31 outubro 2019

As máscaras nas histórias em quadrinhos


A humanidade, ao longo da história utilizara máscara com os fins mais distintos, de acordo com a cultura e a religiosidade do povo que a adotava. Geralmente ela permitia o acesso a universos regidos pela imaginação ou a dimensões espirituais invisíveis. Os contadores de histórias assumiam muitas vezes o uso das máscaras para dar mais vida às suas narrativas. Elas desempenharam, em muitas civilizações, o papel espiritual, como instrumentos principais em rituais sagrados.


No mundo ocidental os antigos gregos foram pioneiros no uso das máscaras, adotadas nas festas dionisíacas, perpetradas em homenagem a Dionísio, divindade responsável pelo vinho e pelos rituais de fertilidade. Nessas ocasiões, todos dançavam, cantavam, se embriagavam e realizavam orgias, evocando a presença do deus através do emprego da máscara. A Grécia foi também o berço do Teatro, modalidade artística que recorria constantemente ao encantamento das máscaras, até mesmo como uma forma de evitar que os atores incorporassem os mortos. Atualmente ainda se vê este hábito perpetuado no Japão.

Esconder a identidade é talvez a função mais popular das máscaras. Bandidos sempre se mascararam usando meias, lenços ou o que estivesse à mão. Estranhamente, nas histórias em quadrinhos, os justiceiros e combatentes do crime também se mascaram, como se houvesse algo de reprovável em perseguir bandidos e malfeitores. O mais provável é que os super-heróis se mascarem apenas para proteger suas privacidades. Não se pode negar que o fazem com bastante imaginação. Basta que se analisem as máscaras do Batman, do Homem-Aranha e do Homem de Ferro, por exemplo.


Super-herói é fantasia. É sonho de poder e ação.  O Fantasma, criação de Lee Falk, foi o primeiro herói mascarado dos quadrinhos lançado em 1936 inaugurou uma categoria dentro do gênero das histórias de aventuras. O mistério que ronda o personagem parece ter sido um dos principais fatores do seu sucesso. Embora todos os  leitores sabiam que ele se chama Kit Walker, seu rosto jamais foi mostrado. Mesmo quando o Fantasma esconde a fantasia e se disfarça para  “percorrer as ruas da cidade como um homem qualquer”, sua aparência é ainda mais misteriosa, com chapéu, capote e óculos escuros. Um personagem meio fantástico, mascarado, dominando as selvas de Bengala com a ajuda dos pigmeus do experiente Guran, morando na caverna da Caveira, contando também com a solidariedade de Capeto, o cão-lobo, e de Herói, o cavalo. 

Depois do Fantasma vieram vários. E antes dele vários mascarados já existiam nas mais diversas formas narrativas e cumprindo os mais variados papéis. Mas no final do séc. XIX e início do séc. XX, a máscara tinha um papel bem claro: impedir a identificação de um criminoso pelos meios legais oficiais, meios estes que contavam com uma ferramenta que revolucionou o processo investigativo: a fotografia.

No herói e, posteriormente, no super-herói, a máscara tem uma função que remete à sua origem de “perturbador da lei” como presente na narrativa de viagem, verdadeiro “anti-herói”: o criminoso. Anti-herói porque na máscara do Fantasma também está presente a moralidade afiada do detetive que quer proteger o status quo e reestabelecer a ordem.


Três anos depois, em 1939 surge Batman o homem morcego, com desenhos de Bob Kane e história de Bill Finger na revista Detective Comics. Confessadamente inspirado por personagens dos livros de bolso, como The Shadow, e pelo vilão da versão cinematográfica de The Bat, romance policial de Mary Roberts Rinehart. Batman luta contra o mal a partir da sombra, de sua caverna, permanecendo no anonimato: Wayne temia os morcegos, assim como temia os criminosos, mas tornando-se seu próprio medo alcançou o “poder” que lhe faltava. Não há mais nada a temer, não há mais o que enfrentar, o medo era a principal barreira que poderia ser enfrentada e, ao se tornar a personificação dele, ele desaparece. Assim, Batman não só luta contra o mal, mas contra seus próprios medos.


Jack Cole cria para a National Periodical Publications, em 1941, o Homem Borracha (Plastic Man), homem alto, esguio, de cabelos pretos e óculos rayban, vestido numa malha inteiriça vermelha, com um cinturão de listras pretas e amarelas. Era o primeiro número da revista Police Comics que trazia este super herói tão estranho: começou sua carreira como criminoso. Fugindo da polícia, ele leva um banho de ácido e é abandonado à própria sorte pelos seus companheiros, mas ainda assim consegue escapar. E, quando é salvo por um monge, decide passar para o outro lado, assumindo a identidade do Homem de Borracha, o mais implausível de todos os super heróis mascarados.


