30 setembro 2010

Cultura indígena dos tupinambás brasileiros ou “vamos cumer”

Foi com grata surpresa que recebi pelo correio um livro enviado pela minha querida amiga Cathy, lá de Barreiras. A leitura desse livro me fez voltar à infância, uma vez que sempre fui fascinado pelos povos da floreta, seus mitos e idiomas. Mas o período escolar (naquela época) afastou nossos sonhos. A escola era um local sagrado onde o mestre sempre tinha razão e cabia ao aluno “decorar” tudo o que ele transmitia e nada opinava...


Meu destino é ser onça (Editora Record) é o título do livro que Cathy me enviou cujo subtítulo é Mito tupinambá restaurado por Alberto Musa. Somos descendentes de uma população que tem histórias milenares para contar, mas isso não é ensinado nas escolas, muito pelo contrário. O que é ensinado pra nós é sobre a valorização da cultura europeia. A nossa, diziam os mestres, é inferior. As crianças francesas quando lê o gibi de Asterix tem uma ligação ideológica com o passado francês antes dos romanos, da inclusão numa história europeia. Aqui nós aprendemos a valorizar o Batman, o Pato Donald e outros, não há espaço para nossos personagens. Claro que tem as exceções: Ziraldo (Pererê), Cedraz (Xaxado), Lage (Tudo Bem)...


“Há 15 mil anos somos brasileiros e não sabemos nada do Brasil”, revela Mussa (p.22) referindo-se à sobrevivência da matriz indígena na consolidação do processo miscigenatorio brasileiro, ou seja, a conscientização de que os cinco séculos de idade do Brasil, cronologia baseada em uma tradição imperialista que não mais se sustenta, são a imagem de uma origem que deve ser revista.


Mussa informa que André Thevet foi um frade que acompanhou Villegagnon em sua tentativa de estabelecer uma colônia francesa no Brasil. O frade escreveu três obras sobre o Brasil, onde conviveu intensamente com os índios, aprendendo a língua tupi e observando os ritos antropofágicos.

“Meu destino é ser onça” é composto por quatro partes: a primeira delas é introdutória, um sumário que precisa questões sobre ortografia e nomenclatura tupis. A segunda parte apresenta o mito tupinambá que explica a criação do mundo e dos seres que nele habitam, bem como a origem e o destino das várias divindades indígenas. Escolhendo elementos de vários relatos de viajantes do Brasil-Colônia que reproduziam mitos indígenas, Mussa “reconstruiu” o que seria uma versão original da mitologia tupinambá, o que incluía uma cosmogonia que aborda a criação do mundo, a origem dos astros e das estrelas e até de elementos da vida e da estrutura social dos índios, como o canibalismo.


Em seguida, o autor enumera os textos que serviram de fonte para o trabalho, traduzidos quando necessário, como um depoimento do frade francês Thevet sobre o que viu em uma viagem ao Brasil e no contato com os índios. As fontes utilizadas por Mussa em sua restauração (nomes como Hans Staden, Padre Anchieta, Gândavo e outros) são apresentadas além de uma detalhada metodologia de confrontação dos dados (que Mussa chama de “cálculo textual”), onde se explica os critérios de seleção das informações que formaram a versão restaurada. Trata-se de um estudo linguístico-antropológico, destinado mais a especialistas, sobre o cálculo usado por Mussa para escolher alguns elementos dessas fontes e dispensar outros na elaboração de uma narrativa única da origem do mundo segundo os tupis.


Alberto Mussa escreveu contos de Elegbara, os romances O Trono das Rainha Jinga, O Enigma de Qaf, e O Movimento Pendular, além de traduzir diretamente do árabe e coletânea de poesia pré-islâmica denominada Os Poemas Suspensos. Com Meu Destino é ser Onça o tema central é a busca da terra-sem-mal, só atingível com a prática do canibalismo – costume que tanto repugnou aos europeus. O rito antropofágico era, para os índios, a principal aquisição da cultura, capaz de transformar em Bem o Mal inevitável inerente à natureza.

