31 agosto 2017

Há 50 anos Caetano Veloso lançava o disco Domingo (02)

Rebelde, polêmico e provocante por natureza, ele foi o símbolo maior da contracultura nas décadas de 1960 e 1970, ao lado de Gilberto Gil, de um dos movimentos mais significativos da história da MPB, o Tropicalismo.


Caetano Veloso comemora neste 2017, 50 anos do lançamento do seu primeiro disco, Domingo, lançado em 1967. Ainda em 2017 ele compõe para primeiro disco de músicas inéditas em cinco anos. O repertório do primeiro álbum de músicas inéditas do artista desde Abraçaço (2012).



1981 - Outras Palavras. Primeiro disco de ouro (cem mil cópias vendidas). Tem Outras palavras, beleza pura, Rapte-me camaleoa.

1981 - Brasil, com João Gilberto, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Os discípulos se reúnem com o mestre em pura celebração à bossa nova: No tabuleiro da baiana se destaca.


1982 - Cores, Nomes. Tem Ai ele me deu um beijo na boca, Trem das cores, Um canto afoxé para o bloco do Ilê e Sonhos.

1983 – Uns. Tem Peter Gast, Eclipse oculto e Uns

1984 – Velô, registro crítico do processo de redemocratização do país. Tem O homem velho, Língua, Podres poderes, Quereres.


1986 - Totalmente Demais, ao vivo. Único disco de platina (250 mil cópias vendidas). Tem Kalu, Calunia.

1986 - Caetano Veloso. Tem Luz do sol, Cá já, Saudosismo.

1987 – Caetano. Tem Eu sou neguinha, Fera ferida, O ciúme.


1989 – Estrangeiro. Tem Os outros românticos, Estrangeiro e Meia lua inteira, um prólogo do estouro da axé music.

1990 – Caetano Veloso. Releituras acusticas de hits do artista e Billie Jean, de Michael Jackson.

1991 – Circuladô. Tem Fora da ordem, Itapuã, O cu do mundo, Circuladô de fulô.

1992 - Circuladô Vivo. Tem A tua presença morena, Quando eu penso na Bahia, A terceira margem do rio.


1993 - Tropicália 2, com Gilberto Gil. Tem Haiti, Cinema novo, Nossa gente (avisa lá), Rap popcreto, Desde que o samba é samba.

1994 - Fina Estampa. Obra requintada e delicadamente orquestrada por Jaques Morelenbaum. Inteiramente em espanhol, o cantor dá nova roupagem a guarânias, boleros e rumbas.

1995 - Fina Estampa ao Vivo. Tem O samba e o tango, Lamento Borincano, Fina estampa, Cucurrucucu Paloma.

1996 - O Quatrilho, trilha sonora


1996 - Tieta do Agreste, trilha sonora

1997 – Livro. Tem Os passistas, O navio negreiro, Doideca e Um Tom.

1998 – Prenda Minha. Tem Jorge da Capadócia, Meditação, Drão, Esse cara e A luz de Tieta.

1999 – O maggio a Federico e Giulietta. Ao vivo. Tem Que não se vê, Lua lua lua lua, Come prima, Giulietta Masina.

2000 – Noites do Norte. Tem Zumbi, Rock´n´Raul, Michelangelo Antonioni, Cantigade boi.

2001 – Noites do Norte ao vivo. Tem Escândalo, Samba de verão, Magrelinha.

2002 – Eu não peço desculpa. Tem Todo errado, Feitiço, Manjar de reis, Tarado.


2004 – A Foreign Sound. Reúne 23 canções de diferentes estilos e fases, de Cole Porte, os irmãos Gershwin, a Bob Dylan e Kurt Cobain.

2005 - Caetano Veloso – Onqotô. Assinada por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, a trilha sonora tem como ponto de partida uma bem-humorada discussão sobre a “paternidade” do Universo. 

2006 – Cê. Primeiro dos três álbuns de Caetano com a Banda Cê. Tem Minhas lágrimas, Rocks, Deusa urbana e Waly Salomão.

2009 - Zii e Zie. Título italiano que em português significa Tios e Tias. Álbum venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Compositor do ano e a música "A Cor Amarela" foi indicada a melhor canção brasileira do ano.

2012 – Abraçaço. Em 2013, o álbum foi premiado com o Grammy Latino de Melhor Álbum de Compositor. Na mesma premiação, a música "Um Abraçaço" foi indicada a melhor gravação, canção do ano e melhor música brasileira. No ano seguinte, uma versão ao vivo da canção "A Bossa Nova é Foda" foi indicada para o Grammy Latino de Canção do Ano e Melhor Canção Brasileira. O disco foi eleito o melhor álbum nacional de 2012 pela revista Rolling Stone Brasil e "A Bossa Nova é Foda" foi considerada a terceira melhor música nacional do mesmo ano pela publicação.

