31 julho 2008

Defensoria Pública sem estrutura

O acesso de todos os cidadãos à Justiça é um direito garantido pela Constituição. A Defensoria Pública foi criada para atender à população mais pobre, ou seja, aquele cidadão que não pode pagar advogado. De acordo com a Constituição, qualquer cidadão que comprovar a falta de recursos para pagar um advogado particular pode recorrer ao trabalho dos defensores. O problema é que a falta de estrutura das defensorias, muitas vezes, impede o acesso à Justiça para quem mais precisa. Um bom exemplo disso é que cerca de 95% da população carcerária do país depende da Defensoria Pública para se defender nos tribunais, mas um levantamento do Ministério da Justiça mostra que a defensoria é o primo pobre do sistema da Justiça no Brasil.

O Ministério Público, que tem a função de acusar, tem um orçamento oito vezes maior do que a defensoria, que também tem menos pessoal: para cada cem mil habitantes, existem quase oito juízes, quatro promotores ou procuradores e menos de dois defensores. Os salários dos defensores também são mais baixos: integrantes do Ministério Público ganham, em média, R$ 19 mil. Os defensores entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. Para a Associação Nacional dos Defensores Públicos, a falta de defensores públicos é a principal causa da discriminação da população mais pobre.

Para conseguir abrir uma conta bancária ou um financiamento para aquisição de imóvel, um cidadão comum tem que providenciar uma lista extensa de documentos e certidões. Já o político, para se candidatar a um cargo eletivo e se habilitar a tomar conta do orçamento de um município, grande ou pequeno, basta que apresente algumas certidões e esteja apto com a Justiça Eleitoral. Se tiver alguma condenação, como é o caso agora dos nomes incluídos na “lista suja”, ele pode registrar a sua candidatura, ser eleito e administrar o município. Uma vez cometido o crime, a “justiça” também é desigual para os políticos e a classe mais pobre. O pobre, por exemplo, se cometer um pequeno furto, é preso e condenado a anos de prisão, e com poucas chances de defesa. Os políticos e aos mais ricos respondem em liberdade, independente do tipo de crime que tenham cometido. Com foro privilegiado, as autoridades públicas garantem o direito de não responderem a processos em tribunais de 1ª instância, onde apenas um juiz analisa o mérito da questão, como ocorre com o cidadão comum. E ainda assim se fala em justiça. Por essas e outras que a violência cresce cada vez mais, pois não temos nenhum exemplo de justiça no país.


Haja cúpula

Cúpula do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Minas Gerais é acusada de corrupção. O presidente, o vice e o corregedor foram informados pela Polícia Federal que estão indiciados na Operação Pasárgada, sob a suspeita de corrupção passiva, prevaricação e formação de quadrilha. Tudo isso vindo de um tribunal!!!. Como bem escreveu o articulista do Folha de S.Paulo, na sua coluna de sábado “atalhos oportunistas”: “Mas, num país em que a PM mata inocentes, a Justiça solta criminosos e os piores exemplos vêm de cima, quem vai ficar de olho em quem?”.


Crime de responsabilidade

Com a polêmica sobre a concessão dos hábeas corpus a Daniel Dantas (numa rapidez incrível), em desacordo com decisões da Justiça Federal em primeira instância, o presidente do STF, Gilmar Mendes enfrenta um pedido de impeachment, protocolado no Senado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Distrito Federal. A CUT acusa o ministro por “crime de responsabilidade”. Além de Mendes, o ministro Marco Aurélio Mello e o ex-ministro do STF Nelson Jobim já sofreram denúncias por crime de responsabilidade. Todas foram arquivadas pelo Senado. Haja arquivo.


Carga tributária

A classe média brasileira é a que mais paga imposto sobre rendimentos em relação a todos os países da América do Sul. Este foi o resultado da pesquisa feita pela consultoria Ernest & Young, baseado na comparação do valor salarial a partir do qual o cidadão brasileiro começa a pagar a alíquota máxima aplicada pela Receita Federal, de 27,5%. No ano passado, a arrecadação bateu recordes. Ela chegou a R$ 923 bilhões. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário fez as contas. A carga tributária alcançou 36,08% do Produto Interno Bruto (PIB), o conjunto de bens e serviços produzidos na economia. Em dois meses e meio de 2008 a arrecadação de impostos federais, estaduais e municipais em todo o Brasil ultrapassou os R$ 200 bilhões. Muitos brasileiros nem se dão conta que ao consumir mais estão pagando mais impostos. Quando compra alimentos como açúcar paga 45% de imposto, em um carro, 38%. E quase metade da conta de energia elétrica vai para os cofres públicos (45%).


Legislação cidadã

É preciso que o Brasil tenha uma legislação eleitoral mais cidadã. O prazo de impugnações de candidaturas “sujas” se esgotou sem que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) viesse a confirmar a posição de seu presidente Ayres Britto. Ele é contrário ao registro pleiteado por políticos com ficha suja (ações penais públicas). Como sempre o Tribunal considera que o político sujo, mas ainda não julgado em definitivo, é considerado elegível. É por isso que o país está cada vez mais violento com todas essas factruas.


Privilégios

O Senado e a Câmara aprovaram a matéria que privilegia advogado, ao declarar invioláveis seus escritórios. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, apóia o projeto. Oito entidades da magistratura e do Ministério Público pedem o veto em nota técnica dirigida ao Planalto. Cabe ao presidente da República sancionar ou vetar projeto do deputado e advogado Michel Temer em favor de advogado de pessoas sob investigação, ou seja, do “colarinho branco”. E é sempre bom lembrar que em diversos presídios no país, telefones celulares com que presidiários chefiam ataques e assaltos a distância foram atribuídos aos advogados.

30 julho 2008

Uma saudável mania invade as ruas (3)

Desde que foi inventada, há mais de 200 anos (quando não passava de um biciclo de madeira sem direção e freios), a bicicleta vem trilhando o caminho da sofisticação. No século passado, ganhou pedais, rodas de borracha e guidão. De çá para cá vieram as marchas, os pneus mais largos e materiais mais leves. Muito usada no começo do século XIX – como meio de locomoção -, a bicicleta, principalmente no Brasil, começou a perder espaço estritamente de uso esportivo. Por vários anos, era raro ver um ciclista pela cidade.

Atualmente, aproveitando a onda do culto ao corpo e com a abertura da importação, centenas de bicicletas voltam a circular pelas ruas. Nessa invasão, é possível encontrar desde a mais simples, considerada de uso urbano, até a mais sofisticada, própria para competições, que permite ao ciclista subir e desde morros, atravessar rios, passar em buracos e pedras e, o mais importante, carregá-la nos ombros nas subidas íngremes. A qualidade deve ser avaliada pela marca do grupo de componentes – câmbio, freio, cubos (onde ficam os raios) e movimento central (pedais).

O maior sucesso é a montain bike – para percorrer trilhas e terrenos acidentados. Por seu apelo ecológico conquista a cada dia mais adeptos. O montain bike também mexeu com o mercado de bicicletas. Nos Estados Unidos surgiram diversos modelos novos, que acabaram chegando ao Brasil através de importadores ou na bagagem de algum aficionado. Quadros de molibdênio, alumínio ou fibra de carbono (o mesmo material usado na Fórmula 1 e em naves espaciais), componentes japoneses, freios especiais, pneus Matrix com Kevlar e aros mais resistentes à corrosão são os principais atrativos da norte-americana Trek.

Os fabricantes nacionais esmeram-se nos lançamentos. A Caloi lançou há algum tempo a Aluminun, feita com uma liga especial de alumínio preparada pela Alcan e equipada com vários componentes japoneses. O modelo Itália, produzido em cromo-molibdênio, freios Centilever e outras novidades. A Monark invadiu as pistas com a BMX Néon, em cores fluorescentes e com a maçaneta do freio totalmente articulada, feita em nylon e com estrutura interna de aço. A Ranger Tem Speed, com câmbio de 10 marchas, freio articulado para alto impacto e a Ranger New Balance, de 21 marchas. A cada ano, novidades a mais com acessórios sofisticados. Seguro o bolso.

MANUAL

Use roupas coloridas, isso facilita a visão dos motoristas. Use roupas de algodão, pois as sintéticas não favorecem a ventilação. Pedalar exige preparo físico e uma boa dosagem de energia. É preciso aconselhar-se com um especialista que, certamente, orientará o ciclista sobre como evitar o estresse muscular. Câimbras podem ser consideradas uma falha do ciclista que não soube dosar a força dos músculos em relação ao terreno e ao câmbio. Por isso, pedale como um profissional, mesmo sendo um amador. Para tornar seu passeio de bicicleta mais agradável, não se esqueça:

* Ande sempre acompanhando o fluxo normal do trânsito e nunca na contramão.

* Sempre que possível, ande pelo lado direito da via pública.

* Guarde sempre uma certa distância entre a guia e os automóveis e nunca trafegue entre dois veículos. Lembre-se que você, muitas vezes, pode estar fora do campo de visão dos motoristas.

* Atravesse as ruas de preferência junto às faixas de segurança dos pedestres.

* Quando estiver em grupo, nunca ande ao lado de seus companheiros, mas em fila indiana, respeitando sempre uma certa distância do ciclista da frente.

