31 agosto 2019

O que os Beatles fizeram?


Eles ultrapassaram a barreira do tempo e do espaço. Fonte de influência  musical e comportamental para todas as gerações nos quatro cantos do mundo.




Os Beatles foram os primeiros músicos responsáveis por fazer com que o culto às personalidades passasse a permear o imaginário público, utilizando os meios de comunicação como poderosos aliados. Seu legado ultrapassou fronteiras, classes, religiões, diferenças culturais difíceis de forma particular. Vamos citar alguns exemplos:



Lançou o primeiro álbum conceito da história (Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band). Um disco com uma temática própria, a determinar o conteúdo e a ordem das canções. A ideia seria copiada por artistas como Pink Floyd (The Wall) e The Who (Tommmy).



Eles inventaram os shows de rock em estádios – só assim conseguiram dar conta de tocar para as multidões que queria ver o grupo nos EUA.



Antes deles, ninguém acreditaria que uma banda podia encher um lugar tão grande. Em 1965, o quarteto abre seu turnê no Shea Stadium.




A fase em que o grupo foi para a Índia impulsionou deste lado do planeta um interesse inédito pelas tradições orientais e influenciou conversa de bar à moda, decoração e a vinda de incenso.



Foram os precursores de imagem do roqueiro de cabelo comprido.




Eles se tornaram fenômeno de licenciamento da marca em uma época em que esse tipo de negócio ainda nem existia.



09 de fevereiro de 1964 os Beatles se apresentaram ao vivo no The Ed Sullivan Show. A transmissão televisiva alcançou recorde de mais de 73 milhões de pessoas. Enquanto estavam tocando seu iê iê iê, quase não tinha havido crimes na cidade. Os bandidos eram fãs também.




Com Lennon & McCartney, uma mistura de similares e diferenças, surgiu a combinação capaz de criar o pop perfeito. O lirismo de ambos se movia entre a doçura de McCartney e o desespero de Lennon. Entre a habilidade melódica de Maca e as letras poéticas de John.



O disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band foi o primeiro disco no mundo a vir com um encarte com fotos e letras das músicas;




Os Beatles venderam quase 2 bilhões de discos e fitas.



O primeiro nome da música “Yesterday” foi “Scrambled Eggs” (ovos mexidos). Além disso, Yesterday é a música que foi gravada o maior número de vezes por diferentes cantores.


30 agosto 2019

Há 50 anos sem Theodor Adorno


Há 50 anos morria um dos criadores do termo “indústria cultural”. Filósofo alemão de origem judaica, Theodor Wiesengrund Adorno (11/setembro/1903-06/agosto/1969) é um dos nomes mais conhecidos da chamada Escola de Frankfurt, que contribui para o renascimento intelectual da Alemanha após a II Guerra Mundial. E projetou-se como um dos críticos mais ácidos dos modernos meios de comunicação de massa. Ao exilar-se nos Estados Unidos, entre 1938 e 1946, percebeu que a mídia não se voltava apenas para suprir as horas de lazer ou dar informações aos seus ouvintes ou espectadores, mas fazia parte do que ele chamou de indústria cultural. Um imenso maquinismo composto por milhares de aparelhos de transmissão e difusão que visava produzir e reproduzir um clima conformista e dócil na multidão passiva. 



Adorno era um dos "apocalípticos" em quem Umberto Eco estava pensando quando escreveu seu "Apocalípticos e Integrados". Uma obra central da trajetória de Adorno, a "Dialética do Esclarecimento", foi escrita (em parceria com Max Horkheimer) durante o auge do horror nazista, entre 1941 e 1944. Ter isso em mente ajuda a entender e aceitar a radicalidade das ideias de Adorno, e mesmo sua aparente sisudez.




Foi no seu exílio americano durante a Segunda Guerra Mundial que, junto com Max Horkheimer, Theodor Adorno redigiu a obra Dialética do Iluminismo (1947), uma aproximação crítica e ideológica aos mecanismos de funcionamento da civilização moderna ocidental. Com esta obra, Adorno fundou a Teoria Crítica da Sociedade (também identificada com a Escola de Frankfurt, assim chamada por causa do Instituto de Investigação Social daquela cidade, no qual Adorno e Horkheimer voltaram a fazer pesquisas e lecionar, a partir de 1949). Sob a influência da teoria marxista e dos modernos conhecimentos de psicologia social e cultural, o autor interroga-se por que razão foi tão difícil o pensamento racional, que marcou o Iluminismo do século 18, contribuir para os objetivos de liberdade e autodeterminação do ser humano. Adorno afirma que os dirigentes da economia e da sociedade podem corromper os ideais libertadores da época do Iluminismo para manipularem ideologicamente as pessoas e reprimi-las socialmente. Seria essa a causa, por exemplo, do extermínio dos judeus praticado pelos nazistas. As suas obras do pós-guerra (A Personalidade Autoritária, 1950, e Dialética Negativa, 1966) tiveram uma influência decisiva na formulação teórica do movimento estudantil dos anos 60, apesar de na época ser recente sua participação no ativismo político.



A sua polêmica teórico-científica com o filósofo Karl Popper, revelando profundas implicações políticas, representou uma dura prova para a sociologia alemã. Na história das ideias, tal polêmica ficou conhecida como Discussão do Positivismo na Sociologia Alemã (1971). Para recordar este importante pensador, que também foi músico, crítico musical e compositor, sua cidade natal, Frankfurt, instituiu em 1977 o Prêmio Theodor W. Adorno, concedido a personalidades que se destacam na filosofia e na arte.