2015 - Dois Amigos, Um Século de Música. Gravação da turnê comemorativa de 50 anos de carreira dos cantores brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil. São 24 hits dos dois artistas.





30 agosto 2017

Há 50 anos Caetano Veloso lançava o disco Domingo (01)

Primeiro artista brasileiro a ter todos os LPs em laser (na época, 1991), ele lançou no país a estética tropicalista, o reggae e a juju music. Caetano Veloso é considerado um dos artistas brasileiros mais influentes desde a década de 1960, tendo já sido chamado de "aedo pós-moderno". Em 2004, foi considerado um dos mais respeitados e produtivos músicos latino-americanos do mundo, tendo mais de cinquenta discos lançados e canções em trilhas sonoras de filmes como Hable con Ella, de Pedro Almodovar e Frida, de Julie Taymor. Ao longo de sua carreira, também se converteu numa das personalidades mais polêmicas e com maior força de opinião no Brasil. É uma das figuras mais importantes da música popular brasileira, e considerado internacionalmente um dos melhores compositores do século XX, sendo comparado a nomes como Bob Dylan, Bob Marley, John Lennon e Paul McCartney.


1967 - Domingo, com participação de Gal Costa. Tem Coração Vagabundo, Um dia e Candeias. Clima de bossa nova. 

1968 - Caetano Veloso. Clássico tropicalista, com Tropicália, Alegria Alegria, Superbacana e Soy Loco por Ti America.


1968 - Velloso/Bethânia/Gil, coletânea, com Maria Bethânia e Gilberto Gil

1968 - Tropicália ou Panis et Circencis. Disco manifesto ao movimento tropicalista, gravado ao lado de Gil, Gal, Tom Zé, Mutantes e Nara Leão. Caetano brilha em Coração materno, Baby (dueto com Gal) e Enquanto seu lobo não vem.

1969 - Caetano Veloso. Gravado só com Gil ao violão. Tem Os argonautas, Carolina, Filhos de Gandhi, Irene. Marca o fim do Tropicalismo.

1971 - Caetano Veloso. Primeiro do exílio em Londres. Tem London London, Maria Bethânia, A Little More Blue e Asa Branca.


1972 - Barra 69. Gravação ao vivo do show de despedida de Caetano e Gil. Tem Madalena, Atrás do Trio Elétrico.

1972 – Transa. O clima ainda é de exílio. Tem Nine out of ten (primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos do reggae), Triste Bahia, Mora na filosofia.

1972 - Chico e Caetano Juntos e ao Vivo. Tem Deus dará, Você não entende nada, Cotidiano. “O disco traz cortes feitos pela censura como no verso ‘na barriga da miséria/nasci brasileiro’, que o ‘brasileiro’ foi cortado. Depois Chico colocou ‘batuqueiro’ no lugar. O show fez muito sucesso. E o disco também”, revelou o artista.

1973 - Araçá Azul. Disco experimental. Tem Tu me acostumbrastes, De conversa. O maior recorde de devolução de discos da MPB.

1974 - Temporada de Verão ao Vivo na Bahia. Disco coletivo de shows no Teatro Vila Velha ao lado de Gal e Gil. Tem O relógio quebrou, Felicidade e De noite na cama.

1975 – Jóia. Tem Na asa do vento, Minha mulher.


1975 - Qualquer Coisa. Tem a letra mais abstrata do Brasil, cheias de referências (Qualquer coisa) e Canto do Povo de um Lugar.

1976 - Doces Bárbaros, ao vivo. Álbum duplo com Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Destaques: Chuckberry Fields Forever e Os Mais Doces Bárbaros.

1977 – Bicho. Tem Odara (confissão de namoro com as discotecas). Traz pela primeira vez a juju music para o Brasil em Two Naira fifty kobo, Um índio, Leãozinho, Tigresa. “Esse disco, cuja capa foi feita por mim, tem ecos do Joia. Lança a canção Odara, que deu muito o que falar, que talvez já trouxesse uma batida funk e que afirmava todo esse negócio da música de dança e de divertimento. Foi muito criticada, muito combatida como uma espécie de manifesto da alienação. Nessa época, havia uma espécie de raiva de mim pelo fato de eu não ser ‘de esquerda’.”, revelou.

1977 - Outros Carnavais... Reunião de canções carnavalescas como Chuva suor e cerveja, Deus e o Diabo e Atras do trio eletrico.