O título do livro se explica nesse caminho: o destino do tupinambá é ser canibal, carnívoro e caçador como a onça, e esse horizonte só faz sentido quando observado em suas ressonâncias míticas e religiosas. É preciso embarcar em uma perspectiva que dê conta da multiplicidade dos significantes míticos envolvidos na epopeia tupinambá. O mito dos tupinambás é, segundo Mussa, uma exaltação aos valores canibais. E isso acontece porque apenas com a prática canibal o índio poderia alcançar, depois de sua morte, a terra-sem-mal: terra perfeita, como era antes das grandes catástrofes, causadas pelas maldades dos próprios homens.. A antropofagia conferia valor ao guerreiro nas provas da morte, e a prática deveria ser urgente, já que os índios acreditavam que o mundo poderia ser aniquilado a qualquer momento. “No jogo canibal, cada grupo depende totalmente de seus inimigos, para atingir, depois da morte, a vida eterna de prazer e alegria. O mal assim, é indispensável para a obtenção do bem; o mal, portanto, é o próprio bem” (p. 73).


A obra escrita num estilo simples reproduz todas as fontes empregadas na restauração tornando uma leitura mais interessante. Vale conferir.

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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site: www.heliolage.com.br.


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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

29 setembro 2010

Produção de quadrinhos na Bahia é tema de debate na Ufba

O universo das histórias em quadrinhos – há muito tempo – não está restrito às crianças e aos adolescentes. As produções, cada vez mais maduras e com conteúdo mais voltado para pessoas adultas, têm abordado diversos temas e há eventos para "gente grande" em todo o mundo.


Acontece, entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro, na Faculdade de Comunicação da Ufba (Campus de Ondina), o I Seminário de Comunicação e Cultura, que discutirá diversos temas ligados às habilitações de Comunicação, com palestras e bate-papos com profissionais da área. Entre as mesas programadas está a que debaterá a produção de histórias em quadrinhos na Bahia, no dia 30 de setembro, às 13h30, com os quadrinistas Antonio Cedraz, Wilton Bernardo, Marcelo Lima e Ilan Iglesias.

Antonio Cedraz (foto) tem o título de Mestre dos Quadrinhos Nacionais, concedido pela Associação de Caricaturista e Desenhistas de São Paulo e é o criador da Turma do Xaxado, com a qual ganhou, 6 vezes, o mais importante prêmio de Histórias em Quadrinhos do Brasil: o HQ MIX, considerado o Oscar dos quadrinhos Brasileiros. Atualmente publica as tiras em quadrinhos da Turma do Xaxado em livros didáticos das editoras Moderna, FTD, Saraiva e Ática e, já publicou diariamente nos jornais A Tarde (Salvador), Diário do Nordeste (Fortaleza) e O Sul (Porto Alegre).


Wilton Bernardo é graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia em 2003. Porém, desde 1998 tem vivenciado a área de criação de histórias em quadrinhos, fazendo direção de arte e também ilustrando. Em 2003 iniciou um projeto empreendedor chamado Oficina HQ onde tem realizado oficinas, cursos e exposições sobre/em Quadrinhos na cidade de Salvador.


Marcelo Lima é ex-bolsista do Programa de Educação Tutorial em Comunicação da Ufba está concluindo a graduação em jornalismo e pesquisa histórias em quadrinhos jornalísticas pelo Instituto de Letras. Foi um dos vencedores da 10ª Feira HQ do Piauí, na categoria Roteiro, e premiado no Intercom Nordeste do Piauí pela HQ “Marcha da Maconha em Quadrinhos”. É roteirista da HQ “Kuei e a Senhora de Sárvar”, em parceria com Joel Santos, e editor da revista baiana “Área 71”. Atualmente, lançou a HQ “Lucas da Feira”, em Feira de Santana.


Ilan Iglesias é produtor cultural formado pela Ufba e um dos sócios-fundadores da RV Cultura e Arte, espaço que congrega uma galeria de arte contemporânea e mobília retrô criada pelos designers Sérgio Rodrigues e Zanini Caldas e uma comic shop. É produtor do projeto de quadrinhos São Jorge da Mata Escura do quadrinhista Marcelo Fontana com ilustrações de Antonio Cedraz, André Leal e Naara Nascimento. (Fonte: http://www.seminariocomcult.blogspot.com/)


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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site: www.heliolage.com.br.


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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

28 setembro 2010

Druuna decide destino dos sobreviventes da tragédia nuclear (2)

Paolo Serpieri antes de criar a heroína lasciva Druuna, fez desenhos para a Larrousse e ilustrações para a Bíblia Sagrada. Mas ganhou dinheiro e fama com os pecados de Druuna, com quem contracena, em algumas histórias sob seu traço, como o personagem Doc. Lançado no Brasil pela Heavy Metal, Druuna é uma das personagens mais excitantes do mundo dos quadrinhos eróticos. Paolo Serpieri é considerado um dos maiores artistas do gênero, com erotismo na dose certa e detalhes enlouquecedores.


