24 julho 2015

Contemplando o mar



“O mar quando quebra na praia/é bonito, é bonito....” (Mar, de Dorival Caymmi). Durante milhões de
anos, a chuva formou cursos de água que iam dissolvendo lentamente rochas de todos os períodos geológicos, nas quais o sal comum é encontrado em abundância. 

Esses cursos de água desembocavam no mar. Como todos os rios correm para o mar, ele ficou com quase todo o sal. 

Os oceanos ocupam cerca de 71% da superfície do planeta. As águas da Terra, principalmente dos oceanos, são responsáveis por muitos fatores de equilíbrio do planeta. 

A Terra sem água, os continentes sem os oceanos seriam praticamente estéreis, e nós talvez nem estivéssemos aqui.

“É bonito se ver/na beira da praia/a gandaia das ondas que o barco balança/batendo na areia/molhando os cocares/dos coqueiros/como guerreiros da dança/oh! quem não viu vá ver/a onda do mar crescer/oh! quem não viu vá ver/a onda do mar crescer..” (Gandaia das Ondas de Lenine e Dudu Falcão). A vida se originou no mar, nos oceanos e na atmosfera primitiva da Terra. O conhecimento sobre o mar, sobre a vida que se expressa em milhares, milhões de formas no mundo submarino, nos ajuda a aprender a respeitar os nossos limites e a expandir os nossos horizontes. O mar, o oceano, as águas salgadas, os rios doces que nos separam e nos unem para fora e para dentro de nossas identidades múltiplas e únicas.

“É água no mar/é maré cheia ô/mareia ô, mareia//Contam que toda tristeza que tem na Bahia/nasceu de uns olhos morenos molhados de mar/não sei se é conto de areia ou se é fantasia/que a luz da candeia alumia pra gente contar...” (Conto de Areia de Romildo e Toninho). A terra possui 71% de sua superfície coberta com água. Desses 71%, o mar é responsável por 97,2%. Dessa forma, é inegável que o mar representa uma parte fundamental da biosfera sendo, também, considerado fonte importante de recursos energéticos, alimentares e minerais, muitos deles renováveis.
 
“O pescador tem dois amor/um bem na terra, um bem no mar/o bem de terra é aquela que/fica na beira da praia/quando a gente sai/o bem de terra é aquela que chora/mas faz que não chora/quando a gente sai/o bem do mar/é o mar, é o mar/que carrega com a gente/pra gente pescar/o bem do mar/é
o mar, é o mar/que carrega com a gente/pra gente pescar” (O Bem do Mar, de Dorival Caymmi). Tudo na natureza vive em função da água... quase tudo o que é vivo na Terra flui na água grande parte dos seus ciclos de desenvolvimento. A maioria dos rios corre para o mar...

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce/Deus quis que a terra fosse toda uma,/que o mar unisse, já
não separasse./Sagroute, e foste desvendando a espuma,//E a orla branca foi de ilha em continente,/clareou, correndo, até ao fim do mundo,/e viu-se a terra inteira, de repente,/surgir, redonda, do azul profundo.//Quem te sagrou criou-te português./Do mar e nós em ti nos deu sinal./
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez./Senhor, falta cumprir-se Portugal!” (O Infante, de Fernando Pessoa). Toda a história do conhecimento segue as trilhas do mar. A navegação começou nos rios e alcançou os estuários, abrindo as portas dos oceanos para o comércio, as grandes viagens, as grandes descobertas.

“Ó mar salgado, quanto do teu sal/são lágrimas de Portugal!/por te cruzarmos, quantas mães choraram,/quantos filhos em vão rezaram!//Quantas noivas ficaram por casar/para que fosses nosso, ó mar!/valeu a pena? Tudo vale a pena/se a alma não é pequena.//Quem quere passar além do Bojador/tem que passar além da dor./Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/mas nele é que espelhou o céu” (Mar Português, de Fernando Pessoa). A origem do Brasil como nação está ligada ao mar, às habilidades dos navegantes de além-mar, aos conhecimentos das tribos litorâneas, dos caiçaras de todas as praias de armação do país. Cada um tem sua própria impressão sobre o mar.
 