INDÚSTRIA CULTURAL





Com o termo “indústria cultural”, o filósofo alemão Theodor Adorno se propõe a explicar a arte consumida pelas massas, uma mercadoria que não é mais produzida pelo trabalho artesanal, mas conforme o modelo da manufatura e da grande indústria. Seu diagnóstico se contrapõe ao do Walter Benjamin (1892-1940). Este confiava no potencial criativo desencadeado pela cooperação e o defendia na expectativa da “politização da arte”. Na perspectiva de Adorno, na indústria cultural, as massas não são o elemento ativo, mas pura passividade. Têm-se assim não apenas uma nova forma de despolitização da sociedade, mas um instrumento de domínio e integração social.




Mas voltando ao ano de 1944, os filósofos Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969), da conhecida Escola de Frankfurt, avançam com o conceito de “indústria cultural” para se referirem à mercantilização da cultura, fruto do desenvolvimento dos media, da tecnologia e da capacidade de reprodução e seriação. Pela primeira vez, a produção dos bens culturais é estudada no contexto global da industrialização da cultura como mercadoria. Esses teóricos partem de uma concepção de “cultura superior”, como a pintura, o teatro ou a literatura, ligada ao sagrado – obras de arte únicas, não reprodutíveis, com “aura” –, para afirmarem que a indústria cultural é o símbolo do anti-iluminismo. Esta visão apocalíptica, que iria influenciar radicalmente os estudos sobre comunicação e cultura de massas, foi descrita no célebre livro “Dialéctica do Iluminismo”, publicado em 1947.



Foi a sociedade americana entre os anos 30 e 40, onde Adorno e Horkheimer estavam exilados, o objeto principal de estudo que serviu de base à emergência do conceito de indústria cultural. Ambos tinham uma vincada cultura clássica e encontraram nos Estados Unidos um ambiente cultural muito diferente, onde o cinema e o jazz se encontravam no auge. É a partir desta vivência que ambos começam a olhar para o cinema, a rádio, a literatura e a música como um negócio e não uma arte, opondo-se ao tipo de conhecimento emergente da investigação norte-americana.



Se a cultura de consumo segue uma estratégia de venda com o objetivo de distrair um público massivo, menos esclarecido, o nível de qualidade da oferta é reduzida, provocando apatia e empobrecimento estético. E é este o ponto de viragem para Adorno e Horkheimer: a verdadeira arte vai sendo substituída por uma série de efeitos e padrões de forma a unificar os gostos: “desde o começo do filme já se sabe como ele termina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimento do tema (…)”




As mercadorias culturais são valorizadas pela perspectiva do lucro e não pelo seu próprio conteúdo. A “técnica” na indústria cultural refere-se à organização da cultura em si, permanecendo externa à técnica artística, ou seja, é um “parasita”. É desta técnica parasita extra-artística que resulta o pastiche (Gemisch), uma cultura de imitação, em que se conjuga a indústria com os resíduos individualistas. Adorno alude à “aura” de Benjamin, referindo que ela não desaparece, mas é conservada como que petrificada.



Em 1963, numa conferência radiofônica, Adorno faz um resumo sobre os pensamentos expostos no livro “Dialéctica do Esclarecimento”, escrito 20 anos antes. A razão pela qual Adorno e Horkheimer substituíram “cultura de massas” por “indústria cultural” é explícita: este último conceito diferencia-se de forma extrema do primeiro, pois “cultura de massas” pode ser entendida por outros (erradamente) como “uma cultura que emerge espontaneamente das próprias massas, de uma forma contemporânea de arte popular”. A indústria cultural não é de todo espontânea, dado que “promove uma união forçada das esferas de arte superior e inferior, que permaneceram separadas durante milênios”.



Que valor representa a cultura de massa para Adorno, já que a distingue de indústria cultural. A cultura de massa é, no fundo, sinônimo de indústria cultural. O primeiro termo foi substituído apenas para não ser interpretado de um ponto de vista positivo, como uma “verdadeira” cultura popular. A expressão “indústria cultural” tem um propósito político, quase para reforçar os argumentos destes.

28 agosto 2019

Dicionário filosófico de palavras (03)



Liberdade - O significado de Liberdade é uma condição de que é livre, que tem o direito de agir de acordo com o seu livre arbítrio, ou seja, conforme sua própria vontade. É claro que esse direito de agir e fazer as próprias escolhas não devem prejudicar ninguém. Liberdade pode também ser definida como um conjunto de ideias liberais de cada cidadão. A história da conceituação de liberdade vem de épocas e de diversos pensadores que registraram a interpretação do termo conforme variadas doutrinas sociais


Niilismo - Pensamento filosófico de quem não acredita em absolutamente nada: religião, política, condutas sociais. Alguém que acha que a existência humana não tem propósito, não tem sentido, não tem significado algum. Apenas existimos por existir.


Resiliente - Capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, algum tipo de evento traumático, etc. - sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades. A palavra significa a habilidade de lidar e superar as adversidades, transformando experiências negativas em aprendizado e oportunidade de mudança. Ou seja, “dar a volta por cima”. Nas organizações, a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam forças estratégicas na pessoa para enfrentar a adversidade.


Responsabilidade - É o dever de arcar com as consequências do próprio comportamento ou do comportamento de outras pessoas. Responsabilidade não é somente obrigação, mas também a qualidade de responder por seus atos individual e socialmente. A responsabilidade é uma aprendizagem que qualquer ser humano adquire em relação à inteligência emocional ao longo dos anos. A responsabilidade não é algo exclusivo de adultos, já que qualquer pessoa, como também as crianças podem cumprir com uma atividade desde que seja de acordo com sua idade. A responsabilidade é uma forma de demonstrar confiança. Ser responsável ser conscientes em cada momento e em cada movimento da nossa vida. A responsabilidade em uma pessoa é uma demonstração de um caráter forjado com boas intenções. Aquelas pessoas que são responsáveis, normalmente e com toda segurança se desligam de artimanhas como podem ser a mentira e o engano para conseguir vantagem em tudo àquilo que faz.


