. A recusa de seu pai, o rei Tchaka, em fornecer o metal para um criminoso americano foi a razão de sua morte. O príncipe T´challa jurou se vingar. Vestindo o traje cerimonial que simboliza o animal sagrado de seu povo (a pantera negra), T´challa utilizou os recursos obtidos na comercialização do vibranium para transformar a pequena Wakanda na raça mais tecnologicamente evoluída do mundo. Logo Pantera Negra tornou-se membro dos Vingadores (revista Avengers, de 1968). Casou-se com a mutante Tempestade, dos X-Men.

Lanterna Verde – Criação de Dennis O´Neill e Neal Adams, o jovem arquiteto desempregado John Stewart foi selecionado pelos Guardiões do Universo para ser o Lanterna Verde reserva de Hall Jordan, uma vez que Guy Gardner ficou ferido após salvar um grupo de crianças durante um terremoto. Apesar de inúmeras participações desde os anos 70, foi somente em 1984 que Stewart assumiu definitivamente o posto de Lanterna Verde da Terra.


Luke Cage, o herói de aluguel – Lucas cumpria pena no presidio, condenado por um crime que não cometeu. Ao aceitar servir de cobaia em uma experiência que iria fortalecer seu sistema imunológico, viu seu destino mudar quando um guarda racista sabotou o teste. Lucas sobreviveu e adquiriu invulnerabilidade e força sobre humana. Superpoderoso, Cage decidiu algo até então inédito para um herói: vender seus dons a que, pagasse melhor, transformando-se em um herói de aluguel. Assim nasceu Luke Cage – Hero for Hire, revista de 1972, escrita por Archie Goodwin e desenhada por George Tuska. Sucesso nos anos 70, o personagem retornou nos anos 90 e assumiu papel de destaque no Universo Marvel. Ele divide seu tempo entre a liderança dos Novos Vingadores e seu casamento com a detetive Jessica Jones.

Spawn – O herói negro Spawn se tornou sucesso na inaugurada industria dos quadrinhos Image Comics na época. Criada por Todd MacFarlane em 1992, All Simmons era um agente da CIA designado para o trabalho sujo do governo americano, como assassinatos e ações ilegais. Morto por seu próprio chefe, a alma de Simmons caiu nas profundezas do inferno. Porém, o demônio Malebólgue ofereceu que Simmons trabalhasse para ele como um Spawn, um soldado do inferno. Em troca, ele poderia voltar ao mundo dos vivos e rever sua família. “Spawn era um herói negro, mas seu rosto era completamente coberto pela máscara para garantir que sua etnicidade nunca virasse problema. Quando o víamos sem máscara, ele tinha queimaduras tão horríveis que não poderia ser visto mais do que um monstro, permitindo a McFarlene mostrar suas intenções e ao mesmo tempo obscurecê-las”, escreveu Grant Morrison em seu livro Superdeuses, página 287, publicado no Brasil pela editora Seoman.

Blade – O Caçador de Vampiros surgiu em 1973. Ele desenvolveu seus poderes aos nove anos, quando salvou a vida de um velho trompetista de jazz, de um ataque de vampiros. O velho era um caçador de vampiros e treinou Blade para enfrentar esses mortos vivos, utilizando armamento especial e suas vastas habilidades sobre humanas (sua mãe foi mordida por um vampiro que alterou o sangue do recém-nascido, transformando-o em uma criatura característica de um vampiro não totalmente transformado). Personagem de pouco destaque na Marvel até ser adaptado para o cinema em 1999 na interpretação do astro Wesley Snipes.
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