V de Vingança foi a primeira tentativa de Alan Moore de produzir uma série continuada, ao longo de vários meses e anos – começou a ser publicada em 1982 na revista britânica Warrior e seguiu até 1983, para depois ser relançada pela DC Comics em seu selo adulto, Vertigo. Hoje, é relativamente fácil de ser encontrada nas livrarias brasileiras em uma edição encadernada lançada pela Panini, e ganhou adaptação cinematográfica em 2006, por James McTeigue. V de Vingança permanece como uma das maiores obras dos quadrinhos. O trabalho revelou ao mundo seus criadores, Alan Moore e David Lloyd. Trata-se de uma poderosa e aterradora história sobre perda de liberdade e cidadania em um mundo bem possível.

“V” é o homem da máscara branca, sempre sorridente, de capa preta e atitudes teatrais; inspirado visualmente no extremista Guy Fawkes, que tentou detonar o parlamento inglês em 1605. Mas V é, acima de tudo, a representação de uma filosofia, de um ideal político e social, da luta dos oprimidos, da busca pela liberdade e igualdade. V simboliza a nova ordem, o futuro melhor. Alan Moore construiu um personagem universal, um “símbolo”. Por isso não é difícil entender como que a máscara de V, hoje em dia, simboliza todo esse anseio por liberdade de uma nova geração, estando presente em quase todo tipo de protesto e manifestação ao redor do mundo. É como se a HQ tomasse vida própria e todo o conjunto de valores do personagem viessem à tona.


21 outubro 2019

Tina: Respeito aborda assédio no trabalho


Criada em 1964 em tiras de jornal a hippie e baiana Tina era uma pré-adolescente que usava calças com boca de sino e um medalhão com o símbolo da paz. Em 1973 cresceu e se tornou adolescente. Em 1977 a cultura hippie não fazia mais parte da vida dos jovens da época, o que estava no auge era a Discoteca. Tina então passou a ser uma mulher de cerca de 18 anos, com traços muito femininos e com roupas da moda. Nos anos seguintes, ela continuou evoluindo em visual e personalidade, acompanhando as tendências jovens de cada época

Não é de se espantar que uma das personagens mais velha da Turma da Mônica trate de temas como assédio, aceitação e afirmação. Muito mais que uma simples HQ. Necessária, com um tema que precisa ser debatido e combatido. Sempre. Mas o texto e a arte mostram a força, a coragem da mulher, o absurdo de assédios ainda serem usuais e que isso é uma luta de todos. A 24º edição do selo Graphic MSP da Editora Panini lança agora Tina – Respeito. A obra aborda o assédio no ambiente de trabalho, problema enfrentado por muitas mulheres, e mostra como lidar com diversas situações delicadas que, muitas vezes, envolvem o poder hierárquico.

Na história cuja arte e roteiro são assinados pela catarinense Fefê Torquato, a personagem, agora uma jornalista recém-formada, passa por situações que mostram as diversas formas de assédio que uma mulher sofre ao longo do dia. O traço e a finalização em aquarela e lápis de cor usadas por Torquato têm movimento e leveza. A edição traz, na capa, um texto assinado pela vlogueira, escritora e jornalista, Jout Jout. Casos como o de Tina são reais e, geralmente, os assediadores não são denunciados por puro medo. O objetivo desta Graphic MSP é alertar e instruir jovens e adultos a respeito de situações em que se sintam constrangidos no ambiente de trabalho. Não se calar é a melhor forma de lutar contra o assédio.


Jornalista recém-formada, aos 22 anos, Tina finalmente realiza o sonho de trabalhar em uma redação. Em meio ao aprendizado constante, novas amizades e muito esforço para buscar o seu espaço, ela só não esperava que seu maior desafio fosse ser pessoal, e não profissional.

Assédio moral é uma realidade cada vez mais próxima e deve ser levado a sério, principalmente nas relações de trabalho, em que o poder diretivo do empregador, muitas vezes, é confundido com abuso de poder. Nenhum ser humano é obrigado a tolerar situações degradantes, principalmente por ter assegurada sua dignidade na Constituição Federal


Mulheres, por exemplo, maioria da população brasileira, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são minoria entre os brasileiros que trabalham (42,8%). E, quando chegam ao mercado de trabalho, voltam a representar o maior número, mas entre as vítimas de assédio, como aponta o relatório da Organização Internacional do Trabalho de 2018.

