29 outubro 2009

6º Festival Internacional de Quadrinhos (2)

A 6a edição do FIQ (realizado em Belo Horizonte entre os dias 06 a 12 de outubro) fez parte das comemorações do Ano da França no Brasil. Os quadrinhistas Cizo e Frédéric Felder levaram a exposição Supermercado Ferraile, uma paródia de supermercado visando criticar a sociedade de consumo.
O público ficou surpreendido com produtos estranhos nas prateleiras tipo leite de boi, pizza em lata ou mesmo o kit Maria-Chuteira. França, o país homenageado contou com trabalhos de quinze autores franceses e quinze brasileiros. Os artistas franceses tiveram seus trabalhos expostos nos Centros Culturais da Fundação Municipal de Cultura, espalhados pela cidade.

Um ponto negativo no festival foi a pouca divulgação desses centros, localizados na periferia. Toda a propaganda do festival ( cartazes, folders, chamadas no rádio e tevê) foi no Palácio das Artes e Parque Municipal. Quem não era da cidade quase não percebeu as mostras nesses centros. Outro senão foi a desistência, de última hora, do desenhista italiano Tanino Liberatore (autor do pós punk andróide Ranxerox) que teve um imprevisto.
A chuva que caiu na cidade atrapalhou um pouco, mas não deixou perder o brilho do festival. Estudantes de diversos estabelecimentos de ensino da cidade visitaram eufóricos todos os estandes do festival. A população prestigiou o evento. E
as editoras de quadrinhos deveria participar mais. Só a Cia de Letras e a Panini que estiveram presentes.
Os realizadores estão de parabéns. Sei das dificuldades de realizar esses eventos com pouco apoio. Aqui em Salvador já realizamos nos anos 70 e 80 diversas exposições com debates, bate papos e até eleição interativa da população com os desenhos e só contamos com o apoio da mídia. Os empresários e as universidades não se interessavam pelo assunto pois consideravam sub-literatura. Preconceito e falta de informação.
Foi muito bom conhecer de perto os trabalhos de Fábio Moon e Gabriel Bá, Ivan Reis, Adão Iturrusgari, Will Conrad, Eddy Barrows, Rafael Grampá, a arte de Joe Bennett, os quadrinhos chineses (Ji Di, Mu Feng Chun, Nie Chongrui, Song Yang, Yao Fei La, Zhang Lei), os 70 anos do Batman, a mostra mundial de quadrinhos com a famosa biblioteca do estudioso e batalhador Marko Ajdaric, autor de Neorama, um dos mais abrangentes sites de quadrinhos; a Mostra Liniers; Cartum e Futebol; Quadrinhos Alemães (Jens Harder) e a Galeria dos Convidados, com trabalhos de Guy Delisle (FRA), bem Templesmith (AUS), Craig Thompson (EUA), Olivier Tallec (FRA), Juan Dias Canales (ESP) e Teresa Varelos (ESP). Teve ainda, no Parque Municipal, a mostra do personagem Solar, criado por Wellington Srbek.
Uma festa para os olhos e a mente, agora é começar a ler todo o material adquirido nos estandes, dos independentes (uma grande variedade) até os comercializados pelas grandes editoras. Parabéns a todos pelo esforço em reunir tantos artistas de países diversos e uma infinidade de obras relevantes.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

28 outubro 2009

6º Festival Internacional de Quadrinhos (1)

No período de 06 a 12 de outubro Belo Horizonte se transformou na capital internacional dos quadrinhos. Nomes consagrados do quadrinho brasileiro e mundial estiveram presentes no 6º Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) que aconteceu no Palácio das Artes e Parque Municipal e fez parte do calendário do Ano da França no Brasil.

No 6º FIQ foram lançados os livros Macanudos 2, de Liniers, MSP 50 com Mauricio de Sousa, Shenzhen de Guy Delisle, Quadrinhos na Educação: da Rejeição à Prática, de Waldomiro Vergueiro, Paulo Ramos e João Marcos, além das revistas Tarja-Preta n.6 (RJ), Macaco (GO), Camino di Rato n.2, de Mario Cau, Bagaça n.1 de Rico, Prego n.1 (ES), Solar de Welligton Srbck (BH), Umbrella Academy de Gabriel Ba (SP), Patre Primordium n.4 de Ana Recaldi, Quadrinhópole n.8 de Leonardo Melo (Curitiba), Garagem Hermética n.5 de Edu Mendes, Subterrâneo Especial n.5 de Marcos Venceslau, Café Especial n.5 de Edu Mendes, Tempestade Cerebral n.7 de Alex Mir, Pixu com a presença de Fabio Moon (SP), Gabrel Bá (SP), Becky Cloonan (ITA) e Vasilis Lolos (GRE), Almanaque Gótico n.2 de Felipe Cazelli, Quase n.12 (ES), Nanquim Descartável n.3 de Daniel Esteves e a publicação baiana Aurora Comics n.0 de Oliver Borges (para acessar o site da publicação: www.auroracomics.com), Entre Quadris (SP), Pictorama, Graffiti 76% Quadrinhos (BH), Bury Your Treasure, de Becky Cloonan, Lapso (SP), Có!, de Gustavo Duarte, entre muitos outros.
Na sexta edição do FIQ houve mesa de debates sobre Animação e Cinema, Humor Gráfico, Quadrinhos Alemães, Mercado Editorial, Educação Bibliotecas e Quadrinhos, série de TV Aline, Batman 70 Anos, Cenas de Ação, Colorização, Scans e Internet: impacto e experiências, Roteiro, Mercado Indie, Quadrinhos na China, Anatomia, Versão em Quadrinhos, bate papo com Mauricio de Sousa, Renato Canini. João Marcos, Ben Templesmith, Jens Harder, Guy Delisle, Craig Thompson, Eddy Barrows, Ivan Brandon, Rafael Albuquerque, José Aguiar, entre outros.
Houve ainda oficinas sobre tirinhas e desenho, construção de um roteiro, do texto às imagens, como apresentar o seu projeto de quadrinhos para uma editora, como contar uma história em quadrinhos, etc. No cine Humberto Mouro (Palácio das Artes) foram exibidos curtas como Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral; O Anão que Virou Gente, de Marão; Mariposa, de Zhi Yi Zhanq; O desafio à Morte, de Juan Pablo Zaramelli; Bob, de Jean-Pierre Poirel, etc. O FIQ promoveu também almoço especial nos quatro restaurantes populares de BH e o cardápio oferecido teve inspirações francesas (Ratatouille, Cassoulket de Bonnac, e Bouef Bourguignon).
Três personalidades foram homenageadas neste festival: Ciça Fittipaldi (ilustrou livros infanto-juvenis, professora de Ilustração e Design Editorial e pesquisadora das visualidades e das narrativas orais indígenas e afro-brasileiras), Renato Canini (um dos melhores desenhistas do personagem Zé Carioca, deu ao papagaio uma identidade brasileira) e William Salvador (cineasta, quadrinista e colaborador do FIQ, falecido ano passado).
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Nesta quarta-feira, dia 28, a partir das 17h, estarei no Auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Barris) ministrando uma palestra sobre "Bahia, um estado d´alma", encerrando o debate e análise Conversando com a sua História. O evento é promovido pela Fundação Pedro Calmon.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

27 outubro 2009

Conhecendo Beagá (2)

Quem vai a Beagá deve reservar seu hotel com antecedência ou vai ficar sem lugar. A cidade recebe muitos viajantes a negócios ou mesmo turistas. Ficamos no Hotel Ambassahy, simples, confortável, bem localizado no centro.

