29 setembro 2017

Há 20 anos Carybé nos deixou

O artista plástico Hector Julio Paride Bernabó, um argentino que se tornou mundialmente famoso com o apelido de Carybé, morreu no dia 01 de outubro de 1997, aos 86 anos, de problemas respiratórios decorrentes de um enfisema pulmonar. Ele foi quem melhor retratou a vida da Bahia. Suas figuras são inconfundíveis quer estejam num mural, numa tela ou numa aquarela.


Nascido em Lanus (1911), nas proximidades de Buenos Aires, o menino Hector passou a infância na Itália, visitando o Brasil pela primeira vez ainda garoto, em 1920. Dez anos depois, a família voltou à terra natal, onde ingressou na Escola de Artes Decorativas. Em 1938 travou o primeiro contato com a Bahia e apaixonou-se por Salvador. Deslumbrado, quis ficar. Não foi possível. Mas o desejo de pintar a magia do povo baiano, os rituais do candomblé e as belas paisagens da terra dos orixás falavam alto em seu coração. Depois de ter viajado demoradamente pela América do Sul, desenhando e expondo, voltou várias vezes na década de 40, até que resolveu fixar-se definitivamente em 1950.


Chegou de vez à terra da mestiçagem, do candomblé e das puxadas de rede que retratou em seus quadros. Aceitou um, convite de Anísio Teixeira, no governo de Otávio Mangabeira, para desenhar a Bahia. Adotando a natureza mística da terra, Carybé integrou-se suavemente ao candomblé, fazendo-se filho de Oxossi, Oba de Xangô e presidente do Conselho dos Obas no terreiro Axé Opô Afonjá. Retratista fiel das tradições, crenças e costumes do povo baiano, projetou em sua arte os fundamentos da nação brasileira, na qual se misturam o negro, o índio e o branco.


Das atividades que desempenhou no Brasil, foi pandeirista do Bando da Lua, que acompanhou Carmem Miranda, ilustrador das obras de Jorge Amado, do qual era fraterno no amigo desde que passou a morar na Bahia. Foi parceiro de Paulo Vazzolini, autor de capas de livros de Gabriel Garcia Marques, ilustrador de “Macunaíma”, de Mário de Andrade, e autor do Memorial da América Latina, em São Paulo.


Carybé foi além das preocupações sociais e estéticas dos muralistas, propondo relevos e incrustações na pintura. Novas experiências são a tônica em seu trabalho, variando suportes e materiais. Barro, relevos em pedra, madeira, cimento, inclusões de ferro, vidro, metais, osso – Carybé multiplica-se como oleiro, carpinteiro, ferreiro, ourives. Segundo Jorge Amado, ninguém, no Brasil, contribuiu de forma mais evidente e verdadeiro para situar e exaltar essa contribuição do que mestre Carybé. Através da arte – desenhos, aquarelas, aguadas, óleos, talhas, painéis, livros – e através da ação pessoal numa participação cotidiana e criadora na vida popular baiana, tornou-se um dos cidadãos mais eminentes da urbe. Em sua obra, ele registrou de maneira expressiva os rituais do candomblé e valorizou as tradições trazidas da África pelos negros.


Na Bahia, como em todo o Brasil e muitos países do mundo, são marcantes os painéis de Carybé, em prédios públicos, bancos e mesmo edifícios residenciais. Suas obras fazem parte do acervo das mais respeitáveis instituições como o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Fundação Gulbenkian, de Lisboa, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Moderna da Bahia e Fundação Raymundo de Castro Maya, Rio de Janeiro.


Ele retratou a Bahia com uma verdade afetuosa – as mulatas angulosas, os capoeiristas longilíneos, os orixás, as vaquejadas. Seus desenhos têm um traço vigoroso e ao mesmo tempo guardam a delicadeza da visão singular de um baiano de coração sobre sua terra. Seus quadros a óleo transbordam luz e exuberância. Como os grandes mestres, o artista fez da arte sua vida. Um artista completo: desenhista, gravurista, escultor, escritor e pintor.


27 setembro 2017

Cronista do cotidiano, Cuíca de Santo Amaro

Há 110 anos nascia, “ele, o tal”, Cuíca de Santo Amaro que se tornou célebre por vender seus panfletos de cordel, preenchidos não com novelas, mas com os rumores da cidade – segredos de alcova e trapaças de ricos marreteiros nunca lhe escapam. Seus métodos de atuação, aos poucos descortinados pela história, incluíam a “canalhice modesta”, como classificou o jornalista Paolo Marconi num estudo sobre Cuíca. Ao sair às ruas com um novo escândalo na manga, o cordelista exultava em dar nomes: quem não quisesse ser exposto em praça, que o chamasse para uma conversa. Vai pagar? “Só não escrevo contra Deus. No mais, o que vier, eu traço. Adoro escrever contra padres e o Diabo”, dizia. A mesma ética da imprensa: de Chateaubriand, de Hearst, Murdock aos atuais sites de muitas empresas baianas.


Entre as décadas de 40 e 60 um cronista do cotidiano se destacava em Salvador. Mestre de trovador e repórter, Cuíca de Santo Amaro se celebrizou como um dos personagens mais importantes da história recente da cultura baiana. Seus versos virulentos assustavam poderosos e gente comum, e não havia segredo guardado a sete chaves que escapasse do seu faro para escândalo, que tornava público na cidade através de cordéis.


Amado por uns, odiado por outros, ele vestia um fraque bem passado, flor na lapela e chapéu-coco. Dessa forma ele desfilava pelas principais ruas de Salvador declamando seus versos de poeta trovador. Apesar de não ter estudado e não estar entre os melhores versificadores da literatura de cordel, Cuíca era a síntese do trovador-repórter popular. Ele forneceu um relato picante e interessante do seu tempo, um retrato folclórico-popular da vida baiana, através de centenas de folhetos, impressos semanalmente durante quase 25 anos. Muitos dos seus cordéis fazem denúncia contra abusos praticados contra o povo. Criticava não só políticos que julgava sem caráter, mas donos de estabelecimentos que cobravam, preços altos e repartições que forneciam serviços públicos de má qualidade.


