23 abril 2020

Mistura que dá samba, rock, blues e jazz (06)


2018 (BRASIL) – BUSKER - Ryan Smallman, desenhista do Omelete, lançou seu primeiro quadrinho na CCXP 2018: Busker. A HQ conta a história de Clayton, um jovem que persegue o sonho de ser músico na impessoal São Paulo, uma cidade onde nem sempre um artista de rua (busker, em inglês) e sua sensibilidade têm vez. Como em toda história de amor, o protagonista descobrirá que os sonhos – mesmo os mais verdadeiros – podem partir seu coração. Caberá a ele decidir se abrir mão deles é o caminho a ser trilhado ou se o correto é lutar por aquilo que mais ama. No centro da história, uma canção é composta pelo protagonista. Esta canção existe e foi composta Ryan e sua esposa, Beatriz Smallman, para acompanhar a história. A música Só por mais um dia foi gravada e disponível online a partir de um código QR presente na contra capa do livro.




2018 (BRASIL) – UM MENINO CHAMADO SUE, do pernambucano Felipe Moura. Tanto a letra da música quanto o quadrinho narra a história de um garoto amaldiçoado por seu próprio nome, tendo que tornar-se duro como a única realidade que conheceu. Depois de tanto bater e apanhar, ele decide encontrar a raiz de sua dor, o homem por trás de toda sua tragédia, percorrendo o velho oeste em busca de redenção. Felipe Moura, roteirista e desenhista, quadrinizou a música de Shel Silverstein, interpretada pelo Johnny Cash, A Boy Named Sue. O quadrinho já foi vendido em pequena quantidade e em seguida republicado pela Sketch Comics.



2019 (BRASIL) – DOCE JAZZ, de Myllle Silva (roteiro) e Melissa Garabelli (arte). Elisa acaba de desembarcar no Japão para viver a aventura da sua vida: morar sozinha em um país distante. Sem saber falar japonês, ela descobrirá o poder da música em aproximar as pessoas. Uma HQ sem falas sobre busca de identidade.



2019 (BRASIL) – TUHÚ E O ANDARILHO DO TEMPO, de André Vazzios. Tuhú é um dos filhos de um casal modesto no Rio de Janeiro de um período histórico repleto de desafios e agitação cultural. É quando o senhor Le Loup surge na vida desse menino, com a promessa de aventuras e descobertas. Ficção inspirada na infância do Maestro Villa Lobos, a história é um passeio pelas paisagens e personagens que influenciaram a visão brilhante de um dos maiores expoentes de nossa cultura.




2018 (BRASIL) - André Valença e Celso Hartkopf publicaram uma HQ sobre a vida e obra de ALCEU VALENÇA, um dos mais importantes músicos pernambucanos. A revista Colcha de Retalhos saiu no site Continente (http://www.revistacontinente.com.br/edicoes/211/alceu-valenca-em--colcha-de-retalhos- ). A HQ traz uma conversa do autor sobre o disco Vivo! (1976), um dos registros mais icônicos do músico e que foi muito influenciado pela psicodelia, mas acaba sendo uma narrativa em quadrinhos apoiada no universo estético do músico. André Valença, sobrinho de Alceu, disse que o desafio principal da HQ foi o dispositivo narrativo em si, uma vez que as conversas com o autor são meio erráticas e sem muita referência cronológica. Além disso, a própria história do disco Vivo, é meio obscura.



2019 (BRASIL) – NOTAS DO UNDERGROUND. Compilação de histórias curtas que abordam diversas situações da cena de rock independente. Escrita e desenhada por Pedro D’Apremont, a HQ imagina diversas situações que vão desde dois garotos que tomam um porre com uma banda após assistir ao show até um grupo de black metal que se perde na floresta durante a gravação de um clipe. Originalmente publicada pela versão norte-americana da Vice entre 2017 e 2018, o quadrinho foi lançado no Brasil pela Pé de Cabra no início de 2019.



2019 (COREIA) - BTS UNIVERSE. O grupo sul-coreano BTS ganhou sua própria revista em quadrinhos, chamada The Most Beautiful Moment in Life Pt.0 , e os capítulos já estão disponíveis online. A trama gira em torno do reencontro dos integrantes da banda após um tempo separados e contará o início do BTS Universe, que até então se desenvolvia através das músicas e videoclipes do grupo.




2019 (BRASIL) – EXISTE OUTRO CAMINHO – HISTORIA DO RAP NACIONAL. Projeto pioneiro nas artes e na história da cultura brasileira. A HQ autoral conta, nesta primeira edição, um pouco da história do surgimento do rap brasileiro, e uma das primeiras e únicas publicações que resgatam essas origens. O projeto surgiu com os estudantes de publicidade de propaganda da UFPR, Douglas Lopes, designer e ilustrador da HQ, e Max Koubil, roteirista das histórias, como o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) dos dois, que também têm o Rap como parte de suas vidas.



2020 (BRASIL) – ROBERT JOHNSON – O cão da encruzilhada. Com roteiro e arte de Estevão Ribeiro. é um conto fantástico semibiografico, trazendo o mito e a história de Robert Johnson, considerado um dos pais do Blues e a base para o Rock, criado poucas décadas depois. Diz a lenda que o meteórico sucesso e o repentino e gigantesco talento de Johnson foram graças a um pacto com o Diabo. O cantor também inaugurou o misterioso Clube dos 27, nome dado aos músicos que fizeram fama e morreram aos 27 anos. Além dele, fazem parte artistas como Jimi Hendrix, Curt Cobain, Janis Joplin, Jim Morrison e Amy Winehouse. Esta será a primeira edição de uma nova série da Skript chamada Vinil com formato quadrado, semelhante aos LPs.




2020 (EUA) – BOWIE: STARDUST, RAYGUNS & MOONAGE DAYDRAMS. Romance gráfico completo que narra a ascensão de David Bowie da obscuridade à fama sobrenatural. O artista Michael Allred se juntou a Steve Horton e à colorista Laura Allred para capturar a vida de Bowie por meio de ilustrações tão vibrantes quanto a vida do próprio cantor. A graphic novel é uma história de reinvenção, e segue a narrativa de Bowie ao sair de sua vida cotidiana como David Jones e explodir na cena do rock em meados dos anos 1960 em Londres.





BIBLIOGRAFIA: 



ALENCAR, Marcelo. Música em quadrinhos. MTV 49. São Paulo: Editora Abril, Ano 05, Junho 2005. Pags 80 a 85.



