10 abril 2019

Neuma Dantas mostra, em obra, a linguagem irreverente do Foia dos Rocêro


Há 120 anos surgia na Bahia um periódico debochado, de crítica política e linguagem irreverente: Foia dos Rocêro (1899-1968). Durou 69 anos. Tinha como redator o Coroné Zé Perêra Capa Bode que exercia papel de representante dos roceiros. Como os órgãos da imprensa eram veiculados, no período, a partidos políticos, o redator brincou nomeando o jornal como “órgão oficial da roça e do partido do desengrossa”, ou seja, do partido da oposição, partidários que não bajulavam o poder.



“Foia dos Rocêro – Crítica política e humor na imprensa baiana do século XIX” é o título do livro que a jornalista Neuma Augusta Dantas e Silva estará lançando no dia 17 de abril, às 10h no Auditório do CEADD, 1º andar da FACOM, em Ondina pela Editora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (EDUFRB). A publicação do seu conteúdo, primeiro como e-book e agora como impresso, realiza um sonho da autora. Deve-se também registrar o apoio do professor Sergio Mattos que incentiva o estudo da imprensa baiana e do jornalismo político brasileiro. Ele está à frente da Editora Edufrb.

 


A obra é fruto de uma pesquisa que analisa o jornal Foia dos Rocêro no seu primeiro ano de publicação (1899-1900). O objetivo é apresentar a ideologia do periódico, quem falava e a quem se dirigia a crítica. Humor e ironia eram as armas utilizadas, assim como termos depreciativos e de animalização no jornal.



Como a pesquisa é inédita (não foram encontrados outros textos dedicados) o estudo foi exclusivo do semanário, além de entrevistas com historiadores, estudiosos do humor, análise documental de livros e outros jornais em arquivos públicos, museu e bibliotecas para a fundamentação teórica.



Dividido em três capítulos, o primeiro (Política, Cultura, Sociedade e Economia na Velha Bahia) conta com três momentos. Bahia Politica (1899-1900), Processo matinal da cultura e Cidade suja, pobre, mas colorida. Nesse estudo, o Brasil na época tinha 16 milhões de habitantes e Manuel Ferreira de Campos Salles era o segundo presidente civil da história brasileira (1898-1902). Tempo da República Oligárquica e tinha como senador Ruy Barbosa, o maior nome da politica nessa época.



Quem governava a Bahia era o conselheiro Luiz Vianna desde 1896. Em 1900 ele foi substituído pelo advogado Severino Vieira e o Intendente Antonio Vitório de Araújo Falcão administrava, interinamente, a Prefeitura de Salvador. “Era esse o berço do Orgo Uficiá da roça e do partido do dizingrossa”. Assim, a política era marcada por interesses individuais. Entre os manifestos registrados pela Foia está a Revolta dos Caixeiros em consequência do resultado eleitoral para Intendente (prefeito), acusado de fraudulento.

 


A Foia tratava a Província da Bahia como a “Mulata Veia, aquela que é explorada e sugada em seus seios fartos do dinheiro público, pelos políticos” (p.31). Nessa Primeira República o governo estadual garantia o poder do coronel sobre seus dependentes e rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos cargos públicos. O coronel, por sua vez, hipotecava seu apoio no governo, principalmente na forma de votos. A estudiosa Katia Mattoso descrevia a cidade como suja, pobre, mas colorida.



No segundo capítulo, desdobra-se em quatro momentos (Jornalismo humorístico: o riso subversivo da noticia) explica as características que formam o universo humorístico, suas origens, aplicação e formatos sempre conjugados ao exercício jornalístico.



A pesquisadora mostra que a forma de noticiar do periódico da roça incomodava os poderes oficiais. Existiram diferentes publicações humorísticas na Bahia, porém a Foia dos Rocêro e a Gazeta dos Roceiros são muito provavelmente os únicos exemplares impressos onde se escrevia em “linguagem dos tabaréus”. O objetivo era mostrar com essa escolha dialetal, que o caipira ou analfabeto, não era alienado, ignorante ou desinformado como poderia parecer. “Conforme os diálogos de roceiros nas colunas do periódico, eles se interessavam pelas notícias da cidade, discutiam os procedimentos políticos e assumiam um posicionamento crítico diante das mazelas sócias e administrativos” (p.53).

 


Essa forma humorística era para conquistar o leitor, criticar, provocar o poder. Estratégicas escolhidas para combater arbitrariedades. Com certa liberdade que se opunha a falta de respeito a ideias diferente na virada do século.  Capa Bode tinha talento para provocar o humor. Ele usava das categorias de humor e da ironia para desestabilizar uma imagem criada, segundo o jornalista, sob bases falsas de hipocrisia. Jesuíno Ávila usava pseudônimo de Coroné Capa Bode para melhor se proteger dos poderosos.