A capital mineira tem bares com seus petiscos típicos, uma rede de restaurantes com uma gastronomia capaz de agradar a todos os paladares. Tem ainda o Mercado Central, o pólo de moda do Barro Preto, a Feira de Arte e Artesanato da Avenida Afonso Pena que atrai, todo domingo, milhares de consumidores. Assim é BH que mistura modernidade com hábitos de cidade do interior. Em sua volta , belas cidades históricas, montanhas e cachoeiras. Quem visita, guarda uma lembrança para sempre na memória. Esqueça o estresse, respire fundo, e comece a visitar todas as ruas da cidade a pé. O tutu de feijão com torresmo ajuda a restaurar energia para subir e descer ladeiras. A tranquilidade reina absoluta pelas bucólicas ruas onde centenas de bares e restaurantes estão espalhados pelas suas ladeiras de pedra.
Vamos conhecer um pouco da cidade.
Na região da Pompulha a arquitetura de Oscar Niemeyer que circunda toda a lagoa da Pampulha é maravilhosa. Alí estão o Museu de Arte, a igreja de São Francisco de Assis e a Casa do Baile, todos projetados na década de 40, quando Juscelino Kubitscheck era prefeito de Belo Horizonte e Niemeyer começava sua carreira.
A Igreja São Francisco de Assis, em linhas curvas, em tons azuis, é totalmente revestida por azulejos e painéis de Cândido Portinari, que retratam a Via Sacra e a imagem de São Francisco. Considerada uma das grandes obras de Niemeyer e Portinari, a Igrejinha da Pompulha é emoldurada pela Lagoa e pelos belos jardins de Burle Marx.
Já a Casa do Baile abriga o Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design, com eventos e exposições sobre o tema. O Museu de Arte da Pompulha foi o primeiro projeto de Niemeyer, influenciado por Le Corbusier.
Tem ainda o Museu de Ciências Morfológicas UFMG, o Parque Ecológico da Pompulha, Memorial da Imigração Japonesa, Museu de História Natural e Jardim Botânico. A Igreja São José (Centro) tem a forma de uma perfeita cruz latina..
Os botequins é outra tradição entre os mineiros. Eles estão em toda esquina. O bar do Antônio serve petiscos deliciosos, o Marilton´s (Santa Tereza) tem música ao vivo, e do Vila Cristina (Santo Antônio) tem a maior carta de cachaça da capital (são mais de 600 rótulos), o Haus Munchin é especializado em cervejas, entre outros. Quem gosta de pratos exóticos, o Amigo do Rei (único restaurante iraniano da América do Sul) é o preferido. Comida francesa está no Taste Vin, comida japonesa é no Udon, e a pizzaria Tavola tem boa massa.

No circuito cultural vale dar uma conferida no Museu Giramundo com um arquivo de marionetes. O Centro de Artesanato Mineiro (no Palácio das Artes) comemora 40 anos com exposição dos mestres da madeira. Vai dos cenários rurais e suas esculturas primitivas aos santuários mais sofisticados, numa viagem por caminhos que estão sempre a nos surpreender e emocionar.
Já o Museu de Artes e Oficios (na Praça da Estação) mostra mais de 2 mil peças dos séculos 18 ao 20, com acervo de objetos utilizados no início das mais variadas profissões, onde se pode entender toda a riqueza e a evolução do trabalho. Inaugurado em 2005, é o primeiro e único museu da América Latina dedicado integralmente ao tema.
A Feira de Arte
e Artesanato da Afonso Pena é um dos principais atrativos turísticos da cidade. A riqueza e diversidade dos trabalhos expostos é um sucesso, atraindo pessoas de todo o país; Acontece todos os domingos e reúne cerca de três mil expositores. A Feira de Flores e Plantas Naturais é programa tradicional nas sextas-feiras na Avenida Bernardo Monteiro com mais de 50 expositores oferecendo flores e plantas vindas diretamente do produtor.
O Mercado Central é a síntese de Minas, reunindo toda a produção do interior, seus hábitos e cultura.
Por seu cuidado com o paisagismo, Belo Horizonte já foi chamada de Cidade Jardim. Uma boa mostra do estilo arquitetônico e paisagístico da cidade está na Praça da Liberdade. Que mistura alguns estilos, em meio a belíssimos jardins
No Palácio das Artes está exposta o trabalho Tramas e Arte: Interfaces. Trata-se do Projeto Fred que leva sonhos, movimentos e interação para a vida de muitas famílias carentes da Região Metropolitana de BH. As atividades promovem geração de renda e contribuem para o resgate da auto-estima de seus alunos.
Se o povo mineiro não tem o mar para contemplar, ele tem, serras e montanhas e o verde intenso para admirar.
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Nesta quarta-feira, dia 28, a partir das 17h, estarei no Auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Barris) ministrando uma palestra sobre "Bahia, um estado d´alma", encerrando o debate e análise Conversando com a sua História. O evento é promovido pela Fundação Pedro Calmon.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

26 outubro 2009

Conhecendo Beagá (1)

Com intuito de conhecer de perto o 6º Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) que aconteceu de 06 a 12 de outubro, no Palácio das Artes e Parque Municipal, aproveitei meus dias de férias e fui com o amigo Odemar Alves para Beagá. Chegamos no domingo pela manhã, dia 04 de outubro e já entramos no clima da Feira Hippie, em pleno centro da cidade. Uma olhada aqui, outra ali e conhecemos a arte popular do mineiro. Criativo, poético, original. Tudo transformado, desde uma simples caixa de fósforo até uma lata velha.