Participou do filme “A Grande Feira”, dirigido por Roberto Pires, representando ele mesmo, e inspirou o personagem Dedé Cospe Rima de “O Pagador de Promessas”, dirigido por Anselmo Duarte e baseado na obra homônima de Dias Gomes. Inspirou personagens do escritor Jorge Amado (A morte de Quincas Berro D´Água, Tereza Batista Cansada de Guerra e Pastores da Noite). Tudo reflexo do reconhecimento que conquistou, na vida do povo de sua terra.


Com base em um escândalo que explodiu em Salvador em 1956 Cuíca anunciou em cordel: “A Bahia que era,/orgulho dos brasileiros,/antigamente gabava,/por todos os estrangeiros,/transformou-se por encanto,/em antro de marreteiros./Marreteiros granfinotes,/os quais vivem engravatados,/na arte da roubalheira,/já são eles inveterados,/mas não pela polícia,/dificilmente fechados./Porque muitas vezes,/são homens de posição,/que dão bronca no comércio,/depois ganham na questão,/ainda chamam a polícia,/para a sua proteção”.

Quando os jornais esqueciam um escândalo Cuíca entrava em ação. E uma das suas formas de atuação era que ele recebia dinheiro para elogiar, recebiam daqueles que queriam ser poupados (não sofrer na língua do poeta), dos que queriam desmoralizar alguém ou dos leitores que compravam suas revistinhas para saber da vida alheia e dos últimos acontecimentos. Pescadores que chegavam nos saveiros à Rampa do Mercado, baianas, marinheiros, todos ficavam sabendo do que acontecia na cidade, no país e no mundo através dos versos de Cuíca.

Ele contava com detalhes o último crime sensacional, o aumento do preço da carne seca e da farinha, o incidente dos bêbados e a última façanha dos cangaceiros. Ele era bem informado dos acontecimentos, sobretudo aqueles abafados pela polícia, jornais e rádios. Cuíca contava com a ajuda de muitas pessoas que o procurava para fazer denúncias. Cuíca se considerava um defensor e porta-voz dos mais pobres e investia com toda rudeza contra os responsáveis pelos péssimos serviços prestados ao povo de Salvador, denunciado negociatas, cambalhachos, manobras altistas e câmbio negro de produtos alimentícios.


Cuíca nasceu em Salvador em 19 de março de 1907. Ele ia muito a cidade de Santo Amaro da Purificação namorar e tocar violão. Foi lá, inclusive, que conheceu a mulher, Maria do Carmo Sampaio. A intimidade com os versos começou com a profissão de propagandista. Ele anunciava em versos as mais diferentes atividades comerciais da cidade. Vestido de cartola e fraque, gritava a quem passava pela Baixa dos Sapateiros uma grande liquidação ou um novo filme na cidade. Dessa forma, ele aprendeu com maestria a chamar a atenção do público.


O trovador morreu no dia 23 de janeiro de 1964, aos 56 anos. Por mais de 20 anos foi o cronista de Salvador, autor de mais de 400 folhetos de cordel, até hoje ele é um tipo maldito, mas atual. Sua função social foi importante, mas ele teve suas próprias regras éticas. Quem melhor difundiu sua função social foi Jorge Amado: “Não pense o visitante que ele seja apenas um tipo de rua, figura popular e risível. É bem mais que isso. É a voz do povo trabalhando que, não encontrando ressonância nos poetas modernos, e tendo sede de poesia, cria seu bardo pobre e semi-analfabeto. Os poetas estão nos bares inventando sonetos de rimas milionárias ou quebrando a cabeça em ritmos novos para poemas exotéricos. Só Cuíca de Santo Amaro canta para o povo pobre. Quando o forasteiro passar por ele talvez a figura e a voz do trovador mereçam apenas um sorriso dos seus lábios civilizados. Mas, que importa? O povo não sorri do poeta. Ri e sofre com ele, combate e tem esperança!”.

26 setembro 2017

Não chore por Gerhard Shnobble

A história de Gerhard Shnobble (The Story of Gerhard Shnobble) foi publicada por Will Eisner em 05 de setembro de 1948. Trata-se de um conto de sete páginas que, com o tempo, se provaria a obra mais aclamada pelos críticos e mais republicada da série.

A história tinha todas as marcas de Eisner – narrativa forte, personagem memorável, experimentalismo formal, ângulos de câmara ousados e um final poderoso – e conseguiu fazer isso tendo Spirit apenas como presença incidental.

Na história, Gerhard Shnobble descobre aos oito a nos que sabe voar – desde que acredite que pode. Seus pais, por meio de repressão e surras, tiram seu ânimo de exibir seu poder a outros, e ele literalmente apaga aquilo da cabeça.

Ele segue uma vida totalmente comum. Consegue ser promovido a vigia noturno de um banco. O banco é assaltado, e Shnobble é demitido, o que reforça sua sensação de isolamento e inutilidade. Totalmente derrotado, caminha pelas ruas de Nova York até que, no limite da depressão, ele se lembra do seu poder.

Determinado a provar ao mundo que é realmente especial, ele sobe de elevador até o topo de um arranha céu, do qual propõe jogar-se e então planar sobre as pessoas na rua. Mas acaba se tornando a pessoa errada no lugar errado na hora errada: os ladrões do banco estão encurralados no telhado do mesmo prédio, e Spirit, chamado ao local para detê-los, acaba enfrentando-os assim que Shnobble pula do prédio e começa a voar.