Serpieri é um apologista da forma feminina, que não poupa elogios às mulheres brasileiras. Em uma breve visita a Belo Horizonte (MG) em 1997, Serpieri foi um dos principais convidados da 3ª Bienal Internacional de Quadrinhos. Na ocasião, em uma entrevista, ele informou: “Nos anos 70, eu trabalhava com quadrinhos de faroeste e pensava que meu desenho não tinha muito a ver com a ficção científica. Eu tinha resistência ao desenho geométrico, certinho, tecnológico da FC. Mas a fantasia e a ficção dos quadrinhos publicados na Metal Hurlant me fascinavam muito. Como eu ainda tinha muitas histórias para contar com o faroeste, comecei a fundir este gênero com a fantasia. Só depois, nos anos 80, eu cheguei à ficção científica. Fiquei muito impressionado com Alien e Blade Runner de Ridley Scott; aí comecei a fazer uma história em que aparece a deterioração do mundo tecnológico. Quando comecei a desenhar essa história não pensei numa personagem protagonista, mas foi aí que surgiu a Druuna”.


E disse mais: “Enquanto personagem, Druuna surgiu como minha concepção de uma mulher sensual. Ela representa o erotismo e a sensualidade. Mas é como se ela fosse uma mulher que você poderia encontrar, ela é viva, atual, palpável. É como se você pudesse tocá-la, por isso utilizo essa plasticidade nos desenhos e nas formas. Eu a inseri em um mundo em decomposição para criar um contraste entre um corpo perfeito de mulher, que remete à vida e prazer, e o ambiente em decomposição. Em suas histórias, Druuna também aparece em um mundo onírico, realizando uma fuga, da morte e da dor, através do prazer. Meu trabalho responde a uma necessidade pessoal”.


Sobre a questão da relação entre o erotismo e a pornografia ele foi categórico: “Eu penso que a pornografia é a representação do ato sexual. Tanto pode ser chata quanto pode ser excitante. Não entendo quando as pessoas se escandalizam com a representação do ato sexual, que é algo belo. Por sua vez, o erotismo pode ser muito fascinante. Há toda uma série de situações e elementos que se referem ao ato sexual. Chamo de erotismo um olhar de uma bela mulher, um vestido transparente, o movimento dos seios. Para alguns o erotismo é nobre e a pornografia é vulgar; muitas vezes isso é hipocrisia de quem tem medo do prazer. Vou dizer algo perigoso: o erotismo é muito hipócrita e parece muito nobre pois se pensa que o ato sexual é algo vulgar”.


“A qualidade e a impressionante uniformidade do traço que Serpiere conseguiu preservar no decorrer de quase duas décadas de produção das aventuras de Druuna o ajudaram a formatar o hiper-realismo quase fotográfico que ele buscou para os personagens de suas histórias. Foram o resultado do esforço de um artista obstinado em alcançar sempre a perfeição” (...) “Nenhum personagem do cinema ou das histórias em quadrinhos em todos os tempos reuniu tantos atributos físicos juntos quanto Druuna. Tudo isso, à primeira vista, levou a uma leitura superficial da heroína e, não raro, preconceituosa, feita muitas vezes a partir de princípios morais. Inclusive de um bom número de críticos, que a transformaram num clichê erótico. E dos moralistas, que sempre tiveram muito que se sentir incomodados com ela – tanto que suas histórias continuam inéditas em muitos países da Europa, Ásia e América”, escreveu o jornalista e pesquisador Gonçalo Júnior sobre o estilo do artista no seu livro “Tentação à Italiana, um perfil dos mestres do erotismo contemporâneo”, lançado pela Ópera Graphica Editora em 2005.


E concluiu: “Do ponto de vista cultural, para os italianos, Druuna tem uma outra importância visual: a de resgatar, historicamente, as formas cheias das grandes deusas do cinema, antenadas pelo pioneirismo do furacão Brigitte Bardot e, mais adiante, com Barbarella, interpretada no cinema por Jane Fonda -, ambas filmadas por Roger Vadim. Serpieri deu aos homens italianos o velho prazer de olhar para uma bela bunda sem correr o risco da indiscrição ou de um torcicolo. Druuna quase sempre salta da folha de papel a partir de um talento excepcional de um anatomista que a faz próximo do tridimensional, como se ela estivesse fora do papel. E, assim, arrasta a todos para o mundo dos sonhos que idealizou. O mundo de Druuna”.

