30 abril 2009

Trajetória da filosofia (4)

Henry David Thoreau (1817-1862) tinha aversão pelos excessos da sociedade civilizada e defendeu a tática da não-cooperação contundente como meio pacífico de conquistar reformas sociais importantes. Charles Sanders Peirce (1839-1914) desenvolveu uma teoria dos signos e sua inter-relações.

Sigmund Freud (1856-1939) trouxe a idéia de que a mente é em última análise uma entidade material (o cérebro) analisável em termos de neurologia, circuitos de energia e da linguagem da física. O “inconsciente” foi um tópico de discussão para gerações de filósofos. O sociólogo Max Weber (1864-1920) estudou a racionalidade. Para ele, o capitalismo é produto do protestantismo.

O francês Henri Bérgson (1859-1941) gerou em tornou da idéia de duração, a realidade da mudança. O espanhol Miguel de Unamuno (1864-1936) estudou o senso trágico da vida cheia de ansiedade, brutalidade e decepção. O italiano Benedito Croce (1866-1952) enfatizou o desenvolvimento da consciência humana.
Martin Heidegger (1889-1971) buscou a autenticidade, ou do que poderia ser definido como “mesmidade” que nos transportaria de volta para as questões perenes sobre a natureza do eu e o sentido da vida. O escritor franco-angelino Albert Camus (1913-1960) captou a sensibilidade do século com sua noção dramática do “absurdo”. Gabriel Marcel (1889-1973) insistiu em que deveríamos encarar as experiências mais profundas da vida sem a falsa fachada da objetividade, isto é, sem por essas experiências à distância como meros problemas a resolver.
Simone de Beauvoir (1908-1986) explicou em detalhes as implicações éticas do existencialismo de Sartre. Martin Luther King Jr (1929-1968) defendeu a idéia de uma sociedade plenamente integrada. Malcolm (1825-1965) contestou a opressão social. Toda a obra do francês Gilles Deleuze (1925-1995) é atenta ao que se inventa no domínio do pensamento, da política e da História. Ele acreditou que a filosofia excede a simples arte de formar, de inventar ou fabricar conceitos. Para Deleuze, a arte é um vestíbulo da filosofia, uma preparação necessária para se penetrar nos seus intrincados domínios.

Jacques Derrida (1930-2004) escolheu o caminho da desconstrução, em que a unidade de sentido não se dissolve “no vivo colóquio, mas na trama das seleções de sentido que está na base de toda fala”. O termo desconstrução deve ser entendida como vontade de desarticular o sistema de remetimentos, de “deslocar a unidade verbal” de modo a torná-la menos anquilosa do e mais consciente dos próprios condicionamentos.
Hannah Arendt (1906-1975) procurou suas raíses profundas no progressivo revolvimento da “vida da mente”, na distorção sofrida pelas nossas faculdades: o pensar, o querer, o julgar. Jurgen Habermas (1929- ) diz que as mídias fizeram um desenho e o chamaram razão. A ação comunicativa retece incessantemente seu desafiado tecido simbólico.
John Rawls (1921-2002) pensa o ordenamento das sociedades democráticas, para fixar um ponto de equilíbrio entre a tradição liberal da defesa das liberdades individuais e a democrático-radical de promoção das chances de vida aos mais desfavorecidos. Bernard Henri Lévi (1948- ) é iluminista e ateu, defende o islamismo moderado contra a ameaça do radicalismo islâmico, e procura marcar posição como ativo defensor dos direitos humanos e da universalidade dos valores ocidentais dominantes. Ele é um intelectual público à francesa, mais do que um filósofo técnico. Tornou-se um dos expoentes dos Novos Filósofos, crítico sobretudo do pós-estruturismo e do marxismo.
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) foi um filósofo fenomenologista francês. Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. O conhecimento nasce e faz-se sensível em sua corporeidade. Michel Foucault (1926-1984) descreveu os mecanismos ocultos de grandes estruturas que governam nossos comportamento: a psiquiatria, a justiça e seus agentes.
Georges Bataille (1897-1962) escreveu sobre sexo e morte a partir de uma experiência de vida radical, além do conteúdo sagrado do sacrifício.
Michel Onfray (1959 - ) filósofo francês que se dirige pela fala e escrita a um público: o da Universidade popular, criada por elevem 2002 na cidade de Caen e já se expandiu entre outras localidades. Ele ministra aulas públicas e gratuitas, além da difusão das aulas na Radio France Culture. Para ele é urgente se passar da era da religião para a era da filosofia de massa. A reivindicação ateísta de Onfray caminha junto com a reabilitação do corpo, dos sentidos, e dos prazeres.
Luc Ferry (1951- ) filósofo francês da atualidade e um homem público engajado na transformação da França. Sua preocupação central de filosofia deve ser a de auxiliar as pessoas a superar seus medos e a viver bem. Segundo ele, os medos a serem superados são de três tipos: os medos sociais, as fobias e os medos metafísicos.
Outras leituras para quem deseja se aprofundar mais:
A Filosofia do Século XX, de Remo Bodei. Edusc, 2000
Uma Breve Introdução à Filosofia, de Thomas Nagel, Martins Fontes, 2001
Paixão pelo Saber. Uma breve historia da filosofia, de Robert C. Solomon & Kathleen M. Higgins. Civilização Brasileira, 2003
Mundos Invisíveis. Da alquimia à física de partículas, de Marcelo Gleiser. Editora Globo, 2008.

29 abril 2009

Trajetória da filosofia (3)

Maomé (c.570-632 d.C.) tornou-se o maior profeta e o fundador do islamismo (que significa a paz que sai da rendição a Deus) e trouxe o Alcorão. O islamismo, como o judaísmo e o cristianismo, é uma religião “do livro”. A espanhola Teresa de Ávila (1515-1582) documentou em detalhes suas experiências místicas.

Ibn Rusd (1126-1198) insistiu em que Deus não era distante, estando ativamente envolvido no mundo. Já Moisés Marmônides (1135-1204) procurou harmonizar a religião e razão. Tomás de Aquino (1225-1274) pretendia mostrar que a fé cristã fundava-se na razão e que a lei inerente à natureza é racional.

Martinho Lutero (1483-1546) enfatizou a natureza pecaminosa da humanidade. Ele estava convencido de que a Igreja Católica se tornara tão corrupta que passara a manipular as dívidas e os temores dos fiéis mediante a venda do perdão, através das chamadas indulgências.

O francês João Calvino (1509-1564) queria uma igreja institucional e um sistema de teologia para distinguir a verdade da heresia. O holandês Erasmo (1469-1570) defendeu que a mais feliz das vidas é não saber coisa nenhuma. Nicolau Copernico (1473-1543) afirmou que o Sol, não a Terra, era o centro do universo. Francis Bacon (1561-1626) formulou o material do método científico, que envolve observação cuidadosa e experimento controlado, metódico.
Thomas Hobbes (1588-1679) defendeu uma cosmologia materialista que não excluía a teologia. René Descartes (1596-1650) tentou criar uma união entre o céu e Terra, postulando que tanto os movimentos celestes quanto os terrestres se davam em um meio material semelhante ao éter dos aristotélicos.
Michel de Montaigne (1553-1592) meditou sobre os desatinos dos homens e recomendava tolerância num mundo conturbado pela inquietação religiosa que então reinava na Europa. O holandês Baruch Spinoza (1632-1677) defendeu a tese conhecida como determinismo e o alemão Gottfield Wilhelm von Leibniz (1646-1716) sugeriu uma língua universal e o “princípio da razão suficiente” afirmando que nada acontece sem razão.
O físico Isaac Newton (1462-1727) que descrevia o movimento dos corpos sob a ação de forças, inclusive a gravidade. Voltaire (1694-1774) defendeu a razão e a autonomia individuais, preparando terreno para a revolução na França. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) elaborou sua teoria da natureza humana como “basicamente boa” e sua concepção de sociedade humana que se junta por razões de segurança mútua e realizar nossas naturezas morais mais elevadas.
Thomas Jefferson (1743-1826) incluiu a idéia de direitos humanos naturais, entre os quais os direitos à vida, à liberdade, à propriedade privada e a busca da felicidade. Adam Smith (1723-1790) apresentou uma defesa parcial da lei da oferta e da procura. Já Imnanuel Kant (1724-1804) insistiu que deveríamos “limitar o conhecimento para dar lugar à fé”. Hegel (1770-1831) defendeu a fenômenologia do espírito.
Arthur Schopenhauer (1788-1860) sustentou que a vida é sofrimento. Para ele, a experiência estética, ou seja, a arte, proporciona um paliativo para o sofrimento. Soren Kierkegaard (1813-1855) insistiu na importância da paixão, do livre escolha e da definição de si mesmo. É o início do existencialismo.
Ludwig Feuerbach (1804-1872) é o autor de ”você é o que come”. Já Karl Marx (1818-1883) observando as forças produtivas e as classes sociais econômica sem competição. O alemão Friedrich Nietzsch (1844-1900) insistiu de que devemos voltar os olhos para a história para avaliar quem somos. Ele defende a visão “além do bem e do mal” em favor da valorização da vida.