1978 - Muito - Dentro da Estrela Azulada. O disco mais pichado pela crítica, fracasso de vendas. Tem o clássico Sampa, Terra, São João Xangô Menino

1978 - Maria Bethânia e Caetano Veloso ao Vivo. Os irmãos se encontram no palco. O dueto em Maninha é um dos momentos mais felizes. Tem ainda Número um.

1979 - Cinema Transcendental. Com a Outra Banda da Terra. Tem Cajuína, Oração ao Tempo, Lua de São Jorge.


29 agosto 2017

100 anos da animação brasileira (02)

O mercado brasileiro se aqueceu nos últimos anos, mas profissionais brasileiros já vem demonstrando qualidade há algum tempo. Tanto que exportamos alguns talentos para grandes estúdios americanos. Alguns deles são: Leo Matsuda (Operação Big Hero), Rosana Urbes (Mulan), Ennio Torresan (Madagascar, Kung Fu Panda, Megamente, Bob Esponja e outros), Fabio Lignini (Como Treinar Seu Dragão, Gato de Botas e outros), Céu d’Ellia (Pateta – O Filme) e Carlos Saldanha (Rio e a Era do Gelo).

Um dos desafios no Brasil é estruturar o ensino profissional de animação. São dezenas de cursos, mas ainda são poucos para a nossa demanda. Apesar dos cursos existirem, uma pesquisa feita pela mestre em design Cristiane Fariah mostrou que cerca de 54% dos profissionais da área não têm uma formação superior no ramo — boa parte tem cursos técnicos. Segundo o Guia do Estudante, as empresas estão buscando cada vez mais profissionais da área. Ainda segundo a publicação, os melhores cursos disponíveis na área são na UFMG (Cinema de Animação e Artes Digitais) e na UFPel  (Cinema de Animação).



Origem (1900-1917)

A animação brasileira não nasceu da criação de grandes estúdios, e sim da vontade de pioneiros e entusiastas. Nas primeiras décadas do século 20, os primeiros a se aventurarem no cinema de animação foram os chargistas. É nesse contexto, em que charges animadas eram exibidas após os cinejornais, nas sessões de cinema, que surgem as primeiras animações nacionais.   “Kaiser”, de Álvaro Martins, é o filme que marca essa primeira fase.


Impulso (1920-1939)

Animações continuaram a ser produzidas no país, lançando mão de referências internacionais, principalmente americanas. Produto dessa influência são as linhas arredondadas dos desenhos, como as de Mickey Mouse, da Disney. O segundo curta destacado é “Macaco feio... Macaco bonito”, de 1929, dirigido por Luiz Seel e João Stamato.


Criador dos personagens Reco-Reco, Bolão e Azeitona que, durante anos, apareceram na revista infantil O Tico-Tico, Luiz Sá foi também responsável pela criação de uma série de curtas de animação que ficou perdida por anos, As Aventuras de Virgulino. Produziu ainda desenhos humorísticos para jornais cinematográficos. Sá também foi responsável pela criação de O Bonequinho, personagem usado na seção de crítica de cinema do Jornal O Globo.


Experimentação (1940-1959)

Nesse momento, artistas brasileiros experimentavam diversas técnicas na produção de filmes animados. Um deles era Roberto Miller, que produziu dezenas de curtas animados desenhando e pintando diretamente sobre a película do filme. Em 1953, é lançado o primeiro longa-metragem de animação brasileiro: “Sinfonia Amazônica”, de Anélio Latini. O filme, em preto e branco, mostra sete lendas amazônicas, entre elas a que narra a criação da noite e a lenda da Iara.


Expansão (1960-1979)

Ao longo dessas duas décadas, houve o primeiro festival internacional de cinema de animação realizado no Brasil, em 1965, a formação de grupos de atuação na área, a criação de mostras e as animações criadas para comerciais.



Em 1972, é lançado o segundo longa brasileiro de animação: “Piconzé”, de Ypê Nakashima, primeiro longa-metragem colorido de animação do país. O filme começou a ser desenvolvido em 1966, o animador coloca um anúncio em um dos jornais onde trabalhou, o São Paulo-Shimbun, a fim de conseguir mão de obra para o projeto, o artista plástico Ayao Okamoto fez a arte-final durante 3 anos, a animação é finalmente concluída em 1972 e lançada em 24 de janeiro de 1973.

