29 maio 2013

Na terra das igrejas e dos pecados



Quando os portugueses aqui chegaram, cheios de sarnas, desdentados e podres de não tomar banhos, ficaram maravilhados com todo aquele cenário da natureza. Eles vinham das terras sem males, das terras frias e encontraram um povo bonito e disponível, sexualmente disponível, sem pecado também abaixo do Equador. Pois bem, a epidemia falou mais alto e a mistura de raças aconteceu de bom e mau grado. Naquela época não havia essa coisa de pecado, de proibição aqui em nossas bandas. Quase tudo era permitido. Mas os raivosos jesuítas chegaram e resolveram não só escrever uma gramática tupi como impuseram aquela idéia da ressurreição de Cristo, morte e ressurreição. A idéia, tempos mais tarde (e bote tarde nisso) era vender todo tipo de produto religioso a cada esquina ou ruela da cidade.

Em seguida Tomé de Souza começou a construção de Salvador e nos séculos seguintes transformou Salvador num grande púlpito de igreja. É igreja por tudo quando é lado e um terror violento de pecado. Até o virulento Gregório de Mattos, o Boca do Inferno cantou “Triste Bahia, oh, quão dessemelhante.../estás e estou do nosso antigo estado/pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado/rico te vejo eu, já tu a mim abundante/Triste Bahia, oh, quão dessemelhante/a ti tocou-te a máquina mercante/que em tua larga barra tem entrado/a mim já foi-me trocando e tem trocado/tanto negócio e tanto negociante”. Era assim que o mordaz Gregório via a localidade: dessemelhante, diferente, desigual, injusta nas oportunidades que oferece aos seus filhos. Mudou alguma coisa de lá pra cá?

O nosso quotidiano oferece tantas sugestões eróticas, como nossa mania de falar tocando nas pessoas (e haja toque), o riso fácil (há há há), as roupas sumárias (graças ao verão o ano inteiro como professa a propaganda), nossa despreocupada habilidade de pontuar as frases com palavrões.... O estrangeiro vem triste, buscando algo perdido e, aí no caso, o que está perdido é a sua sexualidade espontânea. Em luto, tem que rir do efeito cômico do gesto obsceno e esquece sua dor. Ensinamos ao estrangeiro triste a nossa técnica de apaziguamento da dor. Terminamos por acreditar que não temos dor, nós mesmo e, como bons fingidores, fazemos o nosso ouvido acreditar que nós não sofremos repressão e que estamos acima do bem e do mal (haja melhoral).

A cor vermelha no início da descoberta de nossas terras vinha da tinta extraída do pau-brasil. E vermelho é o sangue que derramou dos índios em defesa de suas terras. Embora o católico e o  protestante são religiões hoje tranqüilas e pacíficas, nelas existiu o espírito da intolerância, do fanatismo e do assassinato. E se hoje podemos ser levados a crer que o fanatismo é próprio de uma religião particular, o islamismo, na verdade ele aparece em todas as fés monoteístas.

Quando Salvador foi fundada em 1549 a idéia principal do projeto português era torná-la não apenas uma cidade fortaleza, mas o mais importante símbolo do império português nas Américas. Por conta da sua história sociopolítica, a Bahia se transformou num território multifacetado.

A combinação de lentidão, tranquilidade e a sensação de acolhimento e segurança provocada pela natureza local foi um dos principais motivos da escolha deste sítio como sede da capital colonial. Assim Salvador passou a ser porta de passagem, local de troca, de efetivação de contatos e relações, ponto para onde convergia boa parte da produção regional, que daí escoava para outras cidades, estados e países.

E as formas de saudar o sagrado (seja com palavras, ações ou uso de objetos) seja nos rituais católicos ou religiosidade de origem africano, as duas tradições aparecem convivendo ou justapostas. O sincretismo é a grande marca de religiosidade local. A mistura foi um resultado natural da convivência entre duas tradições ricas (a ibérica, católica e a africana com a religião dos orixás nagós). Para muitos o sincretismo foi um recurso que os negros encontraram para salvaguardar suas tradições. A beleza da cidade, do imenso mar azul, das igrejas e sobrados reduziram o estrangeiro. O povo com seus costumes e festas foi outro fator decisivo para eles se estabeleceram aqui. “O tesouro perdido foi encontrado” e “se o mundo é dos que sonham, toda lenda é pura verdade”.