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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site: www.heliolage.com.br.


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27 setembro 2010

Druuna decide destino dos sobreviventes da tragédia nuclear (1)

Sobreviventes de uma catástrofe nuclear partiram numa nave espacial em busca de algum planeta habitável. O comandante Lewis teve sua consciência mantida através dos tempos graças ao formol e ao fluido vital retirado de corpos humanos estrategicamente selecionados pelo computador Delta. A nave, batizada por seus habitantes de “Cidade” é controlada pela inteligência cibernética. Os últimos homens correm perigos. Um deles, Schastar, sofre um mal incurável que se transmite ao menor contato físico. A única salvação contra a ameaça que paira sobre quase toda a população da nave é uma droga com efeitos alucinógenos. Uma eleita terá de decidir o destino da espécie. Seu nome é Druuna. Em troca do remédio, bastante escasso, ela se humilha e se prostitui.


A arte clássica do italiano Paolo Eleuteri Serpieri, os álbuns Morbus Gravis ( do latim doença grave) e Druuna foi elogiada por Fellini. Seus traços realistas são feitos a nanquim e sombreados a lápis, depois pintados a guache e aquarela, quando ganham volume e vida. O resultado é espetacular. A Martins Fontes ia lançar os dois volumes primorosos no Brasil. A Meriberica/Líber, sediada em Lisboa, se antecipou e publicou o seu álbum em português castiço. Mas os direitos seriam apenas para Portugal. As revistas que circularam em nosso mercado foram avidamente consumidas pelos fãs dos personagens de Serpieri. A Martins Fontes recuou.


PRÊMIOS - As histórias da série “Morbu Gravis” começaram a ser desenhadas por Serpieri em1985, para o Charlie Mensuel e editadas originalmente pela Dargaud. Ele começou no mundo dos quadrinhos na revista italiana “Lancio West” (1978). Apaixonado pelo tema Western, ilustrou para Larousse (1980), uma “Historia del Far Wesr” que, juntou a “La India Blanca” e suas colaborações na publicação italiana “Orient Express” lhe valeram o reconhecimento internacional.


Seus quadrinhos Western valeram-lhe o Prêmio Yellow Kit no salão Internacional de Lucca, em 1980. Além de colaborar com a L’Eternauta, Heavy Metal e Orient-Express, publicou suas histórias na revista Pilote. A terceira parte da saga de “Druuna” já lançada em diversos países chama-se “Creatura”. A censura atacou a revista Comic Arte italiana. O editor Rinaldo Traini cobriu os órgãos sexuais dos personagens dos novos episódios de “Druuna”. Sabe-se que o conservadorismo invadiu a Itália, quando algumas editoras foram compradas por órgãos religiosos. Também o conservadorismo está tomando uma boa fatia da cultura norte-americana. Que essa praga (censura) não chegue ao Brasil. Essa ficção científica recheada de erotismo significa para Serpieri pintor figurativo que leciona no Instituto de Arte De Roma uma nova experiência quanto ao tema e estilo. A saga da voluptuosa Druuna está fazendo sucesso eram diversos países.


SUCESSO - Druuna fez tanto sucesso que até virou até jogo de computador. Narra um futuro apocalíptico, em um mundo corrompido por uma estranha doença, onde a protagonista perambula buscando a cura, e respostas. Os quadrinhos são carregados de sensualidade e erotismo. O corpo de Druuna é perfeito e sua nudez contrasta com o resto do cenário: degenerado, podre, sujo.


Ana Lima posou nua como "pantera" para uma Playboy de 1989. Ao comentar sobre quem representaria melhor Druuna no cinema, Serpieri mencionou Ana Lima, e sua "semelhança fascinante. Mas ela não é uma atriz…" O ensaio de Ana Lima foi publicado após a primeira história, Morbus Gravis (1985, pesquisa de preços). Na época, a fonte de inspiração do autor era Valérie Kapriski, atriz francesa. Outras possíveis candidatas a interpretar Druuna, na visão de Serpieri: Jennifer Lopez ("mas não estou inteiramente convencido"), Monica Bellucci, Salma Hayek, e Laetitia Casta.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