Dentre os maiores difusores da animação no Brasil não podemos deixar de destacar Maurício de Souza, que deu vida aos quadrinhos da Turma da Mônica já na década de 1960, no que podemos considerar a primeira série de animação nacional, inicialmente transmitindo na televisão e, mais tarde, a partir dos anos de 1980, produzindo filmes para cinema e vídeo. Natal da Turma da Mônica  é de 1976


Contemporâneos (1980-2016)

Otto Guerra fazia histórias em quadrinhos. Em 1978 fundou seu próprio estúdio, Otto Desenhos Animados. Seu primeiro curta-metragem foi O Natal do burrinho, lançado em 1984. Em 1995, Guerra lançou o longa Rocky & Hudson- Os Caubóis Gays, baseado na tira de Adão Iturrusgarai. E foi vencedor do prêmio especial do júri no festival de Brasília e selecionado para os festivais de Havana e Hiroshima. Em 2006, exibiu Wood & Stock: sexo, orégano e rock’n’roll no 10º Cine-PE, onde o longa ganhou o prêmio especial do júri. No ano de 2013, o diretor lançou o longa Até que a Sbórnia nos Separe, baseado na dupla musical Tangos e Tragédias.


Chico Liberato ,pioneiro do cinema de animação na Bahia, produziu o terceiro filme de animação de longa metragem feito no Brasil – Boi Aruá, que documenta o cotidiano do Nordeste do Brasil, mais especificamente do sertão catingueiro, através do mito do Boi Aruá. O filme foi premiado pela Unesco. Entre os temas principais dos trabalhos de Chico Liberato estão o sertão e o sertanejo, a arte popular e as figuras místicas presentes no candomblé.


Marcos Magalhães é autor de diversos curtas-metragens em animação, entre os quais “Meow!”, ganhador do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes 1982 e “Animando”, filmado no National Film Board of Canada em 1983 Animando. “Animando” ganhou o Prêmio de Melhor Filme Didático no Festival de Espinho, Portugal, e até hoje é frequentemente exibido em programas de TV, escolas e cursos de animação do mundo inteiro.


É o criador e animador do ratinho de massinha do programa de TV “Castelo Rá-Tim-Bum”. Desde 1993, Marcos é um dos fundadores e diretores de Anima Mundi, Festival Internacional de Animação do Brasil, hoje um dos cinco principais eventos de animação no mundo. Que está completando 25 anos de existência em 2017.


A animação brasileira no panorama mundial mudou recentemente, com premiações consecutivas no festival de animação mais importante do mundo, o de Annecy, na França, e uma indicação ao Oscar em 2016, por “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu. A partir da década de 1990, a indústria de animação passou a existir de fato, com editais de fomento especificamente voltados à produção de animações. Rosana Urbes foi a única mulher brasileira premiada em Annecy, com o curta “Guida” (2015) . Nas edições anteriores, em 2013 e 2014, o prêmio de melhor longa-metragem do festival havia sido concedido às animações brasileiras “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi e “O Menino e o Mundo”.




28 agosto 2017

100 anos da animação brasileira (01)

Neste 2017 comemoramos 100 anos da animação no Brasil – comemoração que passou praticamente invisível. Apesar de nossa rica história, a produção brasileira hoje contempla o esquecimento, como se ameaçou acontecer com diversos grandes nomes do cinema, da arquitetura e das artes plásticas brasileiras.

A história da animação no Brasil é uma história de sobrevivência. Há cem anos, em 1917, a charge animada Kaiser, de Álvaro Martins (Seth), era lançada ao público como anúncio para a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, firmando o marco inicial da história da animação no Brasil.


Hoje, o Brasil é reconhecido internacionalmente, com premiações consecutivas no festival de animação mais importante do mundo, Annecy – festival realizado anualmente na cidade de Annecy, na França, criado em 1960 e organizado pela Associação Internacional de Filmes de Animação (Association d'International du Film d'Animation). Por dois anos consecutivos, longas brasileiros venceram o prêmio Cristal do festival.



De acordo com a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), 373 filmes de animação foram produzidos no Brasil entre 2000 e 2004. Enquanto 216 filmes foram produzidos no Brasil nos anos 1990. Ou seja, foram produzidos 72% a mais do que na década anterior. Segundo Cândida Luz Liberato, integrante da ABCA, contribuem para o desenvolvimento do mercado as inúmeras iniciativas governamentais, por meio de programas de fomento ao setor audiovisual. Leis de incentivo, editais, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e o aumento da demanda de distribuidoras e canais de televisão por conteúdo nacional (filmes, séries e animações), consequência da Lei 12.485/11 (a Lei da TV Paga), corroboram nesse sentido.