Singularidade - Termo feminino que se refere a algo ou alguém que possui a característica de ser único, que se distingue dos demais, extraordinário. Ela pode ser descrita como uma qualidade ou adjetivo atribuído a um ser vivo que seja singular, que se diferencie do restante dos seus semelhantes, seja por suas atitudes ou por outras características que não tenham pluralidade. Qualidade do que é singular, único, só. O que é peculiar a um só indivíduo e não aos outros. Particularidade


Solidariedade  - Palavra que indica a qualidade de solidário, é um ato de compaixão com o próximo. É ajudar o seu semelhante sem nenhum tipo de distinção. A solidariedade social é a ação ou princípio moral pela qual a sociedade em conjunto tenta eliminar determinadas situações adversas que sofrem alguns dos seus membros. É comum diante de catástrofes naturais ou atos terroristas de grande magnitude. Do ponto de vista acadêmico, a solidariedade social pode ser definida como característica dos componentes individuais de um sistema social, estabelecendo relações de interdependência e por atuar como um todo.


Sustentabilidade - O conceito de sustentabilidade refere-se ao equilíbrio entre uma espécie com os recursos do ambiente ao qual ela pertence. Basicamente, a sustentabilidade, o que se propõe é atender as necessidades da geração presente, mas sem prejudicar ou sacrificar as capacidades a futuro das gerações que vem, de satisfazer suas próprias necessidades, ou seja, algo como encontrar o equilíbrio certo entre essas duas questões.



27 agosto 2019

Dicionário filosófico de palavras (02)





Biodiversidade - As mais variadas formas de vida que podem desenvolver-se em um ambiente natural como plantas, animais, microrganismos e o material genético que os forma. Esta diversidade em qualquer comunidade natural implica em um equilíbrio do ecossistema em questão porque cada espécie cumpre e desenvolve uma determinada função ecológica, por isso é que a perda da diversidade, como consequência da ação voluntária do homem através da contaminação, caça de espécies que se encontram em processo de extinção, entre outras questões, alarmam muito profundamente e preocupam àqueles defensores das mesmas e que não desejam fazer parte de um planeta devastado e desequilibrado pelas manobras e falta de consciência de alguns seres humanos.




Compatibilidade  - Significa qualidade, estado, capacidade ou condição do que é compatível; capacidade daquilo que pode existir ou harmonizar-se com outro; e faculdade do que pode ser possuído ou exercido simultaneamente por um mesmo indivíduo (cargo, função, ofício, vantagem, direito etc.).




Diversidade – Do latim diversĭtas, é uma noção que se refere à diferença, à variedade, à abundância de coisas distintas ou à divergência. É tudo o que nos diferencia de algo ou de outro, ela varia através de escolha: corte de cabelo, ou até mesmo de coisas da própria natureza: cor dos olhos. Muitos possuem várias culturas, raça, carros, até um jeito de dormir nos diferencia uns dos outros; também abrange a um status econômico, que é uns dos aspectos mais relacionados a diversidade. A razão da existência da humanidade é a diversidade. O mundo fica mais pleno quando temos o diverso no conhecimento, na forma de pensar, nas expressões artísticas e culturais, nas manifestações sexuais, nos nossos relacionamentos, na biologia (biodiversidade), na política, nas organizações sociais, na economia.




Empatia - Palavra de origem grega (empatheia, formado por “en”, “em”, mais “pathos”, “emoção, sentimento”) e corresponde a ter aceitação por algo ou pelos outros. O termo empatia é atribuído ao filósofo Theodor Lipps ((1851-1914). Ser empático é ser uma pessoa aberta a se relacionar com outras, é estar disposto a se comunicar bem com amigos, parceiros amorosos e até com os demais funcionários de sua empresa, mantendo um clima sadio. Cultivar esse comportamento ao nosso redor é fundamental para nutrir relações agradáveis e criar ambientes harmoniosos. Significa compreender o outro, utilizando a razão, a vibração, a intuição, a emoção, a atenção, a percepção e a ação, expressando compaixão e sensibilidade para com o que o outro sente e tendo a percepção de como ele lida com isso.



Florestania – Expressão que sintetiza os conceitos de cidadania e direitos florestais, é o código genético de nossa identidade. O ponto inicial da florestania é o respeito reverente pelos ecossistemas. O equilíbrio dinâmico dos ambientes, os ciclos da natureza como acontecem em cada lugar, às relações entre os seres e elementos que levaram milhões de anos para chegar à forma que hoje têm




Inclusão – É o ato de incluir e acrescentar, ou seja, adicionar coisas ou pessoas em grupos e núcleos que antes não faziam parte. Socialmente, a inclusão representa um ato de igualdade entre os diferentes indivíduos que habitam determinada sociedade. Assim, esta ação permite que todos tenham o direito de integrar e participar das várias dimensões de seu ambiente, sem sofrer qualquer tipo de discriminação e preconceito. É chamada de inclusão a toda atitude, política ou tendência que pretende integrar as pessoas dentro da sociedade através de seus talentos e que, por sua vez, sejam correspondidas com os benefícios que a sociedade possa oferecer. Este tipo de integração deve ser realizado do ponto de vista econômico, educativo, político, etc.