24 setembro 2010

Música & Poesia

3 X 4 (Humberto Gessinger)


Diga a verdade

Ao menos uma vez na vida

Você se apaixonou

Pelos meus erros


Não fique pela metade

Vá em frente, minha amiga

Destrua a razão

Desse beco sem saída


Diga a verdade

Ponha o dedo na ferida

Você se apaixonou

Pelos meus erros


E eu perdi as chaves

Mas que cabeça a minha

Agora vai ter que ser

Para toda a vida


Somos o que há de melhor

Somos o que dá pra fazer

O que não dá pra evitar

E não se pode escolher


Se eu tivesse a força

Que você pensa que eu tenho

Eu gravaria no metal da minha pele

O teu desenho


Feitos um pro outro

Feitos pra durar

Uma luz que não produz

Sombra


Somos o que há de melhor

Somos o que dá prá fazer

O que não dá pra evitar

E não se pode esconder



Deram um fuzil ao menino (Firmino Rocha)

Adeus luares de Maio.

Adeus tranças de Maria.

Nunca mais a inocência,

nunca mais a alegria,

nunca mais a grande música

no coração do menino.

Agora é o tambor da morte rufando

nos campos negros.

Agora são os pés violentos ferindo

a terra bendita.

A cantiga, onde ficou a cantiga?

No caderno de números o verso

ficou sozinho.

Adeus ribeirinhos dourados.

Adeus estrelas tangíveis.

Adeus tudo que é de Deus.

Deram um fuzil ao menino.

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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site: www.heliolage.com.br.
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23 setembro 2010

70 anos sem Walter Benjamin, mas com o pensamento na modernidade (3)

No dia 26 de setembro completa 70 anos do desaparecimento do pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940), considerado um dos mais importantes críticos literários da Alemanha do inicio do século XX.

Em “O narrador”, Benjamin formula uma outra experiência: além de constatar o fim da narração tradicional, esboça a ideia de uma outra narração – uma narração nas ruínas da narrativa, uma transmissão entre os cacos de uma tradição em migalhas; portanto, uma renovação da problemática da memória. O narrador não tem por alvo recolher os grandes feitos. Deve muito mais apanhar tudo aquilo que é deixado de um lado como algo que não tem significação, algo que parece não ter nem importância nem sentido, algo com que a história oficial não sabe o que fazer. Ou ainda: o narrador e o historiador deveriam transmitir o que a tradição, oficial ou dominante, justamente não quer recordar.


Em “O narrador”[Walter Benjamin et al. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Os pensadores], Walter Benjamin repercorre a história da arte de narrar observando-a de um ângulo que absorve o avanço técnico, mas que percebe a perda de humanismo. Ele anota: “O indício mais remoto de um processo em cujo término se situa o declínio da narrativa é o advento do romance no início da Era Moderna. O que separa o romance da narrativa (e do gênero épico em sentido estrito) é sua dependência essencial do livro. A difusão do romance só se torna possível com a invenção da imprensa. A tradição oral, patrimônio da épica, tem uma natureza diferente da que constitui a existência do romance. O que distingue o romance de todas as outras formas de criação literária em prosa – o conto-de-fadas, a saga, até mesmo a novela – é o fato de não derivar da tradição oral, nem entrar para ela. Mas isso o distingue sobretudo da ação de narrar. O narrador colhe o que narra na experiência, própria ou relatada. E transforma isso outra vez em experiência dos que ouvem sua história. O romancista segregou-se. O local de nascimento do romance é o indivíduo na sua solidão, que já não consegue exprimir-se exemplarmente sobre seus interesses fundamentais, pois ele mesmo está desorientado e não sabe mais aconselhar [Op.Cit., p.59-60]


LIVROS - Onde buscar conhecimento e ensinamentos históricos para superar os desafios da realidade? Walter Benjamin respondeu com a sua prática: nos livros. O conhecimento e a experiência antes guardados na memória, hoje têm o seu lugar de armazenamento privilegiado nos livros. Mas a profusão de informação circulante não nos permite a simplificação hedonista. Experiência de vida e experiência de leitura, quando bem orientadas, podem iluminar o próximo passo.


Os textos críticos dirigidos à questão do poder e do direito (“Crítica da violência, crítica do poder”, de 1921), crítica do que ele denominou de concepção “burguesa”, ou seja, instrumental, da linguagem (“A tarefa do tradutor”, de 1921, e do artigo de juventude “Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem dos homens”, de 1916). Refletiu em vários ensaios críticos sobre questões como a da coleção e do colecionismo (textos sobre coleção de brinquedos e de livros), escritos voltados para a recordação de sua infância (Crônica berlinense e Infância e, Berlim) são profundamente inovadores.