BORGES, Thiago. Quadrinhos para serem ouvidos: capas de discos que são HQs.https://oquadroeorisco.com.br/2018/02/07/quadrinhos-para-serem-ouvidos-capas-de-discos-que-sao-hqs/

FELIX, Isabelle. Gerard Way: entre a música e os quadrinhos, os dois!. 15 dezembro 2015. http://www.universohq.com/entrevistas/gerard-way-entre-a-musica-e-os-quadrinhos-os-dois/



GUSMAN, Sidney. No acorde dos quadrinhos. Revista Sandman. Rio de Janeiro: Editora Globo. N.07, Março 1980. Pags 16 a 18.



LAWLEY, Guy. “I like Hate and I hate everything else”. The influence of funk on comics. In: Punk Rock: So What?: The Cultural History of Punk, editado por Roger Sabin. Nova York. Routledege, 1991.



PAVAM, Rosane. Rock e quadrinhos, uma velha e fértil ligação. Suplemento Divirta-se. São Paulo: Jornal da Tarde, 22 de junho 1991. Pag. 11.



PAVÃO NETO, Carlos Alberto. Rock brasileiro 1955-65: trajetória, personagens, discografia. São Paulo: EDICON, 1985.



RAMONE, Marcus. Os quadrinhos na música brasileira. 20 outubro, 2015. http://www.universohq.com/universo-paralelo/os-quadrinhos-na-musica-brasileira/



VENANCIUS, Jefferson HQs nacionais – parte 4 | Música. 17/07/2015.




VERÍSSIMO, Luís Fernando. Risco entrevista Angeli. Revista Mil Perigos. São Paulo: Editora Dealer.  n.05, novembro 1991. Pags 43 a 58.















Os Quadrinhos e a Musica Pop




















Trilha sonora em HQ: sim isso existe




Coltrane em quadrinhos









17 abril 2020

Mistura que dá samba, rock, blues e jazz (05)


2013 (EUA) - GABBA GABA HEY: THE GRAPHIC STORY OF THE RAMONES. Publicada por Jim McCarthy e Brian Williamson, a história segue a jornada dos Ramones e como eles revolucionaram a música com seu ritmo rápido, simples e direto. McCarthy, que também é jornalista de música, vai desde os primeiros dias da banda no Queens, passa pelo seu sucesso internacional e seu final trágico.




2013 (BRASIL) – TERAPIA, de Mário Cau. História originalmente lançada como webcomic em 2013 pelo portal de webcomics Petisco. Ganhou o troféu HQ Mix na categoria Melhor Web Quadrinho e através de um financiamento coletivo, pelo Catarse, foi publicada em versão física. Mario Cau, Rob Gordon e Marina  Kurcis retratam a raiva, a angústia, a tristeza ou a alegria de um garoto. O álbum conta a história de um garoto normal aos olhos da sociedade. Estuda, trabalha, namora… Mas, não consegue se sentir feliz. Se sente deslocado e frequenta sessões de Terapia, onde desabafa e expõe suas inseguranças. Para “fugir” do seu cotidiano e de seus sentimentos, ele encontra o conforto nas letras de canções de blues.




2013 (EUA) - O QUINTO BEATLE. Publicada pela Dark Horse nos EUA e pela Aleph no Brasil, a história segue a jornada de Brian Epstein, o agente que descobriu o grupo em Liverpool. Judeu e homossexual, ele viveu em uma época de preconceitos à flor da pele, em que o antissemitismo ainda assombrava o mundo e a homossexualidade era considerada crime no Reino Unido. Brian é um dos grandes responsáveis pela Beatlemania, pensando em pequenos detalhes que ajudaram a construir a identidade do grupo. O trabalho do escritor Vivek J. Tiwary e dlos ilustradores Alex Robinson e Kyle Baker ganhou diversos prêmios ao redor do mundo como Eisner, Harvey, Lambda, e Reuben, além de se tornar um bestseller do The New York Times.



2014 (EUA) - THE WICKED + THE DIVINE. Escrita por Kieron Gillen (Marvel Comics), e ilustrados por Jamie McKelvie, essa série da Image Comics narra a historia de Laurie, uma adolescente que interage com um grupo de celebridades da música que se descobrem a reencarnação de deuses. Os deuses são de diversos panteões: entre eles temos a Lady Lúcifer, a personificação do Diabo na cultura judaico-cristã, e a deusa egípcia Sakhmet. Lady Lúcifer por sua vez tem traços muito conhecidos para os amantes da boa música, pois lembra muito o visual do camaleão do rock, David Bowie. Sakhmeth é baseada na cantora pop Rihanna, e há outros, como a deusa xintoísta Amaterasu que é inspirada na cantora Florence Welch da banda Florence and The Machine.




2014 (BRASIL) – QUAISQUALIGUNDUM. Graphic novel que homenageia a obra de Adoniran Barbosa e a cidade de São Paulo. Traços, cores e palavras traduzem a música de Adoniran Barbosa no álbum Quaisqualigundum. Com roteiro de Roger Cruz e desenhos em guache e aquarela de Davi Calil, o trabalho é composto por quatro histórias com personagens das músicas de Adoniran Barbosa. Os autores se baseiam em clássicos como Saudosa Maloca, Apaga o Fogo, Mané, Um Samba no Bexiga e Samba do Arnesto. Eles não fazem uma mera adaptação das suas letras, edificam construções de personagens que extrapolam os limites temporais ou temáticos das canções. Assim o leitor é apresentado ao cantor e compositor paulista com narrativas cheias de tragicomédia, boemia, urgência social e linguagem popular.



2014 (EUA) – SING NO EVIL. JP Ahonen e KP Alare criam um gibi intoxicante sobre uma banda em busca desse som esquivo que os levará ao próximo nível. Trata-se também da luta para ser um artista criativo e lutar com trabalho, escola, relacionamentos, etc. Há muito humor tecida, e um amor pelo metal.



2014 (BRASIL) – MINHA VIDA COM CRIOLO de Erick Carjes. Baseado em fatos reais e com um exagero que deixa tudo melhor, Minha vida com Criolo é sobre como foi ser vizinho do rapper brasileiro Criolo, um relato bem humorado.




2014 (BRASIL) – JACKSON DO PANDEIRO EM QUADRINHOS. De Fernando Moura (roteiro) e Megaron Xavier (arte). Editora: Patmos. O paraibano Jackson do Pandeiro, nascido José Gomes Filho, em Alagoa Grande, impressionou a todos com o seu gingado ao interpretar músicas de sua autoria e de terceiros, recebendo da crítica e do público o título de o Rei do Ritmo. A HQ narra sua trajetória de vida de Alagoa Grande, onde era chamado de Zé Jack, até o Rio de Janeiro onde desfilou em emissoras nacionais de rádio e de TV, além de participar de filmes.