28 abril 2009

Trajetória da filosofia (2)

Já Pitágoras (571-497 a.C.) insistia que os ingredientes básicos do cosmo eram números e proposições. Ele usou a teoria das proporções para explicar, entre outras coisas, a natureza da música e os movimentos dos astros. Outro filósofo milésio, Heráclito (536-470 a.C.) era um recluso, gostava de enigmas, paradoxos e jogos de palavras enigmáticas que ocultava seus próprios significados. Para ele a natureza só seda a conhecer a muitos poucos. Por trás de todas as coisas existe um princípio organizador que chamou de logo se o mundo estava em constante mudança, “em fluxo”, e a estabilidade aparente era uma ilusão.

A noção de que a essência da natureza é transformação, e que por trás dessa transformação e suas diferentes manifestações existe uma unidade, constitui um dos princípios mais fundamentais da física moderna. Para Heráclito, o agente transformativo é o jogo que purifica e transforma, é parte do espírito do homem. Esse pensamento vai inspirar, mais tarde, os alquimistas. “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, disse sobre o que parece haver de constante no universo – a mudança.
Parmênides (515-450 a.C.) propôs que tudo é feito da combinação de quatro raízes: terra, água, ar e fogo –
determinado pelo equilíbrio entre duas tendências: o amor (que une) e a discórdia (que separa). Ao misturar sal e água ação é o amor. Quando há separação (na decomposição) vemos a ação da discórdia. Forças de atração e repulsão. Segundo ele, os sentidos que usamos para perceber a realidade podem nos enganar.
Demócrito (460-370 a.C.) levou adiante a idéia das posições cada vez menores de matéria. Tudo é fei
to de partículas indivisíveis chamadas átomo (em grego, o que não pode ser cortado). Sócrates (470-399 a.C.) foi provocador, acreditava que a virtude é o mais valioso de todos os bens. Platão (427-347 a.C.) trazia a teoria de dois mundos, um deles é o nosso cotidiano de mudança e transitoriedade e o outro um mundo ideal povoado por formas ideais.
Aristóteles (384-322 a.C.) foi cosmólogo, astrônomo, meterologista, físico, geólogo, biólogo, psicólogo e muitas de suas idéias sobre as ciências naturais continuariam 500 anos após sua morte. E acabou por se transformar num enorme obstáculo ao progresso científico, pois suas concepções ocuparam um lugar tão central nas doutrinas da todo poderosa Igreja medieval que a formulação de teorias alternativas em ciência foi ativamente desencorajada durante séculos. Para Aristóteles, as coisas têm um potencial. Trata-se da teleologia, a intencionalidade das coisas.
Epicuro (341-270 a.C.) acreditava na paz de espírito, sua meta era libertar-seda ansiedade, alcançar a tranqüilidade. Há, até o momento, ausência de registros, idéias nas culturas da África e das Américas. Mas houve trabalhos florescentes, tradições diferentes e diferentes maneiras de ver o mundo e nele viver, mas grande parte de seus ensinamentos foram queimados pelos conquistadores, principalmente os espanhóis.
Jesus Cristo (c.5 a.C-30 d.C.) levou ensinamentos como o amor e a importância de auxiliar os desaventurados. Um pensador judeu, Filo (20 a.C.-40 d.C.) reinterpretou as histórias bíblicas como formulações míticas acerca da natureza da condição humana e da relação da humanidade como o divino. Plotino (c.205-269 d.C.) trouxe a teoria de emanações. Santo Agostinho (354-430 d.C.) abraçou a concepção de que o guia correto para a revelação eram as Escrituras. “Penso, logo existo”, afirmação atribuída a Descartes, aparece nos escritos de Agostinho 12 séculos antes. Com ele, a vida pessoal, interior, do espírito começa a ocupar o centro do palco no pensamento ocidental.

27 abril 2009

Trajetória da filosofia (1)

A história da autoconsciência da humanidade e de seu maravilhamento com o mundo, a paixão pela sabedoria. Assim é a filosofia. A mais antiga filosofia registrada veio da Índia. O hinduismo tem um rico legado de sábios, de especulações e de instituições profundas sobre as maneiras do mundo.

Os antigos textos hindus chamados Vedas remontam a 1400 a.C. e os Upanixadis que se seguiram aos Vedas, datam de 800 a.C. Durante muitos séculos, os filósofos indianos haviam defendido uma concepção de realidade absoluta, ou Brahman, que era totalmente independente da experiência humana comum e por ela desconhecida. Segundo os escritores hindus, o Buda desenvolveu uma visão pela qual nossa concepção comum do universo e de nós mesmos é uma espécie de ilusão. E seus adeptos desenvolveram ricas teorias do conhecimento, da natureza, do eu e suas paixões.
Os hebreus antigos foram uma outra pujante força filosófica no mundo antigo. A concepção de um Deus único e da lei dada por Deus armaram o palco para a civilização ocidental. Eles nos deixaram um dos mais influentes livros da história, a Bíblia hebraica, ou o Antigo Testamento.
Mas antes dos hebreus antigos muitos povos já acreditavam na idéia de um Deus único como os babilônicos, mas o êxito dos hebreus foi contar sua própria história e refletir sobre ela. Já no Oriente Médio (Pérsia), um sujeito chamado Zaratustra de Balkh, ou Zoroastro (660-583 a.C.) começou a se mover rumo a um monoteísmo moral abrangente. Ele já se preocupava com o sofrimento e a maldade no mundo: como pode Deus permitir tamanho sofrimento?.
A China, no século VI a.C. já era uma cultura política extremamente avançada. Confúcio (600-500 a.C.) já falava da arte de governar, de conviver com os outros, do cultivo da virtude pessoal e a evitação do vício. Ele não tinha intenção de fundar religião, mas depois de sua morte ele foi admirado e o confucionismo (assim como o budismo) tornou-se a religião de um terço do mundo.

E é na China do século VI que surge outro sábio chamado Lao-tsé que atribuía grande importância à natureza. Assim tanto o confucionismo quanto para o taoísmo, o desenvolvimento do caráter pessoal é a principal meta da vida. O pessoal é o social (confucionista). O pessoal é a relação com a cultura (taoísta). A filosofia chinesa coincidira na necessidade de harmonia na vida humana.
Os gregos (helenos) não foram, no início, grandes inovadores com a historiografia atual detalhada. Eram um grupo de indo-europeus nômades que vieram do norte e tomaram o lugar de um povo já estabelecido às margens do mar Egeu. Ao começar a comercializar em torno do Mediterrâneo, apropriaram de elementos de outras culturas. Dos fenícios, tomaram um alfabeto, alguma tecnologia e idéias religiosas\ousadas. Do Egito, tomaram os modelos que mais tarde definiram a arquitetura grega, os fundamentos da geometria e algumas das idéias exóticas da religião grega do “mistério” primordial.
Da Babilônia (hoje Iraque), os gregos tomaram a astronomia, a matemática, a geometria e ainda outras idéias religiosas. Assim, a filosofia grega emergiu dessa mistura, dessas idéias que a filosofia (do grego philein, amor, e sophie, sabedoria) nasceu na Grécia...
O primeiro dos filósofos que queria entender a essência de todas as coisas foi o grego Tales, que viveu na Ásia Menor (Turquia) no século VII a.C. (624-546). Ele propôs que tudo efeito de água, via que todos os seres vivos precisam de água para sobreviver, e que, sem ela, a vida é impossível. E ele teve seus discípulos.
Anaximandro (610-545 a.C.), também de Mileto, organizou a cosmologia distinguindo terra, ar, fogo e água e como esses elementos atuavam umas sobre as outras e se opunham entre si. Para ele, o Ilimitado, onde tudo nascia e para onde tudo fluía, não se restringia às coisas da Terra. Nos céus também mundos surgiam do Ilimitado.
A filosofia milesia continuou com Anaxímenes que afirmou que o ar era o mais essencial dos elementos, condensando-se e evaporando, aquecendo-se e resfriando-se, adensando-se e rarefazendo-os. Tales, Anaximandro e Anaxímenes foram materialistas: o mundo era composto de algum tipo básico de matéria, fosse ela água, ar ou apeíron.