Os governadores Luis Vianna e Severino Vieira eram apelidados de Reis Lulu e Reis Sivi. Vianna apresentava-se desnutrido no físico e no bolso e maltrapilho, mama no peito da Mulata Veia ao ocupar o cargo. Depois de recuperado lhe dá adeus ao fim do mandato, para seguir em direção ao navio que o levara a Paris. Era o estilo galhofeiro que o hebdomadário utilizava como linguajar caipira e os ditados ou expressões típicas do meio rural. Era a maneira que o Coroné Capa Bode rompe com a norma culta praticada na imprensa para fidelizar seu leitor, fazer a crítica e legitimar a fala do tabaréu.   



É nesse momento que o periódico é examinado, detalhadamente, em seu conteúdo. Terceiro capítulo. Medindo 37 X 26cm, o Foia apresenta-se em três colunas preenchidas com editorial, artigos, trovas, charadas, versos e personagens travestidos de tipos rurais. Tudo isso distribuído em quatro folhas que misturam graça e seriedade.



Editado semanalmente (da 1ª a 4ª dominga de cada mês) se destacando pela narrativa e desenhos irreverentes. Os primeiros números foram impressos a partir do final de agosto de 1899 com o nome As Coisas dos Rocêro. A partir da última semana de janeiro de 1900, o jornal tomou o nome de Foia dos Rocêro e Folha dos Roceiros. Foram pulicados, ao todo 92 números (1899 a 1903) sob a direção do Coroné Capa Bode. Numa nova fase, mais adiante, a partir de 1927, foi editado até 1968, por Mário Paraguassú.

 


Nas páginas dos roceiros, as ilustrações (vinheta, caricatura e charge) retratam personalidades conhecidas da política baiana na virada do século XIX para o XX. Começou a ser expresso em textos ou sátiras verbais. Só depois se realizaram através de imagens.



A obra tem sua importância ao retirar do anonimato a Foia dos Rocêro contribuindo assim para a formação da memória do jornalismo baiano e brasileiro. Esse jornal deu uma contribuição para entender a fase histórica intermediária e polêmica durante a qual o Brasil viveu mudanças fundamentais nos padrões políticos: regime governamental da Monarquia para a República, surgimento de uma nova Constituição, passagem do sistema escravocrata para o trabalho remunerado e adoção de novas formas de produção.


09 abril 2019

Revisando o índio brasileiro (2)


O governo encaminhou em agosto de 2009 ao Congresso o novo estatuto do índio, que prevê o fim da tutela do Estado sobre os povos indígenas e regulamenta a exploração mineral em suas terras, hoje proibida por falta de legislação. Pelo projeto, os índios poderão ser responsabilizados penalmente por qualquer crime, como os demais cidadãos. Um laudo antropológico irá embasar a decisão do juiz, que vai avaliar se o ato cometido pelo indígena é aceitável e está no contexto de sua comunidade. "[Com o estatuto] outorgamos a plena capacidade civil, responsabilidades, sem agredir a sua origem cultural e os direitos territoriais", disse na época o então ministro Tarso Genro (Justiça).



Quanto à mineração em terras indígenas, já tramitava na Câmara um projeto de lei com basicamente o mesmo conteúdo do estatuto. A atividade deverá ser autorizada pelos próprios índios, que vão receber parte do faturamento bruto com o comércio do produto explorado. É na Amazônia que a regulamentação terá mais impacto, já que 25% dos minerais da região estão em terras indígenas.




DENOMINAÇÃO - Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos europeus que aqui chegaram. Uma denominação genérica, provocada pela primeira impressão que eles tiveram de haverem chegado às Índias. Mesmo depois de descobrir que não estavam na Ásia, e sim em um continente até então desconhecido, os europeus continuaram a chamá-los assim, ignorando propositalmente as diferenças lingüístico-culturais. Era mais fácil tornar os nativos todos iguais, tratá-los de forma homogênea, já que o objetivo era um só: o domínio político, econômico e religioso.



As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte daquele que convive diretamente com os índios: as populações rurais. Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de "ladrões", "traiçoeiros", "preguiçosos" e "beberrões", enfim, de tudo que possa desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ação contra os índios e a invasão de seus territórios.




CRENÇAS - Já a população urbana, que vive distanciada das áreas indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas décadas tenha se constatado o crescimento da população indígena.



Só recentemente os diferentes segmentos da sociedade brasileira estão se conscientizando de que os índios são seus contemporâneos. Eles vivem no mesmo país, participam da elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham problemas semelhantes, como as conseqüências da poluição ambiental e das diretrizes e ações do governo nas áreas da política, economia, saúde, educação e administração pública em geral. Hoje, há um movimento de busca de informações atualizadas e confiáveis sobre os índios, um interesse em saber, afinal, quem são eles.