29 julho 2008

Uma saudável mania invade as ruas (2)

A vida sobre duas rodas nunca foi difícil para os chineses. Dois terços das viagens urbanas diárias são feitos, na China, de bicicleta. Em Tóquio, a bicicleta já responde por um quarto das viagens urbanas diárias. Na Holanda, 13,5 mil quilômetros contínuos de ciclovias cobrem o país. Na Alemanha, o sinal para a ciclovia está incorporado ao trânsito. Um estudo pioneiro para implantação da rede de ciclovias foi realizado em 1977, em Curitiba e o prefeito Jaime Lerner queria, ao fim de sua terceira gestão, 154km de extensão, onde todos os caminhos da capital paranaense possam ser feitos de bicicleta. Quem se arrisca a pedalar em São Paulo, procura as três ciclovias de lazer, que funcionam em geral aos sábados e domingos.

Como é o caso do elevado Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, a Cidade Universitária e Ibirapuera. No final de 1992, a Prefeitura do Rio completou três grandes redes cicloviárias: Zona Sul Centro, Zona Oeste e Orla, totalizando 75 km de ciclovia integrados à malha urbana. O carioca tem, ainda, como alternativa de passeio ciclístico, o Aterro do Flamengo e as ruas da Urca.

Para muitas pessoas, ma cidade violenta e agressiva como Salvador jamais poderia abrigar carros e bicicletas em perfeita harmonia. Mas os ciclistas urbanos que a cada dia invadem mais e mais as ruas e avenidas da cidade provam o contrário. Para eles, nem as ladeiras íngremes da cidade, nem o tráfego intenso que a caracteriza, são dificuldades. Não há riscos de ser atropelado pelo automóvel ou pela motocicleta – desde, é claro, que se respeite algumas leis do bom senso.

ITAPAGIPE
Quem pretende utilizar a bicicleta para fazer exercícios deve procurar áreas tranqüilas, longe do trânsito. A Federação Baiana de Ciclismo recomenda a península itapagipana, que é um ótimo local,pois não precisa de bicicleta específica porque é plana. Os que não abdicam da orla têm um problema: o pedestre e o ciclista disputam o mesmo espaço. A ciclovia, em Salvador, liga o Jardim de Alá à Itapuã. Mas em diversos pontos da área, construída na segunda metade da década de 80, fios mal conectados e calçamento quebrado tornam inseguras as passagens de pessoas, a pé ou de bicicleta. No início da Praia do Corsário, logo após o aterro da Boca do Rio, as ligações clandestinas dos pontos de energia elétrica (os gatos) são bem visíveis. Muitos culpam a prefeitura, que não se preocupou em colocar nos estabelecimentos na época da padronização das barracas.

Cada vez mais, Salvador é invadida por jovens ciclistas. Calcula-se, em mais de um milhão o número de magrelas em circulação na cidade. Por que todo esse interesse pelas bicicletas? Elas levam duas rodas, um carregamento de atrativos para a moçada. Não poluem, mantêm o corpo em forma e têm o tamanho exato para freqüentar as áreas verdes da cidade. E o melhor: dão uma sensação única de liberdade ao ciclista, que pode correr com o esforço próprio, pelas ruas e avenidas. Na pista da orla pinta de tudo. Gente com barriga de fora, camiseta enrolada na cabeça, shortinho que mostra maus do que esconde.

“Adoro ver as coisas passando rapidinho por mim enquanto pedalo”, confessa o músico Benjamin Alex. “Quem pedala tem mais consciência ecológica porque precisa de ar puro e mais educação no trânsito”. A preocupação de todos eles, pelo menos enquanto estão sobre duas rodas: sentir o vento batendo no rosto e a sensação de liberdade que esse contato proporciona. Chova ou faça sol, Nilzete Alves pedala, todas as manhãs, cerca de 20km. Para ela, o ciclismo é um exercício aeróbico menos cansativo e mais atraente do que a corrida.

28 julho 2008

Uma saudável mania invade as ruas (1)

Algumas coisas nunca saem de moda, a bicicleta é uma delas. Também elevada ao status de “mountain bike”. Magrela, camelo, bike ou simplesmente bicicleta. O nome não importa, o que interessa é aproveitar os dias ensolarados para circular, pedalando pela cidade. O hábito ganha a simpatia de todos. Conheça um pouco mais sobre este esporte que proporciona uma vida mais saudável.


Uma mania que já circula sobre duas rodas desde o início da primavera tomou conta da cidade no último verão. A bicicleta, agora elevada ao status de “mountain bike”, é um divertimento perfeito para a estação, ainda mais com os preparativos para os Jogos Pan-americanos Rio-2007. Algumas coisas nunca saem de moda. A bicicleta, certamente, é uma delas. Vem ano, vai ano e ela continua sendo um tipo de lazer alheio aos modismos e sempre muito “in”. O sucesso da bicicleta é explicável. Não requer cursos especiais, é razoavelmente barata e não exige espaços especiais para o seu uso. Garotos e garotas, em grupo ou não, munidos de walkman e/ou mp3 enfeitam os dias de verão.

Pedalar pode ser uma boa maneira de marcar um encontro com novas amizades, com a natureza e bons exercícios físicos. Pedalar melhora as condições cardiovasculares, a estrutura muscular e até o desempenho sexual. Esta é a conclusão de uma pesquisa (não-científica) realizada pela revista americana Bicycling, que entrevistou 1.675 pessoas, das quais 80% eram homens. Sessenta e seis por cento dos entrevistados disseram que o ciclismo tornou-os melhores amantes e 34% declararam que o desejo sexual aumenta depois de pedalar. Embora 72% respondesse que jamais encontraram parceiros através do ciclismo, 62% afirmaram que os ciclistas são mis atraentes.

O ciclismo, como malhação, está competindo com exercícios estabilizados, tais como o cooper e natação. A onda da bicicleta atacou em cheio, invadindo o asfalto, as praias e as poucas ciclovias que os baianos contam. É um verdadeiro “boom”, sobretudo na área litorânea de nossa cidade, para todas as idades. Nos fins de semana, o hábito de pedalar sobre duas rodas ganha a simpatia de todos. Vantagens não faltam. Além da malhação que proporciona um bem-estar físico completo, em especial o trabalho de pernas, a bicicleta é um instrumento contemporâneo, compatível com as dificuldades da modernidade. A “magrelinha” (como era chamada) não ingere gasolina nem álcool, estaciona em toda parte, não pega engarrafamentos e vale muito menos cruzeiros do que uma moto, sua parente mais próxima.

ELIMINA TENSÕES

Uma pedalada equilibrada proporciona uma série de conseqüências saudáveis como um bem-estar físico/mental. Associado ao trabalho de pernas, o ciclismo é um esporte que estimula a condição cardiovascular. Faz o pulmão captar mais oxigênio, além de transferir energia para o tecido muscular de todo o organismo. Assim, pedalar ajuda a eliminar tensões emocionais, aumenta a resistência orgânica e ajuda a fortalecer a musculatura do corpo.

Hoje, grande parte das bicicletas à disposição no mercado dispõe de um sofisticado sistema de câmbio que ajuda a atenuar o esforço. Os avanços todos significam que existe um modelo adequado ao tipo físico de cada um e apropriado às condições geográficas da região onde a pessoa mora. O modelo aperfeiçoado deu maior segurança, aumentando a propagação do esporte. Os avanços todos significam que existe um modelo adequado ao tipo físico de cada um e apropriado às condições geográficas da região onde a pessoa mora. O modelo aperfeiçoado deu maior segurança, aumentando a propagação do esporte chamado ciclismo. E já está em voga o bicicross – a corrida de bicicleta nos moldes do motocross.

25 julho 2008

Música & Poesia

A Triste Partida (Patativa do Assaré)

Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai
A treze do mês
Ele fez experiênça
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois barra não tem
Ai, ai, ai, ai
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Sinhô São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai
Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nóis vamo a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
Nóis vamo a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Ai pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai
E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai
Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrívi
Que tudo devora
Ai,lhe bota pra fora
Da terra natal
Ai, ai, ai, ai
O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai
No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Com seu filho choroso
Iscrama a dizer
Ai, ai, ai, ai
De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai
E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai
E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo e azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos fio pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai
Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Percura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai
Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai
Se arguma notíça
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade de móio
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai
Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai
Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
A lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai.



Elogio da sombra (Jorge Luis Borges)

A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.

24 julho 2008

O poder dos cinco sentidos (3)

O tato é o nosso sentido mais essencial. É o sentido que apresenta funções e qualidades únicas, mas que, frequentemente se combina com os outros. Afeta todo o organismo, assim como sua cultura e os indivíduos com quem entre em contato. O órgão é a pele que se estende por todo o corpo. Se o tato não fosse uma sensação gostosa, não existiria as espécies, as famílias ou a sobrevivência. Se não gostássemos da sensação de tocar e acariciar as outras pessoas, o sexo não existiria. O tato é a chave da sobrevivência. É o primeiro sentido que se desenvolve no feto e, em uma criança recém-nascida, é automático, sugerindo até mesmo antes que os olhos se abram ou que o bebê comece a ter consciência do mundo que o cerca. Logo depois do nascimento, apesar de não enxergar ou falar, começamos instintivamente a tocar.