24 abril 2009

Poesia, poesia, poesia para melhorar o dia-a-dia

Tempestade

Tempestade
é o que sinto ao me aproximar de você
quando sinto seu cheiro espalhando no ar
e sua pele a me acariciar.

Tempestade
é quando vejo esse seu pingar
esse balanço de arrepiar
que faz minha pele eriçar.
Tempestade
É sentir seus lábios a me tocar
e o gosto doce desse amar
e seu corpo todo a me dominar.
Tempestade, tempestade, tempestade
sinto como ar.

Estações
Sou seu homem de longas estações
serei verão quando exigires calor
serei inverno quando pedires cobertor
serei primavera quando desejares fragrâncias
serei outono quando quiseres instâncias.

Quero o seu corpo suavemente
no leito ou na natureza crua
amo não só no ímpeto da carne
pois seu nome é meu ato de amor
é o esparmo de que padece o meu sexo
é o vazio quando estás distante
pois estas na minha vida, na minha memória.
Quando de volta a sua loucura com brandura
sua língua que me falava sem som
a descobrir o sabor do sal da minha pele
e com o meu suor arrastou ainda o meu cheiro
sua loucura e a semente mais saudável do meu corpo.
Amo com fervor as grandes estações humanas
amo com o impulso da vida selvagem
essa fome que me leva a deslizar pelo seu corpo quente
e me subornas para que eu me apazigue
mas lhe resgato dos vendavais com paixão
e lhe assusto quando faço da cama o princípio e o fim
você reclama do pecado de viver assim
pecado é a sua boca, o seu jeito, o seu pelo, o seu sexo
a sua testa franzida quando vais gritar de gozo.

Dias
Tem dias que estou melancólico,
chovendo por dentro, chorando por fora.
Tem dias que estou eufórico,
sentindo arrepios e cheirando amora.
Tem dias que estou um arrebento,
virando pelo avesso e curtindo todos os elementos.
Tem dias que me sinto desconhecido,
sofisticado de um lado e do outro sem sentido.
Tem dias que estou muito mais que sereno,
olhando o por do sol no mar de arrebento.
Chuva
Chove em meu interior
Tenho que aprender a acionar meus ímas
No instante desse clima que me faz chover
E a cada segundo, lá no fundo
Emerge uma civilização líquida
Atlântida refeita me espreita
Tudo tão sem por querer
Acho que a vida é assim
Movimento, transformação
Pássaros voando, árvores crescendo
Animais nascendo, rios correndo,
Tudo passando, nada voltando
O tempo todo, uma grande equação
Não pare, não pense, não ouça e nem olhe
Viva a cada segundo essa doce ilusão.

Insight
Há uma linguagem que destoa
Rasga, mela, desidrata e ecoa

Há um corte que sangra e cospe
Esparrama pelo chão em morte.
Há um fragmento que desencadeia
A matéria, a preguiça, tudo esguicha.
Há um corpo que rola, esfola
Espatifando em mil pedaços no espaço.
Há um fogo que chamusca e devora
Meu pensamento lento e sem demora.
Há um apagar de lugar, escuridão
Um silêncio profundo, negação.

Três anos de blog


Há três anos que venho escrevendo este blog diariamente. Surgiu no dia 25 de abril de 2006, abrangendo uma infinidade de assuntos que vão desde cinema, música, quadrinhos, poesia, idéias, fotografias, filosofia, artes plásticas, cidadania, enfim, tudo que acontece em nossa aldeia global. Criado como uma ferramenta para publicação de diários pessoais na internet, os weblogs, ou simplesmente blogs, estão sendo cada vez mais usados por jornalistas para publicar, de forma ágil, informações e opiniões. Blog é um termo criado pela abreviação da união das palavras inglesas Web (rede) e Log (diário de bordo). Na versão básica é, portanto, um diário eletrônico publicado via internet. Similar a um site, sua popularidade se deve a dois fatores: facilidade no manuseio e possibilidade de interatividade.


96.697 pessoas já visitaram este blog. A contagem é feita desde que a página foi criada, em 25 de abril de 2006. Agradeço ao público leitor que acompanha minha trajetória neste escreviver diário.

23 abril 2009

Busca do Graal amoroso

Há 30 anos Michel Foucault convidava cada um a “perguntar-se sobre o que se passa em uma sociedade que há mais de um século chama ruidosamente contra a própria hipocrisia, pela prolixamente de seu próprio silencio, empenha-se em detalhar o que ela não diz, denuncia os poderes que ela próprio exerce e promete libertar-se das leis que a fazem formular” (História da Sexualidade).

Hoje, em toda parte, há um eloqüente discurso ao prazer. E assim o sexo se torna o “ruído de fundo” de nossa vida cotidiana. A nossa sociedade só fala “nisso”. Mas para dizer exatamente o quê?. Embora a época fale repetidamente de sexo, nada diz. O prazer se tornou pura questão de anatomia, de mercado e esporte. Ele é prestação de serviço, satisfação de apetites ou performance. O “espetáculo” em cartaz e o medo contagioso se conjugam para privilegiar em matéria sexual a hipótese mais segura e sua história: a da auto-satisfação. Sexo seguro, polidez à moda de Onan e serviços prestados. A sexualidade como hoje o risco de ser dessassocializada, desumanizada.


“A sexualidade é dramática”, escreveu em 1976 Maurice Merleau-Ponty (Phénoménologia de la perception), “porque nela engajamos toda a nossa vida pessoal. Mas por que o fazemos exatamente? Porque nosso corpo é um eu natural, uma corrente da existência dada de modo que nós não sabemos nunca se as forças que nos conduzem são as suas ou as nossas, ou melhor, elas não são nunca nem as suas nem as nossas inteiramente. Não há superação da sexualidade. Como não há sexualidade fechada em si mesma. Ninguém está salvo e ninguém está completamente perdido”.

Essa busca imaginária de um novo Graal amoroso, de um ponto ômega na intensidade dos prazeres está longe dessa ordem moral ameaçada e a liberdade ameaçada.

O enfraquecimento das instituições, a precarização dos indivíduos reenviados a sua solidão, o trabalho em vias de dessocialização, a família à deriva como lugar de agregação são os deslocamentos mais temíveis que ameaçam nada mais nada menos que a coesão mesma de nossa sociedade pós-industrial.

Nas sociedades industrializadas contemporâneas cada pessoa não se define mais que por sua capacidade de produzir, de consumir e de poupar. Um neurônio passivo de uma máquina econômica e financeira. Desfiliado de toda instituição o indivíduo fica sem vínculos, isto é, sem passado. Voltado a uma espécie de imediatismo febril, ele está também sem futuro. Este esvaziamento do futuro é notório. Por esse motivo há uma nostalgia evasiva e crescente nos dias atuais. Basta observar as festas em comemoração aos anos 60, 70 ou 80. Passamos a viver afogado pelas lembranças à proporção que o futuro se deprecia. Estamos andando em marcha a ré.


SOLIDÃO

Rolando Barthes, em 1977, já fazia da solidão extrema do discurso amoroso o tema maior de seus “fragmentos”. Ele enfatizava a estranha permuta que viera a fazer do encontro sentimental, do amor, da ternura, do cuidado para com o outro, do levá-lo em conta, a nova obscenidade: “Desacreditada pela opinião moderna, a sentimentalidade do amor deve ser consumida pelo sujeito amoroso como uma transgressão forte que o deixa sozinho e exposto; por uma reviravolta dos valores, é esta sentimentalidade que constitui, hoje em dia, a obscenidade do amor” (Fragmentos de um discurso amoroso).

Pascal Bruckner e Alain Finkielkraut por sua vez ironizaram a deriva funcional, médica, normativa e lugubremente despida do prazer ”moderno”. “Ao reduzir o macho a sua função ejaculatória, transforma-se a relação sexual em algo de primitivo, de verdadeiro, de literal em relação ao qual todo o resto não é mais que elucubração mística ou sem-vergonha” (La Nova Desordem Amorosa).