TRANSFORMAÇÃO - Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo completo de conhecimentos integrados, com fortes ligações com o meio em que vive e se desenvolve. Entendendo cultura como o conjunto de respostas que uma determinada sociedade humana dá às experiências por ela vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo, percebe-se o quanto as diferentes culturas são dinâmicas e estão em contínuo processo de transformação. O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e lingüística, estando entre as maiores do mundo. São 215 sociedades indígenas, mais cerca de 55 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas. 180 línguas, pelo menos, são faladas pelos membros destas sociedades, as quais pertencem a mais de 30 famílias lingüísticas diferentes.



No entanto, é importante frisar que as variadas culturas das sociedades indígenas modificam-se constantemente e reelaboram-se com o passar do tempo, como a cultura de qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que isto aconteceria mesmo que não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de origem européia e africana. No que diz respeito à identidade étnica, as mudanças ocorridas em várias sociedades indígenas, como o fato de falarem português, vestirem roupas iguais às dos outros membros da sociedade nacional com que estão em contato, utilizarem modernas tecnologias (como câmeras de vídeo, máquinas fotográficas e aparelhos de fax), não fazem com que percam sua identidade étnica e deixem de ser indígenas.




A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de vista das diferenças existentes entre as sociedades indígenas e as não-indígenas, quanto sob o ponto de vista das diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem no Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre realidades socioculturais diferentes e à necessidade de convívio entre elas, especialmente num país pluriétnico, como é o caso do Brasil. É necessário reconhecer e valorizar a identidade étnica específica de cada uma das sociedades indígenas em particular, compreender suas línguas e suas formas tradicionais de organização social, de ocupação da terra e de uso dos recursos naturais. Isto significa o respeito pelos direitos coletivos especiais de cada uma delas e a busca do convívio pacífico, por meio de um intercâmbio cultural, com as diferentes etnias.

08 abril 2019

Revisando o índio brasileiro (1)




O índio tem ocupado um espaço minúsculo em nossa historiografia, deixando ao esquecimento. Mas o índio tem uma história, plural. É preciso reconstruir o verdadeiro cenário desconstruindo abordagens simplistas que eurocentrizaram as análises, configurando o índio num ambiente social exótico e primitivo.



A história do índio brasileiro permanece adormecida. O que se mostra nas escolas, principalmente no ensino fundamental, são apresentações distorcidas. O conceito de sincretismo deve ser revisto, afastando as possibilidades de folclorização da cultura indígena. Reduzir a contribuição da cultura indígena a sua herança (vocabulário, comida, etc), tal como vemos nos livros didáticos, é empobrecer a sua história. Reescrever a História Indígena é, antes de tudo, modificar os discursos que durante tanto tempo representaram os nossos nativos como os mais nocivos e pejorativos adjetivos. É preciso apontar perspectiva mais seguras de compreensão do universo histórico e cultural do índio.

 


DIVIDIDOS - Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegava 5 milhões de nativos, aproximadamente. Esses índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia). Atualmente calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.



Em 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil, estima-se que havia por aqui cerca de 6 milhões de índios. Passados os tempos de matança, escravismo e catequização forçada. Nos anos 50, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, a população indígena brasileira estava entre 68 mil e 100 mil habitantes. Hoje o número é bem menor. Contando os que vivem em centros urbanos, ultrapassam os 100 mil. No total, quase 10% do território nacional, pertence aos índios. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia em torno de 1.300 línguas indígenas. Atualmente existem apenas 150. O pior é que cerca de 35% dos 210 povos com culturas diferentes têm menos de 200 pessoas.

 


Em seu estudo intitulado Colonialismo Predatório, Desempoderamento, o professor da Faculdade Dois de Julho, Derval Gramacho escreveu: “Ainda no primeiro quarto dos anos 1500, os índios passaram de simpática gente, conforme descrito nos primeiros relatos históricos, notadamente na carta de Pero Vaz de Caminha (1500), a terríveis canibais, antropófagos vorazes, vide, por exemplo, as narrativas de Hans Staden e Jean de Lery. Com isto, pode-se supor, os portugueses pretendiam forçar o afastamento de seus concorrentes na ocupação da nova colônia. Por outro lado, também justificavam a disposição de intervir, juntamente com a Igreja (na plenitude da vigência da Inquisição), na colonização e catequese dos índios que precisavam tornar-se cristãos, quer pelo poder do convencimento da cruz (a Igreja), quer pelo poder das armas (a Coroa). Uma vez submetidos à nova fé, a relação de subordinação deveria se processar de forma menos resistente, mantendo o colonizador a sua supremacia hegemônica” (...) Constata-se, então, que a usurpação do território lesou, não somente no sentido material, o índio com a desapropriação daquilo que lhe era tão caro (a terra) que valia morrer em defesa de seu sítio. Mesmo que fosse de sua natureza ser nômade, haveria sempre uma terra que seria ocupada e na qual se situariam por determinado espaço de tempo. No plano afetivo, o índio também perdeu, pela desapropriação, o lugar onde suas práticas rituais, seus costumes e sua tradição se instalaram, onde construíram relações quer sociais, quer de parentesco”.