Em seguida fomos conhecer o Parque Municipal, respirar o verde, recuperar a energia de tanto bate perna. Porque andamos muito. É isso, conhecer outra gente e se misturar entre eles. O jornalista Walterson Sardenberg, recordista em milhagem, escreveu certa vez: “Viajantes se misturam. Turistas misturam tudo”. Já o cineasta italiano Bernardo Bertolucci (em O Céu que nos Protege) disse que turistas querem sempre voltar para casa, enquanto viajantes podem nem voltar.
E lá vamos nós ao Mercado Central. Odemar comparou ao nosso Mercado Modelo onde as pessoas compravam e beliscavam petiscos ao sabor das cervejas geladas. E haja paletada. Frutas cristalinas, verduras, peixes, uma variedade enorme de queijo, venda de raízes, sementes para os apaixonados do verde. Odemar foi fundo e andou procurando panelas de pedra-sabão. Soube que na cidade de Ouro Preto havia muito mais. E fomos passear, no dia seguinte, nessa antiga localidade. À noite do domingo ficamos sabendo da morte de Mercedes Sosa, essa guerreira latino americana que cantou e encantou sua região.
Segunda-feira, dia 05, foi a vez de conhecer Ouro Preto, sua tradição e cultura. Encravada nas serras, subimos e descemos ladeiras, andamos de montão como diz o povo de lá. Haja fôlego. A cidade tem ótimo clima e é uma diversão para quem gosta de andar, queimar calorias. As casas antigas, todas bem conservadas, o povo muito hospitaleiro e a comida caseira da região é uma delícia. Estranho que tenha andado tanto pela cidade e não vi uma livraria, só lojas de objetos antigos, artesanato, etc. Depois fomos para o distrito de Cachoeiro do Campo para comprar as “benditas” panelas de pedra sabão, tão desejadas pelo artesão e gastrônomo Odemar Alves. De volta a Belô, o descanso merecido, mas antes desfrutamos do doce de leite na palha com ameixa e goiaba em tablete, delícias de Araxás. Maravilha é pouco para comentar tais sabores....

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Nesta quarta-feira, dia 28, a partir das 17h, estarei no Auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Barris) ministrando uma palestra sobre "Bahia, um estado d´alma", encerrando o debate e análise Conversando com a sua História. O evento é promovido pela Fundação Pedro Calmon.
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23 outubro 2009

Zéfiro colecionou muitas definições

Artista clandestino, desenhista lascivo, sacana naïf, lenda. Carlos Zéfiro colecionou muitas definições durante o período em que alimentou os sonhos eróticos de milhares de adolescentes, entre as décadas de 50 e 70. Para uns, os desenhos de traços simplórios de Zéfiro eram nada mais que perversão e projeções de uma mente doentia. Para outros, arte underground, "cult" total. Essa é a opinião, por exemplo, da cantora Marisa Monte, que ilustrou o encarte do CD "Barulhinho Bom" com desenhos de Zéfiro (que foram proibidos nos Estados Unidos). Contudo, poucas pessoas admiram tanto ou se dedicaram a conhecer a obra do artista como o pesquisador luso-amazonense Joaquim Marinho, colecionador voraz dos trabalhos de Zéfiro. A arte de Carlos Zéfiro, esse "fantasma com nome e sabor parnasiano", na definição de Marinho, escandalizava pais extremados e satisfazia seus filhos pelo simples fato de representar o sexo da forma menos convencional, sem limites ou meias palavras. Resumindo: eram sacanagem na forma mais pura.

Para Marinho, as histórias de Zéfiro foram a primeira informação sexual dos leitores, pois, além de custarem pouco, eram vendidas na banca da esquina. "Elas tiveram uma influência brutal na formação sexual dessa geração", analisa o pesquisador. "Com a rebordosa de 64, proibiram e apreenderam as revistas porque acharam que eram uma forma de aniquilar a juventude, uma perversão."
Na opinião do jornalista Sérgio Augusto, que também já andou dissecando a obra de Zéfiro anos atrás, o artista é, sem dúvida, o inventor do "gibi pornô underground". "As revistinhas eram compradas sorrateiramente, como todos os pecados. Tinham aspecto tão modesto quanto as primeiras e também clandestinas edições dos contos de Dalton Trevisan, de quem, aliás, Zéfiro sempre me pareceu uma espécie de primo espiritual", afirma Sérgio Augusto. Na análise do jornalista, a "grosseria" da pornografia de Zéfiro, que despertava o mais profundo ódio nas feministas, trata-se nada mais que coerência ao espírito das histórias em quadrinhos, por natureza "uma arte sem punhos rendados".
"A rigor, a única diferença entre uma história de Zéfiro e uma fotonovela é que na dele os personagens consumam aquilo que apenas passa pela cabeça dos protagonistas da fotonovela", observa Augusto. "Zéfiro é, no mínimo, menos hipócrita". Carlos Zéfiro interrompeu a produção de histórias em 1968, temendo a perseguição do regime militar. Na época, ele ainda enfrentava a concorrência das revistas pornográficas dinamarquesas, cujas fotos faziam os desenho de Zéfiro parecer um conto de fadas.
LINGUAGEM - Eminentemente didáticas e representando o pensamento médio do brasileiro da época (talvez aí uma das explicações do seu incrível sucesso), eram portadoras de um linguajar próprio que influenciou pelo menos três gerações, além de ensinar importamentos e posições sexuais que o adolescente, sem nenhuma informação, jamais poderia imaginar. E, com todas as deficiências e preconceitos, preparava-o para enfrentar situações semelhantes na vida real. As revistinhas eram motivo para intermináveis masturbações, não raro vinculadas a um certo complexo de culpa. Sobre os masturbadores pairavam todos os tipos de ameaças, indo do insólito nascimento de pêlos nas mãos prazerosas, até tuberculose, miolo mole e morte. Por isso, depois de algum tempo, o pecador costumava rasgar os exemplares e poucos chegavam a formar uma bíblia.
Para melhor compreender o fenômeno, é fundamental transportar à época em que esses quadrinhos foram produzidos, com governos autoritários e conservadores, bem como forte influência da Igreja Católica no comportamento da juventude. Naqueles tempos, onde a pornografia era proibida por lei e tudo tinha sabor de descoberta, representações visuais e explícitas do sexo eram praticamente inexistentes no Brasil, fazendo com que os adolescentes aliviassem suas tensões com compêndios de medicina, imagens de tribos indígenas ou quando muito com alguns romances mais picantes de Jorge Amado. As "casas de luz vermelha" eram verdadeiras instituições, onde o garoto era levado pelo pai para "ter sua primeira vez", no que era auxiliado pela prostituta, profissional e expert que lhe daria todo o suporte e conhecimentos básicos para não fazer feio na lua-de-mel, já que a noiva do cliente era "moça de família" e nunca transaria antes do casamento. Embora a "moral" e os "bons costumes" já fossem verdadeiras piadas, as pessoas ainda fingiam levá-los a sério, e em meio a este cenário deveras bizarro, a obra zefiriana surtiu como uma bomba atômica.
CLANDESTINA - No início dos anos 50, período em que, de maneira repentina e misteriosa, um novo tipo de publicação começou a ser editada: os catecismos – gibis de 32 páginas em formato pocket, com histórias sacanas recheadas de sexo explícito eram impressas de modo rudimentar e em papel da pior qualidade. Confeccionados no Rio de Janeiro e escoados pelo Brasil inteiro a partir de São Paulo, esses quadrinhos eram encontrados de forma clandestina nos mais diversos pontos de venda, tais como padarias, botequins e bilheterias de pequenos cinemas. Contudo, o local onde mais abundavam era nos jornaleiros, responsáveis por um verdadeiro ritual na venda destas relíquias: o leitor deveria comprar um jornal ou uma revista "séria", que por sua vez serviria apenas para esconder entre suas páginas a mercadoria ilegal.