22 abril 2009

Musicalidade de Paulo Dantão pra lá de belo

A música é sua grande paixão. Formado em jornalista pela Faculdade de Comunicação da UFBa, o cantor e compositor Paulo Dantão experimentou a musicalidade na prosa com o livro Crônica de 7 Faces (Fundação Cultural, 1988). Antes havia lançado “O Cão e a Flor”. Em 2002 lançou “Delenda Carthago”, seu primeiro CD, composto de 10 músicas de sua autoria. Em 2008 chegou a vez do autoral “Pra lá do Azul do Rio Vermelho”, com arranjos e produção musical de Ataualba Meirelles e participações dos músicos Jurandir Santana (violão e guitarra), Marcos Roriz (violoncelo), Silvinho do Acordeom (sanfona), Luciano Chaves (flautas), Hugo San (trombone), Guiga Scott (trompete), André Becker (sax tenor), Giba e Da Ilha Mendes (percussão), Marco Diniz (bateria), André Santana (sanfona) e Ataualba Meirelles (baixo). Só feras!.

“Laurenço e Dolores” (de Mario de Fernando e maria) abre o CD e narra a trajetória da dupla Lourenço “que queria mesmo ser Dolores Pão de Mel” e Dolores “queria ser Lourenço Karatê”. Na segunda faixa o acorde da sanfona dá o tom de “Alquimia de Maquiavel”, uma canção triste, romântica, quase gótica e de bela poesia. “Meu riso é fugaz/entenda, ó rapaz/não vou mais viver/histórias de amor/o meu sonho jaz/com meus ancestrais/a nossa canção/não tem mais valor/eu já cumpri/minha cota de paixão/já não escuto a batida do meu coração....”

“Devo evitar” é um samba no melhor estilo do gênero, onde a letra flui entre os acordes do violão e percussão. No mesmo caminho de uma letra melancólica Dantão canta “Porto Seguro”: “Agora ela vai saltar um precipício/agora ela vai partir pro sacrifício/e então ela vai se deitar com forasteiro/e assim ela vai percorrer o mundo inteiro”. Em “Nepal”, Guiga Scott expõe seu trompete numa letra que diz “Aqui sou forasteiro/mas eu me saio bem/aqui sou brasileiro/um brazzillian man/se tudo tá uma droga/neste mundo ateu/eu vou pra sinagoga/quero ser judeu”.


“Sambando no concreto”, letra e música de Adilson Borges reafirma que “o poeta sofre muito mas o gozo vale o risco”. “Barroquinha” traz o violino de Margareta Cichilova e o violoncelo de Marcos Roriz, a voz da soprano Lilia Falcão. A musicalidade da canção é de uma beleza sem igual. Já “Coelho” é dedicada à mulher do artista: “Coelho/o nosso amor tá além do espelho/pra lá do azul do Rio Vermelho/não somatize a dor de um anjo mau”.


“Idade da razão” fala dos encontros e desencontros no relacionamento amoroso. Em “Ribeira” Dantão recomeça o jogo amoroso trilhando em Madri, Milão, Xagrilá, Monte Serrat passando pela Ribeira. Mas um dos pontos altos é a faixa “Pequeno Príncipe”, dedicado ao filho pequeno. A letra é de uma pureza, rara beleza infantil que emociona: “Cigarra anda de trem/formiga, de avião/você, dentro do meu bem,/viaja de..Cordão!//De onde cê vem/pra onde cê vai?/Deus me escolheu pra ser seu pai//Aqui tem baobá/histórias do Rei Leão/tem colo pra te ninar/varinha de condão//Ondas no mar/pipas no céu/muitos barquinhos de papel”. A flauta doce de Luciano Chaves, o violão de Jurandir Santana, a percussão de Giba, o glockenspel de Ataualba Meirelles e o coro infantil de Victor Hugo, Neto e Andreza junto com a voz de Paulo Dantão dão a forma perfeita de um hit que precisa ser tocado em todas as rádios brasileiras. Atenção Radio Educadora da Bahia, que sempre prima pela música de qualidade, toque Paulo Dantão que o público merece ouvir.

O álbum privilegia cordas e sopro com sonoridade mais acústica. O tom é intimista e seu repertório mistura bossa nova, samba, jazz com memória musical bem confessional. Os belos arranjos garantem a unidade do disco. O canto é cheio de alma, de verdade interior. E a sonoridade é única, criativa, harmoniosa e cheia de nuances que foge do som que se ouve muito em nossa terra. Vale conferir o trabalho de Paulo Dantão, o álbum tem uma excelente capa de Lincoln S, gravado e mixado no Virtual Studio, em Salvador. Para ouvir e reouvir a cada momento da vida. Simplesmente belo!

20 abril 2009

Roberto Carlos: 50 anos de carreira

Considerado o rei da música brasileira, Roberto Carlos festeja seus 50 anos de carreira. A celebração que vai decorrer de 2009 e 2010, começa a partir da data de seu aniversário (68 anos), dia 19 de abril. Ele celebrou meio século de carreira com show ontem (domingo, dia 19) na cidade natal Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. Depois de 11 anos sem fazer shows no dia de seu aniversário e de 15 anos sem se apresentar na cidade onde nasceu, Roberto Carlos iniciou esta comemoração no Estádio do Sumaré em Cachoeiro do Itapemirim.

“Eu não posso mais ficar aqui/A esperar!/Que um dia de repente/Você volte para mim...//Vejo caminhões/E carros apressados/A passar por mim/Estou sentado à beira/De um caminho/Que não tem mais fim...//Meu olhar se perde na poeira/Dessa estrada triste/Onde a tristeza/E a saudade de você/Ainda existe...//Esse sol que queima/No meu rosto/Um resto de esperança/De ao menos ver de perto/O seu olhar/Que eu trago na lembrança...//Preciso acabar logo com isso/Preciso lembrar que eu existo/Que eu existo, que eu existo...//Vem a chuva, molha o meu rosto/E então eu choro tanto/Minhas lágrimas/E os pingos dessa chuva/Se confundem com o meu pranto...//Olho prá mim mesmo e procuro/E não encontro nada/Sou um pobre resto de esperança/À beira de uma estrada...//Preciso acabar logo com isso/Preciso lembrar que eu existo/Que eu existo, que eu existo...//Carros, caminhões, poeira/Estrada, tudo, tudo, tudo/Se confunde em minha mente/Minha sombra me acompanha/E vê que eu/Estou morrendo lentamente...//Só você não vê que eu/Não posso mais/Ficar aqui sozinho/Esperando a vida inteira/Por você/Sentado à beira do caminho...//Preciso acabar logo com isso/Preciso lembrar que eu existo/Que eu existo, que eu existo...” (Sentado à Beira do Caminho, de Roberto e Erasmo Carlos)

Muita comemoração nas bodas de ouro do artista. O show de Roberto Carlos no Maracanã será um dos pontos altos das comemorações dos 50 anos de carreira do cantor. Pela primeira vez no Maracanã, o Rei cantará sucessos que marcaram sua carreira durante todos esses 50 anos e para o público que não estiver presente poderá assistir o Show ao vivo pelo canal da TV Globo.

Uma grande turnê em 20 cidades brasileiras (em Salvador será no dia 03 de outubro) vai privilegiar no repertório de Roberto as diversas fases da sua carreira. Ainda este ano o artista deve colocar nas lojas o seu disco de inéditas. Em janeiro de 2010, o Parque do Ibirapuera recebe a Expo RC 50 Anos (objetos pessoais e figurinos usados pelo cantor, e até um calhambeque azul estarão na mostra da capital paulista). Tem ainda show Elas Cantam Roberto Carlos no qual 14 intérpretes vão homenagear o artista, além de Roberto Carlos Rock Symphony com representantes do rock brasileiro e Emoções Sertanejas com nomes famosos do gênero.

Roberto Carlos fará uma série de shows em outros países: Estados Unidos, México, Porto Rico e Argentina. E para encerrar as celebrações - 50 Anos de Roberto Carlos, após um ano, e com chave de ouro, exatamente dia 19 de abril de 2010, vai acontecer o Show no Radio City Music Hall de Nova York

“Quem espera que a vida/Seja feita de ilusão/Pode até ficar maluco/Ou viver na solidão/É preciso ter cuidado/Prá mais tarde não sofrer/É preciso saber viver...//Toda pedra no caminho/Você pode retirar/Numa flor que tem espinhos/Você pode se arranhar/Se o bem e o mau existem/Você pode escolher/É preciso saber viver...//É preciso saber viver!/É preciso saber viver!/É preciso saber viver! Saber viver!...//Toda pedra do caminho/Você pode retirar/Numa flor que tem espinhos/Você pode se arranhar/Se o bem e o mau existem/Você pode escolher/É preciso saber viver...//É preciso saber viver!/É preciso saber viver!/É preciso saber viver!Saber viver! Saber viver!...(É preciso saber viver, de Roberto Carlos)

Seu primeiro disco, "Louco por Você", foi lançado em 1961 e é marcado pela influência da bossa nova. Roberto Carlos nunca permitiu que o álbum fosse reeditado. A partir daí passou a investir, com apoio da gravadora CBS, no incipiente mercado de música jovem. Para isso juntou-se ao amigo Erasmo e passou a fazer versões e compor músicas como "Splish Splash", "O Calhambeque", "É Proibido Fumar" e outras que visavam ao filão juventude transviada, criando o primeiro movimento de rock feito no Brasil.