Intolerância – Do latim intolerante, intolerância, natureza ou qualidade do que é insuportável, insolência. A humanidade praticou muitas intolerâncias ao longo da História, notadamente étnicas, religiosas, filosóficas, sexuais. Denomina-se intolerância ao ato de depreciar uma pessoa por causas de suas orientações políticas, religiosas, sexuais, etc. A atitude intolerante pode ser identificada como uma deficiência, e neste sentido, são poucos os que podem sentir-se isentos totalmente deste defeito. Isto não significa coincidir com todas as crenças, atitudes ou ações de uma pessoa, mas simplesmente evitar levar esta diferença a nível pessoal. A intolerância em certas ocasiões pode ser revestida de formas perigosas como a discriminação racial

26 agosto 2019

Dicionário filosófico de palavras (01)


Neste A,B, C de palavras inspiradoras, positivas que pode ter o poder de nos elevar moralmente e espiritualmente. A felicidade depende de sua mente.




Abraçar - É uma terapia, e das fortes! É medicinal, acalma. É extremamente efetivo para ajudar na cura de doenças (como a pressão arterial), solidão, depressão e ansiedade – e ainda ajuda a melhorar nossa memória! O abraço pode aumentar a auto-estima. Ensinar a dar e a receber. O valor de igualdade é gerado ao recebermos calor e dividirmos e a percebermos que o amor flui nos dois sentidos.




Acessibilidade - Qualidade do que é acessível, do que tem acesso. Se refere à possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.




Acolhimento - Ação ou efeito de acolher; acolhida. Modo de receber ou maneira de ser recebido; consideração. Boa acolhida; hospitalidade. Lugar em que há segurança; abrigo. O acolhimento está no olhar, na busca por ver o que está por trás das situações cotidianas, no desejo sincero de “bom dia”, no abraço, na atenção dispensada a todos que chegam e são bem-vindos, na conversa franca, na escuta, na troca.




Alteridade - Palavra que tem origem no latim, com a junção de “alter” (o outro) com o sufixo “tatis” (dade), que é o elemento usado para formar substantivos abstratos a partir de adjetivos. O termo alteridade faz parte de matérias como a filosofia e a antropologia, referindo-se à qualidade ou o estado do que é outro, ou seja, de alguém que é diferente. O significado de alteridade está justamente relacionado ao outro; alteridade é a qualidade ou estado daquilo que é diferente. É o antônimo de identidade. No estudo da antropologia, a alteridade é o conceito que define a existência do indivíduo a partir da relação com o outro. A alteridade é a diferença entre o indivíduo dentro da sociedade e o indivíduo como unidade. Esses dois conceitos só podem existir em função um do outro. Nenhum indivíduo pode existir senão a partir da visão e do contato com o outro. Não pode haver indivíduo se não houver uma relação estabelecida entre ele e outro, ou outros (a coletividade). Alteridade não significa que tenha de haver uma concordância, mas sim uma aceitação de ambas as partes. É a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer é a relação que temos com os outros), com consideração, identificação e dialogar com o outro




Agradecer – Do latim gratu, grato, formou-se agradar, de que agradecer é incoativo (verbo o que começa em outro). O agradecimento não é tão frequente nas relações humanas. Com base nesse desconcerto, foi instituída o Dia de Ação de Graças, celebrado a 25 de novembro. Expressar gratidão (a alguém). (Agradecimento) A gratidão é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor etc. No dia a dia expressamos nossos agradecimentos através de expressões comuns, tais como: obrigado, você é muito amável, eu que agradeço, não precisava, entre outras. Estas expressões são fórmulas de cortesia que servem como mecanismo da socialização.




Altruísmo - Um tipo de comportamento encontrado em seres humanos e outros seres vivos, em que as ações voluntárias de um indivíduo beneficiam outros. É sinônimo de filantropia. No sentido comum do termo, é, muitas vezes, percebida como sinônimo de solidariedade. Atitude que visa o bem-estar do próximo, não tendo em consideração interesses particulares. Dedicação desinteressada; ato de amar ao próximo sem esperar nada em troca. Dedicação demonstrada de maneira desinteressada; filantropia. A palavra "altruísmo" foi criada em 1831 pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) para caracterizar o conjunto das disposições humanas (individuais e coletivas) que inclinam os seres humanos a dedicarem-se aos outros. Esse conceito opõe-se, portanto, ao egoísmo, que são as inclinações específica e exclusivamente individuais (pessoais ou coletivas).


22 agosto 2019

Cyberpunk e cangaço misturados no gibi Cangaço Overdrive


Primeiro ele bebeu da fonte no álbum “Seca distorcida”, da banda de hardcore cearense Jumentaparida e de outra banda de hardcore, os paulistanos Aditive, além de duas figuras nordestinas que são fortes influências no seu trabalho: Chico Science e Patativa do Assaré. A narração é em forma de cordel onde as batalhas cibernéticas estão em conexão com um sertão distópico. Assim é Cangaço Overdrive, a revista em quadrinhos do roteirista Zé Wellington e do desenhista Walter Geovani lançada pela Editora Draco. Este projeto é apoiado pela Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará – Lei Estadual de Incentivo à Cultura Nº 13.811, de 16 de agosto de 2016.




O cearense Zé Wellington já é conhecido. Em 2014 ele produziu Quem Matou João Ninguém?, Em 2015 foi o vencedor do troféu HQ Mix na categoria Novo Talento Roteirista, por seu trabalho na graphic novel Steampunk Ladies – Vingança a Vapor.  Em 2018 ele voltou a publicar um novo álbum, pela mesma Editora Draco. Dessa vez a narrativa se passa em um futuro próximo e tem todas as marcações da estética cyberpunk, “baixas condições de vida, alta tecnologia”.