Mas é atingido por balas perdidas, e, em vez de fazer sucesso entre a multidão com seu voo, ele despenca no chão. Mais uma vítima de um crime sem sentido.


Eisner deixa bem clara sua intenção no final de conclusão da história onde um narrador diz: “Mas não chore por Gerhard Shnobble.


Melhor derramar uma lágrima por toda a espécie humana, pois nem uma só pessoa entre toda a multidão que viu seu corpo despencar soube, ou ao menos suspeitou, que naquele dia Gerhard Shnobble tinha voado”.

Apesar de toda a fantasia, essa fábula universal era profundamente pessoal para Eisner, fazendo-o voltar aos cortiços do Bronx, à necessidade (e incapacidade) de provar seu talento artístico, à falta de incentivo.


Spirit foi um dos sintomas da superação estetica do conceito de super heroi tanto nos EUA como na Europa e na America Latina.

CONSTRUÇÃO - Toda vez que leio ou releio essa obra, lembro de Construção, composição de Chico Buarque de 1971, o período dos exilados, pressões, torturas e morte. Mundo de “homens partidos”. Nessa obra pode-se decodificar não apenas o problema social do operário não qualificado, que se expõe à morte pela precariedade das condições de segurança no trabalho, mas de uma sociedade desintegrada e mutiladora, que isola os indivíduos.



Trata-se de um dos textos mais rigorosamente “construídos” do compositor, de estrito rigor formal e apuro técnico. É uma das canções mais engajadas de Chico. Daria uma excelente história de quadrinhos. Atenção quadrinistas, mãos à obra.

25 setembro 2017

Metade dos brasileiros não tem acesso a serviço adequado de esgoto

Dez anos após a Lei do Saneamento Básico entrar em vigor no Brasil, metade da população do país continua sem acesso a sistemas de esgotamento sanitário. No Brasil, 45% da população ainda não têm acesso a serviço adequado de esgoto. O dado consta no Atlas Esgotos: Despoluição de Bacias Hidrográficas divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Ministério das Cidades. O estudo traz informações sobre os serviços de esgotamento sanitário no país, com foco na proteção dos recursos hídricos, no uso sustentável para diluição de efluentes e na melhor estratégia para universalização desses serviços.

A publicação aponta que 43% são atendidos por sistema coletivo (rede coletora e estação de tratamento de esgotos); 12%, por fossa séptica (solução individual); 18% têm o esgoto coletado, mas não é tratado; e 27% não têm qualquer atendimento.

Foram realizadas avaliações em cada um dos 5.570 municípios do país, sempre considerando as diversidades regionais e a abordagem por bacia hidrográfica. No estudo, são consideradas exclusivamente as residências urbanas e não foi avaliada a prestação do serviço na área rural.



Investimentos

De acordo com o Atlas Esgotos, a universalização do esgotamento sanitário na área urbana do país necessitaria de R$ 150 bilhões em investimento, tendo como horizonte o ano de 2035. Cerca de 50% dos municípios, que precisam de serviço de tratamento convencional de esgoto, demandam 28% do valor estimado. Já 70 dos 100 municípios mais populosos requerem solução complementar ou conjunta e concentram 25% do total de investimento.

Os custos com coleta e com tratamento variam conforme a região, sendo maiores no Norte e menores no Sudeste. Para o Brasil como um todo, os gastos com coleta representam 2,7 vezes mais do que os previstos em tratamento.

Entretanto, segundo a ANA e o ministério, apenas o aporte financeiro não é suficiente para a universalização, sem capacidade adequada de administração do serviço. No país, existem vários exemplos de sistemas de coleta e tratamento de esgoto que foram abandonados ou sequer entraram em operação devido a problemas associados a gestão.

Na maioria dos municípios (4.288) o serviço é prestado pela própria prefeitura ou há um prestador que precisa aprimorar a capacidade de gestão. Entretanto, parte significativa da população urbana (87 milhões de habitantes), projetada para 2035, está nos municípios cujo prestador de serviço tem situação institucional consolidada.


Lei

A Lei do Saneamento Básico prevê a universalização dos serviços de abastecimento de água e de tratamento da rede de esgoto no país, tendo como um dos principais pilares a elaboração de um plano municipal do setor para cada cidade. Além disso, a lei estabeleceu regras básicas para o setor ao definir as competências do governo federal, dos estados e dos municípios para os serviços, bem como a regulamentação e a participação de empresas privadas. Por conta disso, a expectativa era que o setor ia crescer exponencialmente após a lei.

O Ministério das Cidades diz que os planos municipais de saneamento básico são importantes porque constituem instrumentos que visam diagnosticar a situação local existente e estabelecer prioridades para investimentos e ações no curto, médio e longo prazos. "Trata-se de uma relevante ferramenta de gestão para a boa aplicação de recursos e para o controle social, o que beneficia diretamente a população local. Ter o plano será condição para o acesso a recursos federais na área de saneamento a partir de 2018."
Édison Carlos afirma, no entanto, que "o problema começou com a baixa compreensão dos municípios pela obrigatoriedade da lei". "O nível de adesão tem sido muito baixo, e não só pela falta de vontade, mas pelo despreparo das cidades. Fazer um plano exige capacidade técnica, algo que muitas cidades do país, principalmente as pequenas, não têm.”



