Há 95 anos o cinema deixava de ser mudo
para começar a falar. Em 1927, O Cantor de Jazz chegava às telas com a
novidade. Graças aos irmãos Warner, os filmes já não tinham mais que ser mudos.
Assim, o Cantor de Jazz passa a ser o primeiro filme da história a utilizar o
invento do som no cinema, No ano seguinte, a técnica melhorou: enquanto o
primeiro filme era composto, basicamente de canções, Lights of New York era
composto inteiramente por diálogos.
A partir dos anos 30 a música de fundo do
cinema se transformou numa linguagem. Esta foi a década dos grandes filmes –
épicos, românticos, dramáticos, produções que exigiam densidade sonora para
acentuar ação e emoção. Por outro lado, a Europa estava em guerra e os
compositores eruditos fugiram de lá para a América. Foram eles que, atendendo
às exigências dos grandes filmes, criaram a trilha sonora. O austríaco Max
Steiner foi um dos inventores. Inspirado nas óperas ele criou uma música para
cada personagem. É dele a trilha de maior duração da história do cinema: ... E
o Vento Levou com três horas e 40 minutos para quatro horas de filme. Apenas
Scarlett O´Hara teve três temas compostos para ela. Ninguém entendeu porque o
filme perdeu o Oscar para “No Tempo das Dilegências”.
Também é de Max Steiner a trilha de outro
clássico, Casablanca, embora a canção-tema que todo mundo conhece, “As Time
Góes By”, seja originalmente uma canção da Broadway. Steiner foi premiado com o
Oscar pelas trilhas de “Estranha Passageira” (1942) e “Desde que Partiste”
(44). Outro compositor pioneiro foi Dimitri Tiomkin. Foi ele quem derrotou “...E
o Vento Levou”, com a trilha de “No Tempo das Diligências” (1939). No filme
Matar ou Morrer (1952), ele criou a primeira canção-tema composta especialmente
para um filme de fundo. Dimitri compôs uma canção cuja letra conta a história
do mocinho desse filme. A fita recebeu o Oscar de melhor canção e trilha
sonora. Ele recebeu outros Oscar: “Um Fio de Esperança” (1954), “O Velho e o
Mar” (1958), além de fazer a trilha de “Duelo ao Sol”, entre outras.
O húngaro Miklos Rozsa inventou a música
solene dos filmes épicos. Concertista e compositor clássico, é dele as trilhas
de Quo Vadis, Ben Hur, El Cid, além de Oscar de melhor música em Quando Fala o
Coração (1945) e Fatalidade (1947). Vale lembrar que o Oscar de música
(partitura) foi entregue, pela primeira vez, em 1934, para Louis Silvers no
filme Uma Noite de Amor. A melhor canção foi para Continental, de Com Conrad,
letra de Herb Magidson. Primeira a ganhar um Oscar, em Alegre Divorciada, o
primeiro musical em que a dupla Ginger Rogers/Fred Astaire fazia o papel
principal. Gene Kelly fez sua obra-prima há 55 anos: Cantando na Chuva, até
hoje um dos maiores musicais já produzidos por Hollywood. Gene é um dos raros
artistas que conseguem provar que uma cena pode valer um filme. Uma ode
sorridente à alegria exuberante é a cena dele dançando sobre poças d´água,
sapateando no chão molhado, oferecendo o rosto sorridente a um banho de chuva
fotografado em close. O filme é uma sátira do extravagante mundo
cinematográfico dos anos 20, com suas histórias pré-estréias e a frenética
chegada do som.
Do suspense à aventura
Não podemos esquecer que, em 1934, o Oscar
de melhor música original foi para Herbert Stothart, em O Mágico de Oz, e a
melhor canção, também neste filme, foi para “Over The Rainbow”, de Harold Arlen
e E.Y.Harburg, cantada por Judy Garland. A fita é uma das preferidas do público
em todos os tempos. Os musicais foram buscar, na Broadway, os seus melhores
“songwrites”, como Cole Porter, Irving Berlin, George Gershwin, Richard
Rodgers, Jerome Kern, Harold Arlen, entre outros. Depois surgiram as parcerias
de Harry Warren e Al Dubin, Mack Gordon e Harry Revel, Jimmy McHugh e Dorothy
Fields e Ralph Rainger e Leo Robion já escrevendo diretamente para o cinema.
Todos eles produziram canções, mas não tinham nenhum envolvimento com o resto
da parte musical dos filmes. Os compositores europeus encontraram na América
alguns músicos eruditos e juntos eles fizeram a história da trilha sonora.
O americano Bernard Hermann era o
preferido de Hitchcock e muito contribuiu para aquele clima de tensão e
suspense de filmes como Um Corpo que Cai e Psicose. É dele, também, as trilhas
de Os Pássaros e Cidadão Kane. Da mesma forma que Hitchcock, o cineasta
italiano Federico Fellini trabalhou quase sempre com o mesmo compositor, Nino Rota.
Italiano, autor de trilhas inesquecíveis como A Doce Vida!, Os Boas Vidas,
Ensaio de Orquestra, Amarcord e O Poderoso Chefão 2ª Parte.
O compositor favorito de Steven Spielberg
é John Williams. Ele compôs trilhas para E.T., o Extraterrestre! (Oscar de
1982), Guerra nas Estrelas (Oscar de 77), Império do Sol, Indiana Jones,
Superman, o Filme, Tubarão (Oscar de 1975), Contatos Imediatos do 3º Grau, Um
Violinista no Telhado e vários outros.
Elmer Bernstein usou o jazz, pela primeira
vez, em A Embriaguez do Sucesso e O Homem do Braço de Ouro nos anos 50, e abriu
importante precedente, sendo logo seguido por Henri Mancini, em A Marca da
Maldade, e Johnny Mandel, em Quero Viver. Mancini ganhou o Oscar de melhor
música e melhor canção em 1961 no filme Bonequinha de Luxo. É bem provável que
o “score” de Isaac Hayes para Shaft (Oscar de melhor canção, em 1971) tenha
aberto o caminho à eletrificação geral vigente hoje em dia. Pois a música de
cinema hoje cede às exigências do mercado fonográfico. A fórmula veja-o-filme-ouça-o-disco
já demonstrou sua força. Isso só aconteceu com o aparecimento do LP. Até então,
o que sobrevivia da música feita para o cinema era uma ou outra canção que
determinado cantor ou orquestra ajudava a popularizar.