A força do setor de animação nacional é cada dia maior, conforme avalia a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA). Uma prova foi a compra da animação Lino, de Rafael Ribas, pelos estúdios Fox. O filme, dublado por Selton Mello, Paolla Oliveira e Dira Paes, tem estreia prevista para 7 de setembro em mais de 400 salas do Brasil.



Outro destaque da animação é o estúdio brasiliense Anim’all, que tem feito sucesso nas redes sociais desde que começou a animar tirinhas do quadrinista Caio Gomez. Com relação à exportação de talentos, um dos nomes mais lembrados é o de Matias Liebrecht. O paulistano trabalhou com o londrino Tim Burton em Frankenweenie, filme da Disney de 2012. O brasileiro também atuou no longa Isle of dogs, do americano Wes Anderson. Com previsão de lançamento em 2018, o filme terá as vozes de Edward Norton, Bill Murray, Tilda Swinton e Scarlett Johansson, dentre outros nomes estrelados.

Apesar de competirmos com gigantes da animação internacional, como Estados Unidos e Japão, o mercado nacional, já há 100 anos, vem construindo seu espaço e ganhando cada vez mais espaço e conteúdo. Temos um longo caminho a percorrer, inúmeros frames para desenhar e prêmios a conquistar, mas o cenário é otimista para os profissionais brasileiros. Carlos Saldanha foi ao mercado internacional dirigir A Era do Gelo 3 (2009) e Rio (2011). Rosana Urbes foi animadora em Mulan (1998), na Disney. Fabio Lignini é animador sênior da Dreamworks, tendo participado dos filmes Como Treinar seu Dragão (2010), O Gato de Botas (2011), entre outros.


E, na própria televisão brasileira, já podemos assistir a várias séries produzidas nacionalmente (e algumas até exportadas para vários países), como Peixonauta, O Amigãozão, Tromba Trem e O Irmão do Jorel.


23 agosto 2017

Pratt, o Mozart dos quadrinhos

Foram 68 anos de vida. Hugo Pratt (1927/1995) buscava os elementos para suas narrativas à maneira de um repórter, vivendo de fato as aventuras. Ele acreditava que podia penetrar em seus mundos paralelos e conhecer de perto a matéria-prima de que eram feitos os sonhos. E assim viveu na Argentina, Etiópia, França, Venezuela, Inglaterra, Itália, Estados Unidos e Brasil. Aqui ele esteve em São Paulo, Mato Grosso, Selva Amazônicas e Bahia. E na terra de todos os santos ficou fascinado pelo misticismo. Quem deseja conhecer um pouco desse Pratt místico deve ler “Sob o Signo de Capricórnio” onde boa parte da história acontece entre a Bahia e o Xingu.


Ele teve uma infância veneziana. Nasceu na Itália (Rimini) a 15 de junho de 1927. Em 1937 até 1943 viveu uma adolescência etíope. Em dezembro de 1945, Marco Faustinelli, Alberto Ongaro e Pratt lançaram um jornal de quadrinhos, Asso di Picche (Ás de Espadas). O jornal foi bem sucedido e, em pouco meses juntaram outros desenhistas como Dino Battaglia, Rinaldo d´Ami e Paulo Campani. Depois de viajar por diversos países, chega na Argentina em 1949 e é lá que ele conheceu sua futura esposa, Anne Frognier, de origem belga, que ante fora modelo para sua historieta Ann de la Jungle (antes ele casou com Gucky Wogerer). De 1962 a 1970 morou wem Veneza. Trabalhou para o semanário infantil Corriere dei Piccoli (62 a 67), depois para a revista de quadrinhos Sgt. Kirk (67 a 69).

Em 1955 faz amizade com o jazzista Dizzy Gillespie e mais tarde deu cursos de desenhos na Escola Panamericana de Arte, do amigo Enrique Lipszyc. Em 1959 ele parte para a Inglaterra. Não durou muito. Ele recordava de sua assistente, Gisela Dester, um grande amor. Um geminiano com ascendente em escorpião pode explicar suas aventuras com belas mulheres pelo mundo afora.