O tato ensina-nos que a vida tem profundidade e contornos; faz com que sintam os o mundo e nós mesmos tridimensionalmente. Sem esse intricado conhecimento do mundo, não existiram os artistas, cuja habilidade é fazer mapas sensoriais e emocionais. O sexo é a intimidade em seu grau mais elevado, é o tato em seu mais alto nível. No beijo penetramos a pele um do outro e a mente e o corpo se ativam com deliciosas sensações. Mas o primeiro toque que os namorados trocam, geralmente, é nas mãos. Ou o aperto de mão que continua sendo um a espécie de contrato ou cumprimento comum. O tato é tão importante em situações emocionais que somos levados a tocarmos da maneira que gostaríamos que os outros nos consolassem. As mãos são as mensagens da emoção. O tato é veículo de cura tão poderoso que muitas vezes usamos os profissionais do toque (médicos, cabeleireiros, massagistas, etc). Quando não existe o toque, surge nosso verdadeiro isolamento. O contato aquece nossas vidas.
Na hierarquia dos sentidos, o gosto ocupa o primeiro posto na fase inicial de cada biografia. A primeira interpretação humana é que a criança estabelece ao chupar as coisas. O sábio (palavra de maior prestígio intelectual e humano até há poucos séculos) é o homem que entende de sabores, que sabe a quem sabe as coisas e o que significa isso.
O paladar é sentido íntimo. Não podemos sentir gosto a distância. E o gosto que sentimos das coisas, assim como a composição exata de nossa saliva, pode ser tão individual quanto nossas impressões digitais. Ao longo da história e em muitas culturas, o paladar, ou gosto, sempre teve duplo sentido. Paladar é sempre julgamento ou teste. As pessoas que têm bom gosto são aquelas que apreciam a vida de maneira intensamente pessoal, descobrindo sua parte sublime; o resto não tem gosto. Uma coisa de mau gosto é tida como obscena ou vulgar.
Todas as culturas usam o alimento com o sinal de aprovação ou comem oração. Precisamos comer para viver, da mesma maneira que precisamos respirar. Mas o ato da respiração é involuntário, e a busca da comida não, exige energia e planejamento, para nos obrigar a abandonar nosso torpor natural. Sair de casa pela manhã, ir para o trabalho são para “ganhar o pão de cada dia”, ou, se preferirmos, “merecermos nosso sal”, de onde vem a palavra salário.
A fome sexual e a física sempre estiveram interligadas. Qualquer alimento pode ser julgado afrodisíaco. Aqueles com formas fálicas, como cenouras, pepinos, picles, bananas e aspargos, sempre foram julgados afrodisíacos durante algum período, assim como as ostras e os figos, que lembram os órgãos genitais femininos.
A audição é o quinto sentido. O som engrossa o caldo sensorial de nossas vidas e dependemos dele como auxílio para interpretar, comunicar e expressar o mundo em torno de nós. O espaço sideral é silencioso, mas na Terra, quase tudo produz algum ruído. Os sons cativam tanto a gente que gostamos de ouvir palavras rimadas. A música, o perfume da audição, surgiu provavelmente como um ato religioso, com a finalidade de despertar grupos de pessoas. A música pode agitar ou acalmar, transportando nossas emoções. Escutamos com nossos corpos. É difícil ficarmos parados quando ouvimos música. A música produz estados emocionais específicos compartilhados por todas as pessoas e, como resultado, permite que comuniquem as nossas emoções mais íntimas sem que tenhamos que mencioná-las ou defini-las por meio de uma rede de palavras.
Para Beethoven, a surdez não foi entrave na composição de obras-primas. “Vendo Vozes” de Oliver Sacks (Cia das Letras), o autor conta a história dos surdos e questiona qual a melhor maneira de serem integrados à sociedade. Ariovaldo Franco descreve em sua obra “De Caçador à Gourmet” (Senac) os rituais e costumes que se formaram em torno da alimentação em diferentes civilizações. Já Jean Anthelme Brillat-Savarin aborda em “A Filosofia do Gosto” (Cia das Letras) as origens da gastronomia e do funcionamento do gosto. Para conhecer mais a fundo cada sentido uma obra primordial é “Uma História Natural dos Sentidos”, de Diane Ackerman (Betrand Brasil).

23 julho 2008

O poder dos cinco sentidos (2)

As maneiras que usamos para deliciar nossos sentidos variam de cultura para cultura. Nossos sentidos transpõem o tempo. Eles nos ligam intimamente ao passado com mais intensidade do que nossas idéias. Vivemos atados por nossos sentidos. Ao mesmo tempo em que nos fazem crescer, eles nos limitam e cerceiam. Temos a necessidade de criar obras de arte para aprimorar nossos sentidos e aumentar as sensações do mundo que nos cerca, para que nós possamos deliciar mais com os espetáculos da vida. Vamos comentar neste segundo artigo de dois importantes sentidos para nossas vidas: a visão e o olfato. O primeiro torna-se mais densamente mais rico quando o percebemos com os olhos, e o poder do olfato sempre foi assunto de povos de todas as culturas.

Vamos começar pelos olhos. Os olhos continuam sendo os grandes monopolizadores de nossos sentidos. Cerca de 70% dos receptores dos sentidos do corpo humano estão localizados nos olhos, e é principalmente por meio da visão do mundo que o podemos julgar e entender. Nossa linguagem está baseada nas imagens. Sem a luz e sem a água a vida existiria? A luz afeta nossos estados de espírito, acelera os hormônios, detona nosso ritmo. Durante as estações em que prevalece a escuridão nas latitudes do norte, aumentam os índices de suicídios, a insanidade surge em vários lares e o alcoolismo torna-se uma constante. Uma característica de nossa espécie é a habilidade de adaptarmo-nos ao ambiente e também de mudá-lo para servir-nos melhor. Quando queremos iluminar o mundo em torno de nós, construímos lâmpadas. Nossas pupilas aumentam naturalmente quando estamos entusiasmados ou excitados.

Há muitas maneiras de ver. O esforço para enxergar projeta uma visão diferente de tudo e de todos. Às vezes as sombras desenham imagens que distorcem a verdade das coisas e das pessoas. E também a visão direta da claridade, sem acostumar os olhos, cegava. Para enxergar bem, é preciso olhar profundamente e isso faz descobrir novas formas e significados e até mesmo outras visões. Os olhos que tudo vêem, não vêm a si mesmos, têm que se adaptar ao desejo de quem olha.

Já os odores detonam suavemente nossas memórias. Basta percebemos um aroma, e as lembranças explodem todas imediatamente. O olfato é o sentido mudo, o que não tem palavras. Vemos somente quando existe luz suficiente, degustamos o paladar quando colocamos coisas na boca, sentimos apenas quando tocamos alguém ou alguma coisa, ouvimos somente quando os sons são audíveis. Mas cheiramos o tempo inteiro, sempre que respiramos. Se cobrirmos os olhos, deixaremos de ver, se taparmos as orelhas, deixaremos de ouvir, mas se bloquearmos o nariz para não sentir mais cheiros, morremos. “Quem dominasse os odores dominaria oi coração das pessoas”, escreveu Patrick Suskind no romance O Perfume.

O olfato está intimamente ligado às emoções, à memória, além de influenciar seu bem-estar, sua imaginação e personalidade. O olfato tem ligação com nosso subconsciente. Os nervos olfativos se ligam com a gente do cérebro que regula a atividade sensório-motora, o sistema límbico. Esta região cerebral é responsável pelos impulsos primitivos de sexo, fome e sede e afeta diretamente o comportamento emocional.

Os cheiros compõem um alfabeto e linguagem particular que têm o poder de provocar reações específicas no corpo e na psique. Assim atingem os mais profundos cantinhos da alma, muitas vezes desconhecidos. Muitos artistas procuram sensações olfativas para estimular a criatividade. Segundo Jean Jacques Rousseau o sentido do olfato é a própria imaginação. O aroma de um pedaço de bolo e uma xícara de chá inspiraram Marcel Proust a descrever, em uma das maiores obras primas da literatura, a recordação infantil de comer bolinhos chamados “madeleines”. O olfato é um sentido muitas vezes menosprezado pela cultura excessivamente visual da atualidade. Os cheiros envolvem-nos, giram ao nosso redor, entram em nossos corpos, emanam de nós. Vivemos em constante banho de odores. O olfato é o mais direto de nossos sentidos. Cada um de nós possui suas próprias memórias aromáticas. O olfato foi o primeiro de nossos sentidos a se desenvolver. Pensamos porque cheiramos.

A cegueira não é empecilho para que o herói do gibi como Demolidor faça justiça. Quem é deveras cego? Pergunta José Saramago (Cia das Letras) no “Ensaio sobre a Cegueira”. Já João Vicente Ganzarolli de Oliveira (Revan) explicita como o belo é concebido pelo cego em “Do Essencial Invisível”. Em “O Perfume, História de um Assassino” (Record), Patrick Suskind busca a fórmula de um perfume ideal, num mundo descrito por odores, enquanto que o poeta Chales Baudelaire em vários poemas do “Flores do Mal”, traz a sinestesia, trabalha muito com o olfato. Isso sem falar na obra maior de Marcel Proust, “Em Buscas do Tempo Perdido”, no qual o odor de uma madeleine no chá traz à tona recordações de infância, inspirou pesquisadores ingleses a investigar a relação olfato-memória, que foi batizada de “proustian phenomena”. O terceiro e último desses artigos sobre sentidos vamos conhecer o tato, o paladar e a audição.