2014 (BRASIL) – MALCOLM, do quadrinista gaúcho Luciano Thomé. Malcolm McLaren escreveu seu nome na história do punk rock graças ao seu trabalho como empresário dos Sex Pistols. Além de apresentar os membros da banda, McLaren é relembrado por arquitetar a famosa apresentação do grupo no Rio Tâmisa, onde apresentaram canções como Anarchy In The UK do lado de fora da Casa do Parlamento Britânico durante as celebrações do jubileu de prata da Rainha Elizabeth II. Em 1995, Malcolm McLaren visitou o Brasil e concedeu uma entrevista de quase uma hora para Fabio Massari, que transformou o material em Malcolm, uma HQ ilustrada por Luciano Thomé que reproduz a conversa na íntegra com um vistoso trabalho visual que ilustra as polêmicas histórias do empresário.




2014 (BRASIL) – FEITIÇO DA VILA: a poesia de Noel Rosa em quadrinhos reúne dez roteiristas e ilustradores brasileiros que utilizam a música do Poeta da Vila como inspiração para doze histórias em quadrinhos inéditas. Dez artistas participaram do projeto, com diferentes duplas criativas para cada HQ (um roteirista e um desenhista): Mario Cau, Vitor Cafaggi, Lu Cafaggi, Laudo Ferreira, Estevão Ribeiro, Sergio Chaves, Ana Recalde, Flavio Soares, Lucio Luiz e Doug Lira. O álbum marca a estreia da série “Som e Traço”, que visa utilizar canções como inspiração para histórias em quadrinhos inéditas. Lançamento da Marsupial Editora.



2014 (BRASIL) – PESCADOR DE ILUSÕES. Adaptação para os quadrinhos da letra de Marcelo Yuka. De forma poética, Wesley Rodrigues reconta a história de um personagem correndo atrás de uma ilusão que somente ele vê. Narra um dia na vida de duas crianças, dois irmãos, que vivem as agruras do mundo e que claramente precisam lutar para sobreviver em uma sociedade um tanto quanto caótica. Enquanto o mais velho precisa sair de casa para vender suas guloseimas, levar o mais novo já que esse não terá aula e a mãe não tem com quem deixar. Uma realidade quase que diária para grande parte da população de nosso país.



2016 (EUA) -  PAPER GIRLS. Série de ficção-científica criada pelo já citado Brian K. Vaughan, com arte de Cliff Chiang. Quatro entregadoras de jornal, no Dia das Bruxas de 1988, se veem envolvidas numa misteriosa batalha com viagens no tempo, criaturas bizarras, dinossauros e drama suburbano. Muito similar às criações de Stephen King, Stranger Things e Steven Spielberg, Paper Girls possui um elenco de protagonistas cativantes e trama que prende o leitor do início ao fim. Nas blusas dos personagens existem referências a duas bandas: Appetite For Destruction do Guns N’ Roses e do grupo de hip-hop Public Enemy.




2016 (EUA) – RAMONES. ARCHIE MEETS RAMONES. Para celebrar os 76 anos de Archie e os 40 anos dos Ramones a Archie Comics promoveu um encontro entre os adolescentes conhecidos de Riverdale e a banda punk americana Ramones. A edição Archie meets Ramones (Archie conhece Ramones), tem roteiro de Alex Segura e Matthew Rosenberg e ilustrações de Gisele Lagace. A edição marca os 75 anos da editora, que coincide com os 40 anos da banda. Esta não é a primeira vez que o Ramones é representado em quadrinhos. A banda já foi representada em uma série batizada de "Killogy" ilustrada por Alan Robert.



2016 (BRASIL) - MAGNÉTICOS 90. Conhecido por seu trabalho como letrista, guitarrista e vocalista do Autoramas, Gabriel Thomaz tem o hábito de conhecer bandas novas e divulga-las. Para isso, o músico passou a colecionar fitas-demo e gravações independentes que serviram de inspiração para Magnéticos 90, uma HQ que relembra o período da cena independente durante a década de 1990. Desenhada por Daniel Juca, a publicação faz um registro que vai desde a formação das bandas importantes para o rock nacional como Planet Hemp e Los Hermanos até a criação da MTV Brasil.

16 abril 2020

Mistura que dá samba, rock, blues e jazz (04)


2010 (Brasil) – TAXI, de Gustavo Duarte. Um músico pega um táxi para ir a um show de Jazz, mas se lembra que deixou seu case em outro bar, então pega outro táxi, e é a partir daí que vemos que o que há por vir só tem um nome: Surreal. Uma história divertida e interessante, sem falas, mas com balões representativos, esta HQ funciona em qualquer língua, e é claro, o desafio de contar uma história só com a arte é grande, o que deixa tudo mais genial.




2010 (EUA) – CBGB. Publicada pela Boom! Studios, o projeto reuniu nomes envolvidos nos quadrinhos e músicos para contar a história do famoso clube que foi fundamental para o desenvolvimento de bandas clássicas do punk rock nos EUA. Entre os roteiristas esteve Ana Matronic, vocalista do Scissor Sisters, e o quadrinho fala sobre a carreira dos Ramones, Blondie, Misfits e Talking Heads. Esses nomes que ascenderam do underground para o estrelato, utilizando como combustível as pessoas, os sons e a energia que fizeram a casa famosa ao redor do mundo. Entre aqueles que contribuíram para a HQ, estão nomes como Kelly Sue DeConnick, Toby Cyprus, Kieron Gillen, Jaime Hernandez, Ana Matronic, Sheldon Vella, Kim Kirzan, entre outros. O CBGB, entre outras bandas, lançou os Ramones.




2010 (EUA) – LADY GAGA 2 - Traz a trajetória da polêmica popstar para o mundo dos quadrinhos. Mostra Gaga desde os tempos em que era apenas uma jovem sonhadora chamada Stefani Germanotta. Não é a primeira vez que Lady Gaga vira tinta e papel. Em 2009, ela lançou uma HQ para a loja do estilista Marc Jabons. Publicação da série Fame, da editora americana Bluewater que publica quadrinhos de várias celebridades. Outras edições que já saíram incluem Justin Bieber e o elenco de Glee.