NATUREZA - Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual.



O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores quando necessárias.

 


A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considerada pelo europeu como sendo inferior e grosseira. Dentro desta visão, acreditava que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura europeia. Foi assim, que aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e também sua identidade.



ATUANTE - A historiografia costuma mostrar os índios como coadjuvantes incômodos, personagens secundários, selvagens infelizes e retraídos. Mas os índios tiveram um papel muito mais atuante e diferenciado do que se supõe, interagindo com os demais agentes sociais de diversas formas que vão da fuga ao ataque, da negociação ao conflito, da acomodação à rebeldia.

 


A quase totalidade dos índios do Nordeste foram contactados e passaram por experiências de aldeamento durante o período colonial. Sob a tutela dos jesuítas e de outras ordens religiosas como os beneditinos, os capuchinhos, os carmelitas e os franciscanos, os aldeamentos missionários totalizavam perto de uma centena em meados do século XVIII. O avanço da pecuária e da cultura do algodão e o assentamento de fronteiras no sertão foram devastadores para as populações indígenas. O índio brasileiro e baiano precisa ser reconhecido pelo seu próprio povo: o povo brasileiro.



A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) celebra 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas.  O objetivo é chamar a atenção para a importância dessas línguas para a riqueza cultural global. Há no Brasil, atualmente, cerca de 170 línguas indígenas “vivas”. E só no Amazonas, onde se concentra o maior número de etnias, há aproximadamente 53, que podem variar para mais ou para menos de acordo com a identificação de dialetos.

06 abril 2019

Guia dos saudosistas (02)


ANOS 70:



Garrastazu Médici foi o político da Transamazônica, o tri e a repressão política. Na época o visual era boca-de-sino - é a década do excesso de pano, a vitória do brega.



Led Zeppelin dá peso no rock, discoteca se destaca, os Bee Gees cantam e a turma segue os passos do Travolta. Os punks assustam, o rock progressivo enche a paciência, mas o que importa é dançar. 

 


Tem Tropicália, fusion (fusão do rock com o jazz), as peças Gota d´Agua e Calabar, de Chico Buarque de Holanda, O Pasquim na contramão do jornalismo, a pornochanchada desviando da censura, O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci discutindo a sexualidade e O Exorcista - o cinema de terror vira campeão de bilheteria, apesar de muita gente que teve medo de assistir. Uma menina que se masturba com um crucifixo destruiu os limites da época. 



A frase da década: "Brasil: ame-o ou deixe-o", "Graças a Deus. É Sexta feira!".



Ataques de grupos terroristas em todo o mundo.



Crise de petróleo abala a economia mundial.



Brasil, ame-o ou deixe-o é o tema.



Leila Diniz vira símbolo de emancipação feminina.



Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison morrem de overdose de drogas.



As discotecas nos EUA vivem a febre de sábado à noite.



Censura veta 500 filmes, 450 peças, 200 livros, 100 revistas e 500 musicas no Brasil.



EUA saem do Vietnam. Nixon renuncia após o Watergate.





ANOS 80:



Tancredo Neves uniu o país duas vezes: na esperança e no luto. E o visual era Yuppie - jovem profissional, você é o que você consome. Darks, Smith, Joy Division, new wave, rock brasileiro, Blitz, aeróbica, reggae, breaks, Gerald Thomas. O som era de Michael e Madonna. Ele, cada vez mais famoso, rico e branco, e ela, cada vez mais sexo e polêmica, transformam a venda de discos num furor planetário. Tem Paris Texas, de Wim Wenders nas telas. Rock in Rio, axe music. E.T. o Extraterrestre - o entretenimento chega à fórmula perfeita. Primeiro, o encanto. Depois, a angústia. No fim, rios de lágrimas e dinheiro. E quem não levaria o ET para casa?. A frase: "Minha prioridade, agora, é o meu trabalho", "Diretas já!".

 



Gorbatchev assume o poder na URSS e dá inicio a abertura que levou ao fim do bloco comunista.



A Aids se transforma em epidemia mundial.