22 julho 2008

O poder dos cinco sentidos (1)

Ciclo é uma palavra de apenas cinco letras mas muitos significados. No dia a dia vivemos muitos ciclos. A semana, o ano, os meses de gestação, tudo em ciclo. A inspiração e a expiração completa um ciclo que nos mantêm vivos. Em todas as áreas do conhecimento há significados próprios para o ciclo. Os ciclos indicam o fim de uma fase, quando uma termina a outra já começou. Não é o fim de tudo, é o recomeço perene. A idéia do círculo, quer dizer ciclo, simboliza a perfeição exatamente por não ter nem começo e nem fim. A grandeza e importância dos ciclos medem-se pela intensidade dos sentimentos. É esta intensidade que marca o valor das experiências e que nos modifica permanecendo como progresso conseguido.

Na sabedoria chinesa, todo ano a primavera se repete como um a das estações, mas as flores são sempre novas, outras. Se alguém vive bem a experiência de um ciclo, torna-se apto a viver ainda melhor o próximo porque aproveitou e aprendeu com o que viveu na fase anterior. Viver inconseqüente equivale a não ter vivido, não acumulou vivência. A consciência leva a compreensão. Afinal, estar vivo é estar consciente. Se o ciclo não trouxer uma consciência do que fazer de nada nos valerá para o próximo.

As transformações conseguidas num ciclo de experiências vão reorganizar as energias para o próximo ciclo de vida. Assim, a espiral da vida é um momento circular que vamos ascendendo, crescendo na compreensão da vida pelas experiências vividas. O sol, a lua, os elementos da natureza, as estações do ano, o dia e a noite, as horas, todos os seres, tudo está relacionado, nada é separado. E o universo é regido por dois princípios, duas energias opostas e complementares a que chamam de Yin e Yang. Yin é tudo que se concentre, que está no interior, que converge para o centro, que resfria e pacifica.

Yang é tudo o que se expande, se movimenta, aparece e dinamiza. Yin é a energia materializada e Yang é a energia fluída. Yin é a terra, Yang o céu. Yin o escuro, noite, frio, interior. Yang é céu, dia, calor, exterior. Yin é água, Yang fogo. Yin o universo, a lua e a noite. Yang é o verão, sol e o sal. Yin é o conservador, Yang o inovador. Yin é a mulher, Yang o homem, Yin é a intuição e Yang racionalidade. Para cada qualidade Yin, você encontrará uma oposta e complementar Yang. Tanto Yin quanto Yang são necessários.

Para os chineses, entre a água (Yin) e o fogo (Yang) existe a madeira, a terra e o metal. Assim Yin e Yang que são dois se tornam cinco. Na natureza cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e água), relacionados a cinco direções (leste, norte, centro, oeste e sul), relacionados a cinco estações do ano: primavera, verão, canícula (os últimos 18 dias de cada estação), outono e inverno. Cada estação apresenta um dos cinco fatores climáticos: vento, calor, umidade, secura e frio. E na natureza prevalecem cinco cores: verde, vermelho, amarelo, branco e preto. Também são cinco as fases da vida: nascimento, desenvolvimento e crescimento, vida adulta, velhice e morte.

São cinco os órgãos internos do ser humano (fígado, coração, baço, pulmão e rim), cinco as vísceras complementares (vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga), cinco os órgãos dos sentidos (olhos, língua, boca, nariz e ouvidos), cinco os tipos de tecidos (tendões, vasos, músculos, pele e ossos), cinco os sabores (ácido, amargo, doce, picante e salgado) e cinco as emoções relativas ao desequilíbrio de cada órgãos (raiva, euforia, preocupação, tristeza e medo).

O homem, “por meio dos sentidos, suspeita o mundo” (como diz o poeta Bartolomeu Campos de Queirós, Os cinco sentidos), simboliza, se expressa, diz para si mesmo e para o outro. Nossos sentidos não apenas percebem e enviam sinais nervosos para o cérebro, mas dão significados ao que nos cerca, criam, transformam, estabelecem relações, revelam, mostram e se comunicam. Com os olhos, olhamos a vida, imaginamos, acordamos sentimentos, criamos imagens. O olfato e o sabor despertam a memória, fazem o pensamento ir longe entre cheiros e sabores da história individual e coletiva. Com os ouvidos escutamos os sons e os silêncios dos nossos interlocutores e do mundo, nos encantamos e inventamos novos ritmos e melodias.

A pele envolvendo o corpo inteiro, estremece, se arrepia, toca e é tocada, dança, chora, ri, registra e se deixa registrar. Assim, “por meio dos sentidos suspeitamos o mundo”, o recriamos e o damos à compreensão do outro. Todos os sentidos participam de cada linguagem, inclusive o sexto sentido, o que nos faz suspeitar, pois, como revela o filósofo e crítico da modernidade Walter Benjamin, a clarividência, o extra-sensorial estão presentes na linguagem.


21 julho 2008

Olfato, o sentido mudo, que não tem palavras

Quando respiramos, inalamos o mundo que passa por nossos corpos, assimilamo-lo ligeiramente e expiramo-lo, deixando-o livre novamente, levemente alterado por nos ter conhecido. Escreveu sabiamente Diane Ackerman em “Uma História Natural dos Sentidos”. Ao respirar percebemos os odores. Os cheiros envolvem-nos, giram ao nosso redor, entram em nossos corpos, emanam de nós. Vivemos em constante banho de odores. No livro “O Cão dos Baskervilles”, Sherlock Holmes identifica uma mulher pelo cheiro de seu papel de cartas, esclarecendo que “existe 75 perfumes, e um especialista criminal tem que ser capaz de identificar perfeitamente um do outro”. O escritor Kipling tinha razão ao dizer que “os cheiros são mais capazes de ativar as batidas do coração do que as imagens e os sons”.

Os sentidos da olfação e da gustação são considerados químicos, pois dependem do estímulo de substâncias químicas sobre receptores especiais. O olfato é o sentido que nos permite sentir os odores. As substâncias têm cheiro quando desprendem partículas que, levadas pelo ar, impressionam as terminações das células nervosa olfativa, localizadas na região superior da mucosa que reveste as fossas nasais. Estimuladas, as células olfativas transmitem impulsos nervosos ao nervo olfativo, que, por sua vez, os transmite à área cerebral responsável pela olfação. Aliás, muito do que geralmente chamamos paladar é realmente olfato.

Embora possa soar estranho, não é óbvio que com o olfato tudo esteja 100%. Existem pessoas que não conseguem sentir o cheiro de nada. Isso afeta o cotidiano tanto quanto a surdez ou a cegueira. Apesar de imprescindível, o olfato foi até pouco tempo um dos menos pesquisados órgãos dos sentidos. Somente há 15 anos, sabe-se como ele funciona. Na Europa, nos Estados Unidos, como também em outros países, pesquisadores trabalham tentando desvendar os mistérios do olfato. Cada pessoa possui cerca de 350 receptores olfativos diferentes. Isto não significa, entretanto, que possamos distinguir somente 350 tipos de cheiro. Os diferentes receptores são necessários devido à complexidade da estrutura molecular dos odores. Somente o espectro completo do aroma do café reivindica muitos e muitos receptores, afirma o professor de Neurofisiologia da Universidade de Stuttgart-Hohenheim, Heinz Breer. A cada odor corresponde, por assim dizer, um conjunto de receptores e, desta forma, também um conjunto de células sensoriais que podem ser ativadas por este cheiro, enquanto outras não.

Em 2005, o Prêmio Philip Morris para a Ciência foi concedido a pesquisadores do olfato da cidade de Bochum. Eles descobriram que os espermas possuem receptores olfativos semelhantes aos do nariz. Tudo o que é gostoso cheira bem? "É discutível se o fato de se estar com muita fome faz com que as coisas cheirem melhor. Que ovo podre fede e que pão fresco tem bom cheiro, isto se aprende com a experiência olfativa, pois somente com a língua não se pode distinguir mais do que se a comida é doce, azeda, salgada ou amarga. Em compensação, existem dezenas de milhares de odores – morangos frescos, café moído, baunilha, anis, canela, chá de menta...", responde Breer.

O sentido do olfato é o mais espiritual de todos os sentidos. A palavra hebraica para "olfato", rei'ach, é cognata àquela para espírito (ruach). Nossos Sábios ensinam que o olfato é o único sentido que "a alma desfruta, e não o corpo". O sentido do olfato é o mais sensível e complexo e, o menos entendido. É um sentido sutil e misterioso. Um odor nos passa uma sensação instantânea de prazer, nostalgia ou aversão.

Inúmeros estudos têm sido realizados com o objetivo de desvendar o poder do cheiro sobre o comportamento humano. Quando sentimos um cheiro, a nossa mente vai mergulhando numa viagem pelo tempo e as lembranças vão escorrendo, se derramando. E chegamos muitas vezes a tempos tão remotos que não sabemos explicar o sentimento que nos aflora. Cheiramos o tempo inteiro, sempre que respiramos. Os cheiros nos envolvem, giram ao nosso redor, entram em nosso corpo, emanam de nós. Se fecharmos os olhos, deixaremos de ver; se taparmos os ouvidos, deixaremos de ouvir; mas, se bloquearmos o nariz para não sentir o cheiro, morreremos.