Serviço de esgoto no Brasil

43% atendidos por sistema coletivo
27% sem acesso a qualquer serviço
18% com esgoto coletado, mas não tratado
12% com fossa séptica


Coleta e tratamento de esgotos no Brasil

Norte:
63% do esgoto é coletado e não tratado

Nordeste:
41% do esgoto corre a céu abeto

Sul
13% de esgoto não tratado


Fontes: Agência Nacional de Água e Ministério das Cidades 

21 setembro 2017

Hoje, dia 21 de setembro comemora-se 100 anos do nascimento do escritor baiano Herberto de Azevedo Sales. Ele nasceu em Andaraí, Bahia, a 21 de setembro de 1917. Em 1930 mudou-se para Salvador, frequentando o Colégio Antônio Vieira. Voltou depois para Andaraí (1936), onde fez comércio e negócio de madeira, e foi funcionário de cartório. Em 1939 inicia seu contato não escolar com a literatura pela obra de Eça de Queirós, uma de suas prediletas. Lê também, com constância, os autores nordestinos. O ambiente da região fixaria na sua obra ficcional a vida em torno da garimpagem, que o situaria no ciclo da ficção regionalista, com assunto local. Era um ambiente violento, com vida aventureira e histórias cruas de crimes e lutas sobre diamantes e carbonatos. Aí entregou-se às leituras literárias e começou a escrever contos e reportagens sobre a vida da região. Ele iniciou sua trajetória literária com o romance Cascalho (1944). A obra retrata em todos os aspectos a vida nas lavras diamantíferas de Andaraí. São várias narrativas inter-relacionadas, que envolvem coronéis, capangueiros, garimpeiros e representantes de outras atividades, direta ou indiretamente vinculadas ao exercício do poder, como policiais e jagunços.


O cerne do livro é a denúncia da constante exploração que se encontra na base das relações desumanas de trabalho mantenedoras dos privilégios e das arbitrariedades, realizada pelo confronto entre as ações das personagens e não pelo comentário que a elas pudesse ser sobreposto, o que minimiza o mecanismo ideológico e amplia a veracidade das situações e personagens criadas. Pressionado pela repercussão de Cascalho em Andaraí, por retratar criticamente as personalidades da cidade, Herberto Sales transferiu-se, em 1948 para o Rio. E iniciou sua carreira jornalística nos Diários Associados, O Cruzeiro, onde permaneceu até 1973. Em 1951 publicou a segunda versão de Cascalho, revisada e diminuída, pois a primeira tinha mais de 600 páginas.


Com a publicação de Além dos Marimbus, 1961, ele recebeu o Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio Paula Brito da Biblioteca Municipal do Rio. Três anos depois é publicada a tradução tcheca de Cascalho. Vários de seus livros são editados no exterior, recebendo versões romena, japonesa, inglesa, italiana, coreana e espanhola, além de edições portuguesas. Após Cascalho e Além dos Marimbus, ambos referentes a Andaraí e suas principais atividades econômicas, Sales editou Dados Biográficos do Finado (1965) Marcelino reportando-se à cidade de Salvador dos anos 30, onde uma burguesia, a princípio florescente, é vista depois em decadência. Em 1966 ele iniciou sua carreira de contista com o volume Histórias Ordinárias, e em 1969, começou sua trajetória como autor de literatura infantil com o livro O Sobradinho dos Pardais. É também de sua autoria os livros A Feiticeira de Salina, A Vaquinha Sabida, O Homenzinho dos Patos (1974), O Casamento da Raposa com a Galinha (1975) e O Burrinho que Queria Ser Gente (1980). Publicou ainda os livros de contos: Uma Telha de Menos (1970), Transcontos (1974) e Armado Cavaleiro e o Audaz Motoqueiro (1980). Publica os romances O Fruto do Vosso Ventre (1976) e Einstein, O Minigênio (1983).


Outros romances: Pareceres do Tempo, A Porta de Chifre, Na Relva de Tua Lembrança, Rio dos Morcegos, Rebanho do Ódio e seu último trabalho, A Prostituta, onde o autor volta a Salvador, onde decorre quase toda a história. Publicou suas memórias em três volumes: Subsidiário - Confissões, Memórias e Histórias; Subsidiário: Andanças por umas Lembranças; e Subsidiário: Eu de Mim com cada Um de Mim. Em 1971 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e em 1974, assumiu durante onze anos a direção do Instituto Nacional do Livro. Ocupou o cargo de Adido Cultural do Brasil na França. É membro ainda da Academia Maçônica de Letras e da Academia Brasileira de Literatura Infanto Juvenil. Para o Ministério da Agricultura escreveu a monografia Garimpos da Bahia (1955), e editou o ensaio Para Conhecer Melhor Aluísio de Azevedo (1973). Sales detém inúmeros prêmios literários: Luísa Cláudio de Souza (Pen Clube do Brasil, 1966), Jabuti (Câmara Brasileira do Livro, 1977), além da Medalha do Mérito do Estado da Bahia, 1977, e Medalha Euclides da Cunha (Clube do Estado, SP, 1980). Em 1996 recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFBA.


Herberto Sales é um escritor que, muito embora se tenha iniciado no encalço da literatura do Nordeste, sem trair suas origens, não se contentou com, achada a fórmula de um garantido sucesso, repeti-la à sociedade. Ao contrário, aventurou-se na busca de temáticas pouco usuais no âmbito da literatura brasileira, sem se despreocupar, em contrapartida, com a manutenção de sua identidade. De Cascalho a O Fruto do Vosso Ventre, um vasto caminho foi percorrido. A diversidade de temas e o tratamento dado a eles colocam em questão justamente o que é central na sua elaboração romanesca: a preocupação constante com o desmascaramento dos motores da sociedade contemporânea. Para isso, não se volta apenas para o passado e para o Brasil desconhecido dos leitores dos grandes centros consumidores (como faz em Cascalho e Além dos Marimbus), mas visa com agudeza à compreensão do presente degradado (Armado Cavaleiro o Audaz Motoqueiro) e se lança para o futuro (O Fruto do Vosso Ventre ou Einstein, o Minigênio) que se vislumbra a partir dos absurdos contemporâneos.