2011 (BRASIL) -  HISTORIAS DO CLUBE DA ESQUINA. A obra traz para os quadrinhos a história do famoso movimento musical vindo de Minas Gerais, contada pelos próprios protagonistas do movimento musical em diversas décadas, com Milton Nascimento e toda uma geração de músicos e poetas como Márcio Borges, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Toninho Horta, Lô Borges, Beto Guedes e Wagner Tiso. Roteiro e desenhos de Lauro Ferreira e arte-final e cores de Omar Viñole.



2011 (BRASIL) – AS AVENTURAS DO ROCK RIVERS. O festival Rock in Rio inspirou As aventuras de Rock Rivers. Esse festival trouxe shows internacionais como Queen, Faith No More e Foo Fighters pela primeira vez ao Brasil. A quarta edição brasileira em 2011, lançou na Europa e em seu site oficial a HQ criada pelos espanhóis Carles Santamaría e Pere Pérez, com personagens como Roberto Medina, o todo-poderoso por trás do mítico festival.



2011 (EUA) – TWENT-SEVEN, escrito por Charles Soule e ilustrado por Renzo Podesta. Explora com intensidade o lado sobrenatural do rock, que remonta a sua própria origem em Robert Johnson, assim como o custo psicológico de viver constantemente no limite – o que é quase uma regra das grandes lendas do rock. A história é sobre um músico famoso que perde sua capacidade de tocar guitarra devido a uma desordem neurológica. Caindo da fama rapidamente, ele encontra um cientista que afirma que pode ajudar, e é aí que a história enlouquece. Em vez de ter sua habilidade de voltar atrás, acaba com um estranho dispositivo semelhante a uma caixa implantado em seu peito. Um botão, e ele recebe um presente por um tempo limitado. Os presentes vão desde ser capaz de tocar novamente, até esculpir, até alguns poderes muito estranhos e indutores. Mas tudo tem um preço, e nosso jovem protagonista logo descobre que uma vez que ele aperta o botão 27 vezes, ele morre.




2012 (BRASIL) – KM BLUES. Escrito por Daniel Esteves, desenhado por Wanderson de Souza e colorido por Wagner de Souza. A obra conta a história de Flávio, um homem recém-divorciado que viaja por São Paulo, numa fuga dentro de si mesmo, uma procura de respostas a perguntas que ele sequer sabe quais são. Acompanhado pelo músico Cartola, o personagem visita diversos lugares que fizeram parte da vida dele, reencontrando pessoas, sentimentos e um novo caminho.




2012 (EUA) – PUNK ROCK JESUS. Publicada pelo selo Vertigo, Punk Rock Jesus conta a história de uma emissora de TV que decide clonar Jesus Cristo para um reality show. Alegando ter acesso a material genético presente no Santo Sudário, a emissora inicia o projeto J2, que não só mostraria o nascimento da criança, mas todo o seu crescimento nos dias atuais. Quando chega à adolescência, Chris passa a entender a gravidade do que acontece à sua volta e após um trágico acontecimento decide abandonar o “programa” e se dedicar a Flak Jackets, sua banda de rock, onde pode descarregar todas as suas frustrações. A HQ é escrita e desenhada por Sean Murphy, que aborda fanatismo religioso, faz críticas ao poder da mídia sensacionalista e promove uma reflexão a respeito do significado de uma família em uma trama regada à punk rock.

15 abril 2020

Mistura que dá samba, rock, blues e jazz (03)


2003 (EUA) – GODSPEED. Kurt Cobain - A intensa e frágil vida do líder do Nirvana também foi transformada. Godspeed repassa a trajetória do ídolo maior do grunge desde sua conturbada infância, passando pela conquista do mundo com o álbum Nevermind até o seu suicídio, no auge de sua carreira, em 1994. Isso tudo sem poupar o público de detalhes, misturando fatos e ficção. Criada por Barnaby Legg e Jim McCarthy, a HQ foi lançada em 2003 e ganhou uma versão para iPad.



2004 (EUA) – SCOTT PILGRIM. Série de histórias em quadrinhos criada por Bryan Lee O'Malley. Pilgrim é um canadense de aproximadamente 23 anos, preguiçoso, anti-herói, roqueiro de garagem, que vive em Toronto, Canadá tocando baixo na banda de Sex Bob-Omb. Ele se apaixona pela entregadora de encomendas Ramona Flowers, mas deve derrotar os sete ex-namorados, chamados de A Liga dos Sete Ex-namorados do mal, para que Scott possa ficar com ela.



2004 (EUA) – BLUES. Antologia escrita e desenhada por Robert Crumb, quadrinista referência na contra-cultura dos quadrinhos norte-americanos. O álbum é uma homenagem de Crumb para a música "dos antigos", em especial para a música negra norte-americana do início do século XX.  Seres legendários como Robert Johnson, Charles Patton, Jelly Roy Morton e seus demônios passeiam por essas páginas, junto com todos aqueles gênios anônimos, amadores apaixonados por uma música verdadeiramente popular, anteriores aos esquemas comerciais da grande Indústria Cultural.




2006 (ALEMANHA) – JOHNNY CASH, UMA BIOGRAFIA, do alemão Reinhard Kleist. A história consegue traduzir com excelência a energia e a raiva do músico no palco, enquanto mostra sua reclusão fora dele. A vida do cantor e compositor country Johnny Cash, desde a infância até os seus últimos dias, passando pelos momentos mais sombrios. Elogiada pela crítica, a narrativa é uma das melhores biografias do artista, pois toca em assuntos polêmicos como seu vício em drogas – que é deixado de lado pelo filme Johnny & June, estrelado por Joaquin Phoenix. Ganhou o prêmio de melhor livro de quadrinhos da Feira do Livro de Munique e faturou o Max und Moritz de melhor graphic novel de 2008 e o Les Prix de Ados 2009, no Festival Literário de Deauville.



2006 (ESCÓCIA) – BELLE & SEBASTIAN. Put the book back on the shelf. As melodias amáveis e letras irônicas do Belle & Sebastian deram origem a  graphic novel Put the book back on the shelf, que acompanhou o lançamento do álbum The life pursuit, de 2006. Reunindo cartunistas e roteiristas independentes — entre eles os brasileiros Catia Chien e Bruno D’Angelo —, o livro traz 24 histórias inspiradas pelas canções que ajudaram a impulsionar o sucesso do grupo, como Get me away from here I’m dying e Legal man.




