Há 110 anos nascia Alfred Gerard Caplin em
New Haven, Connecticut. Exatamente no dia 28 de setembro. Autodidata educado
muito mais na biblioteca do pai do que nos bancos escolares. Leu Dickens,
Twain, Rabelais, Phil May, entre outros. Um dia teve um encontro casual com o
desenhista Ham Fisher, o autor de Joe Palooka, numa rua de Nova York. Capp levava
consigo alguns originais e deixou-os cair. Fisher viu os desenhos, interessou-se
e contratou Capp a criar, em 1934, seu próprio personagem: o atlético e ingênuo
Ferdinando e toda a família Yokum, desde a mamãe Yokum, ou Xulipa Buscapé, até
Li´l Abner, o Ferdinando; a romântica e furiosa Daisy Mae, ou Violeta, a gente
simplória que deu fama a Dogpatch, ou o povoado de Brejo Seco, como o conhecem
os leitores brasileiros de quadrinhos.
Com Ferdinando (criado – como ele afirma –
com alguma coisa de Henry Fonda), All Capp pode ocupar-se de quase todos os
grandes problemas da sociedade norte americana em quatro décadas, desde o
preconceito racial até a ajuda aos países estrangeiros, programa espacial,
política de bem estar social, etc.
Em 1952 ele dividiu a opinião pública
norte americana ao celebrar o impossível casamento entre Fedinando e a sensual
e burrinha Violeta. Na
famosa saga de Ferdinando, que se passa no Brejo Seco, um dos episódios mais
conhecidos é o Dia da Maria Cebola, em que todas as mulheres da região travam
uma corrida para ver quem agarra primeiro um solteirão para se casar.
Esse aspecto de crônica diária, engraçada
e crítica ao mesmo tempo, chegou até a levar o escritor John Steinbeck (A Leste
do Éden) a recomendar AI Capp para o prêmio Nobel (1953). “Antes dele, somente
Cervantes e, Rabelais conseguiram criticar tão causticamente e ao mesmo tempo
tornar essa crítica aceita por todos e divertida. Para mim, Capp é o melhor
escritor do mundo”, disse Steinbeck.
A grande novidade da tira era que não só
os personagens eram caipiras, como falavam exatamente como tal. A ingenuidade
de Ferdinando servia de ponto de partida para a maioria das histórias, todas
elas calcadas em situações praticamente absurdas. O sucesso não se fez de
rogado e logo Ferdinando conquistava uma posição de prestígio no universo do
quadrinho norte americano, acarretando uma avalanche de imitações.
O musculoso e ingênuo Ferdinando chegou a
ser publicado em cerca de 1.500 jornais norte-americanos. Crítico temido do
establishment e simpatizante das ideias liberais que permeavam suas histórias,
o cartunista norte americano mudaria suas convicções políticas no final da
década de 60, reconciliando-se, após 40 anos de demolição, com as grandes
instituições da sociedade americana. Sua mira passou a ser os movimentos
pacifistas, hippies, feministas, estudantes, escritores, televisão e por aí
afora. No dia 13 de novembro de 1977 o desenhista encerrava sua carreira como
cartunista. Foram 43 anos de publicação diárias de Ferdinando.
Seus personagens foram levados ao disco,
cinema e televisão, além de lhe render centenas de publicações em livros de
bolso e revistas de vários idiomas. Depois de uma longa enfermidade que o
manteve preso a uma cadeira de rodas, no dia 06 de novembro de 1979, morreu aos
70 anos. Apesar de sua morte nas tiras diárias dos jornais, os personagens de
Capp continuaram a viver em sucessivas reedições em livros e almanaques, as
aventuras dos habitantes de Brejo Seco.