“A característica principal da ficção de Herberto Sales é o mergulho na alma humana. Claro que ele também é mestre em abordar épocas e ambientes, mas, sem dúvida, seu interesse maior é a nossa essência”, escreveu o escritor Ruy Espinheira Filho. Crítico preocupado em remexer as mínimas chagas, Herberto Sales jamais se descuidou da construção rigorosa de suas narrativas, tanto do ponto de vista lingüístico como do estrutural, o que é atestado pelas constantes reelaborações de seus romances, na busca da melhor forma de expressão. Enfim, entrega-se com amorosa dedicação às histórias que conta porque acredita ser esse o seu modo de interferir no andamento do mundo.

20 setembro 2017

Árvores, os pulmões da Terra

O poeta St. John Perse gostava de dizer que todo livro nasce da morte de uma árvore. E como escreve o jornalista Sérgio Augusto, a dívida da palavra impressa com a celulose de que se alimenta é grande. Basta observar que book, bouquin e Buch derivam de boscus, bosque, e livro vem de líber, o tecido condutor da seiva das árvores. Poetas e prosadores utilizaram, a árvore como fonte de inspiração. Pinhos e magnólias eram celebrados por Francis Ponge, o baobá no imaginário de Antoine de St. Exupéry e Roger Caillois, no tronco do ipê de José de Alencar ou no meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos. E os versos que Drummond criou pensando nas mangueiras de sua infância e nas amendoeiras de sua idade adulta.

E não ficou só na literatura. A árvore encontrou campo fértil na gravura e na pintura a partir do Renascimento. Durer, Bruegel, Corot, Poussim, Cézanne e muitos outros desenharam de tudo quanto é jeito. Nos desenhos animados, Walt Disney é imbatível. As árvores falam e contam todo o seu sofrimento e alegrias com os humanos.


Pulmões da Terra e abrigos seguros, sem as árvores as paisagens murcham e o ar empobrece. Elas nos dão além de brisa e vento, flores, frutas, êxtase, lenha e matéria-prima para uma infinidade de coisas: casas, móveis, papel, rolhas, embarcações, talheres, armas, tamancos, instrumentos musicais, pneus, etc... O biólogo australiano Tim Flannery, autor do livro “The Weather Makers” lembrou que, até hoje, nós mal sabemos o que vem a ser, precisamente, uma árvore. Até duas décadas atrás podíamos estar convencido de sabermos, mas o estudo do DNA balançou todo o conhecimento, colocando o cogumelo mais perto do homem que da couve-flor e provando que a teça, árvore indiana de grande porte, é parente muito próxima do orégamo e do manjericão. Flannery se espanta ao registrar que, ultimamente, os botânicos põem os carvalhos mais ou menos ao lado dos pepinos. Desta forma, as árvores têm uma história épica, com grandes aventuras migratórias gravadas em seu genoma.


Colin Tudge, autor de “The Tree” informa que há espécies que podem ser árvores ou arbustos, dependendo d onde resolvam fincar raízes. Além de árvores que, no passado, foram trepadeiras ou mesmo ervas rasteiras. E árvores já é assunto do momento. Enquanto o inglês Thomas Pakenham retrata com sua câmara Linhof plantas de vários continentes, o engenheiro florestal Harri Lorenzi já está na nova edição de “Árvores Brasileiras”.

Uma pesquisa publicada na Califórnia afirma que remover as árvores do planeta pode esfriá-lo. Segundo o novo estudo, como as florestas são muito verdes e fechadas, elas conseguem absorver mais o calor do sol que outra vegetação, tornando o clima mais quente. As árvores, até hoje, eram consideradas fundamentais por seqüestrar o carbono da atmosfera (presente nas moléculas de CO2 que aquecem o clima).


As árvores se transformaram num símbolo ímpar, apresenta em quase todas as religiões arcaicas. Sejam maias, babilônicos, nórdicos e germânicos representavam com eles o cosmo. Os gregos as veneravam. Os lituanos (antes de serem convertidos ao cristianismo) praticavam abertamente a dendrolatria, o culto à árvore. E até o cristianismo tem uma simbólica macieira em sua mitologia. Suas características morfológicas, sua verticalidade, imobilidade, frondosidade e longevidade, pela força de sua presença e seu poder de regeneração, elas são símbolo impar, presente em quase todas as religiões arcaicas.


As árvores exercem um fascínio imenso sobre nós. No livro “O Homem e Seus Símbolos”, sobre a obra de Carl Gustav Jung, Marie Louise von Franz compara o desenvolvimento do ser humano ao das plantas. A semente contém o futuro pinheiro. Mas reage às circunstâncias, como qualidade do solo e vento, inclinando-se em direção ao sol e modelando o crescimento da árvore. Assim também acontece com o homem, de maneira espontânea e inconsciente, ela escreveu. Os celtas acreditavam que há muito em comum entre as árvores e as características das pessoas. Tanto que criaram um oráculo baseado nas plantas. Há 20 anos, Liz e Colin Murray resgataram esse conhecimento e escreveram The Celtic Tree Oracle, com 24 cartas, que incluem bétula, álamo, freixo, árvores típicas da Europa. Esse oráculo tem relação com o alfabeto celta, e criado pelos druidas com base em gestos dos dedos, conta a pesquisadora Wicca Mirela Fahur, autora do livro O Legado da Deusa. Adaptado para o Hemisfério Sul, o oráculo traz árvores tropicais, como coqueiro e goiabeira. Carvalho, ipê, oliveira e jacarandá representam as pessoas que nasceram em datas especiais de mudança de estação no Hemisfério Norte.