O olfato é o sentido mudo, o que não tem palavras. O sentido do olfato é a própria imaginação. O bairro de Brotas, em Salvador, cheira a cajá. O bairro da Saúde em Nazaré é pura manga. Na Federação amêndoa tem cheiro forte e na Paralela o cheiro é de jaca. O mundo dos aromas é, portanto, um mundo sem palavras, um mundo de imagens, para ser explorado desde a ponta do nariz até o centro do nosso cérebro - um mundo de surpresas sutis e de um êxtase silencioso, com ondas de deleite percorrendo nosso corpo e produzindo sensações novas.

O mundo é cheio de sensações. O verão traz o sol iluminando a todos e trazendo um perfume doce no ar. No inverno o som matinal dos pássaros acorda os que teimam em ficar debaixo dos lençóis. No outono as folhas caem trazendo o sopro do vento e na primavera, as flores se abrem exalando perfume de todos os aromas. Os sentidos dividem assim a realidade em fatias vibrantes, juntando-as de modo a formar um padrão significativo. Os sentidos fornecem milhares de informações ao cérebro como se fossem microscópicas peças de um quebra-cabeça.

18 julho 2008

130 milhões de eleitores

O Brasil possui 130.469.549 de brasileiros aptos a votar nas eleições deste ano. Destes, 51,7% são mulheres e 8 milhões são analfabetos. Os dados foram divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A prevalência do sexo feminino é uma tendência desde o pleito de 2000, quando pela primeira vez o número de eleitoras (50,48%) superou o de eleitores. Apenas nos estados do Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins essa realidade é diferentes. Proporcionalmente, o maior eleitorado feminino está no Rio (53,29%). Pernambuco, Ceará e São Paulo também possuem eleitorados femininos expressivos, com mais de 52% de participação das mulheres.

Apesar de o alistamento eleitoral ser facultativo para os analfabetos, 8.097.513 brasileiros nessa condição tiraram seu título e estão aptos a votar em outubro. A maior fatia do eleitorado, porém, é formada por cidadãos que possuem o primeiro grau incompleto: 34,07% (44.456.754 do total). Com segundo grau incompleto estão inscritos 18,10% do total (23.618.098) de eleitores. Outros 12,10% (15.799.474) concluíram o ensino médio. Apenas 3,49% (4.558.845) do universo de eleitores brasileiros concluiu o ensino superior.

Os 2.922.432 eleitores inscritos para votar nas próximas eleições têm 16 ou 17 anos, faixa etária em que o alistamento eleitoral é facultativo. Do outro lado, 2.609.959 eleitores (2% do total) possuem mais de 79 anos e continuam, assim, participando ativamente da vida pública do país. As eleições de 2008 serão realizadas em mais de 400.000 seções espalhadas pelos 5.563 municípios brasileiros. Serão escolhidos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.


Os prefeituráveis

A revista Metrópole nº13 traz como destaque (matéria de capa) o “Lado B dos prefeituráveis” de Salvador. São histórias que os candidatos à prefeitura de Salvador não gostam de contar. Cada um pior do que o outro. Faltou comentar o caso de Daniel Dantas com famílias de políticos baianos. Dá pano para mangas.


Cacciola

O ex-banqueiro Salvatore Cacciola chegou ao Brasil para cumprir pena de 13 anos por causar prejuízo de R$ 1,6 bilhão ao Banco Central. Ele foi extraditado de Mônaco. Foragido há oito anos, viajou sem algemas por decisão do juiz Humberto Barros, do Superior Tribunal de Justiça, onde será julgado hábeas corpus, que pode libertá-lo. Essa é a nossa justiça...e ainda querem educar o povo com falsa moralidade. Por esses e outros motivos que cresce a violência no país sem justiça.

Carlos Ayres Britto

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres Britto, numa entrevista nas páginas amarelas da revista Veja (16 de julho) disse: “O juiz contemporâneo é aquele que abre as janelas do direito para o mundo. Isso não significa um juiz vassalo da imprensa. Significa um juiz disposto a ouvir atentamente o que a opinião pública tem a dizer. Não há mais lugar para o juiz que se tranca numa torre de marfim ou paira numa esfera olímpica, como um semideus”

Diz mais: “A regra segundo a qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado protege o indivíduo. Acho isso correto, claro. Mas também acredito que o indivíduo não pode usar essa regra em seu benefício quando pretende ocupar um cargo eletivo. No direito penal, em dúvida fica-se a favor do réu. No direito eleitoral, em dúvida fica-se a favor da sociedade. Quando um político exibe um número de processos que evidencia um namoro aberto com a delituosidade, esse político não pode representar a coletividade”.


Oscar dos Quadrinhos 1

Na próxima quarta-feira, dia 23 de julho, a partir das 19h00 no SESC Pompéia de São Paulo será realizado o tradicional evento HQMIX - que completa sua 20° edição – e que promove a votação dos melhores no “ mundo das HQ” entre mais de 2.000 profissionais das artes gráficas no Brasil. A estatueta Troféu HQMIX será entregue a 50 vencedores em várias categorias. A imagem do troféu deste ano é do personagem Samurai do quadrinhista Cláudio Seto. A festa terá apresentação de Serginho Groisman e Banda Jumbo Elektro/Cérebro Eletrônico. Haverá, também, participação do grupo Parlapatões. A cada ano é homenageado um personagem brasileiro na imagem esculpida pelo artista plástico Olintho Tahara. Neste ano a imagem é do personagem Samurai do quadrinhista Cláudio Seto, um dos primeiros a produzir quadrinhos no Brasil ao estilo “manga” japonês.

Também serão homenageados com o Troféu de Grande Mestres: Yppe Nakashima, Fernando Ykoma, Minami Keizi e os irmãos Paulo e Roberto Fukue. O troféu de Grande Mestre é concedido pela importância da produção do artista na história das artes gráficas no Brasil. É a primeira vez que o Troféu homenageia cinco de uma só vez, já que o costume é de um por ano. Inclusive Júlio Shimamoto e Cláudio Seto já ganharam esse prêmio em anos anteriores. A professora Sonia Luyten, presidente atual do Troféu é premiada internacionalmente por seu livro “O poder do Manga” que encontra-se esgotado. Mauricio de Sousa também estará no evento com seus novos personagens Tikara e Keika, criados para a comemoração do Centenário da Imigração japonesa no Brasil. Essa homenagem tem o apoio da Fundação Japão. No dia da entrega do troféu haverá a exibição de documentário sobre Cláudio Seto.


Oscar dos Quadrinhos 2

O Troféu HQMIX foi criado em 1988 dentro do programa TV MIX da TV Gazeta por JAL e Gualberto Costa com o apadrinhamento de Serginho Groisman.A votação é organizada pela Associação dos Cartunistas do Brasil e Instituto Memorial das Artes Gráficas do Brasil. O SESC ainda mantêm a extensa programação do HQ Férias que promove uma mostra de animações brasileiras, exposição sobre a História dos Quadrinhos no Brasil e interatividade com quadrinhos na cafeteria especialmente montada no espaço da Convivência. Dia 23 tem a exibição de: "O Samurai de Curitiba", trailer "Los Três Amigos", trailer "Insanidade" e "Dossiê Rê Bordosa".

17 julho 2008

Turma do Xaxado comemora 10 anos divertindo a todos

Há dez anos o quadrinhista Antonio Cedraz vem publicando ininterruptamente no jornal A Tarde as tiras A Turma do Xaxado. Para comemorar a data, ele está lançando o livro Xaxado – Ano 3. Esse volume compila 365 tiras publicadas no jornal entre 2001 e 2002. Hoje, além do jornal baiano A Tarde, a Turma do Xaxado é publicado também no Diário do Nordeste, de Fortaleza (CE). “Tudo começou em 1998, quando Sérgio Mattos editor do caderno Municípios, do jornal A Tarde pediu-me para fazer algumas histórias com um personagem interiorano. Levei algumas tiras de Xaxado, imediatamente aceitas e publicadas duas vezes por semana. Logo depois, o personagem migrou para a seção de quadrinhos do jornal e passou a ser publicado diariamente. Depois, vieram cartões telefônicos, revistas em quadrinhos, revistas de atividades, exposições, seis troféus HQ Mix e mais de duas dezenas de livros publicados. Muitas outras surpresas estão por vir”, conta Cedraz na apresentação da obra.

“A Turma do Xaxado mergulha sobre as lendas e sobre a dura realidade do sertão, sem descuidar da crítica social, e produz um resultado tão eclético que às vezes é difícil precisar a que faixa etária se destinam as histórias. Xaxado agrada igualmente a criança e o adulto. Diverte, ensina e chama à reflexão. Num mercado editorial saturado de criaturas super-qualquer-coisa, que só falam inglês, é um colírio encontrar uma publicação que fale de nossas raízes e dá voz aos que passam por inaceitáveis desamparo em pleno século XXI”, informa Cláudio Oliveira, mestre em Letras que defendeu dissertação sobre A Turma do Xaxado. Nesse livro tem ainda uma apresentação dos personagens em forma de cordel, feitas por Antonio Barreto.