Surge os yuppies, jovens profissionais bem sucedidos.



Thriller, de MJ é o disco mais vendido da década.



Xuxa se transforma em rainha dos baixinhos.



Movimento pelas Diretas Já.



Queda do muro de Berlim.





ANOS 90:



FHC é ministro, pai do real e presidente atrás do bi. O visual: Piercing - o mundo num buraco e você se enche de furo. O som: Xuxa - ela, Sandy, Júnior, Carla...Será que só criança compra CD? Pagode e sertanejo empolgam, mas são os baixinhos que decidem o CD que toca em casa. Filme: Titanic - o público quer histórias com mocinho e bandido, começo, meio e fim, mais um CD com a trilha baba. E aprova o maior turbilhão de dinheiro de Hollywood.  A frase: "Mas você não tem e-mail?", "É proibido fumar".



Neoliberalismo torna-se a doutrina hegemônica no mundo, suprimindo as barreiras comerciais e consolidando o processo da globalização.



Internet chega ao grande público e revoluciona a comunicação.



Difusão do CD, telefone, celular e da Internet.



Clonagem da ovelha Dolly cria expectativa sobre a possibilidade de se clonar humanos.



Dupla sertaneja, pagode e axé music abriram o gosto popular no Brasil.



Tecnologia influencia o mundo pop com a música eletrônica.



Crise atinge até os tigres asiáticos e promove o crash global.



Estagnação econômica elege o desemprego mundial.



A partir do ano 2000 a onda é outra e você pode muito bem estar lembrado, não precisa de blog nenhum para isso.



Como cantou Raul Seixas em A Verdade sobre a Nostalgia: “por isso, a nostalgia eu tô curtindo sem querer/porque está faltando alguma coisa acontecer/mamães já ouvem Beatles/papai já deslumbrou/em :com meu cabelo grande/eu fiquei contra o que já sou/na curva do futuro, muito carro capotou/talvez por causa disso é que a estrada ali parou/porém, atrás da curva perigosa, eu sei que existe/algum coisa nova mais brilhante e menos triste”.



Fui!

04 abril 2019

Guia dos saudosistas (01)


Nos anos 1960, Caetano Veloso proclamou: “Chega de Saudade”. A saudade, muitas vezes, é associada a uma espécie de fuga da realidade atual, à mitificação de outro tempo em detrimento daquele que está aí. Hoje talvez ele seja até necessário, num mundo que dilui todas as experiências em segundos. Vamos relembrar, em pequeno resumo, o que foi moda em cada década do século XX:



ANOS 10:




Rui Barbosa era o político forte da década, o maior coco da Bahia. O visual da população era fraque, cartola, bengala e, bigode. O som era de Chiquinha Gonzaga com a marcha Abre Alas e Bahiano com Isto é Bom. O filme da década: O Nascimento de uma Nação, de Griffith, primeiro longa metragem norte americano. E a  frase mais pronunciada: "Fora da lei não há justiça"



ANOS 20:




Político mais em evidência era Luís Carlos Prestes. O visual vai para as garotas: Ar vamp para as mulheres com boca carmim, cabelos curtos e grandes decotes. O som de destaque era para Bessie Smith com Crazy Blues e Pixinguinha com Carinhoso. Metrópolis, de Fritz Lang era o filme em questão junto com Limite, de Mário Peixoto. Modernismo, surrealismo, fox trote e expressionismo alemão eram temas em discussão. E Mickey Mouse era o tal nos desenhos animados. A frase: "Parabéns, Sr. Ford. Só daqui a cem anos poderemos dizer se o senhor nos ajudou ou nos prejudicou. No entanto, com certeza, o senhor nos modificou".



ANOS 30:




Getulio Vargas era o político que mandava e desmandava. E o visual baseado na simplicidade e praticidade: Chanel, não tem outra.  Noel Rosa, Ari Barroso, Duke Ellington, Francisco Alves, Cartola, Jackson do Pandeiro, Nélson Gonçalves e Dalva de Oliveira são as estrelas da década. O filme que se destaca: ...E o Vento Levou.



ANOS 40:



Getúlio Vargas - condutor do país num período conturbado. O visual: Chapéu - para homens, obrigatório. Para mulheres, vitrine. Som: Francisco Alves - ele e Orlando Silva aqui, Sinatra lá. Suspiros...A música romântica embala a geração do pós-guerra e quer preparar o mundo para dias melhores. 



Emilinha e Marlene são as cantoras do rádio. Filme: Casablanca - caso único: romantismo para moçoilas ingênuas e durões. Cantando na Chuva encanta a todos. A frase: "A guerra acabou!", "o petróleo é nosso!".



Chanchada da Atlântida marca a década.