Na trama futurista, em uma região abandonada pelo governo e dominada por conglomerados empresariais, existe a resistência liderada por Rosa, a tataraneta de um cangaceiro que lutou ao lado de Cotiara e que já tinha a mente bastante libertaria para a época em que vivia. Essa comunidade auto gerida, tenta manter a luta contra a polícia abusiva e os interesses escusos desse grupo empresarial, afinal, neste futuro a escassez de água é grande e essa comunidade conseguiu sobreviver, graças a um poço, que mantem a infraestrutura do local, e amplia a cobiça dos grandes. Rosa lidera um grupo que luta para se manter firme num Brasil divido em dois, o Sul, com suas cidades tecnológicas e o Nordeste, cheio de morte e pobreza.



Tentando sobreviver neste ambiente inóspito, um grupo de fora-da-lei intercepta uma carga fortemente protegida pela corrupta polícia daquela época. Ao abrir o contêiner conquistado depois de muita troca de tiro, os jovens se deparam com Cotiara, um legítimo cangaceiro, uma daquelas figuras mitológicas que levaram o terror a regiões nordestinas durante a primeira metade do século passado. Cotiara surge revivido e com diversos implantes físicos e mentais da mais alta tecnologia disponível.




Essa mistura de cyberpunk, cangaço e cordel é bem fluida e a arte de Walter Geovani e Luiz Carlos B. Freitas apresenta bem seus personagens. As cores de Dika Araújo trazem tons neon no futuro e áridas e secas quando se passa no sertão antigo. Muito boa produção que vale conferir. Quando esteve em Salvador participando de uma mesa redonda na Flipelô 2019 Zé Wellington revelou que sua próxima produção é a quadrinização de Luzia Homem, uma retirante que enfrenta a grande seca da região com sua extrema força física. Romance do escritor Domingos Olímpio publicada em 1903.

21 agosto 2019

O cangaço nos quadrinhos (02)


O sertão nordestino começou a ser desbravado no início do século XVIII. Não havia como assegurar a demarcação das terras, a distância e o abandono do poder oficial constituído  deixava os envolvidos em total isolamento. À medida em que os fazendeiros se estruturavam, ganhavam poder, prestígio e autonomia política. A disputa entre terras era resolvida entre os próprios fazendeiros, já que o governo não intervia. Nessa guerra, alguns fazendeiros (coronéis) começaram a criar o seu exército particular. Eles precisavam de proteção pessoal e, para isso, contratavam capangas, verdadeiros guarda costas que os acompanhavam nas empreitadas e viagens.




O capanga (soldado a serviço de um chefe político) também era conhecido como jagunço (palavra de origem africana junguzu, da língua Quibundo e significa soldado). Com o tempo, jagunços descontentes tornaram-se independentes e prestavam serviços a quem lhes pagasse mais. A maneira com a qual os jagunços portavam o rifle, apoiados nos ombros, semelhante a uma canga (apoio de madeira, usado para unir os bois nos trabalhos pesados em geral), foram denominados cangaceiros.




Um dos primeiros cangaceiros a adquirir notoriedade foi Jesuíno Brilhante que recebeu a alcunha de O Cabeleira. Outro que adquiriu fama foi Sebastião Pereira, conhecido por Sinhô Pereira. Mais tarde é que surgiu o cangaceiro mais famoso do Brasil, Lampião. Na época, o governo federal lutava sem sucesso para combater um grupo de revoltosos. A solução sugerida foi o apoio do bando de Lampião para combater esses rebeldes, em troca, concedia-lhe anistia pelos crimes cometidos. Os oficiais e soldados que perseguiam Lampião ficaram inconformados e partiram para a luta. O acordo foi anulado e Lampião revoltado com a falta de palavra e pulso das autoridades começou a atacar cidades e matar todo policial que encontrasse.




ILUSTRADA – A revista carioca A Noite Ilustrada publicou a maior cobertura da imprensa sobre a morte do mais famoso cangaceiro, fato que evidencia sua importância como notícia e lenda. Uma semana depois do massacre contra os cangaceiros, a publicação estampou em suas páginas centrais a foto das cabeças decepadas do bando de Lampião. A revista enviou uma equipe (fotógrafo e reporter) do Rio de Janeiro até o local, a dois mil quilômetros de distância, em pouco mais de 24 horas. Foram 28 páginas sobre o massacre.



A redação de A Noite Ilustrada funcionava no centro do Rio de Janeiro (Praça Mauá) e onde ficavam redações de jornais, revistas e emissoras de rádio importantes. Lançada em 1930, a publicação surgira como um marco por sua qualidade de impressão, graças ao moderno sistema de rotogravura. Pertencia ao jornal A Noite, mesmo diário fundado por Irineu Marinho e Geraldo Rocha. A Noite sobrevivera ao longo da década de 1930 sob o duro castigo de ter apoiado o grupo derrotado pela Revolução de 1930.




Com diversos problemas financeiros, o jornal se tornou uma especie de órgão a serviço de Getúlio Vargas e radicalizou seu oficialismo com a decretação do Estado Novo, em novembro de 1937. A orientação editorial dava o tom na cobertura do massacre em Angicos e no modo como a tropa do Exército foi tratada.



A edição trazia o primeiro episódio de uma série em quadrinhos sobre a vida do cangaceiro, roteirizada e quadrinizada por Euclides Santos. Com dez quadrinhos cada página, iniciava uma série publicada duas vezes por semana no jornal A Noite. Nos cinco meses seguinte.



O chefe dos volantes exibiu em diversas cidades, as cabeças dos cangaceiros. O motivo era evitar alguma lenda de negação do fato. Depois seguiram para Salvador e permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Por mais de três décadas, as cabeças ficaram expostas no Museu Antropológico Estácio de Lima, no prédio do IML Nina Rodrigues, no Terreiro de Jesus, em Salvador. Atraíam milhares de curiosos todos os anos, que queriam ver as cabeças de Lampião e Maria Bonita. 