ORIGEM – Xaxado é uma dança de guerra e entretenimento criada pelos cangaceiros de Lampião no inicio dos anos 20, no agreste pernambucano. Ainda na época do cangaço tornou-se popular em todos os bandos de cangaceiros espalhados pelos sertões nordestinos. Era uma dança exclusivamente masculina, por isso nunca foi considerada uma dança de salão, mesmo porque naquela época ainda não haviam mulheres no cangaço. Originalmente a estrutura básica do xaxado é da seguinte forma: avança o pé direito em três e quatro movimentos laterais e puxa o pé esquerdo, num rápido e deslizado sapateado. Os passos estão relacionados com gestos de guerra, são graciosos, porém firmes. a presença feminina aparece depois da inclusão de Maria Bonita ao bando de Lampião.

A origem da palavra é uma onomatopeia do barulho xa-xa-xa feito pelos dançarinos quando arrastam as alpercatas no chão. Xaxado retrata a vida rural do nordeste mostrando o dia a dia do sertanejo sob os mais diversos aspectos: o dia a dia, a relação com a terra, as lendas e mitos, a seca e muito mais. A simplicidade e originalidade do autor em muito se assemelha aos seus personagens, seja ele Xaxado (o líder da turma, neto de cangaceiro), Zé Pequeno (o preguiçoso), Marieta (sabe-tudo da turminha), Arturzinho (filho de fazendeiro abastado), Seu Enoque e Dona Fulo (pais de Xaxado), entre outros. Eles dão vida, humor e significado também a cultura baiana.

Num mercado restrito que é o do grafismo no Brasil, onde há descrença que quadrinho nacional não vende, na Bahia pior ainda. Aqui não temos editoras para publicar as criações dos artistas locais. Nos anos 70 fundei com alguns amigos o Clube da Editora Juvenil, mais tarde conhecido como Centro de Pesquisa e Comunicação de Massa. Na época publicávamos o fanzine Na Era dos Quadrinhos com estudos e pesquisas sobre quadrinhos, charges, caricaturas, desenhos de humor. Mais tarde essas pesquisas foram publicadas semanalmente na grande imprensa. Mas era pouco para ajudar os artistas gráficos.

Resolvemos realizar exposições em escolas, galerias de artes e shoppings seguindo de palestras para acentuar mais os trabalhos de nossos artistas. E finalmente quando passei a editar os cadernos de cultura da imprensa baiana resolvi abrir espaço para as tiras da Bahia. Essa valorização foi seguida por outros jornais. Na época muitos jovens só se interessavam em criar personagens super poderosos, voadores, super heróis imitações dos norte americanos.

Mas havia um grupo que se destacava para outras criatividades. Nildão, Setúbal, Lage, Cedraz, Dílson Midlej, Aps entre outros estavam nessa leva de criadores. Com o tempo fui me afastando dos quadrinhos (depois de publicar dois livros sobre o assunto) e fui me dedicar em outras artes (cinema, literatura, poesia, música, artes plásticas), mas sempre procurava me atualizar com os quadrinhos.

Cedraz seguiu no foco dos quadrinhos infantis – era uma paixão que ele não deixaria nunca. Saindo do pequeno município de Miguel Calmon, passando por Jacobina até chegar em Salvador ele passou por diversos obstáculos, muitas barreiras, mas sempre com fé naquilo que fazia. E isso é notável em sua trajetória. Um guerreiro, nada desanimava o rapaz, por mais que as portas se fechavam para ele, outra se abria. Seus quadrinhos começaram a ter maior visibilidade quando ele partiu para divulgar no interior do estado, depois em outras localidades. Um de seus livros, Turma do Xaxado – Volume 2, foi incluído no Programa Nacional Biblioteca na Escola onde o governo federal distribui nas escolas dos ensinos fundamental e médio.

Novos livros estão em pauta no estúdio onde ele fundou e trabalha junto com uma equipe composta de argumentista, desenhista, arte finalista e colorista. Sua filha se dedica na parte administrativa. E vem aí desenho animado, revista de circulação nacional e muito mais. Seus personagens serão licenciados, brevemente, para diversos produtos e serviços. Toda esta fase vitoriosa passou por uma trajetória espinhosa que só os artistas nordestinos sabem como é. O nordestino é antes de tudo um forte.

Quem deseja adquirir o livro de Cedraz, basta enviar um e-mail para editora@estudiocedraz.com.br. Maiores informações podem ser acessadas no site
http://www.xaxado.com.br. Lá tem diversas tiras, informações e fascículos educativos. Vale a pena conferir.

16 julho 2008

Confissões sexuais de Maria Francisca (2)

A obra do jornalista Sérgio Mattos (As Confissões Sexuais de Maria Francisca) explora o impacto dessa situação atual que o sociólogo Zygmunt Bauman denomina de “sociedade líquida”, quando o indivíduo se vê diante do dilema: precisa do outro, mas tem medo de desenvolver relacionamento mais profundo, que o imobilizam num mundo em permanente movimento. Assim todas as coisas sólidas começaram a se desmanchar. Aonde a liberdade é bem maior e os vínculos se estabelecem e rapidamente se desfaz, sem a dependência. Trata-se de uma sociedade de paixão descafeinada, do açúcar sem açúcar. Eis os tempos modernos. A felicidade é aqui e agora. O futuro, para essa juventude, parece bem distante.

A fina flor do erotismo e da pornografia está guardada num local especializado em livros, gravuras e estampas antigas, reservadas aos pesquisadores. Trata-se do Inferno da Biblioteca Nacional da França. É este nome mesmo. Aqui no Brasil também temos a nossa secção de livros reservados aos adultos.

Na literatura a respeito de erotismo e pornografia, em conteúdo aparece com recorrência em autores diversos: segredo. E seu correlato, secreto. O erótico e o pornográfico são percebidos como uma espécie de revelação de alguma coisa que não deve ser exposta. Ao prazer do mistério eles opõem o prazer do desvendamento. Os dois conceitos parecem estar sempre juntos. Ambos se referem à sexualidade e às interdições sociais e se expressam pela transgressão. São, cada qual a seu modo, expressões do desejo que triunfam sobre as proibições. A fronteira entre eles, se há uma, é certamente imprecisa, já que não depende somente da natureza e do funcionamento das mensagens, mas também de sua recepção, de seu posicionamento entre o admissível e o inadmissível cuja linha divisória flutua no espaço e no tempo.

Ao erotismo é deixado uma porta aberta ao sentimento amoroso. A pornografia supõe uma certa capacidade de excitar os apetites sexuais de seus consumidores. Nesse jogo da segmentação erótico/pornográfico, o imaginário e a fantasia cumprem um papel de importância inegável.

D.W.Lawrence foi perseguido muitas vezes pela censura inglesa com a publicação de “O Amante de Lady Chatterley”. Naquela época ele afirmou que os que atacam o erotismo não passam de hipócritas: “Metade dos grandes poemas, quadros, obras musicais e histórias deste mundo tem uma grandeza no apelo sexual. Em Ticiano ou Renoir, no Cântico de Salomão ou em Jane Eyre, em Mozart ou em Anne Laure, a beleza surge impregnada de apelo sexual...”. Lawrence aponta, enfim, para o grande problema moral do nosso tempo. O povo, moralizado, passou a ser a unidade de medida para definir o que é moral e imoral, erótico e pornográfico. Os moralistas se aproveitam disso como o axioma: vol populi, vox Dei.

Ao qualificar uma ou uma ação de pornográfica, erótica ou obscena, estou tendo uma reação individual ou estou agindo conforme o senso comum?, pergunta Lawrence. É uma questão delicada quando se sabe que o erotismo está associado tanto ao imaginário individual quanto às atividades cerebrais: o espírito livre qualifica como sexuais objetos, seres e até mesmo momentos que em se nada têm de sexuais.

Como escreveu o professor de História da Europa na Universidade de Princeton (França), Robert Darnton, sexo dá o que pensar. “Ao se cristalizar pensamento, especialmente quando aparece em narrativas: piadas sujas, bravatas masculinas, fofocas femininas, canções licenciosas e romances eróticos. Sob todas essas formas, o sexo é não apenas um tema, mas também um instrumento para rasgar o véu que abre as coisas e explorar seu funcionamento interno. Ele serve às pessoas comuns como a lógica serve aos filósofos: ajudar a extrair sentido das coisas. E foi por isso que o sexo propiciou na época de ouro da pornografia, de 1650 a 1800, especialmente na França”.

O que nos excita eroticamente não é uma herança permanente e universal de nossa espécie, é limitada pela cultura e pela história pessoal de cada um. Existem poucas verdades eternas na arte e no erotismo. Está tudo na interpretação, como todos sabem, e as interpretações variam. Estilos e gostos são criados, não nascidos.

15 julho 2008

Confissões sexuais de Maria Francisca (1)

Morena, cabelos lisos até o meio das costas, sorriso encantador, olhos sedutores, matreiros e cheios de segredos. Dona de um temperamento alegre e envolvente. Gosta de praticar o sexo casual, do amor avulso, sem ter que se preocupar com as conseqüências ou com o problema do parceiro. Assim é Maria Francisca, mãe solteira de dois adolescentes. Ela gosta de fazer sexo sempre que deseja, pois se só dizer sexo por amor ela vai acabar indo para a cama muitas poucas vezes em sua vida. E como gosta de sexo, quanto mais o pratica, mais ela vai desfrutar deste prazer ao longo dos anos.

