Lirismo e poesia nos
quadrinhos. Atualmente é o que mais gosto. E neste final de dezembro de 2022 fui
surpreendido por duas publicações especiais: Big Hug de Melissa Garabeli e
Phillip Willies, a outra, E o Mar Me Trouxe Até Aqui de Phellip Willian e Eduardo
Ribas.
Big Hug é uma excelente brincadeira
em forma de gibi. O título foi viabilizado através da plataforma colaborativa
Catarse. Hug, o protagonista, vê sair de si mesmo um pequeno ser peludo. Quando
tenta pegá-lo para o abraçar, o pequeno animal foge por entre as páginas,
quadros e vários outros lugares. Assim nasce uma verdadeira aventura de
"gato e rato", em um quadrinho que explora a linguagem de quadrinhos
para além do caminho tradicional.
Este uso de recursos
metalingüísticos é um meio do autor exercer sua criatividade, e muitas vezes
obter bons resultados. O uso da
metalinguagem tem resultados positivos em duas situações, independentemente se
o resultado criativo é maior ou menor. A primeira situação é quando é usada
para fins humorísticos ou satíricos. Neste caso, a quebra das regras e convenções
será sempre um desafio ao espectador, e a presença do inusitado, uma fonte de humor.
A segunda situação é quando o objetivo é didático, ou seja, analisar e criticar
os próprios códigos.
A dupla Garabeli e
Willian esbanja criatividade numa hq que vale a pena ler. Brinca com a
narrativa dos quadrinhos rompendo quadros, rompendo a historieta além de nos envolver
com bom humor e carinho entre os personagens.
Escritor e roteirista,
Phellip é formado em Letras pela UEPG e Mestre em Linguagem e doutorando em
literatura. Atua como pesquisador de linguagens iconoverbais, principalmente
quadrinhos. Lançou com a Melissa Garabeli a graphic novel Saudade (2018),
finalista do Jabuti, vencedor do HQmix e do Angelo Agostini. Depois fez Uma
nuvem no Seu oliveira (2021, com o Edu), Calmaria (2022) e E o mar me trouxe
até aqui (2022).
Há potencialidade
autorreflexiva e poética dos quadrinhos dessa dupla. São quadrinhos silenciosos,
mudos, sem palavras. Muitas são as denominações dessas publicações onde não há
uso de nada mais do que desenhos, um do lado do outro, contando uma história. As
publicações de histórias em quadrinhos sem balões ou textos de acompanhamento
fornecem aos leitores a liberdade de interpretação da narrativa desenhada. Os
processos editoriais de HQs sem palavras são considerados por alguns
quadrinistas como as mais desafiadoras, desde a criação até a impressão. Ao
tentar traduzir em imagem as sequências que melhor expressam as ideias da
mensagem a ser transmitida ou daquilo que deveria ser dito por um personagem,
exige do artista um trabalho que envolva os elementos de expressão corporal,
facial e gestuais. Além de domínio da cena para que a interpretação global possibilite
ao leitor compreender a ambientação da história
Melissa Garabeli é
ilustradora e quadrinista. Já trabalhou em diversos projetos e tem oito livros
lançados. Em 2019, ganhou o prêmio HQmix de novo talento desenhista; o prêmio
Angelo Agostini de melhor publicação independente; e foi finalista do prêmio
Jabuti. Recentemente, lançou o infantil O urso e o Eco e sua graphic novel
Calmaria (2022). É conhecida pelo seu trabalho como aquarelista, mas tá
arriscando um pouco o digital no HUG. Ela adora bichos e, se dependesse dela,
só desenharia animais. Vale dizer que ela é tutora da Chewie e da Leia, além de
resgatar vários bichos da rua.
Já a graphic novel E o
Mar Me Trouxe Até Aqui (dos artistas Phellip Willian e Eduardo Ribas) narra a
aventura de um menino perdido no oceano. Sem memórias, sem saber para onde ir,
o personagem encara desafios e encontra pessoas e animais que somente o mar
proporciona. A dupla brinca com os
signos presentes no mar ao passo de entender os desafios das exigências sociais e expectativas pessoais na
formação de um menino homem. A obra tem um formato próximo de mangá (16×23),
com miolo em Polen Bold e capa cartonada, e conta com 120 páginas em preto e
branco.
Segundo Eduardo Ribas, E
o mar me trouxe até aqui tem sido um dos mais desafiadores que ele já desenhou.
Um quadrinho mais metafórico e sugestivo, que surgiu depois de Phellip postar
uma frase em uma rede social. “A ideia do quadrinho surgiu depois de uma sessão
de terapia minha. Descrevendo o quanto
me esforço com trabalhos desde os 15
anos (e que nunca tive pausas desde então), eu me imaginei perdido no mar,
tendo que nadar incessantemente, enquanto tinha esperança de um dia poder tirar
férias, descansar ou mesmo me sentir satisfeito. Esta imagem ficou presa em
minha cabeça, até que virou uma frase solta no Twitter. O Edu gostou da frase e
propôs uma parceria, resultando no gibi que agora lançamos juntos”, conta
Phellip Willian.
Escritor e roteirista, Phellip é formado
em Letras pela UEPG e Mestre em Linguagem e doutorando em literatura. Atua como
pesquisador de linguagens iconoverbais, principalmente quadrinhos. Lançou com a
Melissa Garabeli a graphic novel Saudade (2018), finalista do Jabuti, vencedor
do HQmix e do Angelo Agostini. Atualmente trabalha com worldbuilding para jogos
e tem um perfil de poesia chamado @enquantohouver.
Paulista de nascimento e
morando no RS desde 2005, Eduardo Ribas iniciou seu passeio nos quadrinhos em
2017, lançando O jogo mais difícil do mundo. Desde então, vem lançando
histórias curtas como a "não-trilogia" de espada e magia PÛT, MÄQ e
TÔM. Sempre de forma independente, segue produzindo e publicando histórias
enquanto ganha dinheiro de outras formas.