Sua produção crítica era, ao mesmo tempo, teoria da literatura (como as de Proust, Kafka, Brecht, Goethe, Hebel etc). Seu livro sobre o drama barroco alemão, e as reflexões que acompanham as notas de seu trabalho que ficou incluso sobre as passagens de Paris são mais eloquentes. Com Benjamin aprendemos que a cultura é a partir de meados do século 20 toda ela como que transformada em um documento e, mais ainda, ela passa a ser lida como testemunho da barbárie.


Diante das radicais mudanças ocorridas na humanidade ao longo do século XX (século de avanços tecnológicos gigantescos, mas também de uma violência e de uma capacidade genocida nunca antes posta em prática como então) Benjamin procurou “soprar” sobre este novo homem e esta nova paisagem, palavras e imagens que deveriam nos ajudar a perceber nossos novos contornos. Ajudar a realizar o design da humanidade na era da sua reprodução sintética.


A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, seu texto mais influente no campo da história da arte foi publicado em 1936. Nele, Benjamin trata da perda “aurática” da obra de arte, em função das novas técnicas de reprodução, cujo paradigma estaria no cinema e na fotografia, artes nas quais se perde a distinção entre cópia e original. Ele analisa as consequências no desenvolvimento da própria arte, as mudanças na percepção do espectador e os impactos sociais e políticos que se desdobrariam a partir desse novo paradigma.

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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site: www.heliolage.com.br.
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22 setembro 2010

70 anos sem Walter Benjamin, mas com o pensamento na modernidade (2)

No dia 26 de setembro completa 70 anos do desaparecimento do pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940), considerado um dos mais importantes críticos literários da Alemanha do inicio do século XX.


Benjamin ataca a ideologia do progresso em todos os seus componentes: o evolucionismo darwinista, o determinismo de tipo científico natural, o otimismo cego e a convicção de “nadar no sentido da corrente” (o desenvolvimento técnico). Em uma palavra, a crença confortável em um progresso automático, contínuo, infinito, fundado na acumulação quantitativa, no desenvolvimento das forças produtivas e no crescimento da dominação sobre a natureza.


As classes revolucionárias estão conscientes, no momento da ação, de “romper o contínuo da história”. A interrupção revolucionária é, portanto, a resposta de Benjamin às ameaças que faz pesar sobre a espécie humana a perseguição da tempestade maléfica chamada Progresso.


Com Benjamin aprendemos que cultura é a partir de meados do século 20 toda ela como que transformada em um documento e, mais ainda, ela passa a ser lida como testemunho da barbárie. Sua teoria da história e da cultura descortina o passado e suas ruínas, sobre as quais construímos nosso presente. Seu projeto de historiografia calcada no colecionismo (que tem por princípio o arrancar de seus objetos do falso contexto para inseri-lo dentro de uma nova ordem comandada pelos interesses de cada presente) e, por outro lado, inspirado no trabalho do catador (que se volta para o esquecido e considerado inútil) ainda hoje é estudado.


Para Benjamin, enquanto as classes dominantes rodeiam-se de uma cultura e uma história que as legitimam e as glorificam – na unidade ideológica dos slogans nação, ordem e progresso – cabe aos derrotados rememorar as fraturas revolucionárias. “Escovar a história a contrapelo” significa não permitir que a tradição dos oprimidos seja esquecida e, com ela, num resgate consciente, alimentar o presente de suas forças liberadoras.


MEMÓRIAS - Dois ensaios de Walter Benjamin tratam da memória: “Experiência e pobreza”, de 1933 e “O narrador”, escrito entre 1928 e 1935. Ambos ensaios partem daquilo que o pensador chama de perda ou de declínio da experiência, isto é, da experiência no sentido forte e substancial do termo, a experiência que repousa na possibilidade de uma tradição compartilhada por uma comunidade humana, tradição retomada e transformada, a cada geração, na continuidade (duração) de uma palavra transmitida de pai para filho.


Essa perda de experiência acarreta uma outra: o das formas tradicionais de narrativa, que têm sua fonte nessa memória comum e nesse transmissibilidade. Com seu diagnóstico, Benjamin reúne reflexões acerca da memória traumática, da experiência em forma de choque, conceito chave de sua análise da lírica de Baudelaire e das práticas dos surrealistas.