2007 (FRANÇA) - O PEQUENO LIVRO DO ROCK. O francês Hervé Bourhis conta sua versão ilustrada da história do ritmo que mudou o comportamento de jovens do mundo todo. Ilustrado ano a ano através de capas de discos, letras de músicas, cortes de cabelo, fatos e boatos, o autor fez questão de não se deter apenas em ícones do gênero, retratando situações curiosas sobre personagens desconhecidos, os quais, de alguma forma, tiveram papel importante nesse cenário.



2007 (Brasil) – MUSIC FOR ANTHROPOMORPHIC/Musica para Antropormorfos: CD e HQ lançados pela banda goiana Mechanics e pelo cartunista Fabio Zimbres. A ideia nasceu da dissertação de mestrado de Marcio Jr, vocalista da banda, que investigava a relação da música com os quadrinhos. O livro/disco surgiu como uma forma de provar que música e quadrinhos se influenciam mutuamente. O processo de criação durou cerca de dois anos e a banda, formada por Little John (baixo), Jaime Queiroz (bateria) e Katu (guitarra), teve que ter paciência para esperar os delírios de Marcio darem algum resultado. Eles compuseram algumas músicas e as mandaram, ainda sem letras, para o cartunista Fabio Zimbres. Ele respondeu com uma proposta de roteiro, que serviu para inspirar as letras em inglês de algumas canções. Já gravadas eles voltaram para as mãos de Fabio para serem transformadas definitivamente na HQ. Cada faixa do disco corresponde a um capitulo da graphic novel. O resultado é uma ópera rock para ser lida e uma HQ para ser ouvida.



2009 (EUA) – ONE MODEL NATION, de Courtney Taylor-Taylor e Jim Rugg. O frontman do Dandy Warhols, Courtney Taylor-Taylor, se uniu ao artista indie Jim Rugg para contar a história de uma banda fictícia de Krautrock que desfrutou de uma carreira brilhante, mas meteórica, antes de sumir completamente no final dos anos 70 na Alemanha. Depois de lidar com os efeitos do pós-Segunda Guerra por décadas, as perspectivas da Alemanha são impulsionadas para frente ao abraçar os valores econômicos do Ocidente. Entretanto, muitos no seu público ainda se sentem isolados, e em meio a angústia de toda uma geração, a banda One Model Nation ascende ao super-estrelato.




2009 (EUA) - DAYTRIPPER. Os criadores do grupo de super-heróis The Umbrella Academy, o americano Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance, e o desenhista brasileiro Gabriel Bá, coautor com o irmão Fábio Moon da graphic-novel premiada. conta a história dos seis irmãos superpoderosos que se reúnem após a morte do pai adotivo.  Eles formam uma família disfuncional, não se sentem muito à vontade quando estão juntos e suas capacidades são no mínimo bizarras. Cada criança era denominada com um número. Um é Luther, o líder e mais forte de todos, tornou-se o Spaceboy. Dois é Diego (Kraken) capaz de segurar a respiração por tempo indeterminado. Três, Allison (Rumor) tem, o poder de fazer tornar verdade qualquer coisa que fale. Quatro, Klaus (Seance) pode levitar e falar com os mortos. Cinco, Ben (Horror) têm monstros de outras dimensões embaixo de sua pele. Sete, Vanya não aparentava ter poder algum, exceto ser muito interessada em música.




2009 (ITALIA) – COLTRANE. Escrito e desenhado pelo italiano Paolo Parisi, o álbum Coltrane conta a história do músico lendário, um dos saxofonistas mais marcantes do Jazz experimental. Narrada de maneira não cronológica, a HQ faz um breve resumo da vida do artista e aborda seus momentos mais marcantes, desde problemas com drogas até o estrelato impulsionado pela parceria com Miles Davis.


14 abril 2020

Mistura que dá samba, rock, blues e jazz (02)


1990 (INGLATERRA) – Aproveitando o gancho de 20 anos da morte do guitarrista Jimi Hendrix, é lançada a revista Revolver com a série PURPLE DAY, inspirada na vida e obra de Hendrix. Desenhos de Floyd Hughes e textos de Charles Shaar Murrey. A arte, feita ao estilo tradicional, para lembrar os anos 60 com doses de grafismos psicodélicos.



1990 (BRASIL) – O cantor Ed Motta lança seu segundo elepê pela Wea, UM CONTRATO COM DEUS, título inspirado na obra do quadrinista Will Eisner.



1991 (INGLATERRA) – A cantora inglesa BETTY BOO (Alyson Clarkson) estreia com o Lp Boomania. Ela se inspirou em uma personagem de quadrinhos para adotar o nome artístico. O sucesso nas paradas britânicas é de dance music.



1993 (Brasil) - RDP COMIX. Resultado da união entre a banda Ratos de Porão e Francisco Marcatti, quadrinista conhecido por suas histórias carregadas de humor absurdo e escatológico. O primeiro volume é composto por adaptações para quadrinhos de canções do Ratos, como Vídeo Macumba, que tem participação de Max Cavalera (Sepultura) e Mike Patton (Faith No More), enquanto o segundo conta desventuras da banda. Esse material icônico foi relançado de forma independente por Marcatti em 2016 e 2018 em edições comemorativas.




1994 (EUA) – ALICE COOPER. THE LAST TEMPTATION - Neil Gaiman é um dos melhores escritores de quadrinhos e romancista dos últimos tempos. Ele consegue transitar entre a fantasia, contos e até para histórias voltadas ao público infanto-juvenil. Em A Última Tentação Gaiman conta a historia de um garoto chamado Steven que visita um antigo teatro que anuncia seu Grand Guignol. Ao adentrar o teatro o garoto conhece o Mestre do Espetáculo, que é ninguém mais ninguém menos que Alice Cooper, que irá apresentar ao menino um mundo degradado e aterrorizante. A primeira publicação da HQ se deu em 1994 e vinha acompanhada de um CD do Alice Cooper no qual a história foi baseada, chamado The Last Temptation. Em 2002 a editora Mythos lançou uma edição em capa dura remasterizada e colorida, no Brasil, contendo extras como galeria de capa e roteiro. A capa da HQ é a mesma do CD de Alice Cooper.