Moral e sexual são as duas formas com mais recorrências nesse tipo de violência. Apesar de algumas consequências comuns entre as duas, como a desestabilização da vítima em relação ao ambiente de trabalho, forçando a desistir do emprego e da sua produtividade



15 outubro 2019

Coringa é assustador, incômodo, realista


Filme difícil, cruel, perturbador, incômodo, mas muito realista. Coringa, filme dirigido por Todd Phillips é assustador. Fala sobre os excluídos, a inequalidade social e a desigualdade entre ricos e pobres, não a jornada de um homem psicótico que mata apenas por matar. Foca em um sujeito, um rosto na multidão que vive sem perceber que a maquiagem que ostenta em sua miserável carreira de palhaço de rua ou de animador de crianças em hospitais representa, na verdade, a insensatez com que ele enxerga o mundo. Subitamente, ele “descobre” que sob a pele do palhaço há poder, há sentido, e há, sobretudo, audiência. Todo o desespero de uma existência vã transforma-se em energia vital para que uma multidão troque sua personalidade por uma máscara onde a violência é um ritual que tem no Coringa sua expressão máxima, um ídolo que ousou combater o poder, a democracia, as instituições.



Coringa é um narcisista, profundamente melancólico. O filme trabalha em camadas, cada qual propondo um gatilho que fará o inseguro, torturado e frágil Arthur se transmutar no colossal vilão também conhecido como Palhaço do Crime. Em um mundo onde tantos se sentem injustiçados, o Coringa representa o achatamento do indivíduo e o triunfo de um coletivismo que não percebe que empodera justamente quem abre mão da identidade, da racionalidade para fazer da loucura, da anarquia e do caos um modo de vida.



Nada diferente de nossa realidade, onde influenciadores são seguidos cegamente, onde a polarização dá as cartas a partir de informação comandada por algoritmos, sem espaço para a reflexão, para a nuance, para o meio-tom. Coringa está por aí, em praticamente todos os lugares, à espera de um gatilho para trazer caos ao mundo. E acredite: estamos criando gatilhos para a insanidade como nunca antes na história.



Coringa trouxe um reflexo assustador. Tudo é constituído com densidade, desde a fotografia, trilha sonora até o cenário nauseabundo. A trilha sonora é outro ponto a ser observado. As músicas escolhidas para cada cena do longa compõem não apenas o ritmo do filme, mas nos conduzem pelos sentimentos do protagonista. As mudanças de tons de cada trilha foram metodicamente pensadas para causar a sensação desejada em cada cena. Além de atormentado por uma vontade incontrolável de rir, ele também possui uma inclinação para a dança.




A fotografia é também outro grande trunfo do longa. Não há hesitação em tornar Coringa um filme de aparência doentia, suja e mal iluminada. Tudo sobre a narrativa foi projetado para ser opressivo e levar o público ao ponto de vista de Fleck como a principal vítima de toda essa opressão. Coringa faz provocações reais a respeito de problemas reais e pulsantes como instabilidade mental e políticas armamentistas, sobre a falha dos serviços sociais com quem mais precisa deles, sobre os ricos satisfeitos e os pobres enraivecidos, e sobre pessoas que gritam tão alto que não se pode ouvir os próprios pensamentos. De fato, tudo está ficando mais louco.



PALHAÇO DO CRIME



Coringa é um dos maiores personagens da cultura pop. Sua personalidade mudou drasticamente no decorrer dos anos, seja por causa de censuras impostas aos quadrinhos ou para torná-lo mais sádico. Essas mudanças também são bastante representativas nas adaptações, já que o personagem já foi interpretado por quatro atores diferentes: Cesar Romero, Jack Nicholson, Heath Ledger e Jared Leto.




Ele nasceu nos quadrinhos da DC Comics em 1940 e, desde então, já invadiu os desenhos animados, filmes e seriados que envolvem o mundo de Batman. O personagem foi o primeiro vilão psicopata a ser criado. Sádico de aparência bizarra e dono da reputação de mais perigoso personagem dos quadrinhos. Para o maníaco, cada transgressão é baseada numa piada, geralmente de humor negro, quase sempre levando suas vítimas a morrerem, literalmente, de tanto rir. Ele ainda explica que o personagem foi programado para morrer nesta edição. Quando o Coringa apareceu a primeira vez, ele estava programado para morrer. Mas o editor-chefe da DC Comics, Whitney Ellsworth, enxergou a grandeza do personagem e não deixou os autores o matarem.



A criação do Coringa foi inspirada na performance do ator Conrad Veidt, em O Homem Que Ri (The Man Eho Laughs), um filme mudo de 1928. Por sua vez, o filme é uma adaptação do romance O Homem Que Ri de 1869 (há 150) do escritor francês Victor Hugo.




Na era de ouro dos quadrinhos, 1930, era muito comum um super-herói lutar com um cientista maluco, mas o Coringa foi diferente. Ele é um cara psicopata e insano. E, com a vinda da Comics-Com, na década de 50, o personagem deixou de ser psicopata e virou um palhaço do crime.



No Brasil o Coringa apareceu pela primeira vez em 1942, com o nome de Risonho e, depois, o Bobo. O criminoso só teria sua origem revelada 11 anos depois de seu surgimento, na revista Detective Comics n.168 em fevereiro de 1951.