Sobre sua viagem ao Brasil o próprio Pratt conta na entrevista a Dominique Petitfaux no livro O Desejo de Ser Inútil: “Nos anos 1962-1966, o Brasil foi um país que contou muito para mim. Tinha ido lá uma primeira vez a partir da Argentina, em 1957, depois, em 1962, no caminho de Buenos Aires para Lisboa, durante uma longa escala no Rio, eu tinha circulado pelo Brasil. A minha idéia era encontrar Lipszyc, que estava em São Paulo para aí fundar uma nova escola de desenho. Enrique Lipszyc era amigo de Raimundo Lisboa, um antigo oficial da polícia política e que tinha muitas relações de amizade com prostitutas e marginais. Foi por intermédio de Lisboa que em Salvador da Bahia travei conhecimento com a cartomante Bouche Dorée, que me inspirou para dar uma das personagens de Corto Maltese, e uma das irmãs Dos Santos, umas negras soberbas versadas em magia. As Dos Santos tornaram-se a minha família da Bahia, e quando passo pelo Brasil, não deixo de as visitar. Como umas das meninas Dos Santos, uma mãe-de-santo, tive mesmo, em 1965, uma filha, uma bela mestiça, Victoriana Aureliana Gloriana. Quando a reconheci oficialmente como minha filha, reconheci ao mesmo tempo e os filhos ilegítimos das quatro irmãs, dando aos rapazes nomes de presidentes dos Estados Unidos. E eis como, em Salvador da Bahia, se pode hoje encontrar um Lincoln Pratt, um Wilson Pratt ou um Washington Pratt”.


O marinheiro cool e sofisticado Corto Maltese, espécie de alter ego, surgiu em 1967 (há 50 anos na revista Sgt. Kirk de julho de 67 a fevereiro de 69) na aventura “A Balada do Mar Salgado”. Maltese, filho de uma prostituta espanhola e um marinheiro inglês, fez sucesso em mais de 15 línguas. “Quando quero relaxar leio Engels, quando quero viajar leio Corto Maltese”, disse certa vez Umberto Eco. A partir de 1970 começou a colaborar com o semanário francês Pif. Em fevereiro de 1973 começou a publicar no jornal Tintim os primeiro episódios da série Os Escorpiões do Deserto. Em 1974 a revista Linus publica Corto Maltese na Sibéria. Em 1976 figurou no filme La Nuit de la marée haute. Em 78 participou em dois outros filmes: Caro lei quando c´era Lui e Blue Nude. Antes, em 1971 o documentário sobre ele, Os Mares da Minha Fantasia, de Ernesto Laura, foi apresentado no Festival de Cannes. Em 1981 vai a África com Jean-Claude Guilbert fazer um filme sobre ele: La Balade plus loin.


“A morte de Hugo Pratt marca o fim de uma determinada qualidade de quadrinhos que durante décadas se manteve na Europa. O que mais impressionava em sua obra era a combinação de sua arte maravilhosa e da dramaticidade de sua narrativa. Além disso, ele foi o primeiro autor que conheci que se dedicava realmente a fazer pesquisas e buscar referências para suas histórias, de modo a torná-las críveis, aceitáveis”, comentou o quadrinhista Joe Kubert. Pratt também tinha entre seus admiradores, Guido Crepax, o pai da Valentina, Frank Miller (O Cavaleiro das Trevas), Milo Manara (que foi seu aluno), Woody Allen, François Mitterrand, Fontanarrosa, Calou e Vittorio Giardino, que disse que Pratt equivalia a Mozart no mundo dos quadrinhos.



22 agosto 2017

Mulheres de Corto Maltese

As mulheres tiveram um papel importante na infância de Hugo Pratt na cidade de Veneza. “As mulheres da minha família conheciam montes de histórias, de lendas, de mitos, encontavam-nos à maneira delas. Tudo isso se misturava na minha cabeça, mas eu orientava-me sem dificuldade nesse mundo de fábulas. Esses anos da infância em Veneza foram essenciais na minha formação. Desde a mais tenra idade, fui habituado a evoluir por entre todas as espécies de crenças, de culturas, de mitologias, e essas questões nunca deixaram de me apaixonar”, revelou Pratt a Dominique Petitfaux no livro O Desejo de ser Inútil (Relógio D´Água Editores, 2005, pagina 32).


Seus quadrinhos estão cheios de mulheres de todos os tipos, das duquesas às prostitutas, mas todas têm pontos comuns: são geralmente belas, aventureiras e perigosas. E sobre as mulheres ele explicou. “Nunca fui fascinado por uma mulher por razões sociais. Gostei de mulheres de todas as condições sociais, de todas as idades, de todas as cores de pele. Dei-me com todos os tipos de mulheres, mas nunca fui particularmente atraído pelo exotismo, esse racismo às avessas; a maioria das mulheres que conheci era de tipo europeu, e com uma mentalidade não diversa da minha (...) Nunca fui machista com ela, nunca pensei que o homem era por definição superior, nem sequer no plano físico, pois as mulheres vivem em geral mais tempo (...) As mulheres da minha  vida nunca prejudicaram a minha obra, pelo contrário, diria até que foram complementares. Ajudaram-me a viver, logo, a trabalhar, e enriqueceram a minha vida: a minha experiência das mulheres encontra-se nas minhas histórias” (paginas 258, 259 e 261).