A origem do termo é nebulosa, mas segundo a lenda era muito comum os jovens camuflarem essas HQs também dentro de livros religiosos, daí o nome de catecismo. Assim, convencionou-se que uma coleção de 12 exemplares constituía um "testamento", enquanto 24 deles formavam uma "Bíblia". Para desespero dos pais, padres e professores, em pouco tempo os catecismos se tornaram uma febre entre o público masculino, rodando de mão em mão e dando início à vida sexual de toda uma geração.
CHARME - Vários foram os artistas que se dedicaram a estas publicações, mas devido à peculiaridade de seu trabalho e ao fato de ser o mais prolífico de todos, Zéfiro foi o único que se destacou, angariando uma legião de fãs e imitadores. Como desenhista, era medíocre: faltava-lhe conhecimento de anatomia, as imagens eram visivelmente decalcadas de outras fontes e, de um quadrinho para o outro, os personagens costumavam sofrer mudanças físicas inexplicáveis. Todavia, estes desenhos toscos tinham um charme especial e eram cheios de estilo, bastando uma rápida passada de olhos para reconhecer o autor, que supria as deficiências de seu traço com textos envolventes e ótimos roteiros.
Apesar de terem atravessado com êxito a década de 60, os catecismos fraquejaram nos anos 70, quando começaram a pintar por aqui as primeiras fotonovelas pornográficas, contrabandeadas diretamente da Europa. Muito mais baratas e com cenas reais de sexo, em pouco tempo elas aniquilaram o concorrente desenhado, mas o estrago já estava feito: as pessoas não eram mais as mesmas e muitos antigos leitores, no embalo da cena underground americana e influenciados pelos gibis de sexo que escondiam da mãe, passaram a fazer seus próprios quadrinhos, desta vez marcados por um forte cunho político.
BÍBLIA - Para que não sabe, cada exemplar da revistinha era conhecido como catecismo. A coleção de 12 catecismos encadernados formavam um testamento. A primeira coleção recebia a denominação de velho e uma segunda de novo testamento. E, finalmente, quem possuía 24 histórias encadernadas num mesmo volume dispunha de uma invejável bíblia. Entre os vários desenhistas das revistinhas de sacana , pelo menos um se destacou dos demais pela qualidade das estórias, pela e,patia com a mentalidade do leitor, a moralidade vigente e, sem dúvida, pela originalidade: Carlos Zéfiro.
As revistinhas de Zéfiro marcaram várias gerações e começou a sair do campo proibitivo e a ganhar status na área da sociologia. Duas obras regataram Zéfiro do mundo da subliteratura: O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, uma análise de Otacílio d´Assunção, e A Arte Sacana de Carlos Zéfiro, edição organizada por Joaquim Marinho com textos de Roberto da Matta, Sérgio Augusto e Domingos Damasi.
DESVENDADO - A verdadeira identidade do desenhista e escritor dos famosos Catecismos, as HQs eróticas que fizeram jorrar o esperma dos adolescentes brasileiros dos anos 60 e 70, foi um enigma por três décadas, até ser desvendado em uma reportagem da versão nacional da Playboy, em novembro de 1991. Os catecismos brasileiros devem muito a outro produto supostamente também feito no México: as Bíblias Tijuaninas ou, como são muito mais conhecidas, as Tijuana Bibles. Provavelmente essas HQs eróticas não eram mexicanas coisa nenhuma, o apelido pegou devido ao aviso que elas traziam na capa, "printed in Tijuana" fazendo referência a uma cidade industrial do noroeste do México, na fronteira com os EUA. O mais certo é que esse aviso era uma forma de tentar driblar as leis puritanas em vigor nos Estados Unidos, mas a suposta origem alienígena só fazia aumentar o mistério sobre aquele legítimo produto marca diabo.
Seja como for, mexicanas ou americanas, as Tijuana Bibles apareceram em solo ianque no final dos anos 20, atingiram o auge durante o tempo da Grande Depressão dos anos 30 e 40, e sumiram na década de 50 (ou seja, a decadência veio 10 anos antes do surgimento de Zéfiro no Brasil). Nos EUA, a decadência das Tijuana Bibles coincidiu com o início do processo de Revolução Sexual, em meados dos anos 50, com o marco que representou a criação da revista Playboy. Já os catecismos de Zéfiro começaram a rarear nos anos que antecederam a abertura política no Brasil, entre o fim dos anos 70 e início da década seguinte, quando os militares voltaram aos quartéis, permitiram o surgimento de um presidente civil e abriram espaço para eleições diretas.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

22 outubro 2009

Carlos Zéfiro, um mito do quadrinho erótico brasileiro (4)

Dos anos 50 até a década de 1960 circularam clandestinamente, por todo o Brasil, os chamados catecismos, pequenas revistas de 32 páginas que cabiam no bolso e contavam histórias de sacanagem. O principal autor desse gênero, e também o melhor, assinava como Carlos Zéfiro e durante mais de trinta anos sua identidade foi mantida em mais absoluto segredo. As cobiçadas histórias em quadrinhos de cunho erótico que ficaram conhecidas por "revistinhas" ou "catecismos", fizeram a cabeça e as fantasias sexuais dos adolescentes dos anos 50 e 60. Os "catecismos" eram desenhados diretamente sobre papel vegetal, eliminando assim a necessidade do fotolito, e impresso em diferentes gráficas em diferentes Estados, gerando, inclusive, diversos imitadores.

O pacato funcionário do Departamento Nacional de Imigração, de nome Alcides Caminha, realizava, nas horas vagas, diversos desenhos quando um colega lhe apareceu com duas revistinhas italianas e, sabendo do talento do amigo para o desenho, lhe pediu que ampliasse os desenhos. Alcides tomou gosto pela coisa, e a partir daí passou a criar suas próprias histórias, utilizando-se diversas vezes do artifício de copiar desenhos e posições de outras revistas e fotonovelas eróticas. Temendo perder o emprego - e, depois de aposentado, sua humilde pensão - caso se envolvesse em escândalos (em função da antiga Lei 7.967, que regia o funcionalismo público), Alcides adotou o nome fictício de Carlos Zéfiro, e passou a produzir inúmeras historinhas na clandestinidade.