Em 1965 estreou, ao lado de Erasmo e Wanderléa, o programa Jovem Guarda, na TV Record, que daria nome ao movimento. O desafio do programa era manter a elevada audiência das tardes de domingo, até então garantida pela transmissão dos jogos de futebol e agora ameaçada, já que as transmissões haviam sido proibidas. O programa não só manteve a audiência, como conseguiu aumentá-la.

Roberto Carlos foi um dos primeiros ídolos jovens da cultura brasileira. Na época, com cabelos longos, roupas à moda Beatles e utilizando-se de mitos do universo do jovem urbano, como o carro e a velocidade e falando muitas gírias, virou o ídolo de uma juventude influenciada pelo recém-surgido rock and roll norte-americano e inglês. Além do programa e dos discos, estrelou filmes, inspirados no modelo lançado pelos Beatles nos anos 60. O primeiro longa, "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", foi lançado em 1967, seguido por "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa" e "Roberto Carlos a 300km por Hora". Nos anos 70, com o esmorecimento do movimento da Jovem Guarda, muda de estilo e torna-se um cantor e compositor basicamente romântico. Foi a partir daí que seu público-alvo deixou de ser o jovem e passou a ser o público adulto. Nessa linha, seus grandes sucessos são "Detalhes", "Emoções", "Café da Manhã", "Força Estranha", "Guerra dos Meninos", "Fera Ferida", "Caminhoneiro", "Verde e Amarelo". Recentemente passou a dedicar-se mais ao filão religioso de sua obra, com o sucesso da música "Nossa Senhora".

“Não adianta nem tentar me esquecer/Durante muito tempo em sua vida, eu vou viver/Detalhes tão pequenos de nós dois/São coisas muito grandes pra esquecer/E toda hora vão estar presentes, você vai ver/Se um outro cabeludo aparecer na sua rua/E isso lhe trouxer saudades minhas, a culpa é sua/O ronco barulhento do seu carro/A velha calça desbotada ou coisa assim/Imediatamente você vai lembrar de mim//Eu sei que um outro deve estar falando ao seu ouvido/Palavras de amor como eu falei mas eu duvido/Duvido que ele tenha tanto amor/E até os erros do meu português ruim/E nessa hora você vai lembrar de mim//À noite envolvida no silêncio do seu quarto/Antes de dormir você procura o meu retrato/Mas na moldura não sou eu quem lhe sorri/Mas você vê o meu sorriso mesmo assim/E tudo isso vai fazer você lembrar de mim//Se alguém tocar seu corpo como eu não diga nada/Não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada/Pensando ter amor nesse momento/Desesperada você tenta até o fim/E até nesse momento você vai lembrar de mim//Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada/Do tempo que transforma todo o amor em quase nada/Mas quase também é mais um detalhe/Um grande amor não vai morrer assim/Por isso, de vez em quando, você vai, vai lembrar de mim//Não adianta nem tentar me esquecer/Durante muito, muito tempo em sua vida eu vou viver/Não, não adianta nem tentar me esquecer” (Detalhes, Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

Desde 1961 Roberto Carlos conseguiu a incrível façanha de lançar um disco inédito por ano, interrompida apenas em 1999 por causa da doença de sua então esposa, Maria Rita, que viria a falecer. Nos últimos anos esse lançamento acontece invariavelmente no Natal. Roberto Carlos vendeu milhões de cópias de discos, gravou em inglês, em castelhano e em diversos países, fez milhares de shows pelo mundo e teve diversos artistas regravando suas músicas. Seu fã clube é um dos maiores do planeta. Roberto Carlos vendeu milhões de cópias de discos, gravou em inglês, em castelhano e em diversos países, fez milhares de shows pelo mundo e teve diversos artistas regravando suas músicas. Seu fã clube é um dos maiores do planeta.

O CD “Pra Sempre”, gravado em 2004, foi uma pequena amostra do resultado de anos de sucesso na carreira do “rei”, que lotou todos os shows. O álbum “Roberto Carlos” foi lançado em 2005, e novamente com sucesso. Dessa vez, o repertório foi composto por músicas de outros compositores, entre os gêneros romântico e sertanejo. Dezenas de artistas já fizeram regravações de suas músicas. Já lançou discos em espanhol e inglês, em diversos países. Atualmente continua se apresentando com freqüência e todo ano produz um especial que vai ao ar na semana do Natal pela TV Globo, mesma época do lançamento dos seus discos anuais.

17 abril 2009

Bahia um estado d´alma na Bienal do Livro


Para comemorar os 460 anos de fundação da cidade de Salvador, o jornalista e pesquisador Gutemberg Cruz lançou no dia 26 de março, o livro “Bahia, um estado d´alma”. O livro vai estar na 9a Bienal do Livro (17 a 26 de abril no Centro de Convenções da Bahia), além de estar à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Cinema Glauber Rocha) e Pérola Negra (Canela). Segundo o autor, a cidade guarda de forma mais intensa a variada escala de cheiros e sabores. Em cada esquina, um aroma diferenciado que sintetiza e expõe os altos e baixos da Bahia de São Salvador. A experiência olfativa em Salvador – terra de todos os cheiros – pode ter como ponto de partida o Pelourinho com seu aroma do azeite de dendê exalado de fumejante tachos das baianas de onde saem suculentos acarajés. Ou a água de cheiro da procissão de Iemanjá e a alfazema do afoxé Filhos de Gandhi ou da Lavagem do Bonfim.


Salvador tem um cheiro gótico, odor de profanação indefinida, de misturas memoriais. É um perfume doce, forte, suave, libidinoso. A cidade deixa escapar um cheiro de saudade da tarde que escurece e a brisa cresce. E o cheiro muda da Barra para Itapuã, de frutas exóticas e peixes saltitantes. Do Mercado Modelo o cheiro de caranguejo, da Baixa dos Sapateiros, o cheiro de limão e do Centro Histórico o cheiro do amor, de velas acesas para Nosso Senhor. Cheiro de orvalho, como gotas de música misturado ao cheiro de urina, cheiro de menina. Cheiro de terra molhada, folha amassada, verdinhas e atraentes. De espuma de uma rua, cheiros sutis de umbus suculentos, mangabas grudentas, abacaxis atraentes, jacas deliciosas e cajus refrescantes. Pode ser na Feira de São Joaquim, Sete Portas ou Mercado de Itapoã, roteiros de devoção.

COMENTARISTA - Para a professora Nilzete Alves, Gutemberg Cruz não assume a postura do especialista ao escrever Bahia, um estado d´alma, ao contrário, procura o ângulo do comentarista que vive o local. Louva quem bem merece, deixando o ruim de lado, como bem aconselha Gilberto Gil. Seu texto se lê fluentemente esvaziado de pretensões de um rigor científico de análise que, muitas vezes, nem se aplica a uma realidade fugidia como a “terra da felicidade”. Em seu arsenal de informações, com experiências que vivenciou profundamente, o humor e sutileza se articulou entre as letras de músicas onde as alternâncias entre repouso (classicismo) e movimento (barroco), claro e escuro convivem no mesmo espaço, com rigor (ou técnica) e emoção.

A Bahia dos becos escuros, com seus mistérios, sons e cheiros; a Bahia da costa clara, banhada por um mar amigo que inspira suas canções. O seu povo, plural na sua etnia e singular nas suas manifestações. Salvador é singular porque é plural. Emoções, sensações e imagens. A Bahia é plural na sua diversidade de religiões e singular na tolerância da coexistência das mesmas respeitando a opção dos indivíduos que as praticam. É muito comum na Bahia ser católico e adepto da umbanda ao mesmo tempo, independente de sua cor ou classe social. As próprias festas católicas têm também sua versão profana.

O sociólogo Gilberto Freire definiu Salvador como uma cidade talássica, isto é, uma cidade que ia desenvolvendo, em todos os sentidos e direções, o gosto e os hábitos das coisas do mar. Como diria o escritor João Ubaldo Ribeiro, festeira e barulhenta, a cidade entrega-se com facilidade ao visitante, mas quase nunca abre aos seus mistérios.