E o nome Brasil foi tirado de uma leguminosa, imortalizamos a chegada da corte de D. João VI com o plantio de uma palmeira imperial, cultuamos o mito de que “nossos bosques têm mais vida” e cultiva,mos o hábito de dar as pessoas e lugares patronímicos como Oliveira, Carvalho, Laranjeiras e Mangueira. Agora falta ter um relacionamento mais afetuoso com as árvores.


18 setembro 2017

Defensores da anarquia: Punks

Guitarras desafinadas, vocais arranhados, linhas de baixo pesadas e baterias grudadas para criar canções que marcaram uma época e, ao longo do tempo, se transformaram em clássicos. Bandas como The Clash, Ramones, Sex Pistols, Buzzcocks, Dead Boys e The Adicts começaram a invadir com sua música as casas de milhares de jovens americanos e britânicos que necessitavam apenas de um empurrãozinho para ir contra o sistema.


Eles defendem a anarquia. O movimento punk surgiu por volta de 1976. Jovens inconformados se rebelaram contra a apatia que dominavam o rock desde o surgimento do gênero progressivo e começaram a formar suas próprias bandas. Pode ser apontado como a primeira tribo urbana a se insurgir contra a aldeia global, recorrendo a dois ou três acordes viscerais, um vocal geralmente gritado, cabelos espetados ou moicanos, e muita raiva. “Anarchy in the UK”, o primeiro sucesso do grupo que se sintetiza essa estética, os Sex Pistols, detona a anarquia nas terras da rainha da Inglaterra e espalha a revolta estética dos punks pelo mundo.


O punk é uma música simples, de poucos acordes e um vocal geralmente gritado. Os temas das músicas giram em torno de problemas sociais. Bandas como Ramones, Clash, Sex Pistols e Damned arregimentaram um grande número de fãs. No Brasil, só dois anos depois surgiram os primeiros bandos punks, na periferia de São Paulo e do Rio de Janeiro, entre jovens desempregados e sem perspectivas, “oprimidos pela selvageria urbana”, como os define o criador de Bob Cuspe, o mais famoso punk brasileiro, o cartunista paulista Angeli. Bandas como Os Inocentes, Ratos do Porão, Coquetel Molotow entre outros representam o movimento.


Na Bahia, os integrantes do movimento punk se reuniam todos os domingos pela tarde na Praça da Sé. E nos dias de semana faziam seu point na Praça da Piedade onde se juntaram para conversar e vender bottons. Jorge Luís Araújo, o Paquito, na época 15 anos, disse que se envolveu na turma através da música. Depois, com os shows dos Garotos Podres e outros punks. A família interfere, “mas não tem agressão física, só discórdia, crítica”. Ao contrário do que muita gente imagina, a maioria estuda de manhã e trabalha à noite e, como muitos deles moram em bairros distantes, escolheu a Piedade como local de reuniões que começam a partir das 19 horas. Idealistas, desejam um mundo igualitário, sem comandantes. Por isso, aproveitam o movimento da praça para espalhar panfletos nos quais fala a doutrina punk. Existe a gangue Verme do Sistema que são os garotos menos rotulados, não utilizam a indumentária (roupas pretas e cabelos a la moicanos) comum aos outros. Nas outras gangues os componentes são conhecidos pelos apelidos de Morcego, Olho Seco, Pobreza e Minério.

Cabeças Raspadas

Os skinheads ou carecas, também originários da Inglaterra, surgiram para fazer frente ao movimento hippie, desaparecido no começo dos anos 70. Dissidentes do movimento punk têm uma ideologia neonazista e pregam a violência. São rivais dos fãs do heavy metal. A reativação dos cabeças raspadas acontecia na esteira do movimento punk. Pregavam o nacionalismo puro, era,m acusados de neonazistas e se contrapunham aos próprios punks, chamados por eles de “vendidos ao sistema” e não-politizados. Os skinheads são do tipo que batem no peito e se orgulham de ser operários. Eles geralmente trabalham em indústrias ou construções. São machistas ao extremo e não gostam de quem usa o visual militar sem pertencer cão movimento. Estima-se que a na década de 90 em São Paulo – seu principal núcleo – existiam por volta de 500 skinheads.Cabeças raspadas – por máquina dois --, tatuagens, coturnos pretos, calças justas, suspensórios e camisas de algodão formavam o visual da tribo. A música tem um ritmo semelhante ao rock metaleiro. Antes, eles tinham uma bandeira na cidade: Bandeira de Combate. São fãs de hardcore, música executada com muita velocidade e peso. Eles não bebem, não fumam e abominam tóxicos. A terapia de contra-ataque aos grupos opositores ao seu radicalismo é a violência. Quase todos praticam musculação. “Não dá para dizer que a gente é pacifista quando se vive em uma sociedade violenta”, diz um dos carecas mais tradicionais da cidade.


Quem mais sofreu nas mãos dos carecas foram os grupos heavy metal e os darks, considerados por eles contestadores de botique. São poucas as garotas que se integraram à tradição de violência dos carecas. Todos são bastante jovens. A maioria mora no subúrbio e na Cidade Baixa. Eles se reuniam às sextas-feiras no QG improvisado num bar do Politeama de Cima. O bairro da Massaranduba tem um grande número desses adeptos, que muitas vezes ficam no Campo Grande aos domingos, em frente ao Teatro Castro Alves. Usam apelidos como Cafox, Dengue, Infortúnio entre outros para serem identificados em grupos. Eles vivem espalhados pela cidade, pregando as idéias de Hitler como herói e justificando as atrocidades atribuídas a ele como manipulação da imprensa sionista. Seu lema: “Tudo pela nossa Pátria, o Brasil. Abaixo os judeus, comunistas e homossexuais. Hitler era um grande homem”. Adotam uma filosofia nazista que preferem ocultar sob o nome de nacionalista. (Gutemberg Cruz. Tribos urbanas 2. Reportagem publicada originalmente no jornal A Tarde, 16/06/1991)