11 outubro 2019

Terror e faroeste misturados em Três Buracos


A obra é densa, envolve terror, questões psicológicas em um clima de faroeste. O local é uma cidade do interior da Paraíba chamada Três Buracos. Três coisas a mantém viva: o garimpo, o puteiro e o cemitério. Esse é o foco da mais nova obra do desenhista Shiko lançado recentemente pela Editora Mino: Três Buracos




E é nessa terra perdida que um delegado tenta manter as leis e a sanidade geral punindo severamente quem pega o que não é seu, especialmente aquilo que está destinado ao patrão. Um dia o delegado cai nas graças do desejo quando encontra uma das maiores turmalinas, porém ele se nega a entregar ao patrão e a esconde para nunca ser encontrada. Esta atitude o sentencia a morte. A cidade parece viver uma maldição pelo afastamento do único capaz de ditar as regras e sua filha Tânia, é a única que permanece no garimpo durante os anos.




“Quando o pai da Tânia é morto, o garimpo acaba, o irmão dela vai embora e vira um ladrão. Ela não consegue sair de Três Buracos por ser assombrada pelo espírito do pai. É uma história de botija, um mito sertanejo de tesouro escondido. O tesouro tá enterrado, escondido, e a alma da pessoa que escondeu não consegue partir, fica presa na terra até que alguém desenterre esse tesouro. Aí essa filha é assombrada pelo espírito do pai e não consegue abandonar esse lugar”, revela Shiko.



O artista Shiko transparece em cada página com críticas da vida nordestina e do garimpo misturadas com um faroeste tupiniquim onde a lei do mais forte sobrevive. E isso não apenas fisicamente, mas mentalmente também. Aqui, nada caminha a exatidão e felicidade, sobra apenas a realidade dura e dolorida.




Em certos momentos a ausência de textos fortalece a construção dos traços. O preto e branco é um definitivo para o clima do vazio e da perda de esperança dos personagens presos em seus buracos perdidos.



A narrativa é um faroeste com enforcamento, garimpo e assalto a banco. No sertão nordestino é comum o assalto a caixas eletrônicos e essa obra fica entre o faroeste e o terror com um ambiente contemporâneo. Os enquadramentos horizontais lembram a fotografia do cinema italiano de faroeste.



Realidade e  sonho se misturam para contar essa história na qual as almas estão sempre entre a salvação e o Inferno. Três Buracos é contemplada ainda pelo forró de Luiz Gonzaga, com Buraco de Tatu, e a cantiga medieval de Pedro Calderón de la Barca, com trecho da peça A Vida é Sonho, para embalar as almas – vivas ou mortas – que buscam a salvação para fugir do inferno.



O quadrinista Shiko tem obras importantes como a adaptação de O Quinze e as graphic novels O Azul Indiferente do Céu, Talvez seja mentira, Lavagem e Piteco – Ingá. Seus temas recorrentes giram em torno de fantasia, erotismo, folclore, solidão e cultura popular. Em 2014 ganhou o 26º Troféu HQ Mix de melhor desenhista nacional e melhor publicação de aventura/terror/ficção. Também ganhou o 30º Prêmio Angelo Agostini como melhor desenhista, dois dos mais importantes prêmios de quadrinhos nacional. Três Buracos comprova a qualidade excepcional em produzir boas histórias alinhadas a uma arte inesquecível. Seu traço é excepcional e a riqueza que dá para os personagens nos transporta para cada cena.




10 outubro 2019

O negro nos quadrinhos do Brasil (02)


Para ter uma perspectiva mais ampla “e assim, mais consistente” sobre o assunto, Chinen teve que buscar os primórdios dos quadrinhos, ou seja, sua origem como comunicação de massa. A própria denominação inglesa para elas é comics (cômico) ou funnies (engraçado); a palavra mangá significa desenho sem compromisso. E nesta confusão de sentidos e intenções, nada mais “natural” que os primeiros desenhos tivessem o negro estereotipado, assim como japoneses, afinal, a caricatura tem a função de realçar as diferenças e expor de tal modo que as tornem engraçadas. Mas é nesta intenção de provocar o riso que os quadrinhos pecam há alguns anos. Como em tantas outras formas de arte, a intenção da ilustração é fazer com que o leitor rapidamente identifique (e muitas vezes se identifique) os personagens retratados, sem precisar de maiores explicações. E este modo de ver acaba se tornando um padrão, que na maior parte das vezes esbarra no arriscado limite que é tornar-se ofensivo.