As fotos publicadas em A Noite Ilustrada corriam o Brasil e o mundo. E, por mais que a publicação chamasse Lampião de facínora, o resultado é que não conseguiu evitar que de suas páginas nascesse uma lenda que, como tal, ainda fascina. Seja em cordel, literatura, teatro, cinema, tevê ou quadrinhos.




O quadrinista Euclides Luís dos Santos nasceu na cidade pernambucana de Mussaré em 1908. Pintor, desenhista e caricaturista, foi para o Rio de Janeiro com seu companheiro de viagem na Sociedade Brasileira de Belas Artes em 1931. No período de 1933 a 1955 colaborou como ilustrador nas páginas de A Noite, A Noite Ilustrada, Vamos ler! (onde ilustrou o romance Oliver Twist de Dickens), Carioca, O Cruzeiro, O Malho e Revista da Semana.



O historiador Herman Lima, que o focalizou na História da Caricatura no Brasil (1963), referiu-se à intensidade de seu trabalho no campo da ilustração. Como pintor recebeu as medalhas de prata e de ouro e o prêmio de viagem ao estrangeiro no SNBA, do qual participou inclusive em 1964.



*OBS: Agradeço ao jornalista e pesquisador Luiz Eduardo Dorea que descobriu, em suas pesquisas sobre Lampião, os quadrinhos publicados na Noite Ilustrada.




20 agosto 2019

O cangaço nos quadrinhos (01)


O cangaço está presente em diversas produções culturais: folhetos de cordel, xilogravuras, folclore, romances, música, teatro, cinema, quadrinhos, games, etc. Se a cultura tida como erudita, por meio da literatura regionalista de José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa contribuiu na divulgação, no início dos anos 1960 o cangaço foi veiculado por intelectuais de esquerda como símbolo da revolução social, inspirando filmes do Cinema Novo, artes plásticas e ensaios sociológicos.

Toda essa forte presença em nosso imaginário social só foi divulgada do ponto de vista histórico, fragmentário e esporádico. Não foi diferente nas histórias em quadrinhos da época. Desde a década de 1930 que a saga do cangaço alimenta o mito – na dualidade heroi ou bandido – nos quadrinhos. Assim podemos citar Vida de Lampeão por Euclides Santos, publicada no jornal Noite Ilustrada (agosto a dezembro de 1938); Raimundo, o Cangaceiro, de José Lanzelloti (1953); Cangaceiros (adaptação do livro de José Lins do Rego) de André Le Blanc (1954); Aventuras de Milton Ribeiro o Cangaceiro, de Gedeone Malagola (1957);


Jerônimo, o Herói do Sertão desenhado por Eduardo Rodrigues (1957); Zeferino e Grauna, de Henfil (1967); Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, de Jô Oliveira (1976); O Ataque de Lampião à Mossoró de Emanoel Amaral e Aucides Sales (1988); Mulher Diaba no Rastro de Lampião, escrita por Ataíde Braz e desenhada por Flávio Colin (1994); Homens de Couro de Wilson Vieira (1997); Lampião em Quadrinhos, de Ruben Wanderley Filho (1997); Caatinga, de Hermann (1997); Lampião...Era o cavalo do tempo atrás da besta da vida, de Klévisson (1998); Turma do Xaxado, de Cedraz (1998); Sertão Vermelho, de Haroldo Magno e Edvan Bezerra (2003); Cangaceiros, Homens de Couro, de Wilson Vieira e Eugênio Colonnese (2004); O Cabeleira, de Leandro Assis, Hiroshi Maeda e Allan Alex (2008); Bando de Dois, de Danilo Beyruth (2009); Lucas da Vila de Sant'Anna da Feira, de Marcelo Lima e Hélcio Rogerio (2013)


Este artigo analisa a primeira história em quadrinhos a abordar o cangaço. O pesquisador Durval Muniz de Albuquerque em sua obra A Invenção do Nordeste e outras artes (Cortez/Fundação Joaquim Nabuco, 1999) informou que “o nordestino, assim como o Nordeste, serão dotados de diferentes máscaras dependendo da perspectiva com que são abordados, do regime discursivo em que são inseridos, do momento em que são tematizados”. Para Albuquerque, é dentro da produção cultural e menos no discurso político que se elabora o conceito de região. Assim, ele enumera obras de diversos escritores como representativas desta ideia de Nordeste. O universo das histórias em quadrinhos não foi contemplado em sua pesquisa.


Assim, o Nordeste surge como discurso da esquerda na época da Revolução de 1930 e, principalmente, durante o Estado Novo, como região problema, das camadas sociais vivendo na miséria, das injustiças a que estavam submetidas e das práticas e discursos da revolta popular ocorridas nesse espaço.

Disputa de terras (um tema presente no cangaço) era resolvida entre os próprios fazendeiros. E nessa guerra alguns fazendeiros (tidos como coronéis) começaram a criar seu exército particular.  Eles precisavam de proteção pessoal e para isso contratavam capangas, verdadeiros guardas costas que o acompanhavam nas empreitadas e viagens. Esses jagunços (palavra de origem africana junguzu, da língua Quibundo, significando soldado) tem o mesmo significado da palavra capanga (soldado a serviço de um chefe político). Com o tempo, jagunços descontentes tornaram-se independentes e prestavam serviços a quem lhes pagassem mais. Esses grupos portavam o rifle apoiados nos ombros, semelhante a uma canga (apoio de madeira usado para unir os bois nos trabalhos pesados) e foram denominados cangaceiros. O primeiro deles, Jesuíno Brilhante, recebeu a alcunha de O Cabeleira. Outro que adquiriu fama, Sebastião Pereira, conhecido por Sinhô Pereira. O Governo Federal sugeriu o apoio do bando de Lampião para combater esses e outros rebeldes em troca, concedia-lhe a anistia pelos crimes cometidos.