Difusão dos heróis dos gibis, liderados por Capitão América.



Primeira montagem de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues.



ANOS 50:



Juscelino Kubitschek foi o homem que industrializou o Brasil. O visual: Brilhantina - o encosto do sofá ficava todo manchado de óleo. Na música, Elvis Presley - o garoto caipira canta, rebola e inventa o rock. Fera rebelde de primeira hora, cede ao sistema e fica mansinho. Mas o estrago já está feito. 



Little Richard, Chuck Berry, Bossa Nova e João Gilberto, cool jazz (com Chet Baker e Milles Davis), James Dean, Marlon Brando e Marilyn Monroe se destacam nas telas. Filme: Assim Caminha a Humanidade - três horas de história do Texas recheada de hormônios em fúria com James Dean angustiado, Liz Taylor belíssima e Rock Hudson ainda dentro do armário. A frase: "Oi, broto. Vamos lá no vizinho que tem televisão?".




Nos EUA começa o macarthismo, ofensiva anticomunista



No Brasil, o nacionalismo getulista cede lugar ao desenvolvimento de Juscelino Kubitschek



Inicio das transmissões de TV no Brasil.



Começa a Petrobrás.



Chegada da indústria automobilística.



Rio 40 Graus inaugura o cinema novo.



João Gilberto grava Chega de Saudade.



JK usa o slogan 50 anos em 5



ANOS 60:



Jânio Quadros entrou, saiu depressa e marcou um estilo. O visual era a minissaia - a menor bandeira da revolução sexual. Roberto Carlos - bicho, Jovem Guarda é uma brasa, mora? Os Beatles e os Rolling Stones dão as cartas lá fora, mas aqui o que vale é a calça Calhambeque. Tem ainda Alegria Alegria com Caetano Veloso, Bob Dylan, Jimmi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Cinema Novo, Nouvelle Vague, James Bond, O Rei da Vela de Zé Celson. Brigite Bardot - E Deus criou a mulher mais desejada de todas enquanto que Marcello Mastroianni era o latin lover da tela. A frase da década era "É proibido proibir" ou "Faça amor, não faça a guerra".




Revoltas estudantis em todo o mundo.



Militares derrubam João Goulart e iniciam o regime de força no Brasil.



Os Beatles se tornam o mais popular que Jesus Cristo e influenciam comportamento juvenil com o uso de cabelos compridos.



No Brasil os programas Jovem Guarda e O Fim da Bossa dividem as preferências musicais.



Surge o Tropicalismo e a minissaia está de volta.



Assassinato de Kennedy, presidente dos EUA.



Revolução Cultural na China.



Morte de Che Guevara.



O Pagador de Promessas ganha a Palma de Ouro em Cannes.



Renuncia de Janio Quadros.



Editado o AI-5 e suspendes direitos políticos.




03 abril 2019

Cruel, apaixonado ou desesperado abril?


“Abril é o mais cruel dos meses”. A sentença de difícil constatação empírica é o verso inicial do poema “The Waste Land” (A Terra Desolada, na tradução de Ivan Junqueira), do norte americano naturalizado inglês Thomas Stearns Eliot (1888/1965). O poema, de T.S.Eliot foi publicado em 1922 e constrói uma cerrada rede de referências à tradição literária europeia na descrição de um continente devastado por um processo de desagregação que vinha desde o Renascimento. “Abril é o mais cruel dos meses, germina/Lilases da terra morta, mistura/Manhã e desejo, aviva/Agônicas raízes com a chuva da primavera”.



Outra obra com destaque para o quarto mês: “Abril Despedaçado”, filme do cineasta brasileiro Walter Salles baseado no livro de Ismail Kadaré sobre o Kanum – o código que regulamenta os crimes de sangue na Albânia. A partir do livro, Salles mostra a vingança entre famílias pela posse da terra. Rodrigo Santoro vive Tonho que questiona a lógica da violência, da tradição e da perpetuidade.

 


Saindo do trágico para o lírico, temos “As Cores de Abril”, de Vinícius de Moraes e Toquinho: “As cores de abril/os ares de anil/o mundo se abriu em flor/e pássaros mil/nas flores de abril/voando e fazendo amor//O canto gentil/de quem bem te viu/num pranto desolador/não chora, me ouviu/que as cores de abril/não querem saber de dor//Olha quanta beleza/tudo é pura visão/e a natureza transforma a vida em canção//Sou eu, o poeta, quem diz/vai e canta, meu irmão/ser feliz é viver morto de paixão”.