Nos primeiros anos dos quadrinhos – e todos os outros que se seguiram depois disso – esses estereótipos foram usados sem o mínimo respeito, uma vez que esta era a forma ‘normal’ de reproduzir estas características. Logo nas primeiras ilustrações datadas entre o fim do século XIX e o começo do XX, os trabalhos que representavam os negros já estavam associados à imagem de selvagens nativos, com ossos atravessados no nariz como adereços e vestindo tangas ou saias de palha. Anos depois, os negros passam a aparecer trabalhando para um patrão branco.




Em quatro capítulos (Realidade do negro no Brasil, Imagem do negro na expressão gráfica, Negros no humor gráfico, e o negro nos quadrinhos) o estudioso discute o papel dos negros na sociedade brasileira. Na década de 60 surgem quadrinhos sobre a atuação de Pelé (Pedro Seguí, Takayuki Kanni), Tião (L.C.Salgueiro), Fumaça (Carlps Cunha)  Jambolão (Orlando Pizzi) e Jeremias (Mauricio de Sousa), Madame Satã (Julio Shimamoto) Nos anos 70 tem o Praça Atrapalhado (Eduardo Pereira), Graúna, Caboco Mamadô, o Preto que ri (Henfil), Previo e o menino Jejun da serie Rango (Edgar Vasques), Giba (Henrique Farias), Feijão (o primeiro personagem de quadrinhos de Angeli).




Da década de 80 tem Dr. Baixada (Luscar), Pivete (Edmar Viana), Moçamba (Angeli), Bundha e Tanga (Newton Foot), Lucio (Ziraldo), Pagode (Floreal), Capitão Bandeira (Paulo Caruso). Nos anos 90 surgiram Nonô Jacaré (Alan Alex), Tantra, Suriá (Laerte) entre outros.



A partir da segunda década do século XXI os quadrinhos independentes ganharam um forte impulso o que proporcionou o surgimento de historias autorais e focadas em temas pelos quais as editoras têm pouco interesse ou nos quais não ousam investir. O público leitor ficou mais diversificado e as plataformas de financiamento coletivo, ou vaquinhas virtuais, colaborou grandemente para aumentar o número de publicações.  Segundo o pesquisador, nos últimos anos, diversos autores têm tratado das questões de relações étnicas de forma muito mais aberta, apontando e denunciando as desigualdades sociais e a discriminação como grandes problemas nacionais.




No livro Nabu expõe, “a verdadeira face de um país preconceituoso e racista, mas que resiste em admitir essa característica”, com afirma. E assim promove o resgate de parte importante de nossa historiografia.




Alguns artistas da atualidade que vale ressaltar: Dono de um traço extremamente estilizado e ao mesmo tempo personalizado como uma impressão digital, o quadrinista carioca André Diniz é um dos artistas mais prolífero do país. Já lançou no mercado álbuns como O Quilombo Orum Aiê, Morro da Favela, A Cachoeira de Paulo Afonso, Ato 5, Mwindo, O Negrinho do Pastoreio.



Marcelo D'Salete publicou os contos de Noite Luz (2008) e Encruzilhada (2011), cenas e fragmentos da vida urbana. Em Cumbe (2014) e Angola Janga (2017) mergulhou nas tragédias do passado da escravidão no Brasil. Em 2018, além de ganhar o famoso Prêmio Jabuti por Angola Janga – Uma História de Palmares, na categoria voltada às HQs, viu a edição americana de Cumbe (2014) vencer o Prêmio Eisner, conhecido também como o Oscar dos quadrinhos.


09 outubro 2019

O negro nos quadrinhos do Brasil (01)


O Brasil se originou da colonização portuguesa de caráter escravocrata. Foi o último no mundo a abolir a escravidão dos africanos e seus descendentes. O fenômeno do racismo e a instituição da escravidão deixaram marcas na nação brasileira que persistem até nossos tempos. A população fenotipicamente escura apresenta os piores índices de desenvolvimento social quando comparadas com a população de pele branca.




Os negros sofrem cotidianamente um processo de discriminação que tem como base uma ideologia que relaciona fatores biológicos com aspectos morais que os inferiorizam enquanto grupo social. Por causa de todo o processo discriminatório, os negros apresentam a sua identidade social deteriorada. A ideologia da negritude é a contrapartida dos negros organizados para combater o racismo.




No Brasil a escassez de personagens negros é lamentável. Podemos citar Benjamin (Luis Loureiro), Lamparina (J. Carlos), Azeitona (Luis Sá), Pererê (Ziraldo), Preto que ri (Henfil) e alguns outros. As diferentes maneiras como os afrodescendentes foram representados nas histórias em quadrinhos no Brasil ao longo do tempo é o foco do livro do pesquisador Nobu Chinen: O NEGRO NOS QUADRINHOS DO BRASIL, publicado pela Editora Peirópolis. Uma obra valiosa