Já no curto texto “Experiência e pobreza”, o filósofo insiste nas mutações que a pobreza da experiência acarreta para as artes contemporâneas. Não mais se trata de reconfortar ou consolar os homens pela edificação de uma beleza ilusória. Contra uma estética da harmonia, Benjamin defende as provocações das vanguardas que, como é o caso das propostas surrealistas, produziam “curtir circuitos iluminadores”, isto é, criavam situações que permitiam uma espécie de conscientização da barbárie coletiva.

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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site: www.heliolage.com.br.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

21 setembro 2010

70 anos sem Walter Benjamin, mas com o pensamento na modernidade (1)

No dia 26 de setembro completa 70 anos do desaparecimento do pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940), considerado um dos mais importantes críticos literários da Alemanha do inicio do século XX. É um dos expoentes da escola de Frankfurt, ao lado de Theodor Adorno e Max Horkheimer. O nazismo e a guerra, que lhe dispersaram o grupo inicial, não lhe destruíram a unidade de espírito. Walter Benjamin foi um dos pilares da Escola, mas, ao mesmo tempo, afastou-se dela à medida que avança na direção do marxismo. Os múltiplos interesses dos pensadores de Frankfurt e o fato de não constituírem uma escola no sentido tradicional do termo, mas uma postura de análise crítica e uma perspectiva aberta para todos os problemas da cultura do século XX, torna difícil a sistematização de seu pensamento.

A obra de Walter Benjamin é cultuada na América Latina e tem auxiliado na construção de uma “cultura da memória” no continente. A obra benjaminiana permeia uma “espécie de anarquismo melancólico de esquerda”, bem como sobre a posição de vanguarda de Benjamin ao pensar as Humanidades de modo transdisciplinar – prática hoje tão em voga – já nos idos dos anos 1930. A predileção latino americana por Walter Benjamin está ligada à tradição do ensaio – gênero adotado por ele, que transita entre o discurso literário, sociológico, histórico, antropológico, político. A América Latina tem grande tradição de ensaístas.


Benjamin escreveu sobre diferentes temas – teoria de história, da tradução, sobre a violência e as mudanças no modo de recepção das obras de arte, entre muitas outras questões que abordou – sempre de modo original e profundo. O pensador via a história como um palco onde aquilo a que chamamos de progresso é revelado como sendo um acumular de catástrofes. Esta visão dramática e ao mesmo tempo crítica atrai os intelectuais latino-americanos, que convivem em sociedades marcadas pela desigualdade e por conflitos sociais.

TRANSDISCIPLINAR - Benjamin nunca se filiou ao Partido Comunista e foi inclusive um grande crítico da política como instituição. Ao longo de sua vida ele desafiou as fronteiras entre as disciplinas. Ele era filósofo, germanista, romanista, sociólogo, teórico das artes e da tradução, sem contar que também era grafólogo. O modo transdisciplinar de se pensar as Humanidades está em voga e Benjamin já o praticava nos anos 1930.

Para Benjamin, a revolução não é o resultado “natural” ou “inevitável” do progresso econômico e técnico, mas a interrupção de uma evolução histórica que conduz à catástrofe. Esse perigo catastrófico está a serviço da emancipação das classes oprimidas. Sua preocupação é com as ameaças que o progresso técnico e econômico promovido pelo capitalismo faz pesar sobre a humanidade.


Benjamin coloca no centro de sua filosofia da história o conceito de catástrofe. “A catástrofe é o progresso, o progresso é a catástrofe. A catástrofe é o contínuo da história”, observou em uma das notas preparatórias às Teses de 1940. A obra de Benjamin tem auxiliado na construção da cultura da memória, que é também uma luta contra o esquecimento e a perpetuação da injustiça. Ele mostrou um modelo da imagem da história como acúmulo de catástrofes.

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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site: www.heliolage.com.br.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

20 setembro 2010

Manifesto da Nona Arte (4)

Uma análise dos quadrinhos através das suas inúmeras relações com a arte contemporânea. Manifesto onde procura mostrar que a história-em-quadrinhos é uma das únicas artes atualmente vivas – a nona – ao lado do cinema, da fotografia e da pintura. Texto de Gutemberg Cruz publicado no jornal Correio da Bahia – Caderno Cultura – 07 de Abril de 1980. Página 1.