Os hábitos alimentares afro-baianos, o modo de celebrar, a habilidade para a dança e a festa como construtora de identidade, conquistando uma participação expressiva seduziu a todos. Se a motivação é fundamentalmente religiosa  pouco importa, basta seguir o cortejo de Santa Bárbara, atravessar a de Nossa Senhora da Conceição da Praia, Boa Viagem, Bom Jesus dos Navegantes, Lapinha, Bonfim, Ribeira, Rio Vermelho, Itapuã, Pituba até cair no som contagiante do trio elétrico ou no afoxé do Carnaval. É Festa que não acaba mais.

E essa aglomeração de turistas e baianos gera economia para o estado e a roda roda nas mais diversas formas de lucrar com a festa, seja sofisticando os serviços ou mesmo nas atrações musicais. Haja celebração. E é nessa festa carnavalesca que o mundo inverte em direção à alegria, à liberdade, à abundância e à igualdade de todos perante a sociedade. Pura ilusão, quando passa, tudo volta ao que era antes no quartel de Abrantes. A festança é uma catarse da sociedade.

E as práticas lúdicas continuam a movimentar a população numa esquina e ruelas da cidade, seja Pelourinho (Olodum), Candeal (Timbalada) ou Curuzu (Ilê Aiyê). O bom humor, disposição para celebrar com entusiasmo a vida, é uma forma de pensar e encarar os problemas da vida, o jeito baiano de ser. Mas falta ainda a este povo (faixa pobre que é formada pela maior parte da população) acesso à educação, ao mercado formal de trabalho, a condições mínimas de moradia e assistência em saúde. Talvez o maior ensinamento dos baianos é encarar a vida, na capacidade de não ter pressa, de não se aborrecer à toa e de conseguir ser alegre apesar de pobreza. 
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

28 maio 2013

Muitos municípios são conhecidos por um apelido ou mesmo pelo codinome (2)



Situada em uma planície entre o Rio Jequitinhonha e o Oceano Atlântico, o município de Belmonte também é conhecido por seu título bem peculiar: “Capital do Guaiamum”. Durante as cheias do rio, as águas carregadas de argila avançam sobre as margens, formando terrenos sedimentares, esses solos úmidos, de textura muito fina e avermelhada, formam um perfeito habitat para o guaiamu ou goiamum, uma espécie de caranguejo, o que faz da cidade um exportador dessa iguaria.

Ainda no seguimento crustáceos, a bela Canavieiras tem também um cognome simbólico: “Capital do caranguejo”. Com sua farta gastronomia em frutos do mar, do rio e do mangue, não é à toa que na entrada do município tenha um  
caranguejo gigante. Aqui, uma vasta região de manguezais compõe um cenário selvagem que margeia o litoral, são 90 milhões de metros quadrados de manguezais, habitat de uma rica variedade de mariscos e crustáceos.

O discreto charme do município e a simpatia de seus moradores fazem jus ao título de “Princesa dos Abrolhos”, que Caravelas ganhou em 1857 do desbravador mineiro Teófilo Otoni, por ser a mais próxima cidade do Arquipélago de Abrolhos, distante 32 milhas náuticas, onde está situado o Parque Nacional Marinho. “Iraquara – a cidade das grutas" é o que diz o letreiro construído no trevo que dá acesso ao município. E a realidade do lugar só prova a alcunha da cidade situada na Chapada Diamantina.

GRUTAS & ONDAS - As redes de galerias existentes compõem um dos mais significativos sítios espeleológicos da América Latina, onde atualmente encontram-se registradas mais de uma centena de cavernas, constituindo possivelmente, o local de maior densidade de galerias subterrâneas por unidade de área no Brasil. Grutas da Lapa Doce, Pratinha, Azul, Fumaça e Torrinha são apenas alguns desses exemplares que impressionam pela variedade de espeleotemas e registros milenares em suas formações.