Nas mais de 300 páginas o rigoroso trabalho de investigação científica, Nobu passeia com eficiência e precisão por variados personagens e publicações brasileiras. Esse trabalho é uma versão revisitada de seu doutorado, defendido em 2013 na Escola de Comunicações e Artes da USP. Na sua pesquisa ele aponta Benedito, criado do protagonista da série Nhô-Quim, de Angelo Agostini a partir de 1869 como o primeiro personagem negro dos quadrinhos brasileiro. Para Chinen, “não há em seus traços fisionômicos algo neutro e exagerado ou que se aproxima do estereótipo de representação do negro que viria a se impor como padrão nos anos seguintes nos quadrinhos nacionais, e isso numa época em que a escravidão ainda era vigente” (pag.122). E confirma a simpatia de Agostini pela causa abolicionista. “Apesar de ter sido o primeiro, Benedito não mereceu, portanto, mais do que poucas aparições, diferentemente de Giby, outro negro, que estrearia no dia 16 de outubro de 1907 em O Tico Tico. Giby era criado da família do personagem Juquinha, também nome da série desenhada por J.Carlos. Gaby já possuía todas as características estereotipadas que viriam marcar a maioria, se não a totalidade, das representações de negros nos quadrinhos e nas charges de modo geral. No mesmo O Tico Tico, estrearia em 1919 o menino negro Benjamin, parceiro de aventuras de Chiquinho. Em 1930, surgiria, ainda nas páginas de O Tico Tico uma das series de maior sucesso e repercussão da revista: o trio Reco Reco, Bolão e Azeitona, criação de Luiz Sá.




Gibi também foi um termo usado como sinônimo de revista em quadrinhos no Brasil. Etimologicamente significa menino negro, mas que nunca foi personagem de quadrinhos. Gibi foi o título de uma publicação em quadrinhos de muito sucesso e tinha como mascote, de fato, um garoto negro. No entanto, apesar de aparecer em diversas capas, ele jamais foi personagem de uma história em quadrinhos. Além disso, Nobu Chinen, que há anos trabalha na área de quadrinhos, percebeu que historicamente, o personagem negro mais famoso dos quadrinhos é o Pererê, do Ziraldo, mas é um ser folclórico que, embora de boa índole e de ser o herói da série, não é um personagem “real”, ainda que personagens de quadrinhos sejam quase todos, por princípio, de ficção. Ou seja, o humano, o negro do cotidiano pouco aparece nos quadrinhos e quando aparece ele não existe, não reflete um ideal ao qual o leitor possa aspirar. “Quando comecei a pensar no meu projeto de pesquisa, havia muitos estudos sobre super-heróis americanos e sobre mangás, o que é justificável por serem os mais bem sucedidos comercialmente e que têm mais visibilidade. Eu queria escolher um tema nacional para trabalhar porque nossa bibliografia é bastante escassa”, afirmou Chinen.


03 outubro 2019

O silencio no traço sensível de Chabouté


Terceiro trabalho do quadrinista francês Cristophe Chabouté no Brasil, SOLITÁRIO publicado pela Pipoca & Nanquim é protagonizado por um eremita já com seus 50 anos que nasceu e cresceu no farol instalado em uma ilhota afastado do mundo. O foco do quadrinho está nas breves interações desse protagonista solitário com o mundo além de sua ilha e em sua imaginação abastecida pela leitura de um dicionário.




O desenhista francês Cristophe Chabouté estreou em 1993 com uma série de ilustrações sobre a obra de Arthur Rimbaud, intitulada Lés Recits. Em 2014 tornou conhecido no Brasil com a adaptação de Moby Dick para a linguagem dos quadrinhos. Essa produção também lhe rendeu duas indicações no Eisner Award (Melhor Adaptação e Melhor Escritor/Artista). Aumentando o catálogo do autor em território nacional, a Pipoca & Nanquim lançou Um pedaço de madeira e aço em 2018. E agora em 2019 a editora publicou outra obra prima do artista: Solitário.




Best-seller mundial e uma das obras selecionadas pelo prestigiado Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, sediado na França, Solitário nos apresenta uma história surpreendente e emocionante, em que sonho e vida cotidiana se mesclam com sensibilidade sutil, ternura e humor. Repleto de belíssimas ilustrações em preto e branco de tirar o fôlego, Solitário é uma obra-prima de Chabouté — uma história inesquecível que retrata de forma impecável como alguém pode ter sua vida tolhida a ponto de se tornar uma sombra e como uma sombra pode reclamar sua identidade e se tornar alguém.





E o que se observa em seus desenhos é um céu aberto com gaivotas livres e o mar com toda sua imensidão com enquadramentos extremamente exitosos para garantir uma sensação de liberdade ou claustrofobia. O farol em que vive o protagonista é um verdadeiro labirinto, pois dele aparentemente não há saída.




