Ciclo é uma palavra de apenas cinco
letras, mas muitos significados. No dia a dia vivemos muitos
ciclos. A semana,
o ano, os meses de gestação, tudo em ciclo. A inspiração e a expiração completa
um ciclo que nos mantêm vivos. Em todas as áreas do conhecimento há
significados próprios para o ciclo. Os
ciclos indicam o fim de uma fase, quando uma termina a outra já começou. Não é
o fim de tudo, é o recomeço perene. A ideia do círculo, quer dizer ciclo, simboliza
a perfeição exatamente por não ter nem começo e nem fim. A grandeza e
importância dos ciclos medem-se pela intensidade dos sentimentos. É esta
intensidade que marca o valor das experiências e que nos modifica permanecendo
como progresso conseguido.
Na sabedoria chinesa, todo ano a
primavera se repete como um a das estações, mas as flores são sempre novas,
outras. Se alguém vive bem a experiência de um ciclo, torna-se apto a viver
ainda melhor o próximo porque aproveitou e aprendeu com o que viveu na fase
anterior. Viver inconsequente equivale a não ter vivido, não acumulou vivência.
A consciência leva a compreensão. Afinal, estar vivo é estar consciente. Se o
ciclo não trouxer uma consciência do que fazer de nada nos valerá para o
próximo.
As transformações conseguidas num ciclo
de experiências vão reorganizar as energias para o próximo ciclo de vida.
Assim, a espiral da vida é um momento circular que vamos ascendendo, crescendo
na compreensão da vida pelas experiências vividas. O sol, a lua, os elementos
da natureza, as estações do ano, o dia e a noite, as horas, todos os seres,
tudo está relacionado, nada é separado. E o universo é regido por dois
princípios, duas energias opostas e complementares a que chamam de Yin e Yang.
Yin é tudo que se concentre, que está no interior, que converge para o centro,
que resfria e pacifica.
Yang é tudo o que se expande, se
movimenta, aparece e dinamiza. Yin é a energia materializada e
Yang é a energia
fluída. Yin é a terra, Yang o céu. Yin o escuro, noite, frio, interior. Yang é
céu, dia, calor, exterior. Yin é água, Yang fogo. Yin o universo, a lua e a
noite. Yang é o verão, sol e o sal. Yin é o conservador, Yang o inovador. Yin é
a mulher, Yang o homem, Yin é a intuição e Yang racionalidade. Para cada
qualidade Yin, você encontrará uma oposta e complementar Yang. Tanto Yin quanto
Yang são necessários.
Para os chineses, entre a água (Yin) e o
fogo (Yang) existe a madeira, a terra e o metal. Assim Yin e Yang que são dois
se tornam cinco. Na natureza cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e
água), relacionados a cinco direções (leste, norte, centro, oeste e sul),
relacionados a cinco estações do ano: primavera, verão, canícula (os últimos 18
dias de cada estação), outono e inverno. Cada estação apresenta um dos cinco
fatores climáticos: vento, calor, umidade, secura e frio. E na natureza
prevalecem cinco cores: verde, vermelho, amarelo, branco e preto. Também são
cinco as fases da vida: nascimento, desenvolvimento e crescimento, vida adulta,
velhice e morte.
São cinco os órgãos internos do ser
humano (fígado, coração, baço, pulmão e rim), cinco as vísceras complementares
(vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga),
cinco os órgãos dos sentidos (olhos, língua, boca, nariz e ouvidos), cinco os
tipos de tecidos (tendões, vasos, músculos, pele e ossos), cinco os sabores
(ácido, amargo, doce, picante e salgado) e cinco as emoções relativas ao
desequilíbrio de cada órgão (raiva, euforia, preocupação, tristeza e medo).
O homem, “por meio dos sentidos,
suspeita o mundo” (como diz o poeta Bartolomeu Campos de Queirós, Os cinco
sentidos), simboliza, se expressa, diz para si mesmo e para o outro. Nossos
sentidos não apenas percebem e enviam sinais nervosos para o cérebro, mas dão
significados ao que nos cerca, criam, transformam, estabelecem relações,
revelam, mostram e se comunicam. Com os olhos, olhamos a vida, imaginamos,
acordamos sentimentos, criamos imagens. O olfato e o sabor despertam a memória,
fazem o pensamento ir longe entre cheiros e sabores da história individual e
coletiva. Com os ouvidos escutamos os
sons e os silêncios dos nossos interlocutores e do mundo, nos encantamos e
inventamos novos ritmos e melodias.
A pele envolvendo o corpo inteiro,
estremece, se arrepia, toca e é tocada, dança, chora, ri, registra e se deixa
registrar. Assim, “por meio dos sentidos suspeitamos o mundo”, o recriamos e o
damos à compreensão do outro. Todos os sentidos participam de cada linguagem,
inclusive o sexto sentido, o que nos faz suspeitar, pois, como revela o
filósofo e crítico da modernidade Walter Benjamin, a clarividência, o
extra-sensorial estão presentes na linguagem.
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