1995 (EUA) – VOODOO CHILD, de Bill Sienkiewicz. Graphic novel de 128 páginas, pintada por um nome único e conhecido por todo mundo que é fã de histórias em quadrinhos: Bill Sienkiewicz. Um verdadeiro manifesto artístico e um tributo amoroso desse artista ao maior guitarrista da história do rock: Jimi Hendrix. Escrita por Martin I. Green e lançada pela editora Berkshire Studio conta com um CD exclusivo com gravações inéditas do músico. Negro, Hendrix tinha uma avó indígena, e é por isso que ele usou a palavra voodoo em uma de suas músicas mais famosas, Voodoo Child. Sua avó participava de rituais místicos e como os americanos rotulam todo tipo de feitiçaria, magia, macumba, ou qualquer outro procedimento não-cristão com a palavra “voodoo”, referente a religião haitiana Vodu. Arte detalhada, cores, composição de painéis e onomatopeias musicais (muito importantes para mostrar o desenvolvimento da música de Hendrix) e narrativa gráfica. Tudo bem colocado e segue uma narrativa rica em ilustrações, cores e experimentações.




1997 (EUA) – RED ROCKET 7 – A SAGA DO ROCK. Red Rocket 7 é um clone alienígena que chega à Terra na década de 1950 e graças à sua paixão por música acaba testemunhando de perto a evolução do rock and roll, desde sua origem no blues, passando por Beatles, Led Zeppelin e David Bowie até os anos 90 com a explosão de Nirvana e Oasis. Escrita e desenhada por Mike Allred, Red Rocket 7 - A Saga do Rock é uma carta de amor à toda a cultura do rock com uma forte veia sci-fi.



1998 (EUA) - KISS: PSYCHO CIRCUS – Série de quadrinhos estrelada pelos integrantes da banda de hard rock, Kiss. Na história cada membro da banda assume o papel de um deus do rock, sendo os responsáveis por vigiar a raça humana desde o início dos tempos. Essas criaturas místicas ressurgem em nosso tempo para deter o mal reencarnado na figura do Nightmare Child. Arte de Angel Medina (desenhos) Kevin Conrad (arte final), e roteiro de Brian Holguin.  A iniciativa de produzir a HQ surgiu como parte de uma grande estratégia de marketing no lançamento do álbum Psycho Circus.




1999 (JAPÃO) – BECK. Originalmente escrito em mangá, por Harold Sakuishi, publicado na revista Shonen Magazine. Koyuki, um adolescente de quatorze anos de idade, se une a banda de rock Beck e se torna amigo do enigmático guitarrista Ryusuke. Nos anos subsequentes, a banda e seus membros progridem em passos lentos antes de realmente estourarem, ecoando muitos dos reais desafios que bandas enfrentam enquanto tentam alcançar o sucesso na indústria da música. A série venceu em 2002 o Kodansha Manga Award, além de ter gerado um anime e um live action, um game e uma linha de guitarras.



1999 (EUA) – THE SANDMAN PRESENTS: LOVE STREET. Minisérie inspirada em uma música de mesmo nome, gravada pela banda The Doors, como a segunda faixa álbum Waiting for the Sun (1967), o autor Peter Hogan buscou em sua adolescência a ambientação ideal para imaginar como teria sido conviver nos anos de rebeldia, com uma lenda das HQ’s: John Constantine, um manipulador de forças sobrenaturais entre o céu e o inferno, criado por Alan Moore, Steve Bissette e Totleben John, do selo Vertigo, braço da DC Comics. Usando como fundo a atmosfera da paz e amor, que adornava a mentalidade dos jovens que propunham uma transformação do mundo nos idos anos 60, sob a influência da Era de Aquário, tendo os hippies como mestres de cerimônias e mediadores dos conhecimentos ocultos, Hogan procura não somente usar Constantine como uma peça do seu “alter ego” em uma história sobrenatural, mas posicionar-se criticamente sobre sua geração.


13 abril 2020

Mistura que dá samba, rock, blues e jazz (01)


Quadrinhos e música sempre tiveram uma relação de troca. A música sempre esteve presente nos gibis e os personagens de papel viraram música para frequentar as paradas de sucesso. Essa mistura é antiga. Leia alguns exemplos dessas influências mútuas. 


1956 - (ITALIA) – BLUES FOR LADY DAY – A HISTÓRIA DE BILLIE HOLIDAY, do quadrinista italiano Paolo Parisi. Apresenta a trajetória da cantora, considerada a mais emocionante voz da música norte-americana, desde seu início nos clubes baratos do Harlem, EUA, até sua aclamação mundial. Mostra ainda a sua amizade com a lenda Louis Armstrong e Count Basie. E traz também sua relação conturbada com as drogas, álcool, o que, adicionado ao racismo institucionalizado, a levaram para a prisão diversas vezes. Essa HQ traz como abertura dos capítulos títulos de canções de Billie Holiday e toda a narrativa é conduzida por falas da cantora feitas em diversas entrevistas e apresentações.




1962 (EUA) -  JOSIE E AS GATINHAS (Dan DeCarlo, 1963–1982, 1993, Archie) - Seis anos após a sua estreia, as residentes de Riverdale Josie e Melody começaram uma banda, e recrutaram a baixista Valerie para formar Josie and the Pussycats. Desde sua origem, a banda apareceu através de diversos títulos Archies, frequentemente roubando a cena em crossovers. A HQ ganhou uma adaptação em desenho animado pela Hanna-Barbera, onde ficaram mais conhecidas, entre 1970 e 71, e até uma tentativa de ressurreição das personagens em um filme live action em 2001. A animação ganhou o nome Josie e as Gatinhas. Um trio musical real foi formado junto com o desenho animado, tendo lançado um álbum no mesmo ano de estreia da animação.



1968 (BRASIL) - BATMACUMBA (Gilberto Gil / Caetano Veloso) - Faixa do disco Tropicália ou Panis et circencis. Utilizando o prefixo bat, Caetano e Gil formulam uma discussão entre dois pontos da cultura — cultura de massas e a macumba. Ao aproximar esses dois fenômenos, os autores apresentam em uma composição, que toma partido da rítmica própria da crença afro-brasileira, o som inusitado de uma guitarra, transportando o diálogo entre rock e atabaque para o nível do diálogo entre culturas.



1977 (EUA) KISS. O grupo apareceu em uma edição de Howard, o Pato e, pouco depois, a Casa Ideias lançou um quadrinho onde a banda era retratada como super-heróis. Desde então, o Kiss apareceu em três histórias solo pela editora e, em 1997, Todd McFarlane lançou Kiss: Psycho Circus, que durou 31 publicações e foi até os anos 2000. Depois o grupo ainda publicou histórias pela Dark Horse, Platinum Studios, IDW e Dynamite Entertainment.