Alcides também tinha dotes musicais: amigo de Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho, compôs quatro sambas com o último, entre eles o clássico "A Flor e o Espinho". Mas foi mesmo com sua identidade secreta que Caminha conheceu o sucesso, mesmo que sem retorno financeiro. Ele iluminou o imaginário libidinoso do contido e conservador Brasil das décadas de 50 a 70. Um artista de desenhos toscos e sem técnica que foi durante anos a fio tachado de pornográfico, e manteve-se na clandestinidade até os setenta anos, quando sua identidade foi finalmente revelada.
Durante quase toda a década de 60 essa era praticamente a única literatura visual erótico-pornográfica disponível, já que ainda não havia revistas de mulher nua (a não ser a Playboy americana importada) nem vídeos-pornô. A decadência dos catecismos ocorreu porque começaram a aparecer revistas de fotonovelas suecas e dinamarquesas coloridas e o interesse do público se desviou. Outro motivo era a paranóia gerada pela ditadura militar brasileira, então no seu auge. Hélio Brandão chegou a ser preso em meados da década de 70 (durante a Copa do Mundo) e passou alguns dias na cadeia, mas nunca entregou a verdadeira identidade de Zéfiro. Depois disso, resolveu parar com a editora clandestina, pois estava tendo mais dor de cabeça do que qualquer outra coisa. As vendas tinham caído, era difícil arranjar os esquemas de impressão e distribuição devido à vigilância e paranóia que se intensificavam, e simplesmente pararam.
Inspirados nos notórios Tijuana Bibles publicados nos EUA nas décadas de 30 e 40, esses gibis quase artesanais eram distribuídos através de uma ampla rede clandestina que cobria todo o país e fizeram enorme sucesso. Naqueles tempos, não havia revistas eróticas vendidas livremente como hoje. Todas eram clandestinas. Elas eram vendidas por baixo do pano, de mão em mão e também nas bancas normais, só que às escondidas. Para comprar os catecismos era necessário ser da confiança do jornaleiro.
Carlos Zéfiro (o mestre dos quadrinhos pornôs brasileiros) soube como ninguém retratar o sexo como ele o é na vida real, sem falsos pudores, sem hipocrisia, com tesão, com poesia, não respeitando nenhum tabu e desvendando-nos todas as fantasias. Ele dizia-se honrado por fazer parte da história do Brasil. Mas não se importa muito. Afinal, "tudo na vida é muito efêmero. Hoje se está no apogeu, amanhã no ostracismo".
Em 1970, durante a ditadura militar, foi realizada em Brasília uma investigação para descobrir o autor daquelas obras pornográficas que chegou a prender por três dias o editor Hélio Brandão, amigo do artista, mas que terminou inconclusa. Em 1992 recebeu o prêmio HQMix, pela importância de sua obra. Após sua morte teve um trabalho publicado como homenagem póstuma em 1997 na capa e no encarte do cd "Barulhinho Bom" da cantora Marisa Monte.
Utilizando uma linguagem chula, Zéfiro permeou todo o imaginário popular. Por suas páginas, desfilaram as grandes musas da garotada: viúvas sedentas, desquitadas carentes, padres devassos, freiras pecaminosas, refletindo a realidade provinciana e reprimida do nosso velho Brasil. “Acho que ele foi o único artista de quadrinhos que possuiu um substrato popular. Seu estilo era genial. E inconfundível. Sua narração era muito bem conduzida, de uma forma que jamais vi novamente, mesmo nas revistas internacionais”, declarou o desenhista Luis Gê. Octacílio D´Assumpção, autor de “O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro” declarou que Zéfiro desconhecia a dimensão de seu trabalho: “Ele nunca teve a consciência de sua importância. Sempre foi muito simples!”.
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21 outubro 2009

Carlos Zéfiro, um mito do quadrinho erótico brasileiro (3)

O homem que se escondeu durante trinta anos por trás do pseudônimo de Carlos Zéfiro era Alcides Aguiar Caminha. Alcides era funcionário público (e compositor nas horas vagas, sendo co-autor de A Flor e o Espinho, de parceria com Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito). Ele desenhava os catecismos como um biscate para complementar o orçamento. Começou meio de brincadeira. Estimulado pelo amigo Hélio Brandão (também já falecido), dono de um sebo na Praça Tiradentes (Rio de Janeiro), Alcides produziu os primeiros catecismos, no final dos anos 50. Hélio se encarregava de providenciar a impressão e distribuição clandestinas dos catecismos, que chegaram a te mais de 2 mil edições diferentes (sendo cerca de 800 produzidas por Carlos Zéfiro).

O mistério sobre a identidade de Zéfiro durou muitos anos, pois o segredo foi muito bem guardado. O medo maior de Alcides era que, se fosse descoberto, poderia ser demitido por justa causa do serviço público. Somente em 1991 ele topou revelar sua identidade, e mesmo assim por uma circunstância estranha. Sabendo que um outro colega seu, o desenhista Eduardo Barbosa, estava dando uma entrevista para a revista Playboy se dizendo o verdadeiro Zéfiro, Alcides decidiu "se entregar" e desmascarar a farsa. Na realidade, Eduardo Barbosa desenhou vários catecismos, mas ele não era Zéfiro. Essa revelação coincidiu com a I Bienal de Quadrinhos, em novembro de 1991, quando foi realizada uma homenagem a Alcides e sua identidade veio a público. Nesse pouco tempo de vida que lhe restava, Alcides teve a justa homenagem e reconhecimento por seu trabalho. Alcides morreu em 3 de julho de 1992, de derrame, um dia após de ter sido homenageado com banda de música e tudo numa solenidade onde recebeu um troféu HQ-MIX.
Outro autor que se destacou nesse período assinava Chang, mas não era tão conhecido mas nem é mais lembrado. Muitos desenhistas de quadrinhos profissionais também disfarçaram seus traços e produziram catecismos, publicados no mesmo esquema por outras "editoras" clandestinas. Os melhores eram os produzidos por Carlos Zéfiro que, apesar das deficiências do traço, escrevi as melhores histórias. A história de um catecismo padrão geralmente começava, nas primeiras páginas, o personagem conhecendo uma moça, seduzindo-a mais ou menos até a página 15, e daí até a página 32 era sacanagem pura.
O curioso é que Zéfiro não era desenhista, mas sabia manipular os materiais de desenho, e era capaz de fazer uma história de quadrinhos decalcando, em papel vegetal , posições de revistas de fotonovelas e de revistas publicadas pela Editormex (onde baseou o seu estilo) e fotos eróticas fornecidas por Hélio. Por isso, a irregularidade entre os desenhos de uma mesma história é muito grande, pois quando não havia referências para decalcar os desenhos ficavam toscos. Ainda asim, comunicavam muito e eram uma verdadeira febre entre adolescentes e adultos daquela época.
CLANDESTINO
"De fato, vendido de modo clandestino, produzido de forma artesanal, desenhado com técnicas bisonhas e relatando histórias que tinham (e ainda têm) um enorme apelo, os livrinhos de Zéfiro faziam a ponte perfeita entre as conversas na roda de amigos e aquilo que se suspeitava que ocorria nas alcovas. Quer dizer: os livros de sacanagem apresentavam um pouco essa possibilidade de ter o sexo e a sexualidade como algo destacado e individualizado, alguma coisa que poderia ser vista quando se desejava e que era guardada numa gaveta e não na igreja, prostíbulo ou quarto de dormir como era o caso do sexo da vida real. Neste sentido, é também claro que parte do sucesso desta literatura estava precisamente no seu desenho igualmente ambíguo que, aliado a uma reprodução gráfica deficiente, criava uma impressão estranha, exótica. Uma impressão, enfim, de desfamiliarização que era precisamente o máximo que esse gênero de narrativa poderia esperar!", escreveu Roberto DaMatta em “Para uma teoria da sacanagem: uma reflexão sobre a obra de Carlos Zéfiro” (A Arte sacana de Carlos Zéfiro. Marco Zero, 1983).
"Um importante elemento nessas narrativas é seu traço simples, descritivo, limitado a um mínimo de recursos plásticos, como se estivesse restrito a apresentar o referente (acontecimentos eróticos) de forma imediata. Em vez de índice de erotismo ingênuo, parece-me que essa simplicidade é uma forma de integrar o leitor no universo desenhado, onde ele se localiza como personagem de aventuras similares ou Autor de desenhos com mesmo teor. Esse componente erótico se fez de forma direta e rápida, que não dispensou rituais de desnudamento, exibição e contemplação (o último passo exigia a inclusão do leitor). Seu universo masculino de leitura não dispensou uma cuidadosa ênfase em aspectos didáticos da sexualidade - como iniciar uma abordagem, quais as etapas de excitação a serem percorridas - visando ao prazer masculino, sem desprezar minimamente seu correspondente feminino" informou Marcos Antonio da Silva no artigo “Outros homens e mulheres” (Prazer e poder do amigo da onça: 1943-1962. Paz e Terra, 1989)
Carlos Zéfiro nunca foi esquecido e volta e meia seu nome vem à tona. Uma lona cultural em Anchieta (subúrbio do Rio de Janeiro/RJ) tem o seu nome. A cantora Marisa Monte, em seu CD Barulhinho Bom, usou desenhos de Zéfiro para ilustrar a capa e o folder do CD. As histórias de Zéfiro têm sido reeditadas em edições fac-similares no mesmo formato original. Na Internet é possível se encontrar muitas histórias de Zéfiro compiladas no site www.carloszefiro.com, mantido sem fins lucrativos por um fã.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