A representação social do cangaço como sinônimo da violência gratuita do prazer de matar se insere logo nos anos 1930 a partir da oposição entre espaços civilizado e primitivo. Assim a leitura feita é de que o bandido está associado ao mundo atrasado e primitivo. E nesses discursos emerge conteúdo pejorativo (facínora, celerado) e animosidade (fera). A narrativa do cangaço é destituída de qualquer conteúdo social, afirmando apenas como produto de um instinto animalesco.

A leitura dos quadrinhos publicados no jornal A Noite Ilustrada, do Rio de Janeiro, no período de agosto a dezembro de 1938 traça a vida do famoso cangaceiro desde sua infância até sua morte. Com o título de “Vida de Lampeão”, Euclides Santos aproveitou o momento imediato após a morte de Lampião para lançar seus quadrinhos. Dividiu a obra em 20 capítulos. Mesmo não citando a fonte de sua pesquisa narrativa, nota-se a influência das reportagens do jornalista Melchiades da Rocha, publicadas no jornal A Noite e depois transformadas em livro (Bandoleiros das Catingas).

Há sequências de crimes e violências de Lampião e seu bando. E os desenhos acentuam detalhes dos assassinatos ou tiroteios contra os volantes que os perseguiam. Um erro que vai ser reproduzido em diferentes obras significativas sobre o cangaço é o desenhista Euclides Santos colocar cangaceiros montados a cavalo. Sabe-se, por fontes fidedignas, que os cangaceiros não andavam a cavalo e sim a pé.

Mesmo feito às pressas, no calor do tema que estava em evidência no momento da morte de Lampião, ressaltada em jornais, cordéis e noticiário do rádio, é preciso que obras realizadas neste século ressalte as determinações econômicas, políticas e sociais para compreendermos o Nordeste e o fenômeno do cangaço na primeira metade do século XX. A luta entre as famílias Pereiras e Carvalhos foi um dos motivos maiores do acesso de Lampião ao cangaço, e poucos analisam esse fato. Havia um conflito histórico de terra, poder, religião e classes antagônicas. Para muitos, Lampião era a esperança do povo sofrido do sertão e ele serviu para dizer a todos que o sertão existe naquela época tida como invisível aos olhos sulistas.

Nessa época, as revistas tinham a relevância dos jornais como agentes de propagação de valores culturais, em particular por serem de leitura fácil pelo seu conteúdo condensado e virem numa publicação de preço acessível. As revistas tinham a crítica como fio condutor, que pode ser expresso no humor negro e sarcasmo presentes nos textos, poesias, caricaturas, charges e histórias em quadrinhos, colaborando na consolidação do gênero das revistas de tipo ilustrada.

Os quadrinhos, charges e caricaturas atingiam um público mais amplo a quem, os textos não sensibilizavam,. Ou sequer eram entendidos, devido à grande quantidade de analfabetos à época. As publicações, na forma de revistas ou periódicos, tinham nessas artes um instrumento de retratação das lutas entre as camadas sociais do período e a evolução da corrente abolicionista, com o crescimento do mesmo para além da intelectualidade.

Como as histórias em quadrinhos eram tidas, na época, como subliteratura ou leitura para criança, nota-se que havia muita dificuldade de se criar espaço para os desenhistas brasileiros porque na época, sem nenhum sindicato distribuidor para lhe dar proteção, os desenhistas de quadrinhos tinham que enfrentar os quadrinhos norte americanos (Batman, Superman, Pato Donald, Mickey entre outros) que eram distribuídos em todos os jornais a “preço de banana”, devido a força de seu syndicate (agência de distribuição eficiente).


Assim, a consolidação de uma indústria quadrinística de base nacional com autores (roteiristas, desenhistas, arte finalista) produzindo temas voltados para a nossa realidade estava no começo na época do cangaço. E seguindo a cartilha do mito heroico dos quadrinhos norte americanos onde o foco do bem versus mal era o destaque maior, sem aprofundar questões sociais, os quadrinhos do cangaço seguiram a ótica da diabolização e/ou idealização, produtos de um universo simbólico que se abre a vários desdobramentos 


19 agosto 2019

Morto há 30 anos, o público ainda grita toca Raul


Faz 30 anos que Raul Seixas (28 de junho de 1945 – 21 de agosto de 1989) saiu de cena. Desde a morte do artista baiano, um dos pioneiros na busca de identidade nacional para o rock produzido no Brasil, a aura mitológica que envolve Raul ficou ainda mais forte. Mesmo depois de sua morte, seu legado se mantém vivo. O público ainda grita: toca Raul! Muitos eventos e homenagens já estão acontecendo pelo país com shows de covers, musical contando sua vida, biografias inéditas e disco. O legado musical do artista mantém viva a memória daquele que, sem dúvida, foi um dos maiores fenômenos musicais do nosso país


Nos 30 anos sem Raul será publicada a biografia “Raul Seixas por trás das canções” (Best Seller) do jornalista Carlos Minuano. O livro é uma das surpresas em torno da data. Para novembro, está previsto o lançamento de “Raul Seixas: Não diga que a canção está perdida” (Todavia), escrito pelo jornalista Jotabê Medeiros, com revelações sobre períodos obscuros da carreira do cantor. Ainda sem data, está prevista também uma cinebiografia a ser dirigida por Paulo Morelli para a O2 Filmes. E haverá a edição em LP duplo do raro “Eu não sou hippie”, gravação de um show de 1974 na cidade mineira de Patrocínio. A iniciativa é da loja Record Collector junto com o 180 Selo Fonográfico.