 


Temos ainda a composição de Adriana Calcanhoto: “Abril”: “Sinto o abraço do tempo apertar/E redesenhar minhas escolhas/Logo eu que queria mudar tudo/Me vejo cumprindo ciclos, gostar mais de hoje/E gostar disso/Me vejo com seus olhos, tempo/Espero pelas novas folhas/ Imagino jeitos novos para as mesmas coisas/Logo eu que queria ficar/Pra ver encorparem os caules/Lá vou eu, eu queria ficar/Pra me ver mais tarde,/Sabendo o que sabem os velhos/Pra ver o tempo e seu lento ácido dissolver o que é concreto/E vejo o tempo em seu claroescuro/Vejo o tempo em seu movimento/Me marcar a pele fundo, me impelindo, me fazendo/Logo eu que fazia girar o mundo,/Logo eu, quem diria, esperar pelos frutos/Conheço o tempo em seus disfarces, em seus círculos de horas/Se arrastando feito meses se o meu amor demora/E vejo bem tudo recomeçar todas as vezes/E vejo o tempo apodrecer e brotar/E seguir sendo sempre ele/Me o tempo todo começar de novo/E ser e ter tudo pela frente”.

 


Marina Lima compôs “1º de Abril”. Diz a letra: “Qual de nós foi quem mentiu...?/Ou será que era 1° de Abril.../Não importa/Te gosto mesmo assim//Tempo vai passando mas/Às vezes passa e ainda fica atrás/Daquela malcontada estória de amor//E se eu disser tudo que sei,/Amor eu nos entregarei,/Mas se eu negar/De que valeu/Nossa nobreza,/Você e eu//Qual de nós foi quem mentiu...”


01 abril 2019

Trajetória política do rock anos 50 aos 80


A canção de protesto ressurgiu nos anos 1950 com forte poder de mobilização. Nesse período a música pop teve uma importância muito grande na criação de um clima anti-discriminação e anti-guerra nos Estados Unidos na década de 60. O pop divulga uma atitude contrária à energia nuclear, ao apartheid e à fome nos anos 70 e 80. Há também a força do reggae dentro do processo político jamaicano e os movimentos de independência na África.



Vamos conhecer um pouco dessas atitudes politicas adotadas pelo pop em quatro décadas. A primeira, que vai do pós-guerra ao fim da década de 60 (corresponde à era pré-industrial de rock), marcada pelo idealismo e vontade de “mudar o mundo”. Nas décadas de 70 e 80 as causas são mais humanitárias do que propriamente políticas.





ANOS 50 – As canções de protesto de Pete Seeger seguiam os passos de dois compositores com origem nas classes trabalhadoras (Leadbelly e Woody Guthrie). Membro do Partido Comunista, especializou-se em coletar e divulgar hinos sindicalistas. Nessa época o rock and roll foi reprimido e provocou ondas de censura todas as vezes em que se manifestou como energia anárquica, sem causas conhecida. Exemplo: rebolado de Elvis Presley, identificado pela sociedade norte-americana dos anos 50 como um elemento nocivo, oriundo da cultura negra. Uma manchete do New York Times de março de 1956 afirmava que o rock´n´roll era uma “doença contagiante”.



ANOS 60 – A música teve papel importante na luta pela aprovação de leis anti-segregacionistas que tomou corpo no período, sob a liderança de Martin Luther King.  O gospel era usado como produto para reuniões entre organização e comunidades negras. O grupo vocal Freedom Singers, ligado ao movimento, viajou o país arrecadando fundo e divulgando a campanha. Harry Belafonte tornou-se ativista político, contribuindo com dinheiro arrecadado através de calipsos inofensivos como Banana Boat Song. Artistas brancos como Bob Dylan, Joan Baez e Peter, Paul and Mary tomaram parte em marchas e festivais. Em 1963, Dylan compôs Only a Pawn in Their Game, baseada na história de Medgar Evers, líder negro morto pela Ku Klux Klan.

 


Em 1963 Bob Dylan gravou o folk de protesto Blowin’ In The Wind. Captando e transmitindo as frustrações dos oprimidos nos Estados Unidos (principalmente os negros), esse músico branco conseguiu atingir praticamente todas as classes da sociedade e seu som tornou-se uma espécie de hino oficial para o movimento pelos direitos civis que aconteceu nos anos 60.



Várias canções pop contribuíram para a criação de uma atmosfera desfavorável à guerra do Vietnã nos EUA entre 1968 a 1972: Fixing To Die Rag (Joe MacDonald), War (Edwin Starr), Unknown Soldier (Doors) e What´s Going On (Marvin Gaye).



Em 1968 Mick Jagger participou de um ato público pelo fim da guerra em Londres. Em 1969, John Lennon e Yoko Ono passaram três dias “na cama pela paz”. E compôs Give Peace a Chance, que se tornou o hino da marcha anti-guerra.