Denominações para Itacaré é que não faltam. Chama-se o município, também, de “Cidade do surf”.
Itacaré recebe ondas boas durante todo o ano, as condições climáticas mudam a todo instante garantindo sempre a prática do esporte aquático. O relevo submarino e as condições geográficas fazem da cidade um dos melhores lugares no Brasil para a prática do surf. A temperatura da água sempre é quente variando entre 23 e 30 graus. Aqui, o surf é tão presente que há o PF (prato feito) do surfista, escolas de surf e aluguéis de prancha por toda parte e até a igreja evangélica local tem o púlpito em formato de prancha. Nossa, que irado!

PRESÉPIO & IRRIGAÇÃO - Jacobina, localizada no Piemonte da Chapada Diamantina, onde as
casas são encostadas nas serras e seus atrativos naturais como vales, serras, grutas e canyons resultantes de sua topografia acidentada, terminaram por lhe render a denominação de “Cidade Presépio”. Apesar de estar localizada na região do semi-árido baiano, Juazeiro é considerada a “Capital da irrigação”, já que tem na agricultura um de seus principais pilares de sustentação, produzindo frutas e verduras de qualidade e exportando parte do material para países da Europa.

Acreditem, a Chapada Diamantina, com toda sua
beleza e exuberância, tem mãe e seu nome é Mucugê. A “Cidade Mãe” da Chapada também é conhecida por outro cognome, o de “Umbigo da Bahia”. E o município atende bem aos dois apelidos mais que carinhosos.

Conhecida como a “Capital baiana de Agricultura Familiar”, o município de Governador Mangabeira faz por merecer esse codinome. Aqui, o apoio à agricultura familiar é visível através de ações concretas como implantação de casas de farinhas, mini-fábricas de doces, embutidos, micro-usinas de leite, entre outras.

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27 maio 2013

Muitos municípios são conhecidos por um apelido ou mesmo pelo codinome (1)


Muitas cidades do mundo são conhecidas por seu cognome, um apelido em função de alguma característica em particular. Assim sendo, conhecemos o Rio de Janeiro como “Cidade Maravilhosa”, Paris como a “Cidade da Luz”, Nova York como o “Centro do Mundo”. Aqui mesmo, na Bahia, existem diversos municípios que possuem suas alcunhas, seus codinomes, a exemplo de Morro do Chapéu, localizado na Chapada Diamantina. Conhecida como a “Suíça Sertaneja” ou “Brasileira” por conta do clima tipicamente europeu, a cidade, no inverno chega a registrar temperaturas de até 10 graus.

“Cidade das Flores”, esse é o cognome utilizado para caracterizar Maracás. Situado no sudoeste do Estado, o município foi o primeiro a implantar o projeto estadual comunitário Flores da Bahia, como forma de usar a floricultura para promover a inclusão social. Os habitantes, que incentivados pela prefeitura municipal já cultivar flores nos quintais antes mesmo do projeto, tornou a experiência um sucesso. Maracás sempre se caracterizou por seu clima frio, com altitude média de até 950m acima do nível do mar, tornando evidente sua potencialidade para atividades agrícolas, a exemplo das flores subtropicais de clima frio.

Contrariando a idéia de que todo sertão é seco, Cipó, às margens do rio Itapicuru é conhecida por ser a “Terra das Águas Termais”. Sua grande particularidade brota de seu solo 24hs por dia, com propriedades medicinais e a uma temperatura para lá de quente. As águas de Cipó impulsionaram a economia do município e levaram o turismo em larga escala para a região. São três fontes de águas termais na cidade. A primeira, às margens do rio, no local onde foi construído o clube Balneário, e mais duas, a do Pau de Ferro e a localizada no Parque Agenor Brito, ponto de grande visitação.

SOL, NEGÓCIOS, ESPORTES & CULTURA - Se o Japão é para o mundo a “Terra do Sol
(Nascente)”, Jequié é a nossa bela e quente “Cidade do Sol”. Encravada entre a caatinga e a zona da mata, no sudoeste da Bahia, seu clima é predominantemente quente para uma temperatura que varia entre 13 e 36ºC. Já Barreiras, além de ser conhecida por sua alcunha de “Capital do Oeste da Bahia”, também é reconhecida por sua relevante produção de soja, tanto que em seu brasão, entrelaçados ramos do grão representam o principal produto agrícola da região. As culturas de soja, café, milho e algodão, aliadas à atividade pecuária, fazem de Barreiras um promissor pólo de desenvolvimento econômico e social na Bahia.