16 abril 2009

Dez momentos do lançamento de Bahia, um estado d´alma

No dia 26 de março, no Espaço Cultural Unibanco Cinema Glauber Rocha (Galeria do Livro), foi lançado meu quinto livro "Bahia, um estado d´alma". O livro já está à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Cinema Glauber Rocha) e Pérola Negra (Canela). Eis dez momentos fotográficos do lançamento. O livro vai estar à venda também nesta Bienal do Livro.

























































15 abril 2009

Suingue da negra voz

Ele é ariano nascido e criado no bairro da Garibaldi, perto do terreiro de Mãe Menininha de Gantois que foi amiga de sua avó materna. Assim, desde criança ele ficava ouvindo os cânticos do candomblé. Com o tempo já estava na roda de samba, cantando. Foi o samba que lhe deu base rítmica desenvolvido nos redutos como as agremiações Cacique do Garcia e Bafo de Jegue. Ele participou ainda de grupos folclóricos dos colégios ICEIA e Severino Vieira. Das rodas do Garcia ele foi levado à grande inovação baiana dos anos 70, o Ilê Aiyê, do qual fez parte entre 1979 e 1980. Estamos falando de uma das melhores vozes masculinas da Bahia: Lazzo Matumbi. Conhecido pelas interpretações carregadas de swing e lamento, o cantor é um dos ícones do reggae brasileiro.

“Ôôô/Vem correndo me abraça e me beija/Vem ver, chamar chamar/Vem provar do meu encanto/Vem dizer que eu não fui santo nenén/Onda do mar me levou/E eu resisti//ôôô/Vem correndo me abraça e me beija/Vem me dar, todo o chamego//Vem vem dia 20 de novembro/Se todo dia é santo neném/Onda do mar me levou/Me levou, mas hoje estou aqui/Onda do mar me levou/E eu resisti” (Me abraça e me beija)


Em maio de1980 no antológico show de Gilberto Gil e Jimmy Cliff, onde eu era, na época, editor do caderno de cultura do jornal Correio da Bahia e fazia a cobertura,. Lazzo estava presente e ficou arrebatado pela batida do reggae e da força de sua mensagem política. No ano seguinte ele fazia sua estréia solo: “Luz no escuro”, primeiro show de reggae depois de Gil e Cliff.
A primeira música que gravou foi “Salve a Jamaica” (Raí). Em 1983 lançou “Viver, sentir e amar” com a autoral “Do jeito que seu nego gosta”, um dos seus maiores sucessos. Dois anos depois, em São Paulo, vem “Filho da terra”. Nos anos 90 ele lançou dois discos: Arte de Viver (1990) e Nada de Graça (1999) onde registrou músicas como “Alegria da cidade” (parceria com Jorge Portugal) e “Coração rastafari” (Djalma Luz) ou imprimindo sua releitura para “Gostava tanto de você” (Édson Trindade), “A tonga da milonga do kabuletê” (Toquinho e Vinícius) e “Charlie Brown” (Benito Di Paula). Depois vieram outros sucessos marcantes como “Me abraça e me beija” e “Abolição” (parceria com Capinan).
“Tomara, tomara que a chuva/Tomara que a chuva caia logo/Pra molhar você/Pingo de estrela cai do céu azul/Do jeito que seu nego gosta/O jeito molhado do seu corpo nú/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Te ver brilhando em meu olhar/Do jeito que seu nego gosta/E te amando peço seu cantar/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Cortando espaço de norte à sul/Do jeito que seu nego gosta/Gotas de mel no seu sorriso blue/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Te ver brilhando em meu olhar/Do jeito que seu nego gosta/E te amando peço seu cantar/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Cortando espaço de norte à sul/Do jeito que seu nego gosta/O jeito molhado do seu corpo nú/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Te ver brilhando em meu olhar/Do jeito que seu nego gosta/E te amando peço seu cantar/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego gosta” (Do jeito que seu nego gosta)
Entre as várias experiências sem sua trajetória se destaca a turnê ao lado de Jimmy Cliff, dez anos depois daquele show da Fonte Nova que foi fundamental para suas convicções político musicais. Foram três anos de 50 apresentações de abertura para o jamaicano, passando pela Europa, Estados Unidos e Ásia, visitando países como a Jamaica e o Senegal, e conhecendo personalidades como Youssou N´Dour e Salif Keita.
Em maio de 2006 ele comemorou seus 25anos de careira com show no Teatro Vila Velha. Teve uma época que o artista montou um bloco sem cordas, o Coração Rastafari, com grande participação popular. Lazzo trocou o abadá por três quilos de alimentos para distribuir com entidades assistenciais. Por causa dessa ação social, foi muito criticado. “A Bahia e o Brasil são ingratos porque valorizam muito mais o que vem de fora do que o que se produz aqui dentro”, disse em uma entrevista.

“Do horizonte vai rasante o meu grito, vai encontrar/aquele negro bonito/Que transava bem o corpo e o espírito, possuído de/amor e conflito/No seu rosto sempre viam sorrindo/ôooo/No teu corpo moço, moço... onde a paz fez abrigo/Foi no teu corpo moço, moço, moço onde a paz fez/abrigo/Sempre amava a mother negra Jamaica/Era um pedaço da nossa mãe África/Ele queria igualdade entre as raças/E batalhava nos palcos de praças/Cantando reggae/Ele era o seu povo rasta/Falando a dor que fere a negra e oprimida raça/A muita gente que não tem cidade/Ele deixou amor, tristeza e saudades/E uma voz que floresce e invade e fortalece o grito de/liberdade/Liberdade, eu grito, eu grito Liberdade/Grito aflito, eu grito ao meu coração Rastafari/Liberdade, eu grito Liberdade... (Coração rastafari)
Foi no show de estréia Luz no Escuro, no Vila Velha que Baby Santiago, outra grande voz, desta vez da rádio baiana, chamou Lazzo para produzir um disco e perguntou-lhe seu nome. Na época seu nome artístico era Lazinho Diamante Negro. Depois, por causa do Ilê, Lazinho do Ilê. E Baby sugeriu Lazzo com dois zes e Matumbi, que segundo ele era uma pedra sagrada da Nigéria. O nome ficou.
“A minha pele de ébano é.../a minha alma nua/espalhando a luz do sol/espelhando a luz da lua (2x)//Tem a plumagem da noite/e a liberdade da rua/minha pele é linguagem/e a leitura é toda sua//Será que você não viu/não entendeu o meu toque/no coração da América eu sou o jazz, sou o rock//Eu sou parte de você, mesmo que você me negue/na beleza do afroxé, ou no balanço no reggae//Eu sou o sol da Jamaica/sou a cor da Bahia/eu sou você e você não sabia//Liberdade Curuzu, Harlem, Palmares, Soweto//Nosso céu é todo blues e o mundo é um grande gueto//Apesar de tanto não/ tanta dor que nos invade, somos nós a alegria da cidade/apesar de tanto não/tanta marginalidade, somos nós a alegria da cidade (2x)” (Alegria da Cidade)
“Duas coisas me enchem o saco. Uma é as pessoas ficarem o tempo todo dizendo que ´você canta pra caramba´, mas não me dão a oportunidade de cantar. Isso é de uma demagogia que é bem a cara da nossa cidade, do nosso país. Eu adoro você, mas não lhe dou emprego. Acho você um profissional maravilhoso, mas não lhe chamo para fazer nada. Outra, é quando eu vou visitar um amigo, tô querendo curtir a amizade dele, o momento, e aí vem alguém e pede pra que eu cante uma música. Isso é uma coisa que me aborrece e algumas pessoas ainda dizem: ´esse cara é cheio de pose´. Outro dia eu perguntei a um advogado amigo meu se ele podia bater uma petição, depois que ele me pediu pra cantar. Ele pulou fora...”, disse Lazzo em uma das entrevistas que deu. Verdadeiro!
O quinto CD de Lazzo está previsto para ser lançado este ano e conta com a produção do chileno Jorge Solovero e terá composições inéditas de sua autoria, além de canções de parceiros, como Jorge Portugal, Ricardo Luedy, Gustavo Felix e Antonio Risério. Vamos aguardar mais uma pérola de Lazzo. Quem deseja ouvir as pérolas desse magnífico cantor basta acessar http://www.myspace.com/lzzlazzomatumbi e boa viagem!



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Para que não compareceu ao lançamento do meu quinto livro "Bahia, um estado d´alma", encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Espaço Cultural Cinema Glauber Rocha (Praça Castro Alves) e Pérola Negra (Canela).