1980 (ARGENTINA) – BILLIE HOLIDAY. Criada pelos argentinos Carlos Sampayo (roteiro) e José Muñoz (arte), a biografia em quadrinhos da cantora quando sua morte completava 40 anos. Fragmentado, obscuro, passional ao extremo e cujo clima sempre foi marcado por beleza e dor. A HQ chamou atenção principalmente pelo preto e branco de alto contraste de Muñoz e o roteiro noir de Sampayo. A ideia de homenagem dos quadrinistas à cantora é fazer jazz com quadrinhos.




1980 (EUA) - CRISTAL é uma personagem que pertence à Marvel Comics , associada ao grupo dos X-Men. Ela apareceu pela primeira vez em Uncanny X-Men #130 , durante A Saga da Fênix Negra. Cristal foi criada capitalizando o final da moda disco e do glam rock (cujos integrantes usam pesadas maquiagens), principalmente, do grupo Kiss, que fazia sucesso na época nos quadrinhos da editora Marvel. A idéia era lançar uma heroína multimídia, que apareceria também no cinema.  A mutante capaz de converter som em luz é praticamente uma pista de dança ambulante. O visual refletia o espírito dos tempos. Ela foi criada por conta de uma parceria da Marvel com a Casablanca Records.



1984 (EUA) - Para a revista Epic Illustrated, o desenhista americano Philip Craig Russel retomou os conceitos de seu projeto NIGHT MUSIC, fazendo adaptações de óperas – dentre elas Pelleas & Melisande (de Claude Debussy). O artista fez outras adaptações de óperas posteriormente, dentre elas A Flauta Mágica, de Mozart, e O Anel do Nibelungo, de Richard Wagner.




1984 (BRASIL) -  TUBARÕES VOADORES, interpretada por Arrigo e Vânia Bastos. É uma canção construída totalmente a partir das HQs. Trata-se de uma canção construída por módulos musicais (uma técnica também utilizada no LP Clara Crocodilo). Assim, não há linearidade na canção, tampouco o convencional “refrão”, geralmente o aspecto mais apropriável da música popular pelo ouvinte. Além disso, a canção está entremeada por ruídos, por efeitos sonoros, por intervenções rápidas de clusters sonoros que fragmentam o discurso sonoro e dificultam a linearidade da escuta. A canção se comporta como um HQ, quadro a quadro, posto que  Tubarões Voadores foi musicada por Arrigo a partir de uma história em quadrinhos (HQ) de Luiz Gê. Arrigo Barnabé, um dos músicos a integrar o movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulistana, sempre assumiu a influência e o diálogo com os quadrinhos. Havia lançado em 1980 o LP independente Clara Crocodilo, cuja arte da capa é de Luiz Gê. Tubarões Voadores lida com a paranoia da classe média nas grandes metrópoles, às voltas com uma situação absurda, surreal e inevitável, com uma narrativa que casa muito bem com a arte estilizada e o conceito. A história foi então formatada como encarte para acompanhar o LP, depois publicada entre 86 e 87 na revista Circo, que teve Luiz Gê como editor, e em outras poucas ocasiões nos anos seguintes.




1989 (EUA) - ROCK ’N’ ROLL COMICS. O norte-americano Todd Loren fundou a editora independente Revolutionary Comics, para unir suas duas paixões, rock e quadrinhos, e ainda ganhar dinheiro com isso. Essas histórias “não-autorizadas” de bandas de rock famosíssimas receberam a aura que só os quadrinhos podem proporcionar nesta série independente que correu por 4 anos e 63 edições. Entre as bandas roteirizadas estão Guns N’ Roses, Metallica, The Who, Black Sabbath, The Rolling Stones, The Cure, entre outras. Devido a natureza não-licenciada das HQ’s, um bom número de bandas processou o então editor Todd Loren. Até 2013, a série era um item bastante disputado entre colecionadores, quando a Bluewater Productions anunciou uma reimpressão de toda a coleção.



1989 (BRASIL) – O guitarrista do grupo paulista Ira!, Edgard Scandura lança seu primeiro disco solo, onde canta e toca todos os instrumentos: AMIGOS INVISÍVEIS, onde presta tributo aos quadrinhos europeus onde o desenhista da capa segue a linha Moebius. O disco abre com uma vinheta instrumental, segue com uma declaração de amor às heroínas de bandas desenhadas europeias Valentina, Barbarella, Justine, entre outras. Nome da canção: Amor em B.D.

10 abril 2020

HQ & MPB


A música brasileira tem grandes exemplos de como os personagens de quadrinhos dão samba, rock, mpb, rap e outros gêneros. Em 1936 Noel Rosa e Vadico compuseram o samba Tarzan, o Filho do Alfaiate, cuja gravação fez parte da trilha sonora do filme Cidade Mulher.



Na década de 60 as músicas sobre personagens dos quadrinhos ganharam as paradas de sucesso. Nos tempos da Jovem Guarda, Roberto Carlos gravou Brucutu, versão em português para Alley Woop (nome original da criação de V.T.Hamlin), da banda The Hollywood Argyles. E o Trio Esperança gravou A Festa do Bolinha que agradou a todos. Composta pela dupla Erasmo e Roberto em 1965, A Festa do Bolinha marcou o início dos temas infantis. Nesse mesmo ano Albert Pavão grava sua composição Tio Patinhas com o acompanhamento dos Jet Blacks, mas o escritório da Disney no Brasil não liberou o lançamento do disco. A solução foi lançar essa música independente já que fazia sucesso em apresentações ao vivo. No ano seguinte, 1966 quem fez sucesso foi  Meire Pavão com Família Buscapé lembrando dos quadrinhos de Ferdinando.



Gotham City música de Jards Macalé e Capinam, participou do IV Festival Internacional da Canção em 1969, depois foi regravada pelo conjunto Camisa de Vens na década de 80.



Na reportagem de capa da revista Veja (n.90, de 27/05/1970, pags 70 a 76 com layout de Hélio de Almeida) Jorge Bem revela a Tárik de Souza que é fã de histórias em quadrinhos: “Meu herói favorito, no momento agora estou lendo muito, chama Thor. No Thor, por exemplo, eu acho sensacional um deus baixar aqui na terra e se apaixonar por uma terrestre não poder casar, porque o pai dele, o deus supremo, Odin, o todo-poderoso deles, não consente que um deus se case com uma mortal”. A canção Charles Anjo 45, dedicada a um antigo amigo é quase uma figura dos seus sonhos, um personagem fantástico de suas histórias em quadrinhos. E Jorge tem uma música para Barbarella: “Quem me dera eu ser integalático para estar dormindo nas estrelas e não falando de amor com você”.