“Amaram o amor urgente/as bocas salgadas pela maresia/as costas lanhadas pela tempestade/ naquela cidade/distante do mar/amaram o amor serenado/das noturnas praias/levantavam as saias/e se enluaravam de felicidade/naquela cidade/que não tem luar/amavam o amor proibido/pois hoje é sabido/todo mundo conta/que uma andava tonta/grávida de lua/e outra andava nua/ávida de mar//E
foram ficando marcadas/ouvindo risadas, sentindo arrepio/olhando pro rio tão cheio de lua/e que continua/correndo pro mar/e foram correnteza abaixo/rolando no leito/engolindo água/boiando com as algas/arrastando folhas/carregando flores/e a se desmanchar/e foram virando peixes/virando conchas/virando seixos/virando areia/prateada areia/cm lua cheia/e à beira-mar” (Mar e Lua, de Chico Buarque). Todos os povos primitivos criaram lendas e mitologias onde a formação das águas desempenha um papel essencial. Os ancestrais do homem viveram, provavelmente, longe do mar, daí talvez o espanto de muitos diante da imensidão dos oceanos. Mas há mais de 8 mil anos o Mar Egeu já recebia um intenso fluxo comercial.
 
“Lá se vai mais um dia assim/e a vontade que não tenha fim este sol/é viver, ver chegar ao fim/essa
onda que cresceu, morreu ao seus pés/e olhar pro céu que é tão bonito/e olhar pra esse olhar perdido/nesse mar azul/uma onda nasceu, calma desceu sorrindo/lá vem vindo/lá se vai mais um dia assim/nossa praia que não tem mais fim, acabou/vai subindo uma lua assim/e a camélia que flutua nua no céu” (Nós e o Mar, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli). Olhar para o mar é perceber a imensidão do que temos para investigar e o quanto somos pequenos diante desse universo ainda pouco conhecido. Somos os aventureiros que inventam equipamentos sofisticados para navegar profundezas. E ao mesmo tempo somos os destruidores, os apressados devoradores de um pedaço da natureza à qual muitas vezes esquecemos pertencer

“Olha!/que brisa é essa/que atravessa a imensidão do mar?/rezo/paguei promessa/e fui a pé daqui até Dakar/praia, pedra e areia/boto e sereia, os olhos de Iemanjá/água! Mágoa do mundo/por um segundo/achei que estava lá/olha! Que luz é essa/que abre um caminho/pelo chão do mar/lua/onde começa/e onde termina o tempo de sonhar?/praia.../"e tava na beira da praia/ouvindo as pancadas/das ondas do mar"/não vá/oh! Morena/morena lá que o mar tem areia” (Pedra e Areia, de Lenine e Dudu Falcão). Um dos maiores clássicos das histórias em quadrinhos, Balada do Mar Salgado, foi o primeiro da série de aventuras do marinheiro Corto Maltese, personagem de Hugo Pratt. O mar da costa brasileira, o mar de Castro Alves, Gonçalves Dias, João Bosco, Elis Regina, Chico, Tom Jobim, Camões, Fernando Pessoa, dos jangadeiros do nordeste, mar morto de Jorge Amado, mar de todas as canções do exílio, mar da vida.

“Foi assim/como ver o mar/a primeira vez/que meus olhos/se viram no seu olhar/não tive a intenção/de me apaixonar/mera distração e já era/momento de se gostar/quando eu dei por mim/nem tentei fugir/do visgo que me prendeu/dentro do seu olhar/quando eu mergulhei/no azul do mar/sabia que era amor/e vinha pra ficar/daria pra pintar/todo azul do céu/dava pra encher o universo/da vida que eu quis pra mim/tudo que eu fiz/foi me confessar/escravo do seu amor/livre pra amar/quando eu mergulhei/fundo nesse olhar/fui dono do mar azul/de todo azul do mar/foi assim como ver o mar/foi a primeira vez que eu vi o mar/onda azul, todo azul do mar/daria pra beber todo azul do mar/foi quando mergulhei no azul do mar/onda que vem azul, todo azul do mar” (Toda azul do mar, de Ronaldo Bastos e Flávio Venturini).

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