As peripécias de Maria Francisca, a história de uma baiana que feriu e se feriu de amor é contada pelo poeta e jornalista Sérgio Mattos no livro “As Confissões Sexuais de Maria Francisca”, publicado pelo Grupo Editorial Scortecci. Nos cinco capítulos da obra o autor conta uma história de luxúria, por meio da qual são debatidos temas atuais e conflituosos, tais como hipocrisia social, censura, tipos de tortura, anistia política, conceito de pecado, cirurgia plástica vaginal, orgasmo entre outros.

Logo no prólogo o leitor toma conhecimento da melhor sedutora, 30 anos que acredita ser o protótipo da pecadora contemporânea. No primeiro capítulo (De como se livrar do vício do sexo) descobrimos seu apetite sexual, a prática do sexo compulsivo, mas ela sabe escolher o momento, o parceiro e faz a coisa acontecer de acordo com os seus próprios desejos.

Experiências no rio São Francisco é o segundo capítulo e aí descobrimos suas andanças pela cidade de Bom Jesus da Lapa, do santuário e dos romeiros, da gruta sagrada e o turismo religioso, das belezas e mistérios do Velho Chico, o rio que está causando grandes discussões sobre a transposição das suas águas. É lá que acabou acontecendo as farras com os amigos, verdadeiras orgias.

No terceiro capítulo o leitor defronta com os técnicos de sedução de Maria Francisca e sua paixão por um médico que fazia palestra sobre cirurgia plástica em Salvador. Técnica infalível: além de descobrir tudo sobre o profissional, seus desejos e rotinas, ela ainda completou o quadro com o seu perfume tiro e queda – o aroma de jasmim com canela e pimenta rosa, verdadeiro afrodisíaco. A técnica de sedução vai do olhar até o perfume de sua flor. Nada escapa de Maria Francisca, e no quarto capítulo até o Padre Olavo foi seduzido. Bastou ela olhar, gostou, seduziu, levou para cama. Simples, o poder da mulher é fogo!

Apesar de ser uma conquistadora infalível, ela acabou levando um fora de um de seus amantes, o ex-guerrilheiro de 64, Felipe Castelo, anistiado, que recebe indenização do governo. Era com ele que ela pretendia ter um filho, o terceiro. Foi esse fora que abalou a auto-estima de Francisca e ela resolveu buscar ajuda. Entre um psicanalista e um padre, fez a opção pelo segundo. E em Bom Jesus da Lapa ela passou três dias se confessando com um homem santo. E é com Frei Vicente que Maria Francisca passou a limpo a sua vida sexual, desde a infância quando foi vítima de abusos, depois as conquistas, homens, mulheres, médico, policiais, padre, nada escapava ao olhar furtivo, desejoso e lascivo de Francisca. Ela sempre queria mais.

Ousado mas real, erótico e sensual, picante mas informativo, a cada página o leitor fica sabendo com detalhes dos locais onde Maria Francisca freqüenta, dos temas do dia-a-dia como os implantes penianos, problemas ambientais que afetam o rio São Francisco, do sentimento de culpa e pecado, tudo abordado de uma maneira clara e simples como um rio que corre para o mar, sem impedimentos. O diálogo entre o padre e a pecadora é de tirar o chapéu, uma “mara tara” verdadeira. Para Francisca, o sexo casual é como se fosse fome, que precisa ser saciada. E para ela o melhor afrodisíaco que existe ainda é a variedade. E é bom lembrar que ela é do signo de touro – gosta de ser satisfeita pelo sexo. É uma amante exigente, deixa o seu parceiro sem fôlego. Tem beijo cheio de desejo e sensualidade. Como no signo, prefere beijos longos e muito profundos, molhados.

Bem, ela, depois de relatar suas aventuras ao padre para se sentir aliviada dos pecados, resolveu procurar Sergio Mattos para contar sua história visando a publicação do livro que será lançado no mês de agosto, com todos os gostos. Agora ela está em viagem internacional, pelo Japão, participando do festival anual da fertilidade. Depois ela volta e você pode ser a próxima vítima, ou melhor, sorteado. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É pegar ou largar!.

14 julho 2008

Crise no judiciário

O dono do banco Opportunity Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta foram presos junto com outras pessoas pela Operação Satiagrahe (que significa “firmeza na verdade”, em sânscrito), deflagrada pela Polícia Federal. Dantas foi acusado de usar suas empresas para cometer fraudes, fazer remessas ilegais e lavar dinheiro. Nahas cuidava da lavagem do dinheiro no exterior e Pitta recorria ao investidor para repatriar recursos.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Dantas concedeu habeas corpus a Dantas e outras pessoas por considerar que o fim da coleta de provas dispensava a prisão temporária deles. Dantas é preso novamente no dia seguinte, desta vez em caráter preventivo, por ordem do juiz federal Fausto De Sanctis. A justificativa era a acusação de que ele oferecera propina de US$ 1 milhão, por emissário, a um delegado de Polícia Federal (PF). O banqueiro volta à carceragem da PF. Mendes mandou soltar Dantas pela segunda vez, chamando a prisão preventiva de ”absurda” e “inaceitável”. Criou-se um embate jurídico.

Juízes e procuradores federais criticaram a decisão do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes de conceder liminar para suspender a decisão da prisão contra o banqueiro. O protesto foi de 42 procuradores da República e de 130 juízes federais. As instituições de classe saíram em defesa do juiz federal Fausto De Sanctis e divulgaram manifestos conta a intenção de Gilmar Mendes de investigar a conduta de De Sanctis.

O tal “Estado democrático de Direito” hoje está sendo usado a exaustão. Em 2000 o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello disse que decidia “tecnicamente” e concedeu habeas corpus para o banqueiro Salvatore Cacciola. E deu no que deu: Cacciola voou para a Itália. Os personagens da Operação Satiagrahe têm currículos controversos, milionários e inimigos da opinião pública. Mas isso não está interessando ao ministro. Para ele o fundamental é cumprir a lei. Se a lei não é boa, dizem, muda-se a lei. O que está existindo é uma distância enorme entre as alegações jurídicas e o desejo sufocante da sociedade por justiça real, ética e igualdade. Se querem o Estado democrático de Direito esse tem que valer para todos – desde os que têm banco aos que dormem embaixo do banco.

O estranho é que Dantas se declarou “tranqüilo” e sorridente quanto ao Supremo Tribunal Federal, do qual nada temeria. Ele usou o recurso de suborno, mas a autoridade em questão botou a boca no trombone, fornecendo o motivo legal para a segunda prisão. Datas demonstrou confiança em relação ao Supremo e essa confiança que foi confirmada com o hábeas corpus. Mas o povo quer saber: Qual a razão de tanto zelo pelos “direitos individuais” do banqueiro? Será que o ministro Mendes deu foro privilegiado ao banqueiro? O que se nota é que réu de “colarinho branco”, ou seja, ricos e poderosos não são presos, pois contam não só com bons advogados, e, principalmente com a complacência do Poder Judiciário.

É desconcertante a desenvoltura com que um magistrado da nossa mais alta corte retorce a lei e a jurisprudência para acomodá-las aos interesses e ao poder de um suspeito. O problema maior das nossas leis é o sistema de sucessivos recursos e apreciações que muitos propõem encurtar, com a opinião que amplia a lerdeza judicial. Enquanto nosso Código de Processo Penal não sofrer profundas modificações, os bandidos poderão repetir em entrevistas que só temem a Polícia, porque a Justiça é cega às suas práticas criminosas.

O Ministro da Justiça, Tarso Genro, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (13/07/2008) considerar “muito difícil” para o banqueiro Daniel Dantas consiga provar ser “inocente”, pois há “farta prova dentro do processo” e “está praticamente comprovado” que tentou comprar um delegado da Polícia Federal, além da descoberta de crimes financeiros pela Operação Satiagrahe. Numa das gravações telefônicas, o assessor do banqueiro disse que o maior problema deles era com as instâncias inferiores da Justiça, porque no Supremo Tribunal Federal e no Supremo Tribunal de Justiça eles resolviam mais facilmente. Dá para acreditar???

Para o defensor público e coordenador no núcleo criminal da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Raul Palmeira, a rapidez com que foi concedido habeas corpus em favor de Daniel Dantas causou surpresa não só a sociedade leiga no assunto, mas também à comunidade jurídica. Ele informou ao jornal A Tarde (11/07/2008) que os defensores públicos, responsáveis pela defesa em mais de 90% dos casos na Bahia, encontram dificuldades para colocarem em liberdade seus clientes, mesmo tomando todas as medidas judiciais. Questionado sobre o assunto, no mesmo jornal, o procurador-geral do Ministério Público da Bahia, Lidivaldo Britto, denunciou a postura discriminatória da Justiça brasileira: “Isso só reforça o estigma de que prisão é feita para pobre e analfabeto”.