O que o guiou na sua vida, pergunta Dominique. E ele responde: “A curiosidade intelectual. Eu tenho curiosidade de conhecer o amanhã. A minha vida está cheia de surpresas e de prazeres. As minhas pesquisas em diversos domínios abriam-se ao mundo e a mim mesmo” (pagina 288).

E para encerrar, ele revelou que encontrou a sua ilha do tesouro. “Achei-a no meu mundo interior, nos meus encontros, no meu trabalho. Passara minha vida com um mundo imaginário foi a minha ilha do tesouro (...) quando penso naqueles que me acusavam de ser inútil, e no que eles julgavam ser útil, então, garante eles, não tenho apenas o prazer de ser inútil, mas também o desejo de ser inútil”. A entrevista foi realizada entre janeiro de 1990 a março de 1991.


Seu personagem, Corto Maltese que há 50 anos espalhou o seu charme e o seu mistério. De Veneza à Irlanda, da China ao Saara, passando por Hollywood, Petrogrado, Etiópia, etc, etc, etc. Como frisou Michel Pierre, “Corto Maltese é sem dúvida um dos heróis mais sedutores da banda desenhada. E sem mulheres faltar-lhe-ia realmente uma razão de existir”. Pandora, Soledad, Banshee, Morgana, Madame Java, Boca Dourada, Xangai-Li são apenas algumas das razões de existir de Corto Maltese.
(Este ano, em homenagem aos 50 anos de nascimento de Corto Maltese, Bruno Enna e Giorgio Cavazzano produziram uma historia em quadrinhos de aventura do Mickey Maltese em duas partes que a Editora Abril publicou)


Com poderosos traços e simbolismo, Corto é retratado junto às mulheres de uma forma que as dignifica. As mulheres que se cruzam com Corto Maltese e que lhe ficam no coração são ricas em personalidade, emoções, sensualidade e são de fato diversas no seu caráter e origens. Pratt explora, de novo com talento, a diversidade que a beleza feminina étnica possui e retrata as mulheres de varias raças e origens de forma real e inconfundível.


21 agosto 2017

Hugo Pratt na Bahia

No início dos anos 2000 a professora de teatro aposentada, Lúcia Maria Dias dos Santos me procurou para falar sobre seu encontro com o quadrinista italiano Hugo Pratt. Falou que muitos jornalistas estiveram, na época, em  sua casa, em busca da história desse encontro, mas ela nunca revelou. Aproveitei para apresentá-la aos jornalistas do Correio da Bahia, jornal onde trabalhei por quase 10 anos. Ao jornalista Marcos Vita, Lúcia Di Sanctis (sugestão do nome dado por Pratt que ela adotou) contou o curto romance – mas intenso entre novembro a dezembro de 1965 com o italiano – foi publicado na edição de 08 de fevereiro de 2001, intitulado “Romance em Quadrinhos: professora diz ter vivido romance com Hugo Pratt, que esteve na Bahia nos anos 60”.


“Em 1965, Lúcia Di Sanctis tinha apenas 18 anos. O quadrinista Hugo Pratt, 38. ´Bonito, simpático, falador e amante da cultura negra, ele logo me conquistou. Um outro traço curioso é que só vestia roupas décor caqui. Passamos um mês de romance´, diz a professora baiana (...) Ela descobriu uma personagem com seu sobrenome e características físicas bastante semelhantes às suas numa HQ do italiano. Na ficção, a professora baiana seria a personagem Morgana `Dias dos Santos` Bantam. Morgana também é baiana e está sendo procurada pelo meio irmão, Tristan Bantam, de Londres. Os três episódio chama-se O Segredo de Tristan Bantan, Encontro na Bahia e Samba com tiro certeiro.


Em Sob o signo de Capricórnio, Tristan Bantam é levado à Bahia já por meio de um encantamento sobrenatural: ninguém menos que o orixá Ogum Ferreiro o convoca  até sua meia-irmã (negra e brasileira) Morgana, iniciada nas práticas do oculto junto com a “preta velha” e líder espiritual Boca Dourada.

“A professora apresentou duas fotos dela em 1965. Os traços angulosos do rosto e o cabelo curto da época a fazem muito parecida com o desenho da personagem de Pratt”. Era a primeira vez que Lucia revelava a história a um jornal.