15 setembro 2017

“Só uma minoria tem segurança jurídica no país”

Em uma reportagem do jornal Correio, a jornalista Júlia Vigné publicou: Justiça baiana é a mais ‘emperrada’ do país, aponta relatório do CNJ http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/justica-baiana-e-a-mais-emperrada-do-pais-aponta-relatorio-do-cnj/ 12.09.2017). Diz a reportagem:

O Tribunal de Justiça do Estado (TJ-BA) é o campeão em taxa de congestionamento de processos no Brasil. Com 83,9% em 2016, o TJ-BA é a Corte que tem maior dificuldade em lidar com o estoque de seus processos, de acordo com o relatório Justiça em Números, divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na semana passada. A taxa mede o percentual de casos que permanecem sem solução ao final do ano, em relação aos autos que estão pendentes e os que foram solucionados. A média nacional da Justiça estadual é de 75,3% de congestionamento, sendo o TJ-BA o pior dos 27 tribunais. O melhor desempenho é da Corte do Amapá, a melhor, com 46,8% de índice.


O cenário na Bahia é mais crítico no primeiro grau, em que grande parte dos cidadãos entra com ações na Justiça. Nessa instância, o grau de congestionamento bruto é de 85%, frente à média nacional de 77%. No segundo grau, em que os tribunais de Justiça julgam recursos dos casos analisados pelos juízes na primeira instância, a situação é melhor: o índice é de 60%, mas ainda é bem abaixo em relação ao índice médio das justiças estaduais, que é de 49%.

O tempo que os magistrados baianos levam para dar a sentença dos processos no primeiro grau é o segundo pior do país: em média, demora-se 4 anos e 3 meses na Bahia. O número só está atrás do tempo levado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que leva 4 anos e 4 meses. A média nacional dos 27 tribunais é de 3 anos e 2 meses no primeiro grau. A situação na Bahia melhora no tempo médio do segundo grau, que é de 7 meses, a mesma média nacional”


No dia seguinte o Correio publicava Ações por não pagamento de tributos são 'vilãs' em congestionamento do TJ-BA (http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/acoes-por-nao-pagamento-de-tributos-sao-vilas-em-congestionamento-do-tj-ba/:

“A Corte baiana é a maior em taxa de congestionamento do Brasil, com 83,9%, de acordo com o relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A taxa mede o percentual de casos que ficam sem solução no fim do ano, em relação aos processos que estão pendentes e os que foram solucionados. Do total de mais de 4 milhões de processos do TJ-BA, em 2016, 1.250.178 ações eram de execuções fiscais.

“O TJ-BA é o terceiro tribunal com mais execuções fiscais pendentes, estando atrás da corte paulista, que possui 11.494.305 processos, e do TJ-RJ, com 6.390.552. A taxa de congestionamento das execuções fiscais da corte é de 91%, acima da média nacional de 90%. Mesmo com o número alto, sete tribunais estaduais têm congestionamento maior”.

Em 2008 os jornais baianos estampavam manchete dos desembargadores suspeitos de participar de comércio de decisões judiciais, que resultou na prisão de quatro advogados e serventuários. Os magistrados do Tribunal de Justiça da Bahia foram presos na operação batizada de Janus (o deus romano dos portões e portas). Ainda em 2008 no Centro de Convenções, a então ministra Eliana Calmon, do Supremo Tribunal de Justiça, foi ovacionada ao criticar a postura de colegas da magistratura, que estariam “blindando” bandidos do colarinho branco e do crime organizado com liminares, para que estes não sejam presos. Ela foi uma das oradoras na abertura do seminário Segurança Pública e Promoção da Igualdade, Direito e Responsabilidade de Todos Nós.


Eliana Calmon disse que as decisões judiciais deixam o povo confuso: “Um juiz concede liminar, outro caça, e o povo não entende nada”. Ao defender a tolerância às diferenças e a igualdade de direitos, a ministra disse que o Judiciário “não é mais aquele cavalo de pedra que apenas assistia a tudo e simplesmente aplicava as leis. Agora, tem fundamental importância na cobrança de políticas públicas ao Estado” (A Tarde, 08/08/2008)


Nesse mesmo período o jornal Folha de S. Paulo (03/08/2008) publicava: “Só uma minoria tem segurança jurídica no país, diz delegado”. A opinião é de Prótegenes Queiroz que admite blindagem de escritório de advogado, mas diz que “não se pode proteger exercício da advocacia criminosa”. Segundo ele, “a sociedade não se sente segura juridicamente. Porque hoje a segurança jurídica está despolitizada para uma minoria privilegiada no país, não para a maioria da população. A maioria é despolitizada mesmo. É punida mesmo. É só ver quantas pessoas que recorrem ao Judiciário têm sua demanda atendida rapidamente”.



O colunista Alex Ferraz na Tribuna da Bahia (02/03/2008) comentou: “A Justiça brasileira nunca falha na sua tradição de estender de tal forma os prazos de julgamentos que, muitas vezes, acusados e acusadores morrem antes de findar um processo. Pois é: nunca falha, sempre tarda”.

13 setembro 2017

Há 60 anos surgia os Beatles

Tudo começou em Liverpool, 1957. John Lennon se junta com alguns de seus melhores amigos e no espírito da brincadeira cria os The Black Jacks, nome inicial da banda que mais tarde viria a se tornar uma das melhores bandas já vistas e ouvidas.  Mais tarde com o nome “The Beatles” iniciaram sua jornada que marcaria a historia do rock. Em 1963 iniciaram a gravação de seus álbuns de estúdio, “Please Please Me” foi o primeiro lançado no Reino Unido, com 14 canções, sendo 8 da autoria de Lennon e McCartney

Mas o que eles fizeram de tão importante ? Eles ultrapassaram a barreira do tempo e do espaço. Fonte de influência musical e comportamental para todas as gerações nos quatro cantos do mundo.