Seu belo traço traz influências de artistas como Didier Comès, Hugo Pratt, Alberto Breccia, Dino Battaglia etc… Ao longo das mais de 370 páginas que compõem o livro seu criador de forma inventiva estabelece a rotina de um personagem curioso, uma figura rejeitada pela sociedade de maneira já conhecida pelo inconsciente popular, excluída por ser diferente. Vale a pena conferir!

02 outubro 2019

Lembrando o genial Alex Raymond


Ele revolucionou os quadrinhos de aventura. Seu traço refinado marcou época e inspirou uma geração de artistas, elevando a arte seqüencial a um novo patamar de sofisticação e elegância. Desenhou quatro histórias em quadrinhos de primeira linha: Flash Gordon, X-9, Jim das Selvas e Rip Kirby. Sua influência foi reconhecida por grandes quadrinhistas como John Buscema, Joe Kubert, John Romita Jr, Russ Manning, Jack Kirby e muitos outros. George Lucas declarou que as aventuras de Flash Gordon estão entre as maiores inspirações para a saga de Star Wars.



O artista gráfico Alex Raymond (1909 - 1956) completaria 110 anos neste 02 de outubro de 2019. Um artista com formação acadêmica, Raymond criou personagens como o detetive Rip Kirby e o explorador Jim das Selvas. Mas será sempre lembrado como o homem que inventou um ícone da ficção científica, Flash Gordon.




Começa a vida profissional como auxiliar de escritório. Com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, perde o emprego e resolve tirar proveito de seu talento para o desenho. Torna-se desenhista-assistente no King Features Syndicate, executando histórias assinadas por outros. Depois de ganhar um concurso interno, em 1934, dá início a sua produção. Faz simultaneamente as tiras de Jim das Selvas, Flash Gordon e Agente Secreto X-9, escrito pelo autor de romances policiais Dashiell Hammett.




Agente Secreto X-9 não se contenta em combater os criminosos, insinua-se no meio deles, adquirindo seus hábitos, gírias e até seus métodos. Extremamente ligado ao mundo do crime, o Agente só se distingue dos criminosos que persegue pela diversidade de intenções. X-9 não fez sucesso, mas fez escola: foi a primeira grande HQ noir, cheia de cinismo e brutalidade. E Raymond escolheu a Malásia para ambientar Jim das Selvas e mostrar seu estilo naturalista, desenhos minuciosos, precisos, fieis nos detalhes, tanto mais fotográfico quanto mais fantástico era o assunto.




Foi com Flash Gordon que Raymond conseguiu atingir o auge do seu talento visual, definitivamente inspirado, seus traços foram praticamente perfeitos e genialmente modernos, de forma a imortalizá-lo como um dos maiores desenhistas de todos os tempos. Raio laser, propulsão a jato, mini saia, foguetes espaciais. Tudo isso já existia em 1932, na mente de Alex Raymond. Com 22 anos ele criou Flash Gordon. A célula fotoelétrica, televisão, biquíni, telefone numa só peça. A imaginação de Raymond antecipava-se aos cientistas e técnicos de nosso século. Suas concepções de máquinas, roupas, armas e outros objetos iriam transforma-se em realidade com tanta exatidão, influenciando todo o complexo industrial do mundo ocidental.




Se hoje sabemos que a Terra é azul é porque – como registrou o jornalista, escritor e quadrinhólogo Sérgio Augusto – Flash Gordon, em 1934, muito antes do russo Gagarin subir ao espaço, nos contou, pelas tiras dominicais de Raymond. Ele prenunciou, também, o advento da minissaia, da propulsão a jato, dos foguetes interplanetários, da televisão, dos intercomunicadores, do raio laser, dos computadores e das vias expressas elevadas. Fez mais: deu forma aerodinâmica aos aviões a jato, numa época em que existiam apenas modestos bimotores. E embora confessasse um certo desprezo pela verossimilhança científica, foi quem intuiu todo o mecanismo de segurança e conforto dos futuros astronautas.



Sérgio Augusto lembra que a Nasa, em um de seus boletins oficiais, reconheceu haver-se inspirado nas histórias de Flash Gordon para resolver determinados problemas de suas espaçonaves. Além de excelente desenhista, dono de um estilo elegante, mas rico em expressividade, Raymond ampliou o mundo de Júlio Verne e H.G. Hells, antevendo, como poucos artistas de seu tempo, o design do futuro.




A Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (Nasa) utiliza seus desenhos como referência na pesquisa de questões de aerodinâmica. Em 1944 deixa os quadrinhos para servir na Marinha, mas retoma os desenhos dois anos mais tarde. Inventa um novo personagem, o detetive-cientista Rip Kirby, que não atinge a mesma popularidade de suas outras criações.