Em sua passagem pelo Brasil Hugo Pratt revelou a Dominique Petitfaux no livro de entrevista com ele em O Desejo de ser Inútil (Relógio D´Água Editores, 2005): “Nos anos 1962-1966, o Brasil foi um país que contou muito para mim. Tinha ido lá uma primeira vez a partir da Argentina, em 1957, depois, em 1962,no caminho de Buenos Aires para Lisboa, durante uma longa escala no Rio, eu tinha circulado no Brasil (...) Foi por intermédio de Raimundo Lisboa que em Salvador da Bahia travei conhecimento com a cartomante Bouche Dorée, que me inspirou para uma das personagens de Corto Maltese, e com as irmãs Dos Santos, umas negras soberbas versadas em magia. As Dos Santos tornaram-se a minha família da Baía, e quando passo pelo Brasil, não deixo de as visitar. Com uma das meninas Dos Santos, uma mãe-de-santo, tive mesmo, em 1965, uma filha, uma bela mestiça, Victoriana Aureliana Gloriana.



Quando a reconheci oficialmente como minha filha, reconheci ao mesmo tempo os filhos ilegítimos das quatro irmãs, dando aos rapazes nomes de presidentes dos Estados Unidos. E eis como, em Salvador da Bahia, se pode hoje encontrar um Lincoln Pratt, um Wilson Pratt ou um Washington Pratt” (páginas 123 e 124).

Lucia nega que seja a mãe e diz desconhecer a existência da garota. Não existe registro do nome nos cartórios de Salvador. Mas como todos os aficionados por quadrinhos sabem, o espírito aventureiro de Pratt mistura muito a realidade e a ficção. Na entrevista para o livro ele confirmou que teve apenas seis filhos, três rapazes e três meninas. Na Bahia, na época, houve um atentado político contra um general e Pratt tornou-se suspeito, pois encontravam uma arma entre seus documentos. Depois de preso e explicado que era jornalista italiano do Corriere della Sera, foi solto. À noite, ao visitar o bordel local, encontrou-se com os policiais que o prenderam e tornaram-se amigos. Uma aventura e tanto... Para Hugo, sua filha “Victoriana vive no Brasil, é bailarina” (pagina 178).



17 agosto 2017

Grandes reinvenções de Elvis Presley

O que Elvis Presley realizou e conquistou de 1954 a 1977 são marcas do século 20 que se perpetuarão para sempre na cultura mundial. O cantor passou por algumas grandes reinvenções:

1953 – Elvis entrou na Sun Records, em Memphis, para gravar That´s When Your Heartaches Begin e My Happiness. Ali, Elvis se transformou de um motorista de caminhão de uma empresa de eletricidade no primeiro grande ícone da cultura pop do século 20.

1956 – Elvis era o grande catalisador de música jovem, um estopim que geraria uma explosão incontrolável.

1958 – Ele entrou no exército e retorna dois anos mais tarde.

1960 – De rebelde, revolucionário e transformador, o cantor passa a ser um bem comportado jovem adulto astro de filmes.

1962 – Good Luck Charm, primeiro sucesso número 1 nos EUA.

1968 – Show televisivo que foi encerrado com a música If I Can Dream, canção de protesto que pedia a paz entre os homens. Elvis jurou para si mesmo jamais gravar uma música na qual não acreditava.


1969 – Elvis canta nos palcos de Las Vegas, acidade dos cassinos.

         - Suspicious Minds atingia o primeiro lugar na Billboard com mais de 1,2 milhão de cópias vendido.

1969 – No International Hotel, em Vegas, vestido com uma roupa que lembrava um quimono de caratê, Presley subiu ao palco para uma apresentação como nunca havia feito. Ele mudou seu jeito de cantar, sua postura de palco e a maneira de encarar o público. Era um novo artista quem estava ali, engraçado, sexy, bufão, encantador, energético, que sabia rir de si mesmo e que espalhava eletricidade pelo ar.

1970 - Grava o documentário chamado That's the Way It Is (Elvis É Assim), que mostrava a grandiosidade, a energia e a empolgação do astro nos shows em Las Vegas.

1972 - Show no Madison Square Garden, templo da Nova York cosmopolita, um teste de fogo para o cantor que nunca pertenceu a nenhum clubinho de artistas, nunca fez parte de uma "intelligentsia" norte-americana e que, muitas vezes, era considerado um caipirão ultrapassado.

1973 - Aloha from Hawaii, o primeiro show ao vivo transmitido via satélite para mais de 1 bilhão de pessoas. Foi um novo auge alcançado pelo artista.


1977 - Decadência física, aliada a momentos psicológicos instáveis, acabaria levando Presley à morte em 16 de agosto. Morte que lhe garantiria a permanência no imaginário como uma lenda eterna.