20 outubro 2009

Carlos Zéfiro, um mito do quadrinho erótico brasileiro (2)

“Zéfiro educou o brasileiro para o sexo. Pré Marta Suplicy, pré Sue Johanson, ele já avisava, sem retórica, apenas com sua caneta dura, direto ao ponto G, que entre quatro parede valia tudo. E que era bom, e que não era pecado, e que ninguém tinha nada a ver com isso. Cada um dava o que lhe aprouvesse. Sem julgamento moral e sem necessidade de casar depois”, escreve Joaquim.

Em texto publicado no livro A Arte Sacana de Carlos Zéfiro, organizado pelo colecionador Joaquim Marinho em 1983, o antropólogo Roberto da Matta chama atenção para a “sacanagem” dos quadrinhos de Zéfiro como uma expressão legítima da nossa sociedade. “Do mesmo modo que a sociedade se expressa pela arte, pela política e pelo esporte, ela também se manifesta pelas formas padronizadas de sua sexualidade. No caso brasileiro, a discussão do sexo sempre ficou situada naquela esfera ambígua da alcova e das rodas dos grupos formados por companheiros do mesmo sexo”, escreve Roberto. “A enorme popularidade de Zéfiro, junto com sua incrível penetração em todas as classes sociais, são dados reveladores de que estamos diante de padrões sexuais dominantes”.
Segundo Matta, a atração que os catecismos de Zéfiro exercem é dada pela capacidade de formular as grandes questões da paixão humana de forma reduzida. “Numa escala pequena e com uma alta dose de irreverência e prazer. Dir-se-ia, brasileiramente, de forma impagavelmente sacana e malandra. Creio que é por ter passado o sexo pela sacanagem que Carlos Zéfiro virou uma espécie de Spartacus do mundo sexual brasileiro. Pois quando a repressão grita desesperada: quem é afinal Zéfiro?. Todos nós respondemos em coro, com aquela convicção formidável: Zéfiro somos todos nós...”.
O cineasta Silvio Tendler estava interessado em fazer um documentário sobre a vida e obra de Carlos Zéfiro. A cantora Marisa Monte estampou na capa do disco Barulhinho Bom o desenho dileto de Zéfiro. E o sociólogo Betinho pediu a familia para usar um desenho na campanha contra a fome. Nos catecismos de Zéfiro o traço rude, linguagem crua e orgasmo garantido. Os vilões não apelam para a violência, apenas brocham.
O jornalista Sérgio Augusto em artigo publicado no livro A Arte Sacana de Carlos Zéfiro informou que os quadrinhos de Zéfiro seriam olhados por outro viés se estivessem acomodados num museu sob a rúbrica de erótica. Por conta do segredo em torno da identidade de Zéfiro, Gilberto Freire, Aldemir Martins e alguns medalhões das letras e das artes plásticas chegaram ser cotados como o verdadeiro autor dos quadrinhos pornográficos que “educaram” esse imaginário sexual do Brasil em meados do século XX.
À TONA
Quando o verdadeiro Zéfiro veio à tona, ficou se sabendo que seu maior receio era uma lei que rege o funcionalismo público e que prevê suspensão do pagamento da aposentadoria ao ex-funcionário que foi objeto de escândalo. Mas Caminha não conviveu com esse fantasma por muito tempo. Poucos meses depois da entrevista ao jornalista Juca Kfouri, Zéfiro faleceu, em julho de 1994, aos 71 anos.
Apesar do burburinho que cercou a entrevista publicada na revista Playboy por Juca Kfouri que fez o mito Carlos Zéfiro sair do anonimato, a revelação não ajudou a resgatar do ostracismo os “catecismos” de Zéfiro (nome que as revistinhas recebiam pelo seu formato de bolso, semelhante ao das publicações de iniciação católica). Desde o final dos anos 80, quando Zéfiro deu o ponto final à sua produção por conta de um problema de vista, seus quadrinhos praticamente sumiram das bancas e passaram a ser disputados por colecionadores.
Mesmo assim, os catecismos sobreviveram, em menor escala, pois reimpressões piratas continuaram a circular. Até a década de 80 (já quando houve a abertura política) era possível se conseguir comprar as reedições piratas em feiras populares. Em meados da década de 80 houve um revival de Carlos Zéfiro, que voltou à mídia quando sua obra foi dissecada em livros como O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, escrito por Ota (assinando com seu verdadeiro nome Otacílio d'Assunção) e publicado em 1984 pela Record, que teve 4 edições, porém atualmente está fora de catálogo.
Além do livro escrito por Ota, outros livros similares foram publicados (compilando histórias de Zéfiro e seus congêneres) no mesmo período pela Editora Marco Zero, sob a coordenação do colecionador Joaquim Marinho, bem como uma revista Zéfiro que durou uma única edição, lançada pela Codecri.

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19 outubro 2009

Carlos Zéfiro, um mito do quadrinho erótico brasileiro (1)

Dependendo da sua idade e grau de interesse por histórias em quadrinhos, é bem provável que você nunca tenha ouvido falar em Carlos Zéfiro. Entretanto, são enormes as chances de seu pai ou seu avô conhecerem a obra deste lendário artista brasileiro, e mais do que isso, de terem se masturbado pela primeira vez enquanto liam algum de seus gibis. Zéfiro indiscutivelmente foi o mestre supremo das HQs pornográficas tupiniquins, mas por vezes chega a ser difícil para jovens acostumados às liberdades do século XXI entenderem o porquê de toda a importância que lhe é atribuída.