Raymond deu às suas historietas três ingredientes fundamentais: juntou à arte dos desenhos o conteúdo científico e a sensação da aventura que tanto fascinou crianças e adolescentes de antes da guerra. Ele sempre afirmou que as histórias-em-quadrinhos, em si, eram uma forma de arte. E isso numa época difícil de fazer tais afirmações. Para ele, as HQs refletem a vida e o tempo com muito mais precisão e são mais artísticas do que a ilustração, pela criatividade: “Decidi, honestamente, que as histórias em quadrinhos são uma forma de arte“, disse certa vez, complementando: “Ela reflete a vida e o tempo com mais esmero e é mais artística que as ilustrações de revistas, desde que seja inteiramente criativa. Um ilustrador trabalha com câmera e modelos; um artista de quadrinhos começa com uma folha de papel em branco e imagina tudo: ele é, ao mesmo tempo, escritor, roteirista, diretor, editor e artista“. Ele fez essa declaração aos 28 anos; quatro anos depois de ter criado Flash Gordon.



Alex Raymond recebeu um Prêmio Reuben da Sociedade Nacional de Cartunistas em 1949 por seu trabalho em Rip Kirby, e mais tarde serviu como presidente da Sociedade em 1950 e 1951. Postumamente ele foi introduzido no Will Eisner Comic Book Hall of Fame em 1996. Em 1956, quando morreu – aos 46 anos – num desastre de automóvel, Alex tinha além do título de desenhista mais plagiado do mundo, um outro título: o Julio Verne o Século XX. Álvaro de Moya, professor de comunicação social e um apaixonado pelos quadrinhos, autor de HQs e inúmeros livros sobre o assunto, cognomina Alex Raymond de Gustave Doré dos quadrinhos.




01 outubro 2019

Leão de Ouro no Festival de Veneza foi para o surpreendente Coringa




Inusitada a premiação no Festival de Veneza 2019. O júri presidido pela cineasta argentina Lucrecia Martel, que faz filmes bem distantes do cinema hollywoodiano, deu o troféu Leão de Ouro para Coringa, do americano Todd Phillips. Um longa sobre um personagem de quadrinhos não parecia uma escolha provável para o troféu, mas a obra certamente conquistou os jurados ao evitar a fórmula de blockbusters de super-heróis, optando pela ênfase na composição do universo mental do protagonista. Mostra como um sujeito esmagado por um mundo capitalista selvagem se tornou um dos vilões mais espertos do universo das HQs.




Esse Coringa é um drama triste e duro sobre a transformação de um homem de classe social baixa, com problemas mentais e sonhos irrealizáveis em um assassino cruel que levanta questões relevantes para a sociedade de hoje. Ela justificou a escolha na coletiva após a cerimônia de entrega do Leão de Ouro. "É incrível que uma indústria cujo principal foco é o negócio tenha corrido tamanho risco com Coringa. Fazer para esse público um filme que é uma reflexão sobre os anti-heróis, mostrando que talvez o inimigo não seja o homem, mas o sistema, me parece bom para os Estados Unidos e para o mundo todo."




A estreia nos cinemas brasileiros está marcada para o dia o dia 3 de outubro. O novo filme Coringa, produzido por Martin Scorsese e com direção de Todd Phillips, foi ovacionado na 76ª edição do Festival de Veneza. A história sobre o principal inimigo do Batman traz o ator Joaquim Phoenix no papel do "palhaço do crime", que já foi vivido por grandes nomes do cinema, como Jack Nicholson (1989) e Heath Legder (2008).



Coringa não é um filme de super-herói como os outros - e não apenas por tratar de um vilão da DC. O longa-metragem de Todd Phillips prescinde das cenas de ação espetaculares, das lutas sem fim, das explosões e dos prédios derrubados, com milhares de vítimas civis invisíveis. Tratando de temas relevantes como identidade, empatia, saúde mental e do abismo entre quem tem muito e quem não tem nada, Coringa pode ter indicações ao Oscar.




A Academia de Hollywood não costuma levar a sério as produções do universo da Marvel e da DC que têm dominado os cinemas, indicando apenas em categorias técnicas. Batman, o Cavaleiro das Trevas (2008) levou o Oscar de melhor ator coadjuvante  (Hearth Leadger) interpretando o Coringa. No ano passado o filme Pantera Negra competiu como melhor produção.



As películas Roma, de Alfonso Cuarón, e A Forma d'Água, de Guillermo del Toro, foram as vencedoras nos anos anteriores - e, na sequência, arremataram a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro e melhor filme, respectivamente. Mas um filme de super-herói nunca havia conquistado esse prêmio. Até hoje. Ao retratar a vida do comediante Arthur Fleck, que vem a se tornar o Coringa, o longa apresenta uma crítica à maneira pela qual a sociedade marginaliza pessoas com doenças mentais. Fleck, que trabalhava como palhaço durante o dia, vê sua vida caminhar para a criminalidade quando seu sonho de ser comediante de stand-up começa a desvanecer.