ORQUESTRAÇÃO VISUAL - Uma das críticas mais comuns é que o cinema, rádio e TV não podem substituir os compêndios de estudo. Séculos atrás, livros impressos para uso de estudantes foram denunciados porque não podiam ter a autoridade dos mestres falando diretamente com o aluno. Assim, no passado como no presente, um efeito comum: antes condenavam-se a escrita, os livros. Hoje condenam-se os efeitos visuais.


O fato de condenar logo no início já é tido como normal, pois alguns educadores e moralistas investiram contra os primeiros jornais, os primeiros cinemas e os primeiros rádios. Até que ficou evidente que jornal, cinema e rádio tanto pode prestar fins educativos como deseducativos. A importância e o valor que se dá atualmente às histórias em quadrinhos provém em grande parte do simples fato de serem lidas diariamente por milhares de pessoas das mais variadas idades. Se as historietas são assim tão lidas, é porque pelo menos devem ser um fenômeno social a ser estudado e analisado.

O que há de essencial nas historietas é o processo. O processo classifica as leituras de histórias em quadrinhos. Se trocarmos o conteúdo das histórias, podemos mudar os assuntos e os temas à vontade, sem que o gênero quadrinhos deixe de ser o mesmo, mas se trocarmos o processo, contando a história à moda de textos paginados, deixará de haver leitura em quadrinhos.


O preconceito contra os quadrinhos, se não terminou continua cada vez mais afastado, pois surgiu da obtusidade de pessoas que se limitaram a “meramente” ler. O quadrinho é, antes de tudo, alguma coisa que se vê: do todo se parte para os textos e para as imagens sequenciadas. Importantíssimo o ritmo visual – dinamiza estruturalmente os quadros criando movimento e ações formais. Desce-se, depois, ao plano: o que impressiona num quadro é a composição texto e imagem redimensionando a mensagem iconográfica. O ritmo continua seguido dos elementos predominantes no interior dos planos: onomatopeia, ruídos que vão vida aos desenhos, tem o poder mágico de criar as mais variadas situações e participa da montagem da cena; balões, criado para representar a fala das personagens, evoluiu para simbolizar ideias, pensamentos, ruídos. Os enquadramentos, as montagens, as panorâmicas, os suspenses, o formato, a cor, o controle de tempo e do espaço onde se desenrola a ação, são os responsáveis de ação do modo pelo qual se afeta o leitor.

O que caracteriza uma HQ como uma forma de arte é justamente sua completa diferença das demais linguagens artísticas. As HQs usam uma combinação de texto e imagem de maneira própria e o grande encantamento que as mesmas causas em seus leitores é obtido pelo perfeito encadeamento entre estes dois elementos, resultando numa composição que se revela na página impressa e provoca em cada espectador uma reação diferente, pois as lacunas de um quadro para outro são preenchidas pelo inconsciente.


O quadrinho começa pelo ritmo visual, desdobra-se através de uma narrativa cuja força está na forma de percepção do seu leitor. Ganha sentido primeiro pelo uso gráfico subordinado à narrativa; do texto que pode ganhar densidade dramática pelo uso de tipologia variada (inclusive onomatopeias), por suas cores ou tamanhos diferenciados, bem como pelo formato dos balões. O segundo, a mudança dos próprios quadros, que podem, ganhar diferentes formatos criando efeitos únicos, até mesmo refletindo o estado de espírito do personagem.

"Estou sinceramente convencido de que a arte dos quadrinhos é uma forma de arte autônoma. Reflete sua época e a vida em geral com maior realismo, e, graças à sua natureza essencialmente criativa, é artisticamente mais válida do que a mera ilustração. O ilustrador trabalha com máquina fotográfica e modelos; o artista dos quadrinhos começa com uma folha de papel em branco e inventa sozinho uma história inteira - é escritor, diretor de cinema, editor e desenhista ao mesmo tempo", disse o desenhista Alex Raymond (criador de Flash Gordon, Nick Holmes).


Foi o italiano Ricciotto Canudo que elencou as manifestações artísticas, em 1911, através de uma lista indicativa com a relação da arte e de seu canal de manifestação. Inicialmente eram sete, hoje a lista abrange mais de nove. Eis a lista:
1a arte - Música (som)
2a arte - Pintura (cor)
3a arte - Escultura (volume)
4a arte - Arquitetura (espaço e tempo)
5a arte - Literatura (palavra)
6a arte - Coreografia (movimento)
7a arte - Cinema (integra os elementos das artes anteriores)
8a arte - Fotografia
9a arte - Arte Sequencial (quadrinhos)


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