Um município com quase seis anos de existência e apenas 50 mil habitantes. Apesar disso, está entre as 100 maiores economias agrícolas do país (soja, algodão, café e milho) e entre os 30 municípios mais ricos do Nordeste. Foi destaque no ranking das maiores cidades em termos de PIB per capita: são R$ 51.598 por habitante, o 36º maior do país - a média do Brasil é de R$ 9.729 (o valor se refere à divisão da soma das riquezas geradas na região pelo número de habitantes, independentemente da distribuição de renda). Não é à toa que Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, tem o título de terra da prosperidade e “Capital do Agronegócio”.

“Oásis do Sertão”, “Capital da Energia”, são diversos os codinomes dados a Paulo Afonso, mas, sobretudo um pegou muito bem à cidade: “Capital dos Esportes Radicais”. Maior polo produtor de energia da Bahia, o município se tornou conhecido também pela sua vocação para o turismo radical. Os paredões do canyon do rio São Francisco, esculpidos pacientemente pelas águas, criaram o cenário ideal para descidas alucinantes de tirolesa e rapel.

Ilhéus, a maior cidade do litoral sul do Estado, teve o seu melhor momento no início do século XX com a produção de cacau, chegando a receber o título nacional de “Capital do Cacau”. Mas hoje, o município ostenta outro título: “Capital Cultural do Sul da Bahia”. Cenário dos imortais romances de Jorge Amado, transformados em filmes e novelas que ganharam o mundo, o município investe pesado na preservação de sua cultura.



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24 maio 2013

Piaçava é grande destaque econômico no sul da Bahia



A palmeira Attalea funifera Martius, conhecida por piaçava ou piaçaba, é uma espécie nativa e endêmica do sul do Estado da Bahia. O nome piaçava é de origem tupi, que quer dizerplanta fibrosa, devido ao seu caule característico, com a qual se faz cordas, escovas, vassouras, artesanatos, etc. Essa palmeira foi citada na carta de Pero Vaz de Caminha na época do descobrimento do Brasil. Entretanto, seu uso teve início no período colonial: por oferecer maior segurança às embarcações, as fibras da piaçava eram procuradas por navegadores de várias nacionalidades para fabricação de cordas utilizadas como amarra de navios.


Produtora de fibra longa, resistente, rígida, lisa, de textura impermeável e de alta flexibilidade, a piaçava é uma palmeira genuinamente brasileira, crescendo espontaneamente. A obtenção da fibra é uma atividade puramente extrativista. O único plantio organizado foi realizado em 1970, próximo ao município de Valença, na Bahia. Exigindo poucos recursos financeiros para o plantio, a manutenção e exploração tornam a piaçaveira uma opção agrícola atraente, pelos reduzidos riscos e altos rendimentos que proporciona ao investidor.

O Estado baiano responde por 95% da produção brasileira. Na região sul do Estado, entre os principais municípios produtores, destacam-se Cairú, Itubera, Canavieiras, Nilo Peçanha, Ilhéus, Una, Belmonte, Camamú, Santa Cruz Cabrália, Maraú, Valença e Itacaré. No recôncavo, com menor produção, apresentam-se as seguintes: Santo Amaro, Cachoeira, Maragogipe, Jaguaripe e Nazaré. A piaçava da Bahia tem fibras impermeáveis que conservam a elasticidade quando umedecidas. A fibra é usada na confecção de vassouras, escovas, cordas para navios, cestos, invólucros para moringas e outros artigos domésticos.

Nas áreas produtoras, centenas de empregos são mantidos nos depósitos de piaçava, onde é feito o seu beneficiamento, assegurando o sustento de muitas famílias. Dessa forma, tem-se a criação de trabalho tanto no meio rural como urbano. também dezenas de unidades produtoras de vassouras, espalhadas em vários municípios, agregando um maior valor ao produto. Nos últimos anos, tem crescido o número de produtores interessados por essa palmeira. É muito raro encontrar um produtor de piaçava querendo vender a sua propriedade, o que não acontece com aqueles que exploram outras culturas.