 


ANOS 70 – Na Inglaterra em 1976 bandas de reggae (Aswad, Merger, Steel Pulse), expoentes do movimento punk (Clash, Stranglers, Jam), Peter Gabriel, Peter Townshend, The Fall, The Specials e Elvis Costello, entre outros criaram o Rock Against Racism. O movimento tinha ligações com o Partido Socialista dos Trabalhadores, que ganhara força na oposição ao National Front, organização partidária de caráter fascista. A ideia era alertar o público jovem para a ascensão do neo-fascismo e pregar a convivência étnica através de concertos que misturavam bandas brancas e negras. A banda irlandesesa U2 fez sucesso com a música Sunday Bloody Sunday, letra que trazia o desabafo e a indignação dos cantores contra a intolerância religiosa entre protestantes e católicos que resultou na morte de dezenas de pessoas, fato ocorrido em 1972, em Derry, na Irlanda do Norte.



Em 1977 é criada na Califórnia, a Alliança for Survival contra a ameaça nuclear, promovendo shows com Jackson Browne, Stevie Wonder e Bob Dylan. Outro movimento (Músicos Unidos por uma Energia sem Perigo) realizou uma série de concertos no Madison Square Garden de NY em 1979, com James Taylor, Tom Petty, Bruce Springsteen. Na Inglaterra, a Campanha pelo Desarmamento Nuclear, iniciado em 1969, renasceu em 1981 com o lançamento do LP Life in the European Theatre, com faixas do Clash, Specials, The Beat, Peter Gabriel, Madness, Stranglers e Style Council.

 


Em 1979 os punks do Clash lançaram um dos mais importantes discos da história do rock, intitulado London Calling. A música fala sobre várias questões políticas do mundo todo e de Londres, terra do quarteto. Brutalidade policial, guerra nuclear, dívidas e assuntos que preocupavam a população dos anos 70/80 estão lá, além do título, uma alusão à frase “Essa é Londres chamando…”, utilizada durante a Segunda Guerra Mundial pela Inglaterra para se comunicar com países que ela havia ocupado.



ANOS 80 – Vários artistas se alinharam à política de boicote à África do Sul adotada pela ONU. Steve Wonder gravou It´s Wrong, sobre o tema em seu LP de 1985. No mesmo ano Bob Dylan, Bono, Springsteen, Lou Reed, Jimmy Cliff e Afrika Bambaataa cantaram “Nós não vamos ticar em Sun City” no LP Sun City. O grupo inglês Artistas Against Apartheid organizou em junho de 88 um concerto em homenagem ao 70º aniversario de Nelson Mandela com Wonder, Belafonte, Tracy Chapmann e Peter Gabriel. O concerto foi o maior evento pop beneficente da história. Os direitos humanos foram abordado também. A turnê Conspiração da Esperança marcou o aniversario da Anistia Internacional em 86 pelo EUA com U2, Tom Petty,  Fela Kuti, Lou Reed, Sting, Dylan e Joan Baez. Em 88 a Anistia promoveu uma turnê mundial para comemorar o 40º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com Peter Gabriel, Sting, Bruce Springsteen, Tracy Chapman e Youssou N´Dour.



Fazer oposição a primeira-ministra Margareth Thatcher também deu o tom da década. Tom Robinson, Jimmy Sommerville (Communards), Billy Bragg e Paul Weller (Style Council) aderiram à causa e formaram o Red Wedge para estimular a politização das populações jovens e ganhar votos para o líder trabalhista inglês Neil Kinnovck. Spandau Ballet, Smith, Lloyd Cole e Madness participaram dos concertos do Red Wedge que terminavam com o canto Maggie Out. Thatcher foi reeleita em 87.



A causa da fome reapareceu através dos esforços do irlandês Bob Geldof, na Inglaterra, e de Harry Belafonte, nos EUA. Sob a legenda Band Aid lançaram música com renda revertida para as vítimas da fome na Etiópia. Dois concertos simultâneos da serie Live Aid, em Londres e Filadelfia (85) arrecadaram US$ 140 milhões.



 OBS: Nem todos aderiram à causa. Elvis passou de rebolador a reacionário quando entrou para o Exército. Mais tarde John Lennon descreveu como “o fim de Elvis”. Na década de 70 o guitarrista inglês Eric Clapton pronunciou, em um show em Londres, um discurso racista contra a presença de imigrantes negros na Inglaterra. Logo ele que canta blues, uma das formas de música negra. O movimento Rock Against Racism foi uma reação direta ao discurso. O guitarrista do Who, Peter Townshend em 1968 gravou um comercial para o Exército  no inicio  da carreira, incitando os jovens a se alistarem no auge da campanha anti-Vietnã. A lista é grande e não cabe nesse espaço.