14 abril 2009

É preciso olhar com atenção (2)

O mundo sensorial é ilusório. Esse mundo das paixões e desejos é o mundo que vemos e percebemos. Real seria o mundo das propriedades matemáticas que só podem ser descobertas pelo intelecto. É o que pensava Lévi-Strauss. Charles de Bovelles afirmou que há três olhos – o olho angélico, o olho humano e o olho animal, a saber, o intelectual, o racional e o sensível. Os dois mais potentes estão admitidos à contemplação de Deus, o sol natural de cada um deles. Mas o olhar angélico percebe Deus na luz, enquanto o olhar humano o percebe na sombra.


Há os olhos do corpo e os olhos do espírito, segundo Bovelles. Os primeiros - a que chama de olhos mundanos – são esferas perfeitas que “não podem ver toda a superfície da esfera”, excitados pela luz e pela cor apenas “em metade de sua esfera, aquela voltada para o mundo”, mas “cegos por natureza em sua outra metade, aquela presa no interior da cabeça”. A Natureza não lhe deu a visão interior. O homem ganhou o primeiro olhar. Deve conquistar o segundo através da sabedoria ou ciência de si mesmo.

O olhar também foi considerado perigoso. Basta conhecer a história das filhas e a mulher de Ló, transformadas em estátuas de sal. Ou Orfeu perdendo Eurídice. Narciso perdendo-se de si mesmo. E Édipo cegando-se para ver o que, vidente, não podia enxergar. Ou mesmo Perseu defendendo-se da Medusa forçando-a a olhar-se. E os índios, recusando espelhos, pois sabem que a imagem refletida é sua própria alma que a perderão se nelas e nele depositarem o olhar. Olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si.
O uso das palavras que expressam o olhar é bem diversificado. O povo diz “Olho gordo” quando há sinais de ganância. Se o desejo é voraz o olho é comprido. Olho de sapo é olho parado, olho de peixe morto. Olho de lince é agudo, terno é olho de pomba, infiel ou suspeito é olho de gato, tímido é olho de coelho, cruel é olho de cobra, sensual é olho de macaca. Assim, a expressão do olhar busca e acha suas metáforas no ser vivo. O olhar é muito mais do que função fisiológica, é uma linguagem forte, um universo carregado de sentido. O universo do olhar é vasto e misterioso.

O homem de hoje é um ser predominantemente visual. A maioria das informações que ele recebe lhe vem por imagens. O mundo se dá ao olho humano (segundo o discurso de Epicuro e de Lucrécio), porque a natureza desenvolve um movimento constante, veloz, desprendendo da superfície dos seres os simulacros, figuras que duplicam sutilmente a forma superficial das coisas. Assim os simulacros vêm ao encontro dos nossos olhos, trazidos que são pelos raios da luz solar, estelar ou lunar. Os olhos recebem passivamente, com prazer ou desprazer, contanto que estejam abertos. O efeito desse encontro chama-ser conhecimento.

Para conhecer basta abrir bem os olhos em um espaço iluminado e acolher os ícones do mundo. Assim, conhecer é estar imerso em um oceano de partículas cintilantes e nele engolfar-se sensualmente. Assim, segundo os filósofos antigos, conhecer é ser invadido e habitado pelas imagens errantes de um cosmos luminosos. Para eles a vida é um percurso de luz e morrer é perder a luz. Assim, viver é olhar essa luz, por breve mas belo tempo. Mas o olhar que vê o nascer para a luz contempla também o mergulhar na treva.

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Para que não compareceu ao lançamento do meu quinto livro "Bahia, um estado d´alma", encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Espaço Cultural Cinema Glauber Rocha (Praça Castro Alves) e Pérola Negra (Canela).

13 abril 2009

É preciso olhar com atenção (1)

Na atual sociedade do espetáculo em que vivemos, do narcisismo industrializado, é preciso pensar não apenas o que vemos, mas como vemos. Ver, atualmente, está ao lugar do ser, perdemos outras dimensões da existência, pois segundo a filosofia oriental, cada um se torna o que contempla. É preciso pensar em “como vejo” para ser capaz de entender sua participação como sujeito do conhecimento. Porque se você vê pelos olhos de outros, alguém lhe obrigou a ver o que você nem sequer teve chance de escolher. No momento em que alguém viu no seu lugar e lhe impôs sua visão, você compactuou com o visto sem chance de escapar ao imposto. É preciso ter cuidado com esse olho devorador que tudo quer abarcar nessa sociedade de vigilância, de televisões e monitores por todos os lados a vender imagens declaradamente marcadas pela brutalidade da persuasão e da sedução. Esse sim é o olhar perverso, marcado por sua posição absoluta que define a forma do mundo sem admitir contestação. Esse é o olhar autoritário que impera sobre outros proibindo-lhe existência. Um olhar fascista proibe pensar de outro modo, outra visão. É preciso olhar com atenção, pensar uma ética do olhar.

Para Décio Pignatari, televisão é olho contra olho, olhar contra olhar, dose diária de um “midiacamento” insuportável e insubstituível, mistura de elixir e droga, que provoca reações variadas no paciente, da náusea ao vício e à paixão. Sendo vício, viciado e vicioso, o olhar da televisão é sectário. Quem não assiste televisão não pertence à seita dos “haxixins”, é perigoso como qualquer não-sectário. O olho crocodílico da televisão cola e bricola. Tudo consome, tendo em vista o consumo.

“A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo ser acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar,esquece a amplidão”. Esse é um trecho do livro da escritora Marina Colasanti, “Eu sei, mas não devia”.

"A vista é o que nos faz adquirir mais conhecimentos, nos faz descobrir mais diferenças”. O texto é de Aristóteles na abertura da Metafísica. O olhar deseja sempre mais do que o que lhe é dado ver. Todos os filósofos falaram sobre o olhar. “A vista – escreveu Giordano Bruno – é o mais espiritual de todos os sentidos”. O olhar antigo captou o movimento sob as aparências da matéria corpuscular. O olhar científico procura descrever a energia. No olhar da Renascença, o olho do pintor convive harmoniosamente com o olho do sábio. Leonardo da Vinci, pintor-cientista, dá ao olho o poder de captar a “prima verità” de todas as coisas. “O olho, janela da alma, é o principal órgão pela qual o entendimento pode obter a mais completa e magnífica visão dos trabalhos infinitos da natureza”.

Para Hegel os olhos não são espelhos do mundo e janela da alma, como escreveram Leonardo da Vinci e muitos renascentistas (ou mesmo o olho do corpo é fonte de pecado, como disse Padre Antônio Vieira) e sim o olhar que se impressiona com os acontecimentos políticos da época, pensar o mundo interior à consciência do mundo e definir o movimento de constituição da História. O homem sem consciência de si, para si, é um ser silencioso e vazio. Ele substitui a cegueira da imaginação pelo pensamento der ver: a consciência e a coisa, o sujeito e o objeto – divisões brutais que determinam com rigor as esferas do sensível e do pensado, do que vê e do que é visto.

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Para que não compareceu ao lançamento do meu quinto livro "Bahia, um estado d´alma", encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Espaço Cultural Cinema Glauber Rocha (Praça Castro Alves) e Pérola Negra (Canela).

08 abril 2009

Tragédia de Pompéia, Herculano e Estábias


No ano 79, Pompéia, Herculano e Estábia, no golfo de Nápoles, sul da Itália, eram prósperas cidades cravadas nas encostas do vulcão Vesúvio. Havia pelo menos 900 anos que o vulcão não dava sinais de vida. Dizia-se que ele estava extinto. Subitamente, o vulcão irrompeu no que foi sua maior erupção até hoje. Em volta começa a desabar uma chuva de pedras-pome e pedaços de rocha, arrancados do topo da montanha.


Em Pompéia, a população, cerca de 15 a 20 mil habitantes, não tinha a menor idéia do que estava acontecendo e do que fazer para tentar se salvar. Em 20 minutos, a erupção cobriu a cidade com 2,60 metros de detritos e poeira arenosa. No interior do Vesúvio, após a expulsão da tampa de lava resfriada pós a última erupção, a pressão começou a cair. Até que magma vulcânico foi expelido em uma grande explosão destruindo tudo que encontrava em seu caminho. Uma nuvem de fuligem e gases tóxicos, em forma de cogumelo forma-se no topo no vulcão. As cinzas se precipitam em uma densa chuva, carregada de vapores clorídricos.