Escovões dos carros de limpeza de ruas utilizam a piaçava, somente essa fibra resistiria sem quebrar a rotação e o atrito dessas máquinas. A Rússia, os EUA e vários outros países importam a piaçava para utilizar em equipamentos de varrer a neve. Cabos navais, cordas, artesanatos, isolante térmico e uma infinidade de aplicações podem encontrar na piaçaveira a fibra ideal. Não resta dúvidas que essa atividade se constitui numa das melhores opções para a diversificação agro-econômica do litoral sulda Bahia. Pelas vantagens que apresenta, mesmo sendo uma cultura de tradição secular, a piaçaveira é um tesouro econômico, e o que é melhor: bem baiano. As artesãs de Ponto Central, povoado de Santa Cruz Cabrália, município do extremo sul baiano, a 727 km de Salvador, conseguiram fechar um contrato de fornecimento de 43 mil bombonieres feitas com fibra de piaçava.


Um dos trabalhos desenvolvidos pela equipe de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), vinculada à Secretaria da Agricultura (Seagri), por meio do Escritório Local de Camamu, tem sido estimular a preservação e o manejo sustentável da piaçava (Ataleia Funifera Martins), nas comunidades quilombolas do Município de Ituberá, no baixo sul do estado.

O objetivo é fortalecer a cadeia produtiva da piaçava e repovoar as áreas degradadas. São realizadas capacitações que ajudam no desempenho dos trabalhos de campo e também na rotina administrativa das associações. Os técnicos ensinam, na prática, o manejo adequado do extrativismo da piaçava, com técnicas para a subida na palmeira, extração e melhor aproveitamento da fibra e dos cocos, destinada à produção de mudas, quebra de dormência (método voltado à germinação) e plantio. A EBDA também viabiliza oficinas que preparam os lideres comunitários para emitir notas fiscais eletrônicas, certificados digitais e elaboração de projetos.

O sisal é o principal produto da agricultura familiar e do segmento agroindustrial do semiárido brasileiro, cujo IDH médio é 0,589 e situa-se dentro do Programa Brasil Sem Miséria do governo federal. Estima-se que existem 400 mil agricultores familiares que cultivam o sisal em suas propriedades de pequeno porte (média de 15 ha). No Território do Sisal existem também 2.482 famílias assentadas, duas comunidades quilombolas e uma terra indígena que dependem da cultura.

A cultura é a principal geradora de emprego e renda para os cidadãos que habitam no Território do Sisal e gera empregos diretos e indiretos para cerca de 800 mil pessoas. Estima-se que existam 14 indústrias no Território do Sisal. O setor industrial (beneficiamento), comercialização e exportador é um dos maiores empregador de mão-de-obra local.

Além destes aspectos socioeconômicos, o sisal, cuja planta já aproveita as condições endofoclimáticas do semiárido brasileiro, tem ao longo da cadeia práticas ecologicamente corretas e de sustentabilidade, pois não são utilizados componentes químicos para a produção dos produtos finais (fios agrícolas, cordas, cordões, manufaturas, dentre outras).

A cadeia produz produtos ecologicamente corretos, cuja demanda vislumbra-se crescente principalmente em substituição aos antiecológicos derivados fósseis, com vantagens ambientais (o sisal é reciclável e renovável), sociais (o sisal é altamente demandante de mão de obra local da agricultura familiar) e econômicas (fibras naturais são mais leves, mais resistentes e mais baratas).


“Piaçava da Bahia - do extrativismo à cultura agrícola” é o titulo do livro de autoria do biólogo Luiz Alberto Mattos Silva e do engenheiro agrônomo Carlos Alex Lima Guimarães, editado pela Editus, Editora da UESC, lançado este ano. O livro, com 262 páginas, contempla aspectos botânicos, históricos e econômicos da exploração de fibras de piaçava no Brasil, com destaque para a piaçava baiana, de maior expressão neste contexto. Além disso, trás muitas informações sobre outros aspectos como cultivo, produção e produtividade, pesquisas recentes realizadas na UESC, nutrição e adubação, pragas, doenças, perspectivas, etc. Vale a pena conferir.


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