Durante mais de quatro décadas ele foi uma das lendas mais intrigantes no mundo dos quadrinhos brasileiros. Em 1991 a revista Playboy fez o mito sair do anonimato. Carlos Zéfiro era o pseudônimo de Alcides de Aguiar Caminha, um discreto funcionário público carioca cujo currículo, além das cerca de 800 historinhas pornográficas escritas entre o final dos anos 40 e os anos 80, também ostentava alguns dos maiores clássicos do samba brasileiro – a maior parte dos quais composto em parceia com Nelson Cavaquinho.


Alcides Aguiar Caminha (1921-1992) era o nome do carioca que se escondia sob o pseudônimo de Zéfiro para publicar as revistinhas que fizeram a alegria dos adolescentes das décadas de 1950 e 1960. Somente um ano antes de sua morte é que foi revelada sua verdadeira identidade. Numa entrevista, ele disse que se escondia devido à Lei Federal nº 7.967, já extinta, que regia o funcionalismo público. “Eu perderia o emprego se me envolvesse em escândalos. Fazia este trabalho clandestinamente”, disse ele. O pacato funcionário do Departamento Nacional de Imigração, no Ministério do Trabalho, era também o autor das picantes histórias em quadrinhos com close em atos sexuais. “Na obra dele podia tudo: irmão com irmã, padre com beata, homossexuais. Acho que o que mais atrai é a simplicidade e a falta de preconceito. Era transgressor

na época e continua sendo”, diz Adda Di Guimarães da editora A Cena Muda, mesmo nome da banca carioca de revistas antigas.

Para o chargista Chico Caruso, 55 anos, “os desenhos eram eficientes, pois passavam erotismo com poucos recursos”. Chico lia as edições emprestadas por colegas de rua, em São Paulo. “Fazia a gente até perder a respiração. Era emocionante.” O desenhista Miguel Paiva, 55 anos, chegou a escrever um argumento de filme baseado em Zéfiro, que entregou ao cineasta Sílvio Tendler. “Fui um grande consumidor. Essas revistinhas tinham enorme rotatividade entre os garotos. A gente se masturbava com Zéfiro e fotonovelas italianas”, relembra ele. Mas por que eram chamadas de catecismo? Em entrevista dada no ano de sua morte, Caminha disse: “Nasceu em São Paulo, mas até hoje eu não sei por que os paulistas deram esse nome.”

CATECISMO

As célebres revistinhas recebiam o nome de “catecismos” pelo seu formato de bolso, semelhante ao das publicações de iniciação católica. Desde o final dos anos 80, quando Zéfiro deu o ponto final à sua produção por conta de um problema de vista, seus quadrinhos praticamente sumiram das bancas e passaram a ser disputados por saudosistas e colecionadores. Esse fato chamou a atenção da empresária Adda Guimarães, proprietária da banca A Cena Muda, no Rio de Janeiro especializada em edições raras. Desde março de 2005 os catecismos estão sendo republicados quinzenalmente em edições de até três mil exemplares. Todos no formato de bolso e com 32 páginas, o mesmo das edições feitas por Zéfiro. Serão lançados os 862 catecismos cuja autoria foi comprovada. As revistas têm projeto gráfico do designer Felipe Taborda, e apresentação do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos.

Os catecismos eram vendidos clandestinamente em locais como barbearias e bancas de jornal. O formato fino das revistinhas facilitava a ocultação, sendo escondido em livros, cadernos e principalmente em outras revistas que eram compradas exclusivamente com este propósito, para a felicidade dos jornaleiros que sempre lucravam em dobro. As histórias de Carlos Zéfiro, na maioria das vezes, apresentavam mulheres e homens fogosos e viris. De vez em quando aparecia um jumento aqui, um corcunda ali, mas estes eram exceção à regra. Curiosamente, sua historinha mais vendida, a hilária "Aventura de João Cavalo" trazia como protagonista um nordestino atarracado e feioso que, digamos, possuía um dote peculiar que compensava sua falta de beleza e justificava tal denominação.

As revistinhas de Carlos Zéfiro eram um sucesso entre os adolescentes cheio de espinhas e tesão, encontrando público também entre os homens de outras faixas etárias. E coitado de quem desse mole de ser flagrado portando uma dessas obscenidades por aí: consideradas como uma total imoralidade pelas tradicionais famílias católicas da época, os catecismos também sofriam a fúria impiedosa das feministas, que se consideravam reduzidas à condição de reles prostitutas em suas histórias. Com todo esse arsenal moral apontado para sua cabeça, Alcides achou melhor manter sua identidade em segredo, mesmo depois de ter interrompido seus trabalhos em 1968, temendo a perseguição do regime militar, além de enfrentar dura concorrência das famosas revistinhas dinamarquesas e suecas, que traziam fotonovelas de sacanagem a cores, com closes de genitálias que não eram páreo para sua humilde "sacanarte".
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02 outubro 2009

Poesia, poesia, poesia para melhorar o dia-a-dia

Tempestade

Tempestade
é o que sinto ao me aproximar de você
quando sinto seu cheiro espalhando no ar
e sua pele a me acariciar.

Tempestade
é quando vejo esse seu pingar
esse balanço de arrepiar
que faz minha pele eriçar.

Tempestade
É sentir seus lábios a me tocar
e o gosto doce desse amar
e seu corpo todo a me dominar.

Tempestade, tempestade, tempestade
sinto como ar.




Estações

Sou seu homem de longas estações
serei verão quando exigires calor
serei inverno quando pedires cobertor
serei primavera quando desejares fragrâncias
serei outono quando quiseres instâncias.

Quero o seu corpo suavemente
no leito ou na natureza crua
amo não só no ímpeto da carne
pois seu nome é meu ato de amor
é o esparmo de que padece o meu sexo
é o vazio quando estás distante
pois estas na minha vida, na minha memória.

Quando de volta a sua loucura com brandura
sua língua que me falava sem som
a descobrir o sabor do sal da minha pele
e com o meu suor arrastou ainda o meu cheiro
sua loucura e a semente mais saudável do meu corpo.

Amo com fervor as grandes estações humanas
amo com o impulso da vida selvagem
essa fome que me leva a deslizar pelo seu corpo quente
e me subornas para que eu me apazigue
mas lhe resgato dos vendavais com paixão
e lhe assusto quando faço da cama o princípio e o fim
você reclama do pecado de viver assim
pecado é a sua boca, o seu jeito, o seu pelo, o seu sexo
a sua testa franzida quando vais gritar de gozo.