Os Beatles foram os primeiros músicos responsáveis por fazer com que o culto às personalidades passasse a permear o imaginário público, utilizando os meios de comunicação como poderosos aliados. Seu legado ultrapassou fronteiras,. classes, religiões, diferenças culturais difíceis de forma particular. Vamos citar alguns exemplos:


Lançou o primeiro álbum conceito da história (Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band). Um disco com uma temática própria, a determinar o conteúdo e a ordem das canções. A ideia seria copiada por artistas como Pink Floyd (The Wall) e The Who (Tommmy).

Eles inventaram os shows de rock em estádios – só assim conseguiram dar conta de tocar para as multidões que queria ver o grupo nos EUA.

Antes deles, ninguém acreditaria que uma banda podia encher um lugar tão grande. Em 1965, o quarteto abre seu turnê no Shea Stadium.


A fase em que o grupo foi para a Índia impulsionou deste lado do planeta um interesse inédito pelas tradições orientais e influenciou conversa de bar à moda, decoração e a vinda de incenso.

Foram os precursores de imagem do roqueiro de cabelo comprido.


Eles se tornaram fenômeno de licenciamento da marca em uma época em que esse tipo de negócio ainda nem existia.

09 de fevereiro de 1964 os Beatles se apresentaram ao vivo no The Ed Sullivan Show. A transmissão televisiva alcançou recorde de mais de 73 milhões de pessoas.


Enquanto estavam tocando seu iê iê iê, quase não tinha havido crimes na cidade. Os bandidos eram fãs também.



Com Lennon & McCartney, uma mistura de similares e diferenças, surgiu a combinação capaz de criar o pop perfeito. O lirismo de ambos se movia entre a doçura de McCartney e o desespero de Lennon. Entre a habilidade melódica de Maca e as letras poéticas de John.

06 setembro 2017

Brasil tem 19 milhões de aposentados


O Brasil tem hoje pouco mais de 19 milhões de aposentados pelo INSS, segundo a Secretaria da Previdência Social. Atualmente, o brasileiro se aposenta, em média, aos 58 anos. De cada três aposentados, dois ganham um salário mínimo.

Alguns optam também por poupar dinheiro como forma de ter segurança nessa fase de suas vidas, mas ainda estão em número reduzido: entre 10 trabalhadores autônomos, apenas três estão poupando para suas aposentadorias. Entre os trabalhadores de baixa renda, esse número é ainda menor: três entre cada 20 pessoas poupam algum dinheiro como segurança para quando pararem de trabalhar (dados do BID).


No Brasil não há formatação de políticas públicas concretas e funcionais para a terceira idade. Além disso, a palavra aposentadoria vem de aposento, aquele cômodo no fundo da casa, escondido. Assim é o aposentado em nosso país, não tem mais direito de participar da sociedade.

O ser humano vai para a escola e fica lá um bom tempo, aprende um ofício e começa a trabalhar em tempo integral. Ao chegar aos 50 ou 60 anos ele ainda trabalha, cuida dos pais, sogra e, em determinado momento se aposenta. Abruptamente, afinal trabalhou por muito tempo. Quem trabalhou o dia inteiro e acorda aposentado dificilmente terá direito de participar da sociedade. Por isso, é preciso se preparar, dar a volta por cima e encontrar um caminho alternativo. A vida é um contínuo aprendizado.


Neste século 21, por exemplo, ninguém começará numa profissão e chegará aos 71 anos sendo a mesma coisa, vai ter de se diversificar e encontrar alternativas por causado volume e das mudanças provocadas pela tecnologia.

A primeira revolução industrial foi dominara energia, a segunda foi massificar a produção, a terceira foi a digitalização e agora estamos vivendo a quarta revolução industrial, a sinergia, tecnologia conversando com a outra.


Em 1960, o Brasil tinha pouco mais de 3 milhões de idosos. Em 2010, já eram quase 20 milhões. Nesses 50 anos, ao mesmo tempo em que a população se urbanizou, a taxa de fecundidade caiu. De mais de seis filhos, em média, por mulher, pra menos de dois.

“O envelhecimento populacional já ocorre no Brasil em um ritmo acelerado. Essa é a nossa grande característica própria dessa dinâmica demográfica no século 21”, explica Jorge Félix, professor de Economia da Longevidade na USP.

A França levou 145 anos para dobrar a população de idosos. No Brasil, isso vai acontecer em apenas 25 anos, segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde. “É o envelhecimento mais rápido no mundo, mas nós estamos envelhecendo ainda com pobreza. Os países desenvolvidos primeiro enriqueceram pra depois envelhecer, essa que é a grande diferença e o grande desafio para o Brasil”, avalia Alexandre Kalache, presidente do Centro de Longevidade Brasil.


Os sinais de envelhecimento começam no corpo da gente, bem aos poucos. É difícil perceber. Mas uma roupa especial ajuda. Ela deixa tudo mais pesado, como se tivesse menos força. E limita os movimentos. Além disso tudo, dessa falta de mobilidade, os idosos ainda têm problema com a visão. Os óculos, também especiais, tiram completamente a visão periférica. Você só consegue ver o que está na frente.

A calçada poderia estar em qualquer cidade brasileira. Mais um desafio: atravessar a rua na faixa de pedestre no tempo que o sinal de pedestre dá. Já era pouco tempo e foi preciso esperar três carros passarem. A conclusão é que é muito difícil e perigoso andar numa calçada como essa cheia de degraus, cheia de buracos, não é à toa que tantos idosos se acidentam nas cidades brasileiras.


Isso é apenas uma pequena fatia das dificuldades dos idosos no Brasil....