Cantor, compositor e multi-instrumentista, ele conquistou uma legião de fãs e marcou gerações com sua irreverência e inteligência ao fazer música. Nasceu em 28 de junho de 1945. Aos 12 anos, sempre precoce, montou o primeiro grupo de rock de Salvador com aparelhos elétricos. Ainda na adolescência, fundou o fã club de Elvis Presley. O garoto de mente inquieta pensava em ser escritor, mas a criação literária ficou apenas em um livro, escrito aos sete anos de idade, com histórias em quadrinhos.

No começo dos anos 1970, ainda mordido por não ter conseguido estourar no Rio com os Panteras, sua banda de Salvador, Raul recebeu um convite para ser produtor na CBS, gravadora de Roberto Carlos. Lá, com o parceiro Mauro Motta, ele cuidava dos discos de um time de artistas que fariam muito sucesso com canções simples, pós-jovem guarda: Odair José, Diana, Márcio Greick, José Roberto, Paulo Gandhi, Monny e Balthazar. Nesta temporada do outro lado do balcão, Raul andava de terninho preto, cabelo penteado e óculos de grau.


Foi nesse período na gravadora que Raul realizou, sem que Evandro soubesse, o conceitual “Sessão das dez”, com o grupo Sociedade da Grã-Ordem Kavernista — irmandade formada por ele, Sérgio Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada. O LP maldito foi recolhido logo após o lançamento, em julho de 1971. “Sessão das dez” foi a pirraça do produtor Raul, que em 1972 se lançou como artista solo nos festivais com “Let me sing, let me sing”.

Fez sua primeira grande aparição pública no Festival Internacional da Canção, em 1972, com o rock/baião “Let Me Sing My Rock And Roll”, depois de ter lançado como produtor na Bahia diversos artistas. Quatro anos antes (1968) já tinha gravado Rauzito e seus Panteras. Em 1971 grava com Mirim Batucada, Sérgio Sampaio e Edy Star, o enigmático “Sociedade da Gran Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez”. O reconhecimento do público chega com “Ouro de Tolo”, do primeiro LP solo, “Krig-Ha Bandolo!” (1793). Neste ano começou a espalhar a idéia de fundar uma Sociedade Alternativa, anárquica e espiritualista. O governo Geisel enxergou por trás desse projeto uma conspiração e expulsou-o do País. Nos EUA, tornou-se íntimo de John Lennon e Yoko Ono. No ano seguinte, o LP “Gita” estourou. Foi seu passaporte de retorno ao Brasil. É o início da melhor fase do cantor.


O final dos anos 70 e boa parte dos 80 serão marcados por alguns hits esporádicos, denunciando uma carreira afetada por problemas de saúde. O cantor volta aos palcos em 88 para uma turnê ao lado de Marcelo Nova, com quem gravou “A panela do diabo”. No dia 21 de agosto de 1988, morre em conseqüência de uma parada cardíaca.

Quando morreu, de pancreatite, Raul era um artista solitário, com a saúde e as finanças em frangalhos, relegado ao ostracismo, que o ex-Camisa de Vênus Marcelo Nova tentava reerguer em shows do LP conjunto “A panela do diabo”. Aos 44 anos, seus discos estavam, em boa parte, fora de catálogo, e a bibliografia sobre ele era escassa.

Da morte para cá, Raul tornou-se uma lenda. Inspirou dezenas de livros, até edição psicografada (como “Um roqueiro no além”, de Nelson Moraes). São obras que vão “dos lixos mais absurdos, viagem de cogumelo” a “trabalhos acadêmicos maçantes, mas muito sérios”, como diz Sylvio Passos, presidente do Raul Rock Clube (do qual o primeiro associado foi Raul). Amigo do cantor, Passos é guardião de sua memória e organizou o livro “Raul Seixas por ele mesmo” (1990).


Considerado o pai do rock brasileiro, Raul Seixas lançou 21 discos em 22 anos de carreira. Com sua música de letras anárquicas e sarcásticas ele desenhou a face avessa de um país sem caráter. Para isso usou como armas o non sense, a revolta, a loucura lúcida de um “maluco beleza” que ora pregava a revolução total ora filosofava sobre sua “sociedade alternativa”. Ele personifica como poucos a imagem do artista irreverente, rebelde e conquistou ao longo de sua carreira uma legião de admiradores que cresce a cada dia, tornando-o um mito. Se quando vivo Raul conheceu o sucesso, ganhando vários discos de ouro, tendo suas músicas freqüentado as paradas, lotado os locais onde se apresentou, depois de morto virou mania. Ele virou referência para o que se convencionou chamar de rock brasileiro.

As leituras de filosofia, esoterismo, história e misticismo entre muitas outras influencias assimiladas por Raul Seixas permite que a obra do artista trafegue em horizontes variados. Do baião ao rock, suas canções constituem um amálgama peculiar que o mantem como mito, bastante ousado até hoje, 30 anos após a morte.


Enquanto o mundo fervilhava no ritmo frenético de Elvis Presley, um menino da Bahia deu à luz ao Rock no Brasil. Um jovem sem limites que conquistou o coração e a mente de milhares de fãs, Raul Seixas foi um homem que virou mito. O documentário “O Início, O Fim e O Meio” desvenda por imagens raras de arquivo, encontro com familiares, conversas com artistas, produtores e amigos, a trajetória da lenda do rock brasileiro. Raul Seixas morreu jovem porque viveu intensamente e queria viver da sua obra e morreu por ela.