Dias

Tem dias que estou melancólico,
chovendo por dentro, chorando por fora.
Tem dias que estou eufórico,
sentindo arrepios e cheirando amora.
Tem dias que estou um arrebento,
virando pelo avesso e curtindo todos os elementos.
Tem dias que me sinto desconhecido,
sofisticado de um lado e do outro sem sentido.
Tem dias que estou muito mais que sereno,
olhando o por do sol no mar de arrebento.


Chuva


Chove em meu interior
Tenho que aprender a acionar meus ímas
No instante desse clima que me faz chover
E a cada segundo, lá no fundo
Emerge uma civilização líquida
Atlântida refeita me espreita
Tudo tão sem por querer
Acho que a vida é assim
Movimento, transformação
Pássaros voando, árvores crescendo
Animais nascendo, rios correndo,
Tudo passando, nada voltando
O tempo todo, uma grande equação
Não pare, não pense, não ouça e nem olhe
Viva a cada segundo essa doce ilusão.




Insight

Há uma linguagem que destoa
Rasga, mela, desidrata e ecoa

Há um corte que sangra e cospe
Esparrama pelo chão em morte.

Há um fragmento que desencadeia
A matéria, a preguiça, tudo esguicha.

Há um corpo que rola, esfola
Espatifando em mil pedaços no espaço.

Há um fogo que chamusca e devora
Meu pensamento lento e sem demora.


Há um apagar de lugar, escuridão
Um silêncio profundo, negação.






A partir de segunda-feira (dia 05) estarei de férias. Serão 15 dias. Volto no dia 19 de outubro quando estarei comentando os quadrinhos de Carlos Zéfiro, Lobo, Chinês Americano e tantos outros temas de interesse geral. Vou fazer uma visita a Bienal Internacional de Quadrinhos em Belo Horizonte e depois me refugiar em Barra de Jacuípe com diversos livros para devorar. Me aguarde, volto com sede de amar...letras, palavras, imagens, e toda esse zum zum zum em nossa volta nas voltas que o mundo dá. Até lá
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01 outubro 2009

Ranxerox, o pós-punk andróide, vai estar entre nós este mês

O italiano Tanino Liberatore vai participar do próximo Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), que será realizado entre 06 e 11 de outubro, em Belo Horizonte (estarei lá). O encontro trará ainda outros artistas. Da Espanha, Juan Díaz Canales. Dos Estados Unidos, Ben Templesmith. Do Canadá, Guy Delisle. Da Alemanha, Jens Harder. A coordenação do FIQ confirmou outros nomes: o desenhista chinês Benjamin, o editor de quadrinhos chineses na França, Patrick Abry, e Eddie Berganza. Brasileiros que atuam no exterior - como Gabriel Bá, Fábio Moon e Ivan Reis - também irão participar do FIQ, que é realizado a cada dois anos. O homenageado desta sexta edição será o brasileiro Renato Canini. Ele criou personagens como Kactus Kid e foi o mais conhecido desenhista brasileiro de Zé Carioca. Nosso foco hoje é para o trabalho de Liberatore

A década era de 80. O italiano Paolo Eleuteri Serpieri mostrou um furacão sexual perdido em mundo pós-apocalítico (Druuna), já o britânico Alan Moore relatou estupro (Watchmen) e aleijou uma personagem (A Piada Mortal). Outro inglês, Grant Morrison insinuou relação homossexual (Asilo Arkhan), mas o hardcore maior ficou com Ranxerox que trazia as aventuras violentas e cheias de sacanagem de um andróide punk e sua companheira adolescente Lubna, em um futuro devastado. Stefano Tamburini e Tanino Liberatore anteciparam o gênero de violência extremada nos quadrinhos dos anos 80 e que predominaria no cinema dos anos 90 influenciando cineastas como Quentin Tarantino (Pulp Fiction) e Oliver Stone (Assassinos por Natureza). Esses italianos levaram às últimas conseqüências sintomas de uma sociedade doente e se revelou profético quando observamos os massacres que ocorrem com freqüência nos Estados Unidos. Há uma profunda crítica a valores sociais e morais nos excessos de Ranxerox. Isso está bem mais claro, hoje, como bem observou o estudioso de quadrinhos, Gonçalo Junior.

PARCERIA - O roteirista Tamburini e o desenhista Liberatore iniciaram parceria em 1977 ao editar uma revista underground Cannibale. Foi aí que eles lançaram um andróide chamado Rank Xerox, o mesmo nome da gigantesca corporação cujas máquinas fotocopiadoras eram uma obsessão de Tamburini. Este era responsável não apenas pelos roteiros, mas também pelo desenho, que antes de ser arte-finalizado era retocado pelos desenhistas mais competentes da revista. As histórias eram em preto & branco, curtas - raramente ultrapassavam as quatro páginas. A empresa homônima descobriu o personagem, e não gostou de ser sua marca sendo associada a um robô pedófilo e boçal. Sob ameaça de processo, Tamburini efetuou uma ligeira modificação - Rank Xerox virou Ranxerox.

Com o término da revista Cannibale, o grupo se envolveu numa outra publicação ainda mais radical: Frigidaire. Ranx continuava sujo, tosco, podre e doentio, e as histórias tornaram-se mais longas. Tamburini largou a arte, encarregando esta função a Liberatore. O desenhista, por sua vez, deixou o preto & branco e inseriu cores nas ilustrações da série. Com traço caricato e realista, Liberatore impregnou o universo do anti-herói com uma identidade visual inconfundível.
Quem desejar folhear as páginas onde foram publicadas o anti-herói vai encontrar sequências ininterruptas de ultraviolência, sexo bizarro e perversidades em geral. O cenário é uma Roma futurista e apocalíptica. Decadência, sordidez, indiferença é o que o leitor vai encontrar no relacionamento humano. E em meio a este verdadeiro caos, dois personagens vivenciam aventuras completamente anárquicas e amorais: Ranxerox, o violento brutamontes que batiza a série, e sua namoradinha Lubna, uma junkie de apenas 12 anos com cara de criança e jeito de dominatrix. Quem já leu o romance “Crash” (mais tarde levado para o cinema por Cronenberg) sabe dessas narrativas trágicas, bizarras de relações entre morte, acidentes de carro, mutilações e prazer sexual. Tudo com muito sarcasmo. As aventuras do pós-punk fizeram sucesso nas revistas como a norte-americana Heavy Metal, a espanhola El Víbora, a francesa L'Echo des Savanes e a brasileira Animal.
Tamburini faleceu, vítima de overdose, aos 31 anos de idade. Liberatore sobreviveu aos caos. Nascido na Itália, estudou Artes Plásticas e mudou-se para Roma, onde cursou Arquitetura. Nos anos 80, publicou trabalhos nas revistas americanas, européias e japonesas. Seus alcançou setores como a televisão, o cinema e até mesmo a música: são de sua autoria a capa do disco de "The Man from Utopia", de Frank Zappa; os figurinos do filme "Asterix e Obelix - Missão Cleópatra", trabalho pelo qual ganhou um César; e inúmeras vinhetas televisivas para emissoras do mundo todo. Hoje em dia, mora na França.
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