Durante os dias 24 e 25, e também em parte do dia 26, a chuva de cinzas não parou. Quando o sol reapareceu, no dia 27, por volta de 80% dos habitantes de Pompéia estavam mortos, a maioria por intoxicação, e soterrados. Pompéia (em latim, Pompeii), antiga cidade da Campânia, no sul da Itália, situa-se a 23km a sudoeste de Nápoles. Fundada pelos oscos, caiu sob domínio grego no século VIII a.C. e foi ocupada pelos etruscos no século VII. Invadida pelos samnitas no final do século V a.C., aliou-se a Roma no século III. A cidade participou da guerra civil do século I a.C. e converteu-se em colônia romana.


O historiador Tácito relata a eclosão de uma revolta popular no ano 59 da era cristã. Três anos depois, um terremoto danificou os edifícios pompeanos e, em 24 de agosto de 79, uma violenta erupção do Vesúvio, próximo à cidade, cobriu-a com uma camada de seis a sete metros de espessura, composta de lapilli (fragmentos de lava) e cinzas vulcânicas. Dos vinte mil habitantes, morreram dois mil.


Herculano (Herculaneum) situa-se a oito quilômetros a sudeste de Nápoles, em parte sob os alicerces da atual localidade de Resina, o que praticamente impossibilitou o acesso às ruínas. Sua história, paralela à de Pompéia, interrompeu-se em conseqüência da mesma erupção. Estábias (Stabiae), situada no extremo oriental do golfo de Nápoles, foi também arrasada pela erupção do Vesúvio.

DESCOBERTAS

As ruínas de Pompéia foram descobertas no final do século XVI. As escavações, que representaram o começo da arqueologia moderna, iniciaram-se em 1709, em Herculano, e em 1748, em Pompéia. Em 1860, os trabalhos arqueológicos se intensificaram e tornaram-se mais sistemáticos, mas foram interrompidos pela segunda guerra mundial. Em Estábias, as pesquisas se reiniciaram em 1949. Muitos edifícios de Pompéia conservaram-se em perfeito estado, dentre os quais se destacam os do forum ou centro urbano: a basílica (lugar para reuniões públicas), o templo da tríade capitolina (Júpiter, Juno e Minerva), o templo de Apolo, o de Ísis, o mercado e o comitium, edifício onde se realizavam as eleições municipais.

Outros conjuntos monumentais são o foro triangular, o anfiteatro, e a palestra ou campo desportivo. Interessantes para os historiadores são as casas particulares, várias delas típicas da classe média provinciana do Império Romano. Costumam ser elegantes, com átrio e pátio interno, mobiliário austero e alegres pinturas murais. A cidade conta também com inúmeras oficinas, lojas, tabernas e banhos públicos. Também são importantes as casas situadas fora do perímetro urbano, como a de Diomedes e a chamada "vila dos mistérios", onde eram celebrados os cultos ao deus Dioniso.

Dois mil anos depois, Pompéia - no sul da Itália, a 23 quilômetros de Nápoles - está sendo novamente destruída. Desta vez, não por razões das forças da natureza, e sim, vítima de sua própria popularidade, do notável abandono das autoridades e de gerações de arqueólogos interessados apenas em escavar o passado e não em preservá-lo. Como uma "cápsula do tempo" que guardou a vida cotidiana no auge do Império Romano, Pompéia é única. Mas seus problemas são tragicamente semelhantes aos que devastam centenas de sítios arqueológicos em todo o mundo, desde as tumbas do Vale dos Reis no Egito, até os pré-históricos pueblos Anazasi, no Oeste dos Estados Unidos.

Considerada um dos mais antigos sítios do mundo, Pompéia fornece uma inquietante visão do que pode ocorrer quando o passado é desenterrado sem nenhum plano para o futuro. Desde que as ruínas foram descobertas em 1748, mais de dois terços dos 66 hectares dentro dos muros da cidade foram desenterrados. Bloco por bloco, arqueólogos italianos, franceses, ingleses e norte-americanos foram retirando aos poucos a camada de cinza vulcânica, com cerca de oito metros de profundidade, que deixou Pompéia praticamente intacta desde agosto de 79 d.C., quando foi sepultada.

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07 abril 2009

Desenhos violentamente carnais

Há 80 anos, no dia 26 de dezembro de 1929, o desenhista, ilustrador e escultor brasileiro, Roberto Rodrigues foi assassinado pela jornalista Sylvia Serafim Tibau. A motivação do crime foi uma reportagem publicada no mesmo dia no jornal carioca Crítica que insinuava que a jornalista traíra seu marido, ilustrada por um desenho de Roberto que a mostrava tendo as pernas acariciadas por um homem.

Filho querido de Mário Rodrigues, Roberto era tido como uma das grandes revelações artísticas da época, apesar de seu traço mórbido e angustiante. Trabalhava no jornal do pai como ilustrador das principais reportagens. Era de sua autoria o desenho publicado na primeira página de Crítica que ilustrava a reportagem sobre o desquite de Sylvia Serafim Tibau. Quando foi assassinado por Sylvia, tinha apenas 23 anos. Foi assassinado por engano em lugar do pai. O irmão Nelson Rodrigues tinha 17 anos na época. Na peça “Vestido de Noiva”, Nelson teria recriado o velório do irmão. E Nelson viria repetindo que seu teatro nascera da vida e obra do irmão seis anos mais velho.

O tempo passou e Roberto foi esquecido. Nos anos 80, a atriz e pesquisadora Neyla Tavares, grande fã de Nelson, se empenhou de traze-lo de volta à tona com uma publicação “Desenhos de Roberto Rodrigues”.

“Roberto começou a desenhar com cinco anos de idade. Na infância profunda. O desenho era o seu grande deslumbramento. Com 13 anos mandou desenhos que foram publicados na Revista Infantil, revista de historietas que hoje chamam de historias em quadrinhos. Era negócio de bangüe-bangue. Estava desembestado. Fazia desenho, pintura, escultura.... O homem não parava. De maravilhoso instinto. Marcado pelo sexo, todos os seus baixos relevos eram violentamente carnais”, escreveu Nelson Rodrigues (23/04/1973) no depoimento para a publicação.

“Homem bonito. O homem mais bonito que eu já vi na minha vida. Inspirava as chamadas paixões fulminantes. Foi profundamente amado. Ele tinha a chamada morbidez, coisa que os pintores de seu tempo não tinham, o que dava a seus trabalhos uma densidade, uma atmosfera que também ninguém tinha. Amigo de Portinari e Santa Rosa, seus admiradores. Não recebeu a influência européia, era maravilhosamente só em suas pesquisas. Quando absorvia um influência era para transformá-la”, escreveu Nelson.

O jornal, influente politicamente, acusava Sylvia Tibau, uma bela jornalista e literata de 27 anos, de haver traído o marido, o médico João Tibau Jr, com quem tinha dois filhos pequenos, com o também médico Manuel de Abreu, que se notabilizaria depois como o inventor da abreugrafia, sistema de miniaturização de chagas de raios X que teve largo emprego no Brasil.

No mesmo dia em que saiu a reportagem, Sylvia dirigiu-se, muito bem vestida, à redação da Crítica, no centro dório. Queria falar com Mário Rodrigues. Como ele não estava, pediu uma conversa reservada com Roberto. Sacou de repente um revólver da bolsa e deu-lhe um tiro à queima-roupa. Profundamente abalado, Mário morreria 77 dias depois do filho, em conseqüência de uma trombose cerebral.

Depois de furiosa campanha pela condenação de Sylvia, a Crítica, que defendia a candidatura de Julio Prestes à Presidência, foi empastelada por simpatizantes de Getúlio Vargas, em 1930, e acabou. Sylvia também teve um fim trágico. Envolvida num processo de falsificação de documentos e abandonada por um tenente-aviador por quem se apaixonara, suicidou-se, ao lado do filho que tivera com ele, numa cama da enfermaria da Casa de Detenção de Niterói, em 1936.

Roberto era um modernista – suas capas de revistas provam isso – e ele tinha um universo temático próprio, que refletia uma alma infernalmente atormentada. Seu trabalho estava mais perto do rococó art nouveau do inglês Aubrey Beardsley. “Seus desenhos criam uma atmosfera de sensualidade e pesadelo. O artista pertence à família de intérpretes da alma. Produziu desenhos a bico depena, pinturas à óleo e baixos-relevos em barro e gesso. Criações nas quais amores obscuros, dores ásperas e infernos interiores ganham corpo, movimento e expressão. Formas enérgicas, trágicas, maduras. Não há lugar para ingenuidade em sua obra.

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