11 julho 2008

Música & Poesia

O Sol (Arnaldo Antunes / Edgard Scandurra)

Nessa época o sol é mais frio
Porque ele se divide em mil
Mas para lá de janeiro
Ele volta a ficar inteiro

Agora o sol parece uma laranja madura
Porque ele está sem pintura
Mas quando entra março
Parece a cara de um palhaço

Tem dias que o sol vai embora
Tem noites que não tem aurora
Às vezes ele fica no Japão
E só volta quando chega o verão

Agora que o sol está bravo
Parece uma moeda de um centavo
Mas quando se alegra, o sol
Fica maior que uma bola de futebol

O sol está brilhando muito claro
Porque hoje é seu aniversário
Nesses dias ele quase cega
E quem é cego quase enxerga

O sol está sempre ali no céu
A terra é que faz o carrossel
De noite o sol apaga sua chama
E dorme debaixo da minha cama


Verdade Vergonha (Gregório de Mattos. Século XVII)

Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.

Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.

10 julho 2008

Sérgio Mattos registra a memória da imprensa contemporânea da Bahia

No próximo dia 15, terça-feira, a partir das 18h, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), na Piedade, está programado o lançamento do livro “Memória da Imprensa Contemporânea da Bahia”, organizado pelo jornalista e professor Sérgio Mattos. A obra integra o programa comemorativo dos 200 anos da instalação da imprensa no Brasil. O prefácio, da presidente do IGHB, Consuelo Ponde de Sena, informa que a obra “tem por objetivo recuperar, por meio de depoimentos pessoais, a ação de 23 profissionais da imprensa, a partir da segunda metade do século XX. Pessoas que militaram, ou ainda se mantêm em atividade, em nossa sociedade que, dessa maneira, ficam perenizadas pelo registro de suas ações”.

“Para obter essas informações – informou Sérgio Mattos na apresentação da obra – utilizamos a entrevista, essência do Jornalismo e ferramenta de pesquisa jornalística, para fazer do cidadão-jornalista fonte fundamental para o entendimento da história da imprensa baiana. As entrevistas aqui reunidas foram realizadas pelos alunos da disciplina Técnica de Entrevista e Reportagem, que ministrei no Curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Ipitanga/Unibahia, no período de 2002 a 2004, envolvendo um total de 25 alunos”.

Entre os comunicadores entrevistados estão Agostino Muniz (“todo jornal tem e sempre teve função política”), Álvaro Henrique (“jornalista não pode se omitir”), Antonio Carlos Magalhães (“se não fosse o Jornalismo, eu não seria político“), Carlos Navarro (“eu aprendi a fazer Jornalismo brigando”), Emiliano José (“o Jornalismo é uma coisa tão perigosa e tão potencialmente revolucionária que ele foi cercado historicamente por muitos constrangimentos”), Fernando Rocha (“o Jornal da Bahia revolucionou a imprensa baiana”), Florisvaldo Mattos (“a fluidez faz da notícia uma coisa abstrata”), Germano Machado (“o jornalista precisa ser livre e precisa ganhar bem”), José Olimpio da Rocha (“Jornalista que não lê, acaba desaprendendo”), Nelson Varón Cadena (“a comunicação está melhor em todos os sentidos”), e Paolo Marconi (“o jornal existe em função do leitor”). Fernando Vita, Ivan Pedro, João Falcão, José Valvede, Manoel Ferreira Canário, Pancho Gomes, Perfilino Neto, Raimundo Varella, Reynivaldo Brito, Samuel Celestino, Sérgio Mattos e Tasso Franco foram os outros profissionais entrevistados.

Para a jornalista e professora Matilde Schnitman, “dois aspectos merecem destaque nesse primeiro título do Projeto Memória da Imprensa Contemporânea da Bahia, organizado por Sérgio Mattos. O fato de ser uma atividade acadêmica de futuros jornalistas e o ineditismo de abordar a história da imprensa na Bahia tomando como fonte o trabalhador da notícia, o ´cidadão-jornalista´, observador privilegiado e responsável por levar a público fatos transformados em notícia”.

“Instilar nos jovens jornalistas o gosto da pesquisa, especialmente da pesquisa histórica, é indubitavelmente um gesto do pesquisador incansável, do jornalista atento à sua contemporaneidade. Gesto de um professor que faz a importante e necessária ponte entre a pesquisa acadêmica, que contribui para a análise crítica e teórica da atividade jornalística, e a pesquisa que qualifica a fonte e revela o contexto do fato antes da divulgação da notícia. De que tanto carece o jornalismo atual no Brasil e no mundo”, escreveu Schnitmamn na orelha do livro.

Patrocinada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Bahia (Sebrae-BA), com selo da Coleção Cipriano Barata, que identifica livros sobre a história da imprensa baiana, a obra alavanca as contribuições para o bicentenário da imprensa na Bahia, em 2011. Todos os comunicadores e interessados no assunto estão sendo convidados para o lançamento no IGHB. E é bom lembrar que há vários estacionamentos na vizinhança da Praça da Piedade e, após às 18h, o fluxo de tráfego diminui na área.

09 julho 2008

Diversidade em questão

A idéia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. “Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem todos têm o mesmo horizonte”, disse Konrad Adenauer. O brasileiro tem muita dificuldade em aceitar a diversidade. Não tem consciência de que nosso país é um viveiro de diferenças, desde as espécies da fauna e da flora e diversificadas regiões geográficas até nossa enorme variedade humana, cultural, religiosa e lingüística. E por que isso? Para muitos, essa nossa mistura evoca a idéia de inferioridade. Esse pensamento retrógrado veio de cinco séculos passados, de uma ideologia eurocêntrica que dizia que o elemento branco conquistador é superior. Essa idéia está na base da nossa formação desde o século 16.

Os primeiros jesuítas que vieram ao Brasil escreveram cartas informando que a miscigenação entre brancos, índios e negros acarretaria um gradual branqueamento, correspondente a uma evolução para esses contingentes humanos tidos como inferiores, menos inteligentes. Esses pensamentos atravessaram séculos e geraram preconceito, exclusão, vergonha e estão presente no imaginário coletivo.

No século 16 o povo ibérico queria expandir seus territórios e sua visão de mundo se baseava na racionalidade e no dogma cristão. Os povos milenares que ocupavam as Américas se relacionavam com o meio ambiente e tinha uma maneira totalmente distinta dos europeus. O encontro entre esses dois grupos humanos (ibéricos e americanos) gerou povos híbridos a partir da subordinação violenta do ameríndio ao europeu. Os valores e interesses da civilização branca foram impostos às custas de negação de valores humanos dos povos indígenas.

O antropólogo Darcy Ribeiro disse que o pai do povo brasileiro é branco, mas a mãe que o gerou é índia. O filho desse casal fundador é um mestiço bastardo e desorientado. Os colonizadores faziam questão de rebaixar a figura materna, gerando o sentimento de que nossa gente tem uma origem desprovida de valor. Esse foi todo o problema histórico que gerou o sentimento incômodo com a diferença.

E como disse o analista Roberto Gambini, “o amor se nutre da diversidade do outro em relação a mim. Amor não é fusão, é aceitação daquilo que não sou eu. Se todos fossem iguais, não seria necessária grandeza alguma, apenas uma boa acomodação. O Brasil é um país que clama por um amor generoso pelo diferente e por uma compreensão da riqueza que nasce da alquimia das diferenças. Mas nada disso está muito claro em nossa mentalidade coletiva. Falta foco, faltam linhas que aprofundem e direcionem essa reflexão. Ainda não descobrimos que aprender a respeitar e conviver com diferentes maneiras de ser nos faz crescer como seres humanos”.

Educação é a única coisa que pode promover a ascensão social da próxima geração das camadas menos favorecidas e gerar mudança social. É preciso tolerância, respeito e compreensão do valor da diversidade, aliados a um gradativo nivelamento das diferenças sociais.


Uma pesquisa desvendou a complexidade do perfil do povo brasileiro. Preconceituoso, conservador ou mesmo um pouco acomodado, o Brasil é um país que, em muitos aspectos, é completamente diferente do que se imagina. Foi a essas e a outras conclusões que chegou o sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alberto Almeida, quando concluiu o livro “A Cabeça do Brasileiro” (Editora Record). Algumas conclusões chegam a ser óbvias, como o fato de que grupos sociais com menos escolaridade apresentam mais resistência ao pluralismo de idéias. Outras chegam a ser preocupantes, como a pouca mobilização dos brasileiros para lutar por causas coletivas, como melhores ambientes de trabalho e salários mais justos. Apesar disso, o autor explica que a tendência mundial é a do individualismo. Além disso, o preconceito ainda está muito presente no dia-a-dia da população, afetando diretamente os processos de recrutamento e seleção e dificultando o aproveitamento do famoso conceito de ‘diversidade’ organizacional. Assim, mulheres e negros continuam a receber salários menores, enquanto homossexuais são alvo de piadas dos colegas de trabalho. Segundo o professor, “as pessoas de escolaridade baixa são mais tradicionalistas, enquanto aquelas de escolaridade mais elevada aceitam mais o pluralismo, as diferenças, o novo. O brasileiro ainda reivindica pouco, reclama pouco. É um povo que evita o conflito. Ao reivindicar por melhores salários ou promoções, melhores condições de trabalho, a busca costuma ser mais individual do que coletiva, mas isso não é algo exclusivo do Brasil. É um fenômeno mundial”.