“Acorda em festa e manifesta sua alegria/como criança vai curtindo sua fantasia/um dia é Robin, outro pode ser o Mancha Negra/Superpateta, Super Homem, rei da brincadeira”, letra de Boi da cara branca, de Helio Matheus, em 1977. Um ano depois o grupo Os Originais do Samba (que contava com o trapalhão Mussum na trupe) compôs O aniversário de Tarzan em cuja letra desfilavam personagens como Cascão, Cebolinha, Mandrake, Fantasma e outros em 1978: “Quando eu entrei na mata,/Bebi agua na cascata,/Era uma linda manhã, que manhã,/Os macacos pulavam em festa,/Era aniversário do Tarzan//O Príncipe Lothar e o Mandrake,/Chegaram com o Fantasma Voador,/Tudo era alegria./O Zorro chegou beijando/O sargento Garcia/A Mônica com aquele jeitinho que só ela tem...”




A banda paulistana  de rock Lee Jackson fez sucesso em 1979 com Era os super heróis e virou clipe no programa Os Trapalhões. Diz o final da letra, co-escrita por Paulo Coelho: “Vamos dar viva aos grandes heróis/Vamos em frente, bravos cowboys/Avante! Avante! Super-Heróis/Ai-oh Silver!/Shazan”. Na década de 70, Caetano Veloso cantou Superbacana: “Toda essa gente se engana/Ou então finge que não vê que eu nasci/Pra ser o superbacana/Eu nasci pra ser o superbacana/Superbacana Superbacana//Superbacana Super-homem/Superflit, Supervinc/Superist, Superbacana (...) Do avanço econômico/A moeda número um do Tio Patinhas não é minha/Um batalhão de cowboys/Barra a entrada da legião dos super-heróis//E eu superbacana/Vou sonhando até explodir colorido/No sol, nos cinco sentidos/Nada no bolso ou nas mãos/Um instante, maestro”.



Em 1982 Zé Ramalho lançou o disco Força Verde, cuja faixa título ganhou as manchetes de jornais e revistas por sua letra, que não passava de plágio de um poema do dramaturgo e poeta irlandês William Butler Yeats, cuja tradução para o português fora usada em uma HQ do Hulk publicada pelo Grupo Editores Associados (GEA) em 1972.


Anos depois, em 1985, Jorge Mautner atacou com Cachorro Louco (“Um relâmpago dourado rasgou o céu do gibi / E eu fiquei todo chamuscado /Quando o relâmpago bateu aqui /Na minha calça Lee / E depois o Homem-Aranha / Na página dois do mesmo gibi / Me agarrou e quis saber por quê”).



Também em 1985, a banda punk Garotos Podres gravou Batman, com uma letra nada favorável ao Cavaleiro das Trevas: “Velhos tempos, em quantas belas vomitadas nós dávamos /Quando assistíamos a toda aquela idiotice /Por isso agora escrachamos aquele bat-retardado / Defensor do Sistema, Batman”.




Ainda na década de 80 Arrigo Barnabé emergiu para a aceitação popular com Clara Crocodilo, um LP que se apropriava das narrações, dos personagens das cenas fragmentadas dos gibis. A capa do disco ficou a cargo do quadrinista Luiz Gê. Numa entrevista a revista Imprensa (1993), o cartunista Angeli informava que criava personagens embalado pelo rock: “A informação que alimenta meu trabalho nunca foi gráfico. A fonte é a música”. “Eu escuto uma porrada de coisas. Do mambo a rockabilly. Só não gosto de música clássica e country. Meu gosto é bastante proletário e intensamente urbano. O rock e seus afluentes são a trilha sonora da minha vida”, disse Angeli numa entrevista a revista Mil Perigos a Luís Fernando Verissimo.




As linguagens do rock e dos quadrinhos estão entrelaçadas. Raul Seixas era um aficionado leitor e desenhista de quadrinhos na juventude. O título de um dos seus primeiros discos Krig-há, Bandolo! (grito de guerra do personagem Tarzan). Bob Cuspe, criado pelo cartunista Angeli, é o personagem síntese do retrato da cena punk paulistana. Rê Bordosa, também do Angeli, inspirada indiretamente em Rita Lee, é a dama-junkie-feminista do quadrinho brasileiro. “Eu considero a minha biografia, as tirinhas da Rê Bordosa. Principalmente quando ela estava vomitando do lado da banheira, com depressão, a minha cara” , disse Rita Lee, em entrevista pro Canal Brasil. Ainda desse desenhista tem a dupla Wood e Stock, os dois nostálgicos hippies ainda vivem à margem da sociedade e o clima utópico do “flower power”.



Moacir Pereira Fraile, o Hulk, baterista da banda rockabilly Kães Vadius fez as capas de seus discos e eventualmente produzia a quadrinização das letras dos grupos amigos, como o Garoto Podre. Na época ele confessou: “Antes de o videoclipe terá força que tem hoje, a linguagem mais rápida que expressa o rock era o quadrinho”. Hulk quadrinizou a canção Meu Bem do Lp A Mesma Merda.




Fernanda Abreu, ex-integrante da banda Blitz que elegeu o funk, disse que se inspira da maneira total nos quadrinhos. Seu Lp Sla Radical Dance Disco Club (    ) tem uma cação, Speed Racem, que evoca o quadrinho animado japonês e cita o “eu tenho a força”, de He-Man. Fernanda é casada com Luiz Stein, um quadrinista que ariscou uma dupla muito fértil com o videomaker Marcelo Tass. Nos oito anos na companhia de Stein, Fernanda Abreu aprendeu, em períodos alternados, a idolatrar Hugo Pratt, Guido Crepax, a linha clara belga e Frank Miller. Antes ela lia Fantasma, Batman e Super Homem.



A cantora e compositora carioca vê muitas relações entre quadrinhos e música. “O imaginário dessas linguagens não é palpável”, ela raciocina. “A folha em branco, nos dois casos, é o ponto de partida para a composição. Nos quadrinhos e na música, não acontece como no cinema, que tem limites. A HQ parte do nada para remeter a locais distantes. Como a música”.



Rock é a mesma coisa que quadrinhos, só que é diferente. Gordo, um apaixonado pelas sujeiras do artista francês Vuillemin, parece ter razão quando insinua esse paradoxo. Vindas do mesmo celeiro industrial, crescidas na América livre, as duas manifestações só diferem quanto a cores e tirinhas. E se dão apaixonadamente